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Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…

De onde vem a moeda?


Aula 04 - Parte I
O Crédito e a Contradição

Fontes nos últimos slides


O que será apresentado

1. Introdução ao tema Aula 01

2. Moeda ≠ Dinheiro ≠ Valor Aula 01

3. História da dívida e da moeda Aula 01

4. Moeda fiduciária e política fiscal Aula 02

5. Banco central e política monetária Aula 03

6. Moeda escritural e crédito bancário Aula 04

7. Rentismo, inflação e crises financeiras Aula 05

8. Multipolarismo e des-dolarização Aula 06


Recapitulando as aulas anteriores
Recapitulando as aulas anteriores Aula 01

Os vários tipos de valor

Valor de uso:
Utilidade real da coisa para quem a consome.
(O que realmente importa)

Trabalho abstrato:
Dispêndio de trabalho social para produzir a coisa.
(O real custo das coisas)

Valor de troca (preço): Valor definido socialmente através da troca.

Valor contratual: Valor acordado com o propósito de quitar dívidas.


Recapitulando as aulas anteriores Aula 01

Quando medimos o valor de troca e o valor contratual

Pagar impostos e tributos definidos por instituições.

Pagar multas e compensações definidas por instituições.

Pagar valores contratuais definidos entre indivíduos e instituições.


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Quando medimos o valor de troca e o valor contratual

Se uma instituição centralizada ou um conjunto de instituições detém o poder de


cobrar tributos, julgar conflitos, e gerenciar as forças produtivas… essa
instituição tem o poder de definir o valor das coisas como sendo o valor que ela
própria aceita para quitar tributos, compensações e contratos.
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Quando medimos o valor de troca e o valor contratual

Essa mesma instituição pode definir qualquer coisa como meio de pagamento
para os valores devidos à ela. Essas “coisas” poderiam ser horas de trabalho,
gramas de sal, sacas de cevada, moedas de ouro, cédulas de papel, anotações
contábeis, ou bits em um computador…
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Dinheiro ≠ Moeda

Unidade de valor para comparar mercadorias. Pode ser ouro,


Dinheiro: prata, grãos, escravos, etc. Está relacionado com o Valor de
Troca e cumpre papel de intermediário nas transações.

Unidade de valor institucionalmente definida para pagar dívidas.


Moeda: Pode ser um objeto ou abstração que a instituição credora
determina. Está relacionado com o valor contratual.
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As dívidas antigamente tinham “valor” porque:

Perdia-se terras ao não pagar dívidas

Perdiam-se liberdades ao não pagar dívidas

Sofria-se violência por não pagar indenizações

Sofriam-se consequências militares ao não


pagar tributos para o império/metrópole
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A moeda nos dias de hoje têm “valor” porque:

Perdemos a casa se não pagarmos o banco

Perdemos terras se não pagarmos IPTU / ITR

Perdem-se direitos civis ao não pagar impostos

Ficamos sem água e sem eletricidade se não


pagarmos as contas das distribuidoras

Perdemos acesso ao crédito se não pagamos


nossas dívidas (nome sujo no SERASA/SPC)
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Estados criam moeda e controlam…

Os aparatos de violência que definem


As punições por não pagar dívidas
O poder judiciário que define o
valor de multas e compensações As empresas estatais que definem o
valor dos produtos/serviços ofertados
O poder tributário que define o
valor dos impostos a serem pagos Os bancos públicos que definem o
valor das dívidas e dos juros
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O mercado cria moeda e controla…

Os bancos privados que definem o


valor das dívidas e dos juros

O próprio funcionamento do Estado


O poder tributário indireto que define o
valor dos impostos privados

Mais disso na aula 05 sobre rentismo…


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O capital controla…

O funcionamento do Estado O funcionamento do mercado

O Estado e o mercado são controlados pela própria lógica do capital, que define as
maneiras como essas instituições irão se comportar. Conforme os mercados buscam o
lucro e os Estados visam preservar o capital, essas necessidades controlam a “mente” da
sociedade assim como o cordyceps controla o cérebro de insetos infectados.
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Dinheiro ≠ Moeda

Dinheiro: Estados e bancos não criam dinheiro!

Moeda: Estados e bancos criam moeda!

As dívidas servem para forçar a moeda a ser utilizada como se


Dívidas: fosse dinheiro, garantindo que as instituições que criam moeda
possam se apoderar de recursos econômicos.
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O que é o feitiço/fetiche da mercadoria

Feitiço da mercadoria é a ilusão de que quando o agricultor vai para o mercado


e troca arroz por vacas, o próprio valor do arroz está “magicamente” se
transformando em uma vaca. Como se o mercado tivesse poderes de alquimia
para converter um tipo de mercadoria em outra com o mesmo valor de troca.

“Mágica”
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O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

O feitiço do dinheiro é um caso especial do feitiço da mercadoria. A partir desse


ponto, o agricultor vai ao mercado e transforma seu arroz em dinheiro, para em
seguida transformar o dinheiro em vacas. Aqui o poder de alquimia do mercado
extrai o valor do arroz na forma de dinheiro, e depois o transforma em vacas.
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O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

O fetiche do dinheiro é ainda mais forte quando pensamos na relação que nós
temos com os supermercados, apps de entrega de comida, ou compras online.
Fica parecendo que o dinheiro de nossa conta bancária tem o poder mágico de
se transformar nas mercadorias que compramos!
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O feitiço / fetiche da mercadoria trabalho

O feitiço do trabalho é parte do feitiço da mercadoria. É a ilusão de que o


trabalho é formado por “unidades de trabalho”, como se uma médica pudesse
fazer o trabalho de X pedreiros, ou X pedreiros juntos o trabalho de uma médica
simplesmente porque o preço desses trabalhos é o mesmo.
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O feitiço / fetiche da mercadoria trabalho

Para que a mão de obra seja mercadoria, deve existir um mercado de trabalho
em que uma massa de trabalhadores são obrigados a vender a sua capacidade
de gerar valor. O capital compra trabalho como se fosse eletricidade ou carvão.
Mantêr o mercado de trabalho existindo é uma das funções do Estado.
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A alquimia do feitiço do dinheiro

O dinheiro cumpre o papel de substância fundamental do valor à partir da qual


todas as mercadorias são feitas. Da mesma forma que um feiticeiro utiliza suas
energias místicas para criar fogo, água, ar e terra, o mercado utiliza o dinheiro
para criar mercadorias. É como se as coisas fossem feitas de dinheiro.
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A sociedade dominada pelo feitiço do dinheiro

O grande truque de mágica, ou melhor dizendo, a grande ilusão do mercado, é a


ideia de que a economia é uma caixa preta na qual colocamos dinheiro de um
lado e tiramos mercadorias do outro. Isso é obviamente um absurdo! Porém, é
assim que a sociedade capitalista acredita que a economia funciona!

Caixa preta
do Mercado
Recapitulando as aulas anteriores Aula 01

A “ciência” dominada pelo feitiço do dinheiro

Como prova de que a sociedade acredita no “valor fundamental do dinheiro”,


basta ver a obsessão em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)... que nada
mais é do que o somatório, em dinheiro, dos preços de todas as mercadorias
que circulam na economia em um dado intervalo de tempo.

PIB
Recapitulando as aulas anteriores Aula 01

O PIB e o feitiço do dinheiro

A medida do PIB é meramente a transformação de tudo o que existe na


economia em valor de troca, expresso na forma dinheiro. O PIB não mede o
valor de uso das coisas. No PIB, uma estátua gigante de ouro maciço que
custa 1 bilhão de Reais vale tanto quanto um hospital de 1 bilhão de reais.
Recapitulando as aulas anteriores Aula 01

O feitiço / fetiche do trabalho

O que produz as coisas com valor de uso é o trabalho humano e os recursos


da natureza que são transformados pelo trabalho. Dinheiro não é matéria prima.
Nossa infraestrutura produtiva, recursos naturais e conhecimentos técnicos
determinam quanto cada tipo de trabalho produz de valor de uso.
Recapitulando as aulas anteriores Aula 01

A moeda e o poder econômico

O dinheiro nada cria, apenas controla a produção e distribuição na sociedade.


Quando uma instituição ou conjunto de instituições tem o poder de forçar sua
moeda a ser utilizada como dinheiro, essa instituição tem o poder de controlar
os recursos que toda a sociedade produz. Quem controla essa instituição?

Caixa preta
do Mercado
Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A moeda sem as relações de classe

Na ausência de relações de classe, podemos dizer que o Estado cria moeda toda a vez
que realiza um déficit. A moeda criada dessa maneira é um passivo financeiro do
Estado e um ativo financeiro da população. Por causa das dinâmicas dos impostos,
mercadorias e dívidas, essa moeda cumpre o papel de dinheiro na sociedade.

Déficit
Moeda Moeda

Estado Ativos Passivos Ativos Passivos População


Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A moeda sem as relações de classe

A moeda também existe digitalmente, criada por Bancos Centrais como reservas.
Essa é a moeda que o sistema bancário utiliza.

Reservas Reservas Depósitos Depósitos

Ativos Passivos Ativos Passivos Ativos Passivos

Banco Central + Estado Bancos População


Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A moeda sem as relações de classe

A mesma moeda criada com o déficit federal sai de circulação quando retorna ao Estado,
na forma de pagamentos por serviços e produtos públicos, ou pagamentos de valores
devidos ao Estado (impostos e dívidas bancárias). Como a moeda e as dívidas são
ativos e passivos medidos na mesma unidade, ambos podem anular o outro.

Moeda Moeda

Impostos Moeda Moeda Impostos


Estado Ativos Passivos Ativos Passivos População
Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A criação da moeda e a criação de demanda pela moeda são feitas através de instituições do
Estado e do Mercado. Na aula 02 vimos os itens [★], na aula 03 vimos o item [⍟], e nas aulas
seguintes veremos os itens [☆].

Criadores de moeda Criadores de demanda por moeda


★ Déficits orçamentários Impostos ★
Estado ☆ Crédito de bancos públicos Produtos/serviços estatais ★ Estado

⍟ Juros da dívida pública Valores devido à bancos públicos ☆

Mercado ☆ Crédito de bancos privados Produtos/serviços privados ☆


Mercado
Valores devido à bancos privados ☆
Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A moeda sem as relações de classe

Supondo que o Estado atua pelo bem comum, a moeda é criada em troca de valor
produzido pela sociedade, pagando os trabalhadores. Parte do valor é utilizado para a
manutenção e aprimoramento das forças produtivas, e outra parte é distribuído entre a
sociedade para satisfazer nossas necessidades e desejos.

Redistribuição de valor

Valor

Valor Moeda Moeda


Estado Ativos Passivos Ativos Passivos População
Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A moeda sem as relações de classe

Em uma democracia popular, impostos servem para:

1. Criar demanda pela moeda nacional


2. Controlar a inflação de demanda
3. Reduzir a desigualdade
4.5. Incentivar ou desincentivar certas atividade econômicas
6. Proteger setores estratégicos
7. Controlar a balança comercial
8. Impedir fuga de capital
Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

A moeda sem as relações de classe

Os principais limites para o gasto público são

Recursos Reais Reservas Internacionais Poder Político


Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

Quando inserimos o capital e as relações de classe…

A partir do momento em que existem relações de classe e do capital, o Estado continua


criando moeda para extrair valor da sociedade, mas entrega parte desse valor para a
Burguesia e outra parte para o próprio capital. Os recursos reais consumidos pelo capital
se transformam em dinheiro imaterial, que não tem valor de uso.

Distribuição de valor Distribuição de valor

Valor Valor
Valor

Valor Moeda
Moeda Moeda
Ativos Passivos Ativos Passivos Ativos Passivos

Capital Burguesia Estado População


Recapitulando as aulas anteriores Aula 02

Quando inserimos o capital e as relações de classe…

Em uma democracia burguesa, impostos servem para:

1. Criar demanda pela moeda da classe dominante


2. Suprimir os salários e proteger o valor nominal das dívidas
3. Impedir a ascensão de burguesias rivais
4. Incentivar os setores controlados pela classe dominante
5. Desincentivar os setores controlados pelos rivais
6. Proteger setores da burguesia nacional de competição
Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

Contrário ao senso comum e ao discurso da mídia, a tal da dívida pública não é


realmente uma dívida. Como o Estado é capaz de criar sua própria moeda para realizar
qualquer tipo de pagamento interno, não faz sentido essa instituição buscar
financiamento com o mercado. Sendo assim… para que serve a dívida pública?

Me empresta
uma grana? …
Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

Assim como quase tudo no capitalismo, a dívida pública serve para reproduzir capital.
Não é o Estado que precisa da dívida pública para financiar seus gastos, é o próprio
capital que precisa da dívida pública para se multiplicar. Visto que dinheiro parado não
cresce, ele deve se transformar em títulos da dívida para poder procriar.

Quer reproduzir
capital?
Sempre!
Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

O capital sempre deseja se multiplicar, seja na produção de mercadorias na indústria, ou


na especulação com ativos financeiros, ou hibernando nos títulos da dívida pública, ou
fugindo do País para buscar alternativas no exterior. A dívida pública é apenas mais um
bordel no qual o capital ejacula dinheiro para produzir mais de si mesmo.

Título públicos Especular

Indústria Sair do país


Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

Importante ressaltar que, dentre as 4 opções mencionadas, apenas os títulos públicos


removem moeda de circulação. As outras meramente transferem moeda de um agente
para outro, sem que o capital descanse. Se houver mais moeda na economia do que os
investimentos podem absorver, o Estado prepara uma caminha para o capital dormir.

Hora de ninar.

Título públicos
Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

Além de meramente reproduzir capital ou adormecer capital, a dívida pública serve


como instrumento para fazer política monetária, que é a gestão da moeda do País.
Obviamente essa gestão tem objetivos teóricos que existem em democracias utópicas,
assim como objetivos práticos que nos mostram a luta de classes na sociedade.

Título públicos
Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

No mundo utópico, a dívida pública e a política monetária servem para:

Controle da inflação

Aplicação garantida pelo Estado / Controle de demanda

Controle do câmbio

Estabilizar a taxa de juros da economia


Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

Na prática do capitalismo, a política monetária serve para:

Proteger o capital durante a inflação

Alimentar o parasitismo rentista

Concentrar recursos na mão do capital

Manipular o câmbio a favor do capital

Manipular a taxa de juros a favor do capital


Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Dívida pública e política monetária

Quem sustenta o País não são os bancos, fundos de investimento e outros parasitas que
“emprestam” para o Estado. Esses agentes sequer estão emprestando, mas sim
multiplicando capital! O real sustento do País é fruto do esforço da classe trabalhadora
que, apesar de tudo produzir, dificilmente tem renda para “investir” na dívida pública.
Recapitulando as aulas anteriores Aula 03

Na aula 02 foi explicado como o valor produzido pela sociedade é roubado pelo capital
através da política fiscal (esquerda). Na aula 03, foi visto como o roubo também é feito
através da política monetária do Banco Central (direita).

