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RESUMOS HDP - REGÊNCIA PROFESSORA MARGARIDA SEIXAS - TB - 2020/2021

Luísa Braz Teixeira

RESUMOS HISTÓRIA DO DIREITO PORTUGUÊS


ÍNDICE:

INTRODUÇÃO 5
2. PROBLEMAS GENÉRICOS E ESPECÍFICOS DA PERIODIFICAÇÃO DA HISTÓRIA
DO DIREITO E DA HISTÓRIA DO DIREITO PORTUGUÊS 5
3. PERIODIFICAÇÃO ADOTADA 6

CRONOLOGIA 6
SÉC. IV 6
SÉC. V 6
SÉC. VI 7
SÉC. VII 7
SÉC. VIII 7
SÉC. IX 8
SÉC. X 8
SÉC. XI 8
SÉC. XII 8
SÉC. XIII 9
SÉC. XIV 10

PRIMEIRO PERÍODO 10
CAPÍTULO I - A JUSTIÇA E O DIREITO SUPRAPOSITIVO 10
SECÇÃO I - A JUSTIÇA 10
24. INTRODUÇÃO 10
25. A JUSTIÇA COMO CONDIÇÃO DA SOCIEDADE. JUSTIÇA UNIVERSAL 11
26. A JUSTIÇA PARTICULAR. CONCEITO 11
27. A JUSTIÇA PARTICULAR: A DETERMINAÇÃO DO SEU 11
28. AS MODALIDADES DA JUSTIÇA 12
29. A JUSTIÇA OBJETIVA 13
30. JUSTIÇA E DIREITO 13
SECÇÃO III - O DIREITO SUPRAPOSITIVO E O DIREITO HUMANO 13
34. O DIREITO DIVINO 13
35. DA LEI ETERNA AO DIREITO NATURAL 13
38. VALOR JURÍDICO DOS ATOS CONTRA A LEI DIVINA E NATURAL 14
39. O PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE E INDERROGABILIDADE DO DIREITO DIVINO
E DO DIREITO NATURAL 14
40. DIREITO SUPRAPOSITIVO E SUPRALEGAL. O IUS GENTIUM 14

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CAPÍTULO II - DIREITO SUPRA REGNA. O DIREITO CANÓNICO E O DIREITO ROMANO 15


41. NOÇÃO INTRODUTÓRIA 15
42. FONTES DO DIREITO CANÓNICO 15
43. SAGRADA ESCRITURA E TRADIÇÃO 16
44. DECRETAIS, CÂNONES 17
45. COSTUME E DOUTRINA 17
46. DA COMPILAÇÃO À PRÉ-CODIFICAÇÃO DAS FONTES DO DIREITO CANÓNICO
UNIVERSAL 18
48. PENETRAÇÃO DO DIREITO CANÓNICO NA PENÍNSULA. A CIÊNCIA
CANONÍSTICA PORTUGUESA 18
49. RESTRIÇÕES À RECEÇÃO DO DIREITO CANÓNICO 19
50. APLICAÇÃO DO DIREITO CANÓNICO NOS TRIBUNAIS. APLICAÇÃO NOS
TRIBUNAIS ECLESIÁSTICOS EM RAZÃO DA MATÉRIA E EM RAZÃO DA PESSOA 19
51. APLICAÇÃO NOS TRIBUNAIS CIVIS; ENQUANTO DIREITO PREFERENCIAL OU
COMO DIREITO SUBSIDIÁRIO. O CRITÉRIO DO PECADO 20
CAPÍTULO III - IUS REGNI 20
SECÇÃO I - DIREITO LEGISLADO 20
53. OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS ANTERIORES À CONSTITUIÇÃO DA
NACIONALIDADE PORTUGUESA 20
54. O CÓDIGO VISIGÓTICO 21
55. A APLICAÇÃO DO “CÓDIGO VISIGÓTICO”. TESTEMUNHO DA SUA VIGÊNCIA NO
TERRITÓRIO PORTUGUÊS 21
56. LEIS DE LEÃO, COIANÇA E OVIEDO. PRESUNÇÕES E PROVAS DA SUA
VIGÊNCIA EM PORTUGAL. DÚVIDAS QUANTO À CLASSIFICAÇÃO DO ÓRGÃO
PROMANANTE: CÚRIAS OU CONCÍLIOS? 22
57. LEIS GERAIS PORTUGUESAS. NOÇÃO. NOMENCLATURA. PROGRESSIVO
DESENVOLVIMENTO DA LEGISLAÇÃO RÉGIA 22
58. FUNDAMENTO DA FORÇA VINCULANTE DA LEI, SUA NATUREZA, FINALIDADE
E REQUISITOS 22
59. IGNORÂNCIA E CONHECIMENTO DA LEI. PUBLICIDADE. REGISTO. ENTRADA
EM VIGOR 23
60. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LEI 23
SECÇÃO II - DIREITO OUTORGADO E PACTUADO 23
62. CARTAS DE PRIVILÉGIO 23
63. CARTAS DE POVOAÇÃO 24
64. FORAIS 24
65. FOROS, COSTUMES OU ESTATUTOS MUNICIPAIS 26
SECÇÃO III - COSTUME E DIREITO JUDICIAL 27
66. COSTUME: CONCEITO E AMPLITUDE DA NOÇÃO MEDIEVAL DE COSTUME 27
67. CAUSAS DO PRESTÍGIO DO DIREITO CONSUETUDINÁRIO. ÂMBITO DE
APLICAÇÃO 27
68. REQUISITOS DO COSTUME 27
70. DIREITO COSTUMEIRO E DIREITO JUDICIAL 28
71. ESTILO 28
72. FAÇANHAS E ALVIDROS 29
73. CONCEITO E NATUREZA DAS FAÇANHAS 29
74. OS “ALVIDROS” 30
SECÇÃO IV - DIREITO PRUDENCIAL. INTRODUÇÃO. ENQUADRAMENTO GERAL 30
75. DIREITO PRUDENCIAL. NOÇÃO 30

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76. O DIREITO PRUDENCIAL MEDIEVAL COMO MOMENTO DE UM FENÓMENO


PERENE. CONSIDERAÇÃO DO IUS ROMANUM MEDIEVAL COMO DIREITO
PRUDENCIAL 30
77. DO DIREITO ROMANO DO LÁCIO À VULGARIZAÇÃO 31
78. PROCESSO DE “RENASCENÇA” DO DIREITO ROMANO 31
79. AS ESCOLAS JURISPRUDENCIAIS NA IDADE MÉDIA. INTRODUÇÃO 32
80. PRINCIPAIS REPRESENTANTES (GLOSADORES) 33
81. CONTINUAÇÃO (PÓS ACURSIANOS) 33
82. CONTINUAÇÃO (COMENTADORES) 33
83. LIGAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA À UNIVERSIDADE. ASPETOS COMUNS E
ESPECÍFICOS DAS VÁRIAS CORRENTES 34
84. OS GÉNEROS LITERÁRIOS NAS ESCOLAS JURISPRUDENCIAIS 34
85. CARACTERIZAÇÃO E RELACIONAÇÃO DAS ESCOLAS MEDIEVAIS DE
JURISPRUDÊNCIA 36
86. “ARS INVENIENDI”. METODOLOGIA DO OPERAR DAS ESCOLAS MEDIEVAIS.
INTRODUÇÃO. 37
87. ELEMENTOS DA “ARS INVENIENDI” 37
88. O DIREITO ROMANO MEDIEVAL COMO DIREITO PRUDENCIAL. CONCLUSÃO E
SÍNTESE 39
SECÇÃO V - DIREITO PRUDENCIAL. ESPECIFICAÇÃO DO CASO PORTUGUÊS 39
89. A PRIMEIRA CULTURA JURÍDICA PORTUGUESA. PRIMEIROS VESTÍGIOS DO
CONHECIMENTO DO IUS ROMANUM NA FORMA BOLONHESA 39
90. A “CHAMADA” RECEPÇÃO DO IUS ROMANUM 39
91. PROGRESSIVA PENETRAÇÃO DO DIREITO ROMANO. A UNIVERSIDADE 39
92. MEDIAÇÃO CASTELHANA. OBRAS DOUTRINAIS DE JÁCOMO RUIZ. AS
PARTIDAS E A APLICAÇÃO DO DIREITO ROMANO 40
93. REFERÊNCIA À IURISDICTIO IMPERII E FUNDAMENTO DA VIGÊNCIA DO
DIREITO ROMANO. SIGNIFICADO ESPECIAL DO DIREITO ROMANO NO QUADRO
DAS FONTES E A SUA UTILIZAÇÃO POLÍTICA 40
94. A COMPROVAÇÃO DA PROBLEMÁTICA DA OPINIÃO COMUM EM PORTUGAL 41
95. RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO DO DIREITO COMUM 41

SEGUNDO PERÍODO 42
1 - AS FONTES DE DIREITO 42
1.9 - ORDENAÇÕES AFONSINAS 42
1.9.1. AS ORDENAÇÕES AFONSINAS. SUA ELABORAÇÃO 42
1.9.2. SISTEMATIZAÇÃO DAS ORDENAÇÕES AFONSINAS 42
1.9.3. APRECIAÇÃO DAS ORDENAÇÕES AFONSINAS 43
1.9.4. FONTES SUBSIDIÁRIAS 43
1.10 - ORDENAÇÕES MANUELINAS 45
1.10.1. AS ORDENAÇÕES MANUELINAS 45
1.10.1. A QUESTÃO DAS EDIÇÕES. AUTORES 45
1.10.3. SISTEMATIZAÇÃO DAS ORDENAÇÕES MANUELINAS 46
1.10.4. APRECIAÇÃO DAS ORDENAÇÕES MANUELINAS 46
1.10.4. FONTES SUBSIDIÁRIAS 46
LEIS EXTRAVAGANTES DE DUARTE NUNES DE LEÃO 47
1.11 - ORDENAÇÕES FILIPINAS 47
1.11.1. AS ORDENAÇÕES FILIPINAS 47
1.11.2. SISTEMATIZAÇÃO DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS 47
1.11.3. APRECIAÇÃO DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS 47

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1.11.4. FONTES SUBSIDIÁRIAS 48


1.12 - LEIS EXTRAVAGANTES 48
1.12.1. LEIS EXTRAVAGANTES 48
CONTEXTO DO SÉC. XV 48
PORTUGAL 48
EUROPA 49
SEGUNDA ESCOLÁSTICA (INÍCIO DO XVI-XVII): 49
HUMANISMO 50
AS DIFERENTES FONTES DO PLURALISMO MODERNO 52
HIERARQUIA 52
LEI 55
RACIONALISMO JURÍDICO 56
ESCOLA DE DIREITO NATURAL 56
USUS MODERNUS PANDECTARUM 57
HUMANITARISMO JURÍDICO 57
ILUMINISMO 58
LEI DA BOA RAZÃO 58
REFORMA DOS ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS (1770-1772) 60
IDEIA 60
PROCESSO 60
NOVOS ESTATUTOS (ESTATUTOS POMBALINOS) 61
TRANSIÇÃO DO PLURALISMO MITIGADO PARA O MONISMO 63
CONTEXTO SÉC XIX 63
“QUESTÃO DO NOVO CÓDIGO” 64
MODELO DO ESTADO LIBERAL E REPRESENTATIVO 65
CODIFICAÇÃO 67
SÉC XX EM PORTUGAL 72
PRIMEIRA REPÚBLICA 73
ESTADO NOVO 74

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INTRODUÇÃO
2. PROBLEMAS GENÉRICOS E ESPECÍFICOS DA PERIODIFICAÇÃO DA HISTÓRIA DO
DIREITO E DA HISTÓRIA DO DIREITO PORTUGUÊS

Periodificar: Aceitar datas barreiras, separando, em função de certos eventos


delimitadores de épocas, os factos históricos. Carácter meramente instrumental
e didático.

★ Problemas da Periodificação:

○ A realidade histórica não se detém no seu desenvolvimento


cronológico, a vida processa-se de forma contínua

○ Grau de Subjetivismo: Associado à forma de determinar os


elementos de separação e ao facto de ser impossível que o
historiador pondere, ou até conheça, todos os eventos que se
produziram num dado momento histórico que poderiam ser
utilizados para dividir.

Formas de Divisão da História do Direito:

★ Fatores Políticos: Foi defendida por Melo Freire, Coelho da Rocha,


Caetano Amaral, Herculano e Gama Barros, mas os Prof. Albuquerque
discordam por considerarem que reduz a história jurídica à história dos
factos políticos1.

○ Períodos:
■ 1- Pré-Romano;
■ 2- Romano;
■ 3- Visigótico ou Germânico;
■ 4- da Reconquista;
■ 5- da Monarquia Limitada ou Feudal;
■ 6- da Monarquia Liberal-Constitucional;
■ 7- Repúblicano.

★ Elementos jurídicos externos (fontes): Para os Prof. Albuquerque é a


divisão mais perfeita, todavia não aplicada no manual por afastar aspectos
institucionais.

1
Os prof. Albuquerque consideram que divisões associadas a dinastias como a proposta por
Marcello Caetano sofrem do mesmo vício.

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○ Períodos:
■ da formação jurídica consuetudinária (séc. XI a D. Afonso III)
■ de grande predomínio da legislação geral e escrita (primeiro
dispersa, mais tarde reunida em códigos - ordenações)
■ moderno (predomínio despótico e exclusivo da lei como fonte
de direito)

★ Critérios exclusivamente jurídicos: Defendida por Cabral de Moncada

○ Períodos:
■ Sistema primitivo ou ibérico (dos mais remotos tempos até à
Constituição de Carcala de 211)
■ Sistema do direito romano vulgar (de 211 à Lex Visigothorum
Recesvindia)
■ Sistema romano-gótico (da lex ao séc XI)
■ Sistema germânico ou germanico-ibérico (do séc XI a
meados do séc. XII)
■ Sistema romano justinianeu (de Afonso III à reforma dos
estudos e às primeiras tentativas de codificação a partir de
meados do séc. XVIII)
■ Sistema de direito natural e individualismo crítico (até às
modernas tendências de direito natural dos nossos dias)

3. PERIODIFICAÇÃO ADOTADA
Pluralismo: Até 1415 (Conquista de Ceuta)

Monismo: Concentração nas mãos do Estado das fontes de produção jurídica

CRONOLOGIA

SÉC. IV
380 d.C.: Imperador Constantino concede liberdade de culto

SÉC. V
456 d. C.: Queda do império romano do Ocidente. A península ibérica passa a
ser ocupada pelos Visigodos.

★ Visigodos: Apesar de serem um povo bárbaro, eram um povo cristão


altamente romanizado e influenciado pelo direito romano

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SÉC. VI
585 d. C.: Povo visigodo consegue conquistar todos territórios da península à
exceção de um território a Sul que se mantinha às mãos do Império Bizântino

SÉC. VII
625 d. C.: Território bizantino é conquistado pelos visigodos.

654 d. C.: Código visigótico - exemplo paradigmático de direito romano vulgar,


aplicando-se em toda a península ibérica até 711 em que deixa de ser aplicado
nos território que estavam sob domínio muçulamano

SÉC. VIII
711 d. C.: Península ibérica é invadida por muçulmanos, convertendo toda a
península ao islamismo, excepto as Astúrias que nunca são conquistadas.

★ População moçárabe: Cristãos que mantinham a sua fé nos territórios


muçulmanos. Aplicavam o código visigótico, pois podiam aplicar o próprio
direito

★ Astúrias: Território por onde começa todo o processo de reconquista


peninsular. Inicialmente era só um reino que foi conquistando territórios e
crescendo, dividindo-se à medida que crescia. Aplicavam o código
visigótico, pois os Reis estavam mais preocupados em conquistar
territórios do que em legislar.

○ 1ª Divisão: Reino das Astúrias, Galiza e Leão

○ 2ª Divisão: Reino de Castela (que por vezes se junta a Leão),


Navarra e Aragão

○ Condado Portucalense: Fruta da conquista da Galiza por Leão

★ Território não pacificado: Ao contrário do resto da Europa, a Península


Ibérica não era um território pacificado, não quer, contudo, isto dizer que
estava sempre em conflitos bélicos muito intensos, pois existiam também
períodos de tréguas e em que eram estabelecidas relações diplomáticas e
comerciais, todavia, os Reis encontravam-se mais preocupados com a
atividade bélica do que com outras atividades

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SÉC. IX
800 d. C.: Coroação de Carlos Magno por Leão Terceiro, que se vai intitular de
imperator2, surgindo o seu império como “império cristão” ou “sacro império”

SÉC. X
968 d. C.: Coroação de Otão I e deslocação do “império cristão” para a Europa
Central, iniciando-se o "sacro império".

★ Otão II: Vai casar com uma princesa do Império Bizântino e o filho deles,
Otão III vai começar a utilizar alguns textos do direito justinianeu

SÉC. XI
1054 d.C.: Cisma da Igreja - passamos a ter dois territórios efetivamente
diferentes, um lado Roma, e outro Constantinopla.

1088 d. C.: Separação completa do “império cristão”

SÉC. XII
1139: Batalha de Ourique em que D. Afonso Henriques se autoproclama rei de
Portugal e é reconhecido pelo seu primo Afonso VIII de Leão no Tratado de
Zamora, que apesar de não termos o texto do tratado em si, temos notícias
seguras de que este existiu.

1140: Decreto de Graciano que faz uma compilação de direito canónico - 1º


momento do corpus juris canonici

1179: Bula Manifestis Probatum

Europa (séc. XII e XIII):

★ Respublica Christiana: Territórios europeus Cristãos

2
durante muito tempo os imperadores não se denominavam de “imperadores romanos” para
evitar tensões com os imperadores do Império Romano do Oriente, mas sim de “imperadores
augustus"

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★ Potesta Pleníssima: Poder do Papa não só espiritual, mas também


temporal, vigiando os reis e governantes dos territórios. Era um poder
muito abrangente que, embora não devesse ser exercido nas
competências próprias de cada governante, podia ter uma intervenção
quando tal fosse considerado justificado.

○ Doutrinas Hierocráticas: O poder vinha de Deus para o Papa que


depois o distribuía

○ Doutrinas Hierocráticas: O poder vinha de Deus para o Papa e para


os Reis.

○ Construção Escolástica de S. Tomás de Aquino: Dividia o poder em


espiritual, que era recebido diretamente de Deus, e
temporal/político que vinha de Deus para a comunidade, ainda que
permitisse que em circunstâncias especiais houvesse intervenção do
Papa - “legítima defesa”.

