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9. Finalidade da criminalística: constatação do fato, verificação dos meios e dos modos e possível
indicação da autoria.
INTRODUÇÃO
OS POSTULADOS DA CRIMINALÍSTICA
PRINCÍPIOS DA CRIMINALÍSTICA
A Criminalística, enquanto ciência, é regida por cinco princípios: a saber: Documentação (Cadeia
de Custódia); Observação; Interpretação (Individualidade); Descrição; Análise.
EXEMPLO: Imagine que certo perito encontra duas armas de fogo idênticas em um ambiente de
crime. Apesar de, a olho nu, as armas serem praticamente iguais, uma análise detalhada pode
mostrar as diferenças entre elas:
ARMA A:
• Identificação genérica: Taurus cromado (modelo)
• Identificação específica: cal. 38, mod. 838
• Identificação individual: n. AA463210 n. AA463218 raiamento X
ARMA B:
• Identificação genérica: Taurus cromado (modelo)
• Identificação específica: cal. 38, mod. 838
• Identificação individual: n. AA463218 raiamento y
- Documento (Cadeia de Custódia) - artigos 158-A a 158-F (CPP): Primeiro, não confundir o
princípio da descrição com o princípio da documentação (ou da cadeia de custódia), pois
enquanto o primeiro trata do registro das práticas periciais e de suas conclusões, o segundo fala
da necessidade de uma documentação formal e adequada que envolve os registros feitos. Por
exemplo: quando um perito encontra um projétil em uma cena de crime, a descrição é feita por
meio de registro fotográfico de sua localização (fixação, isto é: registro geográfico), bem como
pela edição de relatório de toda a situação encontrada.
Uma vez isso feito, segue-se a documentação, como o acondicionamento adequado do projétil
para consultas futuras. Na prática, o princípio da documentação implica no armazenamento
adequado de objetos, amostras ou vestígios, sem deixar de documentá-los devidamente.
Ademais, todas as etapas da perícia precisam ser protocoladas e registradas por escrito no
levantamento, na embalagem do vestígio e também no protocolo correspondente (papel ou
digital).
Tudo isso deve acontecer do início ao fim de processo pericial visando a idoneidade da prova
material para evitar provas forjadas, dando, assim, credibilidade ao vestígio analisado.
Exemplo de documentação. No caso, o acondicionamento de material entorpecente devidamente
guardado e classificado. Uma vez que o perito faz o procedimento documental, o vestígio é
enviado para análise, de modo que qualquer movimentação é registrada e atualizada.
A ATUAÇÃO DA CRIMINALÍSTICA
A Criminalística se concentra mais nos aspectos objetivos do crime a partir de uma análise
científica dos materiais objetivos (princípio da análise criminal). Isso é feito a partir da resolução
dos itens destacados acima, que agrupados são chamados de Heptâmetro (sete partes) de
Quintiliano (as Sete Perguntas de Quintiliano). Quintiliano foi um dos grandes precursores da
ciência investigativa no mundo, tendo vivido no século I d.C. (35 a 95).
A Criminalística surge para investigar cientificamente um crime visando a justa aplicação da lei,
datando desde os mais antigos impérios. Além disso, tal ciência aparece a partir da necessidade
de investigar um fato criminoso, elucidando possíveis contradições entre acusado, vítima e
acusador.
Linha do tempo
• 100 a.C.: Imperador romano Júlio César, o primeiro a solicitar um “exame de local”;
• 1560 d. C.: Ambroise Paré, cirurgião, escreveu sobre ferimentos produzidos por armas de fogo;
• 1651: Paolo Zachias, tratado “Questões Médicas” – pai da Medicina Legal;
• 1665: O anatomista Marcelo Malpighi escreve sobre os relevos papilares das palmas das mãos,
importante para a Papiloscopia.
• 1753: Boucher, estudos em balística;
• 1805: Áustria, ensino da Medicina Legal;
• 1807: Alemanha, ensino da Medicina Legal;
• 1820: França, ensino da Medicina Legal;
• 1840: Itália, Orfila, Toxicologia, venenos;
• 1844: Herschel: papiloscopista, trabalhando a ideia de imutabilidade;
• 1864: Cesare Lombroso, médico e antropologista italiano, desenvolveu o método da
identificação antropométrica, sendo um dos precursores da Criminologia (membro da escola
positivista).
• 1866: Pinkerton, Chicago, uso de fotografia para identificar criminosos;
• 1882: Alfonse Bertillón, Serviço de Identificação Judicial; antropometria; retrato falado;
• 1888: Francis Galton, Inglaterra, estudo comparativo entre o sistema antropométrico e
datiloscópico. Deu importantes contribuições à Papiloscopia;
Obs.: Há uma discussão acadêmica sobre quem seria o pai da Criminalística: para alguns
Ambroise Paré, para outros Paulo Zachias. De todo modo, sabe-se que muitos foram os
profissionais que precederam essa ciência, visto a sua interdisciplinaridade.
ATENÇÃO: Não confundir a Criminalística com a Criminologia: a Criminalística visa investigar
objetivamente um crime a partir do caso concreto e de vestígios a partir das ciências naturais,
exatas e semelhantes. A Criminologia, por sua vez, é uma área do conhecimento próxima das
ciências humanas, visando o estudo do crime do ponto de vista sociológico, econômico,
psicológico, filosófico, ontológico e antropológico, apontando as suas origens, impactos sociais e
afins, além de sugerir possíveis métodos de controle, coisas que a Criminalística não faz.
Em 1892, Hans Gross, jurista austríaco tido como um dos pais da Criminalística, publica a obra
“Manual do Juiz de Instrução”, oferecendo aos operadores do Direito diversos conhecimentos nas
áreas de antropometria, contabilidade, documentoscopia, explosivos, fotografia forense,
grafoscopia, acidentes ferroviários, hematologia, incêndios, armas de fogo etc, para auxiliá-los ao
tratar com casos criminosos. Para Gross, a Criminalística não é nada mais do que o “estudo do
crime e dos métodos práticos de sua investigação”. Segundo2 José Lopes Zarzuela, outro
importante criminalista: “A Criminalística constituiu o conjunto de conhecimentos científicos,
técnicos, artísticos, destinados à apreciação, interpretação e descrição escrita dos elementos de
ordem material encontrados no local do fato, no instrumento de crime e na peça de exame, de
modo a relacionar uma ou mais pessoas envolvidas em um evento, às circunstâncias que deram
margem a uma ocorrência, de provável interesse judiciário”.
