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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Vigésima Primeira Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0023262-84.2005.8.19.0038

APELANTE: MUNICIPIO DE NOVA IGUAÇU


PROC. MUNICIPAL: ANDREZA FERNANDES VALINOTE
APELADO: LINO XAVIER DE FRANÇA
ADVOGADO: VALERIA BRILHANTINO PEREIRA (Ativo)

Relator: DESEMBARGADOR ANDRÉ RIBEIRO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA PELOS


DANOS MORAL E MATERIAL. QUEDA EM BURACO
NA VIA PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO DO
MUNICÍPIO NO DEVER DE FISCALIZAÇÃO.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DE ACORDO
COM ART. 37, § 6º, DA CF/88. OMISSÃO ESPECÍFICA.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INCONFORMISMO DO
RÉU. Cinge-se a controvérsia recursal na verificação
da responsabilidade do Município pelos danos
materiais e morais suportados pelo autor em razão de
alegada queda em via pública. Com efeito, a teoria do
risco administrativo consagrada no art. 37, § 6º da
CRFB/88 atribuiu ao Município o dever de indenizar,
independente de culpa, pelos danos causados por
seus agentes a terceiros. No caso em tela, tendo em
vista tratar-se de responsabilidade por ato omissivo,
mister afirmar que parte da doutrina capitaneada por
Celso Antônio Bandeira de Mello sustenta ser
subjetiva a responsabilidade nesses casos. Todavia,
tal posição doutrinária merece ser ponderada e é
preciso distinguir, nesses casos, omissão genérica e
omissão específica do Estado. Se houver dever
individualizado de agir e, portanto, omissão
específica, a responsabilidade estatal será objetiva,
nos moldes do art. 37 §6º, da CRFB. No caso em
exame, as fotos acostadas aos autos comprovam a
existência de buracos na pista de rolamento, havendo
o evento danoso sido comprovado mediante receita
médica e prova testemunhal. Município que não
logrou êxito em demonstrar quaisquer das hipóteses
excludentes de sua responsabilidade. Forçoso
reconhecer, assim, o dever de indenizar. Dano
material comprovado e dano moral configurado.

Secretaria da Vigésima Primeira Câmara Cível


Rua D. Manuel, 37, 2 andar – Sala 236 Lâmina III
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090
Tel.: + 55 21 3133-6021 – E-mail: 21cciv@tjrj.jus.br 1

ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH:31928 Assinado em 01/09/2022 11:31:46


Local: GAB. DES ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH
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Quantum arbitrado adequado às circunstâncias do


caso concreto e de acordo com os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. Acerto da
sentença. DESPROVIMENTO DO RECURSO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação


Cível nº 0023262-84.2005.8.19.0038em que figura como Apelante: MUNICÍPIO
DE NOVA IGUAÇU e Apelado: LINO XAVIER DE FRANÇA
.

A C O R D A M os Desembargadores que integram a


Vigésima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos
termos do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2022.

Desembargador André Ribeiro


Relator

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RELATÓRIO

Na origem, trata-se de ação de responsabilidade civil


ajuizada por CECILIA BEATRIZ MOREIRA FRANÇA em face do MUNICÍPIO
DO RIO DE JANEIRO, alegando que, aos 04 de dezembro de 2004, na Estrada
de Iguaçu, próximo ao n°1790, quando saía para comprar ração, em sua
bicicleta, sofreu uma violenta queda, em decorrência de um bueiro que, embora
aberto, não apresentava qualquer sinalização ou proteção.

Narrou que foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e


levado ao Hospital da Posse, tendo sofrido lesões gravíssimas.

Salientou que, em decorrência da narrada queda, sofreu


lesões gravíssimas, sendo necessário levar dez pontos na testa, apresentando
dificuldade de acomodação com o globo ocular, nervosismo após fratura
completa do zigomático, laceração e contusão de crânio e face, com sequelas
resultantes do traumatismo, conforme laudo médico em anexo.

Sustentou que o acidente lhe causou danos de ordem


moral e dano material, eis que recebia a diária de R$50,00 como ladrilheiro
autônomo.
Aduziu a responsabilidade do Município pela falta de
manutenção e fiscalização das condições das vias e dos passeios públicos.

Requereu o pagamento de indenização por danos


materiais da quantia equivalente a cem salários mínimos, dano moral; lucros
cessantes; pensionamento em um salário mínimo, além dos ônus
sucumbenciais.