★ Contexto Político: Crescimento político, económico, social, urbano (cada


vez mais cidades), afirmação do poder do Papa

SÉC. XIII
1211: Cúria de 1211

1234: “Decretais” elaboradas por iniciativa do Papa Gregório IX - 2º momento


do corpus iuris canonici

1234: Conclusão da glosa de Acúrsio ou Magna Glosa

1245: Bula grandi non immerito que afasta D. Sancho II do governo ao acusá-lo
de falta de justiça temporal. D. Sancho é, efetivamente, afastado uma vez que
também existia a possibilidade de substituição do Afonso III e porque parte da
nobreza e do clero se queixavam das ações deste Rei. Mostra a importância da
Igreja durante esta época

1254: Nascimento das Cortes em Leiria (e extinção das Cúrias)

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1256/1263/12653: Siete Partidas - obra castelhana de direito que circulou


muito em Portugal

1298: O livro “Sexto” que tinha uma recolha de decretais posteriores a 1234
(iniciativa do Papa Bonifacio VIII) - 3º momento do corpus iuris canonici

SÉC. XIV
1313: O livro “Sétimo”, também conhecido por “Clementinas” e que tinha uma
recolha de decretais elaboradas até 1313 (iniciativa do Papa Bonifácio VIII) - 4º
momento do corpus juris canonici

1324: Leis Vagantes ou Extravagantes (iniciativa do Papa João XXII) - 5º


momento do corpus juris canonici

1325: “Vindicta Privada” (direito de punir quem lhe faz mal) é proibido

1361: Nas cortes de Elvas há uma queixa do clero sobre a existência de um


“beneplácito régio”.

Contexto Político: Contexto de crise económica associada a maus anos


agrícolas, à peste negra, à guerra dos cem anos e crises políticas.

PRIMEIRO PERÍODO

CAPÍTULO I - A JUSTIÇA E O DIREITO SUPRAPOSITIVO

SECÇÃO I - A JUSTIÇA

24. INTRODUÇÃO
O Direito na idade média não vai ser um complexo autónomo, existindo em
função da justiça.

3
não se sabe bem a data

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25. A JUSTIÇA COMO CONDIÇÃO DA SOCIEDADE. JUSTIÇA UNIVERSAL


Justiça: Fundamento da vida social, sem ela seria impossível uma convivência
organizada, a manutenção da comunidade política ou a conceção como povo de
um grupo humano.

★ Pressupostos para o homem ser justo: Acatamento da lei divina e da


lei natural na sua integralidade moral, submetendo-se-lhes livremente.
Deve realizar um trabalho intelectual de conhecimento do respetivo
conteúdo e uma tarefa volitiva respeitante à sua observância

★ Enquanto virtude: A justiça deve ser o habitus operativus bonus, ou


seja, o hábito bom orientado para a ação.

○ Virtude Universal: Síntese de todas as virtudes. Ninguém vai ser


justo se se alhear a alguma virtude.

Sociedade: Resultado múltiplo e diversificado operar humano tendente à


realização da perfeição individual, sendo que a perfeição se identifica com a
justiça.

★ Ordem Social: Projeção comunitária da condição dos seus membros,


sendo os homens justos, justa seria a sociedade.

26. A JUSTIÇA PARTICULAR. CONCEITO


Justiça enquanto virtude específica. Vai se separar da justiça universal por
considerar o campo das relações intersubjetivas (a justiça universal considera o
mundo intra-subjetivo). Aristóteles vai definir como "atribuição do seu a cada
qual”, num sentido semelhante ao de Ulpiano “a justiça é a constante e perpétua
vontade de dar a cada um o seu direito”.

27. A JUSTIÇA PARTICULAR: A DETERMINAÇÃO DO SEU


Santo António: Vai invocar a ideia de necessidade de um ato deliberativo para
determinar o seu (“juízo reto”)

São Tomás de Aquino: Considera o “seu” como aquilo que deve estar
ordenado aos fins de alguém, existindo múltiplas pessoas, cada uma com fins
individuais. Deste modo, não pode alguém ser privado de quanto for necessário
para a realização do fim, enquanto não prejudicar os demais.

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28. AS MODALIDADES DA JUSTIÇA


Siete Partidas:

★ Justiça Espiritual: Atribuição a Deus de quanto lhe é devido pelo homem

★ Justiça Política: Atribuição pela comunidade aos respetivos membros de


quanto lhes cabe e por estes àquela

★ Justiça Contenciosa: Aplica-se aos pleitos

Álvaro Pais:

★ Latria: Justiça para com Deus

★ Dulia: Justiça para com as criaturas merecedoras de honra e consideração

★ Obediência: Para com os superiores

★ Disciplina: Para com os inferiores

★ Equidade: Para com os semelhantes

Filosofia Escolástica: São Tomás de Aquino a retomar o pensamento de


Aristóteles

★ Justiça Comutativa ou Sinalagmática: Diz respeito às relações entre


iguais (pessoas privadas). Vai significar igualdade e ter uma matiz
quantitativa.

○ Igualdade Aritmética

★ Justiça Distributiva: Diz respeito às relações da comunidade com os


seus membros. Vai surgir associada à dignidade e mérito de cada um, não
exigindo igualdade absoluta

○ Igualdade Geométrica: É medida em proporção

29. A JUSTIÇA OBJETIVA


Modelo de conduta enquanto forma de rectidão plena e normativa. Sendo Deus o
modelo dos Homens, feitos à sua imagem e semelhança, seguia-se,
naturalmente, a consequência de uma justiça humana não perfeita, e apenas

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reflexo da justiça divina. Todavia, usar Deus ou Santo como modelo de conduta
seria transcender o comum das pessoas, devendo a bitola a ser usada a ideia
romana do bonus pater familias.

30. JUSTIÇA E DIREITO


O Direito está para a justiça como filho está para a mãe, daí que os três
preceitos do Direito referidos por Ulpiano4 sejam comuns para a Justiça. A
diferença entre os dois é o facto de que o Direito se limita a traduzir a justiça por
preceitos autoritariamente fixados, sendo, então, um instrumento de revelação
da justiça. Existe, ainda, uma relação fiduciária entre o Direito e a Justiça, já que
lei injusta não será direito e não deve ser observada.

SECÇÃO III - O DIREITO SUPRAPOSITIVO E O DIREITO HUMANO

34. O DIREITO DIVINO


O Direito não se situa apenas no plano humano, decorrendo de uma realidade
que ultrapassa o Homem, Deus, daí que tenhamos o direito divino, enquanto
escalão último do jurídico.

35. DA LEI ETERNA AO DIREITO NATURAL


Santo Agostinho:

★ Lei Eterna: Razão e vontade de Deus que manda conservar a ordem


natural e proíbe que ela seja perturbada

★ Lei Natural: Inscrita por Deus no coração do Homem

Doutor Angélico:

★ Lei Eterna: Própria razão de Deus, governadora e ordenadora de todas as


coisas. Dela decorre a lei natural e a lei divina

○ Lei Natural: São Tomás define como uma participação da lei eterna
na criatura racional que lhe permite distinguir o bom e o mau, como
a impressão da luz divina no Homem. Os governantes não estavam
apenas subordinados à lei divina, mas também à natural.

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vivere honestere, alterum non laedere, suum cuique tribuere

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○ Lei Divina: Participação da lei eterna constituída pelo Velho e Novo


Testamento, tendo sido por Deus expressamente revelada para que
o Homem pudesse, sem vacilações nem dúvidas, ordenar-se em
relação ao seu fim sobrenatural que é a bem aventurança eterna.

★ Lei Humana

38. VALOR JURÍDICO DOS ATOS CONTRA A LEI DIVINA E NATURAL


Se uma norma de direito humano não respeitar o preceito divino natural, tal
norma não vai possuir qualquer valor jurídico, visto que só pode subsistir e obter
o nome de direito o que estiver articulado com o direito divino e natural. Daqui
pode surgir um problema de colisão do dever de obediência com o direito de
resistência.

Direito de Resistência vs. Dever de Obediência: Os teóricos medievais5


entendiam que se não estava obrigado a observar nem devia observar aquilo
que estivesse em desconformidade com o direito divino ou natural.

39. O PRINCÍPIO DA IMUTABILIDADE E INDERROGABILIDADE DO DIREITO DIVINO E DO


DIREITO NATURAL
A imobilidade e eternidade do direito divino e do direito natural conduziria à sua
petrificação, estagnamento ou anquilosamento. Por isso, os intérpretes foram
obrigados a procurar vias de flexibilidade e acomodação. Interessa é considerar
que, historicamente, se admitiu a variabilidade de uma parte do direito natural,
embora meramente aparente ou superficial, o que justifica a possibilidade de
uma determinada ação ser considerada num momento conforme e noutro
contrária àquele direito.

40. DIREITO SUPRAPOSITIVO E SUPRALEGAL. O IUS GENTIUM


Ordem jurídica suprapositiva que ultrapassa os governantes e que se estende a
todos.

Direito das Gentes: Situa-se entre os dois planos, na medida em que,


consequência ou extensão do direito natural, é já direito humano, mas universal
ou para-universal. Concebido como direito costumeiro (costume da
humanidade), posterior ao direito natural e anterior a qualquer lei escrita.
Aparece depois, e como consequência, do pecado original.

5
como João das Regras

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CAPÍTULO II - DIREITO SUPRA REGNA. O DIREITO CANÓNICO E O


DIREITO ROMANO
41. NOÇÃO INTRODUTÓRIA
Direito Supra-Estatal: Encontra-se num plano superior ao dos reinos (ou às
áreas políticas diferenciadas até então existentes)

Direito Canônico: Conjunto de normas jurídicas relativas à Igreja.

★ Cânone: Norma ou regra em sentido físico ou moral

○ Cânone na Idade Média: Decretos do Sumo Pontífice e estatuições


dos concílios

42. FONTES DO DIREITO CANÓNICO


Modos de formação e revelação do direito canónico. Podem referir-se aos seus
órgãos de criação (causas eficientes ou fontes essendi, existendi ou materiales),
ao seu processo de elaboração (modus) ou aos textos e documentos onde se
regista o direito (fontes cognoscendi, notitiae, fontes formales ou assentos).

Causas Eficientes: Deus, apóstolos, assembleias conciliares, o papa e o clero,


consciência coletiva dos fiéis,...

Assentos:

★ Escritura: Bíblia

★ Tradição: Contém os princípios estabelecidos por Cristo e pelos


apóstolos

★ Cânones Conciliares

★ Princípios sancionados nas constituições pelos papas

★ Costume: Princípios derivados diretamente da consciência coletiva dos


crentes

★ Determinações de todos os membros da Igreja com poderes


jurisdicionais

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★ Sentenças eclesiais

★ Doutrina

43. SAGRADA ESCRITURA E TRADIÇÃO


Sagradas Escrituras: As disposições de Cristo valem para sempre, pelo que o
Antigo Testamento só vai valer quando a elas conforme, sendo os Evangelhos a
lei fundamental da Igreja.

★ Antigo Testamento: Contém preceitos cerimoniais, judiciais e morais

★ Novo Testamento: Contém preceitos de direito divino (estatuições


obrigatórias dos Evangelhos), direito divino-apostólico (desenvolvimentos
dos preceitos do direito divino pelos Apóstolos) e de direito apostólico
(ditados pelos apóstolos durante a sua atividade evangelizadora em
virtude do seu poder legislativo).

Tradição: Conhecimento translatício, escrito ou oral, de um ato de autoridade.

★ Classificações:

○ Tradição Inhesiva: Reporta-se a matérias explícitas nas sagradas


escrituras

○ Tradição Declarativa: Reporta-se a matérias implícitas nas sagradas


escrituras

○ Tradição Constitutiva: Reporta-se a matérias nem explícitas nem


implícitas nas sagradas escrituras

★ Fonte: Livros dos padres da Igreja

★ Verificação: A tradição tinha de ser aprovada com unanimidade moral


dos Santos Doutores

44. DECRETAIS, CÂNONES


Decretos e Decretais:

★ Decreto: Textos normativos pontifícios. Iniciativa originária.

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★ Decretal: Norma ou comando pontifício que respondia à consulta de


alguém

○ Geral: Dirigida à generalidade dos fiéis

○ Especial: Dirigido a um círculo delimitado de fiéis

Cânone6: Determinações conciliares

★ Concílio: Toda e qualquer assembleia, deliberativa ou consultiva, política,


eclesiástica ou mista. Num sentido estrito vai se reportar à Igreja. Podem
se qualificar em ecuménicos, nacionais, provinciais e diocesanos.

○ Concílios Ecuménicos: São compostos por bispos, cardeais, gerais


das ordens religiosas e abades isentos, sendo que apenas nestes
falamos de direito universal ou comum.

45. COSTUME E DOUTRINA


Costume: Norma resultante dos usos da própria comunidade e acompanhada
por uma convicção de obrigatoriedade. Assumiu o papel de modo de suprimento
das lacunas da legislação.

★ Costume Contra Legem: Graciano, defendendo que o costume devia


observar a razão, a fé e a verdade, rejeita o costume contrário à lei. Já os
decretistas posteriores, como Rufino o Bernardo de Pavia, admitem-no
desde que consentido pelo Papa

★ Requisitos: Antiguidade, racionalidade e consensualidade.

Doutrina: Atividade científica dos juristas cuja importância foi progressiva,


principalmente depois da aliança entre a lei canónica e a lei secular - utrumque
ius de onde nasce o direito comum. O direito canónico vai contribuir com os
princípios e os valores e o direito romano com a técnica.

46. DA COMPILAÇÃO À PRÉ-CODIFICAÇÃO DAS FONTES DO DIREITO CANÓNICO


UNIVERSAL
Corpus Juris Canonici:

6
definição em sentido estrito

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★ Decretum ou Decreto de Graciano (1140): Compilação de direito


canónico, aparecendo já algum direito romano justinianeu. Também
chamado de Concordata, Discordaria Canone por ser uma tentativa de
fazer concordar as regras dos cânones que tinham discordâncias entre si.
Primeira obra em que se nota uma grande influência do direito justiniano.
Tem textos de direito canónico e considerações sobre a justiça, o direito
natural, os contratos.

★ Decretais (1234): Divididas em 5 livros e redigidas pelo Santo


Raimundo de Penhaforte e ordenadas pelo Papa Gregório IX

★ Sexto ou Livro Sexto das Decretais: Tem este nome por vir completar
as outras 5 obras das decretais de Gregório IX, apesar de ser um obra
autónoma. Foi mandado ordenar pelo Papa Bonifácio VII

★ Clementinas ou Livro Sétimo (1313): Ordenadas por Papa Clemente V

★ Extravagantes: Diploma das obras restantes que andavam dispersas.


Foram ordenadas pelo Papa João XXII

★ Extravagantes Comuns7 (fim do séc. XV): Coletânea particular, não


tendo sido mandada redigir por nenhum papa, à semelhança da de
Graciano

48. PENETRAÇÃO DO DIREITO CANÓNICO NA PENÍNSULA. A CIÊNCIA CANONÍSTICA


PORTUGUESA
O direito canónico penetrou e foi recebido na Península Ibérica desde os seus
inícios. Situando-nos apenas nos tempos imediatamente anteriores à fundação
da nacionalidade, podemos assinalar mais de um documento em que se refere o
direito canónico na fase pré-graciana. Também em várias bibliotecas medievais
portuguesas figuravam exemplares de coleções de cânones anteriores à
fundação da nacionalidade.

Cúria de 1211: A penetração do direito canónico era tal que houve necessidade
de hierarquizá-lo em relação ao direito do rei. Estabeleceu-se a prevalência do
direito canónico, o que contribuiu para a supremacia eclesiástica, traduzida na
superioridade das normas jurídicas da Igreja sobre os vários monarcas.

Beneplácito Régio: Para que o direito canónico circulasse em Portugal e tivesse


aplicação era necessária uma aprovação pelo rei.

7
Prof. Albuquerque não incluem no corpus iuris canonici

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49. RESTRIÇÕES À RECEÇÃO DO DIREITO CANÓNICO


A penetração do direito canónico não se processou sem resistência,
especialmente crescente à medida que o poder dos monarcas aumentava pela
consolidação.

Beneplácito Régio: O clero vai criticar nas cortes de Elvas de 1361, pois
Portugal, enquanto Reino Cristão, devia aplicar o direito canónico sem
necessidade do rei ter de dar qualquer aprovação.

★ Resposta de D. Pedro à queixa: No reino circulavam vários escritos que


são falsificações, mas que, não o sendo, se intitulam de “textos de direito
canónico”. Assim, o beneplácito régio teria a intenção de proteger o direito
canónico.

★ Resposta de D. João I à queixa: Tenta dar a mesma resposta que o


(ante)antecessor, mas acaba por se “descair” e revelar que, em parte, o
beneplácito régio também era importante para que o rei pudesse perceber
o que podia ser utilizado contra ele.

50. APLICAÇÃO DO DIREITO CANÓNICO NOS TRIBUNAIS. APLICAÇÃO NOS TRIBUNAIS


ECLESIÁSTICOS EM RAZÃO DA MATÉRIA E EM RAZÃO DA PESSOA
O Direito Canónico foi aplicado em Portugal não apenas nos tribunais civis ou
seculares, mas também em tribunais eclesiásticos. Paralelamente com a
organização judiciária civil existiu uma organização judiciária eclesiástica, ou
seja, tribunais da Igreja que conheciam as causas em função da matéria ou da
pessoa. Certas matérias eram consideradas da competência especial da
jurisdição eclesiástica e certas pessoas só podiam ser julgadas pela Igreja.

Clero: O costume gradualmente desenvolvido de que o clero não podia ser


levado perante um tribunal civil foi reconhecido oficialmente pelo imperador
Justiniano que o consagrou como privilégio.

51. APLICAÇÃO NOS TRIBUNAIS CIVIS; ENQUANTO DIREITO PREFERENCIAL OU COMO


DIREITO SUBSIDIÁRIO. O CRITÉRIO DO PECADO
Direito Canónico como Direito Preferencial: Na cúria de Coimbra de 1211,
D. Afonso II determina o direito canónico como direito preferencial a que as leis
civis devem obedecer.

★ Prof. Braga Cruz: A palavra utilizada no documento é “decreitos”, o que


pode tanto querer dizer “lei” como “regalias/privilégios”. Este professor,

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contrariamente à doutrina maioritária, não retira da Cúria uma


subordinação absoluta da lei ao direito canónico, mas sim que que as leis
pátrias só não valeriam contra os cânones que estabelecessem especiais
privilégios em favor da Igreja.