O Código de Processo Penal define os procedimentos processuais a serem adotados pela Polícia,
Ministério Público, Judiciário e defesa após a ocorrência do crime, descrevendo como ocorrerá a
investigação policial, como as provas deverão ser produzidas, como os envolvidos e citados
devem ser ouvidos, processados e julgados, como será a atuação dos policiais, do juiz, do
promotor e da defesa.
Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito,
direto ou indireto.
A confissão do acusado não supre a necessidade da prova técnica!
Art. 160 - Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
Parágrafo único - O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este
prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.
Art. 6º - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais;
II - Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
(...)
VII - Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras
perícias.
• Autópsias;
• Lesões corporais;
• Exames diversos;
• Local de morte;
• Perícias laboratoriais;
• Perícias em locais de furto e roubo (subtração): artigo 171;
• Avaliação econômica diversa;
• Locais de incêndio;
• Documentos e escritos;
• Perícias em objetos, armas, veículos etc.
ATENÇÃO: Pontos do Código Processual Penal sobre a Criminalística que merecem especial
atenção em virtude da alta cobrança em provas:
• As principais perícias;
• Isolamento e preservação de local de crime (artigo 6º/CPP);
• O prazo de dez dias para a elaboração de laudo pericial (podendo ser aumentado
excepcionalmente a pedido dos peritos): artigo 160 e o seu respectivo parágrafo único;
• Artigo 158.
O trabalho pericial, por causa da sua importância, acaba por respingar em outras leis que não o
Código Processual Penal em vigor:
• A Constituição Federal de 1988,
• O Código Penal;
• Lei 11.343/06 – Lei Antidrogas;
• Lei 11.340/06 – Lei Maria da Penha.
VESTÍGIO
Tudo que é encontrado no local e examinado, que pareça ter relação com a dinâmica do crime;
depois de examinado pode se transformar em elemento de prova, individualmente ou associado a
outros. São as alterações deixadas no local do crime pela dinâmica adotada pelo autor da ação
criminosa. Exemplos de vestígios: orifício em uma parede oriundo de projétil de arma de fogo, o
arrombamento de uma fechadura, um frasco de veneno encontrado em um local onde ocorreu um
suicídio, entre outros. O Código de Processo Penal, artigo 158-A, parágrafo terceiro, define
vestígio nos seguintes termos: “todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou
recolhido, que se relaciona à infração penal”.
Classificação
- ILUSÓRIOS: Vestígios identificados no local do crime, mas sem relação com a dinâmica dos
fatos. Não pode ter sido colocado de forma intencional. Exemplos: marcas de frenagem em curvas
acentuadas de uma rodovia. Ora, como se sabe, em lugares assim é comum a ocorrência de
acidentes. Uma vez que a perícia confirma a não relação dessas marcas com o crime analisado,
classifica-se tal evidência como ilusória.
- FORJADOS: O vestígio forjado é aquele que não faz parte da dinâmica do crime.
É colocado intencionalmente com o intuito de alterar a cena do crime, prejudicar alguém, a perícia
e as investigações.
Obs.: O vestígio pode ser também químico, físico, biológico, visível, latente (invisível a olho nu) e
outros.
EVIDÊNCIA
Entende-se por evidência o vestígio comprovado como parte da dinâmica criminosa no desenrolar
do crime pela análise e investigação pericial. Em outras palavras, a evidência nada mais é do que
o vestígio identificado como fruto da ação criminosa.
Exemplos: Cigarro deixado em local de furto pelo autor, a impressão digital deixada em um copo
pelo autor, um manuscrito escrito pela vítima encontrado em local de suicídio (Após análise
grafotécnica), preservativo deixado por estuprador etc.
INDÍCIO
O indício é uma informação relacionada ao crime, não sendo, necessariamente, algo físico,
químico, biológico. De acordo com o artigo 239 do CPP, o indício é tido como “a circunstância
conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a
existência de outra ou outras circunstâncias”. Sobre esse assunto, a leitura do artigo “Indício deve
ser aplicado com cautela no processo penal”, de Frederico Cattani, é recomendada (disponível no
portal Consultor Jurídico).
Para a doutrina e para o Código de Processo Penal (CPP), os principais dispositivos de prova são
os artigos 155 a 250. Lembrando que o enfoque dessa disciplina é a criminalística, que é a ciência
que estuda o meio das produções de provas periciais, principalmente as perícias em objetos e
locais, embora também estude em pessoas, na parte externa (Exame perinecroscópico).
Mas o Código de Processo Penal, quando trata de perícia, mistura tudo. As perícias estão nos
dispositivos 158 a 184 do CPP, que tratam das perícias e dos peritos, e muito frequentemente o
legislador mistura prova pericial de exame de local ou de objetos com exame de pessoas. Muitos
dispositivos não fazem distinção entre perito criminal, perito criminalístico e perito médico-legista.
A prova pericial consta nos dispositivos dos artigos 158 a 184, mas se voltar dois ou três artigos,
ainda trata de aspectos processuais penais da prova.
Lembrando que, como o objeto deste estudo é a criminalística, o enfoque são as provas periciais.
PROVA - Nada mais é que qualquer elemento de convicção e convencimento para convencer o
juiz e os outros atores do processo do acontecimento ou não de algum fato.
Conceito, NUCCI
Prova: Probatio, latim; verificação, argumento, razão, aprovação etc;
Provar: Probare; verificar, argumentar, persuadir, demonstrar;
Prova, DPP: Busca da verdade material, real ou substancial; o que de fato ocorreu, com
relevância penal.
Prova, DPC: Verdade formal ou instrumental (trazida nos autos).
Quando se fala de prova, é preciso fazer uma diferenciação: existe a prova em sentido amplo e a
prova em sentido estrito. A prova em sentido amplo, para a doutrina, é tudo aquilo que serve para
provar, inclusive informações, documentos trazidos durante o inquérito policial.
Mas, rigorosamente, o sentido técnico e estrito de prova é a prova produzida no processo judicial,
aquela que dá direito ao contraditório e à ampla defesa, diferentemente das provas no sentido
amplo.
