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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL Nº. 0295956-61.2017.8.19.0001

APELANTE (AUTOR): AHRON DE LIMA CAVALCANTE (MENOR


IMPÚBERE)
REPRESENTANTE LEGAL: BRENDA SILVA DE LIMA
APELADO (RÉU): MUNICÍPIO DO RIO JANEIRO
ORIGEM: JUÍZO DA 16ª VARA DE FAZENDA PÚBLICA DA
COMARCA DA CAPITAL
RELATORA: DESEMBARGADORA LÚCIA ESTEVES

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E ADMINISTRATIVO.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ALEGAÇÃO DE
QUEDA EM BURACO NA VIA PÚBLICA SOFRIDA POR MENOR
DE 10 ANOS DE IDADE, QUANDO ANDAVA DE BICICLETA, EM
LOCAL QUE ESTAVA SENDO REALIZADA UMA OBRA PÚBLICA.
FRATURA DO BRAÇO ESQUERDO COM REALIZAÇÃO DE
PROCEDIMENTO CIRÚRGICO PARA COLOCAÇÃO DE PINOS.
DEFORMIDADE PERMANENTE EM RAZÃO DE REDUÇÃO DA
MOBILIDADE DO MEMBRO SUPERIOR LESIONADO.
NEGLIGÊNCIA DOS GENITORES. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. IRRESIGNAÇÃO AUTORAL. A
HIPÓTESE DOS AUTOS TRATA-SE DE OMISSÃO GENÉRICA A
ATRAIR A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO ENTE
PÚBLICO, EXCEÇÃO A REGRA DE RESPONSABILIDADE
OBJETIVA. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DO DANO, DA
CULPA E DO NEXO DE CAUSALIDADE. ENCERRADA A
INSTRUÇÃO PROCESSUAL, RESTOU DEMONSTRADO PELA
PROVA TESTEMUNHAL PRODUZIDA QUE HOUVE CULPA
EXCLUSIVA DA VÍTIMA, A EXCLUIR A RESPONSABILIDADE DO
MUNICÍPIO RÉU. MENOR QUE ANDAVA DE BICICLETA, EM
ALTA VELOCIDADE, EM UMA VIA PÚBLICA INTERDITADA
PARA O TRÂNSITO DE VEÍCULOS, PORQUE NO LOCAL
ESTAVA SENDO REALIZADA UMA OBRA PÚBLICA, SEM A
SUPERVISÃO DE QUALQUER ADULTO. SENTENÇA QUE NÃO
MERECE REPARO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

Secretaria da Décima Nona Câmara Cível


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FRD 1

LUCIA REGINA ESTEVES DE MAGALHAES:17537 Assinado em 25/06/2021 10:37:00


Local: GAB. DES(A)LUCIA REGINA ESTEVES DE MAGALHAES
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DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL
APELAÇÃO CÍVEL Nº. 0295956-61.2017.8.19.0001

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação


Cível nº 0295956-61.2017.8.19.0001, em que é Apelante AHRON
DE LIMA CAVALCANTE, menor impúbere neste ato representado
por sua genitora BRENDA SILVA DE LIMA e Apelado MUNICÍPIO
DO RIO JANEIRO.

Acordam os Desembargadores da Décima Nona Câmara


Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade de votos, em CONHECER E NEGAR PROVIMENTO
AO RECURSO, nos termos do voto da Desembargadora Relatora.

RELATÓRIO

Trata-se de Recurso de Apelação Cível interposto pelo


Autor AHRON DE LIMA CAVALCANTE, menor impúbere neste ato
representado por sua genitora BRENDA SILVA DE LIMA, contra a
sentença prolatada pelo Juízo da 16ª Vara de Fazenda Pública da
Comarca da Capital, de fls. 340/344 (i.e. 0340), que julgou
improcedente o pedido deduzido em face do Réu MUNICÍPIO DO
RIO JANEIRO, nos seguintes termos:

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“AHRON DE LIMA CAVALCANTE, menor


representado por sua genitora, ajuizou a presente
Ação de Reparação de Danos em face do
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO objetivando a
reparação dos danos decorrente de queda em
buraco quando andava de bicicleta, aduzindo que
em julho de 2016, quando tinha 10 anos, andava
em sua bicicleta na rua do meio, no final da tarde,
como de costume, próximo à sua residência,
quando caiu em um buraco aberto na rua, sem
sinalização; afirma que fraturou o braço esquerdo
e foi levado na emergência do Hospital Getúlio
Vargas, onde foi submetido a cirurgia para
colocação de um pino; alega que ficou internado
por 02 dias, e foi imobilizado com gesso, ficando
afastado da escola por 20 dias; afirma que o
acidente lhe gerou sequelas, deformidade e
limitação de movimento do braço; assim, requer a
condenação do réu ao pagamento de
indenização por dano material no valor de R$
550,00, ao pagamento de todas as despesas
necessárias para continuidade do tratamento,
pensão vitalícia de 02 salários mínimos pela
redução da capacidade laborativa, bem como a

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reparação dos danos morais e estéticos no valor


de R$ 20.000,00 cada (fls. 02/28).

Inicial instruída com documentos de fls. 29/59.

Despacho de conteúdo positivo, fls. 65, onde foi


deferida a J.G.

Contestação de fls. 75/89, onde o réu alega, em


apertada síntese, ausência de responsabilidade
civil pela falta de prova de que as lesões sofridas
decorreram da suposta queda; afirma que a
apresentação de atestados médicos não
comprovam o presença do nexo causal, e que
sequer há prova da efetiva ocorrência do evento
danoso; aduz que eventual omissão do réu foi
genérica, o que implica na responsabilidade
subjetiva, incumbido ao autor comprovar a
presença de todos os elementos da
responsabilidade civil; invoca culpa exclusiva da
vítima como forma de exclusão da
responsabilidade civil, requerendo a
improcedência dos pedidos.

A defesa veio desacompanhada de documentos.

Réplica, fls. 96/101.

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Decisão saneadora às fls. 157, onde foram


fixados os pontos controvertidos e deferida
produção de prova pericial.

Laudo pericial, fls. 255/263.

AIJ, fls. 327, onde foram colhidos os depoimentos


de 02 testemunhas, fls. 328/329.

Parecer final do MP às fls. 334/336, opinando


pela improcedência dos pedidos.

Encerrada a instrução, os autos vieram-me


conclusos para sentença.

É O RELATÓRIO. DECIDO.

Cuida-se de demanda onde se pretende apurar a


responsabilidade civil do réu pelos danos sofridos
pelo autor em decorrência da queda sofrida em
um buraco no logradouro público, em razão de
obra sem a devida sinalização.

A responsabilidade civil da Administração Pública


é regida pelo §6º do art. 37 da CF/88, que
estabelece a responsabilidade civil objetiva pela
inadequação dos serviços públicos, imputando
assim, ao ente estatal o dever jurídico de reparar

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os danos que seus agentes, nessa qualidade,


causarem a terceiros, independente de culpa,
assegurando o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.

O texto constitucional não estabelece distinção


para caso de ação ou omissão do Poder Público,
evidenciando que a responsabilidade objetiva
pode ser por comissão ou omissão.

Com isso, a regra é de que a responsabilidade do


ente estatal é objetiva.

Entretanto, no caso de omissão, deve-se


diferenciar a modalidade de omissão específica e
omissão genérica.

A omissão genérica decorre de inação do Estado,


e apesar de não afastar a responsabilidade da
administração pública, é apurada na modalidade
subjetiva. Isso porque não há o fato juridicamente
relevante, qual seja, um comportamento inferior
ao padrão legal exigível na situação em apreço.
O Estado não atua dada a impossibilidade ou a
instransponível dificuldade de fazê-lo e ainda a
imprevisibilidade do acontecimento.
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Já na omissão específica, onde há o dever


individualizado de agir, quando o Poder Público
pode e deve agir para evitar o resultado, a
responsabilidade é objetiva.

A omissão que deflagra a responsabilidade


objetiva do ente estatal é aquela que a doutrina
denomina de omissão específica ou omissão
concreta, isto é, caracterizada pelo
descumprimento de um dever previamente
estabelecido, na medida em que a omissão
genérica traz embutida o vazio obrigacional.

