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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Vigésima Primeira Câmara Cível

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0081039-90.2016.8.19.0054

APELANTE (1): RIO VILLE ADMINISTRAÇÃO E EMPREENDIMENTOS


IMOBILIÁRIOS LTDA
ADVOGADA: MARIANA DE OLIVEIRA BARROS
APELANTE (2): MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE MERITI
ADVOGADO: FELIPE ATAIDE MENEZES DE ALMEIDA
APELANTE (3): MATILDE ROSA DA SILVA MOREIRA (RECURSO
ADESIVO)
ADVOGADO: LUCIANO ALVES DA SILVEIRA
APELADOS (1): OS MESMOS
RELATOR: DESEMBARGADOR ANDRÉ RIBEIRO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR


DANOS MORAIS, ESTÉTICOS E MATERIAIS. IDOSA
USUÁRIA DE MULETA. QUEDA EM BURACO NA
CALÇADA, AO DESVIAR DE ANDAIME UTILIZADO EM
OBRAS NO MESMO LOCAL. ALEGAÇÃO DE
OMISSÃO DO ESTABELECIMENTO COMERCIAL
SITUADO NAQUELE LOGRADOURO E DO MUNICÍPIO
NO DEVER DE FISCALIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE
CIVIL OBJETIVA DE ACORDO COM O ART. 37, §6º, DA
CF/88. OMISSÃO ESPECÍFICA. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA PARCIAL. INCONFORMISMO DOS
RÉUS. APELO ADESIVO DA PARTE AUTORA.
Desconhecimento do recurso da demandante, por
intempestivo, como certificado pela serventia de origem.
Mérito. Cinge-se a controvérsia recursal na verificação da
responsabilidade dos réus pelos danos materiais,
estéticos e morais suportados pela parte autora em razão
de queda em passeio público. 2º réu que realizava
reforma de fachada, tendo montado andaime na calçada.
Demandante que, ao desviar de sua trajetória, a fim de
descer para a rua, onde se situa estacionamento de
veículos, caiu por conta de buracos existentes na calçada.
Concreto quebrado e faltando blocos, dando causa à
queda da autora, que é idosa e usa muleta. Omissão do
2º réu quanto ao isolamento e ao reparo do local.
Omissão, também, do Município, quanto ao dever de
fiscalização do estado de conservação das vias públicas.
Com efeito, a teoria do risco administrativo consagrada no
art. 37, § 6º da CRFB/88 atribuiu ao Município o dever de
indenizar, independente de culpa, pelos danos causados
por seus agentes a terceiros. No caso em tela, tendo em
vista tratar-se de responsabilidade por ato omissivo,

Secretaria da Vigésima Primeira Câmara Cível


Rua D. Manuel, 37, 2º andar – Sala 236 Lâmina III
Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090
Tel.: + 55 21 3133-6021 – E-mail: 21cciv@tjrj.jus.br 1

ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH:31928 Assinado em 31/10/2022 19:12:42


Local: GAB. DES ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH
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mister afirmar que parte da doutrina capitaneada por


Celso Antônio Bandeira de Mello sustenta ser subjetiva a
responsabilidade nesses casos. Omissão específica do
Estado, cuidando-se de responsabilidade estatal objetiva,
nos moldes do art. 37 §6º, da CRFB. Quantum arbitrado
adequado às circunstâncias do caso concreto e de acordo
com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.
Apelo do 2º réu. Juros de mora que incidem a contar da
data do evento danoso. Opção do estabelecimento
comercial pela não composição com a parte autora em
sede extrajudicial. Submissão à Jurisdição estatal, por
fato omissivo próprio, do que decorre o direito da
demandante de receber a devida indenização com os
juros de mora incidentes a contar da sentença. Juízo a
quo que não definiu os parâmetros a serem considerados
por ocasião da liquidação da condenação lançada em
desfavor da Fazenda Pública. Matéria a ser discutida na
fase processual própria. DESPROVIMENTO DOS
RECURSOS INTERPOSTOS PELOS RÉUS. NEGATIVA
DE SEGUIMENTO AO APELO ADESIVO DA PARTE
AUTORA.

Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação


Cível nº 0081039-90.2016.8.19.0054, em que figura como Apelantes (1) RIO
VILLE ADMINISTRAÇÃO E EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA, (2)
MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE MERITI e (3) MATILDE ROSA DA SILVA
MOREIRA (RECURSO ADESIVO), sendo Apelados: OS MESMOS,

A C O R D A M os Desembargadores que integram a


Vigésima Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO AOS
RECURSOS INTERPOSTOS PELOS RÉUS e em NEGAR SEGUIMENTO AO
APELO ADESIVO DA PARTE AUTORA, nos termos do voto do
Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2022.

Desembargador André Ribeiro


Relator

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RELATÓRIO

Cuida-se de ação de responsabilidade civil ajuizada por


MATILDE ROSA DA SILVA MOREIRA em face do MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO
DE MERITI e de RIO VILLE ADMINISTRAÇÃO E EMPREENDIMENTO
IMOBILIÁRIO LTDA (SHOPPING RIO VILLE), alegando que na tarde de
02/12/2015 se dirigiu ao estabelecimento comercial da 2ª ré para efetuar
pagamentos em uma lotérica e realizar compras de Natal nas lojas existentes
no mesmo empreendimento.

Afirmou que a 2ª demandada instalou um andaime na


calçada, a fim de efetuar reparos na fachada, e que a demandante não
percebeu a fita plástica fina que estava isolando o equipamento, tendo mudado
sua trajetória a fim de contorná-lo, mas sem perceber que havia um buraco na
mesma calçada, vindo a cair.

Alegou não ter recebido qualquer auxílio por parte dos


prepostos da 2ª ré, tendo sofrido fratura exposta do braço direito e aguardado a
chegada de uma ambulância proveniente do Município vizinho, que a conduziu
para o Hospital de Saracuruna, em Duque de Caxias.

Acresce que a 2ª demandada ofereceu auxílio de R$


110,10, referentes a medicamentos e tipoia, na data de 04/12/2015, tendo a
demandante passado a pior festa de Natal de sua vida, pois não pôde fazer a
ceia, nem sair de casa, dependendo de familiares para atender às suas
necessidades, vez que sua mão direita se encontrava imobilizada.

Pretendia a condenação das rés ao pagamento de


indenização por danos morais no valor de R$ 20.000,00, por danos estéticos
na quantia de R$ 15.000,00 e por danos materiais no montante de R$
10.000,00, cuja planilha seria anexada até a AIJ.

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O Ministério Público manifestou o desinteresse pela


demanda, em índice 000114.

O Juízo a quo deferiu a produção das provas documental


superveniente e oral requeridas pelas partes, consistente na oitiva de
testemunhas e do depoimento pessoal das partes (índice 000151).

Assentada de audiência de conciliação em índice 000227,


com colheita do depoimento da parte autora em índice 000232 e oitiva da
testemunha da demandante em índices 000233/234.

Sobreveio sentença de índice 000281, que julgou


parcialmente procedentes os pedidos, para condenar os réus, solidariamente,
ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 10.000,00, nos
seguintes termos:

“(...)

É O RELATÓRIO.
PASSO A DECIDIR.

Busca a Autora indenização por danos morais, materiais e


estéticos, pelos fatos e fundamentos constantes da
petição inicial.

Sendo o 1º Réu um ente público, sua responsabilidade é


objetiva, nos termos do art. 37, § 6º do Constituição da
República, se configurando com a comprovação do
evento danoso e do nexo causal que liga o dano à
atividade exercida pelo ente.

Ademais, tendo o Município Réu a obrigação de fiscalizar


a conservação das calçadas, cuja reponsabilidade cabe
ao imóvel na frente do qual a mesma se localiza,
verificamos a existência de solidariedade entre os Réus.

