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DIREITO PENAL

Introdução Ao Direito Penal, Fontes,


Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios e Evolução
Doutrinária

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Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

Sumário

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL................................... 5


1.1 Conceito ........................................................................................................................................................ 5
1.2 Principais Características do Direito Penal.................................................................................................... 6
1.3 Objeto de Proteção ....................................................................................................................................... 7
1.4 Funções do Direito Penal .............................................................................................................................. 8
1.5 Divisões do Direito Penal ............................................................................................................................ 13

2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS ................................................................................................... 15


2.1. Direito Penal X Criminologia X Política Criminal ........................................................................................ 16
2.2. Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni): .............................................................. 16

3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO .......................................................................... 18

4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI) ........................................................................................................ 18


4.1. Conceito ..................................................................................................................................................... 18
4.2. Garantias primárias e secundárias ............................................................................................................. 19
4.3. Máximas do garantismo ............................................................................................................................. 19

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO................................................................................................................. 21


5.1. Conceito ..................................................................................................................................................... 21
5.2. Características do direito penal do inimigo ............................................................................................... 21
5.3. Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez) ........................................................................ 22

6. FONTES DO DIREITO PENAL ................................................................................................................. 23


6.1 Fonte Material............................................................................................................................................. 23
6.2 Fonte Formal ............................................................................................................................................... 23

7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL............................................................................................................. 25


7. 1. Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal .................................................... 25
7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos ............................................................................... 25
7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima ......................................................................................................... 26
7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente .......................................................................................... 46
7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade .................................................................................................. 46
7.2.2 Princípio da Alteridade ......................................................................................................................... 47
7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato ........................................................................ 47
7.2.4 Princípio da Legalidade Estrita ou Reserva Legal ................................................................................. 48
7.2.5 Princípio da Anterioridade ................................................................................................................... 51
7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem .................................................................................................... 51
7.2.7 Princípio da Adequação Social ............................................................................................................. 52
7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato .................................................................................... 53
7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência da Pena ................ 53
7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva ............................................................................................. 55
7.3.3 Princípio da Culpabilidade.................................................................................................................... 55
7.3.4 Princípio da Proporcionalidade ............................................................................................................ 55
7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade ......................................................................... 55

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7.3.6 Princípio da Confiança.......................................................................................................................... 56


TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO...................................................................................................................... 56
QUESTÕES PROPOSTAS ..................................................................................................................................... 66

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TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, II
⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII
⦁ Art. 5º, XXXIX
⦁ Art. 5º, §3º
⦁ art. 7º, X
⦁ Art. 22, I e §único
⦁ art. 227, § 4º

CP
⦁ Art. 1º
⦁ Art. 59
⦁ Art. 71

OUTROS DIPLOMAS LEGAIS


⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 8º, item 4 do Pacto de São José da Costa Rica

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⦁ Art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV, XLV e XLVII, CF/88


⦁ Art. 5º, XXXIX, CF/88
⦁ Art. 22, I e §único, CF/88
⦁ Art. 1º, CP

1. CONCEITO, CARACTERÍSTICAS, OBJETO, FUNÇÕES E DIVISÕES DO DIREITO PENAL

1.1 Conceito

Conjunto de normas que objetiva definir os crimes, proibindo ou impondo condutas, sob a
ameaça de imposição de pena ou medida de segurança, e também a criar normas de aplicação geral.
Segundo Cleber Masson (2017, p. 3) é “o conjunto de princípios e regras destinados a combater
o crime e a contravenção penal, mediante a imposição de sanção penal”.
Importa salientar que “sanção penal” é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas de
segurança.

#CAIEMPROVA: Diz-se que a pena é a 1ª via do direito penal, a medida de segurança é a 2ª e a reparação
do dano é a 3ª.
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É um ramo do Direito Público, vez que suas normas são indisponíveis, impostas e dirigidas a
todas as pessoas.
Além disso, o Estado é o titular do direito de punir e por isso sempre figura como sujeito passivo
das infrações penais, ainda que de forma mediata.
Ainda sobre o conceito de direito penal:

● Aspecto Formal: O direito penal é um conjunto de normas que qualifica certos


comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa as sanções
as lhe serem aplicadas.
● Aspecto Material: O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados
altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos
indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade.
● Aspecto Sociológico: O direito penal é mais um instrumento do controle social
de comportamentos desviados, visando a assegurar a necessária disciplina social. Sob o
enfoque minimalista (Direito Penal de intervenção mínima), esse modo de controle social
deve ser subsidiário. (TJ/PR).

Aprofundando o enfoque sociológico

⋅ A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer


diretrizes (regras).
⋅ Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções civis ou
penais (infrações).
⋅ Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do Direito.
⋅ Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais
severa por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal (soldado de reserva).
⋅ O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica (pena privativa
de liberdade).

1.2 Principais Características do Direito Penal


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O Direito Penal é um objeto da ciência, cultural, normativo, valorativo, sancionador, finalista,


fragmentário, subsidiário e garantista.

CIÊNCIA Suas regras e normas estão sistematizadas por um conjunto de princípios que
compõem a dogmática jurídico-penal.
CULTURAL É a expressão de um tempo, de determinadas circunstâncias sociais, culturais,
políticas, econômicas
NORMATIVO Formado por um conjunto de normas jurídicas (princípios e regras) que
definem as infrações de natureza penal e suas consequências jurídicas
correspondentes (penas ou medidas de segurança).
VALORATIVO A proibição legislativa de uma determinada conduta, através da norma penal,
importa em uma valoração negativa que conduz à criminalização dela. Isso
implica em mandamentos e proibições relacionados a determinados bens
jurídicos, que definem o injusto penal e as consequências para as condutas
desviadas, estabelecendo o desvalor de certas ações e resultados.
O Direito Penal é predominantemente sancionador porque não cria bens
SANCIONADOR jurídicos, mas acrescenta proteção penal aos bens jurídicos disciplinados por
(E NÃO outros ramos do Direito. No entanto, é possível que ele seja também
CONSTITUTIVO) constitutivo, quando protege interesses não regulados por outras áreas do
Direito, como o uso indevido de drogas.
FINALISTA Tem o fim de dar proteção aos bens jurídicos fundamentais.
(Visão de Claus
Roxin)
Não protege todos os bens jurídicos, somente os mais importantes e é a última
etapa (ultima ratio) de proteção dos bens jurídicos, sendo sua principal
característica.
FRAGMENTÁRI Obs: Fragmentariedade às avessas: É um juízo negativo, o crime já existe. O
O legislador percebe que o crime não é mais necessário, assim não há mais
motivo para a conduta ser típica. É o que aconteceu com o antigo crime de
adultério. Caracteriza a abolitio criminis.
O emprego da intervenção jurídico-penal somente é justificado quando outros
SUBSIDIÁRIO ramos do Direito se mostram insuficientes à tutela eficaz do bem em questão.
Suas normas conformam um sistema que estabelece garantias ao cidadão
diante do poder punitivo, pois exigem uma série de condições para o seu
exercício, de modo que o Direito Penal – enquanto instrumento de controle
GARANTISTA social formalizado – também tem uma função de proteção e garantia, que lhe
é inerente e necessária, uma vez que a partir da intervenção jurídico-penal é
possível retirar direitos da pessoa humana que lhe são constitucionalmente
assegurados.

1.3 Objeto de Proteção


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Bens Jurídicos penais: “é a coisa, o valor, o atributo espiritual ou intelectual cujo usufruto e
gozo são reconhecidos como significativamente relevantes. Primeiro, para o efetivo desenvolvimento
pessoal de seu titular e, depois e em consequência, para todo o corpo social, de que é exemplo o meio
ambiente ecologicamente equilibrado” (PACELLI, 2017, p. 61). O legislador seleciona os bens jurídicos
a serem defendidos pelo Direito Penal. No entanto, NÃO se pode falar em discricionariedade ampla e
irrestrita, pois os bens jurídicos mais importantes são tratados na Constituição. Logo, a Constituição
possui a seguinte missão:
● Orienta o legislador, ao eleger valores considerados indispensáveis à manutenção da
sociedade;
● Impede que o legislador viole direitos fundamentais atribuídos a toda pessoa humana (Visão
Garantista Do Direito Penal).

1.4 Funções do Direito Penal

Aqui, é necessário lembrarmos do funcionalismo penal, que trará as duas correntes de mais
destaque acerca do tema (anote esses nomes na testa):

● Funcionalismo teleológico (moderado) – Claus Roxin (Predomina)

- Proteção dos bens jurídicos mais relevantes;


- Se a proteção de determinado bem jurídico não é indispensável ao indivíduo e à manutenção da
sociedade, não deve incidir o direito penal, mas outros ramos do direito;
- Para Roxin, o Direito Penal não veio para trazer valores éticos, morais;
- Ele entende que essa seria a função exclusiva;
- É chamado teleológico porque busca a finalidade do direito penal.

* Contextualizando:

O Direito Penal tem a função de proteger um fragmento dos bens jurídicos. Protege
apenas os bens mais importantes para a vida em sociedade. O legislador escolhe quais
bens serão tutelados pelo Direito Penal, com base na intervenção mínima, na
fragmentariedade e na subsidiariedade. O Direito Penal tutela bens jurídicos relevantes

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com base no tipo penal que descreve uma conduta em seu preceito primário e uma sanção
penal em seu preceito secundário.

● Funcionalismo sistêmico (radical) – Günter Jakobs

- Assegurar a vigência do sistema, protegendo o império da norma.


- Ele discorda de Roxin por entender que, quando o indivíduo é punido pela infração penal praticada, o
bem jurídico já foi violado, ou seja, não está protegido, não sendo esta, portanto, a função do direito
penal. Sua função seria demonstrar que a norma continua vigorando e deve ser obedecida.
- Assim, “o bem não deve ser representado como um objeto físico ou algo do gênero, e sim, como norma,
como expectativa garantida”. (Direito Penal e Funcionalismo, 2005, p.33-34)
- E ainda, entende ele que quem deliberada e reiteradamente viola a lei penal, de forma grave e duradoura,
deve ser tratado como “não-cidadão”, como inimigo da sociedade, por não cumprir sua função no
corpo social, não fazendo jus às garantias previstas pela norma a qual tal sujeito infringe.
- Ao delinquente-cidadão, seria aplicado o direito penal do cidadão, ao passo que ao delinquente inimigo,
seria aplicado o Direito Penal do Inimigo (tópico específico mais à frente).

* Contextualizando:

Diante de expectativas normativas, espera-se que as pessoas observem as normas de conduta.


Aquele que pratica um crime, acaba por defraudar uma expectativa normativa, violando a
vigência da norma. Assim, o Direito Penal surge para reafirmar, perante a sociedade, que a
norma continua em vigor. Para Jakobs o Direito Penal não tem função de proteção dos bens
jurídicos, citando como exemplo os crimes tentados, onde não há lesão ao bem jurídico.
Jakobs, Citando Hegel - Direito Penal como negação da negação do agente (quando o agente
comete um crime, nega a vigência da norma, quando o direito penal incide, ele nega a negação
do agente).

#APROFUNDANDO: Vamos a uma tabelinha com mais características das duas vertentes do
funcionalismo para fixarmos as diferenças?

FUNCIONALISMO PENAL

FUNCIONALISMO
TELEOLÓGICO
(Características:
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Moderado, dualista, de ● Finalidade do Direito Penal: proteção de bens


política criminal ou jurídicos indispensáveis. Não veio para trazer
racional teleológico) valores éticos, morais.
ROXIN ● Moderado: o direito penal tem limites impostos
pelo próprio direito penal e demais ramos do
direito.
● Dualista: convive em harmonia com os demais
ramos do Direito. Reconhece o sistema jurídico em
geral.
● De política criminal: aplica a lei de acordo com os
anseios da sociedade. Se adapta à sociedade em
que ele se insere.
● Racional teleológico: movido pela razão e em
busca de sua finalidade.

● Finalidade do Direito Penal: é a proteção das


normas penais, assegurar o império da norma. É
punir. Aplicar a lei.
● A sociedade que deve se ajustar ao Direito Penal.
FUNCIONALISMO ● Para ele, o Direito Penal é:
SISTÊMICO
- Radical: só reconhece os limites impostos por ele
(Características:
mesmo;
Radical, monista e
sistêmico) - Monista: é um sistema próprio de regras e de valores
JAKOBS que independe dos demais.
Direito Penal do Inimigo
- Sistêmico: é autônomo (independe dos demais ramos),
autorreferente (todas as referências e conceitos que
precisa busca do próprio direito penal) e se
autoproduz.
● Quem viola reiterada e deliberadamente a norma =
não-cidadão / inimigo = não tem direitos.

Outras funções do Direito Penal (Masson):

● Instrumento de controle social ou de preservação da paz pública. Papel intimidador;

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● Garantia dos cidadãos contra o arbítrio estatal, vez que só podem ser punidos por atos previstos
como infração penal e por pena também determinada em lei;

- Para Franz Von Liszt “o Código Penal é a Magna Carta do delinquente”;

● Função criadora ou modificadora de costumes. Disseminação ético-social de valores. Efeito


“moralizador”. Visa garantir o mínimo ético que deve existir em toda coletividade;

- É uma função educativa, que visa estimular os cidadãos a se conscientizarem e protegerem


bens que ainda não foram tidos pela sociedade como fundamentais (ex: crimes contra o meio
ambiente).
- Esta função é bastante discutida, pelo fato de a doutrina divergir se o estado deveria ou não se
utilizar do direito penal como meio de educação. Há quem entenda que tal objetivo deve ser
alcançado pela interação social e não por coação.

● Simbólica – não produz efeitos externos, mas somente na mente dos cidadãos e governantes,
sendo uma função inerente a todas as leis, não apenas ao Direito Penal;

- Enquanto os governados pensam que a contenção da criminalidade e as medidas necessárias


para tanto estão sob o controle das autoridades, os governantes ficam com a sensação de
terem feito algo e adiam a efetiva resolução do problema, retirando, ao longo do tempo, a
credibilidade do direito penal.
- Geralmente é manifestada pelo “direito penal do terror”, que se apresenta de duas formas:
* Inflação legislativa (direito penal de emergência) – em que são criados tipos penais
desnecessários para dar resposta a qualquer tipo de problema;
* Hipertrofia do Direito Penal – aumentando desproporcional e injustificadamente as penas
em casos pontuais, como se isso, por si só, fosse impedir a prática do crime.

● Motivadora de comportamento conforme a norma – a ameaça de imposição de sanções motiva


os indivíduos a se comportarem de acordo com a lei, para que não sofram suas penalidades;

● Redução da violência estatal – pois, embora legítima e necessária, a pena não deixa de ser uma
agressão ao indivíduo, devendo, portanto, restringir-se aos casos necessários e legais.

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● Promocional de transformação social – auxiliando em mudanças que garantirão a evolução da


comunidade.

#APROFUNDAMENTO:

LIQUEFAÇÃO ∕ ESPIRITUALIZAÇÃO ∕ DINAMIZAÇÃO DO DIREITO PENAL

Parte da doutrina adota posicionamento crítico em relação à expansão inadequada e ineficaz da


tutela penal em razão de novos bens jurídicos de caráter coletivo. Argumenta-se que tais bens são
formulados de modo vago e impreciso, ensejando a denominada desmaterialização (espiritualização,
dinamização ou liquefação) do bem jurídico, em virtude de estarem sendo criados sem qualquer
substrato material, distanciados da lesão perceptível dos interesses dos indivíduos (ex.: mercado
econômico; ordem tributária; moralidade pública; sentimento do povo; saúde pública etc.). O
discurso crítico sustenta que não mais se protege bem jurídico, mas funções, consistentes em
objetivos perseguidos pelo Estado ou, ainda, condições prévias para a fruição de bens jurídicos
individuais.

