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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às


Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Princípios, Lei Processual no Tempo e no
Espaço, Em Relação Às Pessoas E
Interpretação Da Lei Processual Penal

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Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
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Sumário

Sumário .................................................................................................................................................... 3

1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL ...................................................................................................... 6

2. FINALIDADES DO PROCESSO PENAL ....................................................................................................... 7

3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL ............................................................................................................ 8


3.1 Sistema inquisitório....................................................................................................................................... 8
3.1.1 Características do Sistema inquisidor .................................................................................................... 8
3.2 Sistema acusatório ........................................................................................................................................ 9
3.2.1 Características do Sistema acusatório ................................................................................................. 10
3.3 Sistema misto ou acusatório formal (Sistema francês)............................................................................... 12
4. Quadro-resumo sobre os sistemas do Processo Penal ................................................................................. 19

4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL ........................................................................................ 20


4.1 Princípios constitucionais explícitos............................................................................................................ 20
4.1.1 Princípio da presunção da inocência.................................................................................................... 20
4.1.2 Princípio da igualdade processual ou paridade de armas ................................................................... 24
4.1.3 Princípio da ampla defesa .................................................................................................................... 24
4.1.4 Princípio da plenitude da defesa.......................................................................................................... 27
4.1.5 Princípio do in dubio pro reo ................................................................................................................ 28
4.1.6 Princípio do contraditório ou bilateralidade da audiência .................................................................. 29
4.1.7 Princípio da publicidade ....................................................................................................................... 29
4.1.8 Princípio da vedação das provas ilícitas ............................................................................................... 32
4.1.9 Princípio da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo............... 33
4.1.10 Princípio do devido processo legal..................................................................................................... 34
4.2 Princípios constitucionais implícitos ........................................................................................................... 34
4.2.1 Princípio de que ninguém está obrigado a produzir prova contra si ................................................... 34

8. LETRA DA LEI MODO TURBO ................................................................................................................. 63

9. JURISPRUDÊNCIA .................................................................................................................................64

10. SÚMULAS .......................................................................................................................................... 74


TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO...................................................................................................................... 78
QUESTÕES PROPOSTAS ..................................................................................................................................... 85

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IMPORTANTE
Foco: LETRA DA LEI E DOUTRINA

Olá pessoal. Antes de começarmos o estudo do nosso material, é importante lembrar que vários
dispositivos da Lei nº 13.964/19 estão com a eficácia suspensa. Decidimos deixar os apontamentos no
material para o caso do STF julgar o mérito da ADI 6298.
Medidas cautelares concedidas para suspender sine die a eficácia:
(a) Da implantação do juiz das garantias e seus consectários (Artigos 3º-A, 3º-B, 3º-C, 3º-D, 3ª-E, 3º-
F, do Código de Processo Penal);
(b) Da alteração do juiz sentenciante que conheceu de prova declarada inadmissível (157, §5º, do
Código de Processo Penal);
(c) Da alteração do procedimento de arquivamento do inquérito policial (28, caput, Código de
Processo Penal); e
(d) Da liberalização da prisão pela não realização da audiência de custódia no prazo de 24
horas (Artigo 310, §4°, do Código de Processo Penal);

CUIDADO: Pacote Anticrime - Congresso derruba vetos a dispositivos do CP, do CPP e da LEP. Pessoal,
explicaremos detalhadamente os vetos em cada meta correspondente. Entretanto, é obrigatória a
leitura sobre a síntese dos dispositivos que entrarão em vigor no Código Penal, no Código de Processo
Penal e na Lei de Execução Penal com a promulgação em 2021. Disponível em
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2021/04/21/pacote-anticrime-congresso-
derruba-vetos-dispositivos-cp-cpp-e-da-lep/

TODOS OS ARTIGOS RELACIONADOS AO TEMA

CF/88
⦁ Art. 5º, XL
⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII
⦁ Art. 5º, LX e LXIII
⦁ Art. 5º, XXXVIII, “a”
⦁ art. 5°, XXXVII
⦁ Art. 53
⦁ art. 93, IX
⦁ Art. 129, I
CPP
⦁ Art. 1º e 2º
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B

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⦁ Art. 185, §2º


⦁ Art. 212 e 217
⦁ Art. 260 e 261
⦁ Art. 283
⦁ Art. 792
OUTROS DIPLOMAS LEGAIS
⦁ Art. 8°, itens 2 e 5, CADH
⦁ Art. 347, CP
⦁ Art. 305, CTB
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⦁ Art. 5º, LIII, LV, LVI e LVII, CF/88
⦁ Art. 5º, LX e LXIII, CF/88
⦁ Art. 93, IX, CF/88
⦁ Art. 1º e 2º, CPP
⦁ Art. 3º, 3ª-A e 3º-B, CPP

1. PROCESSO PENAL CONSTITUCIONAL

O processo penal brasileiro deve observância às normas previstas na Carta Magna. Nesse
sentido, é possível falar em algumas características decorrentes da constitucionalização:
O juiz não pode requisitar provas, depois da manifestação pelo arquivamento feita pelo MP
(STF);
O juiz não pode substituir o MP em sua função probatória, em que pese, a liberdade de
produção conferida ao juiz pelo CPP;
O interrogatório do réu deve perder a sua característica de prova, passando a ser
exclusivamente meio de defesa;
Se a perspectiva teórica do Código de Processo Penal era nitidamente autoritária,
prevalecendo sempre a preocupação com a segurança pública, como se o Direito Penal constituísse
verdadeira política pública, a Constituição da República de 1988 caminhou em direção diametralmente
oposta.
Enquanto a legislação codificada pautava-se pelo princípio da culpabilidade e da
periculosidade do agente, o texto constitucional instituiu um sistema de amplas garantias individuais,

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a começar pela afirmação da situação jurídica de quem ainda não tiver reconhecida a sua
responsabilidade penal por sentença condenatória passada em julgado:

Art. 5º, inciso LVII, da Constituição Federal: ninguém será considerado culpado
até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Nesse sentido, a constituição deve passar a ser a pré-compreensão valorativa do intérprete, o


dever ser normativo do mundo real, que é o ser. Nesta direção é o que o professor Rubens Casara
propõe a interpretação prospectiva do processo penal, ou seja, toda a interpretação deve ter por
objetivo a construção do projeto constitucional, deve buscar de forma incansável a realização de
valores consagrados na constituição.
Como decorrência da interpretação prospectiva do processo penal, há uma preocupação com
a tutela de direitos fundamentais, o que dá espaço ao garantismo penal. Princípios do sistema
garantista:
Jurisdicionalidade - Nulla poena, nulla culpa sine iudicio: representa a exclusividade do poder
jurisdicional, direito ao juiz natural, independência da magistratura e exclusiva submissão à lei.
Inderrogabilidade do juízo: no sentido de infungibilidade e indeclinabilidade da jurisdição.
Separação das atividades de julgar e acusar - Nullum iudicium sine accusatione;
Presunção de inocência;
Contradição (no sentido de ser franqueado às partes o contraditório) - Nulla probatio sine
defensione: é um método de confrontação da prova e comprovação da verdade: a acusação versus a
defesa

2. FINALIDADES DO PROCESSO PENAL

Propiciar a pacificação social obtida com a solução do conflito.


Viabilizar a aplicação do direito penal.
Garantir ao acusado, presumidamente inocente, meios de defesa diante de uma acusação.

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3. SISTEMAS DO PROCESSO PENAL

“A estrutura do processo penal variou ao longo dos séculos, conforme o


predomínio da ideologia punitiva ou libertária. Goldschmidt afirma que a
estrutura do processo penal de um país funciona como um termômetro dos
elementos democráticos ou autoritários de sua Constituição.” (LOPES, 2018, p.
27).

De modo geral, a doutrina costuma separar o sistema processual inquisitório do modelo


acusatório pela titularidade atribuída ao órgão da acusação: inquisitorial seria o sistema em que as
funções de acusação e de julgamento estariam reunidas em uma só pessoa (ou órgão), enquanto o
acusatório seria aquele em que tais papéis estariam reservados a pessoas (ou órgãos) distintos.

3.1 Sistema inquisitório

As funções de acusar e julgar estão concentradas em um mesmo sujeito processual, razão pela
qual, não raramente, havia perda da imparcialidade. O lado maléfico do sistema inquisitório é o
eventual abuso de poder (crítica), além da prejudicialidade da imparcialidade do magistrado, o qual,
simultaneamente, exerce todas as funções (acusa, defende e julga). É característica também do sistema
inquisitório a inexistência de contraditório. A gestão da prova será feita pelo juiz, podendo fazê-lo tanto
na fase inquisitorial quanto na fase do processo.

3.1.1 Características do Sistema inquisidor

a. As funções de acusar, defender e julgar encontram-se concentradas em uma única pessoa, que
assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor;
b. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta de
contraposição entre acusação e defesa. Não existe contraditório.
c. O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo liberdade para determinar de ofício
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a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do processo penal,
independentemente de sua proposição pela acusação ou pelo acusado. A gestão das provas estava
concentrada, assim, nas mãos do juiz, que, a partir da prova do fato e tomando como parâmetro a lei,
podia chegar à conclusão que desejasse. Neste modelo o magistrado tem, então, ampla iniciativa
probatória.
d. Princípio da verdade real – em decorrência de sua admissibilidade, o acusado não era considerado
sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí por que se admite
inclusive a tortura como meio de se obter a verdade absoluta.

ATENÇÃO: É da essência do sistema inquisitório a aglutinação de funções na mão do juiz e atribuição


de poderes instrutórios ao julgador, senhor soberano do processo. Portanto, não há uma estrutura
dialética e tampouco contraditória. Não existe imparcialidade, pois uma mesma pessoa (juiz- ator)
busca a prova (iniciativa e gestão) e decide a partir da prova que ela mesma produziu.1

Na atualidade, a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa probatória dela decorrente
é incompatível com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º §1º) e com o princípio do devido
processo legal.

ATENÇÃO: Com as alterações promovidas no CPP pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19), ao menos
em tese, o juiz não possuirá mais a iniciativa probatória que era prevista na redação anterior da Lei
Processual (Art. 3º-A do CPP).

3.2 Sistema acusatório

As funções de acusar, julgar e defender serão exercidas por partes distintas, atribuídas a atores diversos
atuantes no processo penal. No referido sistema haverá respeito ao contraditório; ainda, o acusado
deixa de ser considerado mero objeto e passa a ser enxergado como sujeito de direitos. Quanto à

1 Aury Lopes, D.Processual Penal, 17ª Edição, 2020


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gestão da prova, parte da doutrina entende que, em um sistema acusatório puro, o juiz não poderia
produzir prova de ofício. Por outro lado, outros juristas aduzem que o juiz pode produzir prova de ofício
na fase processual, desde que atue de forma residual. Assim, é um consenso que na fase investigatória
não é dada ao juiz produzir prova de ofício.

3.2.1 Características do Sistema acusatório

a. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade


de condições e ambas se sobrepondo a um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma
separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como legítimo
actum trium personarum.
b. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve intervir
quando provocado.

Reitera-se que o pacote anticrime retirou do juiz a iniciativa probatória (Art. 3º-A do CPP), entregando
ao juiz de garantias a competência para decidir sobre a produção de provas cautelares durante a
investigação.

Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder
Judiciário, competindo-lhe especialmente:
[...]
VII - decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa em audiência pública e oral;

ATENÇÃO
Com a concessão de liminar na Medida Cautelar nas ADIn's n. 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305 pelo Min.
FUX, está suspensa, sine die, a eficácia do art. 3º-A do CPP, incluído com a reforma promovida pela
Lei nº 13.964/2019. Como se trata de medida liminar, manteremos a análise do dispositivo legal, que
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poderá ter sua vigência restabelecida a qualquer momento. Portanto, enquanto estiver valendo a
medida liminar, o artigo e suas consequências estarão suspensas, valendo o sistema anterior e a
redação do CPP (que não possuía esse artigo). Também manteremos nossas considerações porque o
dispositivo reflete avanço importante para o processo penal e serve como fundamentação teórica
para criticar o superado modelo do CPP (que, segundo doutrina majoritária, adota o sistema
inquisitório - isso se analisarmos sua redação de forma isolada, sem fazer o (necessário) cotejo com
a Constituição Federal).

c. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser
produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa;
d. A separação das funções e a iniciativa probatória residual à fase judicial preserva a equidistância que
o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da
imparcialidade e com o princípio do devido processo legal.

Qual é o sistema adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro? Antes do advento da Lei 13.964/19,
havia divergência na doutrina:
Geraldo Prado - afirma que, em um sistema acusatório puro, o juiz não pode produzir provas
de ofício de maneira nenhuma, independentemente de ser na fase investigatória ou na fase processual.
Eugênio Paccelli, Gustavo Badaró (posição majoritária e Jurisprudência) - juiz pode produzir
prova de ofício, mas apenas na fase processual e desde que de forma residual.

Em outras palavras: O magistrado não será o protagonista na produção de provas, sua atuação
deve ter caráter complementar e subsidiário. Nesse sentido, o art. 212 do CPP:

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à


testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não
tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já
respondida.
Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar
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a inquirição.

Todavia, podemos afirmar que o sistema acusatório, desde sempre, é o sistema adotado pela
Constituição Federal:

CF - Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

A função de acusar nas ações penais públicas é do Ministério Público. Sendo assim a Carta
Magna adotou o sistema acusatório, não sendo outra a conclusão que poderíamos ter, haja vista que
a CF outorgou a titularidade da persecução penal ao referido órgão, por excelência.

É a separação de funções e, por decorrência, a gestão da prova na mão das partes e não do juiz (juiz-
espectador), que cria as condições de possibilidade para que a imparcialidade se efetive.

3.3 Sistema misto ou acusatório formal (Sistema francês)

Há duas fases distintas – uma primeira fase inquisitorial, destinada à investigação preliminar, e
em seguida, teria uma segunda fase, essa última com viés mais voltado ao sistema acusatório. Assim,
neste sistema, teríamos:
Investigação preliminar: polícia judiciária;
Instrução preparatória: juiz de instrução;
Julgamento: apenas nesta última fase há contraditório e ampla defesa.

Atenção: A posição do STF é no sentido de que o sistema processual adotado no Brasil é o


acusatório. Vejamos:
A Constituição Brasileira de 1988 consagrou, em matéria de processo penal, o sistema acusatório,
atribuindo a órgãos diferentes as funções de acusação e julgamento. A norma impugnada, como

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visto, estatui que, havendo indício de prática de crime por magistrado, concluídas as investigações,
os autos sejam postos em julgamento no âmbito do Poder Judiciário, que poderá, se concluir pela
inconsistência da imputação, determinar, desde logo, o arquivamento dos autos em relação ao
Magistrado, independentemente de qualquer ciência, análise ou manifestação prévia do titular da
ação penal pública – Ministério Público – nesse sentido. Em juízo de cognição sumária, tenho que o
preceito em questão não condiz com o sistema acusatório, ao atribuir ao Tribunal de Justiça a
formação da opinio delicti, afrontando a regra constitucional do art. 129, I, da Constituição
Federal. Este é, inclusive, o pacífico entendimento do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, ao reconhecer
que, em regra, em virtude da titularidade exclusiva da ação penal pública pelo Ministério Público,
expressamente prevista no citado art. 129, I, da Constituição Federal, o ordenamento jurídico não
possibilita o arquivamento ex officio de investigações criminais pela autoridade judicial (Inq 4.045
AgR, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, DJe de 19/6/2017; HC 93.921 AgR, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, Segunda Turma, DJe de 1/2/2017; RHC 120.379 ED, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe
de 16/9/2016), como está previsto no regimento interno ora impugnado.

Segundo Renato Brasileiro, este sistema é chamado de sistema misto, porquanto o processo se
desdobra em duas fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e
secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a
autoria do fato delituoso. Na segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a
acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade.

Lei 13.964/19 – Pacote ANTICRIME


Com o pacote anticrime (L. 13964/19) o legislador inseriu no Código de Processo Penal o que já estava
previsto na Constituição (art. 129, I), ou seja, houve a inserção da regra de que o sistema processual
brasileiro é um sistema acusatório. Para isso, tentou, ao menos, retirar das mãos do juiz a gestão da
prova (art.3º-A do CPP):
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de
investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

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Para isso, criou o juiz de garantias, acabando com o contato do juiz da instrução e julgamento com
os atos de investigação e buscou acabar com a possibilidade do juiz determinar a produção de
provas. Todas essas alterações serão estudadas detalhadamente ao longo do nosso curso.
Apenas uma dica de nomenclatura: às vezes as provas chamam o sistema acusatório de princípio
acusatório. O conceito é o mesmo. ATENÇÃO
DEFENSORIA!