Lucros, dividendos, pedágios Juros dos títulos públicos

Política Monetária
Privatização Compra de títulos
Política Fiscal

Classe
a a dominante
a a

Consumo Meio e base da


Empresas
Arrow Estatais
Arrow Títulos
Arrow Públicos
Arrow
pirâmide social

Imposto
Gasto públicos Gasto públicos
Governo
Nessa Aula

Até o momento vimos como as instituições do Estado que controlam as políticas fiscal e
monetária são usadas para reproduzir capital e roubar valor criado pela sociedade. Ao
longo da aula 04, veremos como o mercado e os bancos privados fazem o mesmo.

Lucros, dividendos, pedágios Juros dos títulos públicos


Não diz pro povo como
Privatização Compra de títulos funcionam os bancos!
Ninguém pode saber
Classe
a a dominante
a a
que criamos moeda!
Consumo Meio e base da
Empresas
Arrow Estatais
Arrow Títulos
Arrow Públicos
Arrow
pirâmide social

Imposto
Gasto públicos Gasto públicos
Governo
Aula 04 - Parte I

A queda na taxa de lucratividade


Apocalipse capitalista
A queda na taxa de lucratividade

O capitalismo lucra cada vez menos…

Antes de falarmos sobre os bancos e a criação de moeda privada, precisamos abordar a


queda na taxa de lucratividade do capitalismo, que está intimamente ligada ao aumento
do endividamento da população, exploração mais intensa dos trabalhadores, destruição
ambiental, e mercantilização de cada vez mais aspectos da sociedade.

Além disso, precisamos entender de onde vem o tal do lucro no capitalismo, por que ele
está se tornando menor, e como o capital está tentando resistir à sua própria extinção.
A queda na taxa de lucratividade

O capitalismo lucra cada vez menos…

A tendência da queda na taxa de lucratividade do capital foi descrita por Karl Marx
que, ao analisar as dinâmicas do capitalismo em sua época, chegou à conclusão de que
as próprias contradições desse sistema econômico inevitavelmente levariam ao seu fim.
Em outras palavras, que a capacidade do capital se reproduzir fica menor com o tempo.

Vamos começar respondendo a pergunta: Karl Marx estava certo quando afirmou que a
taxa de lucratividade do capital tende a cair?
A queda na taxa de lucratividade
Sim. Marx acertou. O que se constatou ao longo dos anos foi uma queda no lucro do mundo.

Taxa de lucratividade ( Média global )

https://thenextrecession.wordpress.com/2014/04/23/a-world-rate-of-profit-revisited-with-maito-and-piketty/
A queda na taxa de lucratividade
No caso dos países do G20, onde o capitalismo é mais “avançado”, o lucro é ainda menor.

Taxa de lucratividade do G20 (%)

Era
Anos neoliberal
dourados

Crise de A grande
lucratividade recessão

https://thenextrecession.wordpress.com/2020/09/20/more-on-a-world-rate-of-profit/
A queda na taxa de lucratividade

O capitalismo vai morrer naturalmente?

Na “ausência de ação humana” o capitalismo acabaria. Porém, no mundo real, o capital e


seus agentes inventaram mecanismos para enfrentar a queda na taxa de lucratividade,
como o colonialismo, imperialismo e neoliberalismo. Quando o capital é ameaçado, ele se
torna violento… principalmente em países emergentes como o Brasil.

Antes de explicar as estratégias do neoliberalismo e imperialismo, vamos primeiro tentar


entender de onde vem o “lucro” do capitalismo e por que esse lucro é cada vez menor.
Trabalho transformado em valor
Conservação da energia
Trabalho transformado em valor

A lei da conservação

Se você colocar 200 gramas de água em um funil, é óbvio que os mesmos 200 gramas de
água irão sair pelo outro lado. Se você misturar 200 gramas de água com 50 gramas de
sal, você terá 250 gramas de água salgada. Não é possível que matéria surja ou
desapareça magicamente. Essa é a lei física da “conservação da massa”.

200g 200g água + 50g sal

200g 250g água salgada


Trabalho transformado em valor

A lei da conservação

Se apenas 198 gramas saírem pelo outro lado do funil, é porque parte da água ficou
presa no interior do funil. Se a mistura de água salgada tiver apenas 248 gramas, é
porque 2 gramas de água evaporaram. Em condições normais, a massa é preservada.
A exceção é quando massa se transforma em energia e vice versa (E=Mc²)

200g 200g água + 50g sal

2g

198g 248g água salgada + 2g vapor


Trabalho transformado em valor

A lei da conservação

Além da conservação de massa, existe também a lei da conservação de energia. Se você


ligar um liquidificador na tomada e acionar as lâminas, toda a energia elétrica irá se
transformar em outros tipos de energia, algumas úteis e outras não. Em resumo, nada se
cria e nada se destrói, as coisas apenas se transformam.

Energia cinética
Energia sonora
Total
1000W energia elétrica Energia térmica
1000W
Energia de deformação
Outras
Trabalho transformado em valor

O que isso tem a ver com capitalismo?

Imagine um vilarejo onde dezenas de famílias coexistem, produzindo seu próprio sustento
e levando o excedente de sua produção para o mercado. Vejamos neste exemplo uma
família que planta batatas. No processo de plantio e colheita, essa família utiliza seu
trabalho e, esse mesmo trabalho é transferido para a batata, na forma de valor.

120 valores Total: 120 valores

Ao trabalhar na produção de batatas, a família adiciona seu trabalho ao produto, de forma


que as batatas passam a representar parte do trabalho dessa família.
Trabalho transformado em valor

A conservação do valor

Digamos que, para produzir batatas, a família utiliza ferramentas rudimentares produzidas
por ela mesma. A confecção dessas ferramentas também demanda trabalho e, conforme
essas ferramentas vão se desgastando (depreciando), o trabalho contido nelas é pouco
a pouco transferido para as batatas. Isso se aplica para máquinas industriais também!

900 valores

110 valores

890 valores 10 valores Total: 120 valores


Trabalho transformado em valor

A conservação do valor

Digamos que essa família utiliza seus próprios cavalos e sua carroça para transportar o
excedente de batatas para o mercado no centro da cidade. Se a família construiu a
carroça e criou os cavalos, tudo isso demandou trabalho, e esse trabalho que existe nos
cavalos e na carroça também é aos poucos transferido para as batatas.

900 valores 10.000 valores 9.990 valores

10 valores
100 valores

890 valores 10 valores Total: 120 valores


Trabalho transformado em valor

A conservação do valor

Quando essa família chega ao mercado, ela troca suas batatas por moedas, crédito, ou
qualquer outro tipo de “coisa” que cumpra o papel de dinheiro. Com o dinheiro da venda,
a família compra queijo produzido por outra família. No fim do processo, o nosso agente
econômico transformou seu trabalho em queijo… algo que sua família não produz!

10 + 10 + 100 = 120 valores 120 valores 120 valores


Trabalho transformado em valor

A conservação do valor

Porém, essa transformação do trabalho em queijo é, na verdade, uma grande ilusão que
surge quando observamos o fenômeno do ponto de vista individual. Esse queijo é fruto do
trabalho de outra família. O que ocorreu nesse vilarejo foi a troca de um tipo de trabalho
(produção de batatas) por outro tipo de trabalho (produção de queijo).

120 valores

120 valores
Trabalho transformado em valor

A conservação do valor

Nesse processo, NÃO EXISTE LUCRO. Uma família produziu 120 unidades de valor e,
por meio do mercado, trocou essas 120 unidades de valor por algo equivalente. Nenhum
capital foi reproduzido e, por consequência, o que foi descrito aqui não é o capitalismo!
A família produz batatas para trocar por outras coisas, não para obter lucro.

120 valores

MERCADO
120 valores
Trabalho transformado em valor

A conservação do valor

Calma lá! Como o “mercado” define os valores de cada mercadoria? Por que X batatas
são trocadas por Y queijos? Existe uma “mão invisível”, onisciente e onipresente que
regula os preços? Como é possível que indivíduos dispersos coordenem suas atividades
de forma que os valores dos frutos de seus trabalhos sejam equiparados e calculados?

MERCADO
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Se você fizer essa pergunta para um economista vulgar, receberá uma explicação
envolvendo a tal “lei da oferta e demanda”. No eixo horizontal temos os preços possíveis
de uma mercadoria, e no eixo vertical temos a quantidade de pessoas interessadas em
comprar (demanda) ou vender (oferta) a mercadoria para cada preço possível.
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

De acordo com essa lei, quanto maior for o preço de uma mercadoria, mais pessoas
terão interesse em produzir e vender. Quanto menor for o preço, menos pessoas irão
querer produzir e vender. Por exemplo, se o preço de mercado para o produto X for R$10,
haverão 5 interessados em produzir… se for R$12, serão 10… se for R$14, serão 20…
N. interessados

Oferta
20

10
5
R$10 R$12 R$14 Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Essa lei também afirma que existe um determinado valor a partir do qual ninguém terá
interesse em produzir e vender. Ainda utilizando o produto X como exemplo, digamos que
se o preço de mercado cair para R$ 8, absolutamente ninguém vai querer produzir. Ou
seja, existe uma espécie de “preço mínimo” para a mercadoria.

R$8 R$9 R$10


N. interessados

Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

No lado da demanda, é o inverso: Quanto maior for o preço de uma mercadoria, menos
pessoas terão interesse em comprar. Quanto menor for o preço, mais pessoas irão
querer comprar. Por exemplo, se o preço de mercado para o produto X for R$10, haverão
16 interessados em comprar… se for R$12, serão 8… se for R$14, serão 4…
N. interessados

Demanda
16

8
4
R$10 R$12 R$14 Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

De acordo com a lei de oferta e demanda, o preço de mercado de cada produto será o
ponto em que a oferta e demanda se cruzam. Em outras palavras, será o preço em que
todas as mercadorias produzidas serão compradas. Para o nosso exemplo do produto X,
esse valor seria aproximadamente R$11,50, com 9 interessados em comprar/vender.
N. interessados

Demanda Oferta

R$11,50 Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

A lei da oferta e demanda também estipula que, nos casos em que uma mercadoria é
vendida por um preço acima de seu valor de “equilíbrio”, a redução na demanda faz com
que parte da mercadoria não seja vendida. Isso força os produtores a reduzirem seus
preços até atingirem esse tal equilíbrio.
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Por outro lado, nos casos em que uma mercadoria é vendida por um preço abaixo de seu
valor de “equilíbrio”, a demanda por essa mercadoria aumenta até que ela se esgote
antes de todas as pessoas conseguirem comprar. Isso força os preços para cima até que
mais produtores entrem no mercado para atingir o valor de equilíbrio.
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

A “lei” opera nos dois sentido, de forma que tanto os preços impactam a oferta/demanda
como a oferta/demanda impacta os preços. Ou seja, se um produto se torna escasso, as
curvas de oferta e demanda se altera, aumentando o valor do preço de equilíbrio.
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

O oposto disso é quando um produto se torna abundante, fazendo com que as curvas de
oferta e demanda se desloquem para a esquerda, de forma que os preços de equilíbrio se
tornam menores. Porém… não acaba por aqui…
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Existem dezenas, centenas ou milhares de possíveis curvas de oferta e demanda,


dependendo do tempo e local observados. A demanda por cavalos reduziu com o
advento dos carros; a oferta de comida aumentou com o avanço tecnológico; as armas
valem mais em tempos de guerra; a água vale mais no deserto, etc…
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Nesse ponto, o tal economista vulgar para o qual você perguntou a respeito da natureza
dos preços iria sorrir, cruzar os braços, erguer o queixo e dizer que a pergunta foi
completamente respondida. Segundo o economista vulgar, a lei da oferta e demanda
explica os preços de equilíbrio, e os preços de equilíbrio explicam a oferta e demanda.
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Embora a lei da “oferta e demanda” pareça fácil de entender, ela tem um problema sério.
Perceba que ela explica por que os preços sobem e descem, além de por que a oferta e a
demanda sobem e descem. Porém, essa lei não explica por que o preço de algo é X!
Por que os preços das mercadorias flutuam em volta de determinados valores?

?
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

A lei de oferta e demanda é incapaz de dizer por que um carro popular custa R$50.000
ao invés de R$5.000 ou R$5.000.000. A lei de oferta e demanda simplesmente supõe que
existe um preço de equilíbrio, definido pela mão invisível, e que a forma das curvas de
oferta e demanda são baseadas nesse tal preço de equilíbrio… Percebeu algo estranho?

?
N. interessados

Demanda Oferta

Preço
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Estamos diante de uma tautologia: Uma proposição que é sempre verdadeira,


independentemente das circunstâncias ou contexto, porque ela simplesmente repete a
mesma informação ou expressa uma relação lógica que é intrinsecamente verdadeira. É
uma afirmação que não pode ser falsa, pois sua validade é auto-evidente, ou redundante.

Oferta e demanda Preço de equilíbrio


Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Segundo economistas vulgares, o preço de equilíbrio explica a oferta e demanda. Além


disso, a oferta e demanda explica o preço de equilíbrio. É uma lógica circular! É o mesmo
que dizer que “as coisas caem por causa da gravidade” e que “a gravidade existe porque
as coisas caem”. Essas afirmações são verdade, mas não explicam o que é a gravidade.

Oferta e demanda Preço de equilíbrio


Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Para “solucionar” isso, economistas vulgares usam dogmas ou deus ex machina.*

* Deus ex machina é um termo utilizado na literatura e teatro para descrever uma solução
inesperada e improvável para um problema na trama. A solução parece vir do nada e é
usada para resolver dilemas complexos, geralmente sem uma construção adequada
dentro da história. O termo se originou na antiga tragédia grega, onde um deus descia ao
palco por meio de uma máquina (machina) para resolver os problemas dos personagens.

Em outras palavras, os economistas vulgares recorrem literalmente à Deus. Porém, não é


um deus qualquer, mas o deus do liberalismo, a mão invisível do mercado.
A mão invisível é quem define o preço de equilíbrio!
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Você está dizendo que os profissionais de economia, que teoricamente estudam para
entender fenômenos complexos, usam a religião para explicar os preços?

Por mais absurdo que possa parecer, a resposta é sim. O motivo para isso é que a
economia vulgar não existe para explicar o funcionamento do mundo, mas sim para criar
justificativas morais e religiosas para manter o status quo.

Oferta e demanda Preço de equilíbrio


Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

Os economistas vulgares, que se espalham em várias escolas de pensamento, como


neoclássicos, liberais, austríacos, neokeynesianos, anarcocapitalistas, marginalistas,
monetaristas, etc, são como diferentes subgrupos de uma mesma religião, na qual todos
acreditam no deus mercado e na mão invisível como sendo a entidade onisciente e
onipresente que controla o funcionamento das sociedades humanas.