Com isso, apesar da regra ser a responsabilidade


objetiva, na hipótese de omissão genérica, a
responsabilidade do Estado Federal será,
excepcionalmente, subjetiva (depende da prova
da culpa), incumbindo assim, à parte autora,
comprovar a presença de todos os elementos do
dever jurídico indenizatório: o dano, a culpa e o
nexo causal.

As circunstâncias jurídicas discutidas nos autos


revelam que ocorreu omissão genérica, eis que
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apesar de previsível o dano, não havia nenhum


agente público no momento de modo que
pudesse ter agido para evitar o dano, mas não o
fez (omissão específica).

Se não houve omissão específica de um agente


público que não agiu, quando podia e devia, a
omissão é genérica, o que individualiza a
responsabilidade civil subjetiva, dependendo,
portanto, da aferição de culpa (responsabilidade
subjetiva).

No caso em apreço, as provas documental e


pericial comprovaram o dano. A prova técnica é
suficientemente contundente em demostrar o
dano sofrido pelo autor.

O laudo pericial ainda constatou a ocorrência do


nexo causal técnico, que por força dos
esclarecimentos do próprio expert, “É o vínculo
fático que liga o efeito (lesões sofridas) à causa
(acidente ocorrido).”

Por ser esse da competência do perito médico,


após análise das de todas as circunstâncias que
lhes foram apresentadas, concluiu que as lesões
e sequelas sofridas pelo autor decorreram da
queda no buraco narrada na inicial, isto é, o nexo
causal técnica está presente.

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Isso comprova que as lesões do autor se


originaram da queda no buraco descrita na inicial,
vale dizer, está provado o dano e o nexo causal.

Cumpre agora analisar o elemento subjetivo, isto


é, a culpa (se do réu ou exclusiva do autor), eis
que a sua ausência rompe o nexo causal, e por
conseguinte, afasta a responsabilidade civil e o
consequente dever reparatório/indenizatório.

A prova oral comprovou que o dano decorreu da


queda do autor em um buraco.

Contudo, isso não é suficiente para deflagrar a


culpa do réu. Devemos analisar os demais
elementos dos autos de modo a estabelecer se a
culpa efetivamente foi do réu, por ato omissivo,
ou se houve culpa exclusiva da vítima (do autor).

Pelo que consta na inicial, o autor, aos 10 anos


de idade, andava de bicicleta na rua do meio,
como de costume, próximo à sua residência,
quando veio a cair em um buraco na rua, sem
qualquer sinalização.

A prova oral colhida demonstrou o seguinte:

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- que no local havia uma obra, com muitos


entulhos, e que, inclusive, estava interditada para
veículos, que não podiam passar em razão da
própria obra;

- que o autor caiu em um buraco desta obra que


já estava no local há um considerável tempo (06
meses);

- que a obra era na rua, e que o buraco que o


autor caiu estava na rua, e não na calçada. As
testemunhas ainda especificaram que como a
obra era na rua, não estavam passando carros;

- que haviam vários buracos, e inclusive, eram


fechados e abertos com frequência, para sanar
os problemas que surgiam durante a obra;

- que havia uma placa grande sinalizando a obra,


bem como que havia local para pedestres e
ciclistas passar;

- que o autor andava de bicicleta em grande


velocidade (ele vinha “voado”, como disse a
testemunha);

Essas circunstâncias demonstram que o buraco


onde o autor caiu estava localizado em uma obra,
próxima à sua residência, onde ele costumava
andar de bicicleta.
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Também demostram que apesar da obra não


estar totalmente isolada, com barreiras
(tapumes), como deveria, já estava no local há 06
meses, com muitos buracos e entulho, isto é, era
de amplo conhecimento de todos, notadamente
dos moradores da localidade, como o autor e sua
genitora.

Também restou apurado que o buraco da obra


estava na rua, e não na calçada, demonstrando
que o autor, menor de idade, se aventurou
imprudentemente a andar de bicicleta na rua
(local de passagem de veículos automotores) e
sobre os escombros da obra, local totalmente
inapropriado (apesar de haver passagem de
pedestres e ciclistas, como declarado pela
testemunha), o que era de seu conhecimento e
de sua genitora (obra antiga), que assim permitiu
negligentemente.