Neste sentido aponta a jurisprudência do nosso Egrégio


Tribunal de Justiça, conforme acórdão cuja ementa
passamos a reproduzir.

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EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE


CIVIL. INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. QUEDA EM BURACO. DEMANDA MOVIDA
EM FACE DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DE MERITI E
DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL CONTÍGUO AO
PASSEIO. LEGITIMIDADE PASSIVA DE AMBOS OS
RÉUS. LESÕES NA PERNA QUE OCASIONARAM A
INCAPACIDADE TOTAL E TEMPORÁRIA DE 10 (DEZ)
DIAS DO AUTOR. OBRIGAÇÃO LEGAL DO
PROPRIETÁRIO DE IMÓVEL EM PROVIDENCIAR A
MANUTENÇÃO, CONSERVAÇÃO E LIMPEZA DE
CALÇADA CONTÍGUA A SEU TERRENO. INCIDÊNCIA
DO CÓDIGO DE OBRAS DO MUNICÍPIO DO RIO DE
JANEIRO E DA LEI MUNICIPAL Nº 1.350/88. OMISSÃO
ESPECÍFICA DO PODER PÚBLICO DE FISCALIZAR A
MANUTENÇÃO E CONSERVAÇÃO DAS VIAS
PÚBLICAS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA.
CONFIGURAÇÃO DO ATO OMISSIVO, DANO E NEXO
DE CAUSALIDADE. DEVER DE INDENIZAR. DANO
MORAL. OCORRÊNCIA. QUANTUM FIXADO NA
SENTENÇA NO EQUIVALENTE A 8 (OITO) SALÁRIOS
MÍNIMOS QUE SE AFIGURA EM CONSONÂNCIA COM
OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA
PROPORCIONALIDADE. PEQUENO RETOQUE DA
SENTENÇA QUE SE IMPÕE PARA DETERMINAR QUE
OS JUROS DE MORA INCIDAM A PARTIR DO EVENTO
DANOSO, POR SE TRATAR DE ILÍCITO
EXTRACONTRATUAL, A TEOR DA SÚMULA 54 DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. NEGATIVA DE
PROVIMENTO AOS RECURSOS DOS RÉUS E
PROVIMENTO AO APELO DO AUTOR. (0000128-
43.2006.8.19.0054 - APELAÇÃO - Des(a). MARIO
GUIMARÃES NETO - Julgamento: 16/07/2019 - DÉCIMA
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL)

A ocorrência da queda não foi impugnada pelas Defesas,


restando incontroversa, eis que aquelas se limitam a
alegar causas de rompimento do nexo de causalidade,
especificamente a culpa exclusiva da vítima, sem que
tenham respaldo nas provas carreadas aos autos.

Compulsando os autos, verifico que restou comprovado,


pelas fotos acostadas e depoimentos colhidos em Juízo
sobre o crivo do contraditório, que a obra realizada pelo 2º
Réu estava mal sinalizada, só tendo a Autora constatado
a interdição da calçada quando já estava muito próxima.

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Acrescente que a calçada em volta apresentava buracos,


estando com o cimento quebrado, o que acarretou a
queda da Autora e os ferimentos sofridos.

Nessa toada, verifico ter restado comprovada a omissão


do 1º Réu na fiscalização da manutenção da calçada e da
obra realizada pelo 2º Réu, tendo este deixado de tomar
observar as exigências legais de segurança na execução
da obra e de manter a calçada em boas condições para o
trânsito seguro dos perdestes.

Dessa forma, verificamos presente os requisitos da


responsabilidade dos Réus e passamos para a
apreciação dos danos alegados.

Os danos estéticos não restaram comprovados, eis que a


Autora não apresentou qualquer prova de deformidade
permanente, deixando de requerer a produção de prova
pericial ou apresentados fotos ou laudos que,
efetivamente, os comprovasse.

