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NOÇÕES DE CRIMINALÍSTICA

Definição: Criminalística é a disciplina que consiste em analisar os indícios de um crime com o objetivo de
determinar o máximo de dados possível sobre como o incidente ocorreu.
A criminalística fornece, portanto, informações de interesse para as autoridades que têm a função de administrar a
justiça. Ao especificar a mecânica do crime estudando vários fatores, muitas vezes é possível descobrir quem é o
responsável.
O que a criminalística faz é reconstruir o que aconteceu através de evidências objetivas que devem ser interpretadas.
Geralmente, procura encontrar as evidências deixadas pelo culpado, seja na vítima ou na cena do crime.
Datiloscopia, hematologia e medicina forense são algumas das especialidades que fazem parte da criminalística.
Suponhamos que um homem aparece morto dentro de sua casa e a primeira hipótese é que foi um assassinato, uma
vez que o corpo tem um orifício na testa. Especialistas criminais chegam ao local e começam a desenvolver seu
trabalho: procuram impressões digitais, analisam manchas no chão, coletam objetos diferentes, etc. Graças ao
trabalho dos especialistas, determina-se que o homem foi morto a tiros por uma pistola de 9 milímetros, que
aconteceu na sala de jantar de sua casa. O assassino, que deixou suas impressões em uma mesa, entrou pela porta
e depois escapou por uma janela. Com essas informações fornecidas pelos criminalistas, as autoridades podem
avançar na busca pelo culpado.

VESTÍGIOS, EVIDÊNCIAS E INDÍCIOS (DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES)


Os peritos criminais, ao examinarem um local de crime, estarão procurando todos os tipos de objetos, marcas, ou
sinais sensíveis que possam ter relação com o fato investigado. Todos esses elementos, individualmente, são
chamados de vestígios.
Assim, vestígio é todo objeto ou material bruto constatado e/ou recolhido em um local de crime para análise posterior.
Assim podemos dizer que o vestígio é tudo o que encontramos no local do crime que, depois de estudado e
interpretado pelos peritos, possa vir a se transformar individualmente ou associado a outros - em prova. É claro que
antes de se transformar em uma prova, passará pela fase da evidência. Todos os vestígios encontrados em um local
de crime, num primeiro momento, são importantes e necessários para elucidar os fatos, ou seja, na prática, o vestígio
é assim chamado, para definir qualquer informação concreta que possa ter, ou não, alguma relação com o crime. A
existência do vestígio pressupõe a existência de um agente provocador (que o causou ou contribuiu para tanto) e de
um suporte adequado (local em que o vestígio se materializou). Os vestígios podem ser:

• Vestígios verdadeiros: é uma depuração total dos elementos encontrados no local do crime, pois somente o
são aqueles produzidos diretamente pelos atores da infração e, ainda, que sejam produto direto das ações
do cometimento do delito em si;
• Vestígios ilusórios: é todo elemento encontrado no local do crime que não esteja relacionado às ações dos
atores da infração e desde que a sua produção não tenha ocorrido de maneira intencional. A presença deste
tipo de vestígio é devida principalmente pela falta de isolamento e preservação do local;
• Vestígios forjados: todo elemento encontrado no local do crime, cujo autor teve a intenção de produzi-lo,
com o objetivo de modificar o conjunto dos elementos originais produzidos pelos atores da infração. Para os
peritos criminais, sempre será mais difícil a constatação e análise de um vestígio ilusório ou forjado, pois
terão que adicionar outros exames e análises para que possam chegar a conclusão de que se trata de
situações não relacionadas diretamente à ação dos atores da infração;
• Vestígios propositais: são produzidos com o objetivo de indicar uma qualidade, uma condição, um aviso,
uma advertência. Como exemplos têm-se marca de indústria, distintivo de sócio, figura de um crânio
humano com duas tíbias cruzadas como sinal de perigo, as placas e sinais de trânsito;
• Vestígios acidentais: são produzidos involuntariamente pelo agente. São exemplos as impressões digitais, as
manchas de material orgânico, pelos, cinzas, fibras, sinais de luta, a posição do corpo;
• Vestígios perceptíveis: são aqueles que podem ser diretamente captados pelos sentidos humanos (tato,
visão, paladar, audição e olfato), sem a utilização de qualquer artifício ou aparelho, como manchas de
sangue, sinais de arrastamento, armas eventualmente deixadas no local;
• Vestígios latentes: necessitam da utilização de técnicas ou aparelhos especiais para serem observados, como
manchas esperma, resíduos provenientes de disparos de arma de fogo, impressões digitais, etc;
• Vestígios perenes: são aqueles que não desaparecem com o tempo, sendo destruídos somente por evento
natural incomum e de grandes proporções. Como exemplos, as ossadas, os danos decorrentes de acidentes
automobilísticos, mossas, projéteis;
• Vestígios persistentes: permanecem indeléveis por um longo tempo, permitindo sua análise posteriormente.
Como exemplos, manchas de sangue em tecidos, pêlos, fibras, etc.
A idoneidade dos vestígios é fator primordial no contexto de uma perícia, uma vez que poderemos
comprometer todo o trabalho e, com isso, estarmos prejudicando o conjunto da investigação criminal e do processo
judicial posterior. Entende-se por evidência, quando o expert chega à conclusão, após análise sobre o conjunto dos
elementos coletados, que determinado vestígio está ligado, de fato, com o caso em exames, deixando assim de ser
um simples vestígio para passar a ser denominado de evidência.
A evidência, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, significa: qualidade de evidente, certeza manifesta.
Tornar evidente; mostrar com clareza; comprovar; aparecer com evidência; mostrar-se, patentear-se. No conceito da
criminalística evidência significa qualquer material, objeto ou informação que esteja relacionado com a ocorrência
do fato. Assim, evidência é o vestígio analisado e depurado, tornando-se uma prova por si só ou em conjunto, para
ser utilizada no esclarecimento dos fatos.
As evidências, por decorrerem dos vestígios, são elementos exclusivamente materiais e, por conseguinte, de
natureza puramente objetiva.
Seguindo, o Código de Processo Penal define indício, em seu artigo 239, como sendo:
“Art. 239 – Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize,
por indução, concluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias”.
Claro que nesta definição legal do que seja indício, estão, além dos elementos materiais, outros de natureza
subjetiva, ou seja, estão incluídos todos os demais meios de prova. Todas as investigações criminais se relacionam
com pessoas ou com coisas. Somente pessoas cometem crimes, mas elas invariavelmente o fazem por intermédio de
instrumentos. São estas coisas que, juntas, constituem o vasto campo dos vestígios.
Assim sendo, podemos deduzir que a evidência é o vestígio que, mediante pormenorizados exames, análises
e interpretações pertinentes, se enquadra inequívoca e objetivamente na circunscrição do fato delituoso. Ao mesmo
tempo, infere-se que toda evidência é um indício, porém o contrário nem sempre é verdadeiro, pois o segundo
incorpora, além do primeiro, elementos outros de ordem subjetiva.
Segundo a doutrina se um determinado vestígio após devidamente analisado e interpretado com os
resultados dos exames complementares, em conjunto com os dados da investigação policial, tiver uma relação com
o fato delituoso e com as pessoas com este relacionadas, este terá se transformado em indício.
A boa técnica pericial determina que o perito deve considerar como vestígio material somente o que ele
próprio constatar como tal, jamais aceitando que terceiros lhe apresentem possíveis “corpos de delito” que estariam
fazendo parte de um local de crime por ele examinado e não constatado no ato.
Dependendo do tipo de delito, os locais de crimes poderão ter conteúdo variado de vestígios, como, por
exemplo, nos crimes contra a pessoa, que possuem evidências específicas, relacionadas à vítima. Já nos crimes
contra o patrimônio, os vestígios apresentados relacionam-se à coisa. Ressalta-se que no local de crime serão
pesquisados elementos físicos que configurarão as provas materiais para a tipificação do delito e a busca de sua
autoria, sendo definidos como sendo, os vestígios que determinada ação criminosa deixa.
Por outro lado, a importância dos vestígios não se encontra adstrita somente ao que eles representam, mas,
é de vital importância, também, as posições em que se encontram e suas possíveis relações com outros vestígios,
que podem não serem analisados de imediato. Todavia, apesar de ser extremamente evitado modificar o estado das
coisas, ocorrem casos em que algumas medidas destas se fazem necessário, tais como cobrir o cadáver, objetivando
impedir que a chuva, ou outra intempérie destrua vestígios importantes como manchas de fluídos corpóreos ou
esfumaçamento.
A primeira providência dos peritos quando chegam ao local do crime é fazer uma observação geral (isso já foi
cobrado em prova) e à distância do ponto central (que normalmente é onde está o cadáver), a fim de dividir a área a
ser examinada em local imediato e em local mediato, visando a sistematização dos seus procedimentos ao longo de
todo o exame naquela área. A perícia em local de crime contra a pessoa, o chamado local de morte violenta, é uma
das áreas da criminalística que mais oferece riqueza de vestígios, capaz de propiciar ao perito criminal um trabalho
de desafio ao raciocínio lógico e à metodologia científica que deve ser aplicada em cada caso.
Em um local de crime, as manchas de sangue podem variar em volume, tamanho, quantidade, forma de
preservação, ligação com outros objetos. As manchas não apresentam um padrão único e isolado dos outros, e
devido a isso, sempre existe o questionamento sobre o tipo de mancha avaliada e com que tipo de ação a mancha
está relacionada. Um dos principais vestígios encontrados são as manchas de sangue. O estudo das mesmas é de
suma importância e visa, sobretudo, determinar a principio, se realmente se trata de sangue humano, qual é o grupo
sanguíneo e o fator RH, cujo exame será efetuado no laboratório criminal, depois de adequada colheita procedida
pelo Perito, quando do levantamento do local. Cabe, entretanto, exame no próprio local, de aspecto formal da
mancha, isto é da forma como se apresenta aderida a uma determinada superfície, a qual pode fornecer detalhes
importantes para se estabelecer a possível dinâmica do evento.
EXAME PERINECROSCÓPICO: FERIMENTOS CONTUSOS, PUNCTÓRIOS, INCISOS E
MISTOS.

Significado de Perinecroscópico: Exame realizado por peritos criminais no local de crime. Não deve ser
confundido com a necrópsia, que é realizado por médico legista e exame do corpo em seu exterior e interior. O exame
perinecroscópico limita-se ao exame externo. Os peritos criminais têm atribuição para exame do local e instrumentos
do crime, devendo efetuar o exame perinecroscópico para orientação de seus trabalhos, fotografando o corpo na
posição em que for encontrado, bem como todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime, em
obediência ao art. 164 do Código de Processo Penal. Os médicos legistas, por outro lado, efetuam o exame
necroscópico, nas dependências do Instituto Médico Legal, por vezes sem ter conhecimento da dinâmica do evento,
dos comemorativos ou mesmo dos achados de local. O médico legista tem melhores condições para exame do corpo
que o perito criminal que, muitas vezes, examina o cadáver, na via pública e com recursos limitados. Sendo assim, um
exame mais detalhado, no IML, venha a revelar ferimentos não observados no local dos fatos, mesmo porque o perito
criminal não tem acesso aos ferimentos no interior do corpo. O laudo do Instituto Médico-Legal, baseado no exame no
corpo da vítima, deve complementar os exames realizados pelo perito criminal no local dos fatos.
O perito deve seguir alguns procedimentos nesse exame. O cuidado básico é verificar o conceito de “destruição
da ponte”. Alguns vestígios são destruídos quando coletados, como uma ponte destruída assim que atravessada. Por
isso o cuidado na coleta de informações existente no cadáver.
Como orientação, deve-se verificar:

• Os ferimentos;
• Sinais de violência (intensidade, se foram realizados no local, etc);
• Sinais de luta (essenciais para verificação de possível legítima defesa ou qualificadora de uso de recurso que
dificultou a defesa da vítima, elementos comumente desconsiderados pela autoridade policial na elaboração
do relatório do Inquérito Policial);
• Reação de defesa (em complemento ao item anterior);
• Vestígios intrínsecos, como sêmen, vísceras, vômitos, salivas, fezes;
• Sangue (informar a forma de produção, se escorrimento, gotejamento, concentração, etc), devendo ser
fotografado na forma que foi encontrado. Se possível, identificar se havia sangue do agressor, o que denotaria
sinais de luta;
• Vestígios extrínsecos (manchas, pelos, material orgânico, terra, etc);
• Material do agressor (verificar unhas, mãos e órgãos genitais da vítima);
• Observar se relógios, anéis, brincos, cordões, foram arrancados (essencial para a contraposição entre
latrocínio e homicídio).
Orientação do exame
No exame do cadáver no local, o perito deve seguir as seguintes etapas:

• Exame visual, sem tocar no corpo, com registro de todos os vestígios possíveis;
• Exame com as vestes, no qual o cadáver começará a ser movimentado;
• Exame retirando as vestes, devendo ter cuidado para não perder os vestígios. Aqui um lembrete: o morto
mantém a dignidade objetiva. Por isso, o isolamento visual do local, para afastar olhares incautos se faz
essencial nessa etapa;
• Exame sem as vestes, essencial para a verificação das lesões, em sua quantidade e qualidade.

O perito também deve ter uma orientação para a análise do cadáver, sendo recomendado que utilize a sequência:
cabeça, pescoço, tórax, membros superiores, mãos, abdômen, dorso, órgãos genitais e membros inferiores.

Exame das vestes


As vestes dizem muito sobre o crime. Infelizmente, por descuido da autoridade policial na preservação da prova,
desaparecem antes de poderem ser exibidas aos jurados em Plenário do Tribunal do Júri. A sequência de análise das
vestes é:
a) exame das vestes sem tocar no cadáver;
b) exame das vestes ao movimentar o cadáver;
c) exame das vestes enquanto essas são retiradas do corpo da vítima;
d) exame de cada peça, de forma individual.

O perito deve observar as condições em que estavam as vestes, principalmente:

• Rasgões;
• Orifícios e perfurações;
• Botões arrancados;
• Manchas de sangue (se formados por gotejamento, concentração, alimpadura, respingos, rastro de sangue,
indicando que o corpo foi arrastado, etc);
• Substâncias estranhas nas vestes;
• Examinar os bolsos (se encontrar valores, registrar na frente de testemunhas, para evitar acusações de
subtração pela autoridade policial);
• Adotar procedimento para que as vestes sigam junto com o cadáver para o IML.

Lesões Perfurantes ou Punctórias: Causadas por meios ou instrumentos perfurantes, de aspecto pontiagudo,
alongado e fino, e de diâmetro transverso reduzido, possuindo características bem próprias.
Atuação: Por pressão em superfície muscular afastando os tecidos. Raramente seccionando as estruturas.
Características: Tem como características a abertura estreita; de raro sangramento. De pouca nocividade na
superfície e as vezes, de certa gravidade na profundidade. A depender do órgão atingido, a lesão é quase sempre de
menor diâmetro que o do instrumento causador. • Por conta da elasticidade e retratilidade dos tecidos atingidos pelo
instrumento
O trajeto que tais lesões apresentam, são expressos por um túnel estreito que se estende pelo tecido perfurado,
representado no cadáver por uma linha escura.
O ferimento de saída: É em geral mais irregular e de menor diâmetro que o de entrada, em face do instrumento
atuar nessa fase através de sua parte mais afilada. • Quando o instrumento perfurante é de médio calibre, a forma
das lesões assume aspecto diferente, obedecendo às leis de Filhos (Edouard Filhos) e Langer (Karl Ritter von
Langer).
As feridas punctórias de médio calibre seguem as seguintes ordens:
1ª Leis de Filhós - Apresenta de casa de Botão.
2ª Leis de Filhós - Linhas de força em um sentido único sobre tecido muscular.
Leis de Langer – Linhas de forças diferente somente no vivo.

Lesões Cortantes ou Incisas: Os meios ou instrumentos de ação cortante, agem através de um gume mais ou
menos afiado.
Atuação: por uma atividade mecânica de deslizamento sobre os tecidos e em grande parte de sua transferência
energética, em sentido linear.
As incisões verificadas em cirurgias, tem características diferentes daquelas feridas produzidas pelos mais distintos
meios cortantes.
Se em determinada perícia encontram-se ferimentos produzidos por arma branca e outros provenientes de incisões
cirúrgicas, deve-se realizar a diferença entre elas.
Características: A ferida da incisão cirúrgica começa e termina proporcionalmente, em uma mesma profundidade
se estende de um extremo ao outro. Possuindo suas bordas regulares e excepcionalmente não apresentando cauda
de escoriação.
As feridas cortantes possuem como uma de suas particularidades, suas extremidades mais superficiais e o seu
centro ou parte mediana mais profunda. Nem sempre apresentando-se de forma regular. Possuindo como
característica principal a chamada “cauda de escoriação”.