Por fim, não se pode olvidar que o autor andava


em alta velocidade, para a idade (como dito pela
testemunha, que ele vinha “voado”),
evidenciando assim, sua culpa exclusiva, em
colaboração com a de sua genitora, que assim
permitiu.

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Na verdade, a causa do acidente não foi o


buraco, mas sim a escolha do autor em andar de
bicicleta em terreno totalmente instável.

Ora, uma criança andando de bicicleta em local


de obra, com entulhos e buracos, é totalmente
previsível a ocorrência de um incidente,
notadamente por conter barreiras (pedras,
buracos e montes de terra) que fazem parte da
brincadeira da idade (10 anos), como comumente
acontece e pode se extrair das regras de
experiência comum subministradas pela
observação do que ordinariamente ocorre, à luz
do art. 375 do CPC.

Da mesma forma, os responsáveis do pequeno


autor agiram com culpa ao autorizar que o menor
andasse de bicicleta em local inadequado, de
grande periculosidade e considerável
potencialidade lesiva. A previsibilidade de um
acidente nessas condições elevada, o que
evidência não só a culpa exclusiva do autor, mas
também de sua mãe, que foi negligente pela falta
de dever de cuidado e vigilância.

A falta de cautela dos responsáveis do menor


contribuiu diretamente para o resultado causal
material que, associado à culpa exclusiva da

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vítima, rompe o nexo causal, afastando a


responsabilidade civil do réu.

Destarte, apesar de lamentar o ocorrido, acolho o


lucido e cauteloso parecer ministerial que, com
presteza e habilidade, analisou devidamente os
fatos.

Isso posto, JULGO IMPROCEDENTE a


pretensão autoral, na forma dos arts. 487, I e 490
do CPC, e por conseguinte, condeno o autor ao
pagamento das custas e honorários de
sucumbência que fixo em 10% sobre o valor
atribuído à causa, cuja cobrança e execução
ficam suspensas por ser o mesmo beneficiário do
pálio da justiça gratuita.

Transitada em julgada, dê-se baixa e arquive-se.

P.I.”

O Apelante (Autor) em suas razões recursais de fls.


369/383 (i.e. 0369), alegou, em breve síntese, que o Município Réu,
ora Apelado, não nega o fato narrado na petição inicial, mas de
forma equivocada atribui a culpa pelo evento danoso ao próprio
menor e a sua genitora, por uma queda sofrida em um buraco
aberto na via pública, há mais de 06 (seis) meses, sem qualquer
proteção ou aviso de perigo.
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Aduziu que pela prova documental carreada aos autos


com a petição inicial e a conclusão do laudo pericial, restou
cabalmente demonstrado o dano e o nexo causal entre a sequela
sofrida pelo Autor com a dinâmica do incidente descrito na exordial,
de forma que encontra-se caracterizada a responsabilidade objetiva
do Ente Público e o seu dever de indenizar.

Sustentou que o Juiz a quo e o próprio Ministério Público,


este último que tem a obrigação legal de proteção do menor, não
analisaram adequadamente as provas produzidas nos autos.

Argumentou que não há que se falar em excludente de


responsabilidade ou culpa exclusiva do Autor e/ou de sua genitora,
pois na hipótese dos autos há omissão da Edilidade que recebeu
verbas de Banco Internacional para a realização de obras e não as
realizou.

Asseverou que no caso em exame a responsabilidade civil


é objetiva e o Apelado não se desincumbiu dos ônus de comprovar
fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito autoral, como lhe
impõe os termos do art. 373, II, do CPC.

Acrescentou que o Município Réu não juntou aos autos os


documentos relativos à obra do Programa Morar Carioca, seu
calendário ou sua finalidade.

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Defendeu que o Autor é um menor que reside em uma


comunidade, onde o Poder Público negligencia os seus direitos
básicos, como direito ao lazer, direito a brincar, onde não existe
ciclovias, nem lugar específico para lazer.