Oferta e demanda Preço de equilíbrio


Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

A função desses economistas é a mesma dos líderes religiosos na idade média: utilizar
explicações místicas e divinas para justificar o feudalismo (hoje capitalismo), e dizer que
basta as pessoas confiarem em Deus (hoje a mão invisível) e seguir os mandamentos
divinos (hoje leis do mercado) para serem recompensados por Deus e sentarem ao lado
dele no céu (hoje ser recompensado com riqueza e sentar na mesa com a burguesia).

Oferta e demanda Preço de equilíbrio


Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

E como os marxistas explicam os preços então?

Assim como todas as outras coisas, os marxistas explicam de uma forma complexa,
holística, interdependente e que contraria o senso comum. Por essa razão, é tão difícil
entender a realidade, e por causa disso, muitas pessoas preferem as respostas fáceis e
simples dadas pelos economistas vulgares.
Sendo assim, farei o possível para tentar explicar, de maneira didática, como a teoria do
valor de Karl Marx explica os preços sem usar tautologias ou recorrer aos deuses.
Trabalho transformado em valor

A explicação que não explica

A teoria do valor não apenas explica a oferta e demanda, mas também explica por que as
mercadorias flutuam em volta de um certo valor. Ao invés de apelar para um “preço de
equilíbrio natural” definido pela mão invisível, os marxistas dizem que o cruzamento entre
essas curvas está ligado ao que todas as mercadorias têm em comum: o trabalho.

?
N. interessados

Demanda Oferta

TRABALHO
Preço
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Como mencionado antes, quando produtores de batatas trocam suas mercadorias com
produtores de queijo, não são os produtos que estão sendo comparados, mas sim o
trabalho que existe em cada um deles. É através da comparação entre os trabalhos dos
“batateiros” e dos “queijeiros” que os tais preços de mercado aparecem.

120 valores

120 valores
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Mesmo sem o dinheiro para medir valores dos produtos, isso não impede que diversas
outras unidades de medida sejam utilizadas como forma de equiparar as mercadorias.
Por exemplo, as batatas e queijos poderiam ser comparados com cenouras ou, mais
precisamente, com uma certa quantidade de horas de trabalho para produzir cenouras.

01un. —----

05 h —----
05 h —----
01un. —----
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Porém, quando falamos em horas de trabalho para produzir alguma coisa, não estamos
nos referindo ao tempo que um produtor individual demora, mas sim ao tempo médio
que a sociedade em questão, com suas características produtivas e tecnológicas, demora
para concluir todas as etapas do processo produtivo até finalizar a mercadoria.

01un. —----

05 h —----
05 h —----
01un. —----
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Quando batatas vão ao mercado, pouco importa se foram produzidas por João ou Maria.
Para o mercado, batatas de mesma qualidade são indistinguíveis. Se João demora 6h
para produzir X batatas e Maria demora 4h para produzir a mesma quantidade, o
mercado é incapaz de saber quais batatas são de João e quais são de Maria.

Média Média
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Porém, não vemos os preços na forma de horas, mas sim na forma de dinheiro. Isso
ocorre porque nem mesmo as horas de trabalho servem como critério para comparar
trabalhos distintos. Por exemplo, uma hora cavando um buraco com uma pá não vale o
mesmo que uma hora de cirurgia neurológica em um hospital de última geração.

$
Média Média
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

A única coisa que as mercadorias têm em comum é o trabalho, mas nem mesmo esse
trabalho é igual. Sendo assim, a única forma de comparar esses trabalhos seria encontrar
uma espécie de “unidade fundamental” que representa o trabalho mais simples possível,
e presumir que os outros trabalhos são compostos por uma multiplicação deste.

Trabalho Trabalho
Simples Simples

Trabalho Trabalho Trabalho


Especializado Simples Simples

Trabalho Trabalho
Simples Simples
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Ao invés de um “valor de equilíbrio” definido pela mão invisível, temos um valor de


equilíbrio determinado pela média do trabalho socialmente necessário para produzir algo.
Porém, resta explicar como essa média impacta as curvas de oferta e demanda, e como
as dinâmicas do mercado capitalista fazem os preços se aproximarem dessa média.

Média do
N. interessados

trabalho simples
Demanda Oferta

TRABALHO
Preço
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Ou seja, precisamos responder como é possível que agentes descentralizados e agindo


por conta própria, através de operações de compra e venda em um mercado, são
capazes de aparentemente “descobrir” os preços das mercadorias, fazendo com que os
preços subam e desçam quase que “naturalmente” como abelhas numa colméia.

Média do
N. interessados

trabalho simples
Demanda Oferta

TRABALHO
Preço
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

A resposta não está na metafísica nem religião, mas sim na “tentativa e erro”. Se o preço
de uma mercadoria for maior do que seu custo médio de produção, os agentes que
vendem essa mercadoria passam a acumular riqueza. O que ocorre é que uma certa
quantidade de trabalho individual é trocada por uma quantidade maior de trabalho social.

MERCADO
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Por outro lado, se o preço de uma mercadoria for menor do que seu custo médio de
produção, os agentes que vendem essa mercadoria passam a acumular riqueza à uma
taxa menor do que o restante da sociedade. O que ocorre é que uma certa quantidade de
trabalho individual é trocada por uma quantidade menor de trabalho social.

MERCADO
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Quando um agente, em determinado setor, percebe que seu trabalho tem baixo valor de
troca ao ser comparado com outros, essa pessoa tende a migrar para áreas em que o
trabalho tenha mais valor. Quando agentes pouco produtivos migram de um setor para
outro, isso reduz a quantidade de pessoas no primeiro e aumenta no segundo…

MERCADO
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Com menos pessoas no 1º setor, o custo médio de produção reduz, pois apenas os
agentes mais produtivos permanecem. Em contrapartida, com mais pessoas no 2º setor, o
custo médio de produção aumenta, pois agentes menos produtivos entraram em cena.
Essa “migração” faz os preços flutuarem em torno dos custos médios de produção.

Custo de cada
Custo médio
de produção

agente produtivo

Tempo
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Conforme os frutos do trabalho são comparados uns com os outros, através dos preços,
cada agente econômico considera o trabalho que ele próprio necessita para produzir
uma determinada mercadoria. Sendo assim, cada agente busca o setor em que existe a
maior diferença entre o preço de mercado e o trabalho necessário para produzir.

Valor de mercado R$ 100 R$ 100 R$ 100

Agente 1 R$ 90 R$ 115 R$ 120


Trabalho para
produzir a Agente 2 R$ 120 R$ 110 R$ 105
mercadoria
Agente 3 R$ 130 R$ 110 R$ 115
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Por exemplo, se batatas, cenouras e queijo são trocados como se fossem equivalentes, o
agente 1, em função de suas próprias condições produtivas, percebe que se ele
deseja obter batatas, queijo e cenouras com a menor quantidade de esforço, a melhor
opção é produzir batatas e trocar pelas cenouras e pelos queijos de outras pessoas.

Valor de mercado R$ 100 R$ 100 R$ 100

Agente 1 R$ 90 R$ 115 R$ 120


Trabalho para
produzir a Agente 2 R$ 120 R$ 110 R$ 105
mercadoria
Agente 3 R$ 130 R$ 110 R$ 115
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

No caso do agente 2, imagine que o trabalho individual que ele precisa para produzir
queijo é maior do que o valor de mercado do queijo. Porém, seu esforço para produzir
batatas e cenouras é ainda maior. Nesse caso, se o agente 2 quiser batatas, cenouras e
queijo, mas não houver outro trabalho disponível, a melhor opção seria produzir queijo.

Valor de mercado R$ 100 R$ 100 R$ 100

Agente 1 R$ 90 R$ 115 R$ 120


Trabalho para
produzir a Agente 2 R$ 120 R$ 110 R$ 105
mercadoria
Agente 3 R$ 130 R$ 110 R$ 115
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Suponhamos que, por causa de um aumento na demanda de queijos, o valor de mercado


desse produto tenha se desequilibrado e subido para R$ 110. Isso faz o agente 3, que
antes produzia cenouras com um excesso de trabalho de R$ 10 unidades, agora tenha a
opção de produzir queijos com um excesso de apenas R$ 5.

Valor de mercado R$ 100 R$ 100 R$ 110

Agente 1 R$ 90 R$ 115 R$ 120


Trabalho para
produzir a Agente 2 R$ 120 R$ 110 R$ 105
mercadoria
Agente 3 R$ 130 R$ 110 R$ 115
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Porém, com a saída do agente 3, que era um produtor de cenouras, isso pode reduzir a
produção dessa mercadoria para uma quantidade inferior à demanda, fazendo os preços
subirem conforme os demais agentes são incapazes de oferecer o necessário… Isso
pode incentivar os agentes 1 e 2 a começarem a produzir cenouras.

Valor de mercado R$ 100 R$ 130 R$ 110

Agente 1 R$ 90 R$ 115 R$ 120


Trabalho para
produzir a Agente 2 R$ 120 R$ 110 R$ 105
mercadoria
Agente 3 R$ 130 R$ 110 R$ 115
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Esse deslocamento das forças produtivas novamente impacta os preços, que impactam
as decisões dos agentes, que novamente impactam os preços, criando uma dinâmica de
desequilíbrio constante no mercado conforme os setores estão em constante rearranjo.
É como uma equação em que cada variável impacta todas as outras simultaneamente.

Valor de mercado 22821319378317822498074972198713978


12074987821838794778079171379479812
Agente 1 70019729487391297701789713824074177
Trabalho para 34722417185139581071952715791385750
produzir a Agente 2 17985395171095027901971235980718917
mercadoria 95213791520795127951957898529342905
Agente 3
39428805089405942834983480749014937
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Através dessa tentativa e erro, comparando valores dos trabalhos de diversos setores, o
mercado vai aos poucos reajustando os preços em função do trabalho necessário para a
produção de cada mercadoria. Ou seja, se o valor inicial de alguma mercadoria é baixo
demais, ao longo de múltiplas tentativas e erros o valor começa a subir.

Valor de mercado R$ 100 R$ 110 R$ 105

Agente 1 R$ 90 R$ 115 R$ 120


Trabalho para
produzir a Agente 2 R$ 120 R$ 110 R$ 105
mercadoria
Agente 3 R$ 130 R$ 110 R$ 115
Agente 4…
Agente 5…
Agente 6…
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Porém, como não existe uma unidade fundamental de valor, as mercadorias são
eternamente comparadas umas com as outras de forma dinâmica e variável, se afastando
ou se aproximando de seus “valores reais” sem nunca os atingir. Assim como múltiplos
sóis que orbitam uns aos outros sem jamais encontrar o equilíbrio.

Valor: batata Valor: queijo

Valor: cenoura
Trabalho transformado em valor

ESCLARECIMENTO IMPORTANTE

Não existe valor absoluto, nem unidade fundamental de valor, nem valor universal da hora
de trabalho-padrão! As mercadorias apenas tem valores relativos que aparecem quando
são comparadas umas com as outras no mercado. O preço nada mais é do que o valor de
uma determinada mercadoria, em um determinado lugar, em um determinado instante.

Nos exemplos mostrados aqui, eu apenas indico os valores das mercadorias como uma
forma de facilitar o entendimento do valor. Na realidade, os valores das mercadorias são
como partículas da física quântica, se alterando a todo o momento e cheias de incertezas.
Trabalho transformado em valor

ESCLARECIMENTO IMPORTANTE

Ao “congelar” os preços e estabelecer valores numéricos em um determinado instante, eu


estou fazendo algo que, na engenharia, chamamos de simplificação. A simplificação
permite que eu possa explicar um fenômeno complexo em partes menores. Por exemplo,
simplificando a 1ª metade para explicar a 2ª, depois simplificando a 2ª para explicar a 1ª.

A realidade é não-linear e dialética. Os fenômenos ocorrem todos ao mesmo tempo…


aliás, falando em tempo, vamos considerar outra variável em nossa análise: o tempo.
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Obviamente que esses movimentos não são instantâneos. Um produtor de batatas não
pode descartar sua plantação e imediatamente substituí-la por cenouras. Da mesma
forma que um produtor de cenouras não pode imediatamente começar a fazer queijo.
Reorganizar a produção necessita de tempo quanto mais complexa for a produção.
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Por exemplo, no caso da pandemia do COVID-19, em que o preço do álcool em gel


estava subindo, as indústrias de cerveja conseguiram adaptar suas fábricas para começar
a produzir álcool em gel.[1] O mesmo seria economicamente inviável ou impossível para
indústrias automotivas e têxteis, que não conseguiriam passar por tal transformação.

PANDEMIA
[1] https://www.infomoney.com.br/negocios/ambev-vai-produzir-alcool-em-gel-a-partir-de-producao-de-cerveja/
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Porém, esse movimento não é ordenado, mas sim caótico e imprevisível, feito a partir de
sucessivas tentativas e erros, lucros e prejuízos, surgimentos de empresas e falências,
subprodução e superprodução. O mercado está sempre em constante desequilíbrio
conforme as forças produtivas migram de um setor para outro em busca de lucros.

MERCADO
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Até o momento, estávamos avaliando as decisões de agentes individuais e como esses


agentes tomam decisões baseadas nos preços de mercado. Agora veremos como as
ações de múltiplos agentes produtores impactam os valores de mercado.

??? valores

??? valores
MERCADO

??? valores
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Se existirem, por exemplo, duas famílias que produzam quantidades iguais de batatas, o
valor do produto não será definido pelo trabalho adicionado por cada indivíduo, mas sim
pela média. Se a família mais eficiente gasta 120 unidades de trabalho e a família
menos eficiente gasta 130, o valor das batatas tende à se aproximar de 125.

120 valores

125 valores
MERCADO

130 valores
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Do ponto de vista individual, a família mais eficiente lucrou 5 unidades de valor, pois
transformou 120 unidades de trabalho em 125. A família menos eficiente teve prejuízo de
5 unidades de valor, pois transformou 130 unidades de trabalho em 125. É como se uma
família tivesse indiretamente absorvido parte do valor produzido pela outra.

125 valores

125 valores
5 valores MERCADO

125 valores
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Olhando o sistema como um todo, não existe lucro! Nenhum capital foi reproduzido!
Houve apenas uma transferência de valor de um agente econômico para o outro. Essa
diferença pode ser resultado das ferramentas utilizadas, dos cavalos que puxam a
carroça, da distância que cada família mora do mercado, de conhecimentos técnicos, etc.

125 valores

125 valores
5 valores MERCADO

125 valores
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Se a demanda por batatas aumentar, expandindo a produção para solos menos férteis e
fazendo famílias sem experiência começarem a plantar, a média do trabalho necessário
para produzir batatas aumenta. No mercado, isso aparece como inflação. Os agentes
mais produtivos absorvem uma fatia ainda maior do valor total.