Da mesma forma, a Autora não apresentou qualquer


comprovação de fastos com tratamentos, medicamentos
ou consultas médicas a lastrear seu requerimento.

Melhor sorte possui o pedido de indenização por danos


morais, eis que os aborrecimentos pelos quais a Autora
passou fogem do conceito de mera contrariedade
cotidiana.

Para a apuração do valor a ser indenizado, deve-se usar


a razoabilidade, visando-se evitar um enriquecimento sem
causa de um lado e coibir novas condutas semelhantes
de outro, sem olvidar da extensão do dano e do potencial
econômico do ofensor.

Insta pontuar que, em se tratando de Fazenda Pública,


até 29 de junho de 2009 aplicam-se os juros de 6% (seis
por cento) ao ano, conforme dispõe a antiga redação do
art. 1º-F da Lei nº 9494/97, acrescida de correção
monetária de cada vencimento. A partir de 30 de junho de
2009, juros e correção monetária serão regidos pela
redação do art. 1º-F da Lei 9494/97, alterado pela Lei
11.960/2009. A partir de 25/03/2015, data da modulação
dos efeitos determinada no julgamento das ADI's 4357 e
4425, que declarou a inconstitucionalidade por
arrastamento do art. 1º-F da Lei 9494/97 com redação
dada pela Lei 11.960/2009, devem ser observados quanto
aos juros e correção monetária os mesmos critérios pelos

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quais a Fazenda Pública corrige os seus débitos


tributários.

Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o


pedido para condenar os Réus, solidariamente, ao
pagamento de indenização por danos morais, no valor de
R$10.000,00 (dez mil reais), com juros a contar do evento
danoso e correção monetária contar da publicação desta
sentença e JULGO IMPROCEDENTES os demais
pedidos, extinguindo o processo na forma do art. 487, I do
Código de Processo Civil.

Considerando a proporcionalidade da sucumbência entre


as partes, condeno o Autor e o Réu ao pagamento de
custas e honorários advocatícios, que fixo em 10% (dez
por cento) do valor da causa, na proporção de 70%
(setenta por cento) e 30% (trinta por cento)
respectivamente, nos termos do art. 86 do Código de
Processo Civil. Observe-se a gratuidade de justiça
deferida.

Certificados o trânsito em julgado e a insubsistência de


custas. Após, dê-se baixa e arquive-se.

P.R.I.”

Recorreu o 2º réu em índice 000286, sustentando que


não teve qualquer responsabilidade pelos fatos descritos na exordial, sendo
certo que o acidente se deu por culpa exclusiva da autora, que, de forma
desatenta, não percebeu a sinalização local implementada pela apelante,
informando justamente a existência de obras de melhorias no local, e, devido à
sua possível dificuldade em se locomover, fazendo uso inclusive de uma
muleta, acabou por acidentar-se; que a apelante se encontrava realizando
obras necessárias no local (calçada), justamente no intuito de promover
segurança e boas condições na movimentação dos cidadãos que ali transitam,
registrando-se ainda que o local onde se realizava a obra estava devidamente
sinalizado com faixas específicas de atenção, que impediam a passagem de
pedestres, o que infelizmente não foi observado pela apelada, o que se
lamenta profundamente; que, embora a apelante estivesse realizando obras
necessárias de manutenção de sua calçada, legalmente autorizada pela

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municipalidade, ora 1 ré, cabe esclarecer que a referida empreitada foi


necessária em razão da atividade de estacionamento em via pública explorado
por parte do Município, ora 1º réu, isto, pois, o referido espaço é utilizado como
estacionamento rotativo municipal, o que acaba gerando danos no pavimento
“calçada” por força dos automóveis que, diariamente, esbarram na mesma,
danificando ao ponto de torná-la impropria ao trânsito de pessoas, tudo
conforme é facilmente percebido pelas fotos anexadas pela própria autora; que
a verba indenizatória se revela excessiva; que vem suportando grave crise
financeira, em razão da pandemia; que os juros foram fixados a partir da data
do acidente, que ocorreu há mais de cinco anos, não tendo a requerida dado
causa à morosidade do Poder Judiciário; que os consectários devem ser
fixados a contar da sentença; e que a indenização deve ser reduzida ao
patamar máximo de R$ 1.000,00.