Decisão no índice 000028, deferindo a gratuidade de


justiça.
Contestação no índice 000034, sustentando que a
responsabilidade do réu decorreria de uma omissão genérica, ressaltando que,
em casos de condutas omissivas, aplica-se a Teoria da Responsabilidade

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Subjetiva da Culpa do Serviço, afastando-se, consequentemente, a Teoria da


Responsabilidade Objetiva por Risco Administrativo.

Alega que a autora não comprovou o fato constitutivo de


seu direito, bem como ausência de omissão danosa por parte da
municipalidade, assim como do nexo de causalidade.

Entende se amoldar o caso em exame em culpa exclusiva


do autor que conduzia sua bicicleta na pista de rolamento, em descumprimento
das normas legais que indica e não no acostamento como afirma na inicial.

Por fim, defende a inexistência de qualquer dano a ser


indenizado. Pugnou pela improcedência dos pedidos.

Decisão saneadora (índice 000054), deferiu a produção


de provas documental, oral e pericial.

Laudo pericial Oftalmológico às fls.73/79.

Novos Esclarecimentos prestados pela expert às


fls.90/91.
Decisão de fls.98, deferindo-se a Perícia Neurológica.

Laudo Pericial às fis.123/128, manifestando-se as partes


às fls.156 e 157/162.

Sobreveio sentença de índice 000204, que julgou


procedentes os pedidos nos seguintes termos:

“(...) É O RELATÓRIO. DECIDO.

O feito em exame dispensa outras provas além das já


produzidas, autorizando o seu julgamento antecipado, nos
termos do art.355, I do CPC.
No mérito, cinge-se a controvérsia em aferir quanto à
responsabilidade do réu em reparar as lesões sofridas
pela autora quando, aos 04/12/2004, ao conduzir sua
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bicicleta na Estrada de Iguaçu, na altura do número 1790,


sofreu uma violenta queda em razão da existência de uma
bueiro aberto e sem qualquer sinalização.
Registre-se que, em se tratando de bueiro aberto e sem
sinalização, diante do contrato de concessão do serviço
de água e esgoto, cabia à municipalidade a fiscalização
da prestação do serviço, sendo sua omissão passível de
responsabilização civil objetiva, na forma do art. 37, §6 0,
da Constituição Republicana, nos termos da
Jurisprudência que a seguir se destaca:
Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima
Sexta Câmara Cível Apelação Cível n° 0019494-
77.2010.8.19.0038 FLS.4 4
"As pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso
contra o responsável nos casos de dolo ou culpa."
Frise-se que, as provas produzidas no feito pela parte
autora, sem sombra de dúvidas, corroboram as suas
alegações e estabelecem o nexo causal entre o acidente
que a vitimou e a omissão do ente público em fiscalizar o
serviço, especificamente no que diz respeito a bueiro
aberto em via pública, sinalizando, desta forma, que foi a
queda no bueiro sem qualquer proteção o fato gerador do
dano experimentado pela vítima, conforme se depreende
da foto de fls. 160 e Certificado de Ocorrência emitido
pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de
Janeiro, (fls. 17) , o qual informa a data do acidente e os
danos experimentados pelo Autor.
Além do mais, O Sr. Perito do Juízo, na conclusão do seu
Laudo (fls.126), afirma: "... O exame pericial revelou
evidências do trauma craniano relacionado na
documentação médica acostada, não tendo revelado
nenhum prejuízo funcional resultante...
"...O documento de fls.18 permite verificar que o acidente
que originou o atendimento médico se decorreu de queda
de bicicleta, permitindo o estabelecimento do nexo técnico
e o atendimento hospitalar."
"...Ante o exposto, concluo que os danos verificados no
autor não determinam prejuízo funcional (IPP= 0%). O
período de incapacitação total e temporária (ITT)
sustentado pelo Autor no evento que originou a internação
médica, de acordo com as descrições médicas, pode ser
arbitrado em 30 dias."