Exemplo do fenômeno de liquefação do Direito Penal foi a criação, pelo legislador, dos denominados
“crimes de perigo abstrato” (a serem aprofundados mais a frente). Apesar de, em tese, proteger-se
bem jurídico que ainda não foi defraudado, antecipando-se a incidência do Direito Penal (que, como
visto, funciona como ultima ratio), o Supremo Tribunal Federal, incitado a manifestar-se sobre a
questão, declarou a constitucionalidade de tais tipos penais. Veja-se:

“HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DESMUNICIADA. (A)TIPICIDADE DA CONDUTA.


CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE
CRIMINALIZAÇÃO E MODELO EXIGENTE DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS EM
MATÉRIA PENAL. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO EM FACE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE.
LEGITIMIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA DESMUNICIADA. ORDEM DENEGADA. 1.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. 1.1. Mandados constitucionais de
criminalização: A Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas que, em princípio, não
outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII,
XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º). Em todas essas é possível identificar um mandado de criminalização
expresso, tendo em vista os bens e valores envolvidos. Os direitos fundamentais não podem ser
considerados apenas proibições de intervenção (Eingriffsverbote), expressando também um postulado
de proteção (Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma
proibição do excesso (Übermassverbote), como também podem ser traduzidos como proibições de
proteção insuficiente ou imperativos de tutela (Untermassverbote). Os mandados constitucionais de
criminalização, portanto, impõem ao legislador, para seu devido cumprimento, o dever de observância
do princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção
insuficiente. 1.2. Modelo exigente de controle de constitucionalidade das leis em matéria penal,
baseado em níveis de intensidade: Podem ser distinguidos 3 (três) níveis ou graus de intensidade do
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controle de constitucionalidade de leis penais, consoante as diretrizes elaboradas pela doutrina e


jurisprudência constitucional alemã: a) controle de evidência (Evidenzkontrolle); b) controle de
sustentabilidade ou justificabilidade (Vertretbarkeitskontrolle); c) controle material de intensidade
(intensivierten inhaltlichen Kontrolle). O Tribunal deve sempre levar em conta que a Constituição
confere ao legislador amplas margens de ação para eleger os bens jurídicos penais e avaliar as medidas
adequadas e necessárias para a efetiva proteção desses bens. Porém, uma vez que se ateste que as
medidas legislativas adotadas transbordam os limites impostos pela Constituição – o que poderá ser
verificado com base no princípio da proporcionalidade como proibição de excesso (Übermassverbot) e
como proibição de proteção deficiente (Untermassverbot) –, deverá o Tribunal exercer um rígido
controle sobre a atividade legislativa, declarando a inconstitucionalidade de leis penais transgressoras
de princípios constitucionais. 2. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO. PORTE DE ARMA. PRINCÍPIO DA
PROPORCIONALDIADE. A Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) tipifica o porte de arma como
crime de perigo abstrato. De acordo com a lei, constituem crimes as meras condutas de possuir, deter,
portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo. Nessa espécie de delito, o legislador penal não toma
como pressuposto da criminalização a lesão ou o perigo de lesão concreta a determinado bem
jurídico. Baseado em dados empíricos, o legislador seleciona grupos ou classes de ações que
geralmente levam consigo o indesejado perigo ao bem jurídico. A criação de crimes de perigo
abstrato não representa, por si só, comportamento inconstitucional por parte do legislador penal. A
tipificação de condutas que geram perigo em abstrato, muitas vezes, acaba sendo a melhor
alternativa ou a medida mais eficaz para a proteção de bens jurídico-penais supraindividuais ou de
caráter coletivo, como, por exemplo, o meio ambiente, a saúde etc. Portanto, pode o legislador,
dentro de suas amplas margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas
e necessárias para a efetiva proteção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher
espécies de tipificação próprias de um direito penal preventivo. Apenas a atividade legislativa que,
nessa hipótese, transborde os limites da proporcionalidade, poderá ser tachada de inconstitucional.
3. LEGITIMIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DO PORTE DE ARMA. Há, no contexto empírico legitimador da
veiculação da norma, aparente lesividade da conduta, porquanto se tutela a segurança pública (art. 6º
e 144, CF) e indiretamente a vida, a liberdade, a integridade física e psíquica do indivíduo etc. Há
inequívoco interesse público e social na proscrição da conduta. É que a arma de fogo, diferentemente
de outros objetos e artefatos (faca, vidro etc.) tem, inerente à sua natureza, a característica da
lesividade. A danosidade é intrínseca ao objeto. A questão, portanto, de possíveis injustiças pontuais,
de absoluta ausência de significado lesivo deve ser aferida concretamente e não em linha diretiva de
ilegitimidade normativa. 4. ORDEM DENEGADA.
(HC 102087, Relator(a): CELSO DE MELLO, Relator(a) p/ Acórdão: GILMAR MENDES, Segunda Turma,
julgado em 28/02/2012, DJe-159 DIVULG 13-08-2012 PUBLIC 14-08-2012 REPUBLICAÇÃO: DJe-163
DIVULG 20-08-2013 PUBLIC 21-08-2013 EMENT VOL-02699-01 PP-00001) (Grifou-se)

1.5 Divisões do Direito Penal

I – Direito Penal Fundamental (Primário): é o conjunto de normas e princípios do Direito Penal


aplicáveis genericamente, inclusive às leis penais especiais. É composto pelas normas da Parte Geral
do Código Penal e, excepcionalmente, algumas normas de amplo conteúdo previstas na Parte Especial,
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como os conceitos de domicílio (art. 150, §§4º e 5º) e funcionário público (art. 327);

II – Direito Penal Complementar (Secundário): corresponde à legislação penal extravagante.

III – Direito Penal Comum: é o conjunto de normas penais aplicável indistintamente a todas as pessoas,
como o Código Penal;

IV – Direito Penal Especial: é o conjunto de normas penais aplicável apenas a pessoas determinadas
que preencham certas condições legais. São exemplos o Código Penal Militar e o Decreto-lei nº
201/1967 (crimes de responsabilidade dos prefeitos);

V – Direito Penal Geral: é o conjunto de normas penais aplicáveis em todo o território nacional. Essas
normas são produzidas privativamente pela União (art. 22, I, da CF);

VI – Direito Penal Local: é o conjunto de normas penais aplicáveis somente a determinada parte do
território nacional. A existência dessas normas somente é possível se houver autorização da União por
lei complementar para que os Estados legislem sobre questões específicas de Direito Penal (art. 22,
parágrafo único, da CF);

VII – Direito Penal Objetivo: é o conjunto de leis penais em vigor;

VIII – Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir (ius puniendi), que pertence exclusivamente ao
Estado e nasce quando uma lei penal é violada;

IX – Direito Penal Substantivo: é o direito penal material, propriamente dito. É o que consta no Código
Penal.

X – Direito Penal Adjetivo: também chamado de “formal” (grave as nomenclaturas), é o direito


processual penal.

#SELIGA: Direito Penal de Intervenção

Abordado por Hassemer. Segundo ele, o direito penal deve se preocupar apenas com os bens
jurídicos individuais, tais como a vida, patrimônio, propriedade, etc., bem como de infrações penais
que causem perigo concreto.
Por outro lado, se o intuito da previsão da infração é proteger apenas bem jurídico difuso, coletivo
ou de natureza abstrata, não deveria ser considerada uma infração penal. Deveria ser regulada por
um sistema jurídico diverso, com sanções mais brandas que as do direito penal, sem risco de privação
da liberdade do infrator, mas aplicadas também por uma autoridade judiciária, de forma mais célere
e ampla, podendo ser até mais efetiva, para não tornar o direito penal inócuo e simbólico. Exemplo
no BR: Lei 8429/92.
Este seria o direito de intervenção. O direito de intervenção estaria acima do direito administrativo,
mas abaixo do direito penal. Para o autor, de um lado, o Direito Penal, dada sua gravidade, não pode
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ser utilizado para a tutela de bens jurídicos difusos, coletivos, transindividuais etc. Lado outro, sabe-
se que as autoridades administrativas não possuem a independência necessária para a aplicação das
penalidades. Por isso, propõe o Direito de Intervenção.
Há críticas acerca de tal posicionamento na doutrina, pela dúvida de como seria a legitimidade e
como atuaria o direito de intervenção, bem como se tais sanções seriam suficientes para tutelar bens
importantes que se caracterizam como coletivos, difusos ou de natureza abstrata.

2. ENCICLOPÉDIA DAS CIÊNCIAS PENAIS

O estudo do crime, do criminoso e da sanção penal é o objeto de várias ciências, tendo sido
chamadas por José Cerezo Mir de “enciclopédia de ciências penais”.
A doutrina não é uníssona acerca de quantas ou quais exatamente seriam elas, mas, para o
nosso estudo, as mais importantes são a dogmática, a criminologia e a política criminal.
Ademais, apesar de serem inúmeras, por todas se debruçam sobre o estudo do mesmo objeto
(como dito, sobre o crime e seu entorno – sujeito criminoso, vítima, controle social etc), tais ciências
compõem o que a doutrina chama de “unidade global” ou “teleológica-funcional” do direito global.

I – DOGMÁTICA PENAL: tem por objetivo interpretar de forma sistemática o direito penal, entendendo
o sentido das normas e aplicando-o de forma lógico-racional (não emocional).

Obs.: Dogmática ≠ Dogmatismo: Dogmatismo é a aceitação cega de verdades tidas como absolutas e
imutáveis (deve ser desprezado). Se opõe à ideia de ciência, que admite flexibilização, na qual estaria
enquadrada a dogmática.

II – CRIMINOLOGIA: A criminologia, de acordo com Luiz Flávio Gomes e Antônio Molina, é uma ciência
empírica (estuda o que “é”, ao contrário do direito penal, que estuda o que “deve ser” –
caracterizando-se como uma ciência valorativa e normativa) e interdisciplinar (observa diversos
fatores: econômicos, políticos, sociais, religiosos etc), a qual estuda o crime, a vítima, o criminoso e o
controle social. Suas constatações se dão a partir da observação daquilo que acontece na realidade
social, na experiência.
Ps.: Gravando as palavras-chave sobre as características da criminologia, que são diversas das do
direito penal, vocês já matam várias questões!

III – POLÍTICA CRIMINAL: trabalha com estratégias e mecanismos de controle social da criminalidade,
para que os bens jurídicos relevantes sejam protegidos. Possui a característica de vanguarda, pois
orienta a criação e a reforma das leis, a partir de uma análise crítica acerca destas estarem ou não
cumprindo os fins a que se propõem, considerando dados obtidos por outros ramos (como a
criminologia).
Funciona como “filtro” entre a letra fria da lei e a realidade social. Revela as leis que “pegam” e as que
não.

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

2.1. Direito Penal X Criminologia X Política Criminal

O ponto mais cobrado desse tópico é, sem dúvidas, a diferença entre direito penal, criminologia
e política criminal.

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL


Ciência normativa e valorativa,
Ciência empírica e
que analisa os fatos humanos Trabalha as estratégias e
interdisciplinar, que estuda o
indesejados e define quais devem meios de controle social da
crime, o criminoso, a vítima e o
ser tipificados como crime ou criminalidade.
controle social.
contravenção.
Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto
norma. fato. valor.
Ex: Quais fatores contribuem Ex: Estuda como diminuir os
Ex: Define o crime de roubo.
para o crime de roubo. casos de roubo.

* #NÃOCUSTALEMBRAR:
Vitimologia: é o estudo da vítima em seus diversos planos. Inicialmente, a análise era quanto às formas
de contribuição da vítima para a prática dos crimes. Modernamente, tal estudo preocupa-se também
com a proteção destas no momento posterior à prática do crime, como por exemplo com a sua
reinserção na sociedade. No direito brasileiro, temos o exemplo da composição dos danos civis (art.
74, parágrafo único, Lei 9.099/95) #TERCEIRAVIA
Ademais, uma das circunstâncias judiciais que deve ser considerada na fixação da pena base é o
comportamento da vítima (art. 59, CP).

2.2. Seletividade - Criminalização Primária e Secundária (Zaffaroni):

ATENÇÃO
Sobre a seletividade, define Zaffaroni:
DEFENSORIA!
Ao menos em boa medida, o sistema penal seleciona pessoas ou ações, como
também criminaliza certas pessoas segundo sua classe e posição social. [...] Há
uma clara demonstração de que não somos todos igualmente ‘vulneráveis’ ao
sistema penal, que costuma orientar-se por ‘estereótipos’ que recolhem os
caracteres dos setores marginalizados e humildes, que a criminalização gera
fenômeno de rejeição do etiquetado como também daquele que se solidariza
ou contata com ele, de forma que a segregação se mantém na sociedade livre.
A posterior perseguição por parte das autoridades com rol de suspeitos
permanentes, incrementa a estigmatização social do criminalizado
(ZAFFARONI;PIERANGELI, 2011, p. 73).” (Guarda relação com o movimento do
labeling approach / teoria da reação social / da rotulação social / do

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

etiquetamento social – tema que deve ser estudado de modo mais


aprofundado na matéria de criminologia.)

Nesse contexto, o processo de criminalização pode ser dividido em dois:

● Criminalização primária: É a elaboração e sanção das leis penais, introduzindo formalmente no


ordenamento jurídico a tipificação de determinadas condutas.
● Criminalização secundária: É a ação punitiva que recai sobre pessoas concretas. Quando recai
sobre o indivíduo a persecução penal após ser a ele atribuída a prática de um ato primariamente
criminalizado. É praticada pela Polícia e Poder Judiciário.

* ATENÇÃO: Além do momento da elaboração e aplicação da norma, a seletividade também vai se


mostrar presente no momento da execução da pena.

Temas quentes!

Processos de criminalização, condutas puníveis, separação do corpo que será criminalizado e


estigmatizado no sistema de justiça. Nestes pontos, é muito importante levar em
consideração as perspectivas de raça e gênero.

Dica de leitura: livro Manual de Direito Penal com Perspectiva de gênero, capítulo 1.

#SELIGA: Você sabe o que é Direito Penal Subterrâneo e Direito Penal Paralelo? Referem-se aos
sistemas penais subterrâneos e paralelos.
De acordo com Zaffaroni, “sistema penal é o conjunto das agências que operam a criminalização
primária e a criminalização secundária ou que convergem na sua produção”.
A criminalização primária é a elaboração das leis penais, ao passo que a fiscalização e a execução das
punições devem ser cumpridas pelas agências de criminalização secundária (Polícia, Ministério
Público, Judiciário e agentes penitenciários).
Como o sistema penal formal do Estado não exerce todo do poder punitivo, outras agências acabam
se apropriando desse espaço e passam a exercer o poder punitivo paralelamente ao estado (sistemas
penais paralelos).
Portanto, o DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO consiste no exercício desmedido do direito de punir pelas
próprias agências estatais responsáveis pela execução do controle, à margem da lei e de maneira
violenta e arbitrária. É dizer: ocorre quando as instituições oficiais a tuam com poder punitivo
ilegal, acarretando abuso de poder. Ex.: institucionalização de pena de morte (execução sem
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processo), desaparecimentos, torturas, extradições mediante sequestro, grupos especiais de


inteligência que atuam fora da lei etc.
A seu turno, o DIREITO PENAL PARALELO é aquele exercido por órgãos que não fazem parte da
estrutura estatal oficial, mas que exercem o poder punitivo com a mesma impetuosidade e
arbitrariedade, formando os chamados “sistemas penais paralelos”. Como o sistema penal formal
do Estado não obtêm êxito em grande parte da aplicação e exercício do poder punitivo, outras
agências apropriam-se desse espaço e o exercem de modo paralelo ao estado (criando sistemas
penais paralelos). Ex.: médico que aprisiona doentes mentais; institucionalização pelas autoridades
assistenciais dos moradores de rua etc.
Nesse caso, a principal diferença entre o sistema penal subterrâneo e o paralelo é que um integra a
estrutura penal formal, enquanto o outro não.
Como as agências de criminalização não possuem estrutura para realizar o programa de repressão
penal em sua totalidade (criminalização secundária), acabam realizando apenas uma pequena
parcela, por conta dessa patente falibilidade, surgem as cifras do direito penal.
A chamada CIFRA OCULTA OU NEGRA da criminalidade representa a diferença dos crimes
efetivamente ocorridos com a parcela que chega ao conhecimento das instâncias penais ou que são
efetivamente punidos.
Nesse sentido, a cifra negra ou oculta consiste em gênero, do qual as demais “cifras penais”
constituem espécie. Nesse contexto:
- CIFRA ROSA relaciona-se aos crimes de homofobia
- CIFRA DOURADA relaciona-se à criminalidade econômica (crimes de colarinho branco, crimes
contra a ordem tributária, crimes contra a economia popular)
- CIFRA VERDE relaciona-se aos crimes cometidos contra o meio ambiente.