Ao final pugnou pelo provimento do recurso para


reformando a sentença julgar procedente o pedido para condenar o
Réu no pagamento de indenização por danos materiais, no valor de
R$ 550,00 (quinhentos e cinquenta reais) corrigido monetariamente
desde o seu desembolso e acrescido dos juros legais; na obrigação
de custear todas as despesas relativas aos tratamentos médico,
ambulatorial, cirúrgico e todos os que se fizerem necessários para o
restabelecimento físico e motor do Autor; no pagamento de
indenização por danos estéticos, no valor de R$ 20.000,00 (vinte
mil reais); no pagamento de reparação por danos morais, no valor
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e no pagamento de pensão
mensal vitalícia, no valor de 02 (dois) salários mínimos vencidas e
vincendas, além da inversão do ônus sucumbenciais.

O Apelado (Réu) apresentou suas contrarrazões, às fls.


462/468 (i.e. 0462), requerendo o seu desprovimento.

Instada se manifestar, a douta Procuradoria de Justiça


oficiou às fls. 445/451 (i.e. 0445), pugnando pelo conhecimento e
desprovimento do Recurso.

VOTO

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O Recurso de Apelação Cível preenche os seus


pressupostos de admissibilidade, razão pela qual deve ser recebido
nos seus regulares efeitos.

Após a análise minuciosa dos autos, verifico que não


assiste razão ao Apelante, pelos motivos que passo a expor.

Inicialmente, impende observar que o artigo 373, do


Código de Processo Civil, estabelece uma distribuição estática das
regras inerentes à produção de prova.
Nesse sentido, o inciso I, do citado dispositivo legal prevê
que o ônus da prova incumbe ao Autor quanto ao fato constitutivo
do seu alegado direito. Cabendo ao Réu, conforme previsto no
inciso II, do mesmo artigo, o ônus da impugnação específica, não só
da existência de fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do
direito do Autor, como, também, da impropriedade dos elementos
probatórios carreados aos autos pela parte ex adversa.

A hipótese dos autos versa sobre pleito indenizatório


cumulado com pedido de estabelecimento de pensionamento
vitalício, deduzido em face do Ente Público Municipal, em razão de
sequelas permanentes decorrentes da fratura do braço esquerdo
por um menor, que a época dos fatos possuía 10 (dez) anos de
idade e que teria sofrido uma queda, quando andava de bicicleta,
em razão da existência de um buraco aberto em um logradouro
público, por conta de uma obra pública municipal não sinalizada.

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Inicialmente, revela-se oportuno mencionar que, em regra,


a responsabilidade civil do Estado é objetiva, nos termos do art. 37,
§ 6º, da Constituição Federal, in verbis:

"Art. 37. A administração pública direta e indireta


de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:

(...)

§ 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as


de direito privado prestadoras de serviço público
responderão pelos danos que seus agentes,
nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o
responsável em casos de dolo ou culpa"

Contudo, convém observar que a Constituição Federal de


1988, adotou a Teoria do Risco Administrativo e não a Teoria do
Risco Integral.

Faz-se necessário observar que na hipótese dos autos, o


Autor, ora Apelante, imputa ao Município Réu, uma conduta
omissiva. Nesse caso, surge a necessidade de se perquirir se esta
é uma omissão específica ou uma omissão genérica.

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Na omissão específica, o agente público tem o dever de


agir, pode agir, mas se omite e deixa de evitar o resultado.

Na omissão genérica, ocorre a inércia do Ente Público, há


uma inação.

Assim, podemos concluir que a conduta omissiva imputada


na exordial ao Município se amolda na modalidade de omissão
genérica e nesse caso, a responsabilidade é subjetiva, havendo a
necessidade do Autor demonstrar a existência do dano, da culpa e
do nexo de causalidade.

Nesse aspecto, observar-se pelos documentos que


instruíram a petição inicial e pelo laudo pericial acostado aos autos,
a existência do dano e do nexo causal.

No entanto, na hipótese em análise, encerrada a instrução


processual, não restou comprovada a culpa da Administração
Pública para o dano sofrido pelo Autor, descrito na petição inicial.

Nesse ponto, merece ser observado que pelo depoimento


das 02 (duas) testemunhas arroladas pelo Autor e ouvidas em
Juízo, não restou demonstrado que o local do acidente não estava
sinalizado como alegado na petição inicial, pelo contrário, pelo
menos uma das testemunhas declarou que havia placa sinalizando
a existência de obra do “Programa Morar Carioca”.