Na visão de Aury Lopes Jr (antes da alteração do CPP pelo Pacote Anticrime – posição minoritária -
podendo ser sustentada em uma prova discursiva), o sistema processual brasileiro deveria ser
encarado como NEOINQUISITÓRIO, em virtude dos traços inquisitórios que insistiam em permanecer
no nosso processo penal:

“Pensamos que o processo penal brasileiro é essencialmente inquisitório, ou neoinquisitório se


preferirem, para descolar do modelo histórico medieval. Ainda que se diga que o sistema brasileiro é
misto, a fase processual não é acusatória, mas inquisitória ou neoinquisitória, na medida em que o
princípio informador é o inquisitivo, pois a gestão da prova está nas mãos do juiz.” (LOPES JR, p. 29,
2016).

Reproduziremos aqui o inteiro teor das ideias do autor após a reforma do CPP, IMPORTANTÍSSIMA
PARA VOCÊ, FUTURO DEFENSORA E DEFENSOR PÚBLICOS:

Até o advento da reforma trazida pela Lei n. 13.964, de 24 de dezembro de 2019, sempre afirmamos
que o processo penal brasileiro era inquisitório (ou neoinquisitório), e que não concordávamos com
grande parte da doutrina que classificava nosso sistema como “misto”, ou seja, inquisitório na
primeira fase (inquérito) e acusatório na fase processual. E não concordávamos (e seguimos
divergindo se insistirem) com tal afirmação porque dizer que um sistema é “misto” é não dizer quase
nada sobre ele, pois misto todos são. O ponto crucial é verificar o núcleo, o princípio fundante, e aqui
está o problema. Outros preferiam afirmar que o processo penal brasileiro é “acusatório formal”,
incorrendo no mesmo erro dos defensores do sistema misto. BINDER 24, corretamente, afirma que
“o acusatório formal é o novo nome do sistema inquisitivo que chega até nossos dias”. Nesse cenário
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(e até 2020) sempre dissemos categoricamente: O processo penal brasileiro é essencialmente


inquisitório, ou neoinquisitório se preferirem, para descolar do modelo histórico medieval. Ainda
que se diga que o sistema brasileiro é misto, a fase processual não é acusatória, mas inquisitória ou
neoinquisitória, na medida em que o princípio informador era inquisitivo, pois a gestão da prova
estava nas mãos do juiz. Finalmente o cenário mudou e nossas críticas (junto com Jacinto Nelson de
Miranda Coutinho, Geraldo Prado, Alexandre Morais da Rosa, e tantos outros excelentes
processualistas que criticavam a estrutura inquisitória brasileira) foram ouvidas. Compreenderam que
a Constituição de 1988 define um processo penal acusatório, fundando no contraditório, na ampla
defesa, na imparcialidade do juiz e nas demais regras do devido processo penal. Diante dos inúmeros
traços inquisitórios do processo penal brasileiro, era necessário fazer uma “filtragem constitucional”
dos dispositivos incompatíveis com o princípio acusatório (como os arts. 156, 385 etc.), pois são
“substancialmente inconstitucionais” (e, agora, estão tacitamente revogados pelo art. 3o-A do CPP,
com a redação da Lei n. 13.964). Assumido o problema estrutural do CPP, a luta passa a ser pela
acoplagem constitucional e pela filtragem constitucional, expurgando de eficácia todos aqueles
dispositivos que, alinhados ao núcleo inquisitório, são incompatíveis com a matriz constitucional
acusatória e, principalmente, pela mudança de cultura, pelo abandono da cultura inquisitória e a
assunção de uma postura acusatória por parte do juiz e de todos os atores judiciários. Agora, a
estrutura acusatória está expressamente consagrada no CPP e não há mais espaço para o juiz-ator-
inquisidor, que atue de ofício violando o ne procedat iudex ex officio, ou que produza prova de ofício,
pilares do modelo acusatório. Vejamos a redação do art. 3o-A do CPP 25 : Art. 3o-A. O processo penal
terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da
atuação probatória do órgão de acusação. A redação, mesmo que façamos algumas críticas pontuais,
representa uma evolução para o nosso atrasado processo penal inquisitório e repete aquela que
estava no PLS 156/2009 (Projeto do CPP do Senado). Naquela época, foi foco de intensa discussão
na Comissão, chegando-se nessa redação intermediária. É preciso recordar que um processo penal
verdadeiramente acusatório assegura a radical separação das funções de acusar e julgar, mantendo
a gestão e iniciativa probatória nas mãos das partes (e não do juiz). A observância do ne procedat
iudex ex officio, marca indelével de um processo acusatório, que mantenha um Juiz-espectador e
não juiz-ator, e que, assim, crie as condições de possibilidade para termos um “juiz imparcial”. É
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preciso que cada um ocupe o seu “lugar constitucionalmente demarcado” (clássica lição de Jacinto
Nelson de Miranda Coutinho), com o MP acusando e provando (a carga da prova é dele), a defesa
trazendo seus argumentos (sem carga probatória) e o juiz, julgando. Simples? Nem tanto, basta ver
que a estrutura inquisitória e a cultura inquisitória (fortíssima) faz com que se resista a essa estrutura
dialética por vários motivos históricos, entre eles o mito da “busca da verdade real” e o anseio mítico
pelo juiz justiceiro, que faça justiça mesmo que o acusador não produza prova suficiente. A redação
artigo do artigo expressamente adota o sistema acusatório, e prevê duas situações: 1ª) veda a
atuação do juiz na fase de investigação, o que é um acerto, proibindo portanto que o juiz atue de
ofício para decretar prisões cautelares, medidas cautelares reais, busca e apreensão, quebra de sigilo
bancário, etc. 2º) veda – na fase processual – a substituição pelo juiz da atuação probatória do órgão
acusador. No primeiro caso não há críticas à redação, está coerente com o que se espera do agir de
um juiz no marco do sistema acusatório. Consagra o juiz das garantias e afasta o juiz inquisidor. Nessa
perspectiva, só faltou o legislador revogar expressamente o art. 156 do CPP, pois não mais pode
subsistir (está tacitamente revogado), até para evitar a resistência inquisitória. E mantemos essa
afirmação mesmo com a decisão do Min. FUX de suspender a eficácia do art. 3o-A, na medida em
que a Constituição estabelece uma estrutura acusatória. Então, o dispositivo é ainda
substancialmente inconstitucional. Diz o art. 156, I: Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem
a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal,
a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de
proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Dessarte, não cabe mais esse agir de ofício, na busca de provas, por parte do juiz, seja na
investigação, seja na fase processual de instrução e julgamento. Obviamente que não basta mudar a
lei, é preciso mudar a cultura, e esse sempre será o maior desafio. Não tardarão em aparecer vozes
no sentido de que o art. 156, I deve permanecer, cabendo o agir de ofício do juiz quando a prova for
urgente e relevante. Tal postura constitui uma burla à mudança, mantendo hígida a estrutura
inquisitória antiga. Afinal, basta questionar: o que é uma prova urgente e relevante? Aquela que o
juiz quiser que seja. E a necessidade, adequação e proporcionalidade, quem afere? O mesmo juiz que
determina sua produção. Essa é a circularidade inquisitória clássica, que se quer abandonar. Fica a
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advertência para o movimento contrarreformista – ou o movimento da sabotagem inquisitória,


como define Alexandre Morais da Rosa – pois virá. Mas o maior problema está na segunda parte do
artigo e nas interpretações conservadoras e restritivas que dará margem, afinal, o que significa
“substituição da atuação probatória do órgão de acusação?”. A nosso juízo, toda e qualquer iniciativa
probatória do juiz, que determinar a produção de provas de ofício, já representa uma “substituição”
da atuação probatória do julgador. Considerando que no processo penal a atribuição da carga
probatória é inteiramente do acusador (pois – como já ensinava James Goldschmidt – não existe
distribuição de carga probatória, mas sim a “atribuição” ao acusador, pois a defesa não tem qualquer
carga probatória, pois marcada pela presunção de inocência), qualquer invasão nesse terreno por
parte do juiz representa uma “substituição da atuação probatória do acusador”. Ademais, esse
raciocínio decorre do próprio conceito de sistema acusatório: radical separação de funções e
iniciativa/gestão da prova nas mãos das partes (ainda que a defesa não tenha “carga”, obviamente
pode ter iniciativa probatória) mantendo o juiz como espectador (e não um juiz-ator, figura típica da
estrutura inquisitória abandonada). Nada impede, por elementar, que o juiz questione testemunhas,
após a inquirição das partes, para esclarecer algum ponto relevante que não tenha ficado claro (na
linha do que preconiza o art. 212 do CPP, que se espera agora seja respeitado), ou os peritos
arrolados pelas partes. Portanto, o juiz pode “esclarecer” algo na mesma linha de indagação aberto
pelas partes, não podendo inovar/ampliar com novas perguntas, nem, muito menos indicar provas
de ofício. Por fim, a interpretação prevalecente do artigo 212, do CPP, também não poderá mais
subsistir, porque juiz não pergunta: a) quem pergunta são as partes; b) se o juiz pergunta, substitui
as partes; e c) o artigo 3o-A proíbe que o juiz substitua a atividade probatória das partes. Como dito,
excepcionalmente poderá perguntar para esclarecer algo que não compreendeu. Não mais do que
isso. Nessa perspectiva, entre outros, entendemos revogados tacitamente o art. 209 (que permite ao
juiz ouvir outras testemunhas além das arroladas pelas partes) e o art. 385 (absolutamente
incompatível com a matriz acusatória um juiz condenando sem pedido (ou seja, diante do pedido
expresso de absolvição do MP) como já explicamos a exaustão anteriormente (ou seja, muito antes
dessa reforma de 2019). Mas é importante combater outra fraude: juiz produzindo prova de ofício a
título de “ajudar a defesa”. Em um processo acusatório existe um preço a ser pago: o juiz deve
conformar-se com a atividade probatória incompleta das partes. Não se lhe autoriza a descer para a
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arena das partes e produzir (de ofício) provas nem para colaborar com a acusação e nem para auxiliar
a defesa. Ele não pode é “descer” na estrutura dialética, nem para um lado e nem para o outro. Mais
grave ainda, como adverte MORAIS DA ROSA, é quando o juiz, “fingindo que age em prol da defesa,
passará a produzir provas para condenação. Fique bem claro: juiz com dúvida absolve (CPP, art. 386,
VIII), porque não é preciso dúvida qualificada, bastando dúvida razoável. Temos visto magistrados,
“em nome da defesa”, decretarem de ofício a quebra de sigilo telefônico, dados, de todos os acusados
com smartfones apreendidos, para o fim de ajudar a defesa. É um sintoma da perversão acusatória”
. Mas, infelizmente, existe o risco de a incompreensão do que seja um sistema acusatório, ou sua
reducionista compreensão, somada a tal vagueza conceitual (substituição da atuação probatória)
conduza ao esvaziamento desta cláusula, até mesmo pela fraude da relativização das nulidades e seu
princípio curinga (prejuízo). Isso já aconteceu, por exemplo, quando o STJ decretou a pena de morte
do art. 212 do CPP, tomara que não se repita. O correto e adequado é reconhecer a revogação tácita
do art. 156 (e do art. 385 e tantos outros na mesma linha) e absoluta incompatibilidade com a matriz
acusatória constitucional e a nova redação do art. 3o-A. É preciso compreender ainda a
complexidade da discussão acerca dos sistemas, pois todas essas questões giram em torno do tripé
sistema acusatório, contraditório e imparcialidade. Porque a imparcialidade é garantida pelo modelo
acusatório e sacrificada no sistema inquisitório, de modo que somente haverá condições de
possibilidade da imparcialidade quando existir, além da separação inicial das funções de acusar e
julgar, um afastamento do juiz da atividade investigatória/instrutória. Portanto, pensar no sistema
acusatório desconectado do princípio da imparcialidade e do contraditório é incorrer em grave
reducionismo.
Em suma, respondendo a questão inicial, agora podemos afirmar que o processo penal brasileiro é
legal (art. 3º-A do CPP) e constitucionalmente acusatório, mas para efetivação dessa mudança é
imprescindível afastar a vigência de vários artigos do CPP e mudar radicalmente as práticas
judiciárias. É preciso, acima de tudo, que os juízes e tribunais brasileiros interiorizem e efetivem
tamanha mudança. E esperamos que o art. 3o-A finalmente tenha plena vigência, quando do
julgamento do mérito das ADIn's já mencionadas e da relatoria do Min. FUX.

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4. Quadro-resumo sobre os sistemas do Processo Penal


SISTEMA INQUISITÓRIO versus SISTEMA ACUSATÓRIO
SISTEMA INQUISITÓRIO SISTEMA ACUSATÓRIO
Não há separação das funções de acusar, Separação das funções de acusar, defender e
defender e julgar, que estão concentradas em julgar. Por consequência, caracteriza-se pela
uma única pessoa, que assume as vestes de um presença de partes distintas (actum trium
juiz inquisidor. personarum), contrapondo-se acusação e defesa
em igualdade de condições, sobrepondo-se a
ambas um juiz, de maneira equidistante e
imparcial.
Como se admite o princípio da verdade real, o O princípio da verdade real é substituído pelo
acusado não é sujeito de direitos, sendo princípio da busca da verdade, devendo a prova
tratado como mero objeto do processo, daí por ser produzida com fiel observância ao
que se admite inclusive a tortura como meio de contraditório e à ampla defesa.
se obter a verdade absoluta.
O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa A gestão da prova recai precipuamente sobre as
acusatória e probatória, tendo liberdade para partes. Na fase investigatória, o juiz só deve
determinar de ofício a colheita de elementos intervir quando provocado, e desde que haja
informativos e de provas, seja no curso das necessidade de intervenção judicial.
investigações, seja no curso da instrução
processual.
Durante a instrução processual, prevalece o A separação das funções e a iniciativa probatória
entendimento de que o juiz tem certa iniciativa residual restrita à fase judicial preserva a
probatória, podendo determinar a produção equidistância que o juiz deve tomar quanto ao
de provas de ofício, desde que o faça de interesse das partes, sendo compatível com a
maneira subsidiária. CF/88.

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Denis Sampaio: Defensor Denis Sampaio, que já foi examinador no concurso para o
RJ, tem predileção pelo tema, Sistemas do Processo Penal. Tem uma série de artigos publicados
nesse sentido, ele defende que permanece o sistema inquisitorial. A busca pela verdade
reforça o inquisitorialismo, bem como um certo autoritarismo no processo, e também nas
relações pré-processuais. Inclusive tem um livro sobre o tema A verdade no processo penal: a
permanência do sistema inquisitorial através do discurso sobre a verdade real.

4. PRINCÍPIOS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL

4.1 Princípios constitucionais explícitos

4.1.1 Princípio da presunção da inocência

Ninguém será culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.

Observação inicial: O STF decidiu que o cumprimento da pena somente pode ter início com o
esgotamento de todos os recursos. Portanto, atualmente, é proibida a execução provisória da pena.
Este tema será melhor explorado em seguida.

Também chamado de estado de inocência ou de presunção de não culpabilidade, o ideal é utilizar


todas as denominações como sinônimas.
Segundo o professor Renato Brasileiro, o princípio da presunção de inocência:

“consiste no direito de não ser declarado culpado, senão após o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (ou, na visão do STF – HC 126.292, ADC 44 e 43 e ARE 964.246 RG/SP -, após a prolação
de acórdão condenatório por Tribunal de Segunda instância), ao término do devido processo legal, em
que o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para a sua defesa (ampla
defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório).”

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Segue Renato Brasileiro:

“No ordenamento pátrio, até a entrada em vigor da Constituição de 1988, esse princípio somente
existia de forma implícita, como decorrência da cláusula do devido processo legal. Com a Constituição
Federal de 1988, o princípio da presunção de não culpabilidade passou a constar expressamente do
inciso LVII do art. 5º.” (LIMA, 2017, p. 43)

A concretização do princípio da presunção de inocência se dá em duas dimensões diversas:

(i) Dimensão interna, que se subdivide em:


- Regra de tratamento (excepcionalidade das prisões cautelares): a privação cautelar da liberdade
de locomoção, sempre qualificada pela nota da excepcionalidade, somente se justifica em
hipóteses estritas.
- Regra probatória (regra de juízo): in dubio pro reo. No processo penal, recai sobre a acusação o
ônus de comprovar a culpabilidade do acusado, além de qualquer dúvida razoável, e não deste
em provar sua inocência (art. 386, VI, do CPP).
(ii) Dimensão externa (projeta-se para fora do processo penal), consiste no tratamento do acusado
fora do processo, o qual exige a proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado,
devendo-se respeitar as garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade, as quais devem
funcionar como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do
próprio processo judicial. Essa dimensão é especialmente destacada no tratamento dado pela
imprensa. O princípio da presunção de inocência e as garantias constitucionais da imagem, dignidade
e privacidade demandam uma proteção contra a publicidade abusiva e a estigmatização do acusado,
funcionando como limites democráticos à abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e
do próprio processo judicial.