Contrarrazões pela parte autora em índice 000295.

Recorre o Município de São João de Meriti em índice


000327, sustentando que todos os danos reclamados pela demandante
decorreram de condutas do 2º réu; que o estado de má conservação da
calçada pode ter decorrido dessa mesma obra; que há ruptura do nexo de
causalidade, que deve estar presente na responsabilização de índole objetiva
do Município; que a indenização eventualmente fixada em desfavor da
Municipalidade deve ser inferior; e que não foram observados os parâmetros
definidos pelo STF para atualização das condenações lançadas em desfavor
da Fazenda Pública.

Certificada a tempestividade dos apelos dos réus, em


índice 000338, a parte autora foi intimada para apresentar contrarrazões.

Recurso adesivo da parte autora em índice 000347,


pretendendo a majoração da verba indenizatória para R$ 30.000,00 e o
arbitramento de honorários de 20% sobre o valor da condenação.

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Contrarrazões pela demandante em índice 000363.

A serventia de origem certificou a intempestividade das


contrarrazões e do apelo adesivo, em índice 000374.

É o relatório. Passo ao voto.

Presentes os requisitos de admissibilidade, sou pelo


conhecimento dos recursos dos réus e pela negativa de seguimento ao apelo
adesivo da parte autora.

Em relação ao recurso da demandante, é de ser


pontuado que, em primeiro lugar, houve a interposição do apelo da 2ª ré, em
índice 000285, tendo a parte autora oferecido contrarrazões (e apenas
contrarrazões) em índice 000295, antes mesmo de ter sido intimada para
oferecer resposta à peça recursal.

Houve, posteriormente, a interposição do apelo do


Município de São João de Meriti, em índice 000327, tendo havido a intimação
da demandante para contrarrazoar o recurso (índice 000338), a qual foi
efetivada em 03/08/2020 (índice 000345):

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As contrarrazões e o recurso adesivo da parte autora


foram interpostos em 14/09/2020, passados mais de um mês, e, portanto, de
forma manifestamente intempestiva.

Ainda que assim não fosse, evidente é que o apelo


adesivo deveria ter sido ofertado no momento em que a demandante,
voluntariamente, e sem prévia intimação para tanto, interpôs as contrarrazões
ao apelo do 2º réu, momento em que se operou a preclusão consumativa em
relação à prática do ato processual efetivado a posteriori.

Com efeito, a interposição de novo recurso por algum dos


demais réus, não renova o prazo para a interposição de apelo adesivo, se a
própria parte optou por se pronunciar antecipadamente, em lugar de aguardar
o decurso do prazo processual para a manifestação de todos os possíveis
apelantes.

Por esse tanto, sou pelo desconhecimento do apelo


adesivo da parte autora, não merecendo apreciação, igualmente, as
contrarrazões de índice 000363, vez que intempestivas.

Passando ao mérito da controvérsia, então, tem-se que a


parte autora se acidentou em calçada situada em frente ao estabelecimento
comercial mantido pelo 2º réu, em que havia um andaime instalado por conta
de obras no local (índice 000042):

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Tendo avistado o andaime, a demandante desviou a sua


trajetória, a fim de descer para a rua, vindo, então, a cair em um buraco
situado na mesma calçada e a sofrer fratura exposta (índices 000036, 37, 38 e
41):

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A demandante foi recolhida por uma ambulância dos


bombeiros e conduzida para Hospital situado no Município vizinho de Duque
de Caxias (índices 000045 e 46).