Direito Canónico como Direito Subsidiária: Mais tarde, o direito canónico foi
relegado para a posição de direito subsidiário, ou seja, apenas aplicável quando
faltasse o direito nacional, entrando em concorrência, nesse caso, com o direito
romano ou imperial.

★ Critério do Pecado: A prevalência do direito canónico sobre o direito


romano seria consequência de se tratar, ou não, de matéria de pecado.

CAPÍTULO III - IUS REGNI

SECÇÃO I - DIREITO LEGISLADO

53. OS ORDENAMENTOS JURÍDICOS ANTERIORES À CONSTITUIÇÃO DA


NACIONALIDADE PORTUGUESA
Leis Germânicas: Como a Lei Salica, a Lex Ribuaria, o Pactus Baiuwariorum, a
Lex Alamanorum, a Lex Chamavorum, a Lex Burgundiorum,...

Leis Lombardas: Como as Leis de Liutprando, o Edicto de Rothario e o Liber


Papiensis

Leis Suevo-Góticas ou Escandinavas

Leis dos Visigodos: Estiveram na Península Ibérica durante séculos até às


invasões muçulmanas.

★ Código de Eurico (476): Transparece já a influência jurídica de Roma,


pelo que as suas normas estão muito longe de representarem direito
germânico puro, Álvaro d’Ors qualifica-o como direito romano vulgar.

○ Doutrina da dualidade legislativa ou da personalidade do direito:


Implicava que apenas às populações visigodas se aplicasse este
código, sendo utilizado o breviário de Alarico para as populações
romanas.

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■ ALFONSO GARCÍA-GALLO: Abala a construção tradicional ao


sustentar que o carácter territorial das diversas leis
visigóticas, incluído o Código de Eurico que teria sido
revogado pelo Breviário. Fundamenta-se no facto de não
haver qualquer afirmação expressa da vigência simultânea
dos dois ordenamentos e do Breviário derrogar normas
romanas.

★ Breviário de Alarico (506): Tem como fontes constituições imperiais


retiradas dos Códigos Teodosiano, Hermogeniano e Gregoriano e das
novelas de vários imperadores

★ Código de Leovigildo (572-582): Está desaparecido

★ Código Visigótico (654)

54. O CÓDIGO VISIGÓTICO


Representa o terminus da evolução legislativa do reino visigodo, surgindo como
uma transição entre as fórmulas e o rigorismo do direito romano e os costumes
próprios do povo godo, consagrando, porém, em certos aspectos, o triunfo legal
do direito romano e da cultura latino-eclesiástica. Vai buscar leis ao Breviário de
Alarico e ao Codex de Leovigildo.

55. A APLICAÇÃO DO “CÓDIGO VISIGÓTICO”. TESTEMUNHO DA SUA VIGÊNCIA NO


TERRITÓRIO PORTUGUÊS
O Código Visigótico continua a ser citado em alguns documentos portugueses no
séc. XII, mas no séc. XIII, essas citações desaparecem e o próprio fenómeno do
renascimento do Código Visigótico operando em Castela através da sua tradução
para romance (Fuero Juzgo), já não tem repercussões visíveis, fruto do
crescimento da legislação nacional e da redescoberta do direito romano
justinianeu. É sabido que as populações cristãs sob o domínio muçulmano
(moçárabes) contínuaram, à semelhança das que não caíram sob o jugo dos
invasores, a reger-se pelo código visigótico nos séculos da reconquista
antecedentes da fundação da nacionalidade portuguesa.

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56. LEIS DE LEÃO, COIANÇA E OVIEDO. PRESUNÇÕES E PROVAS DA SUA VIGÊNCIA EM


PORTUGAL. DÚVIDAS QUANTO À CLASSIFICAÇÃO DO ÓRGÃO PROMANANTE: CÚRIAS
OU CONCÍLIOS?
Concílios: Reuniões eminentemente eclesiásticas que contavam com a
colaboração de laicos. Os conselheiros deliberam e estabelecem de acordo com o
monarca.

Cúrias: Congregações políticas não religiosas com a intervenção de membros do


clero

57. LEIS GERAIS PORTUGUESAS. NOÇÃO. NOMENCLATURA. PROGRESSIVO


DESENVOLVIMENTO DA LEGISLAÇÃO RÉGIA
As leis gerais começam por ocupar um papel modesto, existindo em pouca
quantidade. Aos poucos, todavia, foi se processando a crescente atividade
legislativa dos monarcas com a transferência desta função para o rei e para as
cúrias. Na luta pela supremacia e pela superioridade jurídico-política da Coroa, o
monarca vai transferir para si o monopólio legislativo e o papel de árbitro entre
as diferentes ordens jurídicas em presença

58. FUNDAMENTO DA FORÇA VINCULANTE DA LEI, SUA NATUREZA, FINALIDADE E


REQUISITOS
Como fundamento da força vinculativa da lei neste período aparecem fórmulas
reveladoras do sentido autoritário da vontade régia. Frequentemente, a força
dos decretos régios surge-nos baseada na razoabilidade ou antiguidade dos
mesmos.

Finalidade da Lei: As leis são o estabelecimento para que os homens saibam


viver bem e ordeiramente segundo a vontade de Deus

Requisitos ou Características da Lei: Ser boa, racional e fácil de entender por


qualquer Homem.

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59. IGNORÂNCIA E CONHECIMENTO DA LEI. PUBLICIDADE. REGISTO. ENTRADA EM


VIGOR
Só é possível exigir o cumprimento da lei sem atender a alegações de ignorância
se o conhecimento for viável, introduzindo o problema da publicidade do
preceito.

Publicação da Lei: Não existia sobre a publicação das leis uma regra invariável,
todavia, geralmente, a publicação das leis de quaisquer ordens do soberano
estava a cargo dos tabeliães que, depois de as registarem nos seus livros, as
deviam ler no tribunal do concelho, ordinariamente uma vez em cada semana
(costumava ser aos domingos), durante um certo período que chegava não raro
até um ano. Além disso, publicavam-se também as leis na chancelaria da corte.
Algumas leis definiam a própria periodicidade, diferente da usual. Podia
acontecer, ainda, que a oralidade precedesse ao registo da lei

60. APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LEI


Aplicação da Lei no Espaço: Nem todas as leis são de âmbito geral, existindo
tanto normas aplicáveis à escala do país, dimanadas do poder central, como
normas de aplicação geográfica restrita e preceitos cogentes estatuídos pelas
comunidades inferiores, como os concelhos, para nelas serem aplicados.

Aplicação da Lei no Tempo: Lei de 1349 determina a não retroatividade. A lei


só dispõe para o futuro.

Interpretação: Saber o verdadeiro significado das leis. A lei deve ser


interpretada de acordo com a sua letra e reto espírito, devendo ser condenados
os que se afastam da lei, alterando enganosamente o sentido.

★ Interpretação autêntica: Uma fonte interpreta outra fonte. Vai haver


uma obrigação do legislador declarar declarar o sentido da lei

SECÇÃO II - DIREITO OUTORGADO E PACTUADO

62. CARTAS DE PRIVILÉGIO


Em sentido lato: Documentos que atribuem prerrogativas, liberdades,
franquias e isenções de qualquer ordem.

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Em sentido estrito: Documentos que, embora de índole muito diversa, têm


como denominador comum a circunstância de traçarem um regime jurídico
específico para certo território ou comunidade. Possuem um âmbito delimitado
que possibilita diferenciá-las da lei.

63. CARTAS DE POVOAÇÃO


Noção: De fisionomia essencialmente económica, visava atrair habitantes para
certas zonas escassamente povoadas ou despovoadas. O monarca, um senhor,
ou a entidade que exercia autoridade sobre o território fixava um conjunto de de
normas definindo o estatuto dos futuros colonos, especialmente quanto às
condições de exploração da terra, as prestações patrimoniais ou pessoais a que
os povoadores ficam obrigados e os modos de detenção e ligação à terra.

Contratos Agrários Coletivos: Eduardo de Hinojosa, para mostrar a natureza


das cartas de povoação, utiliza esta expressão para reforçar a ideia contratual
destas cartas pois as pessoas mudavam-se aceitando as condições que lhes
eram dadas.

★ Prof. Albuquerque: É hoje corrente a inclusão na área dos contratos


aqueles atos em que se oferece genericamente a todos, presente ou
futuros, um modelo apresentando um conjunto determinado de cláusulas
que os interessados têm liberdade de aceitar ou não, mas apenas na
totalidade, através de uma manifestação inequívoca de adesão, pois a
essência do contrato não reside tanto na liberdade de estipulação, como
na autonomia da vontade, daí que incluam as cartas de população nos
chamados contratos de adesão.

★ Prof. Margarida: Discorda pois não só acredita que é bastante difícil


aplicar conceitos atuais a estas épocas, como coloca em causa a natureza
contratual do negócio, já que muitas vezes as pessoas não tinham noção
de que o estavam a celebrar - sem vontade não há negócio.

64. FORAIS
Noção: Confundem-se, por vezes, com as cartas de povoação, mas, em regra,
os forais são mais extensos e abarcam um maior número de matérias, indo além
das condições de assentamento da terra. Contém, além disso, disposições de
direito processual, militar, fiscal, penal, administrativo e, qualitativamente menos
importantes, privado, com prevalência para as instituições sucessórias e
familiares.

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Fontes: Muito heterogéneas: costume, direito judicial, foros de outras


localidades, direito comum, direito prudencial,...

Relação Direito Especial-Geral:

★ Prof. Albuquerque: No território a que respeita o foral rege este como


direito especial ou particular, com prejuízo do direito geral, sendo, todavia,
o direito geral chamado a integrar disposições foraleiras, sempre
insuficientes e lacunares.

★ Prof. Duarte Nogueira: Aprofundou a questão, debatendo se o direito


seria especial por se aplicar a uma determinada população num
determinado território ou se seria especial porque as regras, sendo
diferentes das do direito geral, teriam uma aplicação prioritária. Contudo,
concluiu que, como seria difícil encontrar confirmação da especialidade
das regras (algo que mostrasse que eram diferentes, e diferentes de quê -
do código visigótico? da legislação?...), o direito seria apenas especial na
medida em que se aplicava a um território específico. Não obstante, como
as populações viam aquele direito como “seu”, este professor assume que
há lógica em pensar que, em caso de conflito, o iriam tentar aplicar, no
mesmo raciocínio das muitas leis portuguesas que diziam que se
aplicavam contra tudo o que antes estava estabelecido, para garantir que
seria revogado o direito contrário à lei nova, ainda que esta intenção
raramente fosse cumprida.

Categorias de Forais:

★ Forais régios ou particulares: (Gama Barros)

○ Foral Régio: Concedido pelo rei (mais comum). A terra é cedida


com simples reserva de uma certa pensão ou prestação periódica
saída dos frutos ou rendimentos - regime do “censo reservativo”

○ Foral Senhorial: Concedido pelo senhor da terra. Dá-se o


desbaratamento do domínio direto e útil da terra - modelo da
“enfiteuse”

★ Consoante o molde ou matriz: Toma em linha de conta a circunstância


de existirem famílias de forais resultantes de alguns terem servido de
padrão ou tipo.

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○ Foral Matriz: Foral originário que era copiado (e adaptado) para


outras terras. Geralmente, este foral fundava um concelho.
■ FORAL DO NORTE: Foral matriz de Salamanca
■ FORAL DO CENTRO: Foral matriz de Santarém
■ FORAL DO SUL: Foral matriz de Évora/Ávila

★ Relativamente à complexidade da instituição concelhia:

○ Prof. Herculano:
■ FORAIS RUDIMENTARES: Nível baixo de complexidade
■ FORAIS IMPERFEITOS: Nível médio de complexidade
■ FORAIS PERFEITOS: Nível alto de complexidade

○ Prof. Torquato de Sousa Soares:


■ FORAIS RURAIS: Nível baixo de complexidade
■ FORAIS URBANOS: Nível médio de complexidade
■ FORAIS DISTRITAIS: Nível alto de complexidade

★ Pelo Grau de Originalidade:

○ Foral Originário: Primeiro foral concedido ao território

○ Foral Confirmativo: Foral que vem, mais tarde, confirmar o primeiro


foral

○ Foral Ampliativo: Foral que vem adicionar informação nova ao


primeiro foral.

65. FOROS, COSTUMES OU ESTATUTOS MUNICIPAIS


Noção: Os foros municipais desde logo se separam dos forais pela sua extensão
ou dimensão, apresentando um acervo de normas muito superior em quantidade
aos forais, para além de que nos estatutos também se inserir muito maior
número de disposições de direito privado, cobrindo uma gama mais vasta de
áreas. Para além disso, separam-se epocalmente por surgirem mais tardiamente
(finais do séc. XIII/séc. XIV). Apresentam, todavia, normas muito anteriores de
direito romano, germânico, muçulmano,...

★ Prof. Martínez Marina: Define estatutos municipais como cadernos de


leis civis, administrativas e processuais outorgadas aos municípios para a
sua constituição e governo.

○ Prof. Paulo Merêa: Recorda o conceito de Martínez Marina, mas


observa que ele não se adapta a todos os casos. Defendendo que
existem estatutos que não foram propriamente outorgados, mas

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resultado da reunião de diferentes fontes de direito local


empreendida pelo próprio concelho, a par de normas
consuetudinárias

★ Em Portugal: Não existem muitos pois implicavam que a comunidade já


tivesse uma certa vivência jurídica continuada algo que, quando
aconteceu em Portugal, já havia uma legislação a avançar que cada vez
tornava mais desnecessária a existência de foros ou estatutos municipais.

SECÇÃO III - COSTUME E DIREITO JUDICIAL

66. COSTUME: CONCEITO E AMPLITUDE DA NOÇÃO MEDIEVAL DE COSTUME


Costume: Repetição habitual de uma conduta havida por juridicamente
relevante. As fontes registam-no no sentido de direito não reduzido a escrito

★ Prof. Braga Cruz: Vai definir como quer tudo o que representa uma
formação espontânea de direito, como toda a norma jurídica formada por
qualquer modo que não pelo processo legislativo.

67. CAUSAS DO PRESTÍGIO DO DIREITO CONSUETUDINÁRIO. ÂMBITO DE APLICAÇÃO


Considerado como fonte jurídica de excelência no período da fundação da
nacionalidade e nos tempos diretamente subsequentes. O costume surge no
quadro das fontes como, de todas, a mais antiga. Tem especial relevância devido
à falta de um aparelho de autoridade administrativo e burocrático desenvolvido e
pelo facto de resultar de uma prática confirmada e criada espontaneamente
pelos membros da comunidade, correspondendo ao sentimento natural desta,
pois só assim se explica a observância uniforme de conduta e a ideia
generalizada do carácter obrigatório da regra.

Passagem a Escrito: Para ser aplicado, era necessário que o costume fosse
provado, daí que para evitar incertezas que decorrem do próprio processo de
revelação do costume se procurou, muitas vezes, fixá-lo por escrito. À medida
que vai sendo acolhido por outras fontes, o costume perde o carácter específico
para assumir , total ou parcialmente, a feição destas quanto à obrigatoriedade,
adquirindo generalização crescente

68. REQUISITOS DO COSTUME


Antiguidade:

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★ Azão, Acúrsio e as Siete Partidas: Fixam entre 10 e 20 anos

★ João André e Panormitano: Fixam 10 anos

Racionalidade: Conformidade do costume com a razão

Consenso da Comunidade: É o povo quem introduz o costume, pelo que se


requer o consenso da maioria.

Ser bom: Ajustado à lei de Deus, ao direito natural e à utilidade pública.

69. VALOR JURÍDICO DO COSTUME


Decreto de Graciano: Vale como lei na falta desta.

Decretais: Mais do que uma decretal se refere ao costume como o melhor


intérprete da lei ou como confirmador dela, não faltando as que lhe atribuem
igual força.

Primeira Partida8: O costume vale apenas quando observe os requisitos


exigidos, podendo integrar o foro nas suas lacunas, corrigi-lo, ou mesmo
revogá-lo, quando, sendo o mesmo anterior à norma consuetudinária. Papel
subalterno à lei.

70. DIREITO COSTUMEIRO E DIREITO JUDICIAL


Sentenças Judiciais do Primeiro Período da Monarquia:

★ Prof. Braga Cruz: Dificilmente podem ser olhadas como fonte jurídica de
carácter autónomo, pois, apesar do peso que possuíam no
estabelecimento de correntes jurisprudenciais e de, por vezes, se
revestirem de força vinculativa para a decisão de casos similares. São
uma definição autorizada de costumes anteriormente vigentes e não um
modo autónomo de criar direito novo.

★ Prof. Albuquerque: Os tribunais não só fortalecem como revelam o


costume, utilizando-o para fundamentar decisões, assumindo, também
verdadeira função criadora do direito, enquanto estabelecem um

8
Siete Partidas

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precedente que nuns casos se torna vinculatório e noutros, embora não


sendo obrigatório, suscita no futuro a adesão espontânea dos tribunais.

71. ESTILO
Noção: Prática de um tribunal. Bártolo define como uma norma consuetudinária
de direito processual

★ Lei: Vai referir os estilos várias vezes, definindo os do tribunal do rei


como “superiores”, ou seja, os únicos que podem vincular

72. FAÇANHAS E ALVIDROS


Alvidros: Decisões dos juízes arbitrais. Jesús Lalinde Abadía defende que os
alvidros representam um ensaio precoce do que se designa por direito
judicialista (direito cuja origem não se encontra na lei, mas na resolução
judicial). Durante o período de ligação dos Castelhanos aos Leoneses, os alvidros
surgiram como consequência da necessidade de integrar lacunas do Liber
Iudicem, recorrendo a árbitros que julgavam sem recurso à lei e com base na
submissão voluntária de quem a eles recorria.

73. CONCEITO E NATUREZA DAS FAÇANHAS


Noção até José Anastásio de Figueiredo:

★ Duarte Nunes: Juízo sobre ação notável que fica como padrão normativo
para o futuro, por virtude da autoridade de quem o praticou ou aprovou

★ Opinião altercada ou controvertida

★ A própria ação de que decorre o juízo

Noção a partir de José Anastásio de Figueiredo:

★ Serem decisões régias

★ Tratar-se de casos duvidosos ou omissos na legislação pátria

Polémica: Esta fonte de direito medieval era muito contestada pelo poder,
nomeadamente pelo poder régio. As Siete Partidas referiam que as façanhas não
eram uma boa forma de julgar, contudo, isso não impedia que fossem utilizadas.