CIDH - Caso J. vs. Peru


Nesse caso, a Corte responsabilizou o Peru por violação ao estado de inocência, previsto no art. 8.2 da
CADH.
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A Sra. J. foi presa durante o cumprimento de medida de busca e apreensão residencial. Foi processada
por terrorismo e associação ao terrorismo, em virtude de suposta vinculação com o grupo armado
Sendero Luminoso. Foi absolvida em junho de 1993. Logo após ser solta, deixou o território peruano.
Em dezembro do mesmo ano, a Corte Suprema Peruana cassou a sentença absolutória, determinou
um novo julgamento e decretou sua prisão.
Para a CIDH, os distintos pronunciamentos públicos das autoridades estatais, sobre a culpabilidade de
J. violaram o estado de inocência, princípio que determina que o Estado não condene enquanto não
existir decisão judicial condenatória. À luz do princípio, isso não pode acontecer nem mesmo
informalmente, hipótese que ocorre quando se emite juízo perante a sociedade contribuindo para
formação da opinião pública.
Para a Corte, a apresentação da imagem da acusada para a imprensa, escrita e televisiva, ocorreu
quando ela estava sob absoluto controle do Estado, além de as entrevistas posteriores também terem
sido levadas a cabo sob conhecimento e controle do Estado, por meio de seus funcionários. A Corte
acentuou que o estado de inocência não impede que as autoridades mantenham a sociedade
informada sobre investigações criminais, mas requer que isso seja feito com a discrição e a
contextualização necessárias.
Assim, fazer declarações públicas, sem os devidos cuidados, sobre processos penais, gera na sociedade
a crença sobre a culpabilidade do acusado.

Previsão Legal: O princípio da presunção de inocência encontra-se previsto tanto na CF quanto na


CADH.

Convenção Americana de Direitos Humanos Constituição Federal

Presunção de inocência: Presunção de não culpabilidade:


Art. 8º (...), §2º: Toda pessoa acusada de um delito Art. 5º (...), LVII – ninguém será considerado culpado
tem direito a que se presuma sua inocência, até o trânsito em julgado de sentença penal
enquanto não for legalmente comprovada a sua condenatória.
culpa.

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OBSERVAÇÕES:
• CADH possui status normativo supralegal. Ou seja, está abaixo da CF, mas acima da legislação
infraconstitucional.
• Para a CADH, a pessoa é considerada inocente até que se comprove sua culpa. Interpretando-se a
Convenção de forma sistemática, que assegura o direito ao duplo grau de jurisdição, a culpa seria
comprovada após o exercício deste direito.
Foi assim que o STF decidiu no HC 126.292: exercido o direito ao duplo grau de jurisdição, havendo
a condenação, a pena pode ser executada, mesmo na pendência de REsp ou RE.
- Consequências:
Ônus da prova: em regra da acusação.
Prisões cautelares. A privação cautelar da liberdade de locomoção somente se justifica em
hipóteses estritas, ou seja, a regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo,
enquanto que a imposição de medidas cautelares pessoais é a exceção.

ATENÇÃO: Houve overruling e o STF decidiu que o cumprimento da pena somente pode ter início com
o esgotamento de todos os recursos. Portanto, atualmente, é proibida a execução provisória da pena.
No dia 07/11/2019, o STF, ao julgar as ADCs 43, 44 e 54 (Rel. Min. Marco Aurélio), retornou para a sua
posição antiga e afirmou que o cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de
todos os recursos. Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes
do esgotamento de todos os recursos), no entanto, é necessário que seja proferida uma decisão judicial
individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão presentes os requisitos
para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do
trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como execução provisória da pena.
Principais argumentos:
• O art. 283 do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011, prevê que “ninguém poderá ser preso
senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente,
em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.”. Esse artigo é plenamente compatível
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com a Constituição em vigor;


• O inciso LVII do art. 5º da CF/88, segundo o qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito
em julgado de sentença penal condenatória”, não deixa margem a dúvidas ou a controvérsias de
interpretação;
• A Constituição não pode se submeter à vontade dos poderes constituídos nem o Poder Judiciário
embasar suas decisões no clamor público.
A nova decisão do STF é vinculante? SIM. A decisão do STF foi proferida em ADC, que declarou a
constitucionalidade do art. 283 do CPP.

Katia Varela: Quanto a esse princípio, importante ter em mente que no ano de 2022 a
DPE RJ divulgou notícia enfatizando que ao menos ⅓ dos HCs ingressados no STJ veram
decisões favoráveis, assegurando assim a presunção de inocência dos seus defendidos. Esse
ponto se faz relevante uma vez que a Defensora Katia Varela, examinadora no último concurso,
é atual corregedora geral da instituição, mas sua principal atuação como defensora, se dá no
segundo grau de jurisdição; ou seja, é de suma importância que se tenha conhecimento acerca de Habeas
Corpus e recursos em espécie.

4.1.2 Princípio da igualdade processual ou paridade de armas

As partes devem ter em juízo as mesmas oportunidades de atuação no processo e devem ser tratadas
de forma igualitária, na medida da sua igualdade. Segundo Norberto Avena (2017, p. 53): “As partes,
em juízo, devem contar com as mesmas oportunidades e ser tratadas de forma igualitária. Tal princípio
constitui-se desdobramento da garantia constitucional assegurada no art. 5.º, caput, da Constituição
Federal, ao dispor que todas as pessoas serão iguais perante a lei em direitos e obrigações. Não
obstante o sistema constitucional vigente seja proibitivo de discriminações, em determinadas
hipóteses é flexibilizado o princípio da igualdade”.

4.1.3 Princípio da ampla defesa

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Segundo Renato Brasileiro (2017, p. 54), a ampla defesa pode ser vista como um direito sob a ótica de
que privilegia o interesse do acusado; todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o
interesse geral de um processo justo, é vista como garantia.

Art. 5º, LV, da CF: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Ainda, refere o autor:

“O direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa garante o


contraditório e por ele se manifesta. (LIMA, 2017, p. 54)”.

Divide-se em:
Autodefesa: é aquela exercida pelo próprio acusado, em momentos cruciais do processo.
Compreende:
Direito de audiência: É o direito de ser ouvido no processo;
Direito de presença: Direito de estar presente nos atos processuais.
Defesa Técnica: é o direito de ser representado por advogado.
A defesa técnica é indisponível e irrenunciável. Mesmo que o acusado, desprovido de
capacidade postulatória, queira ser processado sem defesa técnica, e ainda que seja revel, deve o juiz
providenciar a nomeação de defensor.

Art. 261 do CPP: Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será
processado ou julgado sem defensor.

* PARA COMPREENDER MELHOR:

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- Defesa exercida pessoalmente


Disponível, exercida pelo réu.
Autodefesa pessoalmente pelo - Direito de presença (direito de
Princípio da ampla
réu. estar presente aos atos
defesa
processuais);
- Defesa exercida por defensor
Defesa técnica Indisponível
técnico.

Direito de escolha do defensor pelo próprio acusado: O direito de escolha do defensor pertence ao
acusado. Em havendo ausência do defensor técnico no processo (por falecimento, negligência, ou
qualquer outro motivo), o magistrado, antes de nomear novo defensor, sempre deverá intimar o
acusado para que, no prazo por ele determinado, possa constituir novo defensor (art. 263 do CPP).
Este direito é assegurado ao réu ainda que ele seja revel, conforme já restou decidido pelo STJ (Inf.
430).

Aspectos da ampla defesa:


Positivo: representa a efetiva utilização dos instrumentos, dos meios e modos de produção,
esclarecimento ou confrontação de elementos de prova relacionados à materialidade da infração
criminal e à autoria;
Negativo: impede a produção de elementos probatórios de elevado risco ou com
potencialidade danosa à defesa do réu.

Súmula 523, STF: no processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua
deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.
Súmula 707, STF: constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer contrarrazões
ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a suprindo a nomeação do defensor dativo.
Súmula 708, STF: é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do

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único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir outro.
STF: Inexiste nulidade na ausência do preso em audiência de oitiva de testemunha por precatória, se
ele não manifestou expressamente o interesse em participar da audiência.
STJ: A ausência do réu à audiência de oitiva de testemunha NÃO gera nulidade, se o seu defensor
estava presente ao ato e não foi demonstrado prejuízo.

Consequências da ampla defesa:


Apenas o réu tem direito à revisão criminal, nunca a sociedade;
O juiz deve sempre fiscalizar a eficiência da defesa do réu.

Tema quente: A DPE RJ, no final do ano de 2022, lançou o Núcleo de Investigação
Defensiva (NIDEF - Resolução nº1179), de coordenação do Defensor Denis Sampaio, visando a
maior eficiência na prestação do serviço da Defensoria Pública, faz se considerar que um dos
principais motivos para a criação desse núcleo é justamente para efetivar a ampla defesa e o
contraditório.

4.1.4 Princípio da plenitude da defesa

Aplicado especificamente ao Tribunal do Júri.


A atenção do juiz com a efetividade da defesa do réu deve ser ainda maior;
É possível apresentar nova tese na tréplica;
Ampliação do tempo de defesa nos debates sem que igual direito seja concedido ao MP.

Tema quente: Seguindo a premissa do Princípio anterior, este princípio também tem
grande peso, visto que é tema recorrente nas falas de examinadores de concursos anteriores
como Denis Sampaio e Renata Tavares (em que pese Renata ser examinadora da banca de
Direito Público, é titular da vara do Tribunal do Júri na Capital/RJ).

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4.1.5 Princípio do in dubio pro reo

Envolve regra de tratamento que milita em favor do acusado. O juiz só pode proferir decreto
condenatório se não existirem dúvidas acerca da autoria e materialidade do delito, sendo indispensável
um juízo de certeza para a condenação.
Se houver dúvida na interpretação de determinado artigo de lei processual penal, deve
privilegiar a interpretação que beneficie o réu.
Conforme entendimento do STJ: o princípio NÃO tem aplicação nas fases de oferecimento da
denúncia e na prolação de decisão de pronúncia do Tribunal do Júri, em que prevalece o princípio do
in dubio pro societate.

ATENÇÃO: É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente em elementos informativos


obtidos na fase inquisitorial?2
• NÃO. Haverá violação ao art. 155 do CPP. Além disso, muito embora a análise aprofundada seja feita
somente pelo Júri, não se pode admitir, em um Estado Democrático de Direito, a pronúncia sem
qualquer lastro probatório colhido sob o contraditório judicial, fundada exclusivamente em elementos
informativos obtidos na fase inquisitorial.
STJ. 5ª Turma. HC 560.552/RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/02/2021.
STJ. 6ª Turma. HC 589.270, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/02/2021.
É a posição que tem prevalecido, devendo ser adotada em provas objetivas.
• SIM. É possível admitir a pronúncia do acusado com base em indícios derivados do inquérito policial,
sem que isso represente afronta ao art. 155. Embora a vedação imposta no art. 155 se aplique a
qualquer procedimento penal, inclusive dos do Júri, não se pode perder de vista o objetivo da decisão
de pronúncia não é o de condenar, mas apenas o de encerrar o juízo de admissibilidade da acusação
(iudicium accusationis). Na pronúncia opera o princípio in dubio pro societate, porque é a favor da

2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível a pronúncia do acusado baseada exclusivamente em elementos informativos obtidos na fase inquisitorial?.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/852c296dfa59522f563aef29d8d0adf6>. Acesso em: 23/08/2022
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sociedade que se resolvem as dúvidas quanto à prova, pelo Juízo natural da causa. Constitui a
pronúncia, portanto, juízo fundado de suspeita, que apenas e tão somente admite a acusação. Não
profere juízo de certeza, necessário para a condenação, motivo pelo qual a vedação expressa do art.
155 do CPP não se aplica à referida decisão.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 1702743/GO, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
15/12/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1609833/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 06/10/2020.

4.1.6 Princípio do contraditório ou bilateralidade da audiência

É o direito de ser intimado e se manifestar sobre fatos e provas.

Art. 5º, LV, da CF: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Elementos:
Direito de ser intimado (informação/ciência) sobre fatos e provas;
Direito de se manifestar (reação/participação) sobre os fatos e provas;
Direito de interferir efetivamente no pronunciamento do juiz (possibilidade de influir no
convencimento do magistrado).

Espécies:
Contraditório para a prova (contraditório real): é o contraditório feito na formação do
elemento de prova, sendo indispensável que sua produção ocorra na presença do órgão julgador e das
partes;
Contraditório sobre a prova (contraditório diferido/postergado): é a atuação do contraditório
após a formação da prova.

4.1.7 Princípio da publicidade


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Trata-se de um princípio claramente ligado ao caráter democrático do processo penal. Isso


porque, a partir do momento que se assegura o princípio da publicidade, a ideia é de que a publicidade
vai proporcionar o controle da sociedade sobre a atividade jurisdicional.
Alguns doutrinadores dizem que o princípio da publicidade funciona como uma garantia de
segundo grau ou garantia de garantia (Ferrajoli). Garantia de segundo grau porque, na verdade, a
publicidade proporciona o controle sobre outras garantias. Assim, a partir do momento em que se dá
publicidade ao processo, poderemos analisar se as outras garantias também foram respeitadas (ex.:
juiz natural, contraditório, ampla defesa, etc.).
Vide art. 792, §1º, do CPP, assim como o art. 8º, item 5, da CADH:

Art. 792. As audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos


e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com assistência dos escrivães,
do secretário, do oficial de justiça que servir de porteiro, em dia e hora certos,
ou previamente designados.
§ 1º Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder
resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o
juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da
parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas
fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes.
§2o As audiências, as sessões e os atos processuais, em caso de necessidade,
poderão realizar-se na residência do juiz, ou em outra casa por ele
especialmente designada. (regra caiu em desuso).
Art. 8º, item 5, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – “O processo
penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses
da justiça”;

Divisão:
Publicidade ampla (é a regra, permitindo a todos o acesso ao processo e não apenas às partes
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e aos procuradores);
Publicidade restrita (caso haja necessidade de proteção da intimidade ou do interesse social, os
processos poderão correr em segredo de justiça). Pode ser uma restrição ao público em geral (art. 234-
B, CPP) ou apenas às próprias partes (art. 93, IX, CF).

Publicidade processual versus segredo de justiça:

Art. 234-B do CP - Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título


(crimes sexuais) correrão em segredo de justiça.

STJ: No caso de processo penal que tramita sob segredo de justiça em razão da qualidade da vítima
(criança ou adolescente), o nome completo do acusado e a tipificação legal do delito podem constar
entre os dados básicos do processo disponibilizados para consulta livre no sítio eletrônico do
Tribunal, ainda que os crimes apurados se relacionem com pornografia infantil. Muito embora o
delito de divulgação de pornografia infantil possa causar repulsa à sociedade, não constitui violação
ao direito de intimidade do réu a indicação, no site da Justiça, do nome de acusado maior de idade
e da tipificação do delito pelo qual responde em ação penal, ainda que o processo tramite sob
segredo de justiça. STJ. 5ª Turma. RMS 49920-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
2/8/2016 (Info 587).

*ATENÇÃO: na visão dos tribunais superiores esse segredo de justiça está dentro da cláusula de
reserva de jurisdição (STF: MS 27.483/DF). Ou seja, quando o segredo de justiça for decretado pelo
juiz, somente o próprio juiz ou uma autoridade jurisdicional superior poderá remover esse segredo
de justiça.

Ex.: CPI dos grampos. A CPI quis ter acesso a todos os processos que tinham interceptação
telefônica. O STF não deixou, pois, se há interceptação telefônica, é uma hipótese de publicidade

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restrita, então somente uma autoridade jurisdicional pode remover o segredo de justiça.

STF: MS 27.483/DF: “Comissão Parlamentar de Inquérito não tem poder jurídico de, mediante
requisição, a operadoras de telefonia, de cópias de decisão nem de mandado judicial de
interceptação telefônica, quebrar sigilo imposto a processo sujeito a segredo de justiça. Este é
oponível a Comissão Parlamentar de Inquérito, representando expressiva limitação aos seus poderes
constitucionais”. (STF, Tribunal Pleno, MS 27.483/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 192 09/10/2008).

4.1.8 Princípio da vedação das provas ilícitas

É vedado o uso de provas ilícitas no processo.

Art. 5º, LVI, da CF: São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos.

*Atenção: O STF começou a admitir, excepcionalmente, a utilização da prova ilícita em benefício do


réu inocente que produziu prova para a sua absolvição. #SANGUEVERDE

O reconhecimento da prova ilícita ou da prova ilegítima que enseja a nulidade absoluta tem
como consequência imediata o desentranhamento dos autos e sua inutilização, para que não se possa
influenciar indevidamente o convencimento do magistrado.

Cuidado! O que deve ser desentranhado dos autos é a PROVA, e não os atos processuais que
fazem menção à prova ilícita. Assim já decidiu o STF:

STF: As peças processuais que fazem referência à prova declarada ilícita não devem ser
desentranhadas do processo. Se determinada prova é considerada ilícita, ela deverá ser

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desentranhada do processo. Por outro lado, as peças do processo que fazem referência a essa prova
(exs: denúncia, pronúncia etc.) não devem ser desentranhadas e substituídas. A denúncia, a sentença
de pronúncia e as demais peças judiciais não são "provas" do crime e, por essa razão, estão fora da
regra que determina a exclusão das provas obtidas por meios ilícitos prevista no art. 157 do CPP.
Assim, a legislação, ao tratar das provas ilícitas e derivadas, não determina a exclusão de "peças
processuais" que a elas façam referência. STF. 2ª Turma. RHC 137368/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 29/11/2016 (Info 849).