3. DIREITO PENAL DO AUTOR E DIREITO PENAL DO FATO

O Direito Penal do autor consiste na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos,


desejos e estilo de vida. Está atrelado ao Princípio da exteriorização ou materialização do fato, pelo
qual o Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias (fatos). Assim, ninguém pode ser
castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida.
O ordenamento penal brasileiro adotou o Direito Penal do fato, mas que considera
circunstâncias relacionadas ao autor, especificamente quando da análise da pena. Ex: art. 59 do CP;
Reincidência.
O princípio da exteriorização serviu para o legislador acabar com as infrações penais que
desconsideravam esse mandamento. Ex: Mendicância (art. 60 L.C.P. – abolido), pois era direito penal
do autor.

4. GARANTISMO PENAL (FERRAJOLI)

4.1. Conceito

Para Ferrajoli, “o garantismo é entendido no sentido do ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITO,

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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

isto é, aquele conjunto de vínculos e de regras racionais impostos a todos os poderes na tutela dos
direitos de todos, representa o único remédio para os poderes selvagens”.

4.2. Garantias primárias e secundárias

O autor distingue as garantias em duas grandes classes: as garantias primárias e as garantias


secundárias:

● Garantias primárias – limites e vínculos normativos: Consistem nas proibições e obrigações,


formais e substanciais, impostos na tutela dos direitos, ao exercício de qualquer poder;
● Garantias secundárias – diversas formas de reparação: Subsequentes às violações das
garantias primárias, diz respeito à anulabilidade dos atos inválidos e a responsabilidade pelos
atos ilícitos.
- Ex: a CF prevê como garantia primária que não haverá pena de banimento. O legislador não a
observa e comina tal pena a determinado crime. Neste caso, será utilizado o controle de
constitucionalidade, previsto na própria constituição como garantia secundária, julgando o ato
nulo.

* ATENÇÃO: Para o garantismo de Ferrajoli, o juiz não é um mero aplicador da lei, um mero executor
da vontade do legislador ordinário. Ele é, antes de tudo, o guardião de direitos fundamentais.

4.3. Máximas do garantismo

● Nulla poena sine crimine: somente será possível a aplicação de pena quando houver,
efetivamente, a prática de determinada infração penal;
● Nullum crimen sine lege: a infração penal deverá sempre estar expressamente prevista na
lei penal;
● Nulla lex (poenalis) sine necessitate: a lei penal somente poderá proibir ou impor
determinados comportamentos, sob a ameaça de sanção, se houver absoluta necessidade
de proteger determinados bens, tidos como fundamentais ao nosso convívio em sociedade,
(direito penal mínimo);
● Nulla necessitas sine injuria: as condutas tipificadas na lei penal devem, obrigatoriamente,
ultrapassar a sua pessoa, isto é, não poderão se restringir à sua esfera pessoa, à sua

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DIREITO PENAL
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intimidade, ou ao seu particular modo de ser, somente havendo possibilidade de proibição


de comportamentos quando estes vierem a atingir bens de terceiros;
● Nulla injuria sine actione: as condutas tipificadas só podem ser exteriorizadas mediante a
ação do agente, ou omissão, quando previsto em lei;
● Nulla actio sine culpa: somente as ações culpáveis podem ser reprovadas;
● Nulla culpa sine judicio: é necessário adoção de um sistema nitidamente acusatório, com a
presença de um juiz imparcial e competente para o julgamento da causa;
● Nullum judicium sine accusatione: o juiz que julga não pode ser responsável pela acusação;
● Nulla accusatio sine probatione: fica a cargo do acusador todo o ônus probatório, que não
poderá ser transferido para o acusado da prática de determinada infração penal;
● Nulla accusatio sine defensione: deve ser assegurada ao acusado a ampla defesa, com
todos os recursos a ela inerentes.

#ATENÇÃO! Em que consiste o garantismo penal integral?


O Direito penal deve se prestar a garantir não somente os direitos e garantias dos acusados, mas todos
os direitos e deveres previstos na Constituição. Em que pese não se possa tolerar violações arbitrárias
e desproporcionais aos direitos daquele sob o qual recai o jus puniendi estatal, não se pode também
deixar de proteger outros bens que também são juridicamente relevantes para a sociedade.
Tudo isso deve passar pelo crivo da proporcionalidade.
Desse modo, o garantismo divide-se em:
a) Garantismo negativo: visa limitar a função punitiva do Estado, que deve ser aplicada estritamente
aos casos necessários e em medida adequada, consistindo na proibição de excesso.
b) Garantismo positivo: busca evitar a impunidade e garantir que os bens jurídicos relevantes à
sociedade sejam efetivamente protegidos, caracterizando-se pela proibição da proteção insuficiente.
Quando apenas o garantismo negativo é observado, surge o chamado “garantismo hiperbólico
monocular” (grave este nome). Hiperbólico: por ser aplicado de modo desproporcional e exagerado.
Monocular: por enxergar apenas um lado, opondo-se ao garantismo integral.

* CONTEXTUALIZANDO:

Garantismo penal positivo


Garantismo penal negativo
(proibição de proteção ineficiente/
(proibição do excesso)
insuficiente/ deficiente de bens jurídicos)
Não se pode punir de forma exagerada, além do Não se pode punir menos do que o necessário

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

necessário para a proteção do bem jurídico. para a proteção do bem jurídico.

GARANTISMO HIPERBÓLICO MONOCULAR: É o garantismo exagerado que se preocupa apenas com


os interesses do réu. Um direito penal equilibrado, eficaz, deve proteger o réu, mas também proteger
a sociedade.

5. DIREITO PENAL DO INIMIGO

5.1. Conceito

Aquele que viola o sistema deve ser considerado e tratado como inimigo. O delinquente, autor
de determinados crimes, não é ou não deve ser considerado como cidadão, mas como um “cancro
societário”, que deve ser extirpado (Munhoz Conde).
Jakobs fomenta o Direito Penal do inimigo para o terrorista, traficante de drogas, de armas e
de seres humanos e para os membros de organizações criminosas transnacionais (vide lei
12.850/2013).
Destaque-se que nem todo criminoso é inimigo, apenas uma parcela reduzida de criminosos é
que entra neste rol.

5.2. Características do direito penal do inimigo

● Antecipação da punibilidade com a tipificação de atos preparatórios: O legislador é


impaciente, não aguarda o início da execução para punir o agente);
● É um direito penal prospectivo e não retrospectivo, na medida em que se pune o inimigo pelo
o que ele poderá fazer, em razão do perigo que representa;
● O inimigo não é visto como um sujeito de direitos, pois perdeu seu status de cidadão;
● Pune-se o inimigo pela sua periculosidade e não pela sua culpabilidade, como é no direito penal
comum;
● Criação de tipos de mera conduta;
● Previsão de crimes de perigo abstrato: normalmente, pode haver crimes de perigo abstrato,
mas sem abusos, flexibilização o princípio da lesividade;
● As garantias processuais aplicadas ao inimigo são relativizadas ou até mesmo suprimidas.
● Flexibilização do Princípio da Legalidade: é a descrição vaga dos crimes e das penas. A
descrição genérica de um crime permite a punição de mais condutas/comportamentos;
● Inobservância dos Princípios da Ofensividade: relação com a criação de crimes de perigo

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

abstrato) e da Exteriorização do Fato (relação com o direito penal do autor;


● Preponderância do Direito Penal do autor: Flexibilização do princípio da exteriorização do
fato;
● Desproporcionalidade das penas;
● Surgimento das chamadas “leis de luta ou de combate”: Exemplo - Lei 8.072/90 e Lei
12.850/2013. Alguns doutrinadores sustentam que tais leis têm predicados de direito penal do
inimigo;
● Endurecimento da Execução Penal: O regime disciplinar diferenciado é um resquício do direito
penal do inimigo;

*ATENÇÃO: O Direito Penal do inimigo também é conhecido como a “terceira velocidade do


Direito Penal”. Isto porque se aplica a pena de prisão e também por ser extremamente célere, já que
suprime direitos e garantias.

5.3. Velocidades do Direito Penal (Jesús-Maria Silva Sánchez)

Segundo, Cleber Masson (2017, p. 111) a teoria das velocidades do direito penal “parte do
pressuposto de que o Direito Penal, no interior de sua unidade substancial, contém dois grandes
blocos, distintos, de ilícitos: o primeiro das infrações penais às quais são cominadas penas de prisão
(direito penal nuclear), e o segundo, daqueles que se vinculam aos gêneros diversos de sanções penais
(direito penal periférico)”.
● Primeira velocidade: Direito Penal “da prisão”, aplicando-se penas privativas de liberdade
como resposta aos crimes praticados, com a rígida observância das garantias constitucionais e
processuais. Aplicada a delitos graves.

● Segunda velocidade: Direito penal reparador. São aplicadas aqui penas alternativas à prisão,
como restritivas de direitos ou pecuniárias, de forma mais rápida, sendo admissível, para tanto,
uma flexibilização proporcional dos princípios e regras processuais. Aplicável a delitos de menor
gravidade.

● Terceira velocidade: Novamente temos aqui a prisão por excelência. Contudo, difere-se da
primeira por permitir a flexibilização e até a supressão de determinadas garantias. Aplicada aos
delitos de maior gravidade.

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

Remete ao direto penal do inimigo, já explicado acima.


Também poderiam constituir exemplos a Lei de Crimes Hediondos e a Lei de Organizações
Criminosas na legislação pátria.
● Quarta velocidade: Neopunitivismo. Ligada ao direito internacional. É o processamento e
julgamento pelo TPI de chefes de Estado que violarem tratados e convenções internacionais de
tutela de Direitos Humanos e praticarem crimes de lesa-humanidade, de modo que, por esta
razão, se tornarão réus perante o referido tribunal e terão, dentro do contexto, suas garantias
penais e processuais penais diminuídas.

● Quinta velocidade: hodiernamente, já se fala em Direito Penal de 5ª (quinta) velocidade, que


trata de uma sociedade com maior assiduidade do controle policial, o Estado com a presença
maciça de policiais na rua, no cenário onde o Direito Penal tem o escopo de responsabilizar os
autores, diante da agressividade presente em nossa sociedade de relações complexas e, muitas
vezes, (in) compreensíveis.
6. FONTES DO DIREITO PENAL

São as formas pelas quais o direito penal é criado e, posteriormente, manifestado.

6.1 Fonte Material

Diz respeito à criação do Direito Penal. Via de regra, é a União, art.22, I, da CF/88, pois “compete
privativamente à União legislar sobre direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho”.

*Atenção: O artigo 22, parágrafo único, CF/88, prevê que “Lei Complementar poderá autorizar os
Estados a legislar sobre questões específicas relacionadas neste artigo”, o que permite entender que
abarca, inclusive, o Direito Penal.

6.2 Fonte Formal

Diz respeito à aplicação do Direito Penal. Esse ponto varia um pouco de doutrinador para
doutrinador.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA


Imediata: Imediata:
● Lei

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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

● Lei (Desdobramento do ● Constituição Federal


princípio da reserva legal, que prevê ● Tratados Internacionais de Direitos Humanos
a criação de crime e cominação de ● Jurisprudência
penas como um monopólio da lei. ● Princípios
Aqui, estamos falando em lei ● Atos administrativos (complementos de normas
ordinária). penais em branco).

*Porém, até mesmo aqui, a única fonte formal que pode


criar tipos penais e culminar penas é a lei (reserva legal). O
restante é fonte não-incriminadora.
Mediatas: Mediatas:
● Costumes ● Doutrina
● Princípios gerais do Direito
● *Alguns colocam atos
administrativos.
Fonte informal:
● Costumes

#DETALHANDO:
O que é costume? Costume é a repetição de um comportamento (elemento objetivo) em face
da crença na sua obrigatoriedade (elemento subjetivo).
≠ de hábito, que consiste na mera repetição de comportamento (elemento objetivo), mas sem
a crença na sua obrigatoriedade.
Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei (veda-se o costume incriminador).

Espécies de costumes:

• Costume secundum legem (costume interpretativo): possui a função de auxiliar o intérprete


a entender o conteúdo da lei. Por exemplo, ato obsceno (art. 233 do CP). Vai depender do
ambiente em que o ato foi praticado e dos costumes locais para que ele seja assim considerado
ou não.
• Costume contra legem (costume negativo): é chamado de DESUETUDO. É aquele que
contraria uma lei, mas não a revoga.
Ex.: Venda de CDs piratas.
• Costume praeter legem (costume integrativo): é aquele usado para suprir as lacunas da lei. É
válido, mas só pode ser usado no campo das normas penais não incriminadoras e apenas para
favorecer o agente.
Ex.: a circuncisão em meninos de determinadas religiões não é considerada crime.

#SELIGA: Existe costume abolicionista?

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1ª Corrente: Admite-se o costume abolicionista, aplicado nos casos em que a infração penal
não mais contraria o interesse social. Ex. Para esta corrente, o jogo do bicho não é mais
contravenção penal.
2ª Corrente: Diz que não existe costume abolicionista. Quando o fato já não é mais indesejado
pela sociedade, o juiz não deve aplicar a lei. Ex: Para esta corrente, o jogo do bicho permanece
formalmente típico, porém não aplicável, sem eficácia social (não tem tipicidade material).
3ª Corrente: Entende que não existe costume abolicionista. Enquanto não revogada por outra
lei, a norma tem plena eficácia. É a que prevalece e está de acordo com a lei de introdução às
normas do direito brasileiro. Ex. Jogo do bicho continua tipificado como contravenção penal,
sendo aplicável no caso concreto. (PREVALECE)
* ATENÇÃO: Para aqueles que não adotam a tese do costume abolicionista, é possível o uso do
costume segundo a lei (costume interpretativo), que vai servir para aclarar o significado de uma
palavra, de um texto.

* ATENÇÃO: Para alguns autores, a doutrina não é fonte do direito penal por não ter força cogente, ou
seja, não ser revestida de obrigatoriedade. Os tratados internacionais podem ser classificados como
fonte do direito penal apenas quando incorporados ao direito interno. Se versar sobre direitos
humanos e for aprovado seguindo o rito de emendas constitucionais, terá força normativa de emendas
constitucionais (art. 5º, §3°, CF). Caso não siga tal rito, terá força de norma supralegal.

7. PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema


jurídico.
No caso dos princípios penais, eles vão orientar a atuação do legislador na elaboração da
legislação penal e do operador do direito em sua aplicação.
Além das questões de concursos que tratam diretamente dos princípios, o simples fato de
entender os valores que eles trazem nos orientam muito no raciocínio necessário para a solução de
muitas outras, por isso é um tema que não pode ser negligenciado, ok?

7. 1. Princípios Relacionados com a Missão Fundamental do Direito Penal

7.1.1 Princípio da Exclusiva Proteção de Bens Jurídicos

O Direito Penal deve servir apenas e tão somente para proteger bens jurídicos relevantes
(Roxin). Ademais, nenhuma criminalização é legítima se não busca evitar a lesão ou o perigo de lesão
a um bem juridicamente determinado. Impede que o Estado utilize o Direito Penal para a proteção de
bens ilegítimos.