• Forma linear.
• Regularidade das bordas.
• Regularidade do fundo da lesão.
• Ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida.
• Hemorragia quase sempre abundante.
• Predominância do comprimento sobre a profundidade.
• Afastamento das bordas da ferida.
• Presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a ação do instrumento.
• Centro da ferida mais profundo que as extremidades.
• Paredes da ferida lisas e regulares.
• Perfil de corte de aspecto angular, quando o instrumento atua de forma perpendicular, ou em forma de bisel,
quando o instrumento atua em sentido oblíquo ao plano atingido.
Forma: sua forma linear é devido à ação cortante por deslizamento, principalmente quando um instrumento afiado
atua em sentido perpendicular à pele. São geralmente retilíneas graças à ação de deslizamento, embora algumas
vezes, possam apresentar-se curvas ou desvios momentâneos por conta de possíveis movimentos da vítima ou
permanente da região atingida.
Não se observam escoriações, equimoses ou infiltração hemorrágica nas bordas ou em volta da ferida. De igual
modo, não são encontrados, pontes de tecidos ligando uma vertente da ferida à outra. A extensão da ferida é quase
sempre menor que a real produzida, em virtude da elasticidade e da retração dos tecidos moles lesados.
O afastamento das bordas da ferida cortante tem explicação na elasticidade e tonicidade dos tecidos. É mais
acentuada onde os tecidos cutâneos são mais solicitados pela ação muscular, como no pescoço e, ao contrário, onde
essas solicitações não se mostram tão evidentes.
É difícil um tipo de instrumento cortante capaz de alcançar órgãos cavitários ou vitais, exceção feita ao pescoço,
onde a morte pode sobrevir pelo “esgorjamento”.
Na situação em que o instrumento de corte atuar obliquamente, sua forma é em bisel. O diagnóstico das feridas
produzidas por ação cortante é relativamente fácil, a dificuldade pode-se apresentar à distinção dos mais diversos
instrumentos porventura utilizados.
Sinal de Chavigny: Quando duas lesões cortantes se cruzam, pode-se determinar qual lesão foi feita primeiro
aproximando-se os bordos da ferida. A ferida primária apresentará os bordos alinhados. • A ferida secundária,
apresentará desalinho, pois foi gerada quando as bordas da primeira ferida já estavam afastadas.
Instrumentos Comuns: Navalha, Lâmina de bisturi, Faca afiada.
Instrumentos Incomuns: Folha de papel, Linha com pó de vidro (cerol), Capim (capim navalha).

Lesões Contundente: São lesões capazes de provocar destruição em superfícies simples, ou mesmo em
estruturas mais profundas do corpo humano. Exercidas por energias empregadas através de instrumentos sólidos
que tem a objetividade de causar descontinuidade por completo.
Feridas Contusas: Solução de continuidade que interessa toda a pele e subcutâneo. O agente contundente força a
epiderme de encontro a derme e esta de encontro ao osso, a epiderme é arrancada e as fibras da derme deslocadas.
Características: As bordas apresentam-se escoriadas, as vertentes anfractuosas, infiltradas por sangue e ligadas
por pontes de tecido, e o fundo sujo e irregular.
As margens não são escoriadas e estão particularmente deslocadas do subcutâneo unido por extensas traves de
tecido íntegro.
As feridas contusas atestam a ação contundente e raramente indicam o agente.
Instrumento arredondado forma lesão estrelada, irregular, com fissuras partindo do centro da lesão;
Instrumento cilíndrico forma ferida linear de bordas escoriadas e solapadas.

Formas: Ortogonal – Direto.


Oblíquo – Lateral.
Tangencial – Raspão.
Instrumentos: Rombos (Comuns):
Pisos.
Paredes.
Mãos.
Pés.
Veículos automotivos.
Pedras.
Paus.
Entre as energias de ordem mecânicas, os instrumentos e lesões de origem contundentes, são os maiores
causadores do dano. Observando sempre a forma de emprego da energia sobre a vítima ou sobre o objeto em
estado de repouso.
Ativo: Objeto em movimento/ Corpo em repouso.
Passivo: Objeto em repouso/ Corpo em movimento.
Misto: Objeto em movimento/ Corpo em movimento.

Gravidade: Leve: Rubefação. Edema traumático. Equimose. Escoriação. Bossa.


Média: Ferida contusa. Entorse. Luxação.
Intensa: Fratura. Rotura visceral. Esmagamento.
Exceções: Edema cerebral - intensa.
Ferida contusa pequena - leve.
Escoriação profunda - média.

FERIMENTOS ESPECIAIS: ESGORJAMENTO, DEGOLA E DECAPITAÇÃO.

Esgorjamento: Será o trauma ou uma lesão de natureza cortante que tem por obrigatoriedade a incisão em região
cervical (pescoço) no sentido anterior (frontal), ou anterolateral (frontal e lateral do pescoço), independente da
direção do corte, a região apresentará as principais características abordadas por essa modalidade de trauma,
lembrando que deverá sempre ser identificadas suas caudas de escoriações.
Degolamento: será o trauma ou uma lesão realizada de natureza cortante em sua menor intensidade, ou quando
aplicada com maior transferência comporta-se como uma lesão de natureza corto-contundente. A área de atuação
desta lesão será a região posterior da cervical (pescoço).
Decapitação: será o trauma ou uma lesão realizada de natureza obrigatoriamente por ação corto-contundente, pois
através do peso do instrumento terá a capacidade de separação completa da cabeça da vítima

LESÕES POR PROJÉTEIS DE ARMA DE FOGO

Para estudar as lesões causadas por projéteis de arma de fogo é necessário levar em consideração o ferimento de
entrada, o ferimento de saída e o trajeto. Todavia, antes de adentrar nesse estudo, é necessária elucidação de
alguns conceitos:

Orla de escoriação ou de contusão: ocorre em detrimento do arrancamento da epiderme devido ao movimento de


rotação do projétil antes de penetrar no corpo. Logo, ao redor do local de impacto na pele, surge uma região
escoriada ou desepitelizada. Se o projétil encontrar um obstáculo antes de entrar no corpo, pode ser que sejam
perdidos uma parte ou a totalidade do movimento e da rotação, fato que desencoraja a formação da orla de
escoriação, nas lesões por projéteis.
Bordas invertidas da ferida: ocorrem devido à ação traumática do projétil de fora para dentro sobre a natureza
elástica da pele.