Contudo, a prova ilícita NÃO será inutilizada quando:


i) Pertencer licitamente a alguém;
ii) Consistir no próprio corpo de delito em relação àquele que praticou um crime para obtê-la.

Tema quente: A DPE RJ, no início de 2023, em um evento que contou com a presença
do Ministro Rogerio Schietti, divulgou a resolução 484 do CNJ, que trata de Diretrizes para o
Reconhecimento de Pessoas em Processos Criminais. Portanto, no que tange à prova ilícita, é
de suma importância que o candidato saiba desta resolução e de todos os requisitos que um
reconhecimento tem que ter para ser considerado correto conforme a resolução e o artigo
226 do Código de Processo Penal. Vale salientar que, neste evento que contou as presença de diversos
defensores atuantes nas varas criminais da DPE RJ - em especial participaram da mesa de abertura a Defensora
Katia Varela e o Defensor Denis Sampaio, que já foram examinadores nos últimos concursos. Logo, além de
ser um tema caro para a instituição como um todo, também é assunto quentíssimo para a prova em todas as
fases.

4.1.9 Princípio da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo

Trata-se do princípio que ensejou a edição da EC 45/04, responsável por introduzir a razoável
duração do processo enquanto direito fundamental no art. 5, LXXVII, CF.
Assim, a duração razoável do processo corresponde à busca pelo equilíbrio: o processo não pode
ser moroso ao ponto de ensejar a impunidade, mas também não tão célere de modo a inobservar as
garantias do acusado.
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Apresentam algumas consequências:


As prisões cautelares devem persistir por tempo razoável, enquanto presentes as necessidades;
Possibilidade de utilizar a carta precatória itinerante;
A suspensão do processo, havendo questão prejudicial, só deve ser feita quando há caso de difícil
solução.

4.1.10 Princípio do devido processo legal

É um princípio expressamente previsto na Constituição Federal, como todos os até então vistos.
Vide a previsão no rol do art. 5º:

Art. 5, LIV, da CF - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o


devido processo legal.

O professor Nestor Távora conceitua o devido processo legal nos seguintes termos:

“O devido processo legal é o estabelecido em lei, devendo traduzir-se em


sinônimo de garantia, atendendo assim aos ditames constitucionais. Com isto,
consagra-se a necessidade do processo tipificado, sem a supressão e/ou
desvirtuamento de atos essenciais. (TÁVORA, 2017, p. 68).”

Este princípio é subdividido em:


Aspecto material ou substancial: Ninguém será processado, senão por crime previsto em lei;
Aspecto processual ou procedimental: Atrelado à possibilidade de produzir provas.

4.2 Princípios constitucionais implícitos

4.2.1 Princípio de que ninguém está obrigado a produzir prova contra si

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Também denominado “nemo tenetur se detegere”, seu conteúdo revela que ninguém é
obrigado a produzir prova contra si mesmo. Trata-se de uma espécie de autodefesa passiva.
Previsão Legal: está previsto na CADH (art. 8º, 2., g) e, de forma indireta, também na Constituição
Federal (art. 5º, LXIII). Vejamos os dispositivos:

Artigo 8º - Garantias judiciais


2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua
inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias
mínimas: g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a
confessar-se culpada; e
Art. 5º, LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de
advogado;

DESDOBRAMENTOS DO DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO

Direito ao silêncio;

Direito de não ser constrangido à prática de ilícito penal;

Inexigibilidade de dizer a verdade a verdade (inteligência do art. 203 do CPP, no qual há menção de
que “a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a verdade do que souber e Ihe
for perguntado”;

Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa gerar incriminação;

Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva.

Titulares: A CF faz referência ao preso, mas como se trata de um direito fundamental, a


interpretação deve ser feita de maneira extensiva. Desta forma, o titular é o indivíduo suspeito,
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investigado, indiciado pela autoridade policial bem como o acusado pelo MP, pouco importa se está
preso ou solto. A testemunha tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime
de falso testemunho. Entretanto, se das perguntas a ela formuladas puder resultar uma
autoincriminação, também poderá invocar este princípio (informativo 754 STF);
O imputado deve ser advertido acerca do direito de não produzir prova contra si mesmo, sob
pena de ilicitude das provas obtidas.

O art. 2º, §6º, da Lei nº 7.960/89 (prisão temporária) prevê que, efetuada a
prisão, a autoridade policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5º
da Constituição Federal, por meio de uma nota de ciência.

- Entendimentos do STF:
a) O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de
verificação de interlocutor (HC 83.096/RJ);
b) O acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico (HC 77135/SP);
c) Configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da recusa
destes em participarem de reconstituição do crime (HC 99.245/RJ).

Vamos aprofundar o assunto:


Há na jurisprudência diversas manifestações acerca do dever de advertência. Como exemplo, os casos
em que policiais gravaram conversa informal com o preso, sem que lhe fosse avisado acerca do seu
direito ao silêncio. Vejamos:

STF: (...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais. Ilicitude decorrente
- quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova
idônea do seu assentimento à gravação ambiental - de constituir, dita “conversa informal”,
modalidade de “interrogatório” sub- reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais
do interrogatório no inquérito policial (CPP, art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja advertido do

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seu direito ao silêncio. O privilégio contra a autoincriminação - nemo tenetur se detegere -, erigido
em garantia fundamental pela Constituição - além da inconstitucionalidade superveniente da parte
final do art. 186 CPP. - Importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o
interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz
ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com
mais razão, em “conversa informal” gravada, clandestinamente ou não. (...). (STF, 1ª Turma, HC
80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14/12/2001).

Em relação à imprensa, podemos citar duas correntes:

- 1ª Corrente: há doutrinadores que afirmam que este dever de advertência vale para todos, inclusive
para os particulares, seria a aplicação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Portanto, a
imprensa teria a obrigação de advertir o agente acerca do seu direito de permanecer calado.
- 2º Corrente: STF, no entanto, não adota tal posicionamento. Assim, o dever de advertência vale
apenas para o Estado. Nesse sentindo, STF HC 99.558/ES:

STF: (...) Alegação de ilicitude da prova, consistente em entrevista concedida pelo paciente ao jornal
“A Tribuna”, na qual narra o modus operandi de dois homicídios perpetrados no Estado do Espírito
Santo, na medida em que não teria sido advertido do direito de permanecer calado. Entrevista
concedida de forma espontânea. Constrangimento ilegal não caracterizado. Ordem denegada. (STF,
2ª Turma, HC 99.558/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2010).

APROFUNDAMENTO DOS DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO

- Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo: Por força do direito
de não produzir prova contra si mesmo, doutrina e jurisprudência têm adotado o entendimento de
que não se pode exigir um comportamento ativo do acusado.
Por comportamento ativo, entende-se um “fazer” por parte do acusado, a exemplo do fornecimento

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do padrão vocal para realização de exame de espectrograma; fornecimento de material escrito para
exame grafotécnico; exame de bafômetro.
Nesse sentido, HC 83.096/RJ: STF:

(...) O privilégio contra a autoincriminação, garantia constitucional, permite ao paciente o exercício


do direito de silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a fornecer os padrões vocais necessários
a subsidiar prova pericial que entende lhe ser desfavorável. Ordem deferida, em parte, apenas para,
confirmando a medida liminar, assegurar ao paciente o exercício do direito de silêncio, do qual
deverá ser formalmente advertido e documentado pela autoridade designada para a realização da
perícia. (STF, 2ª Turma, HC 83.096/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 12/12/2003 p. 89).

Atualmente, há teste de bafômetro ativo (não é obrigado a realizar, pois pode acarretar
autoincriminação) e teste de bafômetro passivo, em que é colocado um objeto próximo ao agente,
capaz de captar, por meio da respiração, o teor alcoólico. Este último, por não demandar qualquer
comportamento do agente, pode ser realizado, mesmo contra sua vontade.
Quanto a este tema em específico, fique atento ao recente julgado do Plenário do Supremo Tribunal
Federal, em sede de repercussão geral:

Não viola a Constituição a previsão legal de imposição das sanções administrativas ao condutor de
veículo automotor que se recuse à realização dos testes, exames clínicos ou perícias voltados a aferir
a influência de álcool ou outra substância psicoativa (art. 165-A e art. 277, §§ 2º e 3º, todos do Código
de Trânsito Brasileiro, na redação dada pela Lei 13.281/2016).
É inadmissível qualquer nível de alcoolemia por condutores de veículos automotivos.
A premissa de que a “Lei Seca” pune na mesma intensidade condutores responsáveis e
irresponsáveis não se mostra correta, em face da inexistência de um nível seguro de “alcoolemia”.
Assim, deixa de ser considerado responsável também todo condutor de veículo que dirige após a
ingestão de qualquer quantidade de álcool. A norma, nesse sentido, se caracteriza como adequada,

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necessária e proporcional.
A eventual recusa de motoristas na realização de “teste do bafômetro”, ou dos demais
procedimentos previstos no CTB para aferição da influência de álcool ou outras drogas, por não
encontrar abrigo no princípio da não autoincriminação, permite a aplicação de multa e a
retenção/apreensão da CNH validamente.
Isso porque não existem consequências penais ou processuais impostas diante da recusa na
realização do “teste do bafômetro” (etilômetro) ou dos demais procedimentos previstos nos artigos
165-A e 277, §§ 2º e 3º, do CTB.
Nesses termos, a imposição de restrições de direitos, decorrente da recusa do motorista em realizar
os testes de alcoolemia previstos em lei, revela-se meio adequado, necessário e proporcional em
sentido estrito para a efetivação, em maior medida, de outros princípios fundamentais como a vida
e a segurança no trânsito, sem que acarrete qualquer violação à dignidade da pessoa humana. Isso
se circunscreve ao espaço de conformação do legislador no desenho de políticas públicas.

São constitucionais as normas que estabelecem a proibição da venda de bebidas alcóolicas em


rodovias federais (Lei 11.705/2008, art. 2º).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, ao apreciar o Tema 1079 da repercussão geral, por
unanimidade, deu provimento ao recurso extraordinário e, por maioria, julgou improcedentes os
pedidos formulados nas ações diretas de inconstitucionalidade. (RE 1224374/RS, ADI 4017/DF e ADI
4103/DF, Relator Ministro Luiz Fux, julgamento em 18 e 19.5.2022, informativo nº 1.055)

Tratando-se de comportamentos passivos, em que o agente se sujeita a prova, não há proteção do


referido princípio, a exemplo do reconhecimento de pessoas e coisas.

*ATENÇÃO: O STF entendeu que o direito a não autoincriminação não assegura ao acusado o direito
de ocultar ou falsear a sua identidade (1ªT, RE n2 561.704, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe 64
02/04/2009).
No mesmo sentido, o STJ, possui entendimento sumulado:

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Súmula nº 522: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que
em situação de alegada autodefesa.

- Direito de não produzir nenhuma prova incriminadora invasiva:


Prova invasiva, protegida pelo princípio estudado, implica na penetração do organismo humano e na
extração de uma parte dele. Como exemplo, podemos citar: coleta de sangue, soprar bafômetro.
Prova não invasiva, sem proteção do referido princípio, é aquela em que não há penetração no
organismo humano. Admite-se a coleta, mas não deve ser retirada do corpo. Por exemplo, o fio de
cabelo coletado de um pente, o mesmo vale para a coleta de lixo, de placenta descartada (Glória Trevi).

STF: (...) Coleta de material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de DNA, para
averiguação de paternidade do nascituro, embora a oposição da extraditanda. (....) Mantida a
determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte, quanto à realização da coleta da
placenta do filho da extraditanda. (...) Bens jurídicos constitucionais como “moralidade
administrativa”, “persecução penal pública” e “segurança pública” que se acrescem, - como bens da
comunidade, na expressão de Canotilho, - ao direito fundamental à honra (CF, art. 5°, X), bem assim
direito à honra e à imagem de policiais federais acusados de estupro da extraditanda, nas
dependências da Polícia Federal, e direito à imagem da própria instituição, em confronto com o
alegado direito da reclamante à intimidade e a preservar a identidade do pai de seu filho. (...) Mérito
do pedido do Ministério Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para autorizar a
realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização da placenta recolhida, sendo,
entretanto, indeferida a súplica de entrega à Polícia Federal do “prontuário médico” da reclamante.
(STF, Tribunal Pleno, Rcl-QO 2.040/DF, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 27/06/2003 p. 31).

Ressalta-se que o raio-x, segundo o STJ (HC 149.146/SP), é considerado prova não invasiva. Logo,
poderá ser realizado mesmo contra a vontade do indivíduo.

STJ: (...) A Constituição Federal, na esteira da Convenção Americana de Direitos Humanos e do Pacto

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de São José da Costa Rica, consagrou, em seu art. 5º, inciso LXIII, o princípio de que ninguém pode
ser compelido a produzir prova contra si. Não há, nos autos, qualquer comprovação de que tenha
havido abuso por parte dos policiais na obtenção da prova que ora se impugna. Ao contrário, verifica-
se que os pacientes assumiram a ingestão da droga, narrando, inclusive, detalhes da ação que
culminaria no tráfico internacional da cocaína apreendida para a Angola, o que denota cooperação
com a atividade policial, refutando qualquer alegação de coação na colheita da prova. Ademais, é
sabido que a ingestão de cápsulas de cocaína causa risco de morte, motivo pelo qual a constatação
do transporte da droga no organismo humano, com o posterior procedimento apto a expeli-la, traduz
em verdadeira intervenção estatal em favor da integridade física e, mais ainda, da vida, bens jurídicos
estes largamente tutelados pelo ordenamento. Mesmo não fossem realizadas as radiografias
abdominais, o próprio organismo, se o pior não ocorresse, expeliria naturalmente as cápsulas
ingeridas, de forma a permitir a comprovação da ocorrência do crime de tráfico de entorpecentes.
(...) Ordem denegada. (STJ, 6ª Turma, HC 149.146/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
05/04/2011).

ATENÇÃO! Nemo tenetur se detegere e a prática de outros ilícitos.


O princípio nemo tenetur se detegere não tem natureza absoluta, podendo constituir conduta
criminosa, determinados comportamentos empregados a pretexto de estarem amparados pelo
referido princípio. Assim, apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum
direito pode ser usado como escudo protetor para a realização de atividades ilícitas. Nesse sentido,
vejamos alguns exemplos.

Ex1.: Crime de Fraude Processual (art. 347, CP).

Fraude processual Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo,
o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado,

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as penas aplicam-se em dobro.

Foi o que aconteceu no caso do Casal Nardoni, acusado e condenado por fraude processual. A defesa,
no caso deste crime específico (alteração da cena do crime), alegou o princípio do nemo tenetur se
detegere, afirmando que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Entretanto, tal
princípio não dá direito à pessoa de cometer outras infrações para se eximir da anterior.

STJ: O Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado em favor de A.
N. e A. C. J, denunciados pelo homicídio triplamente qualificado de Isabela Nardoni, e também por
fraude processual, em decorrência da alteração do local do crime: (...) O direito à não auto-
incriminação não abrange a possibilidade de os acusados alterarem a cena do crime, inovando o
estado de lugar, de coisa ou de pessoa, para, criando artificiosamente outra realidade, levar peritos
ou o próprio Juiz a erro de avaliação relevante (...). (STJ, 5 Turma, HC 137.206/SP, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, j. 01/12/2009, DJe 01/02/2010).

Ex2.: Fuga do local de ocorrência de trânsito (art. 305 do CTB).

Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou
civil que lhe possa ser atribuída: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

No caso de crimes de trânsito, o afastamento do condutor do local do acidente enseja algumas


divergências. Alguns doutrinadores consideram que tal crime seria inconstitucional. Entretanto, no fim
de 2018, o STF considerou este crime constitucional, afirmando que o condutor tem o dever de
permanecer no local, mas não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Vejamos:

STF: (...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não infirmar o princípio
da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e as hipóteses de exclusão de tipicidade e de

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antijuridicidade”. À semelhança do que já fora decidido pelo Supremo no julgamento do RE 640.139,


quando se afirmou que o princípio constitucional da autoincriminação não alcança aquele que atribui
falsa identidade perante autoridade policial com o intuito de ocultar maus antecedentes, prevaleceu
o entendimento de que não há direitos absolutos e que, no sistema de ponderação de valores, há de
ser admitida certa mitigação, até mesmo do princípio da não autoincriminação. Na visão da Corte, a
exigência de permanência no local do acidente e de identificação perante a autoridade de trânsito
não obriga o condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou penal e tampouco
enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda. Na verdade, a
depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até constituir um meio de autodefesa,
na medida em que terá a oportunidade de esclarecer, de imediato, eventuais circunstâncias do
acidente que lhe sejam favoráveis. (STF, Pleno, RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018).

