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FORENSES, INVESTIGAÇÃO
CRIMINAL, JUSTIÇA
A este propósito, o Tribunal da Relação de Évora, num Acórdão de 05/04/2022, decidiu o seguinte:
“Ainda que uma impressão digital faça prova direta do contacto do arguido com o local onde foi
detetada aquela impressão ou esteve no local onde foi colhida, já não faz prova direta da participação do
mesmo no facto criminoso, e isto porque se desconhece o momento daquele contacto ou as circunstâncias
em que o mesmo ocorreu.
E, inexistindo outros indícios com que possa ser conjugada, a impressão digital por si só não pode
fundamentar uma decisão condenatória”.
Assim, quando se identifica alguém através de uma perícia lofoscópica obtemos duas certezas, uma
absoluta e outra relativa. Através da primeira, não restam dúvidas que o vestígio recolhido no local do
crime pertence ao indivíduo identificado por força dos princípios atrás enunciados. Da segunda, infere-se
que não faz prova direta da sua participação no facto criminoso pelo que deve ser conjugada com outros
elementos de prova.
No exame ao local do crime podem ser recolhidos vários tipos de vestígios, nomeadamente os
lofoscópicos, os quais, numa fase posterior, são alvo de perícia laboratorial para tentar identificar o(s)
autor(es) do ilícito. O relevo dessa recolha radica na reconhecida circunstância das impressões digitais
serem universais (porque comuns a todas as pessoas), permanentes (porque imutáveis desde que surgem,
só desaparecendo com a putrefação cadavérica), singulares ou inconfundíveis (porque únicas, jamais
idênticas em dois indivíduos), indestrutíveis (porque não modificáveis, nem pela ação do sujeito, nem
patologicamente, nem por falsificação) e mensuráveis (porque suscetíveis de comparação).
A este propósito, num Acórdão de 21/05/2020, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu o seguinte:
“I – Ora, no caso, resumindo-se a prova à existência de um vestígio lofoscópico do arguido numa caixa
que poderia ter sido manuseada por ele, em data anterior ao furto da mercearia, numa das vezes que ali
se deslocou para comprar bens alimentares, onde, de entre os produtos expostos ao longo das diversas
prateleiras da mercearia, escolhia e retirava os que pretendia comprar, mostrando-se assim possível,
atentas as regras da experiência comum e da normalidade da vida, que tal impressão digital tivesse sido
ali deixada em data anterior à do furto, entendemos que o Tribunal a quo, dada a relevância de tal facto,
deveria ter considerado encontrar-se perante uma situação de dúvida, razoável e determinante, a
resolver com recurso ao citado princípio in dubio pro reo.
J.M.Ferreira
Datação dos vestígios lofoscópicos
POSTED BY SEGURANÇA E CIÊNCIAS FORENSES ⋅ 23/01/2020
Levanta-se com alguma frequência a questão da datação dos vestígios lofoscópicos (vulgo
impressões digitais) encontrados na cena do crime. Em 2014 peritos holandeses anunciaram que
seria possível fazê-lo com precisão, com uma margem de um ou dois dias, até 15 dias depois de
terem sido produzidos, ressalvando que para tal teriam que conhecer as respetivas condições de
conservação (v.g. calor, frio).
Por sua vez, Ana Damião dos Santos, no
âmbito de uma dissertação de mestrado
(Latent Fingermark Chemical Profiling
Identification of Time-dependent Metabolic
Markers), refere que com o trabalho
desenvolvido, o conhecimento químico dos
compostos endógenos das impressões digitais
latentes foi alargado, sendo ainda necessários
mais estudos para fortalecer os resultados obtidos, permitindo o estabelecimento de protocolos
adequados para a determinação da idade das impressões digitais latentes.
Sobre este assunto, num Acórdão de 28/05/2019, o Tribunal da Relação de Lisboa decidiu o
seguinte:
«A questão que se coloca não é, assim, a de explicar quando é que a impressão digital do
arguido ali foi “feita”, mas sim como é que a impressão digital do arguido ali pode estar.
Esta última questão tem resposta mais fácil: a impressão digital está no local recolhido e
resulta que o arguido mexeu obrigatoriamente naquele objecto e que, não tendo dado
qualquer explicação cabal para tal facto (note-se que não apresentou contestação escrita e
não requereu a abertura da instrução, nem fez uso da prerrogativa do artº 340º do CPP,
sendo que o Tribunal “ a quo” por não ter dúvidas sobre os factos que estratificou
certamente que não iria também ordenar prova suplementar), se bem que dentro de um
A questão da datação das impressões digitais, palmares ou outras tem sido objecto de
estudo na comunidade científica forense quer nos EUA, quer na Europa não se logrando
até à presente data obter com métodos científicos suficientemente fiáveis a resposta á
questão de se responder à pergunta: Que idade tem esta impressão digital? O estudo global
poder proceder à datação das impressões digitais/ palmares ou outras recolhidas, em suma
quais, impossibilitam por ora a proceder a tal precisão ( com contadas excepções de
O princípio de que o exercício do direito ao silêncio não pode beneficiar o arguido está
consolidado na nossa jurisprudência. O arguido não pode esperar que o seu silêncio
culpabilidade. Pode manter-se em silêncio sem que tal atitude o desfavoreça, mas não pode
pretender que daí surja um agravamento do ónus da prova imposto ao Ministério Público
Na sequência da prática de determinados crimes, (e.g. roubos, furtos), entre outros vestígios
comparados com as impressões digitais dos suspeitos, nos termos definidos na lei de
1. “O auto de notícia, enquanto prova documental, ainda que sujeito à livre apreciação da prova, não pode deixar
de ser considerado pelo tribunal, quando, como no caso sucede, os ofendidos, vieram sustentá-lo, no essencial.
