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AVISO DE DIREITOS AUTORAIS


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conversa séria. Trata-se do respeito aos nossos esforços na produção deste curso, a que
temos dedicado todas as nossas energias nos últimos meses.

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consigamos atingir essa meta, sua ajuda é imprescindível.

Então, sempre que algum amigo ou conhecido falar “será que você passa para
mim aquele material do RevisãoPGE que você tem?”, lembre desta nossa conversa.
Mais: lembre-se que os nossos cursos são tutelados pela legislação civil (como a Lei
9.610/98 e o Código Civil) e pela legislação penal (especialmente pelo art. 184 do Código
Penal).

Para que não reste dúvida: este curso se destina ao uso exclusivo do aluno que
o adquirir em nosso site, e sua aquisição não autoriza sua reprodução. Ok?

Sabemos que falar isso parece pouco amigável, mas só estamos tendo este
“papo reto” porque queremos de você justamente um ato de amizade: não participar,
de forma alguma, da pirataria deste curso. Se isso acontecer, o fornecimento das aulas
a você será interrompido e nenhum valor pago será restituído, sem prejuízo,
evidentemente, de toda a responsabilização cabível nos âmbitos civil e penal.

Bem, o recado era esse. Agora podemos voltar às boas e meter a cara nos livros!
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Bons estudos!
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Material revisado e atualizado em 25/06/2020

PDFIGHT
Aula 08 -
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL DO ESTADO 3
TEORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO 3
TEORIA DA IRRESPONSABILIDADE DO ESTADO 3
TEORIA DA RESPONSABILIDADE COM CULPA 4
TEORIA DA CULPA ADMINISTRATIVA 5
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO 5
TEORIA DO RISCO INTEGRAL 6
TEORIA DO RISCO SOCIAL 7
AGENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO 8
RESPONSABILIDADE OBJETIVA 10
RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO ESTATAL 10
TEORIAS EXPLICATIVAS DO NEXO CAUSAL 11
EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE 14
AÇÕES JUDICIAIS 14
AÇÃO DE REPARAÇÃO DO DANO 15
AÇÃO DE REGRESSO 16
DENUNCIAÇÃO A LIDE 17
PRAZO PRESCRICIONAL 20
RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS 21
RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS 22
RESPONSABILIDADE DOS NOTÁRIOS 26
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RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL DO
ESTADO

A responsabilidade do Estado como pessoa jurídica é sempre civil. A


responsabilidade civil tem como pressuposto a ocorrência de um dano, dano
que pode ser de ordem material (patrimonial) ou moral. A sentença penal
absolutória só influencia as esferas civil e administrativa caso fique provada a
“inexistência do fato” ou a “negativa da autoria”.

A responsabilidade civil do Estado pressupõe a existência de três sujeitos: o


Estado, o terceiro lesado e o agente do Estado, a CF/88 disciplina que o Estado
é civilmente responsável pelos danos que seus agentes causarem a terceiros (CF,
art. 37, §6º).

É o Estado quem deverá reparar os prejuízos causados por seus agentes,


pagando as indenizações aos terceiros lesados. o Estado pode, após indenizar a
vítima, buscar o ressarcimento correspondente de seus agentes que tenham
agido com dolo ou culpa.

37§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito


privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem
a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
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TEORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

O Estado não se
Irresponsabilidade responsabiliza pelos
do Estado danos causados por
seus agentes

Há responsabilidade
Responsabilidade
apenas quando atua
com culpa
com culpa/dolo

Precisa comprovar a
Culpa
"falta do serviço"
administrativa
ou "culpa anônima"
Teorias:
Não se verifica a
Risco administrativo culpa, basta haver
nexo entre o ato e o
dano

Não admite
Responsabilidade
excludentes de
integral
ilicitude

Socialização dos
Risco social riscos. O foco é a
vítima, não o
causador do dano

TEORIA DA IRRESPONSABILIDADE DO ESTADO

Por alguns séculos, prevaleceu o entendimento de que o Estado não tinha


qualquer responsabilidade pelos atos praticados por seus agentes.
o Esta teoria já teve aplicabilidade no Brasil? Sim, mas com ressalvas.
Durante a vigência da Constituição de 1824 (Brasil Império), a doutrina
aplicou a teoria da dupla personalidade do Estado (ou teoria do fisco),
que dividia os atos administrativos em duas espécies, atos de império e
atos de gestão.
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O Estado poderia ser responsabilizado pelos atos de gestão praticados com


culpa ou dolo por seus agentes, porém, jamais poderia ser responsabilizado

pelos atos de império.