Prova, sentido amplo: Elementos de convicção obtidos no IP e na AP;
Prova, sentido estrito: Elementos de convicção obtidos na AP; IP: conjunto de elementos de
convicção; justa causa para iniciar AP (deverão ser repetidos na fase judicial).
Fundamentos legais
Art. 5º e 93, IX, da CF; princípios contraditórios, ampla defesa, provas lícitas;
Art. 6º; 155 a 157; 158 a 250, do CPP;
Art. 6º - Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I - Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais (CRIMINALÍSTICA);
II - Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais
(após examinados ou periciados);
III - Colher todas as provas (elementos de informação) que servirem para o esclarecimento do fato
e suas circunstâncias; (...)
VII - Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito (ECD - nada mais são
que perícias) e a quaisquer outras perícias;
Obs.: A perícia pode ser em um objeto real ou virtual, por exemplo, em um local de crime, físico
ou virtual, como um site onde haja a prática de crimes (pedofilia, fiscais, tributários etc).
Art. 155 - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis (Ex.: Exame
pericial/ECD) e antecipadas (Escuta telefônica).
Art. 156 - A prova da alegação incumbirá a quem a fizer – ônus da prova, sendo, porém, facultado
ao juiz de ofício – iniciativa probatória:
O juiz, apesar da possibilidade de solicitar tais provas, não possui qualquer obrigação de produzi-
las, cabendo somente a iniciativa probatória.
Art. 157 - São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
Parágrafo embasado pela “Teoria da árvore dos frutos envenenados”. Uma vez que a prova
possua origem em uma ocorrência ilícita ou ilegítima, ela também será considerada como tal.
Exemplo: Confissão obtida por meio de prática de tortura, que resulta em busca e apreensão.
Constatada a contaminação, ambas serão desentranhadas do processo.
Art. 155 - O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Fontes de prova
Meios de prova
ATENÇÃO: A autoridade policial não realiza a reprodução simulada por si só, sendo de encargo
dos peritos criminais. Seu papel é garantir as condições necessárias para a realização de tal.
Via de regra, as partes gozam do princípio da liberdade probatória, podendo utilizar todos os
meios lícitos de prova a sua disposição. Apesar dessa definição, existem três situações que são
enquadradas como exceções:
1) Estado de pessoas: Admite-se apenas prova descrita na lei civil;
2) Vestígios, testemunha: Realização de exame de corpo de delito, única forma admitida pela lei
penal. Quando os vestígios se desfizerem, é admitida a prova testemunhal, conforme definição do
próprio Código de Processo Penal;
3) Provas ilícitas: Não admitidas.
MEIOS DE PROVA
Conceito: Recursos diretos ou indiretos para alcançar a verdade. Objetiva fomentar a convicção e
o conhecimento da autoridade judiciária para que ela embase suas decisões.
Exemplos: Exame pericial, prova documental, testemunhal, confissão etc.
• Apenas as provas lícitas são admitidas;
• Provas derivadas das ilícitas ou ilegítimas: Não serão admitidas, devendo ser
desentranhadas do processo legal.
Exemplo: Busca e apreensão derivada de confissão proveniente de tortura;
• Prova emprestada: Admitida em DPP, desde que preservadas as garantias quando da
produção, na origem;
• Necessária a garantia do contraditório e a ampla defesa.
FINALIDADE E OBJETO DE PROVA
ÔNUS DA PROVA
TIPOS DE PROVA
Prova Confessional, Art. 197 a 200, CPP: Confissão; admitir algo contra si, tendo pleno
discernimento, de forma voluntária, perante a autoridade.
Sujeito insano ou doente mental: Não poderá confessar ou admitir sua culpa validamente.
Via de regra, constará no processo como informante ou acusado. Os fatos por ele narrados serão
aproveitados pelo juiz levando-se em consideração o conjunto das provas, atribuindo o juiz maior
ou menor valor à confissão disposta pelo sujeito.
Voluntariedade: Embasamento da confissão, onde o sujeito deve encontrar-se livre de pressão,
coação ou constrangimentos (Tortura ou ameaça).
Da Confissão
Art. 197 - O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de
prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo,
verificando se entre ela e está existe compatibilidade ou concordância.
Art. 198 - O silêncio do acusado não importará confissão, mas poderá constituir elemento para a
formação do convencimento do juiz. (...)
Art. 200 - A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz,
fundado no exame das provas em conjunto.
O art. 200, ao definir que a confissão é retratável, admite que ela seja retirada pelo autor.
Quanto a seu caráter divisível, refere-se à possibilidade de uma confissão realizada de forma
parcial, frente a um crime de natureza complexa ou da ocorrência de mais de um crime.
ATENÇÃO: O Código de Processo Penal é enfático quanto ao fato de que nenhum tipo de prova
deverá ser levado em consideração de forma isolada, sendo o conjunto das provas que deverá
fundamentar e motivar o livre convencimento do juiz.
Prova Testemunhal: Testemunha, Art. 202 a 225, CPP: pessoa que declara ter conhecimento de
algo, podendo confirmar a veracidade ou não do ocorrido. Pessoa física capaz e imputável.
Compromissos: imparcialidade e verdade, sob pena de responder pelo crime de falso
testemunho (Art. 342).
Algumas classificações testemunhais:
• Testemunha direta: Presenciou o fato. Também conhecida como testemunha ocular;
• Indireta: Soube do fato por terceiros;
• Referidas: Indicadas por outras testemunhas;
• Judicial: Indicada pelo juiz;
• Fedatária/Instrumentária: Dispõe a fé a determinado ato jurídico.
Informantes: Não prestam compromisso com a verdade. Para a doutrina, os informantes são uma
classificação de testemunha não compromissada.
• Doentes mentais;
• Menores de 14 anos;
• Cônjuge, ascendentes, descendentes, irmãos;
• Pai, mãe e filho adotivo.
ATENÇÃO: Informantes podem se eximir de depor, salvo se for único meio de prova ou
estritamente necessário para o mérito de convencimento do juiz.
Das Testemunhas
Art. 202 - Toda pessoa poderá ser testemunha.
Art. 203 - A testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber
e Ihe for perguntado, (...);
(...)