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★ Tentativa de Limitação: Eventualmente, tentou-se que o regime das


façanhas fosse idêntico ao do estilo, ou seja, que apenas vinculasse, em
tribunal, as decisões dos tribunais superiores.

74. OS “ALVIDROS”
Noção: Em Portugal os alvidros eram juízes livremente escolhidos pelas partes
que deviam julgar nos termos dos poderes por elas conferidos, podendo haver,
depois da decisão, apelo a um sobrejuiz. As sentenças dos juízes alvidros eram
suscetíveis de ser usadas em outros casos e baseavam-se, não no livre arbítrio
total, mas em valores como o costume e a equidade, já que surgiam da
necessidade de integrar lacunas.

SECÇÃO IV - DIREITO PRUDENCIAL. INTRODUÇÃO. ENQUADRAMENTO GERAL

75. DIREITO PRUDENCIAL. NOÇÃO


Representa, com o costume, um setor do ordenamento jurídico que se situa
originariamente fora da esfera de ação criativa do poder. Trata-se da ordem
normativa, criada pelos prudentes.

Prudentes: Conhecem o direito, o justo e o injusto e têm cuja autores (saber


socialmente reconhecido) que lhes permite declarar a verdade jurídica nos casos
concretos.

Jurisprudência: Atividade de todos os que constroem o direito em termos


científicos e independentemente de qualquer ligação ou dependência específica
ao poder.

76. O DIREITO PRUDENCIAL MEDIEVAL COMO MOMENTO DE UM FENÓMENO PERENE.


CONSIDERAÇÃO DO IUS ROMANUM MEDIEVAL COMO DIREITO PRUDENCIAL
O direito prudencial conheceu na Idade Média alto grau de desenvolvimento
devido às deficiências do direito crescente e ao carácter fragmentário e localista
do costume. Era preciso colmatar as lacunas de um ordenamento jurídico
escasso e construir um sistema jurídico que respondesse às exigências de uma
sociedade em desenvolvimento político, social e económico, ou seja, em
mutação e de crescente complexidade. Por isso, um ordenamento jurídico cada
vez mais trabalhado e dotado de capacidade de resposta, utilizando o direito
romano.

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77. DO DIREITO ROMANO DO LÁCIO À VULGARIZAÇÃO


Roma estendeu o seu domínio a todo o Mediterrâneo e à maior parte da Europa
e, com o domínio, o direito. Todavia, tal não se processou muito rapidamente
devido à concepção personalista que os romanos tinham do direito, já que este
era criado para os cidadãos de Roma, os restantes reger-se-iam pelo próprio
direito. À medida que Roma vai perdendo força, surgem tendências para a
generalização e uniformização através do direito das gentes (ius gentium, direito
comum aplicável a relações de diverso tipo) e da concessão do estatuto pessoal
dos Romanos a não-romanos, começando a surgir o direito vulgar.

Direito Romano Vulgar: Direito aplicado nas províncias e distinto do direito


romano puro pela contaminação dos direitos indígenas e pela correção e
adaptação levada a cabo pelos práticos.

Divisão do Império Romano: Vai dar origem a duas ordens jurídicas distintas

★ Parte Oriental: Influenciada pela cultura grega e helenística, o


desenvolvimento do direito romano processar-se-á em conformidade com
altos padrões de técnica jurídica - leva ao Corpus Iuris Civilis

★ Parte Ociedental: A vulgarização vai sempre aumentando até que a


queda de Roma, em 476, lhe outorga direção definitiva

78. PROCESSO DE “RENASCENÇA” DO DIREITO ROMANO


Fatores que Motivaram:

★ Recriação do Império na pessoa de Carlos Magno com o consequente


aproveitamento do direito imperial pelos novos Césares.

★ Desenvolvimento da estrutura eclesial e do respetivo direito (canónico)


que encontrará na ordem jurídica romano-justinianeia rico manancial
técnico e conceptual de que se podia abastecer

★ Emergência da realidade política representada pelas cidades-estados em


Itália e a que importava dotar de uma armadura normativa e
constitucional a qual os direitos locais por si só não podiam fornecer

★ Movimento geral da cultura num sentido de alargamento de horizontes e a


inerente ânsia de saber e descoberta

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Divisão Medieval do Digesto:

★ Digesto Velho: Livros 1 a 24 - primeiros livros encontrados e utilizados


por Irnério

★ Digesto Novo: Livros 39 a 50 - livros encontrados por Irnério algum


tempo depois do Digesto Velho

★ “Infortiato” ou Esforçados: Livros 25 a 38 - últimos livros a ser


encontrados

○ Possíveis explicações do nome:


■ depois dos livros serem encontrados, alguém terá dito “ius
nostrum infortiatum est”, ou seja, o nosso direito está
reforçado
■ "infortiato" significa “meio” em latim e esta é a parte do meio
do Digesto

Divisão Medieval do Codex:

★ 1º Volume: 9 primeiros livros do Codex (volume maior)

★ 2º Volume: 3 últimos livros do Codex, as institutiones, as novelas e


alguns textos de direito medieval conforme as versões (pois, como as
cópias eram manuscritas, o copiador podia escrever o que entendia, logo
as edições variavam)

○ Nome: Chamado de “volumen parvum” uma vez que “parvum”


significa pequeno e este volume era menos extenso

79. AS ESCOLAS JURISPRUDENCIAIS NA IDADE MÉDIA. INTRODUÇÃO


Escola dos Glosadores: Iniciou-se com Irnério nos princípios do séc. XII e terá
acabado com Acúrsio em 1234 com a obra máxima deste autor, a Magna Glosa
ou Glosa de Acúrsio.

Escola dos Comentadores: Iniciou-se com as obras de Jacques de Révigny e


Pierre de Bélaperche, atingindo o apogeu no séc. XIV, para entrar em declínio
entre os séc. XV e XVI com a crítica dos humanistas.

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Escola de Transição: Ideia da existência de uma escola intermédia entre a dos


glosadores e a dos comentadores que é muito importante por permitir que se
veja que não há um corte entre o método das duas escolas, este é o mesmo.

80. PRINCIPAIS REPRESENTANTES (GLOSADORES)


Irnério:

★ Fundador da escola dos glosadores

★ Emancipação do Estudo do Direito: É a Irnério que se atribui o mérito


da emancipação do estudo do direito, separando-o do ensino da dialética e
da retórica. Centrou a sua atenção no direito romano, fazendo deste um
objecto autónomo de investigação, com base na obra justinianeia,
estudando-a diretamente e na sua integridade, algo que não era usual,
sendo o segundo terço do Digesto comumente negligenciado.

★ Discípulos:

○ Jacob: Terá sido designado seu sucessor

○ Martim de Gósia: Criador da corrente doutrinária gosiana que


valorizava em primeiro lugar a equidade.

○ Búlgaro: Criador da corrente doutrinária bulgariana que valorizava


em primeiro lugar a aderência ao texto legal.

○ Hugo: Representava uma media via, identificada pela atração do


espírito do preceito

○ Acúrsio: Realizou, entre outras obras, a Magna Glosa.

81. CONTINUAÇÃO (PÓS ACURSIANOS)


Existe uma grande dificuldade em delimitar de forma rigorosa os glosadores dos
comentadores, havendo figuras que surgem nas duas escolas como Odofredo.

82. CONTINUAÇÃO (COMENTADORES)


Jacques de Révigney e Pierre de Belleperche: Figuras iniciais da escola dos
comentadores, ambos doutores franceses utilizadores de métodos dialéticos
cultivados pelos teólogos escolásticos.

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★ Cino de Pistóia: Discípulo de Belleperche que se exilara no sul de França


onde se ensinava direito romano, proibido em Paris, veio no seu regresso
a Itália divulgar e consagrar as orientações dos mestres franceses.

Bártolo: Maior dos juristas medievais, aquele que mais influência exerceu.

★ Baldo: O grande discípulo de Bártolo

83. LIGAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA À UNIVERSIDADE. ASPETOS COMUNS E


ESPECÍFICOS DAS VÁRIAS CORRENTES
A grande maioria dos juristas referidos eram professores universitários. O
fenómeno do renascimento do direito romano constitui, de um ponto de vista
dos agentes da sua elaboração, um processo essencialmente universitário, tendo
sido Bolonha o principal palco. Os estudantes e professores transitavam de umas
para outras universidades, ocorrendo, inclusive, casos de migração de toda a
universidade de uma localidade para outra diferente. Este universalismo foi um
fator decisivo na expansão do direito romano, e, consequentemente, na unidade
cultural da Europa, já que era feito numa língua comum (latim) e versava sobre
o mesmo objeto (o direito justinianeu).

Canonistas vs. Civilistas:

★ Canonistas: Estudavam direito canónico. Tinham como objeto de


indagação textos fixos, com séculos de existência.

★ Civilistas: Estudavam direito justinianeu. Trabalhavam sobre normas


mais ou menos recentes, suscetíveis de serem esclarecidas ou alteradas
pela Igreja. Não se podem abstrair dos pensamentos teológicos e dos
aspectos metafísicos da natureza humana, existindo uma constante
preocupação com as implicações morais das soluções jurídicas.

★ Doutores in utroque: Formados em cânones e leis.

84. OS GÉNEROS LITERÁRIOS NAS ESCOLAS JURISPRUDENCIAIS


Glosa: Explicitação singular de termos, conceitos ou passos de um escrito,
podendo ir desde a substituição de um termo até ter uma elevada complexidade.

★ Interlinear ou marginal: Consoante esteja entre as linhas do texto ou


nas margens das páginas.

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★ Técnicas (ou Jurídicas), Filológicas, Históricas ou


Retórica-Dialéticas: Relativamente ao tema sobre qual versam

★ Declarativas ou Interpretativas: Tendo em conta o seu propósito


interpretativo.

Apparatus: Composto por uma série de glosas às palavras de um texto entre si


ligadas pela ordem assumida por aquelas e de forma a dar uma visão completa e
uma posição coerente de parte de um livro legal.

Summulae: Pequenos escritos nos quais se sumaria sistematicamente o


conteúdo de todo um livro, título ou parte do mesmo. Representam a evolução
de uma forma originária ligada à glosa (inicialmente eram reuniões de glosas).

Summae: Exposição sistemática feita com propósitos compendiários de uma


parte, um título ou um livro do Corpus Iuris Civilis.

Solutiones Contrarietum: Coleção de argumentos compostos sobre um tema.


Brocarda: Opiniões formuladas em termos de regras gerais, muitas vezes com
forma métrica.

Notabilia: Coleções de aforismos distinguíveis dos anteriores pela circunstância


de com eles se enunciar conceitos jurídicos.

Distinctiones: Género promovido ou consagrado nas glosas correspondente à


propensão dominante do espírito medieval para dividir e subdividir, de forma a
situar as noções correlacionando-as, a fim de suprir eventuais contradições.

Quaestio: Instrumento de apuramento da verdade.

★ Quaestio Facti: Reporta-se a um facto.

★ Quaestio Iuris: Diz respeito à interpretação do direito, implicando uma


verdadeira disputa intelectual solúvel com recurso a leges, rationes e
auctoritates. Elemento de atualização do direito por conduzir a um
adequamento da norma. Parte de um caso concreto.

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Quare: Escritos em que se confrontam dois princípios enunciados nas fontes


perceptivas e aparentemente contraditórios. Tem um fiM estritamente teórico.

Casus: Hipóteses de facto cuja regulamentação se encontra expressa nos textos


romanos e, por isso, não causa disputa

Dissenciones dominorum ou disputationes: Recolhas de controvérsias entre


mestres célebres, organizadas em relação a debates entre glosadores.

Tractatus: Equivalente às monografias de hoje em dia, são um género literário


sistemático e globalizante, caracteristicamente cultivado pelos comentadores.

Consilia: Equivalem aos modernos pareceres. O jurisconsulto pronunciava-se


neles sobre uma consulta que lhes era feita. Têm uma estrutura idêntica à da
quaestio.

Allegationes: Escritos de parte elaborados para apresentar as razões destas a


um decidente, o juiz, em que se pode tratar, além dos aspetos do de direito, de
matéria de facto.

Commentarius: Dissertações longas organizadas segundo uma estrutura


segundo as regras da lógica escolástica em torno de um tema, formalmente
independentes dos textos romanos, conjugando preceitos do direito justinianeu
com preceitos de outras ordens jurídicas.

Lectura: Lições universitárias. Constitui-se através de uma exposição oral.

Coleções de Fórmulas de Atos Jurídicos Recolhidas com o Intuito de


Facultar Modelos a Serem Reproduzidos ou Adaptados em Ocasiões
Futuras: Obras de natureza eminentemente prática ou empírica.

85. CARACTERIZAÇÃO E RELACIONAÇÃO DAS ESCOLAS MEDIEVAIS DE


JURISPRUDÊNCIA
Glosadores: Caracterizam-se por uma atividade interpretativa meramente
literal de índole gramatical e por um progressivo afastamento dos textos

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legislativos, recobrindo-os de glosas, por sua vez tornadas objeto de estudo e de


outras sucessivas. A sua obra terá sido essencialmente teórica-sistemática.
Presos à letra, abstinham-se de críticas9.

Comentadores: A eles se atribui a ultrapassagem da littera da lei e a


consideração do seu sensus, apresentando uma liberdade do texto legislativo
ditada pelo sentido prático, suscetível do adaptar às circunstâncias da época

86. “ARS INVENIENDI”. METODOLOGIA DO OPERAR DAS ESCOLAS MEDIEVAIS.


INTRODUÇÃO.
Método muito complexo em que temos vários elementos que funcionam em
simbiose uns com os outros. É um método totalmente diferente do nosso atual
(subsunção), e argumentativo por olhar para o direito como um conhecimento
provável - possível de provar através de leges, rationes e auctoritas. Contudo,
assim como a minha solução pode ser provada, também a de outro jurista pode
ser, não existindo certo ou errado, mas sim opiniões mais ou menos prováveis, o
que obriga a um exercício de humildade e reconhecer o ponto de vista do outro.

Características: Analítico e problemático

87. ELEMENTOS DA “ARS INVENIENDI”


Leges - Textos: Indissociáveis dos argumentos, já que é a partir dos textos que
eles vão ser construídos.

★ Ferramentas essenciais para este elemento:

○ Gramática: Muito importante para entender, compreender e


interpretar os textos. Conceito especulativo e diferente do atual.
Dizia-se que aquele que sabia gramática numa língua a sabia em
todas, pois que esta era igual em todas as línguas salvo os
acidentes por existir uma lógica comum sempre.

○ Dialética: Arte da argumentação

Rationes - Argumentos: Servem para fundamentar as soluções, sendo


construídos através de ferramentas lógicas, racionais e razoáveis, com o uso das
artes trivium (gramática, dialética e retórica). Os argumentos podem ser de

9
A crítica moderna tem posto em causa a atribuição aos glosadores de uma feição meramente
teórico-científica, fundando-se em alguns textos medievais. Todavia, os Prof. Albuquerque não
consideram as fontes suficientes para esta conclusão ser retirada

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justiça, de razoabilidade, de utilidade, de maioria de razão, a contrario sensu,


de analogia, de completude, de coerência, de exemplo, de autoridade,...

★ Retórica ≠ Dialética: A retórica é representada por uma mão aberta ou


como uma mulher bem vestida para representar a possibilidade de
convencer o outro utilizando mais do que apenas o puro raciocínio lógico,
ao passo que a dialética é representada por um punho cerrado ou uma
mulher austera com uma arma preparada para “cortar”, evidenciando a
força da argumentação e do raciocínio para mostrar um ponto.

Auctoritates - Opiniões de quem tem auctoritas: Havia muitos juristas,


logo, como é normal, surgiam opiniões diferentes com auctoritas. Levou a que
surgisse a necessidade de criar alguns critérios de modo a dar mais segurança e
chegar a uma opinião comum (commune opinion).

★ Critério Quantitativo: Opinião que reúne a maior quantidade de


juristas/doutores. Começou a trazer problemas pois alguns dos maiores
juristas começavam a criticar as opiniões dos anteriores,
independentemente do número de apoiantes que tinham

★ Critério Qualitativo: O que importa passa a ser a opinião dos maiores


juristas, os possuidores de mais auctoritas, sendo irrelevante o número de
juristas desconhecidos que apoiam a posição. Surge na mesma a questão
de como escolher quando as opiniões divergem nos grandes juristas.

★ Critério Unistino: Defendia que devia prevalecer a opinião com a maioria


qualificada dentro dos juristas mais importantes e reconhecidos - maior
quantidade entre os melhores. Critério que prevaleceu a partir do séc.
XIV, apesar de ser alvo de críticas.

Construção das soluções para os casos: Acontecia através da conjugação


dos 3 elementos referidos acima. Primeiro, era colocado o problema, ou seja, a
quaestio10, e que podia ser respondido em muitos contextos diferentes (sala de
aula, universidade,...) através da aplicação de rationes para justificar a posição o
melhor possível. A solução era dada primeiro e só depois apresentada a
justificação - piada da pessoa que sabia todo o direito romano justinianeu a que
um jurista lhe dá a solução e pede o texto jurídico que a fundamente.

10
Género literário, para alguns o mais perfeito. A quaestio parte de um problema concreto ou
pergunta que é feita.

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88. O DIREITO ROMANO MEDIEVAL COMO DIREITO PRUDENCIAL. CONCLUSÃO E


SÍNTESE
Ius Commune: É constituído pelo método ars inveniendi. Há divergências entre
os autores na definição deste conceito porque também há divergências dentro
das fontes. Para falar em ius commune temos de ter em conta o renascimento
do direito romano justinianeu e o trabalho dos juristas sobre esse direito.

SECÇÃO V - DIREITO PRUDENCIAL. ESPECIFICAÇÃO DO CASO PORTUGUÊS

89. A PRIMEIRA CULTURA JURÍDICA PORTUGUESA. PRIMEIROS VESTÍGIOS DO


CONHECIMENTO DO IUS ROMANUM NA FORMA BOLONHESA
As relações que Portugal mantinha com os outros Estados da Península, França e
Itália numa época em que a cultura do direito romano, renovada pelos
glosadores, tomava tão grande incremento em todo o Ocidente europeu
convencem alguns da presença do direito romano em Portugal, havendo também
quem fale de uma doação feita por D. Afonso Henriques que invoca uma lei
romana. Todavia, a primeira prova, considerada pelos Prof. Albuquerque,
incontestada e incontestável do conhecimento do Direito Romano é o testamento
do bispo do Porto D. Fernando Martins (1185).