TEORIA DA RESPONSABILIDADE COM CULPA

Também conhecida como teoria civilista ou teoria intermediária, foi a primeira


tentativa de enquadrar o dever estatal de indenizar particulares por prejuízos
decorrentes da prestação de serviços públicos. Havia a necessidade de a vítima
comprovasse a ocorrência cumulativa de quatro requisitos: a) ato; b) dano; c)
nexo causal; d) culpa ou dolo.

TEORIA DA CULPA ADMINISTRATIVA

Essa teoria procurou desvincular a responsabilidade do Estado da ideia de culpa


do agente estatal, preferindo em seu lugar a noção de culpa do serviço público,
em que o terceiro lesado não precisava identificar o agente estatal causador
do dano. Para caracterizar a responsabilidade do Estado, basta comprovar que
o serviço público não funcionou ou funcionou de forma insatisfatória.

TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO

Também chamada de teoria da responsabilidade sem culpa ou teoria


publicista, afasta a necessidade de comprovação de culpa ou dolo do agente
público e fundamenta o dever de indenizar na noção de risco administrativo.
Quem presta um serviço público assume o risco dos prejuízos que
eventualmente causar, independentemente da existência de culpa ou dolo.

A culpa não precisa ser demonstrada pelo particular que pede a indenização
contra o Poder Público. No entanto, se o Estado demonstrar que houve culpa
por parte do particular que pleiteia a indenização, exime-se de
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responsabilidade.
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O art. 927, PU, CC adota a teoria:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,


independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

No mais, aplica-se igualmente ao Estado o que previsto no art. 927, parágrafo


único, do Código Civil, relativo à responsabilidade civil objetiva por atividade
naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser comissiva ou
omissiva (STJ. 2ª Turma. REsp 1.869.046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado
em 09/06/2020).

TEORIA DO RISCO INTEGRAL

O Estado funciona como segurador universal, indenizando os prejuízos suportados por


terceiros, ainda que resultantes da culpa exclusiva da vítima ou de caso fortuito ou
força maior. O ordenamento jurídico brasileiro adotou, como regra, a teoria do risco
administrativo, mas parcela da doutrina e da jurisprudência defende a adoção do risco
integral em situações excepcionais.
o A responsabilidade por dano nuclear é fundada no risco integral.
o Quanto à responsabilidade por danos nucleares, devemos fazer a
ressalva de que nem toda a doutrina é unânime em sua classificação
como “risco integral”, isso porque o dispositivo constitucional não prevê
nada mais do que a pura e simples responsabilidade objetiva, veja:

Art. 21. Compete à União:


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(...)
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XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de
qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus
derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:

(...)

d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe


da existência de culpa;

HIPÓTESES ATUAIS DE APLICAÇÃO DA TEORIA DO RISCO INTEGRAL


Nas relações de emprego público, a ocorrência de

ACIDENTES DE eventual acidente de trabalho impõe ao Estado o dever de


TRABALHO indenizar em quaisquer casos, aplicando-se a teoria do
risco integral;

O pagamento da indenização do DPVAT é efetuado


mediante simples prova do acidente e do dano decorrente,
SEGURO OBRIGATÓRIO
PARA AUTOMÓVEIS independentemente da existência de culpa, haja ou não
(DPVAT) resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade
do segurado (art. 5º da Lei n. 6.194/74);

A União assume despesas de responsabilidade civil


perante terceiros na hipótese da ocorrência de danos a
bens e pessoas, passageiros ou não, provocados por
atentados terroristas, atos de guerra ou eventos
ATENTADOS
TERRORISTAS EM correlatos, ocorridos no Brasil ou no exterior, contra
AERONAVES aeronaves de matrícula brasileira, operadas por empresas
brasileiras de transporte aéreo público, excluídas as
empresas de táxi-aéreo (Leis n. 10.309/2001 e
10.744/2003);
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Por força do art. 225, §§ 2º e 3º, da Constituição Federal,


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DANOS AMBIENTAIS
parte da doutrina sustenta que a reparação de prejuízos
ambientais causados pelo Estado seria submetida à teoria
do risco integral, esta é a posição que prevalece no STJ (o
tema é estudado com detalhes no Direito Ambiental).