Observações

Obs1.: O Aviso de Miranda é uma construção do direito norte-americano, segundo o qual, o policial,
no momento da prisão, deve relatar para o preso os seus direitos, sob pena de invalidação do que por
ele for dito. Conforme leciona Renato Brasileiro (2017, p. 71), os “Miranda Warnings” têm origem no
julgamento Miranda V. Arizona, em que a Suprema Corte americana firmou o entendimento de que
nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a não ser que antes
tenha sido claramente informada de:
I- Que tem o direito de não responder;
II- Que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ela;
III- Que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado.
Obs2.: O art. 2º, §6º, da Lei nº 7.960/89 (prisão temporária) prevê que, efetuada a prisão, a autoridade
policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5º da Constituição Federal, por meio de uma
nota de ciência.

Entendimentos do STF:

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1. O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial
de verificação de interlocutor (HC 83.096/RJ).
2. O acusado não está obrigado a fornecer material para exame grafotécnico (HC 77135/SP).
3. Configura constrangimento ilegal a decretação de prisão preventiva de indiciados diante da
recusa destes em participarem de reconstituição do crime (HC 99.245/RJ).

Vamos aprofundar o assunto: Há na jurisprudência diversas manifestações acerca do dever de


advertência. Como exemplo, os casos em que policiais gravaram conversa informal com o preso, sem
que lhe fosse avisado acerca do seu direito ao silêncio.

(...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com policiais. Ilicitude decorrente -
quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, ilegalmente preso ou da falta de prova
idônea do seu assentimento à gravação ambiental - de constituir, dita “conversa informal”,
modalidade de “interrogatório” sub-reptício, o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais
do interrogatório no inquérito policial (CPP, art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja advertido do
seu direito ao silêncio. O privilégio contra a autoincriminação - nemo tenetur se detegere -, erigido
em garantia fundamental pela Constituição - além da inconstitucionalidade superveniente da parte
final do art. 186 CPP. - Importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao dever de advertir o
interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua documentação formal - faz
ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado ou acusado no interrogatório formal e, com
mais razão, em “conversa informal” gravada, clandestinamente ou não. (...). (STF, 1ª Turma, HC
80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 14/12/2001).

Ilicitude de gravação ambiental sem o conhecimento do preso.


PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. INVESTIGAÇÃO POLICIAL. EXERCÍCIO
DO DIREITO DE PERMANECER CALADO MANIFESTADO EXPRESSAMENTE PELO INDICIADO (ART. 5º,
LXIII, DA CF). GRAVAÇÃO DE CONVERSA INFORMAL REALIZADA PELOS POLICIAIS QUE EFETUARAM A
PRISÃO EM FLAGRANTE. ELEMENTO DE INFORMAÇÃO CONSIDERADO ILÍCITO. VULNERAÇÃO DE
DIREITO CONSTITUCIONALMENTE ASSEGURADO. INAPLICABILIDADE DO ENTENDIMENTO NO

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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SENTIDO DA LICITUDE DA PROVA COLETADA QUANDO UM DOS INTERLOCUTORES TEM CIÊNCIA DA


GRAVAÇÃO DO DIÁLOGO. SITUAÇÃO DIVERSA.
DIREITO À NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO QUE DEVE PREVALECER SOBRE O DEVER-PODER DO ESTADO
DE REALIZAR A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL. (HC 244.977/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 25/09/2012, DJe 09/10/2012)

Em relação à imprensa, podemos citar duas correntes:

1ª corrente: Há doutrinadores que afirmam que este dever de advertência vale para todos, inclusive
para os particulares, seria a aplicação da eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Portanto, a
imprensa teria a obrigação de advertir o agente acerca do seu direito de permanecer calado.
2º corrente: STF, no entanto, não adota tal posicionamento. Assim, o dever de advertência vale apenas
para o Estado. Nesse sentido:

(...) Alegação de ilicitude da prova, consistente em entrevista concedida pelo paciente ao jornal “A
Tribuna”, na qual narra o modus operandi de dois homicídios perpetrados no Estado do Espírito
Santo, na medida em que não teria sido advertido do direito de permanecer calado. Entrevista
concedida de forma espontânea. Constrangimento ilegal não caracterizado. Ordem denegada. (STF,
2ª Turma, HC 99.558/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2010).

4.2.2 Princípio da iniciativa das partes

O princípio da iniciativa das partes é assinalado pelos axiomas latinos nemo judex sine actore e
ne procedat judex ex officio, ou seja, não há juiz sem autor, ou o juiz não pode dar início ao processo
de ofício sem a provocação da parte interessada. É vedada a propositura de ação penal pelo
magistrado, reservando-se essa iniciativa apenas à parte. Em conformidade com o sistema acusatório,
o juiz não pode iniciar um processo penal sem provocação anterior (nemo judex actore ou ne procedat
judex ex officio).

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Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

Entretanto, a doutrina aponta duas exceções ao princípio da iniciativa das partes. O juiz pode
agir de ofício:
a) Quando a situação disser respeito ao direito de liberdade do agente, o que se verifica na
expedição de habeas corpus de ofício (art. 654, § 2º, CPP); e
b) Quando se tratar do início da execução penal (art. 195, Lei 7.210/84).

4.2.3 Duplo grau de jurisdição

NÃO é princípio constitucional expresso, embora exista doutrina que defenda ser decorrência da ampla
defesa. Se concretiza com a interposição de recursos. É a possibilidade de revisão das decisões
proferidas por juízes ou tribunais.
Além disso, decorre de direitos previstos em tratados de direitos humanos, como o já mencionado
Pacto de São José da Costa Rica que, em seu art. 8.2, h, dispõe que: “(...) durante o processo, toda
pessoa tem, em plena igualdade, o direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.”

4.2.4 Juiz imparcial/natural

Consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a autoridade jurisdicional
que o processará e o julgará.
Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição;
Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato;
Entre os juízes pré-constituídos vigoram regras de competência que excluem qualquer tipo de
discricionariedade.

4.2.5 Indisponibilidade da ação penal pública

Ação Penal Pública é indisponível. Uma vez oferecida a denúncia o Ministério Público não
poderá da mesma dispor, conforme positivado no art.42,CPP.
*ATENÇÃO: Convencendo-se da inocência do acusado, o Ministério Público deverá postular a
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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

absolvição.

4.2.6 Oficialidade

Segundo este princípio, a pretensão punitiva do Estado deve se fazer valer por órgãos públicos,
ou seja, a autoridade policial, no caso do inquérito, e o Ministério Público, no caso da ação penal
pública.

4.2.7 Oficiosidade

A autoridade policial e o Ministério Público, regra geral, tomando conhecimento da possível


ocorrência de um delito, deverão agir ex officio (daí o nome princípio da oficiosidade), não aguardando
qualquer provocação.

4.2.8 Intranscendência ou pessoalidade das penas

Tal princípio está previsto no art. 5º, XLV da CF. Também denominado princípio da
intranscendência ou da pessoalidade ou, ainda, personalidade da pena, preconiza que somente o
condenado, e mais ninguém, poderá responder pelo fato praticado, pois a pena não pode passar da
pessoa do condenado.
Este princípio justifica a extinção da punibilidade pela morte do agente. Resta óbvia a extinção
quando estamos tratando da pena privativa de liberdade, mas o princípio da responsabilidade pessoal
faz com que, mesmo tendo o falecido deixado amplo patrimônio, a pena de multa não possa atingi-lo,
pois estaria passando da pessoa do condenado para atingir seus herdeiros. Sendo assim, sempre estará
extinta a punibilidade, independente da pena aplicada, quando ocorrer a morte do agente.

4.2.9 Vedação ao bis in idem

Um dos princípios fundamentais do direito penal nacional e internacional é o princípio da


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vedação a dupla incriminação ou princípio no bis in idem. Tal princípio proíbe que uma pessoa seja
processada, julgada e condenada mais de uma vez pela mesma conduta.
Tendo em vista a necessária observância de princípios e regras de nosso ordenamento jurídico
à Constituição Federal, fonte de validade de toda norma, importa apontar a origem do princípio em
questão:
É certo que a Constituição Federal de 1988, ao estatuir a garantia da coisa julgada (art. 5º,
XXXVI) procurou assegurar a economia e certeza jurídica das decisões judiciais transitadas em julgado,
servindo, em outro giro, como fundamento do princípio “ne bis in idem”, em seu aspecto processual.
Por outro lado, o princípio da legalidade, insculpido na Carta Magna, em seu artigo 5º, XXXIX, serve de
base ao aspecto substancial do princípio “ne bis in idem”, concretizando os valores da justiça e certeza
a ele inerentes.
Tal princípio não está consolidado expressamente em preceito constitucional. Porém, o próprio
Supremo Tribunal Federal, em decisão do Pleno, cujo acórdão é da lavra do Ministro Ilmar Galvão,
ressaltou que: “A incorporação do princípio do ne bis in idem ao ordenamento jurídico pátrio, ainda que
sem o caráter de preceito constitucional, vem, na realidade, complementar o rol dos direitos e garantias
individuais já previsto pela Constituição Federal, cuja interpretação sistemática leva à conclusão de que
a Lei Maior impõe a prevalência do direito à liberdade em detrimento do dever de acusar.” (SILVA, 2008,
p.2).

4.3 Outros princípios do processo penal

4.3.1 Princípio da busca da verdade real ou material

Com o pacote anticrime (L.13964/19) tal princípio deixa de fazer sentido em nosso sistema.
Segundo o princípio da verdade real, o magistrado deve buscar provas, tanto quanto as partes, não se
contentando com o que lhe é apresentado. Segundo Nestor Távora (2017, p. 60) “o processo penal não
se conforma com ilações fictícias ou afastadas da realidade. O magistrado pauta o seu trabalho na
reconstrução da verdade dos fatos, superando eventual desídia das partes na colheita probatória,
como forma de exarar um provimento jurisdicional mais próximo possível do ideal de justiça”.
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Portanto, com a reforma, o juiz perde essa iniciativa probatória e a possibilidade de buscar
provas em nome da verdade real. O sistema acusatório impõe ao juiz um verdadeiro estado de
alheamento.

4.3.2 Princípio da oralidade

A prova oral prevalece sobre a escrita. Desse princípio decorre:

Princípio da concentração: Toda a colheita de prova e julgamento devem ocorrer em uma única
audiência;
Princípio da imediaticidade: O magistrado deve ter contato direto com a prova produzida;
Princípio da identidade física do juiz: O juiz que instrui o processo deve julgá-lo.

4.3.3 Indivisibilidade da ação penal privada

NÃO pode o ofendido escolher contra qual agente ofertará a ação penal privada.

*ATENÇÃO: Para o STF, a ação penal pública é divisível, pois o MP pode, até sentença final, incluir
novos agentes por aditamento à denúncia ou oferecer nova ação penal, caso já prolatada sentença
no feito. Todavia, para doutrina majoritária, prevalece a indivisibilidade.

4.3.4 Comunhão da prova

A prova pertence ao processo! Uma vez produzida, a prova não pertence mais a parte que a
produziu, mas ao processo. Nesse sentido, o magistrado pode valer-se de uma prova produzida pela
parte para proferir decisão em seu desfavor, de acordo com o seu livre convencimento motivado.

4.3.5 Impulso oficial

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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

Atrelado aos princípios da obrigatoriedade e indeclinabilidade da ação penal. Uma vez iniciado,
o processo tem curso por impulso oficial, ou seja, o juiz, de ofício, dará andamento ao processo até o
seu fim, objetivando a prolação de uma decisão final. Assim, não é possível a paralisação do
procedimento pela inércia ou omissão das partes, caminhando-se para a resolução do litígio de forma
definitiva, enquanto objetivo do processo.

5. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS

5.1 Lei Processual no tempo

Pelo princípio do efeito imediato, a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo
da validade dos atos praticados sob a vigência da lei anterior (art. 2º, CPP) – tempus regit actum. Como
consequência, a lei processual penal será aplicada de imediato, seja benéfica ou maléfica (não se aplica
o princípio da retroatividade da lei benéfica, como ocorre no Direito Penal).

LEI PROCESSUAL NO TEMPO E LEIS HÍBRIDAS


Leis híbridas: Lei com preceitos de direito processual e direito penal.
Aplicação da lei: Não pode haver cisão, e, segundo STF, deve prevalecer o aspecto material, razão
pela qual:
● Se o aspecto penal for benéfico: prevalece o aspecto penal, e a lei retroage por completo;
● Se o aspecto penal for maléfico: a lei NÃO retroage

*ATENÇÃO: normas processuais heterotópicas são aquelas em que apesar de seu conteúdo conferir-
lhe uma determinada natureza, encontra-se prevista em diploma de natureza distinta. Ex: o direito
ao silêncio do acusado em interrogatório apesar de estar previsto no Código de Processo Penal possui
conteúdo material.

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Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

Não confunda NORMAS PROCESSUAIS HETEROTÓPICAS COM NORMAS PROCESSUAIS


MATERIAIS. 3
Há determinadas regras que, não obstante previstas em diplomas processuais penais, possuem
conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado. Outras, no entanto, inseridas
em leis materiais, são dotadas de conteúdo processual, a elas sendo aplicável o critério da aplicação
imediata (tempus regit actum). É aí que surge o fenômeno denominado de heterotopia, ou seja,
situação em que, apesar de o conteúdo da norma conferir-lhe uma determinada natureza, encontra-
se ela prevista em diploma de natureza distinta.
As normas heterotópicas não se confundem com as normas processuais materiais. Enquanto a
heterotópica possui uma determinada natureza (material ou processual), em que pese estar
incorporada a diploma de caráter distinto, a norma processual mista ou híbrida apresenta dupla
natureza, vale dizer, material em uma determinada parte e processual em outra. Como exemplos de
disposições heterotópicas, Renato Brasileiro cita o direito ao silêncio assegurado ao acusado em seu
interrogatório, o qual, apesar de previsto no CPP (art. 186), possui caráter nitidamente assecuratório
de direitos (material).

5.2 Lei processual no espaço

Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, onde se trava longa e complexa discussão sobre a
extraterritorialidade da lei penal, no processo penal a situação é mais simples. Aqui vige o princípio da
territorialidade. As normas processuais penais brasileiras só se aplicam no território nacional, não
tendo qualquer possibilidade de eficácia extraterritorial. (LOPES, 2018. p. 72).
Pelo art. 1º, CPP, há o princípio da territorialidade absoluta, decorrência da soberania, razão
pela qual o CPP vale em todo território nacional, SALVO nas hipóteses excludentes da jurisdição
criminal brasileira, casos em que o CPP possui aplicação subsidiária:

Art. 1º - O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este

3 Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro

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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial;
V - os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único - Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos
nos nºs. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de
modo diverso.

5.3 Lei processual em relação às pessoas

Conforme art. 1º, do CPP, é possível que sejam instituídas imunidades da lei processual penal,
seja em virtude de tratados internacionais (imunidade diplomáticas e de chefes de governos
estrangeiros) ou por regras constitucionais (imunidades e regras de competência).

5.3.1 Imunidades Diplomáticas

Objetivam garantir o livre exercício dos representantes diplomáticos, e são atribuídas em


função do cargo, e não da pessoa. O Tratado de Viena assegura a imunidade de jurisdição penal do
diplomata e seus familiares, para que se sujeitem à jurisdição do Estado que representa. Abrangência:
● Chefes de governo ou Estado estrangeiro, sua família e membros de sua comitiva;
● Embaixador e família: Imunidade absoluta;
● Funcionários das organizações internacionais (ONU) quando em serviço.
● Atenção: Se agentes consulares, são imunes apenas quanto aos crimes relacionados com a sua
função.

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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

* ATENÇÃO:
● A imunidade não subtrai o diplomata da investigação, mas do processo e julgamento em
território brasileiro.
● As embaixadas NÃO são extensão do território que representam, mas são invioláveis.

É possível ao país renunciar à imunidade do agente diplomático, mas o agente não pode
renunciar por iniciativa pessoal, já que a imunidade se fundamenta no interesse da função.

5.3.2 Imunidades parlamentares

É uma prerrogativa para o desempenho das funções de deputados e senadores de legislar e


fiscalizar o Poder Executivo.

STF: A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as pessoas
à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo quando desbordem e
se enquadrem em tipos penais, as palavras dos congressistas, desde que guardem alguma
pertinência com suas funções parlamentares, estarão cobertas pela imunidade material do art. 53,
“caput”, da CF/88. STF. 1ª Turma. Inq 4088/DF e Inq 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
1º/12/2015 (Info 810).

Podem ser absolutas ou relativas:

Imunidade Absoluta (material, substancial, real, inviolabilidade ou indenidade): Prevê o art. 53,
da CF/88, que deputados e senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
Para STF, a imunidade é causa de atipicidade.
A abrangência dessa imunidade deve ser analisada:

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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

a) Se ofensa proferida nas dependências da casa legislativa: O nexo funcional é presumido, há


imunidade4;
b) Se a ofensa é proferida fora das dependências da casa legislativa: O nexo funcional NÃO é
presumido, deve ter relação com o exercício do mandato e o ofendido deve comprovar a inexistência
de nexo com o mandato.