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O Réu tenta transferir para o autor a responsabilidade por


sua omissão, alegando culpa exclusiva deste que
transitava pela faixa de rolamento e não no acostamento.
Ocorre que os documentos adunados à Inicial aliados a
prova pericial estabelecem o nexo de causalidade,
devendo o réu Indenizar a autora pelos danos
experimentados.
Diante do lapso temporal entre a data do acidente e a
prolação da presente sentençã, mais de 15 anos, a
produção de prova testemunhal restaria Inócua, razão
pela qual acolho as declarações de fls.22/25, malgrado
não tenha passado pelo crivo do contraditório, entretanto,
às de fls. Fis.24 e 25, encontram-se com as firmas
reconhecidas de seus signatários.
E assim é porque o dano moral, restou amplamente
configurado, na medida em que o autor ao cair no bueiro,
precisou de ajuda médica, permaneceu Internado de
04/12/2004 a 07/12/2004 e ficou Incapacitado por 30 dias.
Entendo que a indenização deve ser fixada em
R$10.000,00, observando-se os princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.
Quanto ao pedido de lucros cessantes, não merece
prosperar, vez que inexiste prova de que o autor
trabalhava como ladrilheiro a ganhava a diária de
R$50,00.
A prova pericial concluiu que os danos verificados no
autor não determinam prejuízo funcional, razão pela qual
não há que se acolher o pedido de pensionamento.
O Deixando o Réu de atender ao
disposto no art.373, II do CPC como lhe competia, impõe-
se a procedência dos pedidos.
ISTO POSTO, JULGO PROCEDENTE e condeno o réu a
pagar ao Autor a quantia de R$10.000,00 (dez mil reais),
a qual deverá ser corrigida de acordo com o o
entendimento do STF, em regime de repercussão geral,
no julgamento do RE 870.947 ocorrido em 20/09/2017, no
sentido de que, com relação à correção monetária, o valor
a ser recebido pela autora, deverá ser atualizadn pelo
IPCA-E, e com relação à aplicação dos juros moratórios,
deverá ser obedecido o disposto no art. 1°-F, da Lei
9.494/97, com as alterações trazidas pelo art. 5 da lei
11.960/09, a partir de sua vigência.
O termo inicial dos juros é a data do evento danoso, por
se tratar de relação extracontratual (Súmula n° 54, do

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STJ), e da correção monetária é a data da sentença


(Súmula n° 97, do TJRJ).
Condeno o réu, ainda, ao pagamento dos honorários
advocatícios que fixo em 10% (dez por cento), incidentes
sobre a condenação, bem como aos honorários periciais.”

Irresignado, o município réu interpôs recurso de apelação


no índice 000209, aduzindo que, conforme entendimento jurisprudencial
dominante no âmbito dos Tribunais Superiores, o Poder Público responde
subjetivamente pelos danos causados a terceiros, sendo imprescindível a
prova de que deixou de evitar o resultado danoso por culpa, em se tratando de
ato estatal omissivo, pois não se aplica a teoria da responsabilidade objetiva
por risco administrativo, consagrada no art. 37, § 6º, da Constituição Federal e
no art. 43 do Código Civil.

Afirma que a parte autora não logrou comprovar que a


suposta queda ocorreu em razão de existir buraco na rua por onde trafegava,
nem mesmo que ele foi a causa do acidente que alega ter sofrido, salientando
que além de não haver prova de conduta omissiva do Município, está ausente
o nexo de causalidade necessário à configuração do dever indenizatório e
existe culpa exclusiva da parte autora.

Argumenta, por fim, que inexiste dano moral, pois a


descrição dos fatos relatados pela parte autora está restrita a mero dissabor,
não tendo havido abalo à honra, nem tampouco a configuração de situação que
produza dor, humilhação ou sofrimento na esfera de sua dignidade. Requer
que a sentença seja reformada para julgar improcedentes os pedidos.

Contrarrazões em prestígio ao julgado às fls. 220/223.

Certidão informando que o recurso é tempestivo a fls.


224.

É o relatório. Passo ao voto.

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Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do


recurso.

Cinge-se a controvérsia recursal na verificação da


responsabilidade do Município pelos danos materiais e morais suportados pelo
autor em razão de alegada queda em via pública.

Com efeito, a teoria do risco administrativo consagrada no


art. 37, § 6º da CRFB/88 atribuiu ao Município o dever de indenizar,
independente de culpa, pelos danos causados por seus agentes a terceiros. No
caso em tela, tendo em vista tratar-se de responsabilidade por ato omissivo,
mister afirmar que parte da doutrina capitaneada por Celso Antônio Bandeira
de Mello sustenta ser subjetiva a responsabilidade nesses casos. Todavia, tal
posição doutrinária merece ser ponderada e é preciso distinguir, nesses casos,
omissão genérica e omissão específica do Estado.