*Relembrando: A espiritualização dos bens jurídicos no Direito Penal (Roxin) revela uma evolução
quanto à proteção dos bens jurídicos dentro do Direito Penal. Em um momento inicial, apenas os
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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

crimes de dano contra bens jurídicos individuais possuíam relevância no âmbito penal. Modernamente,
o Direito Penal antecipou a tutela, assumindo um papel preventivo, passando a punir os crimes de
perigo contra bens supraindividuais (como por exemplo, a tipificação de crimes ambientais).
- Parcela da doutrina critica essa expansão da tutela penal na proteção de bens jurídicos de caráter
difuso ou coletivo. Argumenta-se que tais bens são formulados de modo vago e impreciso, bem como,
que não seria esse o papel do direito penal, que deve ser utilizado apenas como última ratio, havendo
outras searas que poderiam solucionar tais questões, em razão dos princípios que estudaremos a
seguir.

7.1.2 Princípio da Intervenção Mínima

O direito penal só deve ser aplicado quando a criminalização de um fato é estritamente


necessária à proteção de determinado bem ou interesse, não sendo suficientemente tutelado por
outras searas do direito. O direito penal é o último grau de proteção jurídica.

ILÍCITOS EM GERAL

ILÍCITOS
PENAIS

Como na figura, nem tudo o que é ilícito caracteriza um ilícito penal, mas apenas uma pequena
parcela. Porém, todo ilícito penal será também ilícito perante as demais searas do direito.
Ex.: se um funcionário público pratica crime, isso sempre configurará também uma infração
administrativa. Porém, a recíproca não é verdadeira. Nem toda infração administrativa encontrará uma
correspondente tipificação penal.
Do princípio da intervenção mínima decorrem dois outros princípios:

- FRAGMENTARIEDADE
Somente devem ser tutelados pelo direito penal os casos de relevante lesão ou perigo de lesão
aos bens jurídicos fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade.
Direciona-se ao legislador, ao plano abstrato, quando da eleição de condutas que devem ou
não ser tipificadas.

#SELIGA: Em que consiste a fragmentariedade às avessas? Ocorre nas situações em que o direito penal
perde o interesse em uma determinada conduta, inicialmente tida por criminosa, por entende-la
desnecessária, com a evolução da sociedade e modificação de seus valores, ocorrendo a abolitio

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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

criminis, sem prejuízo de sua tutela pelos demais ramos do direito. É um juízo negativo, o crime
existia e deixa de existir.
Ex.: Adultério, que era crime tipificado no art. 240 do CP e deixou de ser em 2005, quando a Lei nº
11.106 revogou o tipo penal.

- SUBSIDIARIEDADE
A intervenção penal fica condicionada ao fracasso dos demais ramos do direito, funcionando
como um soldado de reserva.
Direciona-se ao aplicador do direito, no plano concreto, devendo ser aplicado apenas quando
todos os demais ramos se revelarem impotentes.

STJ (HC 197.601/RJ) O Direito Penal deve ser encarado de acordo com a
principiologia constitucional. Dentre os princípios constitucionais implícitos
figura o da subsidiariedade, por meio do qual a intervenção penal somente é
admissível quando os demais ramos do direito não conseguem bem equacionar
os conflitos sociais.

#ATENÇÃO: Como bem observado no julgamento destacado acima, o princípio da subsidiariedade trata-se
de princípio constitucional implícito, não constando expressamente do texto constitucional, mas de possível extração
a partir da interpretação das normas ali contidas.

⮚ PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OU DA BAGATELA


Decorre da fragmentariedade, pelo qual o Direito Penal só vai intervir nos casos de relevante
lesão.
O STF expressamente reconhece como finalidade desse princípio a “interpretação restritiva da
lei penal” (olha que termo bonito para aparecer na sua prova), ou seja, o princípio da insignificância
deve diminuir a intervenção penal, no sentido de ignorar as condutas irrisórias que não se revelam
capazes de ofender o bem jurídico tutelado pelo tipo penal.
Natureza Jurídica: Causa de Exclusão da tipicidade (atipicidade) material.

#TRADUZINDO: TIPICIDADE PENAL = tipicidade formal + tipicidade material.

Tipicidade formal: juízo de adequação do fato à norma (analisa se o fato praticado na vida real, se
amolda, se encaixa ao modelo de crime descrito na lei penal).
Ex.: Sujeito subtrai um iogurte de um hipermercado. Como subtraiu coisa alheia móvel, o fato se
adequa ao tipo penal de furto.
Tipicidade material: é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido.
No exemplo acima, em que pese tenha havido a tipicidade formal, o ato praticado não foi capaz de
causar lesão relevante ao bem protegido, vez que o valor de um iogurte não faria a menor diferença
no patrimônio de um hipermercado, não havendo, portanto, tipicidade material.

Mas atenção: NÃO É SÓ O VALOR que deve ser analisado para que seja reconhecida a
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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

insignificância da conduta! Existem outros requisitos que devem ser observados, conforme
jurisprudência consolidada da Suprema Corte.
Ademais, valor insignificante e pequeno valor não são necessariamente sinônimos. Por vezes,
em casos de furto, por exemplo, a questão apresenta um bem de um valor baixo, mas não
irrisório/insignificante, que servirá apenas para caracterizar a causa de diminuição de pena do furto
privilegiado, mas não excluirá a tipicidade material, seja pelo fato de o valor ser pequeno, mas não
irrisório, seja por não preencher algum outro requisito. Então fique de olho!
Sobre os valores, não há nenhuma tese fixa sobre. É necessário analisar o contexto. Porém,
analisando as decisões proferidas, o STF tem aceito como insignificantes normalmente valores que que
giram em torno de 10% do salário mínimo, com variações para mais e para menos (é só uma ideia). Já
como pequeno valor, para o privilégio, admite-se o valor de até 1 salário mínimo integral (raciocínio
aplicável aos demais delitos que admitem o privilégio).
Quanto ao parâmetro de 10% do valor do salário mínimo para fins de insignificância, fixado pelo
STF, eis julgado do Superior Tribunal de Justiça no mesmo sentido:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FURTO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO


DA INSIGNIFICÂNCIA. INVIABILIDADE. VALOR DA RES FURTIVA ACIMA DE 10% DO SALÁRIO MÍNIMO.
REITERAÇÃO DELITIVA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. No caso dos autos, a Corte Estadual concluiu pela
inaplicabilidade do princípio da insignificância em razão do valor da res furtiva estar acima de 10%
do salário mínimo vigente à época do delito e pelo fato do recorrente ser contumaz na prática de
crimes. Tais justificativas encontram respaldo nesta Corte. Precedentes. 2. Agravo regimental
desprovido. (AgRg no AREsp 1871094/TO, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 22/03/2022, DJe 24/03/2022) (Grifou-se)

o REQUISITOS PARA O RECONHECIMENTO DA INSIGNIFICÂNCIA (de acordo com STF) –


REQUISITOS OBJETIVOS
(DICA DE MEMORIZAÇÃO: MARI):
● REQUISITOS OBJETIVOS (VETORES) PARA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO

● Mínima ofensividade da conduta


● Ausência de periculosidade social da ação
● Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento
● Inexpressividade da lesão jurídica provocada

REQUISITOS SUBJETIVOS
▪ Condições pessoais do agente
▪ Condição da vítima

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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

#ATENÇÃO: Delegado pode aplicar o princípio da insignificância?


Para o STJ NÃO! Apenas o juiz pode. HC 154.949/MG. Assim, a autoridade policial estaria obrigada a
efetuar a prisão em flagrante, submetendo a questão à análise de autoridade judiciária.
No entanto, parte da doutrina, a exemplo de Cleber Masson, posiciona-se contra tal entendimento,
pelo fato de tratar a insignificância de afastamento da tipicidade do fato. E ora, se o fato não é típico
para o juiz, também não será para delegado!
Para esta segunda corrente (SANGUE VERDE), principalmente na análise da legalidade da prisão em
flagrante, o delegado não só poderia, como DEVERIA analisar a presença dos elementos que traduzem
a insignificância, vez que não seria razoável ratificar a prisão de quem subtraiu um pão de queijo de
uma padaria, por exemplo, sob pena de inobservância de vários princípios, como lesividade,
proporcionalidade, subsidiariedade, intervenção mínima.

#ATENÇÃO2: Enunciado nº 10 editado em Congresso Jurídico dos Delegados da Polícia Civil do Estado
do Rio de Janeiro (que também serve para corroborar o entendimento da segunda corrente, pela
possibilidade da aplicação do P. da insignificância pelo Delegado de Polícia):

“O Delegado de Polícia pode, mediante decisão fundamentada, deixar de lavrar o auto de prisão em
flagrante, justificando o afastamento da tipicidade material com base no princípio da insignificância,
sem prejuízo de eventual controle externo.”

Vejamos algumas casuísticas importantes em relação ao princípio da insignificância:

a) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA x AGENTE REINCIDENTE


Em regra, o STF e o STJ afastam a aplicação do princípio da insignificância aos acusados
reincidentes ou de habitualidade delitiva comprovada. Vale ressaltar, no entanto, que a reincidência
não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a insignificância penal da conduta, à luz dos
elementos do caso concreto (STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgados em 3/8/2015; STJ. 5ª Turma EDcl-AgRg-AREsp 1.631.639- SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 19/05/2020)

Obs.: Ao criminoso habitual, tanto o STF como o STJ, costumam negar a aplicação

Informativo 575, STJ. A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio


da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de, no
caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente
recomendável. Assim, pode-se afirmar que: Em regra, não se aplica o princípio
da insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar demonstrada
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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

a sua reiteração criminosa (criminoso habitual). Exceção: o julgador poderá


aplicar o referido princípio se, analisando as peculiaridades do caso concreto,
entender que a medida é socialmente recomendável. STJ. 3ª Seção. EREsp
1.217.514-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 9/12/2015
(Info 575).

Assim, de acordo com o caso concreto, é possível sim aplicar a insignificância mesmo para réus
reincidentes. Veja recentes julgados em que os Tribunais Superiores aplicaram o princípio da
insignificância mesmo havendo a reincidência.

Em regra, a habitualidade delitiva específica (ou seja, o fato de o réu já


responder a outra ação penal pelo mesmo delito) é um parâmetro (critério) que
afasta o princípio da insignificância mesmo em se tratando de bem de reduzido
valor. Excepcionalmente, no entanto, as peculiaridades do caso concreto
podem justificar o afastamento dessa regra e a aplicação do princípio, com base
na ideia da proporcionalidade. É o caso, por exemplo, do furto de um galo,
quatro galinhas caipiras, uma galinha garnizé e três quilos de feijão, bens
avaliados em pouco mais de cem reais. O valor dos bens é inexpressivo e não
houve emprego de violência. Enfim, é caso de mínima ofensividade, ausência
de periculosidade social, reduzido grau de reprovabilidade e inexpressividade
da lesão jurídica. Mesmo que conste em desfavor do réu outra ação penal
instaurada por igual conduta, ainda em trâmite, a hipótese é de típico crime
famélico. A excepcionalidade também se justifica por se tratar de
hipossuficiente. Não é razoável que o Direito Penal e todo o aparelho do
Estado-polícia e do Estado-juiz movimente-se no sentido de atribuir relevância
a estas situações. STF. 2ª Turma. HC 141440 AgR/MG, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 14/8/2018 (Info 911).

É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias


avaliadas em R$ 29,15, mesmo que a subtração tenha ocorrido durante o
período de repouso noturno e mesmo que o agente seja reincidente. Vale
ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento
comercial e que logo após o agente foi preso, ainda na porta do
estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa de Coca-
Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado
em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 14/4/2020 (Info 973).

É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem avaliado em


R$ 20,00 mesmo que o agente tenha antecedentes criminais por crimes
patrimoniais
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou
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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

o furto de um carrinho de mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo),


mesmo ele possuindo antecedentes criminais por crimes patrimoniais. STF. 1ª
Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966).

É possível a aplicação ao réu reincidente quando o crime anterior tutelava bem jurídico distinto
patrimônio, é o que o STF chamou de TEORIA DA REITERAÇÃO NÃO CUMULATIVA DE CONDUTAS DE
GÊNEROS DISTINTOS (*termo de prova).

Entendendo a fonte da expressão acima que foi utilizada no seguinte julgado do STF:
TURMA HABEAS CORPUS 114.723, MINAS GERAIS
RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI

FURTO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. VALOR DOS BENS


SUBTRAÍDOS. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO. CONTUMÁCIA DE INFRAÇÕES
PENAIS CUJO BEM JURÍDICO TUTELADO NÃO É O PATRIMÔNIO.
DESCONSIDERAÇÃO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, para se caracterizar hipótese de aplicação do
denominado “princípio da insignificância” e, assim, afastar a recriminação
penal, é indispensável que a conduta do agente seja marcada por ofensividade
mínima ao bem jurídico tutelado, reduzido grau de reprovabilidade,
inexpressividade da lesão e nenhuma periculosidade social. 2. Nesse sentido, a
aferição da insignificância como requisito negativo da tipicidade envolve um
juízo de tipicidade conglobante, muito mais abrangente que a simples
expressão do resultado da conduta. Importa investigar o desvalor da ação
criminosa em seu sentido amplo, de modo a impedir que, a pretexto da
insignificância apenas do resultado material, acabe desvirtuado o objetivo a
que visou o legislador quando formulou a tipificação legal. Assim, há de se
considerar que “a insignificância só pode surgir à luz da finalidade geral que dá
sentido à ordem normativa” (Zaffaroni), levando em conta também que o
próprio legislador já considerou hipóteses de irrelevância penal, por ele
erigidas, não para excluir a tipicidade, mas para mitigar a pena ou a persecução
penal. 3. Trata-se de furto de um engradado que continha vinte e três garrafas
vazias de cerveja e seis cascos de refrigerante, também vazios, bens que foram
avaliados em R$ 16,00 e restituídos à vítima. Consideradas tais circunstâncias,
é inegável a presença dos vetores que autorizam a incidência do princípio da
insignificância. 4. À luz da teoria da reiteração não cumulativa de condutas de
gêneros distintos, a contumácia de infrações penais que não têm o
patrimônio como bem jurídico tutelado pela norma penal não pode ser
valorada, porque ausente a séria lesão à propriedade alheia (socialmente
considerada), como fator impeditivo do princípio da insignificância. 5. Ordem
concedida para restabelecer a sentença de primeiro grau, na parte em que

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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

reconheceu a aplicação do princípio da insignificância e absolveu o paciente


pelo delito de furto.

Ressalta-se ainda que, em 2018 e 2019, os Tribunais Superiores tinham encontrado uma
espécie de “meio termo” entre a aplicação do princípio da insignificância e a reincidência do agente.
Isso porque, no caso concreto, o juiz via que, pelo critério objetivo, o réu faria jus à
insignificância, mas que os critérios subjetivos não estariam preenchidos, em razão da reincidência.
Então, considerando a proporcionalidade, o STF criou um “meio termo”: ao invés de absolver por
atipicidade material da conduta, aplicou outros institutos mais benéficos, como a substituição da
pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Vejamos os julgados em que os Tribunais
Superiores aplicaram esse entendimento:

Possibilidade de aplicar o regime inicial aberto ao condenado por furto,


mesmo ele sendo reincidente, desde que seja insignificante o bem subtraído.
A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. No
entanto, com base no caso concreto, o juiz pode entender que a absolvição com
base nesse princípio é penal ou socialmente indesejável. Nesta hipótese, o
magistrado condena o réu, mas utiliza a circunstância de o bem furtado ser
insignificante para fins de fixar o regime inicial aberto. Desse modo, o juiz não
absolve o réu, mas utiliza a insignificância para criar uma exceção
jurisprudencial à regra do art. 33, § 2º, “c”, do CP, com base no princípio da
proporcionalidade STF. 1ª Turma. HC 135164/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, red.
p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/4/2019 (Info 938).