140 valores

140 valores
20 valores MERCADO

140 valores
Trabalho transformado em valor

A média dos valores produzidos socialmente

Se a demanda por batatas diminuir e a família mais eficiente conseguir alimentar todo o
mercado sozinha, a quantidade média de trabalho para produzir batatas diminui. Logo, o
valor de mercado das batatas também diminui, sendo definido pela quantidade de
trabalho adicionado pela família mais produtiva.

120 valores

120 valores
MERCADO

Isso não seria um monopólio? Falaremos disso mais tarde


Trabalho transformado em valor

A divisão do trabalho na sociedade

Voltemos ao caso da nossa família que opera como produtora e que, de acordo com as
leis do mercado, vende suas batatas pelo preço do trabalho necessário para produzi-las.
O valor da batata é baseado na média do trabalho de plantio e colheita, na média do
trabalho para fazer as ferramentas, e na média para a manutenção de cavalos e carroças.

900 valores 10.000 valores 9.990 valores

10 valores
100 valores

890 valores 10 valores Total: 120 valores


Trabalho transformado em valor

A divisão do trabalho na sociedade

Vamos supor agora que existe uma família especializada na produção de ferramentas,
capaz de gastar menos trabalho que todas as outras para criar esses equipamentos. Se
essa família produz ferramentas para todas as demais, o valor das ferramentas se torna
menor e, por consequência, o valor que elas adicionam aos produtos também!

700 valores 10.000 valores 9.990 valores

10 valores
100 valores

693 valores 7 valores Total: 117 valores


Trabalho transformado em valor

A divisão do trabalho na sociedade

Após 11.700 unidade de valor na forma de batatas serem vendidas, é como se 11.000
unidades de valor ficassem com o agricultor e 700 com o produtor das ferramentas. Ao
final desse processo, as ferramentas foram completamente desgastadas (depreciadas), e
precisam ser substituídas, demandando que o ferramenteiro produza mais.

700 valores 10.000 valores 9.000 valores

1.000 valores
10.000 valores

0 valores 700 valores Total: 11.700 valores


Trabalho transformado em valor

A divisão do trabalho na sociedade

Vamos supor agora que existe uma família especializada no transporte de produtos,
capaz de gastar menos trabalho que as outras para montar carroças, criar cavalos e
conduzir. Se essa família oferece serviços para todas as demais, o valor do transporte cái
e, por consequência, o valor que esse processo adiciona aos produtos também!

700 valores 7 valores 6.993 valores

7 valores
100 valores

693 valores 7 valores Total: 114 valores


Trabalho transformado em valor

A divisão do trabalho na sociedade

A especialização das tarefas e o avanço tecnológico reduzem a quantidade de trabalho


necessário para produzir o sustento da sociedade. Quanto mais avançada a civilização,
menos trabalho novo é adicionado aos produtos. Porém, perceba que ainda não existe
lucro nessa sociedade… Cada agente recebe pelo valor que adiciona à mercadoria.

700 valores 7 valores 6.993 valores

7 valores
100 valores

693 valores 7 valores Total: 114 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Nesse caso, a família de agricultores adquire suas ferramentas de uma segunda, e


contrata os serviços de uma terceira para realizar o transporte. Mesmo assim, ela
adiciona seu próprio trabalho às batatas, na forma de 100 unidades de valor. Ao fim do
processo, a família recebe de volta as 100 unidades de valor na forma de dinheiro.

700 valores 7 valores 6.993 valores

7 valores
100 valores

693 valores 7 valores Total: 114 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O que aconteceria se um tal “capitalista” chegasse no vilarejo e decidisse comprar as


ferramentas de uma família, os serviços de transporte da outra, e até mesmo o trabalho
de plantio e colheita dos agricultores? Se as condições do trabalho permanecem as
mesmas, a safra de batatas continuaria valendo 11.400 unidades ao final do processo.

700 valores
6.300 valores 700 valores

10.000 valores 10.000 valores


Total: 11.400

700 valores 0 valores 700 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Se cada um recebe pelo valor que adiciona ao produto, dos 11.400 totais, 700 ficariam
com o transportador, 700 com o ferramenteiro, 10.000 com o agricultor, e zero com o
“capitalista”. Esse último agente, muito confuso, coça sua cabeça e pergunta onde está o
lucro dele! Por que ele recebeu de volta exatamente o que gastou?

!? Produção
11.400 valores

11.400 valores
venda: 11.400 valores
11.400 valores
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O tal “capitalista” chama o ferramenteiro, o cocheiro e o agricultor. Em tom confiante ele


acusa os três de roubo! Afinal de contas, ele foi o único que não recebeu sua parte após
a venda das batatas. O outros três terminaram com mais dinheiro do que começaram,
mas o capitalista recebeu seus mesmos 11.400 de volta. Onde estava a parte dele!?

Eu exijo explicações!

? ? ?
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O tal “capitalista” chama um contador profissional para analisar minuciosamente todas as


despesas e receitas de seu negócio. Após vários dias de cálculos e mais cálculos, o
contador apresenta o veredicto: As despesas e receitas eram iguais pois o tal “capitalista”
havia vendido as batatas exatamente pelo custo de produção.

700 + 10.000 + 700


? 700 10.000 700 = 114
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O consultor diz que não houve roubo. O capitalista recebeu exatamente pelo que pagou.
Afinal de contas, ele desembolsou 11.400 na forma de dinheiro e recebeu 11.400 na
forma de batatas. Seu dinheiro foi totalmente transformado em batatas! Porém, como ele
vendeu as batatas pelo preço de mercado, ele recebeu os mesmos 11.400 de volta.

11.400 = 11.400
? 11.400 valores

11.400 valores
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O tal “capitalista” diz: Mas eu abri mão do meu dinheiro no curto prazo! Onde está a minha
parte pelo risco? Onde está a minha parte por ter abdicado de conforto presente buscando
um conforto futuro? Cadê minha recompensa por ser paciente?

O contador responde: As coisas que você mencionou não adicionam valor ao produto, pois
não representam custos de produção. Logo, não tem valor para o mercado.

?
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

No ano seguinte, o tal “capitalista” volta com um novo plano! Ao invés de vender a safra
de batatas pelos mesmos 11.400, ele irá vender por 12.000! Fazendo isso, ele espera
lucrar 600 ao final do processo, fazendo seu capital se multiplicar!

700 valores
6.300 valores 700 valores

10.000 valores 10.000 valores


Total: 12.000

700 valores 0 valores 700 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Após a colheita, as batatas são colocadas à venda no mercado. Enquanto isso, o tal do
“capitalista” espera ansiosamente pelo seu lucro! Porém, ao final da semana, ele recebe
apenas 5.000 de volta! Como é possível que ele tenha recebido menos dinheiro do que
antes!? Algo estava errado! Para onde seu lucro havia ido?

Cadê meus 12.000?


? Produção
11.400 valores

11.400 valores

5.000 valores ? 12.000 valores?


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O tal “capitalista” vai até a barraquinha onde suas batatas eram vendidas e descobre que
mais da metade delas haviam apodrecido sem serem compradas! Ele fica furioso e
pergunta ao transportador por que ele não havia vendido todas elas. Ele acusa o homem
de não ter se esforçado o suficiente no trabalho!

Eu exijo explicações!

?
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O transportador responde: “Suas batatas estão caras. O preço total de mercado da safra
são os mesmos 11.400 do ano passado. As pessoas compraram as batatas dos outros
produtores e apenas buscaram as suas quando as demais esgotaram. Mesmo assim, não
vendemos todas pois muitos preferiram comprar aipim e mandioca pelo preço justo.”

!?
$$$
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O tal “capitalista” fica ainda mais assustado. Ele começa a suar frio e tremer. Seus dentes
rangem e seus olhos lacrimejam. Somado aos R$ 500 da consultoria no ano anterior, a
perda de mercadorias havia lhe custado mais 6.400! Ele havia perdido 6.900! Ao invés de
se multiplicar, o capital encolheu! Teria sido melhor guardar o dinheiro debaixo da cama!

! Consultoria Perda de produtos


500 valores 6.400 valores
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

No terceiro ano, o tal “capitalista” volta com outro plano! Se o valor da safra é 11.400 e ele
não pode cobrar mais do que isso, a resposta é simples. O capitalista tenta pechinchar
com o ferramenteiro, o transportador e o agricultor, oferecendo 5% a menos do que havia
pago no ano anterior. Isso lhe daria um lucro de 570 ao final do processo.

665 valores
6.300 valores 700 valores

9.500 valores 10.000 valores


Total: 11.400

665 valores 0 valores 700 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Os três dão risada e dizem que vão montar uma cooperativa sem o tal “capitalista”, pois
ele não agrega valor ao produto. Sendo assim, o tal “capitalista” retorna para sua cidade
natal sem entender o que aconteceu. O vilarejo continua funcionando exatamente como
antes, e a ausência do tal “capitalista” não é sentida… É como se ele não fizesse falta.

! 700 valores

10.000 valores
Total: 11.400
Por que vocês não
usam meu dinheiro!? 700 valores
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Porém, o tal “capitalista” não desiste de sua busca por multiplicar dinheiro! Sendo assim,
ele compra livros e cursos de agronomia, passando vários meses estudando técnicas
para aumentar a eficiência da produção de batatas. Se o tal “capitalista” conseguir reduzir
o custo de produção da safra para menos de 11.400, ele poderá ficar com a diferença!
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

No quarto ano, o tal “capitalista” volta com uma nova proposta! Graças aos estudos, o
custo do plantio reduziu de 10.000 para 9.000, e o agricultor pode trabalhar 10% menos.
Como o agricultor é um homem justo que cobra exatamente pelo valor que ele próprio
adiciona ao produto, ele aceita receber 9.000 sem pestanejar.

700 valores
6.300 valores 700 valores

9.000 valores 10.000 valores


Total: 11.400

700 valores 0 valores 700 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Supondo que o valor de mercado da safra continua sendo 11.400, o tal “capitalista” fica
feliz e afirma: “Eu consegui transformar 10.400 em 11.400! Eu multipliquei meu capital! Eu
me tornei um capitalista! Eu fiz o mesmo que todos os meus colegas burgueses! Graças
ao meu espírito empreendedor, a produção de batatas ficou mais eficiente e eu lucrei!”

11.400 valores
Produção
10.400 valores
venda: 11.400 valores

Lucro: 1.000 11.400 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Conforme o tempo passa e o vilarejo acumula experiência, a produtividade média dos


trabalhos aumenta 10% e o valor agregado em cada etapa reduz 10%. O trabalho do
agricultor, que antes agregava 10.000, agora agrega 9.000; e o conhecimento do tal
“capitalista”, que antes aumentava em 10% a eficiência, agora aumenta em 9%.

630 valores
5.670 valores 630 valores

8.119 valores 9.000 valores


Total: 10.260

630 valores 0 valores 630 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Como consequência dos mecanismos do livre mercado, o suposto “lucro” do tal


“capitalista” mudou de 1.000 para 881. A taxa de retorno, mudou de 9.62% para 9.39%.
Sua sua fatia do valor produzido está menor que a do ano anterior! O tal “capitalista” está
lucrando menos! Seu capital está se multiplicando menos!

! Produção
10.260 valores

9.379 valores
venda: 10.260 valores

Lucro: 881 10.260 valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Felizmente, o tal “capitalista” já aprendeu sua lição. Se ele quiser aumentar seus lucros,
deve continuamente investir mais dinheiro em estudos para, dessa forma, aumentar sua
fatia do valor agregado nas safras de batata. Após satisfazer suas necessidades básicas,
o tal “capitalista” utiliza todo o seu dinheiro para obter conhecimento!
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Seu grande plano deu certo! Ao continuar estudando todos os meses e se mantendo um
passo à frente dos avanços tecnológicos, o tal “capitalista” garante sua fatia da produção!
Ele exclama: “Meu modelo de negócios deu certo! Estou multiplicando capital! Sou um
grande empreendedor capitalista! Finalmente aprendi a fórmula do sucesso!”

X+Y valores
Produção
X valores
venda: X+Y valores

Lucro: Y X+Y valores


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O tal “capitalista”, feliz e saltitante, volta para sua cidade natal e chama todos os seus
amigos capitalistas para uma reunião. Ele explica seu modelo de negócios, mostra as
taxas de lucratividade, dá uma aula sobre técnicas de plantio de batatas, e várias outras
coisas. Ao terminar a apresentação, ele aguarda em silêncio pela resposta dos colegas...

STONKS!
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Porém, ao invés de elogios, o tal “capitalista” recebe risadas. Onde foi que ele errou?
Será que seus colegas perceberam um erro em seu modelo de negócios? Será que seus
cálculos estavam imprecisos? Ou será que ele era dotado de uma genialidade tão grande
que seus amigos eram incapazes de compreender seu mindset?

? HA HA HE HA HI HUE HE HE HUE HUE HA HA HA


HE HA HI HUE HA HE HE HUE HA HA HA HI HI HI
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Ao questionar seus amigos, um deles levanta a mão e diz que o tal “capitalista”, na
verdade, não é um capitalista! Ele é um trabalhador autônomo, assim como o agricultor,
o transportador e o ferramenteiro. Ele não é está multiplicando capital! O “lucro” que ele
recebe nada mais é do que a sua fatia do trabalho realizado pela cooperativa de batatas.

! Você não é um capitalista! Você é um engenheiro


agrônomo que vende sua força de trabalho!
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Um dos capitalistas da platéia, que estudou as teorias de Karl Marx, explica onde está o
erro de contabilidade do engenheiro agrônomo. Ele não está transformando X dinheiros
em X+Y! Ele está transformando X dinheiros e Y estudos em X+Y dinheiros! Seu
modelo de negócios não têm lucro! Ele apenas está transformando estudo em dinheiro.

! X+Y valores
Y estudo Produção
X dinheiro
venda: X+Y valores

Lucro: 0 X+Y dinheiro


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Além disso, o capitalista aponta outro erro no modelo de negócios, mostrando que o
engenheiro agrônomo está exposto à todo o risco do processo. Como ele paga aos seus
funcionários o valor do trabalho antes das batatas serem vendidas, significa que ele
assume os prejuízos por todas mercadorias que não forem vendidas no mercado!

!!! X+Y valores


Y estudo Produção
X dinheiro
venda: X+Y–Z valores

Prejuízo: Z X+Y–Z dinheiro


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

Se o engenheiro agrônomo quiser dividir o risco, ele deveria formar uma cooperativa na
qual todos recebem suas fatias após a venda, em proporção ao valor que contribuíram.
Dessa forma, o prejuízo seria reduzido. Porém, o capitalista acrescenta que, da forma
como o negócio está operando, ele ainda não “multiplica dinheiro”.

? Produção
X+Y valores

venda: X+Y–Z valores

Prejuízo: Z * fatia X+Y–Z dinheiro


Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O engenheiro agrônomo pergunta como ele deveria alterar o modelo de negócios para
que ele pudesse se tornar um capitalista de verdade, ao invés de continuar sendo um
trabalhador. O capitalista responde: “Você deve receber dinheiro sem trabalhar”.