Halo ou zona de tatuagem: é resultado da impregnação dos resíduos de combustão e semicombustão da pólvora, e
das partículas sólidas do próprio projétil. Pode adquirir formatos arredondados nos tiros perpendiculares ou forma de
crescente no caso de tiros oblíquos. Possui variações de cor, forma, extensão e intensidade conforme a pólvora.
Através da análise da zona de tatuagem, a perícia pode estabelecer a distância exata do tiro ao utilizar a mesma
arma e a mesma munição em vários tiros de prova.

Zona ou orla de esfumaçamento: é chamada também de zona de falsa tatuagem, já que ao ser lavada ela
desaparece. É resultado do depósito deixado pela fuligem que envolve a ferida de entrada, sendo formada pelos
resíduos finos e impalpáveis da pólvora combusta.

Zona de queimadura: é chamada de zona de chama ou zona de chamuscamento. A ação superaquecida dos gases
que atingem e queimam o alvo são os agentes responsáveis por essa zona. Em regiões cobertas de pelos, há um
verdadeiro chamuscamento mostrando-os crestados, entortilhados e quebradiços.

Aréola equimótica é representada por uma zona superficial e relativamente difusa, próxima às redondezas do
ferimento de entrada, de tonalidade violácea, pode estar encoberta por outros elementos. Decorre do extravasamento
de sangue oriundo da ruptura de pequenos vasos localizados na periferia do ferimento.

Halo de enxugo: o halo de enxugo é concêntrico nos tiros perpendiculares, já nos oblíquos, em meia lua.
Geralmente, a tonalidade é escura, mas pode variar de acordo com as substâncias que o projétil leva consigo ao
penetrar no alvo. O halo é decorrente da passagem do projétil através do tecido, atritando e contundido, limpando
neles suas impurezas.
Tiro à longa distância:
Geralmente, ferimento de entrada do tiro à longa distância tem diâmetro menor que o do projétil devido à elasticidade
e à retratibilidade dos tecidos cutâneos, forma arredondada quando o tiro é perpendicular ou elíptica quando a
inclinação do tiro é oblíqua. Presença de orla de escoriação, orla de enxugo, aréola equimótica e bordas invertidas.
Não há os efeitos secundários do tiro.
Tiro à curta distância (à queima-roupa)
O tiro à curta distância é aquele em que o projétil é lançado contra o alvo há uma distância capaz de causar o
ferimento de entrada e os efeitos secundários, os quais são as lesões decorrentes da ação dos resíduos de
combustão e semi-combustão da pólvora, e das partículas sólidas do projétil. Não há uma espaço em centímetros
que determine o tiro à curta distância, sendo esse determinado pela presença dos efeitos secundários. O ferimento
desse tipo de tiro pode ter borda arredondada ou elíptica, orla de escoriação, zona de tatuagem, bordas invertidas,
halo de enxugo, zona de esfumaçamento, zona de queimadura, aréola equimótica e zona de compressão de gases.
O tiro à queima-roupa é uma forma de tiro à curta distância que além das zonas de tatuagem e de esfumaçamento,
há a queimadura superficial dos pelos, cabelos, pele e zona de compressão de gases.
Ferimentos de saída
As lesões de saída além de forma irregular, possuem bordas evertidas, halo equimótico e muitas vezes, fragmentos
de tecidos. Ademais, as dimensões são maiores que as de entrada já que, o projétil possui ação mais contundente do
que perfurante devido a algumas alterações ao longo do seu trajeto, causando deformidades. Por fim, por conta
dessas características, tornam-se mais sangrantes em comparação às lesões de entrada.

MORTES PRODUZIDAS POR ASFIXIAS.

As mortes por asfixia podem ser causadas por enforcamento, estrangulamento, esganadura, afogamento,
sufocação, soterramento ou exposição a atmosferas deficientes em oxigênio. O presente trabalho visa fazer uma
revisão dos principais achados perinecroscópicos, necroscópicos, bioquímicos e toxicológicos verificados em casos
de morte por asfixia, ressaltando os parâmetros que podem auxiliar no diagnóstico diferencial destes tipos de mortes.
Neste estudo, não serão abordadas, de forma específica, as mortes por afogamento.

ACHADOS INESPECÍFICOS: Os sinais necroscópicos clássicos das asfixias são inespecíficos e podem ser
observados em mortes causadas por outros mecanismos, até mesmo por doenças. Entretanto, somados aos
vestígios encontrados no local da morte e às lesões específicas identificadas no corpo da vítima, tais sinais adquirem
considerável relevância. Os achados necroscópicos comuns à maioria dos casos de asfixias incluem manchas de
Tardieu (hemorragias puntiformes subserosas) no coração, pulmões e outros órgãos internos; petéquias
hemorrágicas na pele da face, conjuntiva ocular, pálpebras, mucosa oral, couro cabeludo e outros locais. Cianose
facial; hemorragia, edema e/ou enfisema pulmonar; congestão poli visceral; entre outros. Betz et al teorizaram que o
encontro simultâneo de petéquias conjuntivais e edema pulmonar agudo é um forte indicativo de morte por asfixia.
Delmonte e Capelozzi avaliaram estatisticamente as características morfológicas verificadas no pulmão de 167
casos de mortes por asfixia. Do estudo realizado, verificou-se que 100% das vítimas de asfixia por aspiração
apresentavam congestão pulmonar, hemorragia septal e presença de líquido amniótico, alimentos ou conteúdo
gástrico no lúmen de bronquíolos e alvéolos, enquanto que a presença de enfisema pulmonar, edema intersticial e
constrição bronquiolar mostrou uma especificidade de 81,8% para vítimas de sufocação (por obstrução dos orifícios
respiratórios ou compressão torácica) ou confinamento em atmosferas pobres em oxigênio. Ainda, necropsias
pulmonares apresentando edema interalveolar e dilatação dos espaços alveolares com compressão secundária dos
capilares septais, caracterizaram mortes por afogamento; e a presença de intensa hemorragia alveolar com áreas
alternando entre dilatação e constrição bronquiolar, enfisema e colabamento alveolar, individualizariam as mortes por
constrição do pescoço (estrangulamento, esganadura e enforcamento).