90. A “CHAMADA” RECEPÇÃO DO IUS ROMANUM


“Receção”: Pode ser vista num sentido de “difusão” ou num de “influência”

★ Influência: Impacto do direito justinianeu na legislação portuguesa

○ Prof. Gama Barros e Almeida Costa: Consideram que não é claro


que as influências romanistas na legislação portuguesa que se
notam já em leis do tempo de Afonso II provenham de
complicações de Justiniano, sendo possível que se originassem em
textos anteriores.

○ Prof. Gomes da Silva e Braga da Cruz: Consideram que as dúvidas


não têm razão de ser

91. PROGRESSIVA PENETRAÇÃO DO DIREITO ROMANO. A UNIVERSIDADE


Desde cedo nos aparecem alusões a obras dos glosadores. Para tal contribuiu
que os juristas portugueses fossem estudar em Bolonha e outras cidades
italianas, francesas e hispânicas, onde alguns lograram ensinar com prestígio,
bem como contribuiu a passagem de juristas italianos por Portugal.

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Universidade: A fundação em Lisboa do Estudo Geral confere à penetração do


direito romano um impulso decisivo, pois, apesar de já existir direito romano em
Portugal, o ensino circunscrevia-se às escolas das catedrais e dos mosteiros, que
ministravam, essencialmente, disciplinas do trivium e do quadrivium. Para
aprender teologia e direito os estudantes eram obrigados a ir para universidades
estrangeiras. Assim, o estudo dionísino, conferiu, entre outras licenciaturas, a de
direito canónico e a de civil, habilitando os licenciados a lecionar as matérias.
Apresentou a sua sede inicial em Lisboa, mas moveu-se em 1308 para Coimbra.

★ Metodologia de Ensino: Sabe-se muito pouco, todavia, considera-se


lícito afirmar que recorria a três diferentes espécies de exercícios:

○ Lectiones: Leitura e comentário de um texto legal

○ Repetitiones: Segunda lectura mais aprofundada

○ Disputationes: Debate público de questão jurídica determinada

92. MEDIAÇÃO CASTELHANA. OBRAS DOUTRINAIS DE JÁCOMO RUIZ. AS PARTIDAS E A


APLICAÇÃO DO DIREITO ROMANO
A difusão do direito romano em Portugal não se deu somente por receção direta,
tendo havido veículos intermediários, dos quais podemos destacar o direito
canónico, que a partir de uma dada altura se encontra penetrado pelo imperial, e
o direito castelhano, este último, não era puro, encontrando-se filtrado por
vários textos literários e jurídicos.

93. REFERÊNCIA À IURISDICTIO IMPERII E FUNDAMENTO DA VIGÊNCIA DO DIREITO


ROMANO. SIGNIFICADO ESPECIAL DO DIREITO ROMANO NO QUADRO DAS FONTES E A
SUA UTILIZAÇÃO POLÍTICA
Foi pelo labor dos juristas e pelo veículo difusor de outras ordens normativas que
se deu a recepção do direito romano em Portugal, tendo sido um processo à
margem do poder, mas que este acaba por acolher, por se refletir na legislação

Direito Romano Enquanto Direito Cesáreo: Não surge como manifestação de


uma superioridade do Império ou da sua jurisdição, já que o Rei de Portugal,
possui, como os restantes reis hispânicos, o seu reino e domínios livres, sem ter
superior na terra e só Deus no céu. A aplicabilidade do direito romano vai ser
uma consequência da cultura jurídica bolonhesa na portuguesa e das

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necessidades da vida jurídica no campo dos princípios e da racionalidade, mas


não de uma supremacia imperial.

★ Direito Romano em Portugal na Idade Média: A legitimidade da sua


vigência fundamentava-se na ideia de continuidade dos poderes políticos
dos imperadores para os monarcas portugueses, sendo os imperadores
considerados apenas os predecessores dos reis de Portugal. Deste modo,
os nossos monarcas sempre se sentiram livres para tanto afastarem como
proclamarem a aplicação do direito romano, conforme lhes fosse mais
conveniente, daí que se possa falar numa apropriação do direito romano
que passa a direito do reino. Importa referir que o processo português é
essencialmente idêntico ao dos outros países europeus.

94. A COMPROVAÇÃO DA PROBLEMÁTICA DA OPINIÃO COMUM EM PORTUGAL


A moderna historiografia nacional tem ligado o fenómeno da opinião dos
doutores ao período humanístico, apesar da opinião comum aparecer como
objeto autónomo na literatura jurídica. Em muitos documentos do séc. XIV a
opinião dos doutores encontra-se enumerada concretamente entre as diferentes
fontes de direito.

Opinião Comum - Álvaro Pais: Toda a obra deste autor denuncia um largo
apelo à teoria da razão provável e da opinião como meio de prova (argumento).
Pais aceita a opinião comum em função de um exame da respetiva bondade e
atento o seu caráter de argumento meramente provável.

★ Opinião: Algo contingente e hipotético, suscetível de consentir dúvidas,


daí a necessidade de ser comprovada, nomeadamente com recurso a
autoridades. Pode tanto ser vista como o que é provável ou verossímil,
como um meio de prova (ou argumento). Sobre o mesmo assunto podem
existir opiniões diversas ou contraditórias. Daí que se encontre recurso ao
que comumente afirmam os legistas, à qualificação de opiniões como
erradas e de autoridades como improcedentes, a opiniões como
verdadeiras e ainda a uma certa graduação de argumentos conforme o
seu valor relativo (mais ou menos forte). Todavia, o conhecimento
científico é considerado superior ao das opiniões.

○ Probabilidade do Argumento: Consequência da idoneidade do


arguente

95. RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO DO DIREITO COMUM


Esta resistência surge motivada quer por simples motivos fáticos como o número
escasso de juízes letrados e conhecedores do latim, quer por motivos sociais

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como, o caso do costume que ofereceu maior resistência, especialmente quando


dizia respeito aos grupos sociais - vindicta privada (privilégios da nobreza)

SEGUNDO PERÍODO

1 - AS FONTES DE DIREITO

1.9 - ORDENAÇÕES AFONSINAS

1.9.1. AS ORDENAÇÕES AFONSINAS. SUA ELABORAÇÃO


D. João I encarregou da ordenação das leis o corregedor da Corte João Mendes,
quando este faleceu, D. Duarte incumbiu o Doutor Rui Fernandes da prossecução
do trabalho, ficando apenas completo em 1446. Atualmente é difícil distinguir a
parte elaborada por João Mendes da parte elaborada pelo Doutor Rui Fernandes.

Livro I: Tem se defendido que foi esta a parte elaborada por João Mendes
devido à utilização de um estilo decisório em vez de um estilo compilatório, que
não é acompanhado nos restantes livros. Esta teoria encontra-se ultrapassada
não só pelo facto de haver referências no livro I aos livros mais à frente, mas
também porque João Mendes esteve muito tempo a trabalhar nas ordenações e
porque todos os livros parecem que tem intervenção de várias mãos. Deste
modo, o estilo decretório típico do livro I surge por causa dessa matéria, a
matéria em si é nova para o reino e por isso o rei pede que seja adotada um
estilo de escrita diferente.

1.9.2. SISTEMATIZAÇÃO DAS ORDENAÇÕES AFONSINAS


Ordenações Afonsinas: Cinco livros que se subdividem em títulos que,
geralmente, se desdobram em parágrafos.

★ Livro I: Ocupa-se dos cargos públicos

★ Livro II: Concerne à Igreja, clérigos, direitos do rei (regalie), fisco,


donatarias, nobreza, judeus, mouros

★ Livro III: Processo civil

★ Livro IV: Direito civil

★ Livro V: Direito penal

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1.9.3. APRECIAÇÃO DAS ORDENAÇÕES AFONSINAS


Importância: As ordenações afonsinas ocupam na galeria das fontes de direito
português um lugar importantíssimo pelo intuito a que obedeceram de tentativa
de reduzir o direito pátrio a um corpo devidamente organizado e sistematizado.

Problemas: Defeitos estruturais e método simples que consistiu em reunir


transcrever normas anteriores

Vigência: Pode se questionar até que ponto é que as ordenações tiveram um


grande aplicabilidade, dado que surgiam associadas ao infante D. Pedro, motivo
causador de resistência e pela dificuldade de disseminação devido à inexistência
de pressões. Todavia, o número de exemplares das ordenações levam a crer
que, mesmo assim, houve uma disseminação ampla.

1.9.4. FONTES SUBSIDIÁRIAS


O direito português não abarcava todos os casos possíveis e todas as matérias
jurídicas, existindo lacunas que precisavam de ser preenchidas. Para tal,
recorreu-se a outras ordens jurídicas. O direito subsidiário era constituído pelo
direito canónico e pelo direito romano.

Alteração do Sistema de Fontes com D. João I: Todo um processo de


redefinição que começa pela valorização da opinião de Bártolo.

★ Carta Régia de Abril de 1426: O rei explica as medidas tomadas para


obter a unificação jurisprudencial. Definindo que as causas julgadas pelo
direito justinianeu deviam ser julgadas conforme a interpretação conferida
pela Glosa de Acúrsio e pelas Conclusões de Bártolo. Todavia, acontece
que a carta não definia se os comentários de Bártolo deviam ser tomados
como fonte principal de direito ou como mera fonte subsidiária ou qual a
posição relativa de autoridade de Acúrsio e Bártolo.

★ Regimento Quatrocentista da Casa da Suplicação: O texto em causa


demonstra que, no mais alto tribunal do país, se entendia que se devia
aplicar em primeiro lugar o direito romano, com prevalência para os
ensinamentos de Bártolo. Todavia, isto não significa que fosse,
efetivamente, o direito romano o utilizado na generalidade dos tribunais
devido à escassa preparação jurídica do grande número de magistrados,

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alguns nem eram letrados, à raridade e valor dos livros, não existindo,
ainda, a imprensa.

○ Ordenações Afonsinas: Face ao regimento, o legislador vai acentuar


no prefácio das ordenações a prioridade do direito nacional sobre o
direito romano e a autoridade dos seus cultores.

Fontes Definida nas Ordenações:

★ Fontes das Ordenações: Leis régias, costume, direito romano, direito


canónico, direito judicial, estilo, siete partidas, direito local,.... Fontes
aplicadas no séc. XV para resolver casos

★ Fontes Imediatas de Direito: Lei do reino, estilo da corte e costume


antigo - direito pátrio.

★ Fontes Subsidiárias: Por ordem hierárquica (livro II, título ix)

○ Direito Romano: Nas coisas intemporais, exceto se, contrariando o


direito canónico, fizesse incorrer em pecado11

○ Direito Canónico: Em matéria espiritual, temporal de pecado ou em


que o direito romano não estatuísse
■ PROF. DUARTE NOGUEIRA: Restringe o campo de aplicação
do direito canónico a favor da Glosa de Acúrsio e da
autoridade de Bártolo por considerar que a lei romana vai ter
o caráter de direito comum dentro do âmbito subsidiário,
pelo que, em caso de falta de estatuição, se passaria logo
para o glosa de acúrsio e opinião de bártolo, servindo o
direito canónico apenas para matérias espirituais ou de
pecado.
■ PROF. ALBUQUERQUE: Defendem que o direito canónico era
fonte subsidiária antes de Acúrsio e Bártolo, em acordo com
o direito romano, quando estatuísse nos casos nele omisso e,
nas hipóteses de desacordo, sempre que se tratasse de
matéria espiritual ou temporal. Por seu turno, o direito
romano constituía direito subsidiário quando estivesse em
conformidade o canónico, bem como no caso de matéria
temporal que não fosse pecado. Só esgotadas todas estas
possibilidades se recorria a Acúrsio e depois Bártolo.

○ Glosa de Acúrsio

11
não é a matéria do caso que é de pecado, a solução criada pelo direito romano é que criaria
pecado

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○ Opinião de Bártolo: A opinião de Bártolo valeria mesmo que se


contra ela estivesse a dos demais, ou apenas alguns, doutores.
Todavia, a opinião dos doutores constitui fonte jurídica suscetível de
ser atendida pelo rei em desfavor do direito canónico. As próprias
ordenações invocam frequentemente o parecer dos doutores.

○ Resolução Régia

1.10 - ORDENAÇÕES MANUELINAS

1.10.1. AS ORDENAÇÕES MANUELINAS


A invenção da imprensa constituiu meio de comunicação das leis de
extraordinária importância, tendo sido utilizado para a sua difusão. Assim, por se
reconhecer a necessidade de uma revisão da compilação afonsina, D. Manuel
confiou, em 1505 a vários jurisconsultos o encargo de as reformar e ampliar.

1.10.1. A QUESTÃO DAS EDIÇÕES. AUTORES


Edições:

★ 1512-1513: Está concluída a primeira versão. Apareceram impressos por


Valentim Fernandes do primeiro e do segundo livro das ordenações.
Durante muito tempo se discutiu se todos os livros tinham sido
reeditados, ou se apenas alguns já que só se encontravam exemplares
dos Livros I e II. No final do séc. XX, o Prof. Alves Silva encontrou
exemplares na biblioteca do Vaticano de todos os livros.

★ 1514: Foram estampados por João Pedro de Bonhomini todos os cinco


livros. Edição quase igual à anterior.

★ 1517-1518: Nos 500 anos das ordenações (edição de 1512-1513), foram


encontradas páginas de uma edição da ordenação que terá sido publicada
entre 1514 e 1521 a servir de enchimento na capa.

★ 1521: Pelo facto de terem aparecido novas e significativas leis, D. Manuel


ordenou uma revisão definitiva que foi impressa em 1521, mandando sob
severíssimas penas que se destruísse os exemplares das impressões
velhas.

★ 1539: Esta edição já contém variantes em relação ao texto da de 1521

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Luísa Braz Teixeira

Autores: Drs. Rui Boto, Rui da Grã, Cristóvão Esteves, João de Faria, João
Cotrim e Pedro Jorge,...

1.10.3. SISTEMATIZAÇÃO DAS ORDENAÇÕES MANUELINAS


A divisão interna das ordenações manuelinas é idêntica à das ordenações
afonsinas, sendo a sua principal diferença o estilo decretório ou legislativo das
ordenações manuelinas (que encontramos apenas no primeiro livro das
afonsinas). O conteúdo manteve-se, essencialmente, o mesmo, apesar de
algumas adições, mudanças e eliminações.

1.10.4. APRECIAÇÃO DAS ORDENAÇÕES MANUELINAS


Há quem entenda que, por já não se tratar de apenas uma recolha de leis
transcritas segundo uma certa ordem, mas sim de uma compilação onde as leis
surgem como determinações novas, ainda quando, na verdade, provenham de
reinados anteriores, se está perante um código. Os prof. Albuquerque não
considera que tal asserção possa ser considerada em termos absolutos, todavia,
mostra como as ordenações representam um progresso do ângulo da técnica
jurídica.

1.10.4. FONTES SUBSIDIÁRIAS


Fontes Definida nas Ordenações:

★ Fontes Imediatas de Direito: Lei do reino, estilo da corte e costume


antigo

★ Fontes Subsidiárias: Por ordem hierárquica

○ Direito Romano: Império da razão. Utiliza-se mesmo se os cânones


determinem em contrário, excepto se causar pecado.

○ Direito Canónico

○ Glosa de Acúrsio: Quando por comum opinião dos doutores não for
reprovada, esta pode se sobrepor.

○ Opinião de Bártolo: Limitada pela opinião divergente de alguns dos


doutores que depois dele escreverem por terem uma opinião mais
conforme à razão - manifestação de influências do humanismo
jurídico. Todavia, faz-se tábua rasa tudo o que fica para trás de
Bártolo, excepto Acúrsio, já que este só pode ser contraposto pela
opinião de juristas posteriores

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○ Resolução Régia

LEIS EXTRAVAGANTES DE DUARTE NUNES DE LEÃO


1566: Coletânea manuscrita que surge como coleção particular do próprio D.
Duarte Nunes de Leão para uso da casa de suplicação. Está dividida em 4 partes.

1569: Surge uma nova coletânea já impressa e que, para além de compilar as
leis, as vai sumariar, para depois um diploma régio lhes dar força. Está dividida
em 6 partes.

1.11 - ORDENAÇÕES FILIPINAS

1.11.1. AS ORDENAÇÕES FILIPINAS


Durante o reinado de D. Filipe I verificou-se uma larga atividade renovadora do
campo do Direito, criando-se a relação do Porto, a lei da reformação da Justiça e
dando-se a reforma das ordenações. Estas estavam terminadas em 1595, mas
só começaram a vigorar no reinado de D. Filipe II, em 1603, mandando cessar a
vigência de todas as leis extravagantes, excepto as ordenações de fazenda, os
artigos das sisas e as que estivessem transcritas num livro da casa da suplicação

Autores: Jorge Cabedo, Afonso Vaz Tenreiro e Duarte Nunes de Leão,...

1.11.2. SISTEMATIZAÇÃO DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS


Essencialmente idêntica às anteriores, mas com o aditamento de leis posteriores
e a remoção de leis que tinham entretanto sido revogadas.

1.11.3. APRECIAÇÃO DAS ORDENAÇÕES FILIPINAS


Prof. José Veríssimo Álvares da Silva: Chama de “filipismos” os defeitos e
contradições destas ordenações

Prof. Albuquerque: Apesar dos “filipismos” não as consideram “filipistas” no


sentido de espanholizantes.

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Duração: Muito longa visto que D. João IV12 as confirmou em 1643. Vigoraram
até ao séc. XIX em Portugal, XX no Brasil, não obstante de ter ocorrido algumas
alterações ao longo do tempo.

1.11.4. FONTES SUBSIDIÁRIAS


As ordenações filipinas conservaram na íntegra o sistema de fontes de direito
subsidiário estabelecido nas Ordenações anteriores, todavia, deslocaram essa
matéria para outra sede: da parte concerne às relações da Igreja e do Estado
para o livro dedicado ao direito processual (Livro II para Livro III - título 64).