TEORIA DO RISCO SOCIAL

O foco da responsabilidade civil é a vítima, e não o autor do dano, de modo


que a reparação estaria a cargo de toda a coletividade, dando ensejo ao que
se denomina de socialização dos riscos. A responsabilidade da União não será
ilimitada, por serem previstas excludentes de responsabilização.

Trata de risco extraordinário assumido pelo Estado, em face de eventos


imprevisíveis, em favor da sociedade como um todo.

Para Cyonil Borges e Adriel Sá, a Lei Geral da Copa (Lei 12.663/12) adotou tal
teoria em seu art. 23, veja:

Art. 23. A União assumirá os efeitos da responsabilidade


civil perante a FIFA, seus representantes legais,
empregados ou consultores por todo e qualquer dano
resultante ou que tenha surgido em função de qualquer
incidente ou acidente de segurança relacionado aos
Eventos, exceto se e na medida em que a FIFA ou a vítima
houver concorrido para a ocorrência do dano.

AGENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO

Pessoas Jurídicas Responsáveis: as pessoas jurídicas de direito público e as


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pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos. Alcança:


todas as pessoas jurídicas de direito público; as pessoas jurídicas de direito
privado prestadoras de serviços públicos; as pessoas privadas, não integrantes
da Administração Pública, que prestem serviços públicos mediante delegação.

Agentes do Estado: o Estado não pode praticar, por conta própria, qualquer ato
e sua atuação é concretizada por seus agentes, pessoas físicas capazes de
manifestar vontade real. O conceito de agente público pode ser encontrado no
art. 2º da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/92):

Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,


todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou
sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas
entidades mencionadas no artigo anterior.

Teoria da ação regressiva como dupla garantia, segundo a qual a ação


regressiva (Estado X agente público) representa garantia em favor: A) do
particular: possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de
direito público; B) do próprio agente público: que somente responde
administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se
vincular.

Atenção: não se aplica o § 6º do art. 37 para as empresas públicas e as


sociedades de economia mista que se dedicam à exploração de atividade
econômica, por força do art. 173, § 1º, da CF, que impõe sejam elas regidas pelas
normas aplicáveis às empresas privadas. Em consequência, estão elas sujeitas à
responsabilidade subjetiva comum do Direito Civil.

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição,


a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só
será permitida quando necessária aos imperativos da
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segurança nacional ou a relevante interesse coletivo,


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conforme definidos em lei.


§ 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa
pública, da sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias que explorem atividade econômica de
produção ou comercialização de bens ou de prestação de
serviços, dispondo sobre:

(...)

II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas


privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis,
comerciais, trabalhistas e tributários;

Mais um ponto merece especial atenção: o STF, modificando sua tradicional


jurisprudência, passou a entender que as concessionárias e permissionárias de serviço
público respondem objetivamente pelos danos causados por seus empregados, ainda
que a vítima não esteja na condição de usuária de serviço público. Assim, a
responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço
público é objetiva relativamente a terceiros usuários e não usuários do serviço (STF. RE
591.874-RG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, DJe 18.12.2009).

Como o STJ já teve oportunidade de decidir, até os empregados terceirizados


podem ensejar a responsabilidade extracontratual. Assim, o fato de o suposto causador
do ato ilícito ser funcionário terceirizado não exime a tomadora do serviço de sua
eventual responsabilidade (STJ. REsp 904.127-RS, Rel. Min. Nancy Andrigui, 03.10.2008)

Segundo o STF o crime praticado por policial militar durante o período de folga,
usando arma da corporação enseja a responsabilidade civil objetiva do Estado (STF. RE
418023 AgR, Relator(a): Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe 16-10-2008).

RESPONSABILIDADE OBJETIVA

Apenas as condutas comissivas ensejam a responsabilidade objetiva do Estado.


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Em casos de omissão aplicaremos a responsabilidade subjetiva.