? Produção
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O engenheiro agrônomo responde prontamente: “Sem trabalhar eu não adiciono valor ao


produto! Se eu não adicionar valor ao produto, não terei direito à minha parte! Se o preço
das batatas é definido pelo mercado, não posso vendê-las por mais do que me custou!
Além disso, os funcionários não aceitam receber menos do que o valor que adicionam!”

! Produção
Trabalho transformado em valor

A parte “justa” de cada um

O capitalista diz: “Sente-se, meu amigo. Vou te explicar as várias maneiras pelas quais o
capital se reproduz. Anote todas elas e tente aplicar o máximo possível em seu negócio!”

Bobinho
Trabalho transformado em valor

De onde vem o tal “lucro”

O capitalista começa com uma afirmação bombástica, dizendo que o tal do “lucro” é na
verdade uma grande ilusão. Não é possível existir lucro em um sistema, da mesma
maneira que não é possível sair mais água de um filtro do a quantidade que entra, e da
mesma maneira que não é possível o liquidificador usar mais energia do que entra nele.

Não existe lucro!


!!! É tudo uma ilusão contábil.
O lucro é uma ilusão contábil
De onde vem o lucro?
Um truque de matemágica
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Antes do engenheiro melhorar a produção, se os trabalhadores tivessem um rendimento


mediano, significa que juntos eles transformam X unidades de trabalho abstrato em X
valores na forma-batata. Ao venderem as batatas, obtêm-se X valores na forma-dinheiro.
No processo, X trabalhos se transformam em X dinheiro, com lucro zero.

X trabalho
Produção

venda: X valores

Lucro: 0 X dinheiro
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Quando o engenheiro aplica seus conhecimentos técnicos ao negócio, a produtividade do


agricultor aumenta, fazendo com que os mesmos X valores de batatas sejam produzidos
com W unidades de trabalho a menos. Porém, como as batatas são vendidas pelo preço
de mercado, que é baseado na média geral, o W aparece como “lucro”.

X-W trabalho
Produção

venda: X valores

Lucro: W X dinheiro
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Porém, o “lucro” é uma ilusão. As W unidades de esforço a menos dos trabalhadores são
fruto do valor adicionado pelos conhecimentos do engenheiro. Se o engenheiro também
representar a média dos engenheiros, esse valor W também será uma média e, como
consequência, o engenheiro apenas recebe de volta o que gastou, sem haver lucro.

! W
Produção
X trabalho
X-W X-W+W

venda: X valores

Lucro: 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O conhecimento é como a produção de máquinas e ferramentas. Isso demanda uma


grande quantidade de trabalho inicial F e, conforme esse conhecimento é aplicado na
produção em pequenas quantidades W, essa mercadoria chamada de conhecimento é
aos poucos depreciada até se tornar ultrapassada ou se tornar domínio público.

W W W

F Produção

Lucro: 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Se o engenheiro representar a média dos engenheiros e seu conhecimento representar a


média dos conhecimentos, esse conhecimento perde a sua função de mercadoria quando
todo o seu valor tiver sido transferido para as batatas. Ao fim do processo, o engenheiro
transformou F valores na forma conhecimento em F dinheiro, sem obter lucro.

F Produção

Lucro: 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O engenheiro pergunta: “E os conhecimentos matemáticos que existem a mais de mil anos


e continuam sendo usados até hoje? Eles pararam de produzir valor?”

O capitalista responde: “Esses conhecimentos não são mercadorias. Logo, não têm valor
no capitalismo. Eles [ainda] são parte do domínio público que não pode ser vendido.”

?
F Produção

Lucro: 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O capitalista continua sua explicação: “É como a chuva, o sol, o vento e as marés.


Nenhuma dessas coisas tem valor no capitalismo, pois nenhuma é fruto do trabalho
humano e, por isso, [ainda] não são mercadorias. O conhecimento público é como essas
forças da natureza, que produzem valor de uso sem produzir valor de troca.”

!
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Quando você constrói um moinho para transformar a energia do vento em movimento das
pás que, por consequência, transformam trigo em farinha, o valor de uso do vento, trigo
e moinho foram utilizados para produzir o valor de uso da farinha. Porém, o capitalismo
não é fundamentado pelo valor de uso, mas sim pelo valor de troca.

!
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Na produção capitalista, em que o trabalho é uma mercadoria, o trabalho abstrato que


foi necessário para produzir o trigo e construir o moinho são combinados para produzir a
farinha. O que define o valor de troca (preço) da farinha é a média dos trabalhos
necessários para produzir essa farinha. O “preço” do vento não entra na conta [ainda].

!
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Os conhecimentos que são domínio público, assim como as forças da natureza,


obviamente adicionam valor de uso aos produtos e permitem produzir mais e melhor.
Porém, como [ainda] não são mercadorias, esses conhecimentos públicos e forças da
natureza não adicionam valor de troca e, por isso, não produzem lucro.

!
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Para transformar o conhecimento e as forças da natureza em mercadoria, você precisa


impedir que outros utilizem esses recursos livremente. Por exemplo, cercar a única
nascente em uma cidade para vender água, ou bloquear o uso do conhecimento
utilizando patentes. Porém, isso é um assunto que veremos mais tarde, chamado renta.

A chave da propriedade privada


é brilhante e cromada
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Por hora, voltemos ao exemplo da cooperativa de batatas. Até o momento, foi presumido
que os trabalhadores (incluindo o engenheiro), representam a média dos trabalhadores e
que, por consequência, produzem batatas utilizando uma média de X valores de trabalho
que são transformados em X valores de mercado da batata, que se torna X dinheiros…

F X-W
Produção

Lucro: 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Se a cooperativa for mais produtiva do que a média, os mesmos X valores de batata


seriam produzidos com menos trabalho. Logo, um trabalho total de A+B+C+W seria
transformado em X dinheiros ao final do processo. A diferença entre o valor de mercado
das batatas e trabalho da cooperativa seria registrado como “lucro”.

F A B C
Produção

Lucro: X - (A+B+C+W) X
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Se a cooperativa for menos produtiva do que a média, os mesmos X valores de batata


seriam produzidos com mais trabalho. Logo, um trabalho total de A+B+C+W seria
transformado em X dinheiros após a troca no mercado. A diferença entre o trabalho da
cooperativa e o valor de mercado das batatas seria registrado como “prejuízo”.

F A B C
Produção

Prejuízo: (A+B+C+W) - X X
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O “lucro” e o “prejuízo” são uma ilusão que surge quando observamos o mercado através
do ponto de vista de seus agentes individuais. Os agentes mais produtivos, que
transformam X-M trabalho em X batatas, acham que estão lucrando. Os agentes menos
produtivos, que transformam X+M trabalho em X batatas, acham que têm prejuízo.

! Prejuízo = M

X+M
X Produção
X-M

Total = 0 Lucro = M
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Suponhamos também que todas as cooperativas de batatas têm engenheiros agrônomos


que aumentam a produtividade do setor e protegem esses conhecimentos por meio de
segredos industriais. Esses engenheiros competem entre si, de forma que os engenheiros
menos produtivos transferem o valor de seu trabalho para os mais produtivos.
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Se você for um engenheiro agrônomo com rendimento abaixo da média, o valor de troca
que você adiciona ao produto é menor do que o valor de troca que você recebe por esse
conhecimento. É como se, ao tentar otimizar a produção de batatas, você estivesse
gastando mais valor de troca do que aquilo que é ganho com a produtividade.

!
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O engenheiro pergunta: “Nesses casos, se o engenheiro parar de trabalhar e deixar a


cooperativa utilizar técnicas menos produtivas, ela irá lucrar mais?”

O capitalista responde: “No curto prazo, sim. Pois, ao poupar o trabalho do engenheiro, a
cooperativa gasta, em média, menos esforço do que antes para produzir.”

?
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Porém, no longo prazo, conforme as outras cooperativas continuam investindo em


ciência e tecnologia, a produtividade média do trabalho delas, mesmo com engenheiros
abaixo da média, será maior do que a produtividade do trabalho das cooperativas que
não possuem engenheiros e que continuam a utilizar técnicas ultrapassadas.

! Prejuízo = M

X+M
X Produção
X-M

Total = 0 Lucro = M
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Se observamos o sistema como um todo, percebe-se que o tal “lucro” e o tal “prejuízo”
são uma transferência indireta de valor dos agentes menos produtivos para os agentes
mais produtivos. Nesse tipo de sistema, os agentes mais produtivos terão maior poder de
compra para consumir os fruto do trabalho da sociedade e reinvestir seus lucros.

X+M

X-M
Produção X

Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O engenheiro pergunta: “E se todos os agentes de um setor estiverem lucrando? O que


explicaria uma situação dessas? Como seria possível algo desse tipo acontecer?”

O capitalista responde: “Esse lucro do setor é novamente uma ilusão que surge porque
você está olhando apenas parte do sistema ao invés do sistema como um todo.”

?
X+M
Mercado
X-M

Lucro: ???
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Se expandirmos o horizonte para além da produção de batatas, a lógica se repete entre


setores da economia. Se alguns absorvem mais valor do que entregam, outros entregam
mais valor do que recebem. Em uma economia baseada na transformação de trabalho
humano em mercadorias, o mercado compara os trabalhos de todos os setores.

Setores
Menos produtivos
Mercado
Setores
Mais produtivos
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O engenheiro pergunta: “Se isso é verdade, como é possível que a economia funcione se
existem setores que estão sempre operando no prejuízo? Por quê eles não quebram?”

O capitalista responde: “Porque não estou falando de lucro/prejuízo na forma-dinheiro,


mas sim de produção e recebimento de valor. Essas coisas são diferentes.”

? Setores
Menos produtivos
Mercado
Setores
Mais produtivos
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Nesse exemplo, todos os setores estão transformando trabalho em mercadoria, de forma


que a riqueza da economia, medida em valor de uso, está aumentando. A produtividade
dos setores apenas impacta quanto valor de troca, medido em mercadorias produzidas
com trabalho, serão entregues para cada um dos agentes.

Setores
Trabalho Menos produtivos
transformado em
Mercado
mercadoria Setores
Mais produtivos
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

No mercado aqui descrito, os agentes menos produtivos não quebram. Esses agentes
apenas recebem uma quantidade menor do valor total que é trocado no mercado. Em
outras palavras, os menos produtivos devem trabalhar mais para obter a mesma
quantidade de mercadorias que os mais produtivos.

Setores
Trabalho Menos produtivos
transformado em
Mercado
mercadoria Setores
Mais produtivos
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O motivo pelo qual ainda não ocorre a falência é porque ainda não estamos falando do
ciclo de reprodução do capital. Ou seja, isso aqui ainda não é o capitalismo. O que eu te
expliquei até agora é um sistema linear em que o trabalho de alguns agentes, através de
mecanismos do mercado, é trocado por outras mercadorias para consumo.

!!!

Mercadoria Mercadoria
Trabalho
(1) (2)
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Para que ocorra a falência de um agente econômico, é necessário que o agente esteja
inserido no ciclo de reprodução do capital. Ao invés do processo linear em que trabalho
produz mercadorias de um tipo para trocar por outro, a reprodução do capital envolve um
ciclo que transforma dinheiro em mais dinheiro a cada rotação.

X
Dinheiro Trabalho Mercadoria
X X+L
Lucro = L
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

A partir do momento em que o agente está inserido no ciclo de reprodução do capital, se


a quantidade de dinheiro que retorna do ciclo for menor do que a quantidade que entra,
isso significa que o ciclo não pode continuar por muito tempo. Logo, esse agente
econômico deve encerrar suas operações… também conhecido como declarar falência.

X
Dinheiro Trabalho Mercadoria
X-P X-P
Prejuízo = P
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

No capitalismo, a produtividade não é o fator determinante, mas sim a lucratividade.


Anteriormente, o objetivo de um agente era obter mais trabalho do mercado do que a
quantidade de trabalho gasto pelo agente. No capitalismo, o objetivo dos agentes é
receber mais dinheiro do mercado do que aquilo que eles gastam em seus negócios.

Setores
Menos lucrativos
Mercado
Setores
Mais lucrativos
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

O engenheiro pergunta: “Lucratividade e produtividade não são a mesma coisa? Se um


negócio é mais produtivo, ele não é também mais lucrativo? Qual a diferênça?”

O capitalista responde: “É aqui que surgem elementos que antes havíamos ignorado em
nossa análise. Pois, no capitalismo, dinheiro, trabalho e valor são coisas distintas.”

? Setores
Menos lucrativos
Mercado
Setores
Mais lucrativos
Total = 0
De onde vem o lucro

O lucro é uma ilusão

Embora a produtividade possa ser uma das formas de se obter maior lucratividade, o
capital tem outras ferramentas para obter dinheiro. Em alguns casos, o capital se
reproduz perdendo produtividade e até mesmo destruindo riqueza real. Às vezes, o
capital se multiplica sem sequer produzir mercadorias… como é o caso dos bancos.

!!!

Total = 0
Contradições do capital
A serpente que come a própria cauda
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Voltemos ao exemplo de setores em um mercado não capitalista, onde a produtividade


define a distribuição do valor na forma mercadoria. Os negócios menos produtivos fazem
com que a média do trabalho necessário para produzir mercadorias seja maior e, como
consequência, aumenta o valor recebido pelos setores mais produtivos.

Custo da produção
Setores
Menos produtivos

Média
Setores
Mais produtivos
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Se alguns agentes menos produtivos saem da dinâmica do mercado e produzem apenas


para seu próprio consumo, seus produtos param de ser vendidos. Com isso, a média dos
custos de produção no mercado se aproxima da média dos agentes mais produtivos.

Custo da produção
Menos produtivos

Mais produtivos Média


Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Como consequência, o valor de mercado se torna menor pois, na média, os agentes que
continuam produzindo mercadorias agora estão fazendo isso utilizando menos trabalho
do que antes e, como consequência, parte dos agentes que antes eram mais produtivos
agora são, relativamente falando, menos produtivos.

Custo da produção
Menos produtivos

Mais produtivos Média


Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Porém, como explicado antes, isso não causa um problema econômico, visto que os
agentes aqui descritos não operam sob a lógica da reprodução do capital, que é o lucro.
Se os setores não precisam multiplicar dinheiro, é possível que os setores menos
produtivos continuem operando, mesmo produzindo riqueza à taxas menores.

Custo da produção
Menos produtivos

Mais produtivos Média


Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Agora, vejamos o caso de setores competindo em um mercado capitalista. Dessa vez,


iremos falar de lucratividade ao invés de produtividade. Se esses setores estiverem
inseridos no ciclo de reprodução do capital, a tendência é que os setores mais lucrativos
absorvam dinheiro dos setores menos lucrativos.