Imunidade Relativa ou formal: É possível subdividi-la:


a) Para a prisão: Relacionada à prisão dos parlamentares e ao processo. Os parlamentares
passam a ter imunidade formal para a prisão a partir do momento em que são diplomados pela Justiça
Eleitoral (antes da posse), configurando o termo inicial para a atribuição de imunidade formal para a
prisão.
Os parlamentares só poderão ser cautelarmente presos nas hipóteses de flagrante de crime
inafiançável (“ESTADO DE RELATIVA INCOERCIBILIDADE PESSOAL DOS CONGRESSITAS” – Celso de
Melo). = Nesse caso, os autos deverão ser encaminhados a Casa Parlamentar respectiva, no prazo de
24 hrs para que, pelo voto (ABERTO) da maioria absoluta de seus membros, resolva sobre a prisão.
Nota-se que a aprovação pela Casa é condição necessária para a manutenção da prisão em
flagrante delito de crime inafiançável. Logo, há duas hipóteses:
Se a Casa decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser imediatamente relaxada;
Se a Casa mantiver a prisão em flagrante, os autos deverão ser encaminhados, no prazo de 24
hrs, ao STF.

b) Para o processo: Oferecida denúncia, o Ministro do STF NÃO poderá recebe-la sem prévia
licença da Casa Parlamentar. Após o recebimento da denúncia contra o Senador ou Deputado, por
crime ocorrido após a diplomação, o STF dará ciência a Casa respectiva que, por iniciativa de partido
político nela representado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, decidirá sustar o

4 Sobre a presunção da imunidade por palavras e expressões proferidas dentro da Casa Parlamentar, o STF, no Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, de Relatoria
do Min. Luiz Fux, julgado em 21/06/2016 (INF 831), recebeu denúncia contra o Dep. Jair Bolsonaro, pela incitação ao crime, ao pronunciar, em acalorada
discussão no plenário, que a também Dep. Federal Maria do Rosário “não merecia ser estuprada”. Para melhor compreensão de interessante julgado,
sugerimos a leitura:
http://www.dizerodireito.com.br/2016/07/entenda-decisao-do-stf-que-recebeu.html
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andamento da ação.
O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias
do seu recebimento pela mesa diretora, e a sustação do processo suspende a prescrição enquanto
durar o mandato.

* ATENÇÃO: NÃO há mais imunidade material para crimes praticados ANTES DA DIPLOMAÇÃO.

Prerrogativa de foro: Desde a expedição de diploma, deputados e senadores serão julgados


pelo STF pela prática de qualquer tipo de crime.

*ATENÇÃO! Prerrogativa de foro não se confunde com Imunidades! A principal diferença entre os
institutos trata-se da competência: Imunidade Parlamentar não discute competência. Foro
privilegiado diz respeito a competência do órgão que irá julgar determinada autoridade.

Casos:
Infração cometida DURANTE o exercício da função parlamentar: A competência será do STF,
sendo desnecessário pedir autorização à Casa respectiva, bastando dar ciência ao Legislativo, que
poderá sustar o andamento da ação;

ATENÇÃO: Se os fatos criminosos que teriam sido supostamente cometidos pelo Deputado Federal
não se relacionam ao exercício do mandato, a competência para julgá-los não é do STF, mas sim
do juízo de 1ª instância.
Isso porque o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas (STF AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 03/05/2018). STF. 1ª Turma. Inq 4619 AgR-segundo/DF, Rel. Min. Luiz Fux,
julgado em 19/2/2019 (Info 931).

Delito cometido APÓS o encerramento do mandato: NÃO há foro por prerrogativa de função.

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As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de


função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido
praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como
Deputado Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância
mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito
não apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.

STF: FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO


Restrição ao foro por prerrogativa de função
As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa de função
devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que tenham sido
praticados durante o exercício do cargo e em razão dele.
Assim, por exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância mesmo
ocupando o cargo de parlamentar federal.
Além disso, mesmo que o crime tenha sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não
apresentar relação direta com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado.
Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do
cargo e relacionados às funções desempenhadas.
Marco para o fim do foro: término da instrução
Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação
de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja
o motivo.
STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018 (Info 900).

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ESQUEMA SOBRE IMUNIDADES:

PARLAMENTAR IMUNIDADE JULGAMENTO


Deputados Federais e Imunidade absoluta e Julgados pelo STF, inclusive nos crimes
Senadores relativa dolosos contra a vida
Deputados estaduais Imunidade absoluta e Julgados pelo TJ, inclusive nos crimes
relativa dolosos contra a vida
Vereadores Só possuem imunidade Julgados pelo Juiz ou TJ (a depender da
absoluta, e o foro especial Constituição Estadual)*, mas nos crimes
depende de previsão na CE dolosos contra a vida são submetidos a
Júri popular.

*ATENÇÃO: A CF/88 não previu foro por prerrogativa de função aos vereadores. Apesar disso, não
há óbice de que as Constituições estaduais prevejam foro por prerrogativa de função aos
vereadores.Assim, a Constituição do Estado pode estabelecer que os vereadores sejam julgados em
segunda instância.STJ. 3ª Seção. CC 116771-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
29/2/2012.
Apesar de não haver um julgamento recente enfrentando especificamente a questão dos Vereadores,
entendo que, se chamado a se manifestar, o STF, na sua atual composição, irá declarar inconstitucional
a previsão de Constituição Estadual criando foro por prerrogativa de função para Vereadores. Isso
porque o entendimento da Corte tem sido extremamente restritivo quanto ao tema, conforme se pode
observar a partir deste precedente:
A CF, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais
e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de
foro por prerrogativa de função.STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940).5

5 Dizer o Direito

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OBS: Apesar de não se tratar de decisão definitiva e tampouco manifestação do Plenário da Corte, a 1ª
Turma do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RHC 181895 AgR, sinalizou expressamente a tendência
de reconhecer a impossibilidade de previsão de prerrogativa de foro para os Vereadores no âmbito da
Constituição Estadual.

STF: É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado,Procuradores


da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função,
no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e
Delegados de Polícia.
A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais,
estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas
hipóteses de foro por prerrogativa de função.
STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 15/5/2019 (Info 940).

STF: As constituições estaduais não podem instituir novas hipóteses de foro por prerrogativa de
função além daquelas previstas na Constituição Federal
É inconstitucional norma de constituição estadual que estende o foro por prerrogativa de função a
autoridades não contempladas pela Constituição Federal de forma expressa ou por simetria.
STF. Plenário. ADI 6501/PA, ADI 6508/RO, ADI 6515/AM e ADI 6516/AL, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgados em 20/8/2021 (Info 1026).

6. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL

ANALOGIA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

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É processo de integração da É espécie de interpretação que É espécie de interpretação por


norma (fonte secundária do ocorre quando fórmulas casuísticas meio da qual se alarga o
direito). inscritas em um dispositivo são sentido dos termos legais para
Ocorre quando uma situação seguidas de expressões genéricas, dar eficiência à norma, pois o
análoga, semelhante à outra abertas, utilizando-se a semelhança legislador disse menos do que
que não tem solução para uma correta interpretação queria ou deveria dizer.
expressa, é a ela aplicada, dessas últimas. Há termo expresso no Ex: art. 254 do CPP, tratando
imaginando-se que o efeito próprio dispositivo que permite a da suspeição, fala apenas em
será o mesmo. interpretação de outro pertencente a juiz, mas, por interpretação
Pode ser feita in malam ele, que seja duvidoso ou polêmico. extensiva, a causa se aplica
partem no Processo Penal. Ex: art. 6º, IX, do CPP, quando se também ao jurado.
refere a “quaisquer outros Está expressa no art. 3º do
elementos”, está mencionando CPP.
outros dados referentes à “vida
pregressa do indiciado”.
Está expressa no art. 3º do CPP.

Previsão legal: art. 3°, CPP

Art. 3° do CPP - A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem
como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Considerações importantes sobre o art. 3°, CPP

O que é interpretar? R.: É buscar o sentido da lei, é descobrir o seu significado. Não interessa a vontade
do legislador, mas sim o sentido da lei.

1) Interpretação quanto ao resultado


Quanto ao resultado, podemos trabalhar com ao menos 4 (quatro) espécies de interpretação:
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a) Declaratória - O intérprete não amplia e nem restringe o significado da lei, ou seja, o significado
da lei corresponde à sua literalidade.
b) Restritiva - Conclui-se que a lei disse mais do que pretendia dizer, por isso ela deve sofrer uma
restrição na hora de sua interpretação.
c) Extensiva - A lei disse menos do que pretendia dizer, por isso ela deve ser interpretada
extensivamente para abranger outras situações (art. 3º, CPP).
d) Ex.: hipóteses de cabimento do RESE do art. 581, CPP. Essas hipóteses, hoje, estão
desatualizadas. Então as hipóteses de cabimento do RESE devem ser interpretadas de maneira
extensiva para abranger outras situações.
e) Progressiva - Busca adaptar o texto da lei à realidade social vigente naquele determinado
momento.
O art. 68, CPP prevê que o MP pode promover a ação civil ex delito em favor de vítima pobre.
Quando a CF/88 entrou em vigor, houve quem dissesse que esse artigo era inconstitucional, pois o MP
não poderia pleitear interesses individuais disponíveis.
O STF disse que esse artigo estaria sujeito a uma inconstitucionalidade progressiva. Logo,
enquanto não houver defensoria pública em todos os estados, o artigo continua válido.

2) Analogia
A analogia está no art. 3°, CPP na expressão: “aplicação analógica”. Assim, no âmbito processual
penal a analogia é admitida. Então, quando se trata de uma norma genuinamente processual penal, a
analogia pode ser usada, independentemente de ser em bonam partem ou em malam partem (≠
direito penal, em que só é admitida a analogia in bonam partem).

*Obs.: Analogia ≠ Interpretação Extensiva.


● Analogia - É um método de integração (busca suprir lacunas);
● Interpretação extensiva - É um método de interpretação.

Na analogia, há uma lacuna na norma. Por isso, busca-se suprir tal lacuna valendo-se de um

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dispositivo pensado para um caso semelhante. Enquanto na interpretação extensiva existe norma
legal, que, no entanto, será interpretada de norma extensiva.

3) Aplicação supletiva e subsidiária do novo CPC ao processo penal


O CPC 2015 pode ser aplicado no Processo Penal? R.: SIM.
O art. 15 do CPC diz que, na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas
ou administrativas, aplica-se o CPC. Porém, o CPC não fez menção à possibilidade de utilizá-lo no
processo penal.
Entretanto, o art. 15 pode ser objeto de interpretação extensiva, para que possamos entender
que o NCPC pode ser aplicado supletiva e subsidiariamente aos processos criminais.

Art. 15, CPC - Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,


trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão
aplicadas supletiva e subsidiariamente.

*Obs.: Só pode aplicar o CPC no Processo Penal quando houver lacuna. Pois é diante da omissão que
se pode valer da analogia com o CPC. Assim, se houver disposição legal expressa no CPP, não é
possível aplicar o CPC!

*ATENÇÃO: Pessoal, muito cuidado neste ponto! O Código Penal prevê implicitamente a
impossibilidade de aplicação da analogia em prejuízo do réu, ao vedar a imputação de crime sem lei
anterior que o defina, admitindo-se, entretanto, a analogia em seu benefício. Deste modo, gravem o
seguinte: É PROIBIDA A ANALOGIA IN MALAM PARTEM NO DIREITO PENAL.
Já o CPP, contudo, em seu art. 3º prevê a possibilidade expressa de aplicação da analogia, sem fazer
ressalvas. Logo, CABE ANALOGIA IN MALAM PARTEM NO PROCESSO PENAL.

7. LEI PROCESSUAL PENAL NO ESPAÇO

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

Da análise do art. 1º do Código de Processo Penal, podemos observar a adoção do PRINCÍPIO


DA TERRITORIALIDADE, preconizando que, em regra, a lei processual penal será aplicada a todas as
infrações cometidas no território nacional, exceto nas ocasiões listadas pelos incisos, quais sejam:

Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este


Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros
de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos
ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade
(Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122,
nº 17);
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130)
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos
nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de
modo diverso.

Considera-se o crime praticado no local em que ocorreu a ação ou omissão, ou ainda, no local em que
ocorreu o resultado, adotando-se aqui a TEORIA DA UBIQUIDADE OU MISTA.

Referências Bibliográficas:
Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro
Curso de Direito Processual , Nestor Távora
Direito Processual Penal , Aury Lopes , 17ª Edição , Jr. 2020
Sinopse Juspodvim

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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

8. LETRA DA LEI MODO TURBO

Leitura do Código Processual Penal: Art. 1º ao 3º

Neste item colocaremos a letra da lei grifada com as partes importantes, dicas e macetes. Contudo,
não os exime de ler, estudar, grifar e anotar no seu próprio Vade Mecum. Ter um material próprio e
único no qual você mesmo grifou e anotou ajuda sobremaneira na memória visual. Assim,
aconselhamos a ler uma vez a letra da lei na meta e, após, reler no seu próprio Vade Mecum. A leitura
deve ser pausada.
Sugiro que sublinhe as informações que achar relevantes (lápis/caneta) e pinte de amarelo aquilo que
achar super relevante. Caso ache que este método não será apropriado para você, pode usar outro,
mas a leitura deve ser sempre pausada e atenta.
A relevância pode ser verificada de 2 formas: aquilo que você acha que vai esquecer com facilidade ou
aquilo que tem grande incidência em provas objetivas.
LIVRO I
DO PROCESSO EM GERAL
TÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes
conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes
de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); APLICAÇÃO DA LEI
PROCESSUAL PENAL
NO ESPAÇO
III - os processos da competência da Justiça Militar;
Art. 124, CF: à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);
V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130)
A não recepção da lei de imprensa não impede o curso regular dos processos fundamentados nos

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

dispositivos legais da referida lei, nem tampouco a instauração de novos processos, aplicando-se-lhes,
contudo, as normas da legislação comum, o CC, o CP, o CPC e o CPP. É certo que os incisos IV e V do
art. 1º estão prejudicados. No entanto, o dispositivo legal em comento ainda possui importância,
devendo ser interpretado de forma a permitir a aplicação subsidiária do CPP às leis especiais em geral,
caso não dispuserem de modo contrário. É o que ocorre, por exemplo, com a Lei de Tóxicos, Lei de
Abuso de Autoridade etc. 6
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando
as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob
APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO
a vigência da lei anterior. TEMPO

Art. 3o A lei processual penal admitirá INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA e APLICAÇÃO ANALÓGICA, bem
como o suplemento dos PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO.
INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
  Admitem interpretação extensiva
  Não admitem interpretação analógica.

9. JURISPRUDÊNCIA

Jurisprudência não cai em prova, DESPENCA! ATENÇÃO ao estudar!OBS: uma pergunta frequente dos
alunos é se estamos estudando apenas a jurisprudência referente ao tema visto no dia. A resposta é
não. Estudaremos de forma aleatória, na sequência do nosso arquivo disponibilizado na plataforma
Hotmart, para que seja de fácil localização caso o aluno queira prosseguir na leitura. Ler apenas os
julgados do tema do dia além de limitar o nosso estudo de jurisprudência, já que precisamos ler e reler
os julgados para conseguir fixá-los, também deixa a quantidade de jurisprudência estudada muito
variável, pois em alguns temas há muitos julgados e em outros quase nada.
OBS: Grifem de uma cor diferente aquele julgado que possui mais dificuldade para assimilar ou que

6 Fonte: Sinopse de Processo Penal JusPodivm.

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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

reputa muita importante!Usaremos esses grifados também nas revisões!

STJ: As tabelas de honorários elaboradas unilateralmente pelos Conselhos


Seccionais da OAB não vinculam o magistrado no momento de arbitrar o valor
da remuneração a que faz jus o defensor dativo que atua no processo penal
O STJ fixou quatro teses a respeito desse tema: 1) As tabelas de honorários
elaboradas unilateralmente pelos Conselhos Seccionais da OAB não vinculam o
magistrado no momento de arbitrar o valor da remuneração a que faz jus o
defensor dativo que atua no processo penal; servem como referência para o
estabelecimento de valor que seja justo e que reflita o labor despendido pelo
advogado. 2) Nas hipóteses em que o juiz da causa considerar desproporcional
a quantia indicada na tabela da OAB em relação aos esforços despendidos pelo
defensor dativo para os atos processuais praticados, poderá, motivadamente,
arbitrar outro valor. 3) São, porém, vinculativas, quanto aos valores
estabelecidos para os atos praticados por defensor dativo, as tabelas
produzidas mediante acordo entre o Poder Público, a Defensoria Pública e a
seccional da OAB. 4ª) Dado o disposto no art. 105, parágrafo único, II, da
Constituição da República, possui caráter vinculante a Tabela de Honorários da
Justiça Federal, assim como tabelas similares instituídas, eventualmente, pelos
órgãos competentes das Justiças dos Estados e do Distrito Federal, na forma
dos arts. 96, I, e 125, § 1º, parte final, da Constituição da República. STJ. 3ª
Seção. REsp 1.656.322-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
23/10/2019 (Tema 984 – recurso repetitivo) (Info 659).