Prof. Braga Cruz: Considera que esta alteração simboliza o quebrar do


problema inicial do direito subsidiário de conflito de jurisdição entre o poder
temporal (direito romano) e o poder eclesiástico (direito canónico). O texto
manuelino já conseguia superar essa ideia pela redação de uma nova epígrafe,
todavia tinha ficado ainda preso ao enquadramento formal por inserir no livro
respeitante às relações Estado-Igreja. Agora, com a reforma filipina, o legislador
toma noção da necessidade de quebrar essa relação.

Bartolismo: Apesar da delimitação da autoridade de Bártolo pela opinião


comum dos doutores, este período das ordenações filipinas vai ser o momento
de maior intensidade do bartolismo, imperando a opinião de Bártolo nos
tribunais e no ensino, onde se institucionalizará.

1.12 - LEIS EXTRAVAGANTES

1.12.1. LEIS EXTRAVAGANTES


Várias leis que não estavam incluídas nos grandes corpos legais, já que as
Ordenações não impediram que se continuasse a legislar.

CONTEXTO DO SÉC. XV

PORTUGAL
Nova dinastia: Produto da revolução de 1385 que tinha uma legitimidade muito
própria vinda do apoio da população e dos conselhos ao Mestre de Avis, e depois
rei, D. João I. Este era o sucessor legítimo segundo as regras de sucessão que
existiam, à data, em Portugal, tendo sido a sua sucessão confirmada pelas
12
D. João pretendia fazer-lhes uma reforma, todavia, tal não chegou a ter lugar, tendo havido uma
tentativa já no séc. XVIII - questão do novo código - mas que ocorreu fora do seu reinado

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cortes de Coimbra, onde muitos falam da “eleição de um rei”, no sentido deste


ter sido escolhido. Mestre João das Regras, jurista, concebe a defesa de D. João.

Início da Expansão: Dá-se a conquista de Ceuta em 1415 que é um marco,


ainda que um sucesso militar, um fracasso económico e político.

Centralização do Poder Régio: e à acumulação de rendimentos na coroa.


Marca o seu início com a conquista de Ceuta

EUROPA
Centralização do Poder: Afirmação de uma máxima “rex est imperator in
regna sua” - “o rei é imperador no seu reino”. Decadência do poder do
sacro-império e afirmação cada vez mais visível do poder de cada rei e
governante no seu território

Ideia de Estado: Começam a surgir as condições que vão permitir que passe a
existir a ideia de Estado desde o séc. XIV com a afirmação dos comentadores e
destes com os iura propria.

SEGUNDA ESCOLÁSTICA (INÍCIO DO XVI-XVII):


Local: Nasce na Península Ibérica (primeiro em Espanha e depois em Portugal).
Traz muitos elementos novos para a reconstrução e renovação do direito.

Lapso Temporal: De Francisco (Vitória) a Francisco (Suarez)

★ Contexto Político: Estes autores são contemporâneos da reforma


protestante que defendia que o poder vinha de Deus para os governantes,
não passando pela comunidade

Direito Internacional Público: Durante muito tempo, defendeu-se que tinha


sido criado por Gróssio. Todavia, sabe-se agora que o verdadeiro criador foi
Vitório, ainda que sobre o nome de “direito das gentes”, retomando do direito
romano, disciplina que ia regular as relações entre povos (não Estado pois essa
concepção ainda não existia)

Origem do Poder Político: Esta escolástica vai tentar renovar o pensamento


de S. Tomás e adaptar-se às novas circunstâncias. Deste modo, acredita-se que

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o poder político vem de Deus para a comunidade, e que desta é transferido para
os governantes, o que significa que quando os governantes não cumprem o fim
para o qual o poder lhes foi delegado, a comunidade, exercendo o seu direito de
resistência de vertente ativa, lhes pode retirar o poder e substituí-los por outros.

Correntes da Segunda Escolástica:

★ Corrente Dominicana: Primeira corrente. Representada por Francisco de


Vitória e Domingo de Soto. Mais agarrados ao pensamento de S. Tomás.
Estes dois autores viveram e estudaram em Salamanca, onde estava o
Colégio Santo Estêvão, colégio dominicano que preparava os missionários
para o novo mundo, pelo que estes juristas conheciam muito bem o que
se passava com a colonização espanhola na américa latina devido à
correspondência entre os que ficavam em espanha e os missionários que
relatavam os abusos cometidos pelos espanhóis

★ Corrente Jesuíta: Segunda corrente. Representada por Luís Molina e


Francisco Suárez. A colonização já não é vista como um facto tão
relevante, mas sim como um facto consumado. Ao invés o foco é colocado
na europa, na reforma do protestantismo e nos conflitos políticos.

Construção da concepção de direito e de direito subjetivo: Devemos, em


grande medida, aos autores da segunda escolástica

HUMANISMO
Doutrina mais antiga: Distingue a segunda escolástica do humanismo, como
correntes diferentes.

Doutrina mais recente: Muitos autores têm seguido uma opinião que vê a
segunda escolástica como uma forma de humanismo jurídico que, de alguma
maneira, permite o cruzamento de ideias humanistas com ideias muito próprias
e típicas do contexto da península ibérica, pois nesta vivia-se um ambiente de
expansão, tema em que os autores da segunda escolástica se vão focar

Humanismo Jurídico: O movimento humanista teve, também, a sua projeção


no campo do direito, traduzindo-se no humanismo jurídico. Esta era uma
contestação da metodologia medieval, nomeadamente à lição de Bártolo e a
toda a escola por ele encabeçada em nome de critérios filológicos.

★ Wiecker: Compara o processo humanista de regresso às fontes jurídicas


autênticas ao retorno à pura escrita do texto bíblico grego.

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★ Lorenzo Valla: Mais polémico antibartolista. Vai ser criticado por ter uma
visão estática.

★ Atitude filológica: Desta postura decorrem importantes consequências


espirituais, dado que os problemas de palavras desenvolviam muitas
vezes uma filosofia de base com profundas repercussões e implicações
substanciais. Insere-se na renovatio.

○ Renovatio: Renovação intelectual, no amor às bonae litterae, que


pressupõe toda uma atitude moral e espiritual

Crítica dos Humanistas aos Juristas Medievais: Acusavam-os de ter


obliterado e deturpado o direito romano, dizendo que aquilo que se designava de
direito romano não era, na verdade, direito romano. O que os juristas da idade
média ensinavam e aplicavam como direito romano era um direito formado por
glosas e glosas onde a letra da lei se perdia completamente de vista. Também
acusam os juristas medievais de um estudo desorganizado, procurando instaurar
um estudo mais sistemático através de uma reforma do estudo da lei.

★ Exigência de Valla e Poliziano: Pediam que se procedesse a uma


restituto, ou seja, um regresso ao puro texto da lei.

Crítica dos Humanistas aos Direito Justinianeu: Estes juristas chegam à


conclusão que o direito justinianeu não era, ele mesmo, o direito aplicado pelos
romanos em Roma, por culpa de Triboniano, o compilador do corpus iuris civilis.
O texto original de Justiniano tinha sido objeto de uma subversão pelo ius
commune, devendo-se colocar em causa todo o corpus iuris como livro
autoritário e quase sagrado.

★ Exigência: Pretendia-se um juízo sobre a compilação e a restituição do


texto autêntico de Justiniano. Abriu portas para a discussão e valoração
crítica, substituindo-se, deste modo, a autoridade pela liberdade frente ao
texto e razão.

Reformulação do Direito Natural: Os humanistas defendiam que o direito


natural deveria ser visto de uma forma racionalista coincidente com o “mito do
direito romano clássico” que não lhes era acessível, mas a que eles queriam
chegar, pois achavam que era nesse romano clássico que estava positivados os
princípios de direito natural.

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Humanismo Jurídico em Portugal: Teve, desde cedo, reflexo nos juristas


portugueses, visto que alguns dos nossos estudantes em Itália viveram no
círculo de relações iniciadoras do movimento no campo do direito. Todavia, o
humanismo jurídico ficou, em Portugal extremamente limitado, dado que esses
juristas educados na prática dos humanistas ou não regressavam a Portugal, ou
quando regressavam, em contacto com a vida prática, perdiam todas as ilusões
filológicas, historicistas e racionalistas, ou então desinteressaram-se mesmo do
direito. De tal modo que Bártolo continua legislativamente consagrado como
fonte de direito.

AS DIFERENTES FONTES DO PLURALISMO MODERNO

HIERARQUIA
1º Lei ou Carta de Lei: Tem um papel crescente que já vinha do período
anterior. Há reinados em que existe uma produção legislativa muito superior à
de outros (reinado de D. João III, D. Sebastião, D. Filipe I, D. Filipe II, D. Pedro
V, D. José). A maioria das matérias reguladas eram de direito público. O prof.
Hespanha fez uma estatística que mostra como apenas cerca de 5-7% da
legislação era sobre direito privado.

2º Alvarás: Só deviam ter duração de 1 ano, mas muito deles duraram mais
tempo.

★ Alvará com força de lei: Alvará com a mesma força da lei

3º Decretos: Diplomas régios que se dirigem a um tribunal ou a ministro para


um caso particular, mas, às vezes, não deviam ter, mas têm, disposições de
aplicação mais ampla

4º Cartas Régias: Cartas com uma ordem dirigida a alguém vindas do rei

5º Resolução Régia: Respostas do rei a um caso concreto a questões feitas


pelo tribunal

6º Outro Atos Praticados por certos órgãos em nome do rei:

★ Provisões dos Tribunais: Emitidas pelos tribunais

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★ Portarias ou Avisos: Emitidas pelos secretários de estado (portarias com


âmbito mais geral, avisos comum destinatário concreto)

7º Estilo: Costume judicial. Houve uma tentativa de o tentar uniformizar de


modo a que só vigorassem os que fossem conhecidos que deviam ser os da Casa
da Suplicação, todavia os dos tribunais da relação também consideravam os seus
estilos vinculativos.

8º Costume: Costume antigo que por razão se deve guardar. Há um enorme


debate acerca dos requisitos que o costume vai ter de ter. A nível local era a
fonte mais importante, todavia tanto a lei como a doutrina vão tentar limitá-lo.

9º Direito Canónico:

★ Concílio de Trento: Tinha como objetivo a contra-reforma, ou seja, a


reforma da Igreja Católica para responder à reforma protestante. Vai se
organizar, por ordem do Papa, na cidade de Trento em três períodos
diferentes e emitir muitíssimos decretos.

○ Duração:
■ 1545 - data de início do concílio
■ 1563 - data final, não porque o concílio esteve reunido este
tempo todo, mas porque estiveram reunidos em períodos
mais curtos (45-48; 51-52; 62-63)

○ Aplicação dos diplomas em Portugal: Mandados aplicar pelo Cardeal


D. Henrique, à data regente do reino.

★ Protestantismo: Via a inquisição, não produz efeitos quase em Portugal,


ou na Península Ibérica

★ Beneplácito Régio: D. João II vai revogar o beneplácito régio para


depois D. Sebastião o restabelecer

10º Direito Romano: As ordenações dizem que é subsidiário, mas, no ciclo


erudito, não era visto assim. O trabalho prudencial era todo feito em torno do
direito romano justinianeu por ser aquele que era estudado nas universidades13,

13
Em Portugal o direito pátrio não foi lecionado nas universidades até à reforma pombalina

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os juristas aprendiam direito romano e direito canónico, sendo dada uma


supremacia ao direito romano14.

★ Opinião Comum: Defesa da opinião comum no seu critério misto


(importa a qualidade da pessoa que escreve e a quantidade de juristas
que assinam essa opinião). Os juristas dizem que é isso que importa mas
depois quando olhamos para as suas obras vemos que não é isso que
prevalece, o que encontramos nas obras dos juristas do séc.
XVI/XVII/XVIII é um critério meramente enunciativo ou quantitativo - eles
exprimem uma opinião e depois dizem “tal como diz” e mencionam uma
série de nomes, acabando por ser um critério meramente quantitativo,
sendo feita uma acusação de falta de rigor técnico e qualidade e de
retorno ao bartolismo a partir do séc. XVII, sem menção aos juristas
posteriores e, por isso, violando o que estava nas ordenações.

11º Forais: Não surgem referidos nas ordenações. Vai haver, primeiro uma
tentativa não bem sucedida, e depois bem sucedida de reformar os forais.

★ Primeira Tentativa:

○ 1462-1463: Primeira tentativa de reforma ainda no reinado de D.


Afonso V, devido às queixas nas cortes de 1462-1463 (ocorrem
entre Évora e Coimbra) pelos concelhos que acusam a
desatualização dos forais, pois alguns já eram muito antigos, outros
ainda vinham em latim, mencionavam moedas que já não
existiam,... Todavia, o pedido não vingou.

★ Segunda Tentativa:

○ 1481-1482: Segunda tentativa de reforma já no reinado de D. João


II, devido às queixas nas cortes de 1481-1482 (ocorrem em Évora,
Viana do Alentejo). O rei vai ordenar que lhe sejam enviados todos
os forais. Por razões que não conhecemos, a reforma não teve lugar
nessa altura.

○ 1495: Nas cortes de 1495 em Montemor-o-Novo, em que já era rei


D. Manuel, os concelhos se vão queixar que não houve seguimento
da reforma, pelo que este rei vai ordenar que se faça a reforma.

○ 1486: O rei nomeia uma comissão que compreende Rui Boto, o


chanceler mor, João Fogaça, o desembargador, e Fernão de Pina,

14
A lei da boa razão refere que, nesta altura, quando havia uma contradição entre o direito
romano e a lei régia, esta era interpretada do modo mais restrito possível, mas quando os dois
direito concordavam, a interpretação era o mais extensa permitido

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todavia pensa-se que, mais tarde, também Rui da Grã terá


prestado auxílio.

○ 22 de Novembro de 1487: Ordem do rei por carta régia para que


todos os forais sejam recolhidos e revistos, prosseguindo a reforma
durante o reinado de D. Manuel, trabalho que foi muito extenso.

○ 1520: Sabemos que a reforma está concluída porque são


devolvidos 589 forais aos concelhos. O texto volta, assim,
uniformizado, já sem os sinais da autonomia que os concelhos
tinham, acabando esta reforma por ser um pretexto para retirar
autonomia aos concelhos.
■ FORAIS VELHOS: Forais anteriores à reforma
■ FORAIS NOVOS: Forais reformados
■ FORAIS NOVÍSSIMOS: Forais posteriores à reforma

LEI
Instituição Responsável Pela Publicação: Chancelaria Mor

★ Vacatio Legis: 3 meses para o povo, 8 dias dentro da corte15

Interpretação da Lei: Podia ser feita interpretação autêntica pelo rei

★ Assentos: Foram criados por uma lei de D. Manuel que depois vai
integrar as ordenações, tendo vigorado desde 1518 até ao séc. XX e
delegavam a interpretação autêntica à casa da suplicação (equivalente ao
nosso atual supremo tribunal de justiça). São decisões interpretativas da
lei quando há dúvidas sobre a interpretação a levar a cabo, ou porque o
juiz tem dúvidas e considera importante a intervenção da casa da
suplicação, ou então porque o chanceler, quando vai publicar a decisão, vê
nela algum erro interpretativo, podendo suscitar a intervenção do regedor
que depois designará os desembargadores, dando também lugar a um
assento. Esta interpretação era considerada interpretação autêntica.
Alguns outros tribunais julgavam-se também eles detentores desta
faculdade:

○ Casa do Cível: Primeiro em Lisboa e depois passa para o Porto em


1582 ordem de Filipe I e passa a chamar-se Tribunal da Relação do
Porto (tribunal de última instância e instância intermédia em
algumas causas)

15
Esta exceção foi introduzida apenas nas ordenações manuelinas

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○ Relações Ultramarinas: Havia uma na Índia, a de Goa criada em


1544, duas no Brasil, uma em S. Salvador da Bahia criada em 1609
e a do Rio de Janeiro criada em 1751

RACIONALISMO JURÍDICO
Corrente muito ampla que vai conter várias outras correntes

ESCOLA DE DIREITO NATURAL


Escola de Grócio e dos seus seguidores.

Autores:

★ Grócio: Vai ser um autor de transição ainda muito ligado à segunda


escolástica que nasce no fim do séc. XVI. Vai tentar autonomizar o direito
natural enquanto uma realidade apenas humana, negando a natureza
teológica e a origem divina direta do direito natural. Grócio vai tentar criar
uma certa autonomia para a área jurídica e o direito natural.

★ Samuel Pufendorf: O autor seguinte, já vai vincar muito mais essa


autonomia. O direito natural vais ser visto como algo autónomo, racional,
necessário e que decorre da própria razão humana para todos os Homens.
Vai se libertar por completo o direito natural da sua origem teológica pois
vai defender que, mesmo que Deus não existisse, haveria direito natural.

Individualismo: Afirmação do individualismo que, retomando muito Aristóteles,


se vai orientar num sentido diferente quer da primeira, quer da segunda
escolástica, pois nestas o que prevalecia era o elemento solidário, o bem da
comunidade, mas para Grócio o que importa é aferir como é que o Estado pode
servir as necessidade individuais dos Homens, estando os direitos do indivíduo à
frente da comunidade.

★ Estado: Afirmação do estado enquanto portador de uma natureza


societária, e não mais comunitária, no sentido em que o Estado agora
resulta da combinação das vontades racionais dos indivíduos que a
integram.

★ Razão: O homem deixa de ter de se justificar pela razão de Deus,


passando a usar a sua própria razão.

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Direito Natural: Vai se basear num conjunto de princípios que partem do


direito privado

★ Respeito pela propriedade

★ Cumprimento dos contratos: Boa fé que se deve aplicar tanto entre


pessoas como entre Estados

★ Indemnização pelos danos causados a outro

USUS MODERNUS PANDECTARUM16


Lapso Temporal: Corrente da segunda metade do séc. XVII e que vai ter
expressão principalmente no séc. XVIII.

Influências: Vai recuperar muitas das críticas do humanismo feitas aos


medievais, e dirigi-las aos modernos por continuarem a seguir o mesmo método,
baseadas na falta de preocupações filológicas, históricas, autonomia das
fontes,...

Preocupação Central: Retirar do direito romano justinianeu apenas aquilo que


era determinante para regular tempos atuais, ou seja, limpar este direito para
que fique apenas o que continua vivo. O modo de saber o que continua vivo é
através do direito natural, o usus modernus vai cruzar o direito romano com os
critérios do direito natural para aferir o que ainda está vivo. Teve uma enorme
influência em Portugal mas apenas no fim do séc. XVIII.