Hadley e Fowler compararam o peso dos órgãos internos de vítimas de morte por trauma, afogamento e outros tipos
de asfixia (sufocação por obstrução dos orifícios respiratórios, compressão torácica, enforcamento e
estrangulamento). O peso médio dos pulmões, fígado, rins e baço foi significativamente maior nos casos de asfixia
(excluídos os afogamentos) do que o verificado nas mortes por trauma. Com relação aos casos de afogamentos, o
aumento do peso dos órgãos foi similar àquele observado nos outros casos de asfixia, a exceção dos pulmões, cuja
média dos pesos foi 30% maior nas vítimas de afogamento do que nas outras asfixias. Órgãos como cérebro e
coração não mostraram diferenças entre os grupos estudados. As petéquias externas e viscerais (manchas de
Tardieu) formam-se pela ruptura de pequenos vasos sanguíneos, ocasionada, no caso das asfixias, por um aumento
na pressão intravascular. São achados inespecíficos, podendo ser encontrados em vários tipos de asfixia, incluindo
estrangulamento, esganadura, enforcamento, afogamento, aspiração de conteúdo gástrico e compressão torácica.
Podem também ser observadas em casos de mortes naturais, por doenças (epilepsia, asma, coágulopatias, etc.),
danos cardíacos graves e até como conseqüência de manobras de ressuscitação cardiopulmonar, as quais
aumentam a pressão intratorácica.