Art. 206 - A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se (...) “familiares e parentes”.
Art. 207 - São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o
seu testemunho.
(...)
Art. 209 - O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas
pelas partes.
(...)
Art. 211 - Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que alguma testemunha fez
afirmação falsa, calou ou negou a verdade, remeterá (...).
(...)
Art. 218 - Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado,
o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por
oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
PROVA DOCUMENTAL
A prova documental objetiva a comprovação de algo que tenha ocorrido ou deixado de ocorrer
fazendo o uso de documentos. Referida pelo Código de Processo Penal em sentido amplo,
corresponde ao objeto ou material capaz de conter informação que possa provar ou demonstrar
fato de relevância jurídica.
Exemplos: Escritos, impressos, imagens de foto ou de vídeo, áudios etc.
Juntada: Em regra, admite-se a inclusão de tais provas no processo em qualquer de suas fases,
desde que haja ciência das partes.
Os Documentos
Art. 231 - Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão apresentar documentos em
qualquer fase do processo.
A apresentação é permitida desde que ambas as partes possuam conhecimento de tal.
Art. 233 - As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por meios criminosos, não serão
admitidas em juízo.
Parágrafo único - As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a
defesa de seu direito, ainda que não haja consentimento do signatário (remetente).
Art. 234 - Se o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da
acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das
partes, para sua juntada aos autos, se possível – “princípio da iniciativa probatória do juiz”.
Art. 235 - A letra e firma dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial, quando
contestada a sua autenticidade.
Art. 236 - Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela
autoridade.
Todos os tipos de prova dispostos inter-relacionam-se, dessa forma, uma prova documental pode
necessitar de perícia e essa por sua vez necessitar de uma testemunha, confissão etc. Tais
relações dispõem-se conforme seja necessário para o próprio rito jurídico, composto pelas provas.
PROVA PERICIAL
Ainda que para a maior parte da doutrina a prova pericial seja considerada a principal das provas,
uma vez que ela se baseia no conhecimento técnico-científico e em teorias universalmente
aceitas, algumas vezes, a perícia trabalha com provas testemunhais.
No Brasil, por exemplo, o modelo de laudo utilizado pela maioria dos órgãos de perícia prevê em
um de seus tópicos o histórico, onde o perito criminal ou médico legista, ao produzir o laudo,
dispõe um breve histórico sobre a situação, o qual geralmente é apresentado por testemunhas as
quais presenciaram o fato ou trazem versões de pessoas que presenciaram.
Não necessariamente, a versão disposta se confirmará frente a realização do exame pericial e seu
conjunto probatório, que será construído por meio dos demais elementos obtidos.
Além do laudo do exame pericial, a prova testemunhal possui relevância em determinados casos
de reprodução simulada ou de reconstituição de crimes.
Conceito: É o exame realizado por técnico especializado ou expert. Regulamentado pelo art. 158
a 184 do CPP. Exame realizado no corpo de delito.
ATENÇÃO: Nas localidades onde não há perito de natureza oficial, a autoridade poderá designar
peritos ad hoc, sujeitos os quais possuem conhecimento na área do exame necessário e
geralmente com formação superior, sendo designados em pares.
Corpo de delito: Qualquer objeto, ser vivo, local real ou virtual e outros elementos que estejam
relacionados à prática de um crime: arma, cadáver, residência, CD, HD, estado psicológico ou
psiquiátrico de vítima ou do acusado.
• A perícia é o exame técnico no corpo de delito – ECD;
• A perícia se materializa no laudo pericial (relatório do exame);
• O ECD é a verificação da materialidade, feita por peritos.
Art. 158 - Quando a infração penal deixar vestígios, é indispensável o exame do corpo de delito,
direto ou indireto, não podendo a confissão do acusado suprir a falta daquele.
No passado, muitos inocentes no Brasil foram condenados simplesmente com base e confissões,
sem se verificar, provar ou constatar a materialidade do crime por meio de perícia.
Muitas injustiças foram cometidas mediante a tal ausência de procedimento.
Art. 167 - Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
A única fórmula legal válida para suprir a falta do ECD é o depoimento de testemunhas.” – Nucci.
Exemplos de utilização de prova testemunhal: ausência de confissão ou testemunha, existido foto
ou vídeo. Considera-se também a importância da confissão e da testemunha para a perícia
(reconstituição).
Formas de prova
Art. 239 - Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o
fato, autorize, por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
Conforme visto, o indício é uma informação que surge ao longo da investigação e que serve de
prova quando cotejado com outras constatações obtidas na investigação, servindo de prova de
determinado fato.
• Autópsia: Art. 162. Produzida por médico legista, objetiva verificar a causa da morte;
• Lesões Corporais: Art. 168. Objetivo de identificar lesões, também produzida por médico;
• Exumação: Art. 163: Tipo de perícia realizada a pedido da Justiça, visando sanar dúvidas
acerca da identidade do cadáver ou da causa da morte;
• Local de Morte: Art. 164 – 166. Procedido por peritos criminais, objetiva materializar o
crime, coletar vestígios ou evidências e dispor a dinâmica do fato;
• Perícias de Laboratório: Art. 170. Realizadas em drogas, bebidas, venenos, explosivos,
material genético, manchas de sangue, esperma ou saliva;
• Perícias em Locais de Roubo ou Furto (Subtração de Coisas): Art. 171. Têm o objetivo
de materializar o crime e verificar a constatação de qualificadores;
• Avaliação Econômica Indireta: Art. 172. Avaliação econômica de coisa recuperada;
• Locais de Incêndio: Art. 173. Identifica a origem do fogo e as circunstâncias de
desenvolvimento,
além de sua origem (acidental, intencional, humana etc.);
• Documentos e Escritos: Art. 174. Perícia em assinaturas e documentos para que seja
verificada a autenticidade e a autoria;
• Perícias em Objetos – Armas, Veículos, animais, etc.: Art. 175.
É relevante destacar que a parte de classificação de locais de crime é bastante básica e essencial
em todos os editais sobre criminalística, já que está relacionada ao isolamento e preservação de
local de crime. Além disso, a parte de classificação é importante também, pois corresponde ao
cotidiano de quem trabalha na segurança pública, pois, quando for feita a descrição do local do
crime no laudo pericial de local, um dos tópicos tratará justamente sobre a classificação e a
divisão do local do crime. Por exemplo, uma das classificações mais comumente usadas pelo
agente é aquela classificação do local quanto ao local imediato, mediato e relacionado.