De acordo com Sergio Cavalieri Filho, “haverá omissão


específica quando o Estado, por omissão sua, crie a situação propícia para a
ocorrência do evento em situação que tinha o dever de agir para impedi-lo”
(Programa de Responsabilidade Civil, Malheiros Editores, 2006, p. 261). Desta
feita, não se mostra correto afirmar que toda hipótese de dano decorrente de
omissão estatal deverá ser analisada sob o prisma da responsabilidade
subjetiva. Assim se procederá se o caso em questão for de omissão genérica.
Todavia, se houver dever individualizado de agir e, portanto, omissão
específica, a responsabilidade estatal será objetiva, nos moldes do art. 37 §6º,
da CRFB.

Pela análise dos autos, é possível afirmar que, no caso


em questão, houve omissão específica do Município, uma vez que este não
tomou as providências necessárias a fim realizar a devida manutenção,
conservação e fiscalização adequadas das vias públicas, que, em tese, teria
levado a queda da autora.

No caso em exame, as fotos acostadas aos autos


comprovam a existência de buracos na calçada (índice 0000014):

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Com efeito, a municipalidade tem o dever de manter os


bueiros destinados ao recolhimento de águas pluviais, posto que são de sua
competência as galerias pluviais. Assim, deixou de agir, quando tinha o dever
de fazê-lo.

Nada obstante, tais fatos ainda são insuficientes para


responsabilização do Município. Explica-se:

Tratando-se de omissão específica e, portanto, de


responsabilidade objetiva, há necessidade de comprovação do dano e do nexo
de causalidade para que surja o dever de indenizar, o que, de fato, restaram
comprovados.

O prontuário de atendimento da UPA, para onde o autor


foi conduzido pela GSE, e o Boletim de atendimento da Policlínica Geral de
Nova Iguaçu (e-doc. 0014) atestam que a parte autora sofreu acidente ao cair

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em bueiro na data de 04/12/2004, e que sofrendo variadas lesões, o que


comprova o dano e o nexo causal.

Conclui-se, portanto, do conjunto probatório, que a parte


autora logrou comprovar os elementos necessários à imputação de tal
responsabilidade, conforme se depreende dos documentos acostados no
índice 14, especialmente o laudo médico de fl. 18 e as declarações firmadas
por testemunhas às fls. 22/25.

Ainda, a prova pericial médica produzida nos autos, fls.


73/79 e 123/128, comprova os danos suportados pelo autor em razão do
evento, declarando que o autor, em 16/05/2005, cerca de seis meses após o
acidente, ocorrido em 04/12/2004, apresentava dificuldade de acomodação
com o globo ocular, nervosismo após sofrer fratura completa do zigomático e
sequela em razão do ferimento na região da face com sequela estabelecida em
razão de traumatismo ocasionado por queda de bicicleta em bueiro.

Diante deste cenário, tenho que restou cabalmente


demonstrado o nexo de causalidade, a ensejar o dever de reparação, não
havendo, ademais, dúvidas de que as lesões sofridas foram causadas em
razão da referida queda.

Forçoso concluir, portanto, que a parte autora logrou êxito


em comprovar o fato constitutivo de seu direito, não havendo a municipalidade
demonstrado quaisquer das hipóteses excludentes da sua responsabilidade,
nos termos do art. 373, II, do Código de Processo Civil.

Importante ressaltar que a falta de conservação das vias


públicas é um problema crônico, que se agrava a cada dia, cujo dever de
manutenção não é exercido pelo Município, que silente a dar solução
adequada ao problema, limita-se a medidas paliativas, que pouco ou nada
contribuem para a prestação de serviço público eficiente e de qualidade.

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Assim sendo, esta Corte de Justiça é constante no


reconhecimento da responsabilidade civil do Ente Público em casos idênticos,
conforme se depreende das ementas dos arestos abaixo indicados:

RESPONSABILIDADE CIVIL. MUNICÍPIO DO RIO DE


JANEIRO. DANOS MORAIS. QUEDA EM UM BUEIRO
DESTAPADO EM VIA PÚBLICA. LESÕES QUE
DEMANDARAM PROCEDIMENTO CIRÚRGICO.
RESPONSABILIDADE CIVIL DA ADMINISTRAÇÃO.
OMISSÃO ESPECÍFICA. DANO MORAL
CONFIGURADO. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA. DANO MORAL FIXADO EM R$
20.000,00 (VINTE MIL REAIS). 1. Pretensão autoral de
condenação do Município ao pagamento de danos
morais sofridos, em razão de ter sofrido queda em
bueiro destampado. 2. O presente caso versa a respeito
da responsabilidade civil da Administração por omissão
específica, no que tange ao seu dever de manter a via
pública adequadamente conservada para o trânsito de
pessoas, estando patente, na comprovada omissão, o
nexo causal integrativo do ilícito administrativo. Não
havendo dúvida acerca do nexo de causalidade entre a
omissão do ente municipal e os danos experimentados
pelo demandante, impõe-se acolher a pretensão autoral.
3. Os documentos médicos demonstram que o autor
sofreu lesão compatível com a que sofrem pessoas
vítimas de acidentes semelhantes. 4. In casu, o valor de
R$ 20.000,00, a título de dano moral, atende, de forma
suficiente, ao caráter inibitório que reveste o instituto, na
espécie, não merecendo ser excluídos ou reduzidos.
Recurso conhecido e improvido, nos termos do voto do
Desembargador Relator. (0097023-74.2019.8.19.0001 -
APELAÇÃO. Des(a). CHERUBIN HELCIAS SCHWARTZ
JÚNIOR - Julgamento: 19/05/2022 - DÉCIMA SEGUNDA
CÂMARA CÍVEL)

APELAÇÃO CÍVEL. ADMINISTRATIVO.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO MUNICÍPIO (ART. 37,
§6º DA CF). PEDIDO DE COMPENSAÇÃO POR
LESÕES A DIREITO DA PERSONALIDADE
DERIVADAS DE QUEDA EM BUEIRO CUJA TAMPA
ESTAVA QUEBRADA. OMISSÃO ESPECÍFICA DO
ENTE PÚBLICO NO QUE SE REFERE AO ZELO PELA
CONSERVAÇÃO DAS RUAS EM CONDIÇÕES DE

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SEGURANÇA, DE MOLDE A EVITAR ACIDENTES


COMO O DESCRITO NOS AUTOS (ART. 30, I C/C 182
DA CRFB). ADOÇÃO DA TEORIA DA CAUSALIDADE
DIRETA E IMEDIATA (ART. 403, DO CC -
INFORMATIVO STF Nº 329). CONTEXTO FÁTICO
PROBATÓRIO APTO A EVIDENCIAR O NEXO DE
CAUSALIDADE. DANO MORAL COMPROVADO.
INDENIZAÇÃO DE R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS)
QUE ATENDE A LÓGICA DO RAZOÁVEL.
IMPROCEDÊNCIA EM RELAÇÃO AOS PEDIDOS DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS ESTÉTICOS E LUCROS
CESSANTES, POR NÃO TER A AUTORA CUMPRIDO
COM SEU ÔNUS PROBATÓRIO, NA FORMA DO
ARTIGO 373, I, DO CPC. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO. (0090643-55.2018.8.19.0038 - APELAÇÃO.
Des(a). MYRIAM MEDEIROS DA FONSECA COSTA -
Julgamento: 12/04/2022 - QUARTA CÂMARA CÍVEL)

Em relação ao quantum indenizatório, tenho que o mesmo


foi adequadamente fixado.

Conforme cediço, a verba indenizatória não deve se


constituir em fonte de enriquecimento indevido do lesado e, assim, deve ser
arbitrada com moderação e prudência pelo julgador. Por outro lado, não deve
ser insignificante, considerando-se a situação econômica do ofensor, sem
olvidar o caráter punitivo-pedagógico de que deve se revestir, a fim de não
constituir estímulo à manutenção de práticas que agridam e violem direitos do
consumidor.

Dessa forma, entendo que o valor da indenização pelo


dano moral fora corretamente arbitrado em R$ 10.000,00 (dez mil reais),
considerando a angústia e dano psicológico vivenciados.

Ademais, a verba indenizatória do dano moral somente


será modificada se não atendidos pela sentença os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação.
Circunstância que atrai a incidência do enunciado sumular nº 343 desta Corte
de Justiça:

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"A verba indenizatória do dano moral somente será


modificada se não atendidos pela sentença os princípios
da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do
valor da condenação."

Escorreita, pois, a sentença, que não merece qualquer


reparo.

Ante o exposto, voto no sentido de NEGAR


PROVIMENTO AO RECURSO.

Desembargador ANDRÉ RIBEIRO


Relator

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