Petéquias na região da cabeça, em especial as conjuntivais e palpebrais, são geralmente encontradas em asfixias
por estrangulamento, esganadura, enforcamento com suspensão incompleta do corpo e compressão torácica, sendo
incomum a sua presença em casos de afogamento, enforcamento com suspensão completa do corpo, sufocação por
obstrução dos orifícios respiratórios, confinamento em atmosferas pobres em oxigênio. Tais achados podem ser
explicados considerando que a compressão do pescoço ou tórax ocasiona um aumento na pressão intravascular
craniana, devido à diminuição ou obstrução do retorno venoso, sem comprometer o suprimento sanguíneo arterial.
Sabe-se que são necessários cerca de 2 kg para obstruir as veias jugulares e 5 e 30 kg, respectivamente, para obter
o mesmo resultado nas artérias carótidas e vertebrais. Assim, se a pressão aplicada no pescoço ou tórax for elevada
o bastante para obstruir o retorno venoso do crânio, mas insuficiente para impedir o fluxo arterial a este, haverá uma
elevação na pressão intravascular craniana, ocasionando o rompimento de vênulas e capilares. Entretanto, se não
houver diminuição no retorno venoso da cabeça (afogamentos, sufocação por obstrução dos orifícios respiratórios,
atmosferas irrespiráveis, etc.) ou a força aplicada for suficientemente grande para obstruir artérias (enforcamento
com suspensão completa do corpo), não ocorrerá aumento da pressão sanguínea na região da cabeça, e
consequentemente não serão observadas petéquias hemorrágicas nesta região. A determinação dos níveis de
oxiemoglobina no sangue cadavérico é de pouco valor discriminativo, tendo em vista que hipóxia sistêmica severa é
um estado que precede a maioria das mortes, com exceção daquelas abruptas, com mínimo período de sofrimento.
No entanto, somado a outros parâmetros, a avaliação oximétrica pode contribuir para a elucidação de alguns casos.
Maeda et al encontraram concentrações muito baixas de oxiemoglobina (a maioria abaixo de 10%) em punções
cardíacas de vítimas de mortes por asfixia, incluindo estrangulamentos e afogamentos. Em contrapartida, níveis
elevados (maiores que 50%) foram observados na maioria das mortes por exposição ao frio e em alguns casos de
mortes por lesões severas e feridas incisivas.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Asfixias por constrição do pescoço Nas asfixias por enforcamento, estrangulamento
ou esganadura, geralmente são encontradas lesões cutâneas características no pescoço da vítima, capazes de
individualizar o mecanismo da morte. Tais marcas podem ser produzidas tanto pelo agente causador (sulcos,
equimoses) como pela própria vítima (marcas ungueais), na tentativa de libertar-se. Luxações e fraturas nas
vértebras cervicais são infrequentes nos casos de enforcamento, e extremamente raras nos casos de
estrangulamento e esganadura. Quando o estrangulamento se processa com a utilização do antebraço do homicida
(golpe vulgarmente conhecido como “gravata”) podem ser verificadas escoriações e contusões no topo dos ombros
da vítima. Em alguns casos, entretanto, os achados necroscópicos externos podem ser muito tênues, dificultando o
diagnóstico das asfixias por constrição do pescoço. Hawley et al ressaltaram que lesões não aparentes no dia da
morte podem ser reveladas no dia posterior, quando a pele começa a ressecar e ganhar maior transparência. Müller
et al propuseram a dosagem de tireoglobulina como parâmetro auxiliar na diagnose das asfixias por compressão do
pescoço. Na pesquisa desenvolvida por tais autores, as concentrações médias de tireoglobulina (ng/mL) no sangue
de vítimas de esforcamento (149,9 ± 202,3), estrangulamento por laço (193,1 ± 173,3) e esganadura (561,6 ± 173,9)
foram significativamente maiores do que aquelas verificadas em vítimas de mortes súbitas (23,3 ± 27,6) e em
indivíduos sadios (17,3 ± 16,1). Além disso, os níveis de tireoglobulina encontrados em vítimas de esganadura foram
significativamente maiores do que aqueles observados nas asfixias por enforcamento e estrangulamento por laço.
Asfixias por sufocação: Entende-se por sufocação o bloqueio da passagem do ar nas vias aéreas, seja pela
obstrução mecânica de segmentos da árvore respiratória (sufocação direta), seja pelo impedindo da expansão
torácica (sufocação indireta). A sufocação direta pode decorrer da oclusão da boca e narinas da vítima (pelas mãos
do agressor ou com o auxílio de almofadas, lenços, travesseiros, etc.) ou da obstrução da traquéia e brônquios por
de corpos estranhos (rolhas, adesivos, alimentos, conteúdo gástrico, etc.). No caso de bloqueio dos orifícios
respiratórios com almofadas e travesseiros, os sinais exteriores da agressão serão mínimos; já quando o homicida
utiliza as mãos para comprimir a boca e nariz da vítima, geralmente poderão ser observadas severas contusões no
nariz e lábios do cadáver. A obstrução da passagem do ar também pode ocorrer em outros segmentos do trato
respiratório superior, como faringe, laringe, traquéia e brônquios, com causa acidental, suicida ou em decorrência de
enfermidades.
Byard et al relataram o caso de um indivíduo esquizofrênico que se suicidou pela introdução de cobertor na
orofaringe, bloqueando a passagem do ar. Estes mesmos autores também descreveram dois casos de sufocação
direta causada por enfermidades: uma criança de 1 ano e 7 meses que morreu devido à oclusão da glote por uma
tonsila aumentada e uma senhora de 68 anos que morreu por obstrução da região supra glótica por um hemangioma
cavernoso. Apesar destes relatos, a maioria das mortes por bloqueio das vias aéreas superiores repousa sobre
causas acidentais, devido à aspiração de objetos, alimentos (leite, pedaços grandes de alimentos) ou vômito, por
crianças, idosos, indivíduos debilitados ou com distúrbios neurológicos. Dos 14 casos de mortes por aspiração de
alimentos ou conteúdo gástrico, examinados por Bockholdt et al entre os anos de 1998 e 2001, dois eram crianças e
os demais adultos com idade superior a 55 anos, todos enfermos ou apresentando lesões severas.
Berzlanovich et al avaliaram 191 casos de mortes por asfixia devido à aspiração de alimentos ou objetos e
verificaram que a idade avançada, a dentição pobre e o consumo de bebidas alcoólicas são fatores de risco bastante
relevantes neste tipo de asfixia. Além do álcool, outras substâncias depressoras do sistema nervoso central, como
barbitúricos e benzodiazepínicos, podem predispor à aspiração de corpos estranhos17 sendo, portanto, de suma
importância à realização de exames toxicológicos nas vítimas de asfixias aspirativas. Embora pouco comum,
indivíduos jovens, previamente sadios e não alcoolizados, também podem morrer por aspiração de corpos estranhos.
Njau descreveu o caso de um homem de 24 anos que morreu enquanto cochilava, por aspiração de uma goma de
mascar, que se alojou na bifurcação da traquéia.
No caso relatado por Obafunwa et al, uma jovem de 29 anos morreu por aspiração do próprio vômito somada a
broncoespasmos, ambos em decorrência de uma reação anafilática gerada pela inalação de vapores de comida à
base de camarão. A análise histológica da epiglote, traquéia e brônquios desta mulher revelou grande infiltrado
mastocitário, apesar dos níveis de IgE sanguínea não estarem muito aumentados, provavelmente devido à
degradação post mortem desta imunoglobulina.
A sufocação indireta é freqüentemente observada em acidentes de veículos, quando os indivíduos ficam presos às
ferragens, ou em casos de quedas com posicionamento final inadequado do corpo, impedindo os movimentos
respiratórios. No diagnóstico desta última modalidade, também referida como asfixia posicional, devem ser excluídas
todas as outras possíveis causas de morte, como doença pré-existente, privação de oxigênio, intoxicação por
monóxido de carbono ou outros gases, estrangulamento, sufocação direta, etc. Deve haver evidências de que o
posicionamento impróprio da vítima foi acidental e que dali não conseguiu se libertar, seja pela ocorrência de um
trauma, seja pelo grande consumo de drogas (álcool, solventes, medicamentos, etc.). Nestes casos, a avaliação do
posicionamento do corpo da vítima no local em que foi encontrada, a realização de exames toxicológicos (álcool e
drogas de abuso) e bioquímicos (carboxiemoglobina) e a ausência de achados necroscópicos específicos,
diagnosticará este tipo de asfixia acidental.
Padosch et al relataram um caso de asfixia posicional em um homem severamente alcoolizado (concentração post-
mortem de etanol no sangue 2.60 g/L e na urina 3.26 g/L) que caiu de uma escada. O trauma encefálico ocasionado
pela queda e a grave intoxicação alcoólica impediram a saída do indivíduo da posição final danosa. A sufocação
indireta também pode decorrer de ação homicida, quando o agressor pressiona o tórax da vítima contra o chão ou
outra superfície, usando as mãos, braços, joelhos, ou outros segmentos do corpo. Nestes casos, o exame
necroscópico revelará a presença de costelas fraturadas e/ou hemorragias nos órgãos torácicos e abdominais.