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De acordo com as fotografias acostadas aos autos pela


própria demandante, resta clara a responsabilidade do 2º réu, vez que tanto o
andaime foi por ele instalado na calçada, quanto o buraco ali permaneceu por
negligência do próprio 2º demandado, que não cercou a área, a fim de evitar o
trânsito de pedestres, nem promoveu os devidos reparos.

Realmente, as fotografias demonstram que o concreto da


calçada se encontrava com diversas rachaduras e que houve desprendimento
de alguns blocos, provocando desnível no piso e favorecendo a queda de
pessoas como a autora, idosa e dependente do uso de uma muleta.

Dessa maneira, descabe afirmar que a demandante deu


causa ao acidente, por não ter observado as faixas de atenção que
sinalizavam a obra, no ponto em que se encontrava montado o andaime, vez
que a parte autora caiu em buraco não isolado e não reparado pelo 2º réu.

Para o ocorrido, concorreu o Município de São João de


Meriti, ante a falha na fiscalização das condições da calçada e da obra
realizada pelo 2º réu.

Com efeito, a teoria do risco administrativo consagrada no


art. 37, §6º da CRFB/88 atribuiu ao Município o dever de indenizar,
independente de culpa, pelos danos causados por seus agentes a terceiros. No
caso em tela, tendo em vista tratar-se de responsabilidade por ato omissivo,
mister afirmar que parte da doutrina capitaneada por Celso Antônio Bandeira
de Mello sustenta ser subjetiva a responsabilidade nesses casos. Todavia, tal
posição doutrinária merece ser ponderada e é preciso distinguir, nesses casos,
omissão genérica e omissão específica do Estado.

De acordo com Sergio Cavalieri Filho, “haverá omissão


específica quando o Estado, por omissão sua, crie a situação propícia para a
ocorrência do evento em situação que tinha o dever de agir para impedi-lo”

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(Programa de Responsabilidade Civil, Malheiros Editores, 2006, p. 261). Desta


feita, não se mostra correto afirmar que toda hipótese de dano decorrente de
omissão estatal deverá ser analisada sob o prisma da responsabilidade
subjetiva. Assim se procederá se o caso em questão for de omissão genérica.
Todavia, se houver dever individualizado de agir e, portanto, omissão
específica, a responsabilidade estatal será objetiva, nos moldes do art. 37 §6º,
da CRFB.

Pela análise dos autos, é possível afirmar que, no caso


em questão, houve omissão específica do Município, uma vez que este não
tomou as providências necessárias a fim realizar a devida fiscalização do
adequado estado de conservação do passeio público, o que levou à queda da
parte autora.

Diante das provas acostadas aos autos, tenho que restou


cabalmente demonstrado o nexo de causalidade, a ensejar o dever de
reparação, não havendo, ademais, dúvidas de que a fratura exposta foi
causada em razão da referida queda.

Forçoso concluir, portanto, que a parte autora logrou êxito


em comprovar o fato constitutivo de seu direito, não havendo a Municipalidade
demonstrado quaisquer das hipóteses excludentes da sua responsabilidade,
nos termos do art. 373, II, do Código de Processo Civil.

Assim sendo, esta Corte de Justiça é constante no


reconhecimento da responsabilidade civil do Ente Público em casos idênticos,
conforme se depreende das ementas dos arestos abaixo indicados:

0000702-93.2017.8.19.0082 - APELAÇÃO
Des(a). JDS MARIA AGLAE TEDESCO VILARDO -
Julgamento: 12/05/2022 - VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA
CÍVEL

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APELAÇÃO CÍVEL. Ação Indenizatória. Autora que sofreu


queda da própria altura em razão de desnível da calçada,
vindo a fraturar uma costela e um dedo da mão esquerda.
Sentença de procedência do pedido. Apelo do réu.
Omissão específica do Município de deixar de realizar a
fiscalização das obras realizadas nas calçadas situadas
em vias públicas. Responsabilidade objetiva nos termos
do art. 37, § 6º, da Constituição Federal. Comprovado o
dano e o nexo de causalidade. Danos morais
caracterizados pela dor e a evidente angústia
experimentada pela autora. Verba arbitrada em R$
10.000,00 que se revela adequada e em consonância
com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade
e no valor médio arbitrados em casos análogos, conforme
precedentes deste Tribunal de Justiça. Súmula nº 343,
deste Tribunal de Justiça: "A verba indenizatória do dano
moral somente será modificada se não atendidos pela
sentença os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade na fixação do valor da condenação."
NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.