Custo da produção
Setores
Menos lucrativos

Média
Setores
Mais lucrativos
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Conforme os agentes menos lucrativos declaram falência e são removidos do mercado,


ou são absorvidos por negócios maiores, os custos de produção passam a cada vez mais
serem pautados pela média dos setores que antes eram os mais lucrativos e, como
consequência, parte dos setores lucrativos começam a se tornar menos lucrativos.

Custo da produção
Menos lucrativos

Mais lucrativos Média


Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Essa dinâmica aos poucos elimina os agentes um por um e, como consequência, reduz o
volume de lucro que pode ser absorvido através dessa diferença entre a lucratividade
dos negócios. Em outras palavras, a taxa de lucro fica cada vez menor, pois os preços de
mercado tendem a se aproximar dos custos dos agentes mais lucrativos.

Custo da produção
Menos lucrativos

Mais lucrativos Média


Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

O engenheiro pergunta: “Se o número de empresas reduz, isso faz surgir monopólios e
cartéis que controlam preços, certo? Isso resolve o problema da queda da lucratividade?
Afinal de contas, bastariam as empresas se juntarem e elas poderiam continuar
praticando preços acima dos custos de produção e mantendo seus lucros.”

?
Média do preço
Lucro
Média do custo
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

O capitalista fica em silêncio e deixa o engenheiro continuar falando: “Quanto mais


tecnológico for o setor, maior é o investimento inicial para começar a produzir. Logo,
mesmo com preços acima da média, os monopólios e cartéis não teriam concorrência,
pois o custo de montar essa concorrência seria muito alto!”

?
Custo de abrir um concorrente
Média do preço
Lucro
Média do custo
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

O capitalista continua em silêncio e engenheiro diz: “Quando estamos falando de setores


pesados com vasto acúmulo de capital na forma de maquinário, know-how, cadeias
produtivas, fornecedores e várias vantagens, a concorrência é quase impossível de
nascer nesse cenário! Isso quer dizer que a queda de lucratividade pode ser resolvida?”

?
Custo de abrir um concorrente
Média do preço
Lucro
Média do custo
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Isso não resolve o problema da queda na taxa de lucro, pois você está esquecendo de
analisar o sistema como um todo. Os setores monopolistas começam não apenas a
comprar a concorrência, mas também a expandir para outras áreas e países, competindo
com outros setores monopolistas, chegando ao estágio imperialista do capitalismo.

Custo da produção
Monopólios
Menos lucrativos

Média
Monopólios
Mais lucrativos
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

Quando monopólios nacionais se tornam poderosos o suficiente para controlar Estados,


os Países passam a agir como “empresas”, que tentam dominar economicamente outros
mercados e absorver o valor produzido no exterior. É o que a Inglaterra fez após a
revolução industrial, e o que os EUA fizeram após as duas guerras mundiais.

Custo da produção
Monopólios
Menos lucrativos

Média
Monopólios
Mais lucrativos
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

O País imperialista é o que tem monopólios industriais e militares capazes de subjugar as


nações mais fracas, dominando-as por meio de ocupação direta (invasão do Irã, Iraque,
Síria, etc), ocupação financeira (compra da Petrobrás/Eletrobrás pelo capital estrangeiro),
e ocupação monetária (uso do Dólar como “moeda do mundo”).

Custo da produção
Monopólios
Menos lucrativos

Média
Monopólios
Mais lucrativos
Contradições do capital

Transferência de valor entre setores

O engenheiro pergunta: “Se já atingimos o estágio imperialista à tanto anos, por que o
capitalismo ainda existe e continua lucrando mesmo com os monopólios de devorando?”

O capitalista responde: “Porque o capital tem outras maneiras de artificialmente aumentar


a taxa de lucratividade, absorvendo valor de setores que eu ainda não mencionei.”

Custo da produção
???????

Média
Monopólios
Mais lucrativos
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Até agora estávamos considerando que todos os agentes econômicos recebem pelo
valor que adicionam ao produto, e que as diferenças de lucratividade entre os negócios
são baseadas em diferenças de produtividade. Porém, o capitalismo não opera sob essa
lógica, visto que o dinheiro faz com que o critério de eliminação seja o lucro.

Prejuízo = M

X+M
X Produção
X-M

Lucro = M
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Se o capital deseja a maior diferença entre o dinheiro gasto e o dinheiro recebido,


devemos quebrar algumas regras: No seu exemplo, foi explicado como os monopólios e
cartéis conseguem quebrar a regra de que os preços são baseados na média dos custos
de produção. Com isso, monopólios absorvem dinheiro de outros setores.

X X
Dinheiro Produção Mercadoria
X X+L
Lucro = L
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Porém, a regra mais importante que o capital quebra é a de que cada um recebe pelo
valor que adiciona ao produto final. Se o capital for capaz de pagar menos do que o
valor de mercado pelos “ingredientes mágicos” que formam as mercadorias, o dinheiro é
capaz de se reproduzir mesmo vendendo seus produtos pelo preço “justo” de mercado.

X X+L
Dinheiro Produção Mercadoria
X X+L
Lucro = L
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Vejamos aquilo que o capital precisa para produzir mercadorias: Temos matérias primas,
energia, infraestrutura, e mão de obra (trabalho). Se o capital encontrar maneiras de
pagar, por um ou mais desses fatores de produção, um valor menor do que esse fator de
produção adiciona à mercadoria, a diferença aparece como um lucro para o capital.

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

No caso das matérias primas, uma estratégia utilizada pelo capital é o colonialismo, que
permite subjugar outras nações e explorar suas riquezas naturais sem a necessidade de
pagar o preço de mercado por esses recursos. É o que os países capitalistas fazem com
a África até hoje, roubando ouro, urânio, petróleo e outros produtos importantes.

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Além do colonialismo direto com ocupação militar, há o indireto, usando dívidas externas.
Ao endividar países exportadores de commodities, o capital força esses países a
aumentarem suas exportações para conseguir pagar as dívidas. Como consequência, o
aumento na oferta de commodities no mercado global faz os preços caírem.

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

O caso da energia também se relaciona com as matérias primas. Por exemplo, a França
até hoje [agosto 2023] explora[va] urânio no Níger, usando o minério para gerar energia
nuclear e acender três de cada quatro lâmpadas na frança, pagando metade do valor
pelo urânio Nigeriano em relação ao urânio de outros países.[1]

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
[1] https://medium.com/simetria/a-energia-francesa-vem-da-%C3%A1frica-38327f34255a
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Outra forma de pagar menos pela energia do que seu valor de mercado é com subsídios
do Estado, em que o capital usa o poder do Estado para reduzir custos de operação. No
Brasil, por exemplo, é esperado que em 2023 haja subsídio de 35 bilhões de Reais na
energia, fazendo com que a sociedade pague os custos da energia que o capital usa.[1]

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
[1] https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/03/07/subsidios-no-setor-eletrico-custarao-r-35-bilhoes-em-2023-informa-aneel.ghtml
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

No caso da infraestrutura, a lógica do capital utilizando o Estado se repete. Através de


obras públicas em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, segurança, e outras coisas
fundamentais para o capital, o Estado reduz os custos de operação das empresas ao
pagar a conta com o dinheiro público (em outras palavras, com o trabalho da população).

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Vale lembrar que o capital apenas direciona o Estado para construir a infraestrutura que o
capital precisa para lucrar. Ou seja, uma ferrovia não será feita porque a população
precisa, mas porque o capital percebe que pode lucrar com isso: seja recebendo verba
pública para construir a ferrovia, ou usando a ferrovia para escoar produtos até os portos.

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

O capital também pode usar o Estado antes mesmo do processo produtivo começar,
através do recebimento de dinheiro a juros baixos via bancos públicos como o BNDES.
O objetivo do capital é conseguir iniciar o ciclo de reprodução com um volume maior de
dinheiro e, como consequência, gerar lucros maiores que os juros pagos ao banco.

Crédito
Banco subsidiado
Dinheiro Produção
público

[1] https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes/maiores-clientes
Contradições
do capital
Preço ≠ Valor

Veja essas empresas privadas


que receberam financiamentos
bilionários do BNDES ao longo
dos anos.

[1] https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes/maiores-clientes
Contradições do capital

Preço ≠ Valor

Porém, existe um fator comum no que foi descrito até agora. A exploração de matérias
primas demanda trabalho. A produção de energia demanda trabalho. A construção e
manutenção de infraestrutura também demanda trabalho. Indiretamente, essas coisas
são todas fruto do trabalho humano, que adiciona valor à essas mercadorias.

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

A mercadoria chamada trabalho

Se os trabalhadores que produziram essas coisas receberem pelo valor que agregaram,
mas o capital pagou menos por isso, a conta não fecha. A diferença entre os valores deve
vir de algum lugar: No caso, o Estado que forneceu esses produtos está em déficit.

Dinheiro Trabalho Mercadoria


X X

X-L
Capital compra
Lucro = L
a mercadoria L = subsídio
Contradições do capital

A mercadoria chamada trabalho

A outra alternativa é que os trabalhadores não receberam pelo valor que produziram.
Esse caso é um dos fundamentos do capitalismo e a sua principal força motriz, pois ao
invés de um tipo de capital explorar outro tipo de capital, ambos exploram o trabalho,
sendo capazes de obter o tal lucro fictício que cria a ilusão de que o dinheiro se multiplica.

Capital Trabalho Mercadoria


Dinheiro
(1) X (1) X+L (1)
X+L
Mercadoria Capital
(2) (2) Trabalho
2X + 2L
X (2)
Contradições do capital

A mercadoria chamada trabalho

Ao pagar pelo trabalho um valor menor do que o trabalho adiciona ao produto, o capital
enxerga a diferença como sendo um lucro. Porém, devemos sempre lembrar de observar
o sistema como um todo e perceber que o tal “lucro” do capital nada mais é do que um
“prejuízo” da classe trabalhadora, que recebeu menos do que aquilo que produziu.

Matérias
primas
Lucro = L
X Energia X+L
Matérias
Dinheiro Mercadoria
primas
Infra
Trabalho
Contradições do capital

A tal da mais-valia

A diferença entre o valor que o trabalhador adiciona ao produto e o salário que recebe é
chamado de mais-valia. Ou seja, se um trabalhador agrega R$ 10 ao produto para cada
hora trabalhada, mas recebe R$ 4 por hora, o capital obteve R$ 6 com a mais-valia. A
mais-valia 6
taxa de exploração foi de 1.5 = = .
salário 4

Mais-valia= L

X X+L
Dinheiro Trabalho Mercadoria
Contradições do capital

A tal da mais-valia

O engenheiro protesta: “Isso não funciona! Quando eu tentei pagar aos meus parceiros um
valor menor do que eles produziam, todos se recusaram a trabalhar para mim!”

O capitalista responde rindo: “Óbvio que eles não vão aceitar! Seus parceiros têm acesso
aos meios de produção, como terras e ferramentas. Eles podem trabalhar sem você!”

Dinheiro Trabalho Mercadoria


Contradições do capital

A tal da mais-valia

Os seus parceiros se recusaram a trabalhar por menos do que eles produzem


justamente porque eles têm acesso às terras onde as batatas são plantadas, à água dos
rios usados na irrigação, às ferramentas e tudo aquilo que é necessários para plantar e
colher. Essas pessoas tem a opção de saírem do mercado e produzirem para si mesmas.

!!
Meios de
Trabalho
produção
Contradições do capital

A tal da mais-valia

Sendo assim, é necessário criar um mercado de trabalho, onde pessoas vendem sua
força de trabalho em troca de dinheiro para sobreviver. Isso se torna possível se os meios
de produção, como fábricas, tecnologia, terras, máquinas e recursos naturais, forem
propriedades privadas, que são inacessíveis para a classe trabalhadora.

!!!
Meios de
Trabalho
produção
Contradições do capital

A tal da mais-valia

O capital não paga aos trabalhadores pelo valor que adicionam ao produto, mas sim pelo
valor que o mercado de trabalho necessita para fornecer mão de obra na proporção que
o capital demanda. Em outras palavras, o trabalho se torna uma mercadoria e o custo
dessa mercadoria passa a ser o custo de sua produção e manutenção no mercado.

!!!
Contradições do capital

A tal da mais-valia

Durante o período da escravidão, seres humanos eram tratados como mercadorias, da


mesma forma que bois e cavalos. Os custos associados a essa “mercadoria-humana”
eram baseados nos gastos necessários para “produzir e manter” escravos; ou seja,
capturar pessoas, transportá-las para os locais de trabalho, e mantê-las “funcionando”.

!!!
Contradições do capital

A tal da mais-valia

Além dos custos de aquisição dos escravos, também existem os custos de manutenção,
que são os gastos necessários para manter os escravos em condições que permitam sua
exploração. Esses custos são semelhantes aos de manter bois e cavalos em condições
de trabalho, assim como os custos de manter as máquinas industriais funcionando.

!!!
Contradições do capital

A tal da mais-valia

Contudo, um fator que tornava a escravidão pouco lucrativa era o fato de que os
proprietários de escravos tinham que arcar com todos os “riscos” relacionados à perda da
mão de obra. Se um escravo morresse ou fugisse antes de gerar valor suficiente em
mercadorias para compensar seu custo, o proprietário do escravo teria um prejuízo.

!!! Preço de compra Custo de manutenção Valor total produzido Prejuízo


do escravo do escravo pelo escravo

- 10.000 - 3.000 + 8.000 - 5.000


Contradições do capital

A tal da mais-valia

Com o surgimento do mercado de trabalho, a mão de obra assalariada se torna o tipo de


trabalho mais comum. Porém, isso não significa que a escravidão magicamente deixe de
existir! Por exemplo, em 2022 no Brasil, foram resgatadas 2.575 pessoas em trabalho
“análogo a escravidão”[1]. Em 2023, somente até junho, 1443 já foram resgatadas.[2]

!!!

[1] https://g1.globo.com/politica/post/2023/01/24/em-2022-mais-de-25-mil-pessoas-foram-resgatadas-do-trabalho-analogo-a-escravidao-no-brasil.ghtml
[2] https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/noticias-e-conteudo/2023/junho/mte-resgatou-1-443-trabalhadores-de-condicoes-analogas-a-escravidao-em-2023
Contradições do capital

A tal da mais-valia

No mercado de trabalho, as pessoas deixaram de ser propriedade privada. Ao invés


disso, o trabalho se torna a mercadoria. Assim, o capital não precisam arcar com os
elevados preços de comprar seres humanos, de forma que os custos da mão de obra
passam a refletir apenas os custos de manutenção de cada tipo de mão de obra.

!!! Preço de compra Custo de manutenção Valor total produzido Lucro


do trabalhador do trabalhador pelo trabalhador

- 10.000 - 3.000 + 8.000 + 5.000


Contradições do capital

A tal da mais-valia

No capitalismo, a mercadoria-trabalho é vendida ao capital. O custo de um trabalhador


agrícola reflete o custo médio de formação e manutenção de um trabalhador nessa
ocupação, assim como o custo de um engenheiro também reflete seu custo médio de
formação e manutenção. O mesmo se aplica aos médicos, advogados, pedreiros, etc.