2. O valor probatório da perícia dactiloscópica deve ser encarado numa tripla perspectiva:
a aparição de uma impressão digital de uma pessoa faz prova directa do contacto dessa pessoa com o objecto
onde foi detectada essa impressão;
mas, se a impressão digital faz prova directa do contacto dessa pessoa com o objecto onde foi detectada essa
impressão, ou esteve no local onde foi colhida, já não faz prova directa da participação do sujeito no facto
criminoso (até porque aquele contacto com a coisa pode ser posterior à pratica do crime ou meramente
ocasional);
apesar de não fazer prova directa da participação do sujeito no facto criminoso, a impressão digital constitui
um forte indício que, conjugado com outros indícios, pode fundamentar uma decisão condenatória”.
Refere-se ainda no aresto que “como método de investigação criminal, o relevo dessa recolha de vestígios radica na
reconhecida circunstância das impressões digitais serem universais (porque
comuns a todas as pessoas), permanentes (porque imutáveis desde que
surgem, só desaparecendo com a putrefacção cadavérica), singulares ou
inconfundíveis (porque únicas, jamais idênticas em dois indivíduos),
indestrutíveis (porque não modificáveis, nem pela acção do sujeito, nem
patologicamente, nem por falsificação) e mensuráveis (porque susceptíveis de
comparação)”.
Assim, quando se identifica alguém através de uma perícia lofoscópica, no
seguimento da tríplice perspetiva mencionada, obtemos duas certezas, uma
absoluta e outra relativa. Através da primeira, não restam dúvidas que o
vestígio recolhido no local do crime pertence ao indivíduo identificado. Da
segunda, infere-se que não faz prova direta da sua participação no facto
criminoso pelo que os resultados obtidos devem ser conjugados com outros
elementos de prova.
J.M.Ferreira
Lofoscopia – certeza absoluta e relativa
POSTED BY SEGURANÇA E CIÊNCIAS FORENSES ⋅ 21/05/2018 ⋅
Permanentes, porque são imutáveis desde que surgem no 4.º mês de vida intra-uterina só desaparecendo com a
putrefacção cadavérica (…);
Singulares ou inconfundíveis, porque únicas: jamais são idênticas em dois indivíduos, não havendo, de resto,
duas impressões digitais iguais feitas por dedos diferentes (…);
Indestrutíveis, porque não são modificáveis, nem pela acção do sujeito nem patologicamente; nessa medida, não
podem ser falsificadas; e
Mensuráveis, porque susceptíveis de comparação”.
E, ainda que o valor probatório da perícia deve ser encarado numa tripla perspectiva:
“A aparição de uma impressão digital de uma pessoa faz prova directa do contacto dessa pessoa com o objecto
onde foi detectada aquela impressão (…).
Mas se a impressão digital faz prova directa do contacto dessa pessoa com o objecto onde foi detectada aquela
impressão ou esteve no local onde foi colhida, já não faz prova directa da participação do sujeito no facto
criminoso (até porque aquele contacto com a coisa pode ser posterior à pratica do crime ou meramente
ocasional).
Embora não faça prova directa da participação do sujeito no facto criminoso, a impressão digital pode ser
encarado como um indício que, conjugado com outros indícios, pode fundamentar uma decisão condenatória”.
Pelo que «no caso concreto, pese embora tenha sido feita prova directa do
contacto do arguido com a aludida garrafa de refrigerante, que se encontrava
no interior das instalações da empresa “Reboques Mimosa, Ldª”, em local
não livremente acessível ao público, daí não decorre necessariamente sequer
que tal contacto tenha ocorrido precisamente em tal local, podendo mesmo ter
ocorrido em momento pretérito até na superfície comercial em que a
representante legal da empresa o havia adquirido (considerando que o foi de
véspera e face ao consabido tempo sensivelmente de 72 horas de constância
normal de vestígios lofoscópicos em materiais)».
obtemos duas certezas, uma absoluta e outra relativa. Através da primeira, não
indivíduo identificado por força dos princípios atrás enunciados. Da segunda, infere-se que não faz prova directa da
sua participação no facto criminoso pelo que deve ser conjugada com outros elementos de prova.
Por fim, não poderia deixar de referir que ainda recentemente, na Conferência Anual de Identificação Biométrica, que
se realizou em Los Angeles – Estados Unidos e que contou com a presença de mais de três centenas de participantes
dos cinco continentes, foi atribuído ao Laboratório de Polícia Científica da Polícia Judiciária (LPC/PJ) o prémio Bill
White, destinado a eleger o melhor trabalho, do ano de 2017, no domínio da identificação por impressões digitais. O
caso que esteve na base da distinção surgiu no âmbito de uma investigação sobre pornografia infantil na internet,
Num estudo publicado na revista Analytical Chemistry (Anal. Chem. 2017), concluiu-se que um novo agente químico
revela vestígios lofoscópicos latentes. Esta nova técnica de revelação utiliza nanopartículas luminescentes de longa
duração e fornece imagens nítidas aquando da recolha, o que pode ajudar os investigadores forenses a revelar e
identificar vestígios lofoscópicos em superfícies de plástico e metal que brilham naturalmente sob luz ultravioleta e
que muitas vezes podem obscurece-los, tal como noutros suportes como seja o caso da madeira.
Além disso, os vestígios lofoscópicos recolhidos com recurso a este método apresentam cristas mais definidas do que
as reveladas com reagentes convencionais, mesmo no caso de terem sido produzidos há bastante tempo.
Um avanço promissor, se tivermos em conta as vantagens em termos de resolução na recolha de vestígios
Carina Reis