STF reconheceu que o valor econômico do bem furtado era muito pequeno,
mas, como o réu era reincidente, em vez de absolvê-lo aplicando o princípio
da insignificância, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a
pena restritiva de direitos
Em regra, o reconhecimento do princípio da insignificância gera a absolvição do
réu pela atipicidade material. Em outras palavras, o agente não responde por
nada. Em um caso concreto, contudo, o STF reconheceu a insignificância do
bem subtraído, mas, como o réu era reincidente em crime patrimonial, em vez
de absolvê-lo, o Tribunal utilizou esse reconhecimento para conceder a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Em razão
da reincidência, o STF entendeu que não era o caso de absolver o condenado,
mas, em compensação, determinou que a pena privativa de liberdade fosse
substituída por restritiva de direitos. STF. 1ª Turma. HC 137217/MG, Rel. Min.
Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/8/2018
(Info 913).

#PENSANDONADISCURSIVA - Justificativas
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A favor da aplicação da insignificância ao reincidente: se a natureza jurídica é de causa de exclusão de


tipicidade, deve ser analisado o FATO e não os atributos do agente, sob pena de se utilizar o direito
penal do autor. O fato não poderia ser típico para uma pessoa e atípico para outra. Ou é típico ou não
é. O momento de analisar as condições pessoais do agente é apenas em eventual e futura fixação de
pena.
Contra a aplicação da insignificância ao reincidente: Se o agente é infrator contumaz, com
personalidade voltada a práticas delitivas, fazer uso da insignificância seria incentivá-lo ao contínuo
descumprimento da norma, fazendo do crime um meio de vida. O valor de um bem, isoladamente, até
poderia ser insignificante, mas o “todo” não seria e isso caracterizaria reprovabilidade e ofensividade.
O intuito do princípio não é legitimar esse tipo de conduta, mas afastar do campo de incidência do
direito penal, desvios mínimos e isolados.

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DIREITO PENAL
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b) INSIGNIFICÂNCIA x FURTO QUALIFICADO

STF/STJ: Via de regra, entendem não ser possível a aplicação do princípio da insignificância no
furto qualificado, pois falta o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do comportamento. No
entanto, recentemente, o Plenário do STF analisou a questão e entendeu que não há como fixar tese
sobre isso, que também deve ser analisado caso a caso. (STF-HC 123108/MG).
Ressalta-se que, em um julgado recente, o STJ entendeu pela aplicação do referido princípio, à
luz da análise do caso concreto. Veja:
Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo
quando presentes circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. A
despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista,
impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise
conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato
imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª
Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
11/02/2020 (Info 665).

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ


(Situação hipotética) - Adriana e Janaína, em concurso de pessoas, subtraíram
dois pacotes de linguiça, um litro de vinho, uma lata de refrigerante e quatro
salgados de um supermercado. Os bens subtraídos foram avaliados em R$
69,23. As duas foram presas no estacionamento do supermercado e não houve
prejuízo para o estabelecimento.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra elas pela prática de furto
qualificado, tipificado no art. 155, § 4º, IV, do Código Penal. A defesa pediu a
absolvição com base na aplicação do princípio da insignificância. O juiz,
contudo, negou o pedido argumentando que não se pode aplicar o princípio da
insignificância no caso de furto qualificado.
Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas
hipóteses de furto qualificado, tendo em vista que tal circunstância denota, em
tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta. Deve-se, todavia,
considerar as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a
verificar se, diante do quadro completo do delito, a conduta do agente
representa maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da
insignificância.
No caso concreto, a 5ª Turma do STJ aplicou o princípio da insignificância e
absolveu as acusadas. Afirmou-se que “muito embora a presença da
qualificadora possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade
material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias demonstra a
ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do
princípio da insignificância.”

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
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Sim, amigo concurseiro, nem o STF se entende! Você não está sozinho nessa! Mas a você, cabe
entender a situação e analisar a melhor alternativa, a forma como cada uma está descrita, na hora de
marcar. Se for prova discursiva ou oral, exponha ambos posicionamentos.

c) INSIGNIFICÂNCIA x BENS JURÍDICOS DIFUSOS/COLETIVOS

Em regra, se o bem jurídico é difuso ou coletivo, os tribunais superiores vêm entendendo pela
NÃO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA, pois se estaria atingindo a coletividade e,
portanto, não caberia a insignificância da lesão.
Além disso, normalmente os crimes contra bens jurídicos difusos/coletivos são crimes de perigo
abstrato, motivo pelo qual, de “perigo presumido” pelo legislador.

▪ Tráfico de drogas – não aplicação do princípio, por se tratar de crime de perigo abstrato (perigo
presumido, de acordo com a jurisprudência do STJ), sendo irrelevante a quantidade de droga
apreendida. HC 318926, STJ – 2015

#QUESTÃODEPROVA: Foi considerada correta a seguinte afirmativa: “ainda que com pouca quantidade
de droga o princípio da insignificância não incide no crime de tráfico de drogas, não sendo fundamento
para recomendação de arquivamento do inquérito policial por atipicidade”.

▪ Porte de drogas para consumo pessoal – tema controvertido.


· Amplamente majoritário + jurisprudência do STJ – impossibilidade da insignificância em razão
de se tratar de crime de perigo abstrato. STJ, 6ª T, RHC 35920-DF (INFO 541)
· STF tem um precedente isolado admitindo a aplicação da insignificância (o que não indica
posição consolidada do STF). (STF, 1ª T, HC 110475/2012)

▪ Crime de moeda falsa: Inaplicabilidade do princípio, AINDA QUE SEJA 1 ÚNICA NOTA DE
PEQUENO VALOR, uma vez que se trata de crime contra a fé pública, havendo o interesse do
Estado e da coletividade em não ter a fé pública abalada por aquela falsificação. Considerando
que se trata de um bem jurídico coletivo difuso “fé pública”, não se leva em consideração
somente o aspecto material/patrimonial do bem falsificado, mas sim um bem coletivo. Essa
argumentação se aplica aos outros crimes contra a fé pública.

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
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#ATENÇÃO: quanto aos crimes praticados contra a fé pública – dentre os quais se


encontra o crime de moeda falsa (art. 289, CP) – a 5ª Turma do STJ, em julgamento no final de
2021, admitiu excepcionalmente a aplicação do princípio da insignificância diante do caso
concreto:

Excepcionalmente, admite-se o princípio da insignificância nos crimes


contra a fé pública (uso de atestado falso) em casos que o dolo do réu
revela, de plano, "a mínima ofensividade da conduta do agente, a
nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão
jurídica provocada", a demonstrar a atipicidade material da conduta e
afastar a incidência do direito penal, sendo suficientes as sanções
previstas na Lei trabalhista.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1816993/B1, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 16/11/2021

Apesar de parecer um caso extremamente isolado, tendo em vista que em 12/12/2021 o


mesmo órgão colegiado entendeu novamente pela impossibilidade da incidência de tal princípio
em crimes dessa natureza, é bom atentarmos para a sinalização da flexibilização do
entendimento!

▪ Crimes ambientais: Em regra, nos crimes com bem jurídico difuso/coletivo, não se aplica o
princípio da insignificância, pois a lesividade/exposição a perigo transcende o aspecto
individual. No entanto, nos crimes ambientais, essa regra é invertida, uma vez que os tribunais
superiores adotam como regra a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância em
crimes ambientais, devendo ser analisadas as circunstâncias específicas no caso concreto para
verificar a atipicidade da conduta em exame/verificar se aquela conduta não gerou
efetivamente um perigo ao meio ambiente. (Info 816)

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais,


devendo ser analisadas as circunstâncias específicas do caso concreto para se
verificar a atipicidade da conduta em exame. STJ. 5° Turma. AgRg no AREsp
654.321/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2015. É
possível aplicar o princípio da insignificância para crimes ambientais. STF. 2ª
Turma. Inq 3788/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1°/3/2016 (Info 816).

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DIREITO PENAL
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· Exceção à regra específica dos crimes ambientais: pela jurisprudência amplamente


dominante, não se pode aplicar o princípio da insignificância ao crime de pesca ilegal. –
STF, 1ª TURMA, HC 122560/SC (2018) – Info 901
O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34, caput c/c
parágrafo único, II, da Lei 9.605/98: Art. 34. Pescar em período no qual a pesca
seja proibida ou em lugares interditados por órgão competente: Pena -
detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas
cumulativamente. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem: II - pesca
quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos,
petrechos, técnicas e métodos não permitidos; Caso concreto: realização de
pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método não
permitido. STF. 1ª Turma. HC 122560/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
8/5/2018 (Info 901).
Outro caso concreto: realização de pesca com rede de oitocentos metros e
apreensão de oito quilos de pescados. STF. 2ª Turma. HC-AgR 163.907-RJ. Relª
Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2020.

Obs: apesar de a redação utilizada no informativo original ter sido bem


incisiva (“O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art.
34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98”), existem julgados tanto
do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para o delito de pesca ilegal. Deve-se ficar atenta(o) para
como isso será cobrado no enunciado da prova.
Fonte: dizer o Direito

No entanto, há hipóteses em que a própria jurisprudência flexibiliza a exceção da pesca ilegal,


como, por exemplo:

● O STJ (Info 602 – 6ª Turma. RESP 1409051 – 2017) afirmou, de forma excepcional, pela aplicação
do princípio da insignificância no caso de pesca ilegal, na hipótese em que o indivíduo pescou 1
único peixe e devolveu esse peixe vivo ao rio, não havendo um prejuízo efetivo ao meio
ambiente.
● Se a pessoa é flagrada sem nenhum peixe efetivamente pescado, mas portando consigo
equipamentos de pesca, em um local onde essa atividade é proibida. Nessa hipótese
pontual/casuística, temos discussão nos tribunais superiores, pois há 2 julgados da mesma
turma em sentidos opostos:

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
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· SIM (possibilidade de aplicação da insignificância) - STF (info 816) – STF, 2ª Turma, inq.
3788/DF (2016)
· NÃO – STF (info 845 – 2016) – não pode aplicar

Embora sejam julgados anteriores ao informativo 901, pode ser interessante abordar em uma prova
discursiva/oral.

d) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES TRIBUTÁRIOS E DESCAMINHO

Em regra, o princípio da insignificância se aplica aos crimes tributários federais e de descaminho


[também é um crime tributário] quando o crédito tributário não ultrapassar o limite de 20.000 reais,
a teor do disposto no art. 20 da Lei 10.522/02 com as atualizações efetivadas pelas portarias nº 75 e
130 do Ministério da Fazenda.

Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de


descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de
R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n.
10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas
do Ministério da Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

Observações importantes:

1) O valor máximo para aplicar o princípio da insignificância é de 20 mil reais (e agora, tanto
para o STF como para o STJ).

Explicação para adotar o valor de 20 mil reais: (Fonte: Dizer o Direito)


⋅ Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012,
na qual o Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de
execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado seja igual ou
inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).”
⋅ Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos
como Dívida Ativa da União não serão executados.
⋅ Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico
permitir que alguém seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo

38
DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

que nem sequer será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a própria “vítima” não
irá cobrar o valor, não faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.
⋅ Vale lembrar que o direito penal é a ultima ratio. Se a Administração Pública entende que, em
razão do valor, não vale a pena movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com
maior razão também não se deve iniciar uma ação penal para punir o agente.

2) O princípio da insignificância aplica-se somente aos crimes tributários federais!!! Não se


aplica aos crimes tributários estaduais!
Esse valor de 20 mil para aplicação da insignificância deve ser considerado para tributos
FEDERAIS!!! (Info 540, STJ), de modo que esse parâmetro não serve para tributos estaduais/municipais.
Isso porque o art. 20 a Lei 10522, bem como as portarias, regram a questão tributária da União. Assim,
caso se aplicasse essa regra no plano estadual, haveria uma ingerência indevida na autonomia dos
estados.

Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos
crimes tributários estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais),
estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei
estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo. STJ. 5ª Turma.
AgRg-HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

3) Não se aplica o princípio da insignificância ao crime de contrabando!!! (Somente se aplica ao


crime de descaminho!!!)
Não se aplica porque o objeto sobre o qual recai a conduta proibida no crime de contrabando
é “mercadoria proibida”, e não a mera sonegação. Assim, o bem jurídico tutelado não é apenas a
questão financeira do ente estatal, mas também a saúde pública/incolumidade pública, uma vez que
o estado, por motivos de saúde pública/incolumidade pública, proíbe a importação ou exportação de
determinada mercadoria. (Crime pluriofensivo).

STJ. 3ª Seção. REsp 1688878-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
28/02/2018 (recurso repetitivo).

STF. 1ª Turma. HC 137595 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em


07/05/2018.

STF. 2ª Turma. HC 155347/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info
898).

Exceção: No STJ, temos um precedente ISOLADO em sentido contrário, admitindo a aplicação


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do princípio da insignificância ao crime de contrabando de pequena quantidade de medicamento


destinada a uso próprio. Trata-se de um caso extremamente específico em que o STJ reconheceu a
mínima ofensividade da conduta do agente, ausência periculosidade da ação, reduzido grau de
reprovabilidade do comportamento e inexpressividade da lesão jurídica provocada, autorizando
excepcionalmente a aplicação do princípio da insignificância.

STJ, 5ª T, EDcl no AgRg no Resp 1708371/PR – 2018



e) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
● STF - Antes não admitia, mas possui decisões recentes admitindo, como por exemplo, em caso
de peculato.
● STJ – Possui entendimento sumulado negando a aplicação (súmula 599).

Súmula 599-STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a


administração pública.

Porém, STF e STJ admitem nos crimes contra a Administração Pública praticados por
particulares, a exemplo do descaminho, que, apesar de ser um crime tributário, topograficamente,
estão inseridos no título dos Crimes contra a Administração Pública, então cuidado em prova!

ATENÇÃO: HC 642.831 - Segundo a 5ª turma do STJ, o alto grau de reprovabilidade da conduta


do cidadão que oferece dinheiro ao agente de trânsito para evitar o exame do bafômetro é suficiente
para impedir a aplicação do princípio da insignificância e a consequente absolvição por atipicidade da
conduta. Ressalta-se uma peculiaridade do caso em tela: Depois da tentativa de suborno, o exame de
alcoolemia deu resultado negativo. No entanto, tal circunstância também não foi suficiente para
aplicar o princípio da insignificância ao caso.

#QUESTÃODEPROVA: Foi considerada INCORRETA a seguinte alternativa: “Segundo o STJ, nenhum dos
crimes contra a administração pública admite a incidência do princípio da insignificância”. A questão
foi objeto de vários recursos e a banca não anulou justamente por ter utilizado a palavra “nenhum” e
ser aplicável ao descaminho. Além disso, tinha outra que era “mais certa” que essa. É como já havíamos
falado. Tem que pensar na mais certa! Fique de olho nas palavras-chave ou se a banca pediu o
entendimento sumulado.

f) INSIGNIFICÂNCIA x CRIMES PREVISTOS NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO (Lei nº


10.826/2003)

Via de regra, STF e STJ não aplicam o princípio da insignificância, mesmo que a arma encontrada esteja
desmuniciada ou a munição seja encontrada de forma isolada (sem armamento por perto); isso se dá
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porque tanto a posse quanto o porte de arma de fogo (e munição) são crimes de perigo abstrato, de
forma a incidir o Direito Penal de forma antecipada (tal como consta no julgado do Supremo Tribunal
Federal transcrito quando falávamos sobre a liquefação do Direito Penal).

Todavia, tanto STF quanto STJ têm flexibilizado a regra geral desde o ano de 2019, quando passaram a
admitir em algumas hipóteses (apreensão de pequena quantidade de munição desacompanhada da
arma) a incidência do princípio bagatelar:

O atual entendimento do STJ é no sentido de que a apreensão de pequena


quantidade de munição, desacompanhada da arma de fogo, permite a
aplicação do princípio da insignificância ou bagatela. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
517.099/MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/08/2019.

