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Tribunal de Justiça
Comarca de Itaperuna 230
Cartório da 2ª Vara
Rodovia Br-356 Km 01 CEP: 28300-000 - Itaperuna - RJ e-mail: itp02vara@tjrj.jus.br
fls.
Processo Eletrônico
Processo:0002731-56.2018.8.19.0026
Sentença
I - RELATÓRIO
Requer:
Contestação oferecida pelo demandado às fls. 129/139, instruída com documentos de fls.
140/144, apresentando as seguintes teses: preclusão das provas; inépcia da inicial diante da
irregularidade da representação processual; dúvida a respeito da foto do buraco diante da
dúvida pelos documentos fornecidos; ausência de retratação quanto a imagem de fls. 42;
ausência de demonstração de que a demandante trafegou pela via pública; ausência de
presunção de que a demandante trafegou pela via pública diante das imagens indicando as
condições precárias; buraco se encontra no meio da via pública e não está no curso previsível
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Cota da demandante às fls. 160, pugnando pelas provas testemunhal, depoimento pessoal e
documental.
É O RELATÓRIO. DECIDO.
II - FUNDAMENTAÇÃO
Examinando os autos, verifico que a demandante sofreu uma queda em via pública, ocorrida no
dia 06/01/2018, por força de um buraco localizado na Rua Pio Nascimento Soares na altura do
nº272, conforme demonstram as fotos de fls. 17/28, 29/35, 36/39 e 40/41.
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A demandante foi atendida perante a rede pública de saúde, conforme apontam os documentos
de fls. 17/19.
A tese de que a demandante deveria estar circulando pela calçada e não pela via pública deve
ser rejeitada, tendo em vista que é plenamente admissível a travessia realizada por um
pedestre de um lado para o outro da via pública, sendo necessário atravessar pela própria via
pública.
Destaco que o artigo 37, § 6º da CFRB/1988 abrange não apenas os atos comissivos como
também os atos omissivos, sendo certo que a responsabilidade objetiva oriunda a teoria do
risco administrativo incide nos casos de omissão específica, conforme lição de Guilherme
Couto de Castro e Sergio Cavalieri Filho.
Sergio Cavalieri Filho, em sua obra Programa de Responsabilidade Civil, 9ª ed., p. 240, assim
expõe o assunto:
"É preciso, ainda, distinguir omissão genérica do Estado (item 77) e omissão específica.
Observa o talentoso jurista Guilherme Couto de Castro, em excelente monografia com que
brindou o nosso mundo jurídico, "não ser correto dizer, sempre, que toda hipótese de dano
proveniente de omissão estatal será encarada, inevitavelmente, pelo ângulo subjetivo. Assim
será quando se tratar de omissão genérica. Não quando houver omissão específica, pois há
dever individualizado de agir (A responsabilidade objetiva no Direito Brasileiro, Forense, 1997,
p. 37). Mas, afinal de contas, qual a distinção entre omissão genérica e omissão específica?
Haverá omissão específica quando o Estado, por omissão sua, crie a situação propícia para a
ocorrência do evento em situação que tinha o dever de agir para impedi-lo. (...) Os nossos
Tribunais tem reconhecido a omissão específica do Estado quando a inércia administrativa é a
causa direta e imediata do não-impedimento do evento, como nos casos de morte de detento
em penitenciária e acidente com aluno de colégio público durante o período de aula. (...)"
Como cediço, para que se configure a obrigação de indenizar do ente público, ainda que por
ato omissivo, com base na teoria do risco administrativo, na forma do art. 37, § 6º, da
Constituição da República, faz-se necessária a demonstração do nexo causal entre a omissão
específica e o resultado danoso causado à vítima.
A hipótese dos autos revela a omissão específica do Município diante de seu dever de manter a
via pública adequadamente conservada para a circulação de pessoas. As fotos de fls. 40/41
comprovam a existência de um buraco no meio de uma via pública por onde transitam ciclistas,
pedestres, ao atravessar a via de um lado para outro, e veículos automotores.
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A existência de buraco, em local público, configura ato ilícito por ausência de conservação da
via pública pelo demandado.
Pelo artigo 37, §6º da CRFB/1988, o Município é objetivamente responsável por eventual
indenização decorrente de evento danoso ocorrido pela má conservação do patrimônio público,
como é o caso dos autos, sendo inerente a tal dever o reparo da tampa de um bueiro
quebrado.
Encontram-se demonstrados nos autos sua conduta omissiva, o nexo causal integrativo do
ilícito administrativo e os danos sofridos pela demandante.
Assim, comprovada a existência de nexo causal entre os danos sofridos pela demandante e a
omissão da Municipalidade, impõe-se o dever de indenizar.
Com relação ao dano moral, é inegável o sofrimento da demandante diante da violação de sua
integridade física e psíquica por força de um bueiro cuja manutenção é de responsabilidade do
demandado. O dano moral está in re ipsa.
A indenização deve se aproximar, vez que, o reparo total é impossível, de uma compensação
capaz de minimizar o sofrimento experimentado, sem que isso possa corresponder à
inidoneidade de sua percepção, com aspecto de enriquecimento sem causa.
Dessa forma, deve o demandado arcar com o pagamento dos lucros cessantes inerentes ao
período em que ficou impossibilitada de desenvolver sua atividade empresarial, a ser apurado
em fase de liquidação de sentença por arbitramento mediante a realização de provas pericial
médica (número de dias de incapacidade) e contábil (média de vendas realizadas mensalmente
com a comercialização de cosméticos).
III - DISPOSITIVO
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10.000,00 (dez mil reais) a título de compensação por dano moral, acrescido de correção
monetária a partir desta data, de acordo com o IPCA-E, e juros de mora, calculados com base
no índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, na forma
do art. 1.º-F, da Lei n.º 9.494/1997, modificado pela Lei 11.960/2009, desde o evento danoso
(súmula nº 54, do STJ).
b) PROCEDENTE O PEDIDO para condenar o demandado ao ressarcimento dos
valores gastos pela demandante com tratamento médico, consultas, exames e medicamentos,
observando-se os comprovantes fornecidos de fls. 20, 23, 25, 26 e 28, a serem apurados em
fase de cumprimento de sentença, nos termos do artigo 509, § 2º do CPC, acrescidos de
correção monetária a partir desta data, de acordo com o IPCA-E, e juros de mora, calculados
com base no índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança,
na forma do art. 1.º-F, da Lei n.º 9.494/1997, modificado pela Lei 11.960/2009, desde o evento
danoso (súmula nº 54, do STJ).
c) PROCEDENTE O PEDIDO para condenar o demandado ao pagamento de
indenização a título de lucros cessantes a serem apurados em fase de liquidação de sentença
por arbitramento. A quantia será corrigida monetariamente a partir desta data, de acordo com o
IPCA-E, e juros de mora, calculados com base no índice oficial de remuneração básica e juros
aplicados à caderneta de poupança, na forma do art. 1.º-F, da Lei n.º 9.494/1997, modificado
pela Lei 11.960/2009, desde o evento danoso (súmula nº 54, do STJ).
Atenda-se ao disposto na Súmula 145 do TJRJ no que se refere à isenção legal da qual goza a
Fazenda Pública.
Registrada eletronicamente. Publique-se e intimem-se, inclusive nos termos do art. 229-A, § 1º,
I, da CNCGJ.
Itaperuna, 29/06/2021.
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