Acrescente-se ainda, que pelo depoimento das


testemunhas, se depreende que é de conhecimento público e
notório, principalmente pelos moradores que residem nas

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proximidades, que o local está interditado para o tráfego de


veículos, em razão da realização da supracitada obra pública, mas
possui local destinado a passagem de pedestres e de ciclistas. E,
que no local existiam buracos e entulhos da obra.

Note-se ainda, que as testemunhas declararam que o


buraco em que o Autor teria caído não se situava na calçada, nem
no local destinado a passagem de pedestres e de ciclistas, mas sim
no meio da rua, no logradouro público. E a testemunha Hildiceia
Silva Batista declarou que o menor estava “voando” na bicicleta,
quando sofreu a queda.

Assim, pelas declarações das testemunhas arroladas pelo


Autor, que presenciaram o acidente descrito na petição inicial,
verifica-se que houve culpa exclusiva da vítima, que estava
andando de bicicleta em uma via pública, em alta velocidade,
interditada ao trânsito de veículos por conta de uma obra pública,
existente no local por cerca de pelo menos 06 (seis) meses.

Ademais, como ressaltado pela Promotora de Justiça, pelo


Juiz Sentenciante e pela Procuradora de Justiça, também houve
culpa dos genitores, que permitiram que uma criança com 10 anos
de idade, andasse de bicicleta em uma via pública, cientes de que
no local estava sendo realizado uma obra pública, sem a supervisão
de um adulto.

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Desta forma, pelo arcabouço probatório carreado aos


autos a responsabilidade civil do Município restou excluída pela
culpa exclusiva da vítima pelo evento danoso.

Nessa linha de compreensão merecem ser trazidos à


colação precedentes deste Egrégio Tribunal de Justiça, in verbis:

“0002859-73.2017.8.19.0006 – APELAÇÃO – Rel.


Des. JUAREZ FERNANDES FOLHES -
Julgamento: 19/03/2019 - DÉCIMA NONA
CÂMARA CÍVEL.

1ª Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DO
MUNICÍPIO DE BARRA DO PIRAÍ. ALEGA O
AUTOR TER TROPEÇADO EM UM BURACO AO
ATRAVESSAR A RUA, SOFRENDO LESÃO NO
TORNOZELO QUE DIFICULTOU SUA
LOCOMOÇÃO POR QUASE UM MÊS. REQUER
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS NO VALOR
DE 40 SALÁRIOS-MÍNIMOS. SENTENÇA
JULGANDO IMPROCEDENTE O PEDIDO.
APELAÇÃO DO AUTOR. SENTENÇA QUE NÃO
MERECE REFORMA. RESPONSABILIDADE CIVIL
OBJETIVA, NOS TERMOS DO ART. 37, § 6º, DA
CRFB. COMPROVAÇÃO DE QUE O AUTOR
SOFREU QUEDA EM RAZÃO DE DEPRESSÃO
NO ASFALTO JUNTO A QUEBRA-MOLAS EM

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LOCAL IMPRÓPRIO PARA PEDESTRES. DESTA


FORMA, AGIU DE FORMA IMPRUDENTE AO
OPTAR POR CRUZAR A VIA EM LOCAL
INADEQUADO, NÃO DESTINADO A PEDESTRE,
DESPREZANDO AS DIVERSAS FAIXAS DE
ALERTA A PEDESTRE EXISTENTES NO LOCAL.
CULPA EXCLUSIVA DA VÍTIMA QUE, POR SI
SÓ, EXCLUI A RESPONSABILIDADE DO ENTE
MUNICIPAL. NÃO PROVIMENTO DA
APELAÇÃO. Ação de "Responsabilidade Civil"
ajuizada por Mauro Sergio Dantas Mattos Dias em
face do Município de Barra do Piraí. Alega o autor
que ao atravessar a rua se desequilibrou ao pisar
em um buraco e caiu, sofrendo edema no tornozelo.
Aduz que em razão do acidente, ficou dependendo
da ajuda de terceiros para se locomover por quase
um mês. Requer indenização por danos morais no
importe de quarenta salários-mínimos. Sentença
julgando improcedente o pedido. Apelação do
autor. Sentença que não merece reforma. Cediço
que a responsabilidade civil do Município é a
obrigação que lhe incumbe de reparar
economicamente os danos lesivos à esfera
juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam
imputáveis em decorrência de comportamentos
unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou
omissivos, materiais ou jurídicos. No presente caso,
aplica-se a responsabilidade civil objetiva da
Administração Pública, sob a modalidade do risco