Primeiramente, antes de se classificar os locais de crime, é necessário definir o que é crime para
o Direito Penal e para a maior parte da doutrina. Crime é um o fato típico, antijurídico e culpável.
Para alguns doutrinadores, o fato também é punível.
Já para a perícia criminal, local de crime é um local onde possa ter ocorrido algum fato que talvez
seja um crime. Quando houver dúvida sobre se houve um crime ou não, a autoridade solicitará a
perícia do local, ou seja, o local será tratado como se fosse um local de crime.
Nesse sentido, todo fato requisitado pela autoridade para que seja feita a perícia, inicialmente,
será investigado como crime. Mas, por exemplo, o suicídio não é crime no nosso ordenamento
jurídico, sendo crime somente a instigação, o induzimento ou o auxílio ao suicídio.
Contudo, nesse caso, exige-se a realização do exame de corpo de delito da perícia, pois está
previsto no Código de Processo Penal (CPP). Assim, toda vez que a infração penal deixar
vestígio, é indispensável o exame de corpo de delito direto ou indireto. O suicídio como a
possibilidade de ser crime, pode ser um homicídio forjado ou disfarçado como suicídio. Por isso,
deve ser investigado como se fosse um crime.
• Investigação:
- Conjunto de procedimentos/tarefas;
- Elucidação do crime;
- Procedimentos: Investigação cartorária e a técnico-científica.
Sendo assim, a investigação corresponde à sequência de procedimentos ou de tarefas voltados
para a elucidação do crime, ou seja, são todos os procedimentos que a Polícia Judiciária realiza
no sentido de elucidar o crime. Lembre-se de que esses procedimentos estão dispostos no CPP, o
qual disciplina cada um desses procedimentos. Por exemplo, como a autoridade policial deve
fazer a oitiva de testemunhas, de acusados de suspeitos; como a autoridade policial procede em
buscas e apreensões; como a autoridade policial procede em acareações; como a autoridade
policial requisita o exame pericial ou exame de corpo de delito; como que deve ser procedida a
perícia; quais os tipos de perícia.
INVESTIGAÇÃO - PARTES
Vários conceitos: “Área onde ocorreu qualquer fato que reclame providências da polícia
(judiciária)” – Carlos Kehdy, Elementos de Criminalística.
Um dos conceitos de local de crime é aquele tratado pela polícia judiciária, ou seja, onde ocorreu
qualquer fato que possa ser um crime. Quando houver a dúvida, investigar-se-á como se crime
fosse. É essencial estar atento aos conceitos de local de crime, pois, embora seja elementar e
simples, há questões que abordam esse assunto.
Para Carlos Kehdy, local de crime é uma “área onde ocorreu qualquer fato que reclame
providências da polícia (judiciária)”. Esse trecho é apresentado em praticamente todos os
Manuais de Elementos de Criminalística, apostilas das academias de polícia e dos institutos de
Criminalística.
“Local de Crime é a porção do espaço compreendida num raio em cuja origem encontra-se o
ponto no qual é constatado o fato. Este se estende de modo a abranger todos os lugares em que,
aparente, necessário ou presumidamente, hajam sido praticados - pelo criminoso ou criminosos -
os atos materiais - preliminares ou posteriores - à consumação do delito, e com este diretamente
relacionados”, – Professor Eraldo Rabelo, Revista de Criminalística do Rio Grande do Sul, n. 7.
Outro conceito, esse mais antigo, é do Professor Eraldo Rabelo, que é perito do Instituto Geral de
Perícias do Rio Grande do Sul. Para Rabelo, local de crime é todo aquele local nas imediações
onde foi constatado o fato, possivelmente, criminoso. Esse ainda é um conceito mais abrangente
e rebuscado, pois muitos autores da velha guarda e da criminalística eram formados em Direito
também, além de serem informados sobre as áreas de ciência. Por isso, geralmente, apresentam
um pouco do jargão do Direito nessas definições científicas.
É relevante frisar que o local de crime é fonte de muitas informações, essas que são facilmente
extraídas ou não, podem ser subjetivas ou objetivas, ou seja, são informações subjetivas, que, por
exemplo, precisam somente de uma oitiva para ser obtidas ou informações latentes, como
vestígios de evidências de crimes, os quais, muitas vezes, necessitam de conhecimento
especializado, técnica, experiência e, em grande parte, o uso de equipamentos específicos para
serem detectados e materializados, sendo esses os vestígios ou evidências que fazem parte da
investigação técnico-científica.
Sendo assim, as evidências, os vestígios e as informações no local do crime podem estar mais ou
menos disponíveis, como de dados de informática em bancos de dados. Por exemplo, uma
empresa que pratica um grande crime como uma fraude financeira, sonegação de tributos ou
fraudes em licitações públicas. Nessa hipótese, as informações, os vestígios e as evidências
estão nos bancos de dados dos servidores, nos HDs, nos discos rígidos dos computadores da
empresa, órgão ou entidade envolvida. Em razão disso, há a necessidade de um profissional
especializado para levantar aquelas informações e, por exemplo, esse investigador é um perito
criminal com qualificação na área de informática.
Outro ponto relevante é que, de acordo com o princípio da perenidade dos vestígios, os vestígios
devem ser coletados de forma mais rápida possível, porque, na criminalística, se menciona que “o
tempo que passa, é a verdade que foge”, ou seja, se o tempo passou, o local do crime pode ser
violado e os vestígios podem ser perdidos.
INFORMAÇÕES SUBJETIVAS
Lembre-se de que as informações objetivas são aquelas que são obtidas de forma técnico-
científica, por meio da perícia no local do crime.
• Toda conduta humana deixa rastro material;
• Na investigação, deve-se buscá-los;
• Encontrar esses vestígios nem sempre é simples;
• É necessário conhecimento especializado;
• Muitas vezes até equipamentos indisponíveis;
• Princípio da Troca de Locard: o criminoso sempre deixa sinais da sua presença nos locais ou
objetos. Ele também leva consigo vestígios do local e/ou dos objetos.