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Pressupostos:
o Ocorrência do fato administrativo, assim considerado como qualquer
forma de conduta comissiva, legítima ou ilegítima, singular ou coletiva,
atribuída ao Poder Público;
o O dano, não importa a natureza do dano: tanto é indenizável o dano
patrimonial como o dano moral;
o O nexo causal significa dizer que ao lesado cabe apenas demonstrar que
o prejuízo sofrido se originou da conduta estatal.

Elementos:
o A alteridade do dano;
o A causalidade material entre o eventus damni e o comportamento
positivo (ação) do agente público;
o A oficialidade da atividade causal e lesiva, imputável a agente do Poder
Público;

A ausência de causa excludente da responsabilidade estatal.


O STF já afirmou que, mesmo o Agente da Polícia Rodoviária Federal tendo agido
em legítima defesa de terceiro, o particular que foi lesionado por esta ação tem direito
a indenização (STF. RE 229.653/PR, Primeira Turma, Relator o Sepúlveda Pertence, DJe
de 12/06/2001).

A Corte Suprema fixou o entendimento que, mesmo quando o ato estatal é lícito,
se um particular sofrer prejuízos em condições de desigualdade com os demais, é
possível termos a responsabilização do Estado, veja: “o Estado responde juridicamente
também pela prática de atos lícitos, quando deles decorrerem prejuízos para os
particulares em condições de desigualdade com os demais. Impossibilidade de a
concessionária cumprir as exigências contratuais com o público, sem prejuízos extensivos
aos seus funcionários, aposentados e pensionistas, cujos direitos não puderam ser
honrados”. (STF. RE 571969, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em
12/03/2014)

Ainda nesse tema, o STJ tem um interessante precedente em que foi negada a
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indenização em prol das empresas privadas prejudicadas por uma portaria do Ministério
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da Fazenda (atual Ministério da Economia).


Em mais um caso de possível responsabilidade do Estado em atos lícitos, o STF
reconheceu que “é imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do
Estado em decorrência da fixação de preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de
efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica em cada caso concreto” (STF.
Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 - Repercussão Geral).

RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO ESTATAL


Como regra geral existe a necessidade de se averiguar a culpa para a
responsabilização do Estado. Ou seja, nas hipóteses de danos provocados por
omissão do Estado, a sua responsabilidade civil passa ser de natureza subjetiva,
na modalidade culpa administrativa. A pessoa que sofreu o dano, para ter
direito à indenização do Estado, tem que provar a culpa da Administração
Pública.

O elemento subjetivo da culpa não precisa estar identificado, motivo pelo qual
se chama “culpa anônima”, não individualizada. A responsabilidade pela falta
do serviço só existe quando o dano era evitável.

Portanto, o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante é de que na


responsabilidade do Estado por omissão prevalece a teoria da culpa
administrativa, também chamada de teoria da "falta do serviço", segundo a
qual o lesado deve demonstrar que o Estado tinha o dever legal de agir e que
falhou no cumprimento deste dever legal.

Pessoas sob custódia do Estado: para o STF, quando o Estado tem o dever legal
de garantir a integridade de pessoas ou coisas que estejam sob sua proteção
direta. ) o Poder Público responderá por danos ocasionados a essas pessoas ou
coisas. A responsabilidade objetiva nesses casos decorre de uma omissão
específica do Estado.

Um ótimo exemplo desta situação é apresentado pelo STF no caso dos danos
sofridos por detentos. Com efeito, considerando que é dever do Estado, imposto
pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de
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humanidade previstos no ordenamento jurídico, recai sobre o Poder Público,


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nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos,


inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da
falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento (STF. Plenário.
RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 16/2/2017 – repercussão geral).

Ainda em se tratando de danos sofridos por detentos, tanto o STF quanto o STJ
entendem que, nos casos em que seria impossível que o Estado evitasse o dano,
não subsiste o dever de indenizar.

Assim, não haverá responsabilidade civil do Estado se o Tribunal de origem, com


base nas provas apresentadas, decide que não se comprovou que a morte do
detento foi decorrente da omissão do Poder Público e que o Estado não tinha
como montar vigilância a fim de impedir que o preso ceifasse sua própria vida
(STJ. 2ª Turma. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 08/02/2018).

Nas palavras do STF: “O dever constitucional de proteção ao detento somente se


considera violado quando possível a atuação estatal no sentido de garantir os
seus direitos fundamentais, pressuposto inafastável para a configuração da
responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da
Constituição Federal. Ad impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em
que não é possível ao Estado agir para evitar a morte do detento (que ocorreria
mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade,
afastando-se a responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se contra
legem e a opinio doctorum a teoria do risco integral, ao arrepio do texto
constitucional” (STF. RE 841526, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 30/03/2016).

Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a


responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime
praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o
nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. (STF.
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Plenário. RE 608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de


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Moraes, julgado em 08/09/2020 )(Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993).


TEORIAS EXPLICATIVAS DO NEXO CAUSAL
Teoria da equivalência das condições: os antecedentes que contribuírem de
alguma forma para o resultado são equivalentes e considerados causas do dano.

Teoria da causalidade adequada: considera como causa do evento danoso


aquela que, em abstrato, seja a mais adequada para a produção do dano.

Teoria da causalidade direta e imediata: os antecedentes do resultado não se


equivalem e apenas o evento que se vincular direta e imediatamente com o
dano será considerado causa necessária do dano.

A teoria adotada no Brasil é a do dano direto e imediato, também denominada


teoria da interrupção do nexo causal, que “só admite o nexo de causalidade
quando o dano é efeito necessário de uma causa”.

EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE
Culpa da vítima: Ocorre a culpa exclusiva da vítima quando ficar comprovado
que o prejudicado, na verdade, foi o único responsável pelo resultado danoso.
Não há que se falar em responsabilidade do Poder Público.

No caso de suicídio envolvendo paciente internado em hospital público, o


STF já se manifestou que a responsabilidade extracontratual do Estado pode
ser excluída caso fique comprovada a culpa exclusiva da vítima (STF. RE
318725/RJ, rel. Min. Ellen Grace, 16.12.2008).

Especificamente quanto às ferrovias, o STJ tem precedente no sentido de que


a única possibilidade de excludente de responsabilidade que se pode aceitar é a
culpa exclusiva da vítima. Assim, “a despeito de situações fáticas variadas no
tocante ao descumprimento do dever de segurança e vigilância contínua das vias
férreas, a responsabilização da concessionária é uma constante, passível de ser
elidida somente quando cabalmente comprovada a culpa exclusiva da vítima”
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(STJ. AgRg no AREsp 676392/RJ, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, terceira
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turma. Julgado em 24/11/2015).


Caso Fortuito ou Força Maior: Alguns autores dizem que caso fortuito decorre
de eventos da natureza e força maior da conduta humana. A posição majoritária
da doutrina e da jurisprudência que considera “caso fortuito” e “força maior”
como se fossem a mesma coisa. Nesse sentido, tanto o caso fortuito como a
força maior constituem fatos imprevisíveis, não imputáveis à Administração e
que podem romper a necessária causalidade entre a ação do Estado e o dano
causado.

ATENÇÃO COM A JURISPRUDÊNCIA

Em caso de furto em rodovia “privatizada”: há responsabilidade civil da pessoa


jurídica prestadora de serviço público, considerada a omissão no dever de vigilância
e falha na prestação e organização do serviço (STF. RE 598356, Relator(a): Min.
MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, DJe 31/07/2018).

Em caso de roubo e sequestro em rodovia “privatizada”: é rompido o nexo causal,


afastando-se, assim, a responsabilidade da concessionária de serviço público (STJ. 3ª
Turma. REsp 1.749.941-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/12/2018).

Fato exclusivo de terceiros: ocorre quando o prejuízo pode ser atribuído à


pessoa estranha aos quadros da Administração Pública.

AÇÕES JUDICIAIS

AÇÃO DE REPARAÇÃO DO DANO

A reparação do dano pode ser acertada através de dois meios: o administrativo


e o judicial. O particular pode formular seu pedido indenizatório ao órgão
competente da pessoa jurídica responsável, formando-se, então, processo
administrativo.
16

Ao particular caberá ajuizar a adequada ação judicial de indenização, que


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seguirá o procedimento comum. O foro da ação vai depender da natureza da


pessoa jurídica: se for a União, empresa pública ou entidade autárquica federal,
a competência é da Justiça Federal; se for de outra natureza, competente será
a Justiça Estadual.

AÇÃO DE REGRESSO

A pessoa jurídica condenada por responsabilidade civil do Estado pode mover


ação regressiva contra o agente cuja atuação acarretou o dano, desde que seja
comprovado dolo ou culpa na atuação do agente. A inexistência do elemento
subjetivo (dolo ou culpa) no caso concreto exclui a responsabilidade do agente
público na ação regressiva.