HUMANITARISMO JURÍDICO
Lapso Temporal: Corrente do séc. XVIII.

Propósito: Defende a reforma do direito penal e do processo penal, a supressão


dos crimes de natureza religiosa, as penas com uma finalidade essencialmente
preventiva, a ideia de reabilitação do delinquente, a proporcionalidade entre os
crimes e as penas, a eliminação das penas corporais ou difamantes, alguns
defendiam a abolição da pena de morte ou a sua aplicação a somente casos da
mais extrema gravidade.

★ Princípios: A lei penal tem de ser prévia, escrita e certa. Estes princípios
vão ter expressão em todos os direitos penais europeus, e não só, e são
ainda hoje os nossos princípios do direito penal e processual penal
16
Uso moderno das pandectas (digesto), ou seja, uso moderno do direito romano justinianeu

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ILUMINISMO
Vai haver diferenças consoante o país em análise. Todavia, esta corrente vai,
geralmente (menos em França), conviver com o absolutismo, já que não haver
iluministas a conviver perto dos monarcas, tendendo tal acontecimento a
produzir consequências revolucionárias.

Plano Jurídico: Valorização dos direitos originários e que o próprio direito


natural consagra, especialmente na área do Humanitarismo jurídico.

LEI DA BOA RAZÃO


Surge em 18 de agosto de 1769 e o seu nome vem da utilização do termo “boa
razão” em vários momentos. Vai preparar o humanismo jurídico em Portugal.

Estilo: Vem dizer que o estilo tem servido para se falsear e fraudar a lei do
reino, algo que não pode ser admitido. Assim, estabelece que o estilo da corte
deve ser somente considerado aqueles que se encontre estabelecido e aprovado
por assento na casa da suplicação (só este é que pode ser invocado)

Costume: Vem introduzir três requisitos para que o costume possa vigorar: ser
conforme a boa razão (razão humana jusnaturalista), não ser contrário à lei e
ser tão antigo que exceda o tempo de 100 anos17.

Direito Romano18: É criticado por ser utilizado em excesso, sobrepondo-se às


leis pátrias, e por ser utilizado, erradamente, para interpretar o direito pátrio19.
Para evitar estes abusos, já que o direito romano só devia entrar depois de
esgotado o direito pátrio, vai questionar a idoneidade e autoridade do direito
romano e determinar uma nova aplicação com novos critérios de racionalidade e
atualidade que tem de ir em conformidade com o direito natural, o direito divino
e o direito das gentes (clara influência do usus modernus pandectarum).

★ Nova Aplicação: O direito romano só se pode aplicar quando for


conforme à boa razão (esta passa a ser um critério de seleção).
Determina a utilização, também de novos critérios de racionalidade e
atualidade que tem de ir em conformidade com o direito natural, o direito

17
este prazo é alongado, visto que antes a maioria dos juristas só requeria 100 anos
18
parágrafos 9, 10 e 11
19
quando havia uma contradição entre o direito romano e a lei régia, esta era interpretada do
modo mais restrito possível, mas quando os dois direito concordavam, a interpretação era o mais
extensa permitido

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divino e o direito das gentes (clara influência do usus modernus


pandectarum)

★ Interpretação: Passa a ficar vedada que a interpretação tome como base


este direito, pois é considerado que isso ia impedir o sossego público e a
própria segurança jurídica e que, por isso, não podia continuar. Depois
desta proibição e de todas estas críticas, vamos encontrar um espírito
muito pragmático do legislador que vai permitir que estas interpretações
continuem a ocorrer, desde que se deduzisse do espírito da lei, devido ao
facto de esta ser já uma prática completamente consolidada.

Leis das Nações Cristãs Iluminadas e Polidas: Introdução de uma nova


fonte de direito subsidiário, pois é mais racional recorrer a estas leis das nações
cristãs iluminadas e polidas do que recorrer ao direito romano, que já estaria
desatualizado, no que se reportasse a matérias políticas, económicas, mercantis
(comerciais) e marítimas, quando o direito pátrio estivesse em falta. Este é um
critério muito amplo, dando uma grande margem aos juízes, pois também havia
discussão relativamente a quais as nações passíveis de ser consideradas
“iluminadas e polidas” e quais as leis corretas para aplicar dentro dessas.

Abusos na Aplicação do Direito Canónico20: O legislador diz que há grandes


abusos porque se usa o critério do pecado, não para afastar o direito romano
como as ordenações pretendiam, mas sim para afastar as leis régias. Assim,
utiliza-se este pretexto para revogar tudo aquilo que, neste ponto, estava nas
ordenações, pois o direito canónico deixa de poder ser aplicado quer nos
tribunais régios, quer nos civis (possível influência do Humanitarismo Jurídico).

Glosa de Acúrsio, Opinião de Bártolo e Opinião Comum21: São fortemente


desvalorizadas por uma crítica que faz recordar as críticas mais radicais do
humanismo por dizer que os glosadores e comentadores nada sabiam de
filologia, direito natural e divino, história romana,..No fundo, ataca-os como se
estes fossem profundamente ignorantes. Manda que estas fontes não possam
mais ser alegadas ou seguidas.

Assentos22: Regula com muito pormenor como é que eles deviam surgir, ser
elaborados e aprovados. Cria também uma nova forma de produção de assentos
que surgiria da existência de uma opinião divergente dos advogados das partes
relativa ao conteúdo de uma lei, em que o juiz devia suscitar a intervenção da

20
parágrafo 12
21
parágrafo 13
22
parágrafo 1 a 8

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casa da suplicação para se emitir um assento interpretativo. Acentua a exigência


de publicidade dos acentos e a sua natureza geral e vinculativa, dando-lhes o
mesmo valor que as leis régias, tendo como objetivo interpretá-las. Explica a
razão pela qual os tribunais da Relação do Porto, da Bahia, do Rio de Janeiro e
de Goa não estão habilitados para emitir os assentos que, por costume contra
legem, emitiam, reservando esta faculdade para, exclusivamente, a Casa da
Suplicação. Assim, as interpretações feitas nestes tribunais, para se tornarem
vinculativas, tinham de ser aprovadas pela casa da justiça.

REFORMA DOS ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS (1770-1772)

IDEIA
Objetivo: A vontade de reforma partiu diretamente do Marquês de Pombal que
pretendia, com ela, por fim ao domínio dos Jesuítas do ensino em geral e, em
especial, das Universidades de Coimbra e Évora.

Luís Verney: Esta reforma insere-se numa reforma mais vasta que nem
começou pelo ensino universitário e que foi defendida por Luís Verney, este que
preconizava, para o ensino do direito, um método de ensino sintético e
compendiário que compreendesse o estudo histórico-jurídico, do direito pátrio.

PROCESSO
Comissão: É nomeada uma comissão em 1770 chamada de “Junta de
Providência Literária” para identificar as causas de decadência do ensino
universitário e propor medidas para reformar esses estudos.

★ Relatório da Comissão: Em 1771 é apresentado um relatório muito


crítico, o Compêndio Histórico da Universidade de Coimbra, de todos os
cursos da Universidade. Neste relatório vão repetir muitas das críticas de
Verney, apresentando o ensino universitário como se estivesse num
estado completamente caótico.

○ Críticas ao Ensino Jurídico:


■ Omissão do direito pátrio
■ Abuso do bartolismo e da opinião comum dos doutores
■ Falta de método ou uso de um método errado e o estudo de
direito, sem qualquer critério, que estava já abolido
■ Falta de preparação dos alunos que se candidatavam para os
estudos jurídicos que não sabiam latim, grego, retórica,
lógica, filosofia,... tudo disciplinas fundamentais para o

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estudo jurídico, sendo aqui que a crítica aos jesuítas era mais
forte.
■ Importância de estudar o direito natural, o direito das gentes
(lei que a natureza dita às nações para manter entre elas a
paz, o sossego, regular os seus respectivos interesses e para
decidir as suas contendas), que vai ser o antecessor do
direito internacional público e a história do direito e dos
respetivos povos e nações.

○ Sugestão: As novas disciplinas dever-se-iam associar a um novo


método (sintético-compendiário) que conjugava teoria e prática
com o uso moderno das leis civis ou canónicas, sendo que ainda só
cerca de 1/20 do direito romano fazia sentido ainda estudar. O
Compêndio vai concluir com a necessidade de reformar
inteiramente o estudo jurídico. Assim, vai enfatizar a necessidade
de revogar os antigos estatutos e criar novos. O ensino do direito
pátrio que até à data estava afastado do ensino na universidade vai
ser agora estudado.

1772: Apresentação e aprovação dos novos estatutos

NOVOS ESTATUTOS (ESTATUTOS POMBALINOS)


Vão completar, em certa medida, a lei da boa razão e ajudar a interpretá-la.

Reforma do Corpo Docente: Para além da reforma dos estatutos, vai também
haver reforma do corpo docente já que são despedidos os professores anteriores
e contratados novos professores, pois esperava-se que assim seria possível o
cumprimento do novo programa de ensino.

Formação Prévia dos Estudantes: A reforma vai exigir uma sólida formação
prévia dos seus estudantes (têm de aprender latim, retórica, lógica, metafísica,
ética, grego,...).

Questão da Unificação dos Dois Cursos: Foi levantada a questão sobre a


possível unificação dos dois cursos (cânones e das leis), todavia eles
mantiveram-se separados, só muito mais tarde, em 1836, com uma nova
reforma do ensino, é que se vai fazer a unificação dos cursos jurídicos, pois
passamos a ter só uma faculdade de direito.

Tempo de Licenciatura: Passou de 8 anos para 5.

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Introdução de Novas Disciplinas: Os estatutos introduzem novas disciplinas


como o Direito Natural Público Universal e das Gentes (comum a ambas as
faculdades).

★ Faculdade de Leis: Vai ser introduzida a História do Direito, duas


cadeiras sintéticas de Direito Romano e uma terceira de Direito Pátrio e
duas cadeiras analíticas que serão de direito civil romano e direito prático.

Métodos: O método a ser seguido deve ser o método sintético das lições
públicas, dando-se primeiro as divisões e definições da matéria e, depois de
adquiridos esses conhecimentos, passar às conclusões. Entendia-se que os
alunos não podiam começar por um método complexo que era um método
imediato de análise dos textos mais complexos e difíceis de entender, era
primeiro necessário que as disciplinas fossem ensinados dos preceitos gerais
mais básicos, o caminho partiria do mais simples para, gradualmente o mais
complexo. Era importante que, para que este método fosse seguido, fossem
feitos, pelos professores manuais, os chamados compêndios, que devem ser
breves, claros e bem organizados, de modo a evitar confundir os estudantes com
divergências. Tentativa de adoção pelas ciências sociais dos métodos das
ciências exatas, nomeadamente do método demonstrativo e científico, pois
pensava-se que este método era o mais adequado para produzir a exatidão e a
ordem de que os juristas necessitam.

★ Método Sintético-Demonstrativo-Compendiário:

○ Sintético: Apresenta os princípios as regras mais simples de forma


breve e clara para que o aluno os apreenda

○ Demonstrativo: Vertente científica, pois é através da demonstração


que se consegue chegar às verdades mais absolutas

○ Compendiário por causa dos manuais (compêndios que cada


professor deveria fazer) que deviam ser seguidos em tudo.

★ Método Analítico: Fruto de uma preocupação pragmática, há ainda uma


menção ao método analítico que continuava a ser utilizado, todavia
apenas nos últimos anos do curso, uma vez já consolidado conhecimento
com o método sintético-demonstrativo-compendiário.

Adoção do Usus Modernus Pandectarum: O direito romano a ser estudado


para os casos omissos ao direito pátrio, ao lado do direito divino, natural e das

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gentes e das nações cristãs iluminadas e polidas, será apenas aquele que
continua fazer sentido ter aplicabilidade.

★ Método para determinar o direito do usus modernus pandectarum:

○ Método Científico: Idealmente é referida, nos estatutos, a existência


de um método altamente científico que consistiria na confrontação
de cada texto de direito romano com o direito natural, o direito
divino, o direito das gentes, as leis políticas económicas, mercantis
e marítimas, quase como se fosse passo a passo. Todavia, apesar
de ser este o método mais científico, é, também, altamente pouco
exequível por ser uma obra de muito trabalho e muitos livros que
iria ocupar muito tempo aos professores e que era superior à
diligência dos ouvintes, pelo que não iria funcionar.

○ Método Utilizado: Assim, vai se escolher outro método mais fácil


que vai consistir em ir ver qual foi o uso moderno do direito romano
que as tais nações cristãs iluminadas e polidas pela europa fazem e,
assim como elas fizerem, também Portugal fará - irá ver o que
outros já fizeram.

Correntes Influentes: Iluminismo, crítica humanista, escola racionalista do


direito natural e o usus modernus pandectarum.

TRANSIÇÃO DO PLURALISMO MITIGADO PARA O MONISMO

CONTEXTO SÉC XIX


Revolução Liberal (1820): Os autores que têm estudado esta matéria tem
acentuado a ligação entre a revolução liberal e esta transição.

★ Iluminismo: Apesar de serem momentos diferentes, as ideias do plano


político-jurídico que vamos encontrar no liberalismo já estão contidas no
iluminismo, o que se vai tentar no liberalismo é concretizá-las, algumas
vezes de uma forma mais fiel aos autores anteriores outras vezes
afastando-se um pouco, isto vai levar que haja depois algumas
dificuldades na classificação dos autores, para além que estes processos
nunca são fruto de uma ruptura total mas sim de um processo contínuo de
evolução.

Cenário Político Português: Tempo de muita agitação política com as invasões


francesas, a revolução liberal, a guerra civil, vilafrancada e com os vários

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conflitos que se fizeram sentir até à regeneração. É, portanto, um ambiente


muito turbulento em que as cortes, por diversos motivos, muitas vezes não
estão a funcionar, pelo que se tornava difícil a possibilidade de ocorrerem
reformas profundas, o que pode explicar, em alguma medida, a dificuldade que
tivemos em proceder a uma codificação num tempo curto.

“QUESTÃO DO NOVO CÓDIGO”


Tentativa de codificação

Contexto Político: Teve lugar no reinado de D. Maria I num tempo de


“despombalização”, ou seja, em que reformas de Marquês de Pombal estão a ser
revertidas e em que há uma certa perseguição aos seus apoiantes.

Decreto de 31 de março de 1778: Pretendia reformar as ordenações

★ Encarregues da Reforma: Iria ser feita por uma junta de 5 ministros


nomeada pela rainha auxiliada por 10 juristas

★ Objetivo: Rever as ordenações, não abolir ou reformar por completo, mas


procurar saber quais as leis antiquadas, as que estavam revogadas, as
que na prática forense sofressem de diferença de opiniões e as que
pediam reforma e inovação para, a seguir, a junta, com os seus tais
colaboradores, trabalhar em cada um dos livros das ordenações.

★ Trabalho da Junta: Apesar de ter sido nomeada em 1778, não fez nada
nos anos que se seguiram

Prof. Mello Freire: Professor universitário de direito civil em Coimbra que, ao


contrário da maioria dos professores, vai, efetivamente, cumprir com os
estatutos e elaborar dois manuais, defendendo as ideias do Humanitarismo. Em
1783 D. Maria vai nomeá-lo para ficar encarregue da reforma de dois livros das
ordenações (o livro II e o V), algo que ele vai concluir em 1789.

★ Considerações de Mello Freire ao Livro V: A legislação é, na sua maior


parte, inconsequente, injusta e cruel, ideia que explora no seu compêndio
das Instituições de Direito Criminal. Todavia, para certos crimes, como os
de traição ou que atentem contra o rei, ele vai manter formas arcaicas de
execução da pena de morte, as penas infamentes.

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Comissão de Revisão do Trabalho do Prof. Mello Freire: Encabeçada pelo


inimigo de Mello Freire, José Seabra da Silva, que vai tentar prolongar
indefinidamente a revisão dos projetos para que estes nunca entrem em vigor.

★ António Ribeiro Santos: Desta comissão sai a censura de um outro


professor de Coimbra de direito canónico, António Ribeiro dos Santos, cuja
troca de argumentos com Mello Freire vai constituir a célebre questão do
novo código:

○ Direito Criminal: Mello Freire e Ribeiro dos Santos tinham posições


próximas, contudo Ribeiro dos Santos, humanitarista e primeiro
defensor da abolição da pena de morte em Portugal, vai muito
criticar Mello Freire porque diz que este mantém no código de
direito criminal direito antigo que já não é admissível e que tem de
acabar, apontando as próprias considerações entre o compêndio de
Mello Freire e o projeto que ele apresenta.

○ Livro II: Mello Freire vai defender uma monarquia absoluta muito
na linha do despotismo esclarecido, algo que vai ser criticado por
Ribeiro dos Santos que preconizava algo como uma monarquia
limitada, tal como a falta das leis fundamentais.

MODELO DO ESTADO LIBERAL E REPRESENTATIVO


No final do séc. XVIII, resultado da revolução americana e da revolução francesa
começam a espalhar-se novas ideias e, mais tarde, novos modelos, que se
começam a instaurar por quase toda a Europa e também em Portugal, ainda
que, no nosso país, tenha sido um período muito conturbado.

Valores Fundamentais: Garantia da liberdade, da igualdade perante a lei, da


segurança, da propriedade. Estes princípios vão se refletir nos códigos e nos
textos da doutrina, sendo muito visíveis nos novos textos constitucionais

★ Consequência: Destruição de estruturas do antigo regime pela abolição


de privilégios, das limitações que existiam à propriedade privada, à
abolição de penas diferenciadas que tinham em conta o estatuto social, a
abolição das restrições do acesso aos cargos públicos, dar corporações de
ofícios, da servidão ou de outras formas de restrição à liberdade.

★ Desvios: Estes princípios vão sofrer diversos desvios

○ Liberdade: Há uma consagração da liberdade enquanto um direito


natural inato de todos os Homens, mas em vários territórios
europeus colonizados mantém-se a escravidão, que só é abolida em
1869.

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○ Igualdade perante a lei: Apesar de se consagrar a igualdade


perante a lei, continuavam sem participação políticas as mulheres,
os escravos, e em muitos estados também os escravos libertos, os
criados de servir, os membros de ordens religiosas regulares e
todos aqueles cujo rendimento não atingia o necessário (voto
censitário).

Constituições Portuguesas Monárquicas:

★ Constituição de 1822: Vai ser a porta de entrada para outras alterações


que se vão fazer sentir no nosso código.