Classificação 1
• Interno, exemplos: Quanto à classificação dos locais de crime, uma das classificações mais
importantes e mais frequentemente usada nos laudos é a classificação dos locais de crime em
interno, externo e misto. Nesse sentido, o local de crime interno é aquele que ocorre, por exemplo,
no interior de uma residência, no interior de um edifício, de um apartamento, de um prédio público.
Já o local de crime externo é aquele quando o crime ocorre em vias públicas, como um acidente
de trânsito na rodovia ou em uma rua, bem como um homicídio em uma via pública. Enquanto
isso, os locais de crimes mistos são aqueles quando o crime começa em um ambiente interno e
termina em um ambiente externo ou vice versa.
Na imagem acima, há um local de crime interno, onde a vítima está sobre a cama do quarto onde
foi assassinada.
• Externo, exemplos:
Essa imagem representa um local de crime externo, isto é, a pessoa transitava em via pública
com essa bicicleta e foi assassinado. É muito importante a classificação, pois se utiliza na
descrição do local no laudo. Os vestígios e as informações são obtidas no local do crime, portanto,
simultaneamente, a equipe de investigação cartorária e a equipe de investigação técnico-científica
trabalham no local para obter as informações mais ou menos disponíveis.
A imagem acima representa um local de crime misto, onde o assassinato começou no interior de
uma residência e, posteriormente, a vítima foi levada para o ambiente externo.
Classificação 2
A segunda classificação de local de crime está vinculada ao local imediato, mediato ou local
relacionado. Sobre isso, local imediato corresponde ao epicentro do local de crime, onde se
encontra a maioria dos vestígios e das evidências da ocorrência do crime. Por exemplo, local
onde se encontra o cadáver, local onde se encontra as manchas de sangue, os projeteis, as
cápsulas ou alguma arma relacionada à dinâmica do crime.
Já o local mediato são as imediações do local imediato. Nesse caso, é importante compreender
que não existe delimitação de distância de onde termina o local imediato e começa o local
mediato. Esteja bastante atento, pois, os candidatos costumam confundir isso e as bancas já
apresentaram questionamentos em relação a isso. Logo, quem define o que é o local imediato e
local mediato na cena do crime é o próprio investigador ou perito, que descreve a situação no
laudo.
Dentro dessa classificação, há um outro conceito que é o local relacionado. De acordo com os
mais novos e modernos manuais de criminalística, o local relacionado é um local onde não há
continuidade geográfica com o local onde ocorreu o crime. Suponha que uma pessoa está
desaparecida. A família procura aquela pessoa na residência dela e não encontra, mas a casa
está em desordem, há ausência de alguns objetos de valor e pertences da vítima, além disso,
existem manchas de sangue e se percebe sinais de luta. Posteriormente, a família comunica à
Polícia Judiciária e solicita um exame pericial do local. Assim, aquele local passa a ser tratado
como um local de crime e é periciado. Dois ou três dias depois, o cadáver da vítima é encontrado
em um local ermo, em uma zona rural afastada. Dessa forma, para doutrina e para os manuais de
criminalística, como o Manual Locais de Crime, lançado em 2013 pela Editora Milênio, o local
crime é onde foi inicialmente examinado, encontrada a desordem, as manchas de sangue, projétil
e a ausência dos pertences. Já o local onde foi encontrado o cadáver seria o local relacionado.
Esse assunto merece bastante atenção, pois pode confundir.
Na prática cotidiana, geralmente, é encontrado o cadáver e o local é tratado como local de crime,
no entanto, ao longo da perícia, muitas vezes, recebe-se a informação de que na residência da
vítima havia manchas de sangue, evidências e vestígios de que o fato ocorreu ali. Assim, no
cotidiano, este é tratado como local relacionado, porém, para a prova, deve seguir o mencionado
em manuais de criminalística.
Portanto, a residência da vítima, onde foram encontrados vestígios, é o local do crime, enquanto o
local onde foi encontrado o corpo que, no jargão policial e na linguagem popular, é chamado de
local de desova, seria o local relacionado. Optando-se por essa alternativa na prova, é possível
redigir o recurso dessa forma com base na literatura.
As imagens acimas apresentam vítimas mortas no interior de uma residência, a qual demonstra
sinais de desordem. Esse corresponde ao local imediato, é onde estava os cadáveres, os sinais
de desordem e da procura por objetos de valor.
Já as imagens acima apresentam a parte externa da residência, onde há um veículo com grande
quantidade de pertences/objetos de valor da residência. Sendo assim, as adjacências desse local
são tratadas como local mediato e o local onde há vestígios e evidências da tentativa de
subtração de pertences de valor é considerado local relacionado.
Classificação 3
Classificação 4
• Quanto à preservação;
• Preservado (idôneo);
• Não preservado (inidôneo, violado).
Local preservado
• Não sofreu mudanças relevantes;
• Pequenas mudanças eventuais geralmente não prejudicam a elucidação da dinâmica
O Código de Processo Penal exige que, no laudo de exame pericial de local de crime, exista um
tópico sobre o isolamento e a preservação do local. Nesse sentido, o perito deve informar que o
local estava isolado e preservado pelos policiais militares pelo sargento X e soldado Y, na viatura
Z. Na sequência, ele deve relatar o estado de isolamento e preservação do local, porque o CPP o
exige. Caso contrário, se não for informado, a responsabilidade cairá sobre o perito.
Além disso, esteja atento às possíveis repercussões das violações para a investigação, até
porque houve recentes alterações no CPP geradas pelo Pacote Anticrime, em 23 de janeiro, que
trata como fraude processual a violação de locais de crime.
Vale lembrar que pequenas alterações necessárias para prestar socorro não são consideradas
violações de má fé ou que podem fazer o agente público incorrer em uma fraude processual.
Isso porque o socorro é necessário para socorrer a vítima de um acidente de trânsito, a vítima de
tentativa de homicídio, a vítima de um incêndio. Essas intervenções podem gerar interferências no
local de crime, as quais, naturalmente, introduzem alterações que a lei entende razoáveis e
aceitáveis. Por isso, basta informar essas alterações e as repercussões delas para a investigação.