STJ: Possibilidade de condenação em honorários sucumbenciais em ação penal


privada extinta sem julgamento de mérito
É possível condenar o querelante em honorários advocatícios sucumbenciais na
hipótese de rejeição de queixa-crime por ausência de justa causa. STJ. 3ª Seção.
EREsp 1.218.726-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/6/2016 (Info 586).
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STJ: É possível a citação, no processo penal, via WhatsApp?


É possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado, desde que sejam
adotadas medidas suficientes para atestar a autenticidade do número
telefônico, bem como a identidade do indivíduo destinatário do ato processual.
STJ. 5ª Turma. HC 641.877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021
(Info 688).

Tema quente: A DPE RJ, no final do ano de 2022, emitiu um comunicado em conjunto
com as coordenações cíveis e criminais, com orientações acerca do grau mínimo de certeza de
se aferir nos autos. Não sendo possível ter esse grau mínimo de certeza e, no caso concreto,
sendo hipótese de eventual prejuízo ao defendido, deverá ser arguida a nulidade do ato.
Comunicado conjunto COCIV/COCRIM Nº01/2022.

STJ: No caso do art. 366 do CPP, o prazo prescricional ficará suspenso pelo
tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime
Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados
os crimes previstos na Constituição Federal como imprescritíveis, é
constitucional limitar o período de suspensão do prazo prescricional ao tempo
de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de
o processo permanecer suspenso. Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não
comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso
do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312. STF. Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel.
Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 438)
(Info 1001). No mesmo sentido: Súmula 415-STJ: O período de suspensão do
prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.

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Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

STJ: Constitucionalidade da citação por hora certa


É constitucional a citação com hora certa no âmbito do processo penal. STF.
Plenário. RE 635145/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Luiz Fux, julgado em 1º/8/2016 (Info 833)

STF: Caso a proposta de acordo aconteça entre a sentença e o julgamento pelo


Tribunal, a homologação ocorrerá no julgamento pelo Tribunal e constará do
acórdão7
A homologação de acordo de colaboração, em regra, terá que se dar perante o
juízo competente para autorizar as medidas de produção de prova e para
processar e julgar os fatos delituosos cometidos pelo colaborador. Caso a
proposta de acordo aconteça entre a sentença e o julgamento pelo órgão
recursal, a homologação ocorrerá no julgamento pelo Tribunal e constará do
acórdão. STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
2/2/2021 (Info 1004).

STJ: Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa
apenas parcialmente o acordo de colaboração premiada8
Atualmente, não existe previsão legal de recurso cabível em face de não
homologação ou de homologação parcial de acordo. Logo, deve ser possível a
impetração de habeas corpus. A homologação do acordo de colaboração
premiada é etapa fundamental da sistemática negocial regulada pela Lei nº
12.850/2013, estando diretamente relacionada com o exercício do poder
punitivo estatal, considerando que nesse acordo estão regulados os benefícios
concedidos ao imputado e os limites à persecução penal. STF. 2ª Turma. HC
192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info 1004). Obs: a

7 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2021/02/info-1004-stf.pdf
8 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2021/02/info-1004-stf.pdf
67
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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

6ª Turma do STJ possui julgado afirmando que: a apelação criminal é o recurso


adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de
colaboração premiada, mas ante a existência de dúvida objetiva é cabível a
aplicação do princípio da fungibilidade (REsp 1834215-RS, Rel. Min. Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020. Info 683).

STJ: A apelação criminal é o recurso adequado para impugnar a decisão que


recusa a homologação do acordo de colaboração premiada, mas ante a
existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da fungibilidade9
Realizado o acordo de colaboração premiada, ele será remetido ao juiz para
análise e eventual homologação, nos termos do art. 4º, § 7º, da Lei nº
12.850/2013. O magistrado poderá recusar a homologação da proposta que
não atender aos requisitos legais e esse ato judicial tem conteúdo decisório,
pois impede o meio de obtenção da prova. Entretanto, não existe previsão
normativa sobre o recurso cabível para a sua impugnação. Diante da lacuna na
lei, o STJ entende que a apelação criminal é o recurso apropriado para
confrontar a decisão que recusar a homologação da proposta de acordo de
colaboração premiada. De toda forma, como existe dúvida objetiva quanto ao
recurso cabível, não constitui erro grosseiro caso a parte ingresse com correição
parcial contra a decisão do magistrado. Assim, mesmo sendo caso de apelação,
se a parte ingressou com correição parcial no prazo de 5 dias, é possível
conhecer da irresignação como apelação, aplicando-se o princípio da
fungibilidade recursal (art. 579 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.834.215-RS, Rel.
Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info 683).

STF: A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui

9 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2021/01/info-683-stj.pdf
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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

critério de determinação, de modificação ou de concentração da competência10


Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes
que não sejam conexos ao objeto da investigação primária devem receber o
mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao encontro fortuito de
provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a
interceptação telefônica. A colaboração premiada, como meio de obtenção de
prova, não constitui critério de determinação, de modificação ou de
concentração da competência. Assim, ainda que o agente colaborador aponte
a existência de outros crimes e que o juízo perante o qual foram prestados seus
depoimentos ou apresentadas as provas que corroborem suas declarações
ordene a realização de diligências (interceptação telefônica, busca e apreensão
etc.) para sua apuração, esses fatos, por si sós, não firmam sua prevenção. STF.
2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020
(Info 999).

STF: STF reconheceu, em habeas corpus impetrado por um dos delatados, a


nulidade de acordo de colaboração premiada em virtude de suspeita de que
teria havido irregularidade na atuação do Ministério Público nas tratativas
feitas com o delator11 A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: Luiz,
auditor da receita estadual, estava sendo investigado por supostamente estar
recebendo vantagem indevida (“propina”) para reduzir tributos. Ele não sabia
que estava sendo investigado. Determinado dia, Luiz foi preso em flagrante por
suposto crime sexual (estupro de vulnerável). Depois de preso, o Ministério
Público ofereceu a Luiz e sua irmã a possibilidade de fazer um acordo de
colaboração premiada. Eles aceitaram. No acordo, Luiz confessou crimes e
delatou infrações penais que teriam sido praticadas por outros colegas

10 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/12/info-999-stf.pdf
11 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/10/info-988-stf.pdf
69
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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

auditores da receita estadual. Com base nessas declarações prestadas por Luiz
e sua irmã, foi deflagrada a “Operação Publicano IV”, no final de 2015, tendo
sido decretada a prisão preventiva de diversos auditores da receita estadual.
Em maio de 2016, o Ministério Público constatou que Luiz descumpriu os
termos do acordo de colaboração premiada. Isso porque, segundo o Parquet,
ele teria mentido e omitido fatos e cometido novos crimes após a celebração
do acordo. Assim, o acordo foi rescindido. Em fevereiro de 2017, foi realizado
o interrogatório judicial de Luiz. Ele declarou que a rescisão do acordo teria sido
arbitrária. Acusou os Promotores “de manipular suas declarações e ocultar
todos os vídeos dos depoimentos que havia prestado extrajudicialmente”.
Posteriormente, o Ministério Público firmou com Luiz novo acordo de delação
premiada, sob a condição de que ele se retratasse das mencionadas acusações
e ratificasse as declarações que fizeram parte do acordo rescindido. O segundo
acordo foi homologado pelo juiz sob o argumento de que seria apenas um
“termo aditivo” do primeiro. A defesa de Gilberto, um dos auditores delatados
por Luiz, impetrou habeas corpus alegando, dentre outros argumentos: a) a
impossibilidade de se aditar acordo de colaboração premiada rescindido; b) a
relevância de o delator Luiz, na audiência realizada em fevereiro de 2017, ter
exposto supostas ilegalidades que teriam sido cometidas durante o primeiro
acordo de colaboração premiada. A 2ª Turma do STF, por empate na votação,
concedeu a ordem de habeas corpus para declarar a nulidade da utilização,
como meio de prova, do segundo acordo de colaboração premiada firmado. O
colegiado reconheceu a ilicitude das declarações incriminatórias prestadas por
Luiz e sua irmã. O relator ressaltou que o estabelecimento de balizas legais para
o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para garantir a isonomia e
evitar a corrupção dos imputados, mediante incentivos desmesurados à
colaboração, e dos próprios agentes públicos, aos quais se daria um poder sem
limite sobre a vida e a liberdade dos imputados. É preciso respeitar a legalidade,
visto que as previsões normativas caracterizam limitação ao poder negocial no
70
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

processo penal. No caso de ilegalidade manifesta (evidente) em acordo de


colaboração premiada, o Poder Judiciário deve agir para a efetiva proteção de
direitos fundamentais. O acordo de colaboração premiada é meio de obtenção
de prova. Portanto, trata-se de instituto de natureza semelhante, por exemplo,
à interceptação telefônica. O STF reconheceu, várias vezes, a ilegalidade de atos
relacionados a interceptações telefônicas. Logo, não há motivo para afastar
essa possibilidade em ilegalidades que permeiam acordos de colaboração
premiada. STF. 2ª Turma. HC 142205, Rel. Gilmar Mendes, julgado em
25/08/2020 (Info 988).

STF: Não há, no momento, decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU


impedimento para o prosseguimento das ações penais que tramitam no Brasil
contra o ex-Presidente Lula12
A defesa do ex-Presidente Lula formulou reclamação ao Comitê de Direitos
Humanos da Organização das Nações Unidas alegando que o processo penal
que tramita contra ele no Brasil teria violado disposições do Pacto Internacional
de Direitos Civis e Políticos. Ainda não há decisão final de mérito do Comitê. A
defesa impetrou habeas corpus no STF pedindo que a ação penal proposta
contra ele fique sobrestada até que haja um pronunciamento final do Comitê
da ONU. A 2ª Turma do STF, contudo, indeferiu o pedido de suspensão do
julgamento da ação penal até pronunciamento final do Comitê de Direitos
Humanos da ONU. Segundo explicou o STF, a decisão do Comitê negou a
concessão de “medidas provisionais” em favor de Lula. Isso significa que o
referido órgão não determinou a suspensão de ações penais instauradas em
desfavor do paciente. O comitê, em princípio, não reconheceu a prática de ato
imputável ao Estado brasileiro que pudesse vulnerar a ordem internacional. O
Ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a deliberação final de mérito do

12 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/09/info-985-stf.pdf
71
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

Comitê da ONU, a depender do resultado proclamado, poderá impedir, frustrar


ou anular os processos criminais que tramitam contra Lula. No entanto, por ora,
não há uma decisão impedindo o prosseguimento das ações penais. STF. 2ª
Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

STJ: Não é permitido o ingresso na residência do indivíduo pelo simples fato de


haver denúncias anônimas e ele ter fugido da polícia13
A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga
do acusado ao avistar a polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a
autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado sem o seu consentimento
ou sem determinação judicial. STJ. 5ª Turma. RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro
Dantas, julgado em 18/02/2020 (Info 666). STJ. 6ª Turma. RHC 83.501-SP, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018 (Info 623).

Tema quente e recorrente nas listas de transmissões de jurisprudências selecionadas


para os servidores da DPE RJ: A observância que para o STJ não se justifica a invasão de
domicílio pelo fato do agente ao avistar a viatura policial dar passos acelerados ou correr
ingressando na residência. De igual maneira, com fulcro em denúncia anônima, mesmo em
casos de delito permanente, ou que a autorização de ingresso se deu por conta de evidente
pressão.

STF: O delatado tem o direito de acesso aos termos de colaboração premiada


que mencionem seu nome, desde que já tenham sido juntados aos autos e não
prejudiquem diligências em andamento
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos
colaboradores que o incriminem, desde que já documentadas e que não se

13 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/05/info-666-stj-1.pdf
72
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

refiram à diligência em andamento que possa ser prejudicada. STF. 2ª Turma.


Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info
965)

STF: É possível o compartilhamento, sem autorização judicial, dos relatórios de


inteligência financeira da UIF e do procedimento fiscalizatório da Receita
Federal com a Polícia e o Ministério Público
1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira
da UIF e da íntegra do procedimento fiscalizatório da Receita Federal do Brasil
(RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal
para fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial,
devendo ser resguardado o sigilo das informações em procedimentos
formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional. 2. O
compartilhamento pela UIF e pela RFB, referente ao item anterior, deve ser
feito unicamente por meio de comunicações formais, com garantia de sigilo,
certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de
apuração e correção de eventuais desvios. STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel.
Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral – Tema 990) (Info
962).

STF: Delatado e direito de falar por último


A denegação ao réu delatado da possibilidade de apresentar suas alegações
finais, após o prazo concedido ao agente colaborador, equivale à supressão do
seu direito de defesa, pois o interesse processual do delator é absolutamente
oposto ao do delatado, uma vez que o delator não tem mais interesse em se
defender. Portanto, traduz solução hermenêutica mais compatível com os
postulados que informam o estatuto constitucional do direito de defesa a
prerrogativa do réu delatado de produzir suas alegações finais após a
apresentação de memoriais ou de alegações finais do litisconsorte penal
73
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Princípios, Lei Processual no Tempo e no Espaço, Em Relação Às
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passivo que, mediante colaboração premiada, o incriminou. Plenário, HC


166373/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 2.10.2019. (Info 954 STF)

STF: Réus colaboradores não podem se manifestar por último, em razão da


carga acusatória que existe em suas informações. Assim, permitir o
oferecimento de memoriais escritos de réus colaboradores, de forma
simultânea ou depois da defesa — sobretudo no caso de utilização desse meio
de prova para prolação de édito condenatório — compromete o pleno exercício
do contraditório, que pressupõe o direito de a defesa falar por último, a fim de
poder reagir às manifestações acusatórias. Segunda Turma, HC 157627 AgR/PR,
rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 27.8.2019. (Info 949 STF)

STF: Condução coercitiva para interrogatório e recepção pela Constituição


Federal
Não é possível a condução coercitiva de investigados ou de réus para
interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado (Informativo 905). ADPF 395/DF, rel. Min.
Gilmar Mendes, julgamento em 13 e 14.6.2018. (ADPF-395) e ADPF 444/DF, rel.
Min. Gilmar Mendes, julgamento em 13 e 14.6.2018. (ADPF-444)

10. SÚMULAS

Súmulas também não caem em prova, DESPENCAM! ATENÇÃO ao estudar!


OBS: com as súmulas também estudaremos de forma aleatória para não limitar nosso estudo já que a
quantidade por tema é variável.
OBS: Grifem de uma cor diferente aquela súmula que possui mais dificuldade para assimilar ou que
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Pessoas E Interpretação Da Lei Processual Penal

reputa muita importante!Usaremos esses grifados também nas revisões!

Competência

Súmula 38, STJ - Compete à justiça estadual comum, na vigência da Constituição


de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em
detrimento de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades.
Súmula 42, STJ - Compete à justiça comum estadual processar e julgar as causas
cíveis em que e parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em
seu detrimento.
Súmula 48, STJ - Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita
processar e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de
cheque.
Súmula 53, STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar civil
acusado de prática de crime contra instituições militares estaduais.
Súmula 59, STJ - Não há conflito de competência se já existe sentença com
trânsito em julgado, proferida por um dos juízos conflitantes.
Súmula 78, STJ - Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de
corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade
federativa.
Súmula 104, STJ - Compete a Justiça Estadual o processo e julgamento dos
crimes de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento
particular de ensino.
Súmula 107, STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime
de estelionato praticado mediante falsificação das guias de recolhimento das
contribuições previdenciárias, quando não ocorrente lesão à autarquia federal.
Súmula 122, STJ - Compete à justiça federal o processo e julgamento unificado
dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra
do art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal.
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Súmula 140, STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime
em que o indígena figure como autor ou vítima.
Súmula 147, STJ - Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes
praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o
exercício da função.
Súmula 151, STJ - A competência para o processo e julgamento por crime de
contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar
da apreensão dos bens.
Súmula 164, STJ - O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua
sujeito a processo por crime previsto no art. 1. do Decreto-lei n. 201, de
27/02/67.
Súmula 165, STJ - Compete à justiça federal processar e julgar crime de falso
testemunho cometido no processo trabalhista.
Súmula 200, STJ - O juízo federal competente para processar e julgar acusado
de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou.
Súmula 208, STJ - Compete à Justiça Federal processar e julgar prefeito
municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão
federal.
Súmula 209, STJ - Compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por
desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
Súmula 244, STJ - Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o
crime de estelionato mediante cheque sem provisão de fundos. (• Superada
pela Lei nº 14.155/2021, que inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP.)
Súmula 528, STJ - Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga
remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico
internacional.
Súmula 546, STJ - A competência para processar e julgar o crime de uso de
documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi
apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
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expedidor.
Súmula Vinculante 36 - Compete à Justiça Federal comum processar e julgar
civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso
quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou
de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha
do Brasil.
Súmula Vinculante 45 - A competência constitucional do Tribunal do Júri
prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
pela constituição estadual.
Súmula 498, STF - Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o
processo e o julgamento dos crimes contra a economia popular.
Súmula 521, STF - O foro competente para o processo e julgamento dos crimes
de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão
de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado. (•
Superada pela Lei nº 14.155/2021, que inseriu o § 4º ao art. 70 do CPP.)
Súmula 522, STF - Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando, então, a
competência será da Justiça Federal, compete à justiça dos estados o processo
e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Súmula 555, STF - É competente o Tribunal de Justiça para julgar conflito de
jurisdição entre Juiz de Direito do estado e a Justiça Militar local.
Súmula 556, STF - É competente a justiça comum para julgar as causas em que
é parte sociedade de economia mista.
Súmula 603, STF - A competência para o processo e julgamento de latrocínio é
do juiz singular e não do Tribunal do Júri.
Súmula 611, STF - Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao
juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.
Súmula 704, STF - Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do
devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do
corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.
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Súmula 706, STF - É relativa a nulidade decorrente da inobservância da


competência penal por prevenção.
Súmula 712, STF - É nula a decisão que determina o desaforamento de processo
da competência do júri sem audiência da defesa.