!!!
Contradições do capital

A tal da mais-valia

Contudo, lembre-se da lei da conservação do valor. Embora o capital não pague o custo
total de produção da força de trabalho, esse valor não desaparece. A responsabilidade
por “fabricar” trabalhadores fica a cargo da própria sociedade (famílias e/ou Estado),
permitindo que o capital pague apenas pelo uso da força de trabalho.

!!! Preço de formar Custo de manutenção Valor total produzido Lucro


o trabalhador do trabalhador (salário) pelo trabalhador mais-valia

- 10.000 - 3.000 8.000 5.000


Pago pelo Pago pelo
Estado? capital
Contradições do capital

A tal da mais-valia

Na escravidão, o capital arcava com os prejuízos da perda de cada escravo individual.


Com o advento do mercado de trabalho, os prejuízos passam a ser absorvidos pela
sociedade, permitindo ao capital reduzir seus riscos e aumentar seus lucros. Em outras
palavras, o mercado de trabalho é tipo uma “securitização” da força de trabalho.*

!!!
* Securitização é o processo de
agrupamento de vários ativos
financeiros em um único ativo
padronizado e negociável.
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

Assim como o capital usa o Estado para obter subsídios e infraestrutura, o Estado
também é usado para suportar os custos com a manutenção do mercado de trabalho. O
Estado, então, utiliza seu monopólio da violência para compelir a própria sociedade a
arcar com os custos de reproduzir a força de trabalho que o capital necessita.

!!! Preço de formar Custo de manutenção Valor total produzido Lucro


o trabalhador do trabalhador (salário) pelo trabalhador mais-valia

- 10.000 - 3.000 8.000 5.000


Pago pela Pago pelo
sociedade capital
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

As famílias são obrigadas a “produzir” mão de obra, desde o berço até a idade adulta.
Horas e horas de trabalho investidos que jamais são pagos pelo capital. O capital apenas
se apropria do trabalho das pessoas depois que já elas estão “maduras”. Esse trabalho
social não remunerado é, na maioria dos casos, feito pelas mulheres.

!!! Preço de formar Custo de manutenção Valor total produzido Lucro


o trabalhador do trabalhador (salário) pelo trabalhador mais-valia

- 10.000 - 3.000 8.000 5.000


Pago pela Pago pelo
sociedade capital
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

O capital pode, inclusive, ir um passo além disso! Não basta fazer a sociedade gastar seu
próprio trabalho para produzir e formar mão de obra… o capital tenta capturar o máximo
possível desse trabalho social na forma de dinheiro, com lucros na educação privada,
saúde privada, aluguéis de moradias e todos os outros custos de “fabricar” mão de obra.

!!! Preço de formar Educação privada


trabalhadores
Saúde privada
10.000
Aluguéis de moradia
Pago pela sociedade
ao capital
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

Para garantir que a população será forçada a utilizar os serviços privados, o Estado reduz
os investimentos em educação, saúde e moradias públicas (austeridade). Por causa da
competição entre a própria classe trabalhadora, quem busca um “futuro melhor” se vê
obrigado a gastar cada vez mais de sua renda com o setor privado.

!!! Preço de formar Educação privada


o trabalhadores
Saúde privada
10.000
Aluguéis de moradia
Pago pela sociedade
ao capital
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

O capital depende do Estado de várias maneiras: criar e manter um mercado de trabalho,


proteger a propriedade privada dos meios de produção, e impedir que o povo assuma o
controle dos meios de produção. Exército, polícia, sistema judiciário, banco central e
outras instituições estatais desempenham papéis cruciais para manter o sistema.

!!!!
Meios de
Trabalho ESTADO
produção
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

Em essência, o capitalismo é como uma guerra civil constante, onde a manutenção da


ordem social e a proteção dos interesses do capital são prioridades centrais, justificando o
uso da violência para atingir esses objetivos. O Estado também pode ser visto como o
sistema imunológico do capital, que serve para protegê-lo da sociedade hospedeira.

!!!!
Meios de
Trabalho ESTADO
produção
Contradições do capital

Os trabalhos não remunerados

Vale lembrar que a sociedade também tem seu próprio “sistema imunológico”, que são os
grupos revolucionários que tentam lutar contra o capital invasor. No caso de países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, os movimentos nacionalistas também são
uma reação da sociedade quando ela é ocupada por capital estrangeiro.

!!!!!
Meios de
Trabalho ESTADO
produção
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

Voltemos ao exemplo de um negócio que visa transformar dinheiro em mais dinheiro,


por meio da compra de insumos e mão de obra, seguido pela transformação dos valores
de todas essas coisas em uma mercadoria que possa ser vendida com lucro no mercado.

Matérias Mais dinheiro


primas
Energia
Dinheiro Mercadoria
Infra
Trabalho
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

EE os
os impostos,
impostos,seguros,
seguros,juros,
juros,aluguéis,
aluguéis,etc?
etc? Nenhum desses “custo” é considerado parte
da produção, visto que não adicionam valor ao produto. Esses custos na verdade são
uma divisão dos lucros entre diferentes setores do capital, que se chama renta. Por hora,
vamos focar apenas no processo: dinheiro → produção → mercadoria → mais dinheiro.

Lucro
? Juros
Proprietários
Banco
Impostos
Mercadoria Mais dinheiro Estado
Seguros
Seguradora
Aluguéis
Imobiliárias
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

Se considerarmos a lei de conservação, o valor das matérias primas foi transferido para
a mercadoria, da mesma forma que o valor da energia, da depreciação da infraestrutura e
da força de trabalho. Nesse caso, o valor não foi criado, mas apenas transformado.

200g Matérias Mais dinheiro


primas
Energia
Mercadoria
Infra
200g Trabalho
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

Se considerarmos que os preços pagos sejam exatamente os preços de mercado, e


que a produção de uma determinada mercadoria consome, em média, R$ 400 de valor,
essa mercadoria carrega consigo um valor equivalente à R$ 400. Porém, se essa
mercadoria for vendida pelo mesmo valor de mercado, não haverá lucro no processo.

Matérias
R$ 100
primas
R$ 400
R$ 100 Energia
Mercadoria
R$ 100 Infra
R$ 100 Trabalho
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

Porém, se o valor pago pela força de trabalho for metade do valor que essa força de
trabalho adiciona ao produto, a mercadoria continua representando R$ 400 de valor, mas
o capital tem a ilusão de que obteve um lucro R$ 50. A ilusão surge porque o capital
enxerga R$ 350 entrando no processo produtivo e R$ 400 saindo do outro lado.

Matérias R$ 100
R$ 100
primas
R$ 400
R$ 100
R$ 100 Energia
R$ 100 Mercadoria
R$ 100 Infra
R$ 100
R$ 50 Trabalho
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

Olhando o sistema como um todo, o “lucro” desaparece. Os ganhos do capital são o valor
que foi absorvido do trabalho. O segredo da multiplicação do capital nada mais é do que
uma ilusão de contabilidade e, justamente por ser uma ilusão e pelo fato de vivermos em
uma realidade finita, o valor que o capital pode extrair do trabalho também é finito.

Trabalho

Capital
Total = 0
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia absoluta

Para aumentar a lucratividade, o capital precisa aumentar a taxa de mais-valia. Uma das
formas é através da mais-valia absoluta, que pode ser obtida com: redução de salário,
aumento das horas trabalhadas, redução da idade para trabalhar, aumento da idade para
se aposentar, aumento populacional, e medidas que aumentam o tempo de exploração.
Valor produzido

sol uta
pelo trabalho

a ab 3
-vali
Mais
2
1 Tempo de trabalho
Total = 0
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia relativa

Já a mais-valia relativa é obtida com um aumento do valor criado pelo trabalho no ciclo
do capital (sem alteração de salários nem de horas trabalhadas). Exemplos disso são os
avanços tecnológicos, as máquinas, a inteligência artificial, a eficiência energética, ou a
coordenação de equipes para gerar mais valor do que indivíduos isolados, etc.

Mais-valia relativa
Valor produzido
pelo trabalho

2
Tempo de trabalho
Total = 0 1
Contradições do capital

Extração de valor através da mais-valia

O capital pode absorver as casas, as terras e o tempo das pessoas. O capital pode
absorver o sangue e até mesmo os órgãos dos trabalhadores. O capital pode consumir
um trabalhador por completo e transformar cada uma de suas moléculas em dinheiro da
mesma forma que massa pode se transformar em energia através de E = mc²… porém…

Trabalho

Capital
Total = 0
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Temos aqui uma contradição fundamental do capital. Ao mesmo tempo em que ele paga
ao trabalho um valor menor do que foi adicionado à mercadoria, o capital precisa vender
essa mercadoria para transformá-la novamente em dinheiro e se reproduzir. Porém, quem
terá que comprar essa mercadoria são os mesmos trabalhadores que foram explorados!

Trabalho

Mercado
Capital
Total = 0
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Veja a enrascada monumental em que o capital se meteu! Como é possível vender todas
as mercadorias produzidas para os próprios trabalhadores que as produziram se essas
pessoas receberam menos do que o valor que elas adicionam aos produtos? Em outras
palavras, como é possível continuar o ciclo de reprodução do capital?

Trabalho

Capital
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

No estágio produtivo, em que existe mão de obra abundante e potencial de crescimento,


o capital re-investe seus lucros na economia. Isso aumenta o número de empregos e,
como consequência, aumenta a massa salarial dos consumidores, permitindo que as
mercadorias produzidas no 1º ciclo sejam vendidas com os salários pagos no 2º ciclo.

Trabalho
Salários
+
Investimentos
Capital
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Se o capital (a) produz bens de consumo, o capital (b) produz matérias primas, e o
capital (c) maquinário industrial, conforme os lucros são investidos produtivamente, parte
do dinheiro que circula no 2º ciclo se transforma em salários, que agora podem comprar
os produtos vendidos pelo capital (a) no 1º ciclo e parte do que foi feito no 2º ciclo.

Trabalho Trabalho Trabalho

Capital (a) Capital (b) Capital (c)


Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

As empresas possuem proprietários, que se apoderam dos lucros. Parte desses lucros
são investidos na economia, parte se transforma em consumo próprio, mas existe uma
parcela que os capitalistas guardam (entesouramento). O dinheiro que foi guardado não
circula na economia e, por consequência, não é utilizado para comprar produtos.

Capitalistas Entesouramento

Capital (a) Capital (b) Capital (c)


Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Para continuar lucrando, o capital precisa vender os produtos. Porém, os trabalhadores


recebem menos do que o valor que produziram, e os capitalistas não transformam todo o
seu lucro em consumo e investimento. Sendo assim, as mercadorias do ciclo x somente
poderão ser vendidas com os salários pagos no ciclo x+1... e assim por diante.

Trabalho Entesouramento

Capital (a)(b)(c)
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Enquanto for possível contratar mais pessoas e expandir a produção, o “ciclo” parece
capaz de continuar eternamente. Porém, a lógica do capital tem limitações reais. A cada
ciclo a classe trabalhadora produz mais valor, e o capital absorve parte desse valor, de
forma que a diferença entre valor produzido e poder de compra se torna cada vez maior.

Valor total produzido


Ciclo 1
Consumo

Valor total produzido


Ciclo 2
Consumo

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Os investimentos e novas contratações não conseguem solucionar essa contradição do


capital, mas apenas empurram o problema para frente. Enquanto houver possibilidade de
continuar absorvendo mão de obra para fazer o dinheiro circular na economia, surge a
ilusão de “crescimento eterno” do capital. O PIB sobe e a mídia comemora…

Valor total produzido


Ciclo 2
Consumo

Valor total produzido


Ciclo 3
Consumo

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Porém, conforme a economia atinge seus limites, não é mais possível contratar pessoas
para continuar aumentando a massa salarial dos consumidores. A consequência disso é
que uma fatia cada vez maior dos salários x+1 serão utilizados para consumir os produtos
do ciclo x. Nesse ponto, a economia capitalista chega em uma encruzilhada!

Valor total produzido


Ciclo 3
Consumo

Valor total produzido


Ciclo 4
Consumo

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade Caso 01

Se o capital continuar produzindo a mesma quantidade de valor, mesmo com os salários


estagnados, eventualmente chegará o ponto em que não será mais possível vender
mercadorias. Com isso, o ciclo “dinheiro → produção → mercadoria → mais dinheiro”
é quebrado e o dinheiro para de ser multiplicado. Temos aqui uma crise de realização!

Valor total produzido


Ciclo x
Consumo

Valor total produzido


Ciclo x+1
Consumo

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade Caso 02

Se o capital continuar produzindo a mesma quantidade de valor, mas a classe


trabalhadora lutar por ganhos salariais de forma a compensar a diferença entre o valor
produzido e os salários, isso significa uma redução da mais-valia. Como consequência, a
taxa de lucratividade do capital fica menor, correndo o “risco” de chegar à zero!

Valor total produzido


Ciclo x
Consumo

Valor total produzido


Ciclo x+1
Consumo

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade Caso 03

Se o capital reduzir a produção e as contratações para compensar a queda na demanda,


isso gera cada vez menos produção e menos emprego. Com menos trabalho, temos
menos mais-valia, e menos lucro. Além da crise de realização, teremos também um
problema de desemprego, perda de produtividade e perda de lucros: Uma recessão!

Valor total produzido


Ciclo x
Consumo

Valor total produzido


Ciclo x+1
Consumo

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade Caso 04

Se o nível de produção e emprego são mantidos, mas os salários sobem. O capital pode
tentar manter a taxa de lucro aumentando os preços dos produtos (inflação). Porém, essa
“correção” nominal de preços e salários, dada uma produção constante, se retroalimenta,
gerando estagnação e inflação: Como a estagflação dos anos 1970.

Valor total produzido


Ciclo x
Consumo

Valor total produzido Inflação


Ciclo x+1
Consumo Inflação

Diferença entre massa salarial Salários do ciclo x+1 gastos para


para consumo e valor produzido consumir mercadorias do ciclo x
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Se países do capitalismo central tentam manter seus níveis de consumo e lucratividade,


mas sem recorrer à inflação nem gerar crises internas, a “solução” é extrair mais-valia dos
países emergentes e subdesenvolvidos. Isso é o tal imperialismo e o tal colonialismo,
praticados até hoje por países da América do Norte e Europa.

Trabalho
(nacional)
Trabalho
(outros países)
Capital
(nacional)
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

No caso de Países como o Brasil, que não têm colônias nem potencial imperialista,
temos parte de nossa riqueza constantemente drenada por países do capitalismo central.
Dessa maneira, para compensar as perdas externas e manter um nível de consumo
estável sem perda de lucratividade, a “solução” é explorar a periferia do próprio País.