Por exemplo, o incêndio é um local crítico para a investigação da perícia, porque, diante da
necessidade de extinguir e de fazer o rescaldo do incêndio, o Corpo de Bombeiros deve alterar o
local: desligar a energia, jogar água e jogar pó. Nesse caso, por si só, o incêndio já é um local
crítico de difícil investigação e, com as alterações naturais da necessidade de controle e extinção
do fogo, torna o trabalho ainda mais difícil.
A imagem acima representa um local de crime violado. Observe que é um ambiente de um bar
que foi todo organizado e lavado, com um cadáver em frente do estabelecimento.
Percebe-se que foram feitas alterações, ou seja, o cadáver foi levado para a rua depois do crime e
a lavagem do ambiente ocorreu após o crime, o que não deveria ter sido feito, nessa situação, o
local deveria ter sido isolado e preservado.
A imagem acima demonstra outro local violado, sendo uma parede consertada em um local de
furto e arrombamento, mas o estabelecimento foi reparado antes da chegada da perícia. Sendo
assim, foi possível detectar somente a reparação do ambiente.
Isolamento e preservação
Os artigos 6º e 169 CPP estabelecem o que autoridade policial deve fazer assim que tiver
conhecimento da prática da infração penal, e os dispositivos 158-A até o 158-F, recém-incluídos
no Código de Processo Penal na parte da prova do exame pericial do exame de corpo de delito,
tratam exclusivamente sobre a cadeia de custódia, que é a etapa preliminar de isolamento e
preservação dos vestígios e das evidências no local do crime. Pode-se dizer ainda que a cadeia
de custódia é a preservação da prova (do corpo de delito). .
Obs.: Até meados de 2008, os exames obrigatoriamente eram feitos por dois peritos. De 2008 até
o ano atual, a legislação permitiu que o exame seja feito por apenas um perito, desde que não se
trate de perícias complexas na linguagem do CPP.
Obs.: O art. 6º é o dispositivo inicial do Código de Processo Penal que trata da importância do
isolamento e da preservação do local do crime.
Obs.: O assunto tratado nesta aula é importante não só na parte de criminalística, mas também
em relação ao Direito Processual Penal na parte da prova pericial. Em Medicina Legal, o assunto
também está presente.
Foram vistos, anteriormente, o conceito de local de crime, as classificações dos locais de crime
(quanto ao local imediato, mediato e relacionado) e o isolamento e preservação do local. Esses
tópicos serão descritos pelo perito no laudo.
O isolamento e a preservação do local devem ser feitos de forma mais ampla possível, partindo da
região central dos vestígios, onde se concentra a maior parte dos vestígios e evidências, até às
imediações. As proximidades da área também devem ser descritas e isoladas, e o local
relacionado (se houver), onde parte da dinâmica do crime ocorreu e que não tem continuidade
geográfica com a área imediata.
O isolamento serve não só para resguardar os vestígios e evidências, mas também para garantir a
segurança dos agentes que atuarão na investigação, como os policiais (que isolam o local) e as
equipes de perícia e de investigação que chegam em seguida. Deve ser feito com fitas, cones,
viaturas e com a presença de agentes de segurança pública. .
Na foto abaixo, a área está isolada com fitas, mas não de forma ampla, pois foi descoberto que
havia vestígios e evidências fora do isolamento, como uma faca, por exemplo. O cadáver está no
mato.
Nesta outra foto, somente o cadáver está isolado, e o local não se encontra preservado. Havia
vestígios fora do isolamento.
O policial deve isolar a área, deixando-a de forma mais sinalizada possível. Na falta dos materiais
para isso, ele pode utilizar o que encontrar, como galhos de árvores, tijolos, pedras etc.
A presença dos policiais e das viaturas é muito importante, pois evita que as pessoas não
resguardem os vestígios e evidências, alterando o local do crime.
Obs.: Existem alterações recentes do pacote anticrime que traz a cadeia de custódia oficializada
na Lei. Figura-se fraude processual do agente de segurança pública que alterar, por negligência,
imprudência, imperícia ou intencionalmente, o local do crime.
Quando o primeiro agente de segurança pública chega ao local, deve ter cuidado no sentido de
prejudicá-lo o mínimo possível e verificar se a vítima possui sinais vitais. Depois, o agente deve
acionar o socorro e tentar manter os sinais vitais da pessoa com manobras de primeiros socorros.
Obs.: Pela polícia judiciária e pela atividade de polícia técnica científica da perícia, todo incêndio é
investigado inicialmente como crime.
É considerado crítico o local de incêndio, pois antes da chegada da perícia, chegam ao local as
equipes de combate a incêndio que, para extinguir o fogo, acarretam alterações profundas nessa
área, porém são alterações necessárias e justificáveis, não tem como ser evitadas.
Obs.: Deve-se considerar que a preservação do local trata-se do início dos procedimentos de
cadeia de custódia, garantindo-se a idoneidade dos vestígios, qualidade e eficácia do trabalho
pericial.
Obs.: Toda e qualquer alteração promovida no local entre a ocorrência do crime e o início dos
trabalhos periciais deverá ser comunicada aos peritos criminais (CPP, artigo 169, parágrafo
único).
Fases do Isolamento
Obs.: As alterações dos vestígios podem ser promovidas por pessoas, por animais ou até
mesmo pela chuva.
Obs.: O policial deve ser bem treinado e ter boa-fé, para não introduzir alterações no local
do crime.
Obs.: As bancas têm cobrado o conteúdo baseado no livro “Locais de Crime”, da editora
Millennium.
Problemas comuns: O policial sabe que precisa isolar o local, mas não entende a importância; o
policial entende a importância, mas não sabe como isolar ou não tem os materiais necessários; o
policial sabe isolar, detém a técnica, detém os materiais, mas não acredita na persecução penal,
ou seja, acredita que será mais um caso impune.
Dispositivos da cadeia de custódia que interferem diretamente no isolamento e preservação do
local, da cena do crime, dos vestígios e das evidências relacionadas ao crime:
§ 2º - O agente público que reconhecer um elemento como de potencial interesse para a produção
da prova pericial fica responsável por sua preservação.
§ 3º - Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido, que se
relaciona à infração penal.