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administrativo, conforme elencado no art. 37, § 6º,


da Constituição Federal. Sabe-se que o Município
tem o dever de efetuar a manutenção das calçadas
e pistas de rolamento, exigindo-se para a
imputação da responsabilidade à Administração
Pública a comprovação da respectiva omissão, isto
é, que tenha sido a ausência da atuação do Estado
apta a criar a situação propícia para a produção do
dano, quando tinha o dever de impedir sua
ocorrência. O Juízo a quo considerou que houve
culpa exclusiva da vítima, que se arriscou ao
atravessar a via em ponto impróprio para a
travessia de pedestres, não se utilizando o autor
dos locais específicos, sinalizados com faixas. Com
efeito, o acidente, embora tenha ocorrido em local
público, ocorreu em local totalmente impróprio para
a travessia de pedestre, eis que se trata de
depressão no asfalto imediatamente posterior à
elevação típica do quebra-molas construído para
reduzir a velocidade dos veículos que por ali
trafegam. Portanto, não se trata de omissão
específica ou dever individualizado de agir do
ente público no sentido de consertar buracos,
bueiros ou caixas de ralos abertas em via
pública, o que de fato põe em risco a
incolumidade de pedestres e motoristas e impõe
o dever de indenizar. Vê-se que no local onde
realizada a travessia existem faixas em profusão
para a travessia de pedestres, de forma que o

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evento ocorreu por culpa exclusiva da vítima, que


optou por cruzar a via exatamente sobre o redutor
de velocidade, em detrimento dos locais próprios
para tal, assumindo o risco da travessia em local
impróprio para a circulação de pessoas.
Evidentemente que faz toda a diferença a
travessia ter se realizado em local impróprio, eis
que a conduta imprudente do transeunte ao se
lançar em travessia de via pública, em local
inadequado, fora da faixa de pedestres, foi a
razão principal do acidente. Frise-se que a culpa
exclusiva da vítima rompe o nexo causal entre o
fato e os danos, o que por si só afastaria a
responsabilidade do Ente Municipal. À luz da
teoria da causalidade adequada resta incontroverso
que foi a ação da vítima que concorreu de forma
exclusiva e concreta para a produção do resultado,
nada havendo nos autos que evidencie a apontada
culpa da Edilidade pelos danos causados com a
queda que vitimou o autor. Destarte, verifica-se que
o juízo singular deu adequada solução à lide.
Precedentes jurisprudenciais desta Corte. NÃO
PROVIMENTO DA APELAÇÃO.” (grifo nosso)

“0000288-61.2012.8.19.0053 – APELAÇÃO –
Rel(a). Des(a). RENATA MACHADO COTTA -
Julgamento: 25/07/2018 - TERCEIRA CÂMARA
CÍVEL.

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1ª Ementa: APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE


CIVIL DO ESTADO. ACIDENTE EM VIA RURAL.
ALEGAÇÃO DE BURACOS NA VIA. CULPA
EXCLUSIVA DA VÍTIMA. MENOR DE IDADE
SEM HABILITAÇÃO. MOTOCICLETA COM
PNEU DESGASTADO. QUEBRA DO NEXO DE
CAUSALIDADE. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. O Estado
responde por omissão quando, devendo agir, não
o faz, incorrendo no ilícito de deixar obstar aquilo
que podia impedir e estava obrigado a fazê-lo.
Sendo assim, a faute du service não é
responsabilidade objetiva e sim subjetiva, pois
fundada na culpa ou dolo. A hipótese dos autos
versa sobre omissão genérica, pois a parte
autora alega que seu filho sofreu acidente fatal
em razão da existência de buracos na via
pública sob baixa iluminação, que
surpreendeu o motorista da motocicleta. Quer
dizer, a responsabilidade civil do Estado seria
decorrente da falta do serviço de manutenção
da via, omissão genérica, cuja
responsabilidade é subjetiva. Segundo laudo no
local do acidente realizado pelo Instituto de
Criminalística Carlos Éboli, a queda ocorreu em
via rural de terra batida. Nessas estradas de terra,
é comum existirem buracos e ondulações, pois