O STJ, alinhando-se ao STF, tem entendido pela incidência do princípio da


insignificância aos crimes previstos na Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento), afastando a tipicidade material da conduta quando
evidenciada flagrante desproporcionalidade da resposta penal.
A aplicação do princípio da insignificância deve, contudo, ficar restrita a
hipóteses excepcionais que demonstrem a inexpressividade da lesão, de forma
que a incidência do mencionado princípio não pode levar ao esvaziamento do
conteúdo jurídico do tipo penal em apreço - porte de arma, incorrendo em
proteção deficiente ao bem jurídico tutelado.
STJ. 6ª Turma. HC 473.334/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 21/05/2019.
(Grifou-se)

A Quinta Turma e a Sexta Turma, em algumas oportunidades, tem entendido


que o simples fato de os cartuchos apreendidos estarem desacompanhados da
respectiva arma de fogo não implica, por si só, a atipicidade da conduta, de
maneira que as peculiaridades do caso concreto devem ser analisadas a fim de
se aferir: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) a ausência de
periculosidade social da ação; c) o reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. Na
hipótese dos autos, embora com o embargado tenha sido apreendida apenas
uma munição de uso restrito, desacompanhada de arma de fogo, ele foi
também condenado pela prática dos crimes descritos nos arts. 33, caput, e
35, da Lei n. 11.343/06 (tráfico de drogas e associação para o tráfico), o que
afasta o reconhecimento da atipicidade da conduta, por não estarem
demonstradas a mínima ofensividade da ação e a ausência de periculosidade
social exigidas para tal finalidade. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.856.980, Rel. Min.
Joel Ilan Paciornik, julgado em 22/09/2021 (Grifou-se)

Não se reconhece a incidência excepcional do princípio da insignificância ao


crime de posse ou porte ilegal de munição, quando acompanhado de outros
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delitos, tais como o tráfico de drogas.


STF. 1ª Turma. HC 206977 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
18/12/2021.

* Fonte dos julgados: Dizer o Direito.

Assim, devemos nos manter alertas às próximas movimentações dos Tribunais Superiores, vez que os
julgados acerca da matéria flutuam a depender do caso concreto em comento. Logo:

- Regra geral: não se admite a incidência do Princípio da Insignificância nos crimes previstos no
Estatuto do Desarmamento.

- Exceções: a depender do caso concreto, estando diante de (i) mínima ofensividade da


conduta; (ii) ausência de periculosidade social da ação; (iii) reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento e (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada, e mostrando-se excessiva e
desproporcional o processamento e condenação do agente (deixando-se de observar outros princípios
orientadores do Direito Penal, tal qual o P. da proporcionalidade), é possível, sim, a aplicação do P. da
insignificância.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – ENTENDIMENTOS JURISPRUDENCIAIS:

1. STF/STJ: para aplicação do princípio da insignificância, considera-se a capacidade econômica da vítima (STJ-
Resp. 1.224.795).

2. STF/STJ: admitem a aplicação a atos infracionais.

3. STF: O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da sentença
condenatória (STF-HC 95570).

4. “Flanelinha” e exercício da profissão sem registro competente: STF admite a aplicação (Info. 699).

5. STF/STJ NÃO admitem o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública, mais precisamente, nos
crimes de moeda falsa (STF-HC105.829).

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6. STF/STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência doméstica
(STJ-HC 33195/MS; STF-RHC 133043/MT).

Neste sentido: Súmula 589, STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções
penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas.

7. STF/STJ: Ao Tráfico internacional de armas e munições não se aplica o princípio da insignificância (STF-HC
97777), de igual modo é inaplicável aos crimes de posse e porte de arma de fogo (STJ-HC 338153/RS). Obs.: É
atípica a conduta daquele que porta, na forma de pingente, munição desacompanhada de arma. (STF - HC
133984/MG)

8. Crimes contra a vida, lesões corporais, crimes praticados com violência ou grave ameaça à pessoa, crimes
sexuais, tráfico de drogas – nenhum admite.

9. Porte de drogas para uso (art. 28 da LD) – Majoritariamente, o STF e o STJ não aplicam a insignificância, nem
mesmo em se tratando de quantidades ínfimas, pelo fato de ser crime de perigo presumido e o bem tutelado
ser a saúde pública. No entanto, há um antigo julgado isolado do STF permitindo a aplicação.

10. Violação de direito autoral – não se aplica.

11. Apropriação indébita previdenciária:

ANTES: havia divergência entre o STJ e o STJ.

AGORA: tanto o STF como o STJ afirmam que é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de
apropriação indébita previdenciária.

Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de apropriação indébita previdenciária. Não é
possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de
sonegação de contribuição previdenciária, independentemente do valor do ilícito, pois esses tipos penais protegem
a própria subsistência da Previdência Social, de modo que é elevado o grau de reprovabilidade da conduta do
agente que atenta contra este bem jurídico supraindividual. O bem jurídico tutelado pelo delito de apropriação
indébita previdenciária é a subsistência financeira da Previdência Social. Logo, não há como afirmar-se que a
reprovabilidade da conduta atribuída ao paciente é de grau reduzido, considerando que esta conduta causa
prejuízo à arrecadação já deficitária da Previdência Social, configurando nítida lesão a bem jurídico supraindividual.

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O reconhecimento da atipicidade material nesses casos implicaria ignorar esse preocupante quadro. STF. 1ª Turma.
HC 102550, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/09/2011. STF. 2ª Turma. RHC 132706 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 21/06/2016. STJ. 3ª Seção. AgRg na RvCr 4.881/RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/05/2019

12. Crimes ambientais:


STJ: É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes ambientais, devendo ser analisadas as
circunstâncias específicas do caso concreto para se verificar a atipicidade da conduta em exame (STJ AgRg no
AREsp 654.321/SC).

STF: Já negou em situação de pesca ilegal, a um indivíduo flagrado junto a outras três pessoas, POR TRÊS VEZES
CONSECUTIVAS, em embarcação motorizada, praticando pesca em local proibido e com redes de arrasto de fundo
(HC 137652).

- Já negou em caso de realização de pesca de 7kg de camarão em período de defeso com o uso de método não
permitido (HC 122560/SC).

- A partir do caso acima, publicou a seguinte redação no Info 891: O princípio da bagatela não se aplica ao crime
previsto no art. 34, caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98 (pesca ilegal).

- No entanto, existem julgados tanto do STF como do STJ aplicando, excepcionalmente, o princípio da
insignificância para este delito. Atente-se ao comando da questão!

13. É possível aplicar o princípio da insignificância para a conduta de manter rádio clandestina? Para o STJ NÃO,
mesmo que seja de baixa potência, por ser crime formal de perigo abstrato. Para o STF SIM, em situações
excepcionais, se for operada em baixa frequência.

Súmula 606-STJ: não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de sinal de
internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei 9.472/97. (O STF tem
um julgado publicado em informativo em sentido contrário, ou seja, aplicando, mas a maioria das decisões é no
mesmo sentido do STJ.)

14. STJ – Info 672/2020: Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de estelionato
qualificado por médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira do hospital.
Cinge-se a controvérsia a saber acerca da possibilidade do trancamento de ação penal pelo
reconhecimento de crime bagatelar no caso de médico que, no desempenho de seu cargo público, teria registrado
seu ponto e se retirado do local, sem cumprir sua carga horária. A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça
não tem admitido, nos casos de prática de estelionato qualificado, a incidência do princípio da insignificância,
inspirado na fragmentariedade do Direito Penal, em razão do prejuízo aos cofres públicos, por identificar maior
reprovabilidade da conduta delitiva. Destarte, incabível o pedido de trancamento da ação penal, sob o fundamento
de inexistência de prejuízo expressivo para a vítima, porquanto, em se tratando de hospital universitário, os

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pagamentos aos médicos são provenientes de verbas federais. AgRg no HC 548.869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 12/05/2020, DJe 25/05/2020

Para finalizar o estudo deste princípio, precisamos ainda fazer uma última diferenciação:
BAGATELA PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA1, o que faremos com a ajuda do Dizer o Direito.

INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA

= PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA = PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO FATO

A situação já nasce atípica. A situação nasce penalmente relevante. O fato é


típico do ponto vista formal e material.
O fato é atípico por atipicidade material.
Em virtude de circunstâncias envolvendo o fato e o
seu autor, consta-se que a pena se tornou desnecessária.

O agente tem que ser processado (a ação penal deve


O agente não deveria nem mesmo ser ser iniciada) e somente após a análise das peculiaridades do
processado já que o fato é atípico. caso concreto, o juiz poderia reconhecer a desnecessidade da
pena.

Não tem previsão legal no direito


Está previsto no art. 59 do CP, conforme a doutrina.
brasileiro.

Enquanto para a infração bagatelar própria já nasce irrelevante por se tratar de conduta
materialmente atípica, “a infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito
penal, mas depois se verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se
totalmente desnecessária” (GOMES, Luiz Flávio; Antonio Garcia-Pablos de Molina. Direito Penal Vol. 2,
São Paulo: RT, 2009, p.305).
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto,
em um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo,
a reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assemelhando-se ao perdão judicial).
Porém, ao contrário do instituto mencionado, as situações em que a bagatela imprópria é
aplicável não estão expressamente previstas.
Segundo LFG, este instituto possui fundamento legal no direito brasileiro (porém, de forma
implícita e “genérica” – termos nossos). Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a
pena “conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime”.

1 Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/01/ebook-princc3adpio-da-insignificc3a2ncia-vf.pdf
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Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
A bagatela imprópria foi acolhida pela 5ª Turma do STJ, confirmando decisão da 1ª e 2ª
instâncias judiciais no AgRg no AREsp 1423492 / RN (decisão publicada 29/05/2019)

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. POSSE


ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CRIME
SEM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA. DELITO COMETIDO HÁ MAIS DE 12 ANOS.
INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA BAGATELA IMPRÓPRIA. REQUISITOS
PREENCHIDOS. DESNECESSIDADE DA PENA. REEXAME DO CONJUNTO
PROBATÓRIO. APLICAÇÃO DA SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA – STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Entendo as instâncias
ordinárias ser desnecessária a punição do acusado, porque presentes os
requisitos para a aplicação do princípio da bagatela imprópria, para se concluir
de forma diversa, seria imprescindível o reexame do conjunto probatório dos
autos, o que não é viável em recurso especial. Incidente a Súmula n. 7/STJ. 2.
Agravo regimental desprovido.

Tema quente!

Para a Defensoria do RJ esse é um tema extremamente atual e relevante, razão pelo qual deve
ser estudado com profundidade. Há inúmeras notícias no site da Defensoria Pública do Estado
do Rio de Janeiro, das atuações dos defensores de varas criminais, inclusive com atuação no
STF. Importante estudar também sobre casos em que mesmo com uma proposta de acordo de
não persecução penal, trata-se de caso de absolvição por força da aplicação da Insignificância.
Conforme caso noticiado no dia 09/02/20232

7.2 Princípios Relacionados com o Fato do Agente

7.2.1 Princípio da Ofensividade/Lesividade

Para que ocorra o delito, é imprescindível a efetiva lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico
tutelado. O direito penal não deve se ocupar de questões éticas, morais, religiosas, políticas, filosóficas.
Em razão do princípio da lesividade, PROÍBE-SE:
- A criminalização de pensamentos e cogitações (direito à perversão)
- A criminalização de condutas que não tenham caráter transcendental (vedação à autolesão).

2 Justiça absolve homem que furtou itens alimentícios em mercado - Site DPGERJ - Notícia veiculada no dia 09/02/2023
<https://defensoria.rj.def.br/noticia/detalhes/22880-Justica-absolve-homem-que-furtou-itens-alimenticios-em-mercado>

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Relacionado a este ponto está o princípio da alteridade: o Direito Penal se preocupa apenas
com condutas que ultrapassam a esfera pessoal do agente.
- A criminalização de meros estados existenciais (criminalização da pessoa pelo que ela é – ex:
revogação da contravenção de mendicância).

Crime de dano: exige efetiva lesão ao bem jurídico. (Ex.: homicídio, exige a lesão morte).
Crime de perigo: contenta-se com o risco de lesão ao bem jurídico. (Ex. abandono de incapaz/omissão
de socorro).
a. crime de perigo concreto - o risco de lesão deve ser demonstrado.
b. perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
Temos doutrina entendendo que o crime de perigo abstrato é inconstitucional, pois o perigo não pode
ser presumido, mas comprovado. Presumir-se prévia e abstratamente o perigo, significa, em última
análise, que o perigo não existe. Para os adeptos dessa corrente, os crimes de perigo abstrato violariam
o princípio da lesividade. Essa tese, no entanto, como já acima explanado, hoje não prevalece no STF.
No HC 104.410, o Supremo decidiu que a criação de crimes de perigo abstrato não representa, por si
só, comportamento inconstitucional, mas proteção eficiente do Estado.
Ex.: Embriaguez ao volante – STF decidiu que o ébrio não precisa dirigir de forma anormal para
configurar o crime – bastando estar embriagado (crime de perigo abstrato).

Súmula 575, STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo
automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas
no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na
condução do veículo.

Ex.: Arma desmuniciada – STF – jurisprudência atual – crime de perigo abstrato – demanda efetiva
proteção do Estado.

7.2.2 Princípio da Alteridade

Subprincípio do princípio da lesividade. Dispõe que a conduta deve necessariamente atingir, ou


ameaçar atingir, bem jurídico de terceiro para ser criminalizada. Deve transcender a esfera do próprio
agente. Por isso, o direito penal não pune a autolesão.
Ex.: o artigo 28 do CP NÃO tipifica o USO de drogas porque apenas afetaria o usuário. Tipifica o
porte ou similares (guardar, ter em depósito, transportar etc).

7.2.3 Princípio da Exteriorização ou Materialização do Fato

O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, fatos, atos lesivos. Ninguém pode
ser castigado por seus pensamentos, desejos ou meras cogitações ou estilo de vida. Esse princípio
busca impedir o direito penal do autor. Decorrência do princípio da lesividade.

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

7.2.4 Princípio da Legalidade Estrita ou Reserva Legal

Encontra previsão no art. 5º, XXXIX da CFRB/88 e no art. 1º do CP: “Não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”. Assim, a lei em sentido estrito tem o monopólio
na criação de crimes e cominação de penas – que só serão aplicados a condutas posteriores à sua
vigência, não podendo haver criação de crimes e penas por costumes ou analogias, tampouco
tipificação de condutas genéricas.
Ademais, a lei precisa ser anterior, escrita, estrita, certa (taxativa) e necessária.
A legalidade subdivide-se em:

o Legalidade formal: corresponde à obediência aos trâmites procedimentais previstos


pela CF para que determinado diploma legal possa vir a fazer parte do ordenamento
jurídico.
o Legalidade material: pressupõe não apenas a observância das formas e procedimentos
impostos pela CF, mas também, e principalmente, o seu conteúdo, respeitando-se as
suas proibições e imposições para a garantia dos direitos fundamentais por ela
previstos.

A doutrina trabalha com uma dupla face do princípio da legalidade. Ora legitimando o Estado,
ora limitando esse poder de punir. Veja:

1) Funções constitutivas - em q+ue eu garanto ao Estado a possibilidade de criminalizar condutas


e cominar penas. Aqui estou trabalhando com o plano da legalidade no sentido de legitimar o
Estado a exercer seu direito de punir através da criminalização de conduta e cominação de
penas.
Quando falamos em legalidade na função constitutiva, estou abrangendo a legalidade não só
na pena cominada, mas na pena aplicada e pena executada também.
● Princípio da legalidade direcionado ao legislador – ao cominar as penas
● Princípio da legalidade direcionado ao aplicador do direito – quando o juiz veda que se
aplique um regime de cumprimento de pena mais severo do que o previsto pelo legislador, por
exemplo.
● Princípio da legalidade direcionado à Administração Penitenciária - Os órgãos não
podem executar pena diversa daquela prevista em lei e aplicada pelo juiz.

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

● Enunciado da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ

● Enunciado 13: O princípio da legalidade impõe que se observe, quando


da soma das penas, o cálculo diferenciado para fins de progressão de regime.