Art. 158B - A cadeia de custódia compreende o rastreamento do vestígio nas seguintes etapas:
II - Isolamento: Ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e preservar o
ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime;
III - Fixação: Descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no corpo
de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotografias, filmagens ou
croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo perito responsável
pelo atendimento;
IV - Coleta: Ato de recolher o vestígio que será submetido à análise pericial, respeitando suas
características e natureza;
VII - Recebimento: Ato formal de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado
com, no mínimo, informações referentes ao número de procedimento e unidade de polícia
judiciária relacionada, local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de
rastreamento, natureza do exame, tipo do vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o
recebeu;
Art. 158C - A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial, que
dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for necessária a
realização de exames complementares.
§ 1º - Todos vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados como
descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal responsável por
detalhar a forma do seu cumprimento.
Art. 158D - O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela natureza
o material.
§ 1º - Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de
forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte.
§ 3º - O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e, motivadamente,
por pessoa autorizada.
§ 1º - Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para conferência,
recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a classificação e a
distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar condições ambientais que
não interfiram nas características do vestígio.
§ 3º - Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e
deverão ser registradas a data e a hora do acesso.
§ 4º - Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser registradas,
consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação, a data e horário da
ação.
Art. 158F - Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de custódia,
devendo nela permanecer.
Parágrafo único - Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de armazenar
determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as condições de
depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão central
de perícia oficial de natureza criminal.
Art. 159 - Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão em regra feitos por peritos
oficiais.
Dentro dos documentos médicos legais existe: o laudo médico-legal e o laudo criminalístico.
O laudo médico-legal é o exame em uma pessoa viva ou morta. E o laudo criminalístico há
diversos laudos, como os laudos de exame de local de morte violenta, de locais de acidentes de
trânsito, de exame de caracterização de arma de fogo e munições (balística), de vistoria de
veículo, de perícia documentoscópica, de perícia grafoscópica etc. Laudo se trata de um
documento expedido por perito especializado e que traz todo o detalhamento, considerações,
análises, discussões técnicas e conclusões.
O exame criminalístico é um exame realizado por um perito criminal a ser requisitado por
autoridade policial ou judiciária, perito este que pode ser especializado nas mais diversas áreas. O
exame pericial é documentado em um laudo, que é um relatório acompanhado das considerações,
análises, discussões técnicas e conclusões.
Laudo Pericial
• Peça técnica;
• Formal;
• Resultado de uma perícia;
• Detalhado;
• A mais completa das peças técnicas;
• Inclui os resultados e discussões técnicas sobre o exame;
• Redigido por especialistas (peritos);
• Pode ser de natureza criminal ou cível.
No âmbito criminal, há as perícias criminas que são regulamentadas pelos arts. 158-A a 184 do
CPP, que são os exames procedidos por peritos criminais de natureza oficial e por peritos
médicos-legistas.
A perícia civil ocorre toda às vezes em que o juiz, no decurso do processo, necessita da opinião
técnica de um especialista em determinada matéria ou disciplina. Exemplo: quando um cidadão
solicita indenização trabalhista por insalubridade e periculosidade. Neste caso, o juiz nomeará um
perito judicial, elencado no rol daqueles cadastrados no tribunal, para observar a demanda do
trabalhador. Da mesma maneira que o juiz nomeia o perito, a parte reclamante e reclamada pode
nomear um perito particular (perito assistente técnico).
Laudo – Partes
a. Preâmbulo:
• Data e endereço da ocorrência e da solicitação;
• Nome do perito;
• Autoridade requerente;
• Dados da requisição de perícia;
• Nome do diretor da repartição pericial;
• Tipo de exame a ser realizado.
Histórico
• Descrição sumária da ocorrência;
• Informações trazidas por testemunhas ou outros policiais;
• Sujeitas a confirmação.
Objetivos da criminalística:
• Documentar;
• Indicar os meios;
• Detectar vestígios;
• Coletar vestígios;
• Propor a dinâmica do crime; e
• Sugerir a autoria.
Por força de exigência do CPP, o laudo de natureza criminal deve possui um tópico sobre o
Isolamento e a Preservação do local do crime¸ cabendo ao perito tecer considerações e hipóteses
acerca de eventuais prejuízos de alterações no local do crime.
Obs.: Vestes e adereços são importantíssimos para o reconhecimento (identificação) de
indivíduos.
É importante lembrar que a investigação e o julgamento podem se estender por meses ou até
anos. O Perito empreenderá as investigações técnico-científicas, enquanto o Delegado
empreenderá as investigações cartorárias.
Quem investiga muito frequentemente não se encontra no local do crime. E o que materializa a
cena do crime é o laudo pericial. Assim, um dos objetivos da criminalística é documentar,
perpetuar e materializar a cena e os objetos da cena do crime para a investigação e o julgamento.
Parecer é uma opinião técnica respaldada em técnicas e princípios das ciências. Em regra, o
parecer ocorre após a emissão do laudo. É uma resposta a consulta feita por interessado aos
peritos ou assistentes técnicos, acerca de uma questão a ser esclarecida:
a. Preâmbulo;
b. Exposição: transcrição dos quesitos e do objeto da consulta;
c. Conclusão: opinião técnica (“impressão”) acerca dos fatos consultados:
• Credibilidade: competência técnica de quem o redige;
• Opinião técnica sobre a análise de uma prova, fato ou documento;
• Redigido por profissional competente: químico, engenheiro, contabilista, médico e outros.
Segundo a literatura, relatório técnico cível ocorre quando o assistente técnico emite documento,
concordando com o resultado do exame realizado pelo perito do juízo ou perito judicial. E quando
o assistente técnico discorda, emite-se parecer técnico.
Exemplo de outros tipos de relatórios técnicos: quando uma autoridade policial ordena o
cumprimento de determinada diligência, tudo o que ocorreu na diligência é escrito em algo
chamado de relatório técnico, e não de laudo.
Autos do inquérito são todos os documentos que acompanham o inquérito, em sentido amplo. E
na literatura criminalística, não temos uma definição do que sejam autos de criminalística.
Documentos médico-legais
Segundo Genival Veloso de França, que é seguido pelos demais autores, há dois tipos
de relatório médico-legal: laudo e o auto.
Relatório: descrição e discussão minuciosa de qualquer exame médico-legal:
a. Laudo: redigido pelo perito legista;
b. Auto: redigido pelo escrivão e assinado pelo médico legista.