○ Contexto: Depois da revolta fracassada de Gomes Freire em 1817


que matou uma série de oficiais ingleses, começou a revolução
liberal que, dirigida por liberais e democratas radicais (“Sinédrio”),
pretendia pôr fim ao absolutismo e ao protetorado britânico. Depois
da tentativa falhada de impôr a Constituição de Cádis, foram eleitas
Cortes Extraordinárias Constituintes para fazer a 1ª Constituição
Portuguesa.

○ Vigência: 1 ano devido à revolta da “Vila Francada”, encabeçada por


D. Miguel e que levou a um regresso fugaz às Leis Tradicionais do
Reino. A divisão política também não favoreceu
(liberal/radical-democrata) a longevidade da Constituição.

★ Constituição de 1826:

○ Contexto: D. João VI morre, sendo D. Pedro, imperador do Brasil, o


seu sucessor. Pouco popular entre o povo por surgir associado à
independência do Brasil e ao crescimento de correntes liberais,
decide abdicar o trono a favor da sua filha D. Maria, que casaria
com o absolutista D. Miguel, seu irmão, quando atingisse a
maioridade, até lá D. Miguel seria regente, neste processo outorga
uma constituição a Portugal.

○ Vigência: A Carta vai ter três vidas:


■ 1826-1828: Desde que a Constituição é outorgada até que o
Regente D. Miguel se faz aclamar Rei de Portugal, sendo
reimpostas as “Leis Fundamentais” que vigoraram durante
toda a guerra civil entre liberais e absolutistas
■ 1834-1836: Até à morte de D. Pedro devido ao surgimento
de revoltas democratas radicais dirigidas pelo Marechal
Saldanha que pretendiam repor a Constituição de 1822. Gera
dois partidos - vintistas vs. cartistas

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■ 1842-1910: Começa com o triunfo do golpe de Estado dos


cartistas liderados por Costa Cabral com a conivência da
Rainha até à queda da monarquia.

★ Constituição de 1836:

○ Contexto: Instabilidade política leva a Rainha a dissolver em 1836 a


Câmara dos Deputados, seguindo-se um golpe militar do Marechal
Duque de Saldanha - Revolução Setembrista. A facção jacobina
(vintista) governou em ditadura sob a direção de Passos de Manuel
e repôs a Constituição de 1822, sendo a sua vigência meramente
simbólica, pois a maioria das leis em vigor concretizavam posições
da Carta Constitucional entretanto abolida, tendo sido criada uma
nova Constituição “híbrida” entre a vintista e a cartista.

CODIFICAÇÃO
Vai ser um processo essencialmente do liberalismo, todavia existem alguns
exemplos de códigos anteriores ao liberalismo que já podem receber este nome,
alguns são chamados de "códigos de transição”. O Código Francês de 1804 vai
ter uma influência enorme em todos os processos de codificação. Todavia, o
nosso processo de codificação foi muito diferente e mais lento, tendo os códigos
demorado ainda a ser aprovados.

Pré-Codificação Doutrinária23: Obras dos juristas portugueses da primeira


metade do séc. XIX que prepararam a codificação, pois ainda não existiam
códigos, mas estas obras, influenciadas pela codificação a ocorrer pela europa
fora, vão preparar a codificação portuguesa.

★ Autores: Correia Telles, Borges Carneiro, Coelho da Rocha, Vicente Ferrer


de Paiva, Luís Teixeira e José Dias Ferreira.

Método:

★ Sistema dos três S: Devia ser sistemática, sintética e científica.

★ Influência do jusracionalismo: Prende com a ideia de sistematizar,


uniformizar e centralizar a legislação, sempre com os valores do
liberalismo.

23
expressão do Prof. Barbas Homem

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Natureza da Codificação: A codificação é também vista muito como um


processo de modernização, progresso e aperfeiçoamento do código que
positivava os valores racionais e os princípios.

★ Texto: Pretende-se que o código seja um texto sistemático, bem


organizado, mas também, um texto simples e acessível a todos, daí
utilizar uma linguagem passível de ser entendível por todos.

★ Revogação das Ordenações: Com a entrada em vigor dos Códigos, tudo


o que está para trás é revogado, todavia, isso não significa que as
soluções adotadas não sejam as anteriores, muitas das soluções são as
mesmas já antes previstas.

Estado: Esta era uma tarefa que cabia ao Estado, que estava agora muito mais
legitimado por ter por trás uma vontade democrática vinda de uma assembleia
que representava o povo, apesar de todas as limitações existentes à
“democracia”.

★ Lei: Deixa de ser a expressão do rei, uma só pessoa, para ser a expressão
da própria vontade popular, passando a ter outra força e tornando mais
difícil até para os próprios juristas pôr em causa a vontade do povo.

Influência Francesa: Na altura das invasões francesas, França vai ocupar


vários territórios e tentar impor o seu direito, daí que o Código de 1804 tenha
servido de modelo para tantos outros Códigos de outros países.

Escola da Exegese: Neste processo de codificação vai haver, em França, o


acompanhamento desta escola. Esta é uma escola de interpretação dos códigos.
A sua influência em Portugal vai se fazer sentir antes de haverem mesmo
códigos, pelo que se vai refletir na pré-codificação doutrinária

★ Lapso Temporal: Vai se prolongar durante o séc. XIX com momentos


muito diferentes, começando logo com o Código Civil, mas vai mudando e
evoluindo.

★ Primeiro Momento: No início diz que está muito agarrada aos textos,
pois que neste está o direito natural positivado, sendo isso o que eles
querem ensinar. Momento de fascínio pelos códigos.

★ Segundo Momento: Os juristas começam a perceber que há algumas


soluções que não estão no código, surgindo soluções como a analogia e a

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menção aos princípios de direito natural. Tem consciência que a lei não
entra em todo o pormenor

○ Direitos Naturais: Resultam da própria natureza do Homem e que a


lei civil reconhece e protege, como fonte e origem de todos os
outros. Existem independentemente da lei os reconhecer
■ Direito de existência
■ Direito de liberdade
■ Direito de associação
■ Direito de apropriação
■ Direito de defesa

Direito Administrativo: O direito público é mais rápido do que o privado.

★ 1832: Início da reforma administrativa por decreto de Mouzinho de


natureza centralizadora

★ 1836: Surge um código só surge que vai ser descentralizador

★ 1842: Novo código de Costa Cabral que vai ser centralizador novamente e
estar em vigor até 1878

★ 1879: Surge o Código Rodrigues Sampaio (descentralizador).

★ 1886: Código de Luciano de Castro de que retoma centralizador,

★ 1896: Novo código que, pela primeira vez, continua a ser centralizador,
nunca tinha acontecido isto, tinha sido sempre pendular.

★ 1936: Código administrativo de Marcello Caetano.

Direito Penal: Era necessário introduzir modificações. As primeiras vão surgir


não de um novo código penal, mas sim dos textos constitucionais através dos
princípios introduzidos.

★ 1845: Nomeação de uma comissão para elaborar o código civil e o código


penal, mas acabou por ser desonerada da tarefa do código civil, tendo
apenas feito o penal.

★ 1852: Surge um código penal que foi logo muito criticado pelo grande
penalista portugues do séc. XIX, Levy Maria Jordão que considerou que o
código já estava muito desatualizado, o que levou à formação de uma
nova comissão, que ele próprio secretaria.

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★ 1861: Conclusão do novo projeto do código penal da comissão de Levy

★ 1864: Publicação do projeto, mas que nunca chega a entrar em vigor.

★ 1867: Transformação muito importante no direito penal, que não se dá


através de um código. Vai ser uma reforma penal e processual que, entre
várias coisas, vai abolir a pena de morte para os crimes civis, dado que a
abolição para os crimes políticos já era anterior (1852), fruto de um ato
adicional à carta (equivalente a uma atual revisao constitucional).

★ 1884: Reforma do código

★ 1886: Surge um novo código penal que, em algumas coisas, vai repetir o
de 1852. Este código vai ter uma longuíssima vigência (praticamente 100
anos), ainda que vá sofrendo múltiplas alterações.

★ 1982: Publicação do terceiro código penal portugues.

Direito Comercial: No direito civil em si, vamos ter o código comercial, muito
precoce em relação aos outros

★ 1833: Surge o código comercial pela autoria de Ferreira Borges, sendo


este homem muito conhecedor das matérias do comércio das leis dos
outros países.

○ Razão da Precocidade: Este código surgiu muito antes do código


civil pois esta era uma matéria que não estava tão sujeita à pressão
de todo um ensino anterior que o direito civil tinha e que, por isso,
era preciso alterar com cuidado. Para além disso, este é um direito
que esteve sempre um bocadinho à parte, às vezes até um pouco
desprezado pelos juristas e era, ainda, uma área que interessava
muito àqueles que estavam por detrás da revolução liberal
(burguesia).

★ 1888: Substituição pelo código Veiga Beirão, muito inspirado no código


italiano de 1882 e bastante diferente do anterior, até a nível de estrutura.
Deste código ainda estão em vigor 275 artigos de 749, alguns com muitas
alterações.

Direito Civil:

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★ 1867: Aprovação do Código Civil, projeto de António Luís de Seabra, pela


carta de lei de 1 de julho de 1867, não para entrar em vigor de imediato,
mas sim no ano seguinte, tal como ocorreu com o nosso código atual, que
apesar de ser de 1966, só entrou em vigor em 1967. Este código vai ser
fortemente influenciado pelo modelo codificador francês, mas também
vamos ver da parte de Seabra um esforço para inovar, por exemplo na
parte da sistemática, pois no lapso temporal entre o francês e portugues
já houve espaço para alguma reflexão e crítica do código, todavia isso não
significa que o nosso código não se insira no panorama francês da
codificação.

Escola Histórica: A escola histórica vai ser uma escola que surge também no
séc. XIX ao lado da escola da exegese, mas um pouco mais tarde com o ensino
de Savigny.

★ Savigny: Professor de direito romano, influenciado por Hegel24, defendia


que “direito é história” e que quem o constrói é a própria comunidade.
Ainda que com alguma influência dos técnicos do direito, não são eles que
o criam, o direito já lá está. Via o costume como a primeira fonte, só que,
como era romanista, acaba por mesclar este espírito do povo com alguns
princípios que ele achava que estavam presentes em todos os direitos que
têm como denominador comum o direito romano.

★ Legislador vs. Jurista: Existem dois papéis: o de criar o direito e o de o


descobrir.

○ Legislador: Deve apenas declarar e garantir o direito

○ Jurista: Deve desenvolver cientificamente o direito da comunidade,


pois as sociedades vão se tornando mais complexas e exigentes na
formação jurídica e o direito da comunidade não tem a sofisticação
técnica necessária. Assim, os juristas, partindo do direito da
comunidade, vão aperfeiçoá-lo tecnicamente, pelo que nesta
perspetiva os jurisconsultos vão ter muito mais autoridade e
importância do que o legislador.

★ Código Alemão (BGB): Influenciado por esta escola, vai ser muito mais
complexo do que os códigos de origem francesa, apresentando um
paradoxo, ao mesmo tempo que vai querer refletir a ideia de Savigny de
direito igual para todos e espírito da comunidade, vai querer respeitar os
direitos locais de cada povo, daí que se vá ver que vai ser subsidiário em

24
filósofo que defendia que existia o espírito de um povo e que era isso que construía o próprio
povo em si através de todos os elementos do espírito (cultura, direito, língua,...).

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alguns pontos ao direito já existente dos estados. Vai influenciar toda a


segunda vaga de códigos.

Oposição às Escolas da Exegese e Histórica: Contra a escola da exegese e a


escola histórica vão surgir escolas como a do direito livre para acusar um
distanciamento do direito da realidade, assim como uma série de críticas ao
liberalismo25 começando-se a pedir uma intervenção do estado e a dizer que o
direito não responde, pois estava pensado para um paradigma de liberalismo e
igualdade absoluta entre as pessoas que na realidade não existe.

★ Escola do Direito Livre e Jurisprudência dos Interesses: Pretendem


o abandono da intenção formalista de interpretação do texto para chegar
à vontade do legislador para uma intenção finalista de interpretar o texto
para responder à realidade da vida social. Reconheciam as lacunas e a
insuficiência do texto legal, dando relevo a elementos como o
teleológico26. Querem adequar a justiça à realidade vivida e acentuar o
elemento da nova racionalidade - distinção entre as ciências exatas e as
ciências do espírito como o direito, não buscando uma razão teórica mas
sim prática-normativa, acentuando a liberdade do juiz.

○ Escola do Direito Livre: Dá importância à decisão concreta e a uma


certa casuística, defendendo a ideia de que é a decisão concreta
que faz justiça. Preocupa-se menos com a segurança jurídica

SÉC XX EM PORTUGAL
Transição séc. XIX-XX: A crise económica e financeira do final do séc XIX
deixa o Estado Português falido, com cada vez uma maior posição e crescimento
do partido republicano e das forças do setor operariado português relacionado
com o movimento anarco-sindicalista que vai ser desenvolvido nas primeiras
décadas do séc. XX. O Ultimato vai abalar por completo a vida política em
Portugal, criando um clima de muita crise e turbulência, levando à queda da
monarquia e à instauração de um novo regime republicano.

PRIMEIRA REPÚBLICA
Nova Constituição da República: Ainda é considerada, em termos políticos,
liberais, mas altera o regime por completo.

25
Antero de Quental diz que as pessoas são livre de morrer de fome
26
Jhering

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Direito à Greve: Os republicanos assumem um certo compromisso em termos


sociais e do mundo do trabalho, mas a contragosto, apenas porque sabiam que
tinham tido apoio de setores como o do operariado para a revolução de 1910 e
que por isso tinham de pagar algumas promessas. Em 1910 é reconhecido o
direito à greve, todavia, primeiro, por uma legislação tão confusa que é chamada
de “burla”, já que era tão difícil convocar uma greve que era como se estivesse
proibida na mesma.

Contexto Social:

★ Instabilidade:

○ Crise financeira e económica

○ 1ª Guerra Mundial

○ Instabilidade política: Vai ser constante, nomeadamente pelas


divisões que existiam dentro do partido republicano que, logo no
primeiro ano de república se dividiu, depois de tanto tempo (o
partido já tinha sido criado no tempo da monarquia) junto.

★ Anticlericalismo: Publicação de uma lei que vai separar as Igrejas do


Estado e causar muita polémica e instabilidade e que surge na sequência
da liberdade de religião que já tinha sido consagrada na constituição.

★ Proteção dos Trabalhadores: Vai começar a haver mais legislação a


proteger os trabalhadores (descanso, acidentes de trabalho, segurança
social...), mas que acaba por ter pouca concretização.

○ OIT: Portugal integra como membro a OIT (Organização


Internacional do Trabalho), entidade que teve muita influência na
regulação dos regimes laborais.

★ Reformas Sociais: Surge a possibilidade de divórcio (litigioso ou por


mútuo consentimento) e de perfilhar todos os filhos ilegítimos, excepto os
incestuosos.

ESTADO NOVO
Ditadura Militar: Antes do Estado Novo, teve lugar uma ditadura militar entre
1926 e 1933, que começou com o 28 de Maio e terminou com o surgimento dos
pilares do Estado Novo, dos quais faz marco a Constituição de 1933.

★ Objetivo: Resolver os problemas da primeira república.

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★ Golpe de 28 de maio: Marca o início da ditadura, cria muitas


expectativas, recebendo até apoio do partido comunista, visto que este
golpe não teve qualquer base ideológica. Todavia o regime começa-se a
definir e a encaminhar-se num sentido ditatorial, que inicialmente não
tinha, quando começa a proibição das greves, a censura, os julgamentos
políticos.

Estado Novo:

★ Início: Começa com Salazar enquanto Ministro das Finanças e com a ideia
de que se tinha de pôr as contas em ordem e acabar com o défice
financeiro.

★ Influências:

○ Experiência Europeia: Regimes ditatoriais como o Corporativismo


Fascista Italiano e a Ditadura de Primo de Rivera em Espanha

○ Doutrina Social da Igreja

○ Socialismo Catedrático

○ Integralismo Lusitano

★ Constituição de 1933: Vai garantir todos os direitos que estavam


presentes na Constituição de 1911 e nas anteriores, todavia a
terminologia usada vai ser muito diferente, compreendendo logo uma
possibilidade de limitação dos direitos e apresentando, inclusive, uma
justificação para a possibilidade de limitação.

★ Oposição Política: Todos aqueles que se opusessem, primeiro à ditadura


militar, depois ao Estado Novo, iam presos ou eram silenciados.

★ Corporativismo: O Estado Novo vai se aproveitar do descontentamento


imenso que existia do que tinha sido a 1ª República e tentar aliciar os
descontentes dando resposta às suas preocupações. A nível da legislação
laboral vai evitar avanços de ideias socialistas e de estado liberal
capitalista puro ao apresentar o estado corporativo como o melhor de dois
mundos por oferecer liberdade e apoio.

★ Fases do Estado Novo:

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RESUMOS HDP - REGÊNCIA PROFESSORA MARGARIDA SEIXAS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Primeira: Vai até ao final da 2ª Guerra Mundial. Marcada pela


coincidência com aquilo que se passava em muitos dos países
europeus

○ Segunda: Depois da 2ª guerra vai-se abrir em muitos países o


caminho para a democratização e construção do estado de direito,
algo que não acontece em Portugal ou Espanha. Há alguns dados
que indicam que Salazar ponderou a realização de eleições, todavia
não o fez, pois, apesar da probabilidade de ser eleito era elevada,
abria um precedente e podia, eventualmente, perder as eleições.

○ Terceira: Marcada por algum conflito no panorama internacional por


causa de Goa e dos problemas com o Estado da Índia. Já no final da
década de 50 e início dos anos 60 vamos ter os movimentos de
resistência dos territórios que Portugal ocupava em África e que se
queriam tornar independentes. Até aos anos 60 a oposição em
Portugal foi muitíssimo minoritária, começando só a ser mais
expressiva com a eleição em que participou Humberto Delgado.

★ Plano Jurídico: Vamos ter alguns momentos importantes:

○ Ato Colonial de 1930

○ Constituição de 1933

○ Código Civil de 66: Foi elaborado num ambiente essencialmente


técnico e não muito político, apesar de serem figuras importantes
para o regime os autores, estes adotaram uma posição pouco
política, daí que ele ainda continue em vigor.
■ REFORMA DE 1977: Procura tornar o código compatível com
a nova constituição, especialmente em matérias de direito
sucessório e da família.

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