2) Funções de garantia (face de garantia) – busca limitar o poder de punir do estado trazendo
garantias mínimas ao cidadão perante o estado. Exclui penas ilegais por exemplo. Nesse ponto,
o princípio da legalidade se desdobra em 4 máximas:
a) Lex scripta: A lex scripta proibi que se utilize dos costumes como fonte incriminadora do direito
penal
b) Lex stricta: proibição do emprego da analogia in malan partem
c) Lex Praevia: Representa o princípio da anterioridade penal: veda a criminalização ex post facto
d) Lex certa (aspecto material do princípio da legalidade): A lex certa materializa a proibição de o
legislado formular tipos penais genéricos, vazios, vagos, etc. (Princípio da taxatividade)

Caiu no MPE-PR (2017) - Dentre as proibições derivadas do princípio da legalidade, a fórmula lex scripta
representa a proibição do costume como fundamento de criminalização ou de punição de condutas, e
a fórmula lex certa representa a proibição de indeterminação, de forma a excluir a indefinição e a
obscuridade de leis penais – ASSERTIVA CORRETA!

CESPE/2019: A norma penal deve ser instituída por lei em sentido estrito, razão por que é proibida, em
caráter absoluto, a analogia no direito penal, seja para criar tipo penal incriminador, seja para
fundamentar ou alterar a pena. Item correto.

- FUNDAMENTOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE:


o Político: vinculação do executivo e do judiciário às leis, o que impede o exercício do
poder punitivo com base no livre arbítrio.
o Democrático: o parlamento, escolhido pelo povo, que é responsável pela criação dos
tipos definidores dos crimes.
o Jurídico: a lei deve ser prévia e clara, pois produz efeito intimidativo.

* ATENÇÃO: Medida provisória não pode criar crimes nem penas, mas STF admite para favorecer o réu
(RE 254818/PR).

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

* ATENÇÃO²: os princípios da reserva legal (estrita legalidade) e o da legalidade são considerados como
sinônimos por parte da doutrina, enquanto outra corrente defende que se diferenciam nos seguintes
aspectos:

RESERVA LEGAL (estrita legalidade) LEGALIDADE


Art. 5°, XXXIX, CF, “não há crime sem lei Art. 5, II, CF, “ninguém será obrigado a
anterior que o defina, nem pena sem fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
prévia cominação legal”. em virtude de lei”.
- Exige lei em sentido estrito (no caso do -Exige lei em sentido amplo (abrange
direito penal, lei ordinária) - a lei deve ser qualquer espécie normativa, ou seja, lei
criada de acordo com o processo delegada, medida provisória, decreto,
legislativo previsto na CF e deve tratar de etc.).
matéria constitucionalmente reservada à
lei

- MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO E RESERVA LEGAL

Em que pese a criação de crimes e cominação de penas seja exclusiva da lei em sentido estrito,
a Constituição Federal estabelece mandados explícitos e implícitos de criminalização, ou seja, situações
em que é obrigatória a intervenção do legislador penal.
Conforme já afirmado pelo STF, “A Constituição de 1988 contém significativo elenco de normas
que, em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes, determinam a criminalização de condutas
(CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227, § 4º)” (HC 102.087/MG).
Podem ser de duas espécies:

MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO


EXPRESSOS IMPLÍCITOS/TÁCITOS
A ordem está explícita no texto constitucional. A ordem está implícita no texto constitucional.
É retirada da do “espírito” do texto da CF, de
sua interpretação sistemática.
Ex.: Art. 5º, XLII: “a prática do racismo constitui Ex: combate à corrupção no poder público.
crime inafiançável e imprescritível, sujeito à Embora a CF não tenha determinado
pena de reclusão, nos termos da lei”. expressamente a criminalização dessa conduta,
isso pode ser extraído dos valores que ela traz,
como por exemplo, do artigo 1º (por ser
República, que significa “coisa pública”) e do
art. 37, dos princípios da Adm. Pública (LIMPE).

Tema recente: Até 2016, o crime de terrorismo ainda não tinha sido concretizado na legislação
brasileira. Pela Lei 13.260/16, houve o cumprimento desse mandado de criminalização.

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DIREITO PENAL
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

Assim como no crime de terrorismo, é em nome do Princípio da Legalidade que o Superior Tribunal de
Justiça afirma que, para que o agente seja processado por crime contra a humanidade, é necessária a
internalização do conceito na legislação pátria, não bastando que Tratados internacionais conceituem
o tema, mesmo que o Brasil já tenha manifestado sua adesão ao Diploma internacional:

A definição dos crimes de lesa-humanidade, também chamados de crimes


contra a humanidade, pode ser encontrada no Estatuto de Roma, promulgado
no Brasil por força do Decreto nº 4.388/2002.
No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a
humanidade. Diante da ausência de lei interna tipificando os crimes contra a
humanidade, não é possível utilizar tipo penal descrito em tratado
internacional para tipificar condutas internamente, sob pena de se violar o
princípio da legalidade (art. 5º, XXXIX, da CF/88).
Dessa maneira, não se mostra possível internalizar a tipificação do crime contra
a humanidade trazida pelo Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado
internalizado por meio do Decreto n. 4.388, porquanto não há lei em sentido
formal tipificando referida conduta.
STJ. 3ª Seção. REsp 1798903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 25/09/2019 (Info 659).

#VAICAIR: O que seria mandado de criminalização por omissão? Consiste na hipótese do art. 5º, XLIII
da CF, que determina que a omissão, nos casos de crimes hediondos e equiparados, deve ser punida.

A título de conhecimento, há ainda os “mandados internacionais de criminalização”, que também


podem ser expressos, quando essa “ordem” está presente em tratados de direitos humanos ratificados
pelo Brasil, e implícitos, quando advém de uma decisão/sentença de tribunal internacional.

7.2.5 Princípio da Anterioridade

Exteriorizado nos mesmos dispositivos que podemos extrair o princípio da reserva legal.
De acordo com o princípio da anterioridade, a lei penal apenas se aplica a fatos praticados após
a sua entrada em vigor.
Daí, por consequência lógica, deriva a sua irretroatividade, não se aplicando a fatos pretéritos,
nem mesmo os praticados durante a vacatio legis, SALVO se benéfica ao acusado.
Nesse sentido, temos o art. 5º XL da CF, dispondo que “a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu”.

7.2.6 Princípio da Vedação ao Bis In Idem ATENÇÃO


DEFENSORIA!
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Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

Tem previsão no art. 8º, 4 do Pacto de São José da Costa Rica, incorporado ao nosso
ordenamento jurídico pelo Dec. 678/1992.
Proíbe que o agente seja punido duas vezes pelo mesmo fato, inclusive sopesando a mesma
situação ou circunstância para agravar a pena em mais de um momento da dosimetria. Como exemplo,
temos a Súmula 242 do STJ proíbe o uso de uma única reincidência como circunstância judicial
desfavorável e como agravante, pois haveria violação a este princípio.

7.2.7 Princípio da Adequação Social

Idealizado por Hans Welzel, este princípio traz a ideia de que ainda que uma conduta seja formal
e materialmente típica, não poderá ser considerada típica, caso ela seja socialmente adequada, ou seja,
não afronte o sentimento social de justiça.
Comporta duas vertentes, reduzindo a abrangência do tipo penal.
1. Se o fato está de acordo com a norma, mas não está de acordo com o interesse social, a
conduta deverá ser tida como atípica.
2. Também deve ser direcionado ao legislador. Isso porque, se a conduta está de acordo com a
sociedade, o legislador não pode criminalizar esta conduta, orientando o parlamentar a como proceder
na definição dos bens jurídicos a ser tutelados.
Há 3 correntes sobre a natureza jurídica do princípio da adequação social:
1. Excludente da tipicidade (doutrina majoritária): A adequação social exclui a tipicidade
material da conduta, uma vez que não seria crime, pois a conduta não é socialmente
reprovável/é socialmente adequada. De acordo com Toledo, "a adequação social exclui
desde logo a conduta em exame do âmbito de incidência do tipo, situando-a entre os
comportamentos normalmente permitidos, isto é, materialmente atípicos". O autor cita o
exemplo de lesões corporais causadas por um pontapé em partidas de futebol.

2. Excludente da ilicitude - Há doutrinadores minoritários dizendo que seria uma excludente


da ilicitude (no plano da ilicitude material). O problema é que hoje não se divide mais
ilicitude material e ilicitude formal. Então a tipicidade material da conduta acaba
antecipando algumas análises que seriam feitas na ilicitude.

3. Regra geral de hermenêutica/princípio geral de interpretação: A jurisprudência caminha


de forma tranquila e dominante no sentido de que a adequação social deve sofrer uma
aplicação restritiva no direito penal, comportando 2 vertentes:

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

● 1ª vertente – voltada ao legislador (função seletiva) – vertente meramente


orientadora, pois busca orientar o legislador para que esse não selecione condutas
socialmente adequadas para serem criminalizadas.
● 2ª vertente – voltada ao intérprete (função interpretativa limitadora) – traduz uma
regra geral de hermenêutica/ princípio geral de interpretação. Assim, em havendo
várias interpretações possíveis, pela adequação social, exclui a incidência do tipo
penal das hipóteses que são socialmente adequadas.

APROFUNDANDO PARA PROVA DISCURSIVA:


Crítica da doutrina: Essa aplicação restritiva (solução dada pela jurisprudência) acaba
esvaziando a própria força normativa dos princípios em geral e, sobretudo, do princípio da
adequação social. E uma vez esvaziando a força normativa do princípio da adequação social,
deixa-se de utilizar um princípio (mesmo implícito na CF/88) como parâmetro para controle
de constitucionalidade.

Há forte crítica na doutrina acerca deste princípio, pelo fato de adotar um critério impreciso,
inseguro e relativo.

Importante saber que, segundo o STJ, o princípio da adequação social não


afasta a tipicidade da conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas, como se
verifica do enunciado da Súmula 502 do STJ: Súmula 502 - "Presentes a
materialidade e a autoria, afigura-se típica, em relação ao crime previsto no art.
184, § 2°, do CP, a conduta de expor à venda CDs e DVDs piratas".

CESPE/2018 - A fim de garantir o sustento de sua família, Pedro adquiriu 500 CDs e DVDs piratas
para posteriormente revendê-los. Certo dia, enquanto expunha os produtos para venda em
determinada praça pública de uma cidade brasileira, Pedro foi surpreendido por policiais, que
apreenderam a mercadoria e o conduziram coercitivamente até a delegacia. Com referência a essa
situação hipotética, julgue o item subsequente. O princípio da adequação social se aplica à conduta de
Pedro, de modo que se revoga o tipo penal incriminador em razão de se tratar de comportamento
socialmente aceito.
Item incorreto

7.3 Princípios Relacionados com o Agente do Fato

7.3.1 Princípio da Responsabilidade Pessoal / Da Pessoalidade / Da Intranscendência da Pena

Proíbe-se o castigo penal pelo fato de outrem. Somente o condenado é que terá de se submeter

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

à sanção que lhe foi aplicada pelo Estado.


No entanto, efeitos secundários extrapenais da sentença penal condenatória (obrigação de
reparar o dano e decretação de perdimento de bens), podem se estender aos sucessores até o limite
da herança.
Art. 5º, XLV da CF – “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de
reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores
e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”.
Desse princípio decorre:

o OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA ACUSAÇÃO: É proibida a denúncia


genérica, vaga ou evasiva, embora nos Crimes Societários, os Tribunais flexibilizam essa
obrigatoriedade;
o OBRIGATORIEDADE DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.

Nesse sentido (obrigatoriedade da individualização da acusação):

A denúncia contra Prefeito por crime ocorrido em licitação municipal deve


indicar, ao menos minimamente, que o acusado tenha tido participação ou
conhecimento dos fatos supostamente ilícitos. O Prefeito não pode ser incluído
entre os acusados unicamente em razão da função pública que ocupa, sob pena
de violação à responsabilidade penal subjetiva, na qual não se admite a
responsabilidade presumida. STF. 1ª Turma. AP 912/PB, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 7/3/2017 (Info 856).

O Ministério Público ofereceu denúncia contra alguns sócios da empresa,


dentre eles o Diretor-Presidente, afirmando, quanto a este, que praticou o
crime de evasão de divisas porque detinha o domínio do fato e que não seria
crível que a empresa movimentasse altos valores para o exterior sem que ele
soubesse.
O STF entendeu que esta denúncia é inepta.
Não há óbice para que a denúncia invoque a teoria do domínio do fato para dar
suporte à imputação penal, sendo necessário, contudo, que, além disso, ela
aponte indícios convergentes no sentido de que o Presidente da empresa não
só teve conhecimento do crime de evasão de divisas, como dirigiu
finalisticamente a atuação dos demais acusados.
Assim, não basta que o acusado se encontre em posição hierarquicamente
superior. Isso porque o próprio estatuto da empresa prevê que haja divisão de
responsabilidades e, em grandes corporações, empresas ou bancos há
controles e auditorias exatamente porque nem mesmo os sócios têm como
saber tudo o que se passa. STF. 2ª Turma. HC 127397/BA, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 6/12/2016 (Info 850).
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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

* Fonte: Dizer o Direito.

7.3.2 Princípio da Responsabilidade Subjetiva

Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, o agente somente pode ser
responsabilizado se o fato tiver sido querido, assumido ou previsto. Não há responsabilidade penal sem
dolo ou culpa.

7.3.3 Princípio da Culpabilidade

Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável (penalmente capaz), com potencial
consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele
exigível conduta diversa (podendo agir de outra forma).
Temos doutrina anunciado dois CASOS de responsabilidade penal objetiva (autorizados por lei):
1º Embriaguez voluntária - Crítica: A teoria da actio libera in causa que permite a punição do
agente completamente embriagado, não sendo a embriaguez acidental, exige não somente
uma análise pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente.
Exige responsabilidade subjetiva.
2º Rixa qualificada. *qualificado pela lesão grave e morte. Independentemente de quem tenha
causado a lesão ou morte, todos responderão pela rixa qualificada. Crítica: só responde pelo resultado
agravador, isto é, o crime de lesão, quem atuou com dolo, evitando-se responsabilidade penal objetiva

7.3.4 Princípio da Proporcionalidade

Exige que se faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado
ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado (gravidade da pena).
Toda vez que, nessa relação, houver um desequilíbrio acentuado, haverá desproporção. Ou seja, a pena
deve ser proporcional à gravidade do fato. O presente princípio apresenta uma dupla face, pois de um
lado proíbe o excesso (garantismo negativo), enquanto de outro lado não admite a proteção
insuficiente (garantismo positivo) – já estudamos também no tópico do garantismo.

STJ (AI no HC 239.363/PR): A intervenção estatal por meio do Direito Penal


deve ser sempre guiada pelo princípio da proporcionalidade, incumbindo
também ao legislador o dever de observar esse princípio como proibição de
excesso e como proibição de proteção insuficiente.

7.3.5 Princípio da Limitação das Penas ou da Humanidade

Está atrelado ao princípio da dignidade da pessoa humana. Assim, a CF prevê, em seu art. 5º,
XLVII, que não haverá penas de morte (salvo em caso de guerra declarada), de caráter perpétuo, de

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trabalhos forçados, de banimento ou cruéis.

7.3.6 Princípio da Confiança


O princípio da confiança, abordado por parte da doutrina, surgiu na Espanha, com aplicação
inicial aos crimes de trânsito. Segundo este princípio, quem atua observando as regras de trânsito,
possui o direito de acreditar que as demais pessoas irão agir também de acordo com as normas. Assim,
quando aquele que continua avançando no sinal verde e acaba colidindo com outro veículo que
avançou no sinal vermelho, agiu amparado pelo princípio da confiança, não tendo culpa, já que dirigia
na expectativa de que os demais respeitariam as regras de sinalização.
Atualmente é aplicado no Brasil para os crimes em geral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;
- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de Azevedo;
- Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 6ed. São Paulo: RT, 2016.
- André Estefam e Victor Eduardo Rios Gonçalves. – 7. ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (Coleção
esquematizado/coordenador Pedro Lenza)
- Dizer o Direito (https://www.dizerodireito.com.br/);

TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO

01. Explique o aspecto sociológico do conceito de Direito Penal.

02. Sobre o Direito Penal, explique:

- Suas principais características

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
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- Seu objeto de proteção

- Suas funções

03. Diferencie:

FUNCIONALISMO TELEOLÓGICO FUNCIONALISMO SISTÊMICO

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Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
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04. Explique o fenômeno da liquefação do Direito Penal.