Asfixias por soterramento: O soterramento pode ser definido como um tipo particular de sufocação direta, causado
pela inalação de sólidos pulverulentos como terra, areia, farinha, arroz, trigo ou lama, sendo majoritariamente de
origem acidental. O achado necroscópico característico deste tipo de asfixia é a presença de sólidos nas vias aéreas
superiores ou até preenchendo toda a árvore respiratória. A morte por soterramento pode ser precipitada por
traumatismos ou por doenças subjacentes, como epilepsia e diabetes mellitus. Byard et al descreveram a morte de
um cavador de sepulturas insulinodependente que, devido a um episódio de hipoglicemia, desmaiou, caindo em
decúbito ventral no interior de uma sepultura, ficando sua face imersa no solo. O posterior encontro de grande
quantidade de terra obstruindo o trato respiratório superior, confirmou o soterramento como causa mortis neste caso.
Apesar de incomum, o soterramento também pode ser a causa da morte em acidentes de veículos, quando as
vítimas ficam presas no interior ou exterior do veículo, com suas faces cobertas por areia ou terra. Nos casos citados,
para que o soterramento possa ser diagnosticado como a causa da morte, devem ser excluídas as causas
relacionadas a ferimentos ou traumas letais, sufocação indireta, constrição do pescoço pelo cinto de segurança,
morte natural ou ocasionada por doenças.

Asfixias por rarefação do oxigênio: O ar atmosférico é composto por cerca de 78% de nitrogênio, 21 % de oxigênio
e 1% de outros gases, como dióxido de carbono, argônio, vapor d‘água e outros. A concentração limite de oxigênio
para uma exposição prolongada segura é 17%. Tonturas, dispneia e taquicardia ocorrem a uma concentração de
10%; estupor e perda da memória em níveis de 7%; sendo de 5% a concentração mínima de O2 compatível com a
vida. Watanabe e Morita verificaram que a parada respiratória em ratos ocorre em concentrações de 4-5% de O2. Os
achados de Suzuki sugerem que em cachorros a concentração letal de O2 seja em torno de 2,2%. Pressões parciais
de oxigênio inferiores a 20 mmHg causam perda da consciência em cerca de 20 segundos e levam à morte em 4-5
minutos por parada cardíaca e respiratória. Tal efeito ocorre pois quando a respiração se desenvolve em condições
de ausência de O2 , há difusão do oxigênio sanguíneo em direção ao ar alveolar, sendo o O2 excretado a cada
movimento respiratório. O dióxido de carbono continua sendo exalado normalmente, não ocorrendo, portanto,
acúmulo deste gás no sangue e consequente estimulação do centro respiratório. Assim, em atmosferas compostas
por gases inertes, a perda de consciência é súbita, não precedida por sintomas de alerta como irritação nas mucosas
ou dispnéia. Além disso, os achados perinecroscópicos, necroscópicos e bioquímicos nestes casos são pouco
elucidativos. Gases fisiologicamente inertes, como o nitrogênio, o hidrogênio, o acetileno, o argônio, o etano, o
etileno, o hélio, o xenônio, o neônio, o propano, o butano e o metano, se tornam perigosos quando em altas
concentrações, já que reduzem a pressão parcial de oxigênio no ar. Não são tóxicos e só causam asfixia se
deslocarem significativamente o oxigênio atmosférico. Apesar de muitos autores considerarem o dióxido de carbono
um gás inerte, o CO2 interfere nas trocas gasosas a nível alveolar e pode ser fatal mesmo na presença de
concentrações atmosféricas normais de oxigênio, devendo ser considerado um gás tóxico. Grandes concentrações
de gases inertes são comumente encontradas em ambientes confinados, como minas, poços, canos de esgoto, silos,
tanques, câmaras, cisternas, túneis, porões de navios, compartimentos de carga de aviões, etc. Em indústrias,
laboratórios e hospitais é comum a ocorrência de acidentes envolvendo o vazamento de gases que expulsam o ar
atmosférico e preenchem todo o ambiente. Os casos envolvendo N2 (gás incolor e inodoro) geralmente estão
relacionados com a manipulação de nitrogênio líquido em ambientes mal ventilados. O N2 gerado através do
nitrogênio líquido possui temperatura muito baixa e, portanto, tende a depositar-se próximo ao chão, deslocando o ar
desta região. Como resultado, as mortes por deficiência de oxigênio em atmosferas de N2 são geralmente
acompanhadas de hipotermia e queimaduras na pele em contato com o nitrogênio líquido. Tais queimaduras
originam manchas de cor vermelho escuro, com bordos bem definidos, muito semelhantes àquelas produzidas pelos
livores cadavéricos. As asfixias relacionadas ao propano, usualmente envolvem a manipulação de GLP (gás
liquefeito de petróleo), combustível amplamente utilizado em ambiente doméstico. O GLP é composto
predominantemente de propano (gás incolor e inodoro), contendo também metano, etano, n-butano e i-butano.
Fukunaga et al relataram dois casos de morte durante a conexão de tubulações subterrâneas de GLP e Tsoukali et
al descreveram um caso raro de morte acidental após a utilização do GLP como droga de abuso. De acordo com
estes últimos autores, o propano possui propriedades narcóticas, depressoras do sistema nervoso central, as quais
podem despertar interesse pela inalação recreacional deste gás. Fukunaga et al propuseram que as mortes em
atmosferas ricas em propano podem ser causadas não somente pelo deslocamento do oxigênio como também pela
ação depressora do sistema nervoso central deste gás. Quanto mais prolongada a exposição ao propano prévia à
morte- substituição gradual do oxigênio ambiente- maiores serão as concentrações sanguíneas e teciduais deste gás.
O mesmo critério pode ser aplicado aos demais gases inertes. Aüwarter et al descreveram um caso de morte por
asfixia oxipriva atribuída à alta concentração de argônio no interior de um reator de uma indústria de lâmpadas. A
análise quantitativa das amostras de sangue e tecidos comprovaram a alta exposição ao argônio por um breve
período de tempo.

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