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não há pavimentação para conservação e


alinhamento da estrada. Ainda de acordo com o
laudo, não é possível determinar a causa do
desvio brusco efetuado pelo condutor da
motocicleta, que o ocasionou a queda. A culpa
concorrente exposta no laudo consiste no
resultado do dano, pelo impacto do motorista com
a valeta, e não na origem do acidente. Outrossim,
o laudo atesta a má condição da motocicleta, que
não possuía emplacamento e apresentava pneus
com grandes desgastes. Dessa forma, patente a
negligência e imperícia do condutor, o que afasta
a versão da prova oral produzida no sentido de
que o acidente foi ocasionado pela má
conservação da via rural. A prova carreada,
assim, deixa claro que o evento reputado
como danoso deu-se por fato exclusivo da
vítima, que conduziu uma motocicleta em mau
estado, sem ter habilitação, em uma estrada
de terra batida. Sendo assim, a prova do fato
exclusivo da vítima rompe o nexo de
causalidade e afasta o dever de indenizar.
Desprovimento do recurso.” (grifo nosso)

“0136667-88.2011.8.19.0038 – APELAÇÃO – Rel.


Des. ANTONIO CARLOS ARRABIDA PAES -

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Julgamento: 20/06/2018 - VIGÉSIMA TERCEIRA


CÂMARA CÍVEL.

1ª Ementa: PROCESSUAL CIVIL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO.
QUEDA DE MUNÍCIPE EM BURACO
EXISTENTE EM VIA PÚBLICA. LOCAL QUE SE
ENCONTRAVA EM OBRAS.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA. CULPA
EXCLUSIVA DA VÍTIMA QUE AFASTA O
DEVER DE INDENIZAR. PRECEDENTES DO
STF. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA.
MANUTENÇÃO DO JULGADO.
IMPROVIMENTO AO RECURSO.” (grifo nosso)

Nesse sentido, merece ser colacionado precedente do


Egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

“Responsabilidade objetiva do Estado.


Ocorrência de culpa exclusiva da vítima. -
Esta Corte tem admitido que a
responsabilidade objetiva da pessoa jurídica
de direito público seja reduzida ou excluída
conforme haja culpa concorrente do particular
ou tenha sido este o exclusivo culpado (Ag.
113.722-3- AgRg e RE 113.587). - No caso, tendo
o acórdão recorrido, com base na análise dos

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elementos probatórios cujo reexame não e


admissível em recurso extraordinário, decidido
que ocorreu culpa exclusiva da vítima,
inexistente a responsabilidade civil da pessoa
jurídica de direito público, pois foi a vítima
que deu causa ao infortúnio, o que afasta,
sem dúvida, o nexo de causalidade entre a
ação e a omissão e o dano, no tocante ao ora
recorrido. Recurso extraordinário não conhecido.

(RE 120924, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/05/1993, DJ
27-08-1993 PP-17023 EMENT VOL-01714-04
PP-00618)

Assim, na forma da fundamentação supra, a sentença não


merece reparo porque deu solução adequada a lide, devendo ser
desprovido o recurso.

Por fim, considerando o disposto no art. 85, § 11, do CPC


e, observando o não provimento do Recurso, majora-se os
honorários advocatícios sucumbenciais, para 15% (quinze por
cento) sobre o valor atribuído à causa, devendo ser observada a
suspensão prevista no art. 98, § 3º, do Código de Processo Civil,
em razão da gratuidade de justiça deferida ao Autor à fl. 65 (i.e.
065).

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Por tais fundamentos, voto no sentido de CONHECER E


NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, majorando-se os
honorários advocatícios sucumbenciais, para 15% (quinze por
cento) sobre o valor atribuído à causa, devendo ser observada a
suspensão prevista no art. 98, § 3º, do Código de Processo Civil,
em razão da gratuidade de justiça deferida ao Autor à fl. 65 (i.e.
065).

Rio de Janeiro, na data da Sessão de Julgamento.

Lúcia Esteves
DESEMBARGADORA
Relatora

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