São pressupostos para a propositura da ação regressiva:


o Condenação do Estado na ação indenizatória;
o Trânsito em julgado da decisão condenatória (não precisa aguardar o
levantamento do precatório);
o Culpa ou dolo do agente;
o Contudo, parte relevante da doutrina (com alguns julgados do STJ)
entende que o direito de regresso do Estado em face do agente público
surge com o efetivo desembolso da indenização. Ou seja, apenas após o
pagamento do precatório o ente público estaria apto a apresentar a ação
de regresso (STJ. AgRg no AREsp 644.963/PR, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/04/2015).

o Ante a divergência, recomendo que, para provas de concursos, verifique


se o enunciado está cobrando a letra fria da lei (nesse caso, basta o
trânsito em julgado para a propositura da ação de regresso), ou se está
fazendo referência aos julgados do STJ (nessa situação, se fará necessário
o pagamento do precatório).

Ausência de denunciação da lide na ação indenizatória.


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DENUNCIAÇÃO A LIDE

A posição majoritária da doutrina e da jurisprudência é no sentido da


inaplicabilidade da denunciação à lide pela Administração a seus agentes. A
Lei 8.112/90 também corrobora o entendimento pelo qual a denunciação da
lide é inaplicável, pois, se a lei determina o ajuizamento de ação regressiva.

Na esfera federal, o instituto da denunciação à lide, por expressa disposição


legal, não é aplicável. Contudo, existem julgados do STJ e posições doutrinárias
que admitem a denunciação à lide quando o particular lesado, ao entrar com a
ação de indenização, arguir a culpa do agente público.

PRAZO PRESCRICIONAL
A prescrição contra a Fazenda Pública, mesmo em ações indenizatórias, rege-
se pelo Decreto 20.910/1932. Com efeito, prescreve a pretensão indenizatória
em cinco anos da data da lesão ao patrimônio material ou imaterial. Também
vale o mesmo prazo de cinco anos para os pedidos de indenização em face das
concessionárias.

Há diversos julgados dos tribunais superiores aplicando o princípio da actio nata


para o prazo prescricional das ações indenizatórias em face do Estado. Esta
teoria (actio nata) defende que o prazo prescricional para a ação de indenização
se inicia na data em que se tiver o efetivo conhecimento da lesão.

No mais, quanto às ações propostas pelo Estado que objetivam o


ressarcimento ao erário, há relevante parcela da doutrina e jurisprudência que
entendem ser imprescritível. Contudo, o STF, em sede de repercussão geral,
decidiu que é prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública
decorrente de ilícito civil decorrente de acidente de trânsito.

Uma coisa precisa ficar muito clara para você: as ações de ressarcimento por
atos de improbidade administrativa continuam imprescritíveis. Inclusive, este
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é o teor de julgamento do STF em repercussão geral: “são, portanto,


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imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato


doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa” (STF. RE 852475,
Relator(a): Min. Alexandre de Moraes, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Edson
Fachin, Tribunal Pleno, julgado em 08/08/2018).

Também vale o mesmo prazo de cinco anos para os pedidos de indenização em


face das concessionárias de serviços públicos, contudo, nessas situações, o
fundamento estará no art. 1º-C da Lei 9.494/97 e também no art. 27 do CDC
(STJ. 3ª Turma. REsp 1277724-PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
26/5/2015).

Também é valido lembrar que o reconhecimento administrativo do débito


importa em renúncia ao prazo prescricional já transcorrido, sendo este o
termo inicial a ser levado em consideração para a contagem da prescrição
quinquenal (STJ. AgRg no AgRg no AREsp 51.586/RS, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, primeira turma, julgado em 13/11/2012).

Há mais um entendimento importante do STJ, para esta corte, as ações de


indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante
o Regime Militar de exceção são imprescritíveis (REsp 1374376/CE, Rel.
Ministro Herman Benjamin, segunda turma, julgado em 07/05/2013).

Ainda conforme o STJ, não só os danos morais decorrentes de tortura na


ditadura militar são imprescritíveis, os danos materiais decorrentes desta
perseguição também o são. Do mesmo modo, não há qualquer dúvida quando
à transmissão aos herdeiros do direito de pleitear esta reparação (STJ. AgRg nos
EDcl no REsp 1328303/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, segunda turma,
julgado em 05/03/2015).