SUGESTÃO DE LEITURA PARA APROFUNDAR O ESTUDO


ô Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro
ô Sinopse Juspodvim, Leonardo Barreto Moreira Alves

TAREFAS PARA O ESTUDO ATIVO

01. O que é interpretação prospectiva do Processo Penal?

02. Quais são os princípios do sistema garantista?

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03. Cite as principais características dos sistemas penais:

SISTEMA INQUISITÓRIO SISTEMA ACUSATÓRIO SISTEMA MISTO

04. De acordo com Aury Lopes Jr., como deveria ser encarado o sistema processual brasileiro?

05. Sucintamente, explique os princípios do Direito Processual Penal:

Da presunção de inocência

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Da paridade de armas

Da ampla defesa

Da plenitude da defesa

Do in dubio pro reo

Do contraditório

Da publicidade

Da vedação das provas ilícitas

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Da economia processual

Do devido processo legal

Do nemo tenetur se detegere

Da iniciativa das partes

Do duplo grau de jurisdição

Do juiz natural

Da indisponibilidade da ação penal

Da oficialidade

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Da pessoalidade das penas

Da vedação ao bis in idem

Da busca da verdade real

Da oralidade

Da indivisibilidade da ação penal privada

Da comunhão da prova

Do impulso oficial

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06. Em quais hipóteses a prova ilícita NÃO será inutilizada?

07. Quais são os desdobramentos do direito de não produzir prova contra si mesmo?

08. Diferencie:

Normas Processuais Heterotópicas Normas Processuais Materiais

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09. Sobre a lei processual em relação às pessoas, explique:

- Imunidades diplomáticas

- Imunidades parlamentares

10. Qual o entendimento do STF sobre o foro por prerrogativa de função para os Defensores Públicos?

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11. Diferencie:

ANALOGIA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA

QUESTÕES PROPOSTAS

01 – 2022 - INSTITUTO AOCP - DPE-PR - Defensor Público


Acerca dos direitos e das garantias fundamentais aplicáveis ao processo penal, assinale a alternativa correta.

a) O Supremo Tribunal Federal admite a execução provisória da decisão penal condenatória, enquanto pendente
de julgamento os recursos extraordinários, porquanto estes não possuem efeito suspensivo.
b) Segundo entendimento dos Tribunais Superiores, no processo penal, a deficiência da defesa técnica constitui
nulidade absoluta.
c) A autodefesa engloba o direito de presença, de audiência e o direito de postular pessoalmente em
determinados atos do processo penal.
d) Não viola a ampla defesa a publicação de acórdão condenatório sem o voto vencido.
e) É indispensável a intimação do denunciado para oferecer contrarrazões ao recurso interposto contra a decisão
que rejeitou a denúncia, exceto se oferecida pelo Defensor Público natural.

02 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


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Julgue o item a seguir, referentes ao direito processual penal.

Não viola o princípio da ampla defesa o indeferimento do rol de testemunhas de defesa apresentado fora do
prazo legal estipulado inicialmente, todavia nada impede que elas sejam ouvidas como testemunhas do juízo,
caso estejam presentes os requisitos para tanto.
( ) Certo ( )Errado

03 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Julgue o item a seguir, referentes ao direito processual penal.

De acordo com o princípio da vedação da autoincriminação, previsto expressamente no Pacto de São José da
Costa Rica, se, no curso da instrução processual, o acusado se retratar de confissão anteriormente oferecida,
inclusive já no curso do processo, essa confissão não poderá ser considerada pelo juiz para fundamentar
eventual sentença condenatória.
( ) Certo ( ) Errado

04 - 2021 - CESPE / CEBRASPE - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto - Prova 1


Julgue o item a seguir, referentes ao direito processual penal.

De acordo com as normas de direito intertemporal estabelecidas pelo Código de Processo Penal, se sobrevier
nova lei processual no curso do processo criminal, deverão ser repetidos os atos processuais praticados antes
do início da sua vigência, caso estejam em desconformidade com o novo diploma.
( ) Certo ( ) Errado

05 - 2021 - FCC Órgão - TJ-GO - Juiz Substituto


No tocante às garantias constitucionais aplicáveis ao processo penal:

a) todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, mas não somente a estes.

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b) o civilmente identificado jamais pode ser submetido a identificação criminal, sob pena de caracterização de
constrangimento ilegal.
c) o preso tem direito à identificação do responsável por sua prisão, mas nem sempre por seu interrogatório
policial.
d) a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação são garantias
exclusivamente aplicáveis à ação penal.
e) a garantia do juiz natural é contemplada, mas não só, na previsão de proibição de juízo ou tribunal de exceção.

06 - 2021 - FUNDEP (Gestão de Concursos) - MPE-MG - Promotor de Justiça Substituto


Sobre os princípios constitucionais penais e processuais penais, é INCORRETO afirmar:
a) O Princípio da Legalidade veda a criação judicial de tipos penais por decisão judicial, salvo na hipótese em que
há mandado expresso de criminalização.
b) Ao lado de direitos e garantias em favor dos acusados, o art. 5º da Constituição da República de 1988 traz
mandados expressos de criminalização, conferindo legitimidade à tutela penal.
c) O flagrante de crime permanente permite o ingresso não autorizado em casa alheia, afastando a garantia de
inviolabilidade do domicílio, mesmo no período noturno.
d) Textualmente, a Constituição da República de 1988 não dispõe sobre a garantia de não autoincriminação,
mas apenas sobre o direito ao silêncio.

07 - 2019 - CESPE/CEBRASPE - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto


Acerca de princípios processuais constitucionais, assinale a opção correta.

a) Em razão do princípio da inocência, caso o crime seja um fato típico, antijurídico e culpável, caberá à acusação
provar a inexistência da causa de exclusão da antijuridicidade alegada pelo réu.
b) Em razão do princípio in dubio pro reo, a qualificadora do crime de roubo pelo uso de arma será excluída se
o réu alegar ter utilizado um simulacro de arma de fogo que tenha sido confundido pela vítima.
c) Fere os princípios do contraditório e da ampla defesa a não intimação da defesa acerca da expedição de carta
precatória para oitiva de testemunha arrolada residente em outra comarca.
d) O princípio do juiz natural impede o desaforamento de julgamentos do tribunal do júri para comarca que não
seja circunvizinha de local que gere dúvida acerca da imparcialidade dos jurados.
e) Fere o princípio da vedação de provas ilícitas a apreensão, sem prévia autorização judicial de busca, de

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substância entorpecente na residência de investigado por associação criminosa para o tráfico ilícito de drogas.

08 - 2018 – FCC – DPE-MA – Defensor Público


“Um homem acusado de assalto foi morto por linchamento pela população em São Luís do Maranhão. Segundo
a Polícia Militar (PM), J.F.B agiu com um comparsa na abordagem de um eletricista em uma parada de ônibus,
na Avenida Marechal Castelo Branco" (Portal G1 MA, 10/04/2018). A notícia acima demonstra a NÃO
observância do seguinte princípio do processo penal democrático:

a) contraditório.
b) jurisdicionalidade ou necessidade.
c) imparcialidade.
d) juiz natural.
e) paridade de armas.

09 - 2018 - VUNESP - TJ-SP - Juiz Substituto


São princípios constitucionais processuais penais explícitos e implícitos, respectivamente:

a) intranscendência das penas e motivação das decisões; e intervenção mínima (ou ultima ratio) e duplo grau
de jurisdição.
b) contraditório e impulso oficial; e adequação social e favor rei (ou in dubio pro reo).
c) dignidade da pessoa humana e juiz natural; e insignificância e identidade física do juiz.
d) não culpabilidade (ou presunção de inocência) e duração razoável do processo; e não autoacusação (ou nemo
tenetur se detegere) e paridade de armas.

10 – 2017 – FCC – DPE-PR – Defensor Público


Os princípios constitucionais aplicáveis ao processo penal incluem:

a) indisponibilidade.
b) verdade real.
c) razoável duração do processo.
d) identidade física do juiz.

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e) favor rei.

11 – 2016 – FCC – DPE-ES – Defensor Público


Sobre a garantia do duplo grau de jurisdição,

a) é típico de sistemas processuais inquisitivos e se vale para uma melhor gestão da prova em virtude da
colegialidade dos Tribunais.
b) não se aplica nos Juizados Especiais Criminais, em virtude da informalidade que vigora nesse sistema.
c) é expressa e explicitamente prevista na Constituição de 1988, aplicando-se, inclusive, aos casos de
competência originária do STF.
d) a jurisprudência dominante dos Tribunais Superiores considera aplicável o duplo grau de jurisdição apenas
em relação ao acusado, não podendo o Ministério Público recorrer em caso de absolvição em primeira instância.
e) a Corte Interamericana de Direitos Humanos já decidiu que no caso de o acusado ter sido absolvido em
primeiro grau, mas em razão de recurso da acusação, é condenado em segundo grau pela primeira vez, deve ser
garantido recurso amplo desta decisão, podendo rediscutir questões de fato e de direito.

12 – 2016 – UFMT – DPE-MT – Defensor Público:


Quanto à eficácia temporal, a lei processual penal

a) aplica-se somente a fatos criminosos ocorridos após a sua vigência.


b) tem aplicação imediata, sem prejuízo da validade dos atos já realizados.
c) vigora desde logo, tendo sempre efeito retroativo.
d) tem aplicação imediata nos processos ainda não instruídos.
e) não tem aplicação imediata, salvo para beneficiar o acusado.

13 - 2015 - CESPE/CEBRASPE - DPE-RN - Defensor Público Substituto


Assinale a opção correta a respeito dos sistemas de processo penal e da interpretação da lei processual penal
segundo o CPP e o entendimento do STJ.

a) De acordo com o CPP, a analogia equivale à norma penal incriminadora, protegida pela reserva legal, razão
pela qual não pode ser usada contra o réu.

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b) No sistema inquisitivo, a confissão é considerada a rainha das provas e predominam nele procedimentos
exclusivamente escritos.
c) A lei processual penal veda a interpretação extensiva para prejudicar o réu.
d) A interpretação extensiva é um processo de integração por meio do qual se aplica a uma determinada situação
para a qual inexiste hipótese normativa própria um preceito que regula hipótese semelhante.
e) Para o uso da analogia, é importante considerar a natureza do diploma de onde se deve extrair a norma
reguladora.

14 – 2015 – FCC – DPE-SP – Defensor Público


“Paridade de armas no processo penal é a igual distribuição, durante o processo penal (...) aos envolvidos que
defendem interesses contrapostos, de oportunidades para apresentação de argumentos orais ou escritos e de
provas com vistas a fazer prevalecer suas respectivas teses perante a autoridade judicial" (Renato Stanziola
Vieira, Paridade de armas no processo penal, Gazeta Jurídica, Brasília, 2014, p. 236).
Com base no texto acima, é situação de NÃO violação ao princípio da paridade de armas:

a) Oferecimento de parecer do Ministério Público em recurso decorrente de ação penal de iniciativa pública.
b) Sustentação oral no Ministério Público após a defesa, em julgamento de recurso exclusivo da acusação.
c) Sigilo das medias cautelares em curso na investigação preliminar, cuja ciência ao investigado ou defensor
possa prejudicar a eficácia do ato.
d) Abertura de vista ao Ministério Público após oferecimento de resposta à acusação, onde se alega atipicidade
pela incidência do princípio da insignificância.
e) Distribuição dos espaços físicos entre as partes nos julgamentos populares.

15 – 2015 – FCC – DPE-MA – Defensor Público


A necessidade de assegurar que as partes gozem das mesmas oportunidades e faculdades processuais consiste
o conteúdo do princípio processual:

a) da paridade de armas.
b) do contraditório.
c) da ampla defesa.
d) da identidade física do juiz.

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e) do estado de inocência.

16 - 2015 - FCC - TJ-RR - Juiz Substituto


A lei processual penal brasileira:

a) admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de
direito.
b) aplica-se desde logo, em prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
c) retroage no tempo para obrigar a refeitura dos atos processuais, caso seja mais benéfica ao réu.
d) não admite definição de prazo de vacatio legis.
e) será aplicada nos atos processuais praticados em outro território que não o brasileiro, em casos de
extraterritorialidade da lei penal.

17 – 2015 – CESPE – DPE-PE – Defensor Público


Acerca de aspectos diversos do processo penal brasileiro, o próximo item apresenta uma situação hipotética,
seguida de uma assertiva a ser julgada.

Alberto e Adriano foram presos em flagrante delito. O juiz que analisou a prisão em flagrante concedeu a Alberto
a liberdade provisória mediante o recolhimento de fiança arbitrada em um salário mínimo. Quanto a Adriano,
foi-lhe decretada a prisão preventiva. Antes que o autuado Alberto recolhesse o valor da fiança e que a DP
impetrasse habeas corpus em favor de Adriano, entrou em vigor lei processual penal nova mais gravosa, que
tratou tanto da fiança quanto da prisão preventiva. Nessa situação, a lei processual penal nova que tratou da
fiança aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Entretanto, à prisão preventiva aplicar-se-ão os dispositivos que forem mais favoráveis ao interessado.
( ) Certo ( )Errado

18 – 2014 – FCC – DPE-CE – Defensor Público


Em relação à lei processual penal, é correto afirmar que, em regra,

a) admite suplemento dos princípios gerais do direito e aplicação analógica.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL
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b) a lei anterior tem ultratividade para beneficiar o acusado.


c) admite interpretação extensiva, mas não aplicação analógica.
d) os atos realizados sob a vigência da lei anterior devem ser refeitos.
e) tem aplicação imediata, mesmo em período de vacatio legis e ainda que menos benéfica.

19 – 2014 – FCC – DPE-RS – Defensor Público


No Brasil, segundo a maioria dos doutrinadores, vige o sistema processual penal do tipo acusatório. São
características deste sistema processual penal

a) a imparcialidade do julgador, a flexibilização do contraditório na medida da necessidade para reconstrução


da verdade real e a relativização do duplo grau de jurisdição.
b) o sigilo das audiências, a imparcialidade do julgador e a vedação ao duplo grau de jurisdição.
c) a igualdade das partes, o contraditório e a publicidade dos atos processuais.
d) a absoluta separação das funções de acusar e julgar, a publicidade dos atos processuais e a inexistência da
coisa julgada.
e) o sigilo absoluto do inquérito policial, a publicidade dos atos processuais e o duplo grau de jurisdição.

20 – 2014 – FCC – DPE-RS – Defensor Público


Acerca dos princípios e garantias fundamentais aplicáveis ao processo penal, o princípio:

a) da ampla defesa assegura ao réu a indisponibilidade ao direito de defesa técnica, que pode ser exercida por
defensor privado ou público. Entretanto, quando a defesa técnica for realizada por Defensor Público, será
sempre exercida através de manifestação fundamentada.
b) do duplo grau de jurisdição, expressamente previsto na Constituição Federal, assegura a todos os acusados a
revisão da sentença condenatória.
c) da presunção de inocência impõe um dever de tratamento ao réu, que deve ser considerado inocente durante
a instrução do processo. Porém, após o advento de uma sentença condenatória e enquanto tramitar(em) o(s)
recurso(s), esta presunção passa a ser de culpabilidade.
d) da publicidade, inserto no art. 93, IX, da Constituição Federal, estabelece que todos os julgamentos dos órgãos
do Poder Judiciário serão públicos, não admitindo qualquer limitação por lei ordinária, a fim de que não
prejudique o interesse público à informação.

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e) ne procedat judex ex officio estabelece a inércia da jurisdição. Sendo assim, o Código de Processo Penal proíbe
ao juiz determinar, de ofício, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências
para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Respostas14

14 01: C 02: C 03: E 04: E 05: E 06: A 07: C 08: B 09: D 10: C 11: E 12: B 13: B 14: C
15: A 16: A 17: E 18: A 19: C 20: A
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