0058762-76.2015.8.19.0002 - APELAÇÃO
Des(a). AGOSTINHO TEIXEIRA DE ALMEIDA FILHO -
Julgamento: 16/02/2022 - VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA
CÍVEL

Apelação. Ação indenizatória. Queda causada por buraco


na calçada. Obrigação do proprietário de conservar o
passeio na testada do terreno que não afasta o dever de
fiscalização do município, a quem incumbe zelar pelos
bens públicos. Danos materiais e morais configurados.
Recurso provido em parte.

Em relação ao quantum indenizatório, ponto questionado


por ambos os réus, tenho que o mesmo foi adequadamente fixado.

Conforme cediço, a indenização não deve se constituir em


fonte de enriquecimento indevido do lesado e, assim, deve ser arbitrada com
moderação e prudência pelo julgador. Por outro lado, não deve ser
15
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insignificante, considerando-se a situação econômica do ofensor, sem olvidar o


caráter punitivo-pedagógico de que deve se revestir, a fim de não constituir
estímulo à manutenção de práticas que agridam e violem direitos do
consumidor.

Dessa forma, entendo que o valor da indenização pelo


dano moral fora corretamente arbitrado em R$ 10.000,00 (dez mil reais),
considerando a angústia decorrente da queda, da fratura exposta, da longa
espera por socorro médico, da cirurgia e da recuperação após o acidente,
somando-se a isso, evidentemente, o dano psicológico vivenciado.

Ademais, a verba indenizatória por dano moral somente


será modificada se não atendidos pela sentença os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação,
circunstância que atrai a incidência do enunciado sumular nº 343 desta Corte
de Justiça:

"A verba indenizatória do dano moral somente será


modificada se não atendidos pela sentença os princípios
da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do
valor da condenação."

Resolvido esse ponto, o 2º réu pretendeu a incidência dos


juros de mora a contar da data da sentença, e não a partir do evento danoso,
sustentando, para tanto, que a mora na tramitação do feito decorre do proceder
do próprio Poder Judiciário, para a qual não concorreu o 2º recorrente.

Sucede que, por sua conduta omissiva voluntária, o 2º


demandado se submeteu à Jurisdição estatal, vez que poderia ter buscado
compor o conflito com a demandante em sede extrajudicial.

Dessa maneira, o 2º réu deu causa ao ajuizamento da


presente demanda e às consequências legais decorrentes desse proceder, em

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particular ao direito da parte autora de perceber a indenização com a incidência


de juros de mora a contar da data do evento danoso.

Ainda no que se refere aos consectários legais, em


particular, no que toca à condenação lançada em desfavor da Fazenda Pública,
tem-se que o Juízo a quo nada dispôs acerca dos índices e parâmetros a
serem considerados, de modo que referida matéria deve ser discutida na fase
própria, isto é, em liquidação de sentença.

Escorreito, pois, o provimento de mérito, que não merece


qualquer reparo.

Ante o exposto, voto no sentido de NEGAR


PROVIMENTO AOS RECURSOS interpostos pelas rés e em NEGAR
SEGUIMENTO ao apelo adesivo da parte autora, vez que intempestivo.

Majoro a verba honorária fixada em desfavor de todas


as partes de 10% para 11% do valor atribuído à causa, parâmetro adotado
pelo Juízo de origem.

Desembargador ANDRÉ RIBEIRO


Relator

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