05. O que é o Direito Penal de Intervenção?

06. Diferencie:

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL

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07. Conceitue:

- Direito Penal Subterrâneo

- Direito Penal Paralelo

- Cifra negra da criminalidade

08. Diferencie:

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

DIREITO PENAL DO AUTOR DIREITO PENAL DO FATO

09. Sobre o garatismo penal, responda:

- Conceito

- Garantias primárias e secundárias

- Máximas do garantismo

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Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

- Garantismo penal integral

- Garantismo hiperbólico monocular

10. O que é direito penal do inimigo e quais suas principais características?

11. Sucintamente, explique as velocidades do Direito Penal:

Velocidade 1

Velocidade 2

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Velocidade 3

Velocidade 4

Velocidade 5

12. Sucintamente, explique os princípios do Direito Penal:

Da exclusiva proteção de bens jurídicos

Da intervenção mínima

Da ofensividade

Da alteridade

Da materialização do fato

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Da reserva legal

Da anterioridade

Da vedação ao bis in idem

Da adequação social

Da responsabilidade pessoal

Da responsabilidade subjetiva

Da culpabilidade

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Da proporcionalidade

Da limitação das penas

Da confiança

13. Sobre o princípio da insignificância, responda:

- Conceito

- Requisitos objetivos e subjetivos para seu reconhecimento.

- Delegado pode aplicar o princípio da insignificância?

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- A reincidência impede o reconhecimento da insignificância?

- Aplica-se esse princípio em crimes ambientais?

- Aplica-se esse princípio a crimes tributários e descaminho?

- Diferencie:

BAGATELA PRÓPRIA BAGATELA IMPRÓPRIA

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Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

QUESTÕES PROPOSTAS

01 – 2022 - INSTITUTO AOCP - DPE-PR - Defensor Público


A partir da leitura da obra Teoria dos sistemas e direito penal radical, de Alexandre Kassama, assinale a
alternativa correta:

a) Na teoria luhmanniana, o observador deve ser tido por pressuposto para que seja possível diferenciá-lo de
uma forma geral e ontológica em relação ao objeto de estudo.
b) A teoria dos sistemas visa encontrar o conhecimento final sobre a sociedade, utilizando a contingência como
o redutor da complexidade.
c) O sistema social se diferencia pela comunicação. É a diferença que faz a diferença desse sistema em relação
ao meio.
d) A teoria da seleção natural é perfeitamente compatível com os sistemas autopoiéticos, uma vez que se admite
que o meio será capaz de determinar um sentido positivo de evolução do sistema.
e) Considerando que não há comunicação sem consciência, o sistema social incorpora a consciência como parte
das suas operações através do encerramento operativo.

02 – 2022 - INSTITUTO AOCP - DPE-PR - Defensor Público


Referente ao princípio da insignificância, assinale a alternativa correta:

a) Não se admite o reconhecimento do princípio da insignificância ao crime de furto de energia elétrica.


b) Admite-se a incidência do princípio da insignificância na conduta de uso de atestado médico falso.
c) Não se admite a incidência do princípio da insignificância aos crimes previstos no Estatuto do Desarmamento.
d) Admite-se a incidência do princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra
a mulher no âmbito das relações domésticas.
e) Não se admite a incidência do princípio da insignificância à conduta de pescar durante o período em que a

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

pesca seja proibida.

03 - 2021 – FCC – DPE-RR – Defensor Público


O princípio da bagatela imprópria:

a) é reconhecido pelo Superior Tribunal de Justiça em casos de violência doméstica e familiar contra mulher.
b) é aplicado, diante da ausência de previsão legal, por analogia o instituto do arrependimento posterior, com a
redução da pena de um terço a dois terços.
c) permite que o julgador deixe de aplicar a pena em razão desta ter se tornado desnecessária.
d) pressupõe para sua aplicação a existência de infração bagatelar própria.
e) possui reflexos na dosimetria da pena, como circunstância atenuante da pena.

04 – 2021 – CESPE / CEBRASPE – MPE-SC – Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Considerando a Parte Geral do Código Penal e a jurisprudência dos tribunais superiores aplicável, julgue o item
a seguir.

O funcionalismo radical, defendido por Gunther Jakobs, baseia-se na premissa de que a função do direito penal
é a proteção dos bens jurídicos, sendo a conduta um comportamento humano voluntário causador de relevante
e intolerável lesão ou perigo de lesão do bem jurídico pela norma penal.
( ) Certo ( )Errado

05 – 2021 – CESPE / CEBRASPE – MPE-SC – Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Acerca dos princípios constitucionais penais, julgue o item subsequente.

Nenhum dos princípios que regem o direito penal veda a criminalização, pelo legislador, da tentativa de suicídio,
embora, no momento, esta conduta não esteja tipificada.
( ) Certo ( )Errado

06 – 2021 – CESPE / CEBRASPE – MPE-SC – Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Acerca dos princípios constitucionais penais, julgue o item subsequente.
O objetivo do direito penal moderno é exclusivamente a proteção de bens jurídicos, de modo que é vedada a

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

criminalização de intenções, de pensamentos e de maneiras de viver, salvo se exteriorizadas de modo a, no


mínimo, colocar em risco os referidos bens jurídicos, especialmente aqueles consagrados na própria
Constituição Federal, como a saúde pública, o patrimônio e o meio ambiente.

( ) Certo ( )Errado

07 – 2021 – CESPE / CEBRASPE – MPE-SC – Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Julgue o próximo item, com base na Lei de Introdução ao Código Penal (LICP) e na jurisprudência dos tribunais
superiores.
No entendimento dos tribunais superiores, a conduta de posse ou porte ilegal de droga para consumo pessoal
e em desacordo com determinação legal e regulamentar não constitui infração penal, pois, nos termos da LICP,
constitui infração penal apenas as condutas que sejam sancionadas com pena privativa de liberdade ou de multa.

( ) Certo ( )Errado

08 – 2019 – VUNESP – TJ-RJ – Juiz Substituto


O princípio da insignificância, que defende a não intervenção do Direito Penal para coibir ações típicas que
causem ínfima lesão ao bem jurídico tutelado é afastado pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, por
sua Súmula no 599, em relação aos crimes:

a) praticados contra as mulheres ou em condição de violência de gênero.


b) contra o meio ambiente.
c) contra a Administração Pública.
d) contra a criança e o adolescente.
e) de menor potencial ofensivo.

09 – 2019 – MPE-GO – MPE-GO – Promotor de Justiça


Sobre o bem jurídico-penal, assinale a alternativa que não está de acordo com o magistério doutrinário de
Eugenio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli (Manual de Direito Penal Brasileiro - parte geral, ed. RT):

a) Quando o legislador encontra-se diante de um ente e tem interesse em tutelá-lo, é porque o valora. Sua

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

valoração do ente traduz-se em uma norma, que eleva o ente á categoria de bem jurídico. Quando quer dar uma
tutela penal a esse bem jurídico, com base na norma elabora um tipo penal e o bem jurídico passa a ser
penalmente tutelado.
b) Não se concebe a existência de uma conduta típica que não afete um bem jurídico, posto que os tipos não
passam de particulares manifestações de tutela jurídica desses bens. Embora seja certo que o delito é algo mais
- ou muito mais - que a lesão a um bem jurídico, esta lesão é indispensável para configurar a tipicidade.
c) Bem jurídico penalmente tutelado é a relação de indisponibilidade de um indivíduo com um objeto, protegida
pelo Estado, que revela seu interesse mediante a tipificação penal de condutas que o afetam.
d) O bem jurídico cumpre duas funções, que são duas razões fundamentais pelas quais não podemos dele
prescindir: uma função garantidora e outra função teleológico-sistemática. Ambas funções são necessárias para
que o direito penal se mantenha dentro dos limites da racionalidade dos atos de governo, impostos pelo
princípio republicano.

10 - 2019 – VUNESP – TJ-RO – Juiz Substituto


A respeito dos princípios penais, é correto afirmar que:

a) o princípio da humanidade das penas veda que o réu permaneça algemado durante audiência de instrução e
julgamento, bem como que o condenado cumpra pena em estabelecimento prisional em localidade distante da
família.
b) o princípio da adequação social implica revogação da norma penal que estiver em desacordo à ordem social
estabelecida.
c) são princípios limitadores ao poder punitivo do Estado o da insignificância, o da fragmentariedade e o da
proporcionalidade.
d) são princípios constitucionais explícitos o da proporcionalidade, o da reserva legal e o da insignificância.
e) são princípios norteadores da aplicação e execução da pena o da legalidade, o da intranscendência da pena e
o da intervenção mínima do direito penal.

11 - 2019 – CESPE / CEBRASPE – TJBA – Juiz de Direito Substituto


De acordo com a doutrina predominante no Brasil relativamente aos princípios aplicáveis ao direito penal,
assinale a opção correta.

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

a) O princípio da taxatividade, ou do mandado de certeza, preconiza que a lei penal seja concreta e determinada
em seu conteúdo, sendo vedados os tipos penais abertos.
b) O princípio da bagatela imprópria implica a atipicidade material de condutas causadoras de danos ou de
perigos ínfimos.
c) O princípio da subsidiariedade determina que o direito penal somente tutele uma pequena fração dos bens
jurídicos protegidos, operando nas hipóteses em que se verificar lesão ou ameaça de lesão mais intensa aos
bens de maior relevância.
d) O princípio da ofensividade, segundo o qual não há crime sem lesão efetiva ou concreta ao bem jurídico
tutelado, não permite que o ordenamento jurídico preveja crimes de perigo abstrato.
e) O princípio da adequação social serve de parâmetro ao legislador, que deve buscar afastar a tipificação
criminal de condutas consideradas socialmente adequadas.

12 – 2018 – Fundação CEFETBAHIA – MPE-BA – Promotor de Justiça Substituto


“Os bens jurídicos mais importantes recebem a proteção do Direito Penal contra as formas mais graves de
agressão” (PRADO, 1996, p.8). Em torno do bem jurídico, analise as assertivas e identifique com V as verdadeiras
e com F as falsas.

( ) As orientações espiritualistas que foram influenciadas pela filosofia neokantiana, na esfera penal,
desenvolveram a concepção metodológica ou teleológico-metodológica de bem jurídico.
( ) O bem jurídico, conforme a diretriz do neokantismo, é entendido como um valor cultural, porém não situado
apenas no “plano social”, porque ao delito é atribuído valor econômico.
( ) A essência da noção de bem jurídico tutelado reside apenas na natureza dos bens e valores que a
determinaram, e não da descrição legal respectiva.
( ) A função teleológica ou interpretativa revela que o bem jurídico constitui o núcleo da norma e do tipo penal.
( ) Não há distinção entre a noção de bem jurídico e objeto da ação, uma vez que o objeto material é uma
característica comum a qualquer delito.
A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é
a) V V V F V
b) V F V V F
c) V V F V F

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

d) F V F V F
e) F F V F V

13 – 2018 – FCC – DPE-RS – Defensor Público


O afastamento da tipicidade, quando verificada lesão penalmente irrelevante decorrente de conduta
formalmente incriminada, dá-se por:

a) princípio da adequação social.


b) princípio da intervenção mínima.
c) princípio da humanidade das sanções.
d) princípio da insignificância.
e) ineficácia absoluta do meio ou absoluta impropriedade do objeto (crime impossível).

14 – 2018 – MPE-MS – MPE-MS – Promotor de Justiça


Assinale a alternativa correta.

a) O denominado direito penal do inimigo, que tem como expoente Günther Jakobs, pode ser entendido como
um direito penal de segunda velocidade, restringindo garantias penais e processuais.
b) A terceira velocidade do direito penal, ligada à ideia de aplicação de penas alternativas, encontra amparo no
ordenamento penal brasileiro na Lei n. 9.099/1995.
c) A quarta velocidade do direito penal refere-se ao neopunitivismo, abrangendo aquelas pessoas que violaram
tratados e convenções internacionais de direitos humanos, ostentando a condição de Chefes de Estado, devendo
sofrer a incidência de normas internacionais.
d) A teoria da primeira velocidade do direito penal, fundada no respeito às garantias individuais, tinha a ideia de
um direito penal de mínima intervenção e sanções não privativas de liberdade.
e) A ideia de velocidades do direito penal foi concebida e sistematizada pelo professor Manuel Cancio Meliá.

15 – 2017 – VUNESP – DPE-RO – Defensor Público


O Código Penal estabelece que é crime “praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público”
(CP, art. 233). Para interpretar o exato significado da expressão “ato obsceno”, deve o operador do Direito valer-
se de elementos:

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

a) analógicos.
b) autênticos.
c) sociológicos.
d) gramaticais.
e) sintáticos.

16 – 2017 – FCC – DPE-PR – Defensor Público


O princípio da intervenção mínima no Direito Penal encontra reflexo:

a) no princípio da fragmentariedade e na teoria da imputação objetiva.


b) no princípio da subsidiariedade e na teoria da imputação objetiva.
c) nos princípios da subsidiariedade e da fragmentariedade.
d) no princípio da fragmentariedade e na proposta funcionalista sistêmica.
e) na teoria da imputação objetiva e na proposta funcionalista sistêmica

17 – 2016 – UFMT – DPE-MT – Defensor Público


O princípio da insignificância ou da bagatela exclui a:

a) punibilidade.
b) executividade.
c) tipicidade material.
d) ilicitude formal.
e) culpabilidade.

18 – 2015 – FCC – DPE-MA – Defensor Público


A proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e maus-tratos nos interrogatórios policiais e a
obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura carcerária de meios e recursos que impeçam a
degradação e a dessocialização dos condenados são desdobramentos do princípio da:

a) proporcionalidade.

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

b) intervenção mínima do Estado.


c) fragmentariedade do Direito Penal.
d) humanidade.
e) adequação social.

19 – 2015 – CESPE – DPE-PE – Defensor Público


A respeito do objeto de estudo do direito penal, do direito penal do autor e das teorias da pena, julgue o item
seguinte.

O direito penal, mediante a interpretação das leis penais, proporciona aos juízes um sistema orientador de
decisões que contém e reduz o poder punitivo, para impulsionar o progresso do estado constitucional de direito.
( ) Certo ( )Errado

20 – 2015 – CESPE – DPE-PE – Defensor Público


O Estado, para garantir a segurança dos cidadãos, deve proibir ou restringir todas aquelas ações que se refiram,
de maneira imediata, só a quem as realize, das quais derive lesão aos direitos dos outros, isto é, que atinjam sua
liberdade e propriedade, sem o seu consentimento ou contra ele, ou das que haja de temê-las provavelmente;
probabilidade na qual haverá de considerar a dimensão do dano que se quer causar e a importância da limitação
da liberdade produzida por lei proibitiva. Wilhem Von Humboldt. Los límites de la acción del estado. 1792, p.
122 (com adaptações).

Com relação ao fragmento de texto acima, aos princípios de direito penal e às teorias do bem jurídico, julgue o
item a seguir.

O fragmento em questão, seu autor, há já mais de duzentos anos, se referia ao que hoje se entende como
princípios jurídico-penais da intranscendência e da fragmentariedade.
( ) Certo ( )Errado

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DIREITO PENAL
Introdução Ao Direito Penal, Fontes,
Interpretação, Princípios E Evolução Doutrinária

Respostas3

3 01: C 02: B 03: C 04: E 05: E 06: C 07: E 08: C 09: C 10: C 11: E 12: C 13: D 14: C
15: C 16: C 17: C 18: D 19: C 20: E
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