E para não restar qualquer dúvida quanto ao termo inicial deste prazo
prescricional, o Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido de
que o termo inicial da prescrição da ação indenizatória, nos casos em que não
chegou a ser ajuizada ação penal, é a data do arquivamento do inquérito
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policial (STJ. REsp 1443038/MS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA


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TURMA, julgado em 12/02/2015).


RESPONSABILIDADE POR ATOS LEGISLATIVOS

Atuação legislativa não acarreta responsabilidade civil do Estado. Contudo, a


doutrina majoritária e a jurisprudência reconhecem que a responsabilidade do
Estado legislador pode surgir em três situações excepcionais: a) leis de efeitos
concretos e danos desproporcionais; b) leis inconstitucionais; e c) omissão
legislativa.
o Leis de efeitos concretos e danos desproporcionais: leis de efeitos
concretos são aquelas que não possuem caráter normativo, não detêm
generalidade, impessoalidade e nem abstração. Podem acarretar
prejuízos às pessoas determinadas, gerando, com isso, responsabilidade
civil do Estado.
o Leis inconstitucionais: se o dano surge em decorrência de lei
inconstitucional, a qual evidentemente reflete atuação indevida do órgão
legislativo, não pode o Estado simplesmente eximir-se da obrigação de
repará-lo. A responsabilização do Estado depende da declaração de
inconstitucionalidade da lei pelo STF.
o Omissão Legislativa: a própria Constituição estabelece prazo para o
exercício do dever de legislar, o descumprimento do referido prazo,
independentemente de decisão judicial anterior, já é suficiente para
caracterização da mora legislativa inconstitucional e consequente
responsabilidade estatal.

RESPONSABILIDADE POR ATOS JURISDICIONAIS

Para os atos administrativos praticados pelos agentes do Poder Judiciário (juízes


ou não), incide regularmente a responsabilidade civil objetiva do Estado.
Admite-se que a responsabilidade do Estado por atos judiciais pode ocorrer em
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três hipóteses:
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o Erro judiciário: o indivíduo que for condenado por erro judiciário terá
direito à reparação do prejuízo. No caso, a responsabilidade do Estado é
objetiva, isto é, independe de dolo ou culpa do magistrado. o erro
judiciário que enseja a responsabilização civil do Estado restringe-se à
esfera penal;
o É válido lembrar, ainda, que segundo o STF, a prisão preventiva, desde
que adequadamente fundamentada, não leva à responsabilidade do
Estado, pois não se confunde com o erro judiciário (STF. RE 429.518/SC.
DJ de 28/10/04).

o Prisão além do tempo fixado na sentença: A prisão além do tempo fixado


na sentença também configura a responsabilidade civil do Estado;
o Demora na prestação jurisdicional: A demora na prestação jurisdicional
pode ensejar a responsabilidade do Estado, tendo em vista a violação do
direito fundamental à razoável duração do processo consagrado no art.
5.º, LXXVIII, da CF/88.
o Importante registrar que o STF, em sede de Recurso Extraordinário, já
decidiu que a ação de responsabilidade civil por atos jurisdicionais não
pode ser ajuizada contra o magistrado, que é um agente político dotados
de plena liberdade funcional para o desempenho de suas funções. Com
efeito, a demanda deverá ser intentada contra a Fazenda Pública
respectiva, assegurado, nos termos da lei, o direito de regresso. Em suma,
haverá a legitimidade passiva exclusiva do Estado, reconhecida a
ausência de responsabilidade concorrente em face dos eventuais
prejuízos causados a terceiros pela autoridade julgadora no exercício de
suas funções. (STF. RE 228.977, rel. min. Néri da Silveira, j. 5-3-2002, 2ª
T, DJ de 12-4-2002.)

RESPONSABILIDADE DOS NOTÁRIOS


O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores
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oficiais que, no exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado


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o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena
de improbidade administrativa. O Estado possui responsabilidade civil direta,
primária e objetiva pelos danos que notários e oficiais de registro, no exercício
de serviço público por delegação, causem a terceiros. (STF. Plenário. RE
842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 - repercussão geral).

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