Trabalho
(nacional)
Capital Trabalho
(estrangeiro) (periferia)
Capital
(nacional)
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Porém, a contradição fundamental entre o capital e o trabalho não pode ser resolvida,
apenas adiada. Em algum momento, os recursos naturais ou o trabalho necessário para
manter esse sistema serão esgotados conforme o capital demanda cada vez mais
exploração para repetir o ciclo: “dinheiro → produção → mercadoria → mais dinheiro”.

Trabalho
Trabalho
(nacional)
Trabalho
(outros países)
Capital
Capital
(nacional)
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

A exploração de mais-valia em uma determinada


conjuntura político-econômica sempre atinge um limite,
levando a taxa de lucratividade à se aproximar de zero.

Estratégias para manter a lucratividade apenas com o


aumento da massa salarial, da inflação proposital, do
colonialismo e do imperialismo, se aproximaram de um
limite nos anos 1970: o período da estagflação.
Contradições do capital

A origem da insustentabilidade

Nos anos 80, a sociedade sofreu uma


metamorfose forçada para preservar a
reprodução do capital e impedir a taxa
de lucratividade de chegar à zero.

Foi o início da era Neoliberal.


Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

A tal “solução” adotada pelo neoliberalismo para artificialmente manter as taxas de


lucratividade altas foi explorar ainda mais a mão de obra como forma de “compensar” as
perdas. Isso foi feito com as reformas da previdência, reformas trabalhistas, uberização
da economia, transferência das fábricas para países com mão de obra barata, etc.

Trabalho

Capital
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Outra estratégia neoliberal é a criação de mercados onde antes não existiam. Como na
saúde, educação e moradia. Enquanto esses serviços são públicos e operam sem lucro,
não existe mais-valia. Porém, se esses serviços forem privatizados e seguirem a lógica
do lucro, o capital aumenta a quantidade de mão de obra disponível para ser explorada.

Trabalho

Estado

Capital
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Quando não é possível privatizar os serviços públicos, o capital tem outra ferramenta, que
envolve colocar empresas públicas na bolsa de valores. A partir desse ponto, a Estatal
opera com o objetivo de produzir lucros, através da exploração de mais-valia, cortes de
investimentos e venda de ativos… tudo para distribuir dividendos para os acionistas.

Trabalho
Estado
Na bolsa de valores
Capital
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Outra estratégia do neoliberalismo é a “produção de dinheiro” diretamente na fonte,


através da dívida pública. O capital enfia seu dinheiro no Estado que, em casos como o
Brasil, oferece os maiores juros reais do mundo. Isso permite ao capital criar dinheiro a
partir de dinheiro sem a necessidade de sequer explorar mais-valia.

Recebimento de juros
Estado
Dívida pública

Capital
Compra de títulos públicos
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

O neoliberalismo também usa bancos públicos, como fonte de dinheiro a juros baixos,
para comprar estatais em processo de privatização. O tal Estado (que se diz quebrado)
empresta dinheiro (que diz não ter) para o capital comprar Estatais.

A população aceita isso?

Ela nem sabe. Crédito subsidiado


Estado
Bancos públicos

Capital Estado
Estatais privatizadas
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Outra estratégia do neoliberalismo é desregular o setor financeiro, criando fraudes e


bolhas especulativas, tanto em escala nacional (Americanas e 123milhas), como em
escala global (Bolha ponto-com de 2000 e Crise do subprime de 2008). Ao invés de
explorar mais-valia, o capital simplesmente rouba dinheiro de outros setores.

Especulação
Economia fictícia

Capital

Idiotas úteis
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Resumindo, o neoliberalismo aumenta temporariamente as taxas de lucro através da:


exploração mais intensa dos trabalhadores; corte de benefícios sociais; privatizações;
distribuições de altos dividendos no curto prazo; especulação financeira; e juros altos da
dívida pública. Porém, o neoliberalismo destrói a economia real no processo…

Trabalho

Capital
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

O neoliberalismo também cria condições econômicas e políticas para o rentismo, que


são aluguéis, impostos, patentes, pedágios, seguros, juros, e outros custos que não
adicionam valor ao produto. A renta cria a ilusão de lucros, mas na verdade está
apenas roubando dinheiro da classe trabalhadora e da indústria.

Trabalho
Capital
rentista
Capital
industrial
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

O mercado de trabalho “securitizou” a mão de obra, jogando os custos da formação de


trabalhadores na própria sociedade e permitindo que o capital não precisasse mais ser
responsável pelo “desgaste” do trabalhador individual. O Mercado de ações e o próprio
Estado cumprem papéis semelhantes, “securitizando” os meios de produção.
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

O capital deixa de ser dono de empresas individuais e passa a ser dono de fatias de
múltiplas empresas. Dessa forma, assim como um trabalhador pode ser totalmente
desgastado para produzir valor, as empresas também podem ser desgastadas para
produzir lucros no curto prazo. O capital lucra destruindo as forças produtivas!
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Resumindo algo que será abordado na 2ª parte da aula 04: O capital busca uma empresa
que possa ser parasitada. Depois, o capital obtém um empréstimo no banco (1), compra a
empresa pública ou privada (2), corta gastos e vende ativos para liquidar a empresa e
gerar dinheiro no curto prazo (3), depois paga a dívida no banco e fica com o lucros (4).

2. Aquisição 1. Crédito

Capital Banco
3. Descapitalização

3. Dividendos 4. Juros
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

No caso de privatizações, o Estado usa o trabalho do povo para adicionar valor nas
estatais, fazendo a sociedade arcar com os custos de criar e manter as empresas.
Quando o negócio passa a dar lucro, é logo privatizado e o capital passa a sugar os
recursos o mais rápido possível, como no caso da Petrobrás e Eletrobrás.

Privatização
Estado
Capital

Sociedade
Trabalho Dividendos
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Os mecanismos descritos aqui aumentam artificialmente os lucros no curto prazo. Porém,


devemos lembrar que a origem dos lucros é obtida explorando a mão de obra. Se a
sociedade colapsar e a mão de obra não conseguir mais agregar valor ao produto, tanto o
capital industrial como o capital rentista não terão mais de onde extrair seus lucros.

Trabalho
Capital
rentista
Capital
industrial
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Esse aumento da exploração tanto da mão de obra (via mercado de trabalho) quanto da
própria estrutura produtiva (via mercado financeiro), destrói potencial produtivo da
sociedade em troca de lucros no curto prazo. Porém, quanto menos indústrias tivermos e
quanto menos trabalhadores estiverem empregados, menos valor real é produzido.

Trabalho
Capital
rentista
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

A desindustrialização reduz a produtividade, causa escassez de produtos e sucateamento


de fábricas. O resultado é Inflação! A “solução mágica” do mercado para essa inflação é
subir os juros ainda mais para proteger seu dinheiro enquanto a economia morre… Assim
como parasitas disputando entre si a carcaça do hospedeiro moribundo.

Trabalho
Capital
rentista
Contradições do capital

Neoliberalismo: a última alternativa

Com menos valor produzido, a taxa de lucratividade cai ainda mais, até chegar ao ponto
que não existe mais lucro para ser extraído pelo sistema financeiro nem pelo Estado.
Assim como o império romano colapsou por causa de suas próprias contradições
internas, isso seria o colapso da sociedade capitalista por causa de suas contradições.

Trabalho

Capital
industrial
Contradições do capital

Um sistema feito para falhar

Poderia o livre mercado resolver esse problema? Não! Pois as contradições do capital
levariam o sistema à uma crise de realização do valor em pouquíssimo tempo,
justamente porque a massa salarial é inferior ao valor total da produção. Logo, não existe
dinheiro o suficiente para transformar as mercadorias em mais dinheiro.

Trabalho

Capital
Contradições do capital

Um sistema feito para falhar

Poderia o Estado “irrigar” a economia com dinheiro para garantir o lucro? Não! Pois o
problema do capitalismo não é falta de dinheiro, mas sim a transferência de valor! Se o
Estado der aos trabalhadores uma quantia de valor igual ao valor que o capital explora, a
taxa de lucro do capital, medido em valor, seria zero! Não haveria capitalismo!

Trabalho

Capital Déficit
Contradições do capital

Um sistema feito para falhar

E se o Estado compensar também o capital para garantir lucro? De nada adianta! Como o
capital precisa se multiplicar, isso é como jogar gasolina na fogueira, intensificando as
atividades do capital e fazendo com que ele se reproduza mais… e mais… e mais… até
invadir outros países para buscar recursos, como na 1ª e 2ª guerras mundiais.

Trabalho

Capital Déficit
Contradições do capital

Um sistema feito para falhar

Como foi que o capital jogou essa contradição para baixo do tapete? Como foi que o
capital conseguiu criar a ilusão de que as coisas estão funcionando? Como é possível
que o capital seja capaz de crescer rapidamente em um momento e do nada colapsar
como em 1929 ou em 2008? De onde vem essa explosão e essa queda?

Trabalho

Capital ?
Contradições do capital

Um sistema feito para falhar

Com as explicações que eu dei até o momento, o capital parece se comportar de maneira
suave e cíclica, com períodos de crescimento e declínio gradual. Porém, no mundo real,
vemos períodos de rápido crescimento seguidos por crises que explodem “do nada”.
Tanto o período de crescimento como as crises súbitas são causadas pela mesma coisa.

? Teoria

Realidade
Contradições do capital

Bancos como criadores de bombas-relógio

É aqui que surge o crédito, que é o dinheiro criado pelo sistema bancário! Através dos
empréstimos, os trabalhadores conseguem, no curto prazo, completar a diferença entre
a renda e o consumo. O mesmo crédito também é utilizado pelo capital para investir e
buscar lucros ainda maiores utilizando no presente o “dinheiro do futuro”!

Trabalho

Capital Crédito
Contradições do capital

Bancos como criadores de bombas-relógio

No curto prazo, o crédito bancário funciona como uma ponte entre o salário/lucro e as
demandas por consumo e investimento. Isso permite que os produtos feito no 1º ciclo
possam ser comprados no mesmo ciclo, e permite que as indústrias possam buscar
dinheiro para aumentar sua capacidade produtiva conforme a demanda cresce.

Demanda (consumo)
Trabalho
Salário Crédito

Demanda (investimento)
Bancos
Capital
Lucros Crédito
Contradições do capital

Bancos como criadores de bombas-relógio

No longo prazo, conforme as dívidas se acumulam, o pagamento de juros passa a


consumir uma parcela maior dos salários e lucros. O crédito não resolve a contradição
fundamental do capital, apenas torna os ciclos de expansão e contração mais rápidos.
Quando a economia se torna incapaz de pagar os juros, temos uma crise financeira.

Juros
Economia Bancos
Crédito
Contradições do capital

O engenheiro pergunta: “Se você sabe de tudo isso, por que ainda é um capitalista?”

O capitalista responde: “Enquanto o sistema continua, eu absorvo valor da sociedade sem


trabalhar. No curto prazo, não tenho motivos para querer mudar esses sistema.”

!
Trabalho

Capital Bancos
Contradições do capital

O engenheiro pergunta: “E no longo prazo? Se a sociedade colapsar, você perde tudo!


Sem o Estado e sem o dinheiro, nada do que você tem hoje será seu!”

O capitalista responde: “Por que você acha que o capital está investindo em coisas como
viagens espaciais, inteligência artificial e soldados robôs?”

!
Trabalho

Capital Bancos
Contradições do capital

O engenheiro pergunta: “E você? Está investindo nessas coisas?”

O capitalista responde: “Não. Eu apenas encho a cara whisky e o nariz de cocaína para
curtir a vida até o fim inevitável da humanidade ou o fim do capital. Eu vou perder tudo em
ambos os casos, mas os trabalhadores como você ainda podem ganhar alguma coisa.”


Trabalho

Capital Bancos
Contradições do capital

O engenheiro pergunta: “Para onde você está indo?”

O capitalista responde: “Não sei. Eu apenas sigo o capital…”


Trabalho

Capital Bancos
Contradições do capital

Então, o engenheiro percebeu o tamanho da merda em que a humanidade se meteu

Êita porra…
Na próxima parte da aula 04, veremos
como os bancos criam moeda escritural
(bombas-relógio) e como isso se
relaciona com as crises do capitalismo.
Na segunda parte…

A moeda bancária
Como o sistema financeiro cria bombas-relógio
Na próxima parte…
Quais mecanismos monetários extraem valor do povo?

Na parte II da aula 04, veremos como as dívidas


privadas no sistema bancário roubam valor.

Valor
Valor
Depósitos Depósitos
Dívidas Dívidas
Depósitos
Crédito Crédito
Valor
Ativos Passivos Ativos Passivos Ativos Passivos

???? Bancos População


Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…

Obrigado por querer entender sobre a política e a economia de nosso país.

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Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…


FONTES

1. História da moeda, da dívida e do dinheiro

2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

3. Funcionamento da moeda bancária (escritural)

4. O Capitalismo e suas crises econômicas

5. Leis e regulamentos relevantes

6. Outras fontes
FONTES: 1. História da moeda, da dívida e do dinheiro

Georg Friedrich Knapp; 1924,


David Graeber; 2011; The State Theory of Money
Debt: The First 5000 Years
John. M. Keynes; 1930;
Michael Hudson; 2018; A Treatise on Money: the pure theory of money
… and forgive them their debts: Lending, Foreclosure and
Redemption from Bronze Age Finance to the Jubilee Year Karl Polanyi, Conrad M. Arensberg, Harry W. Pearson;
1957;
Karl Marx; 1859 Trade and Market in the Early Empires: Economies in
A Contribution to the Critique of Political Economy History and Theory

Alfred Mitchell Innes; 1914; L. Randall Wray; 2004;


“The credit theory of money,” Banking Law Journal Credit and State Theories of Money: The Contributions of A.
Mitchell Innes
FONTES: 2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

Daniel Negreiros Conceição, Fabiano Dalto; 2022; Andrew Berkeley, Josh Ryan-Collins, Richard Tye, Asker Voldsgaard,
A Importante Lição da Coronacrise sobre os Limites do Gasto Público Neil Wilson; 2022;
https://fonacate.org.br/wp-content/uploads/2022/04/Cadernos-Reforma-Admin The self-financing state: An institutional analysis of government expenditure,
istrativa-N.-37.pdf revenue collection and debt issuance operations in the United Kingdom

Abba P. Lerner; 1943; Fabiano A S Dalto, Enzo M Gerioni; Júlia A Omizzolo; David Deccache;
Functional Finance and the Federal Debt. Social Research, no. 10 Daniel Conceição; 2020;
Teoria Monetária Moderna: a chave para uma economia a serviço das
Abba P. Lerner; 1947; pessoas
Money as a Creature of the State
L. G. Belluzzo, L. C. Raimundo; S. Abouschedid; 2021;
Gestão da Riqueza Velha e Criação de Riqueza Nova: a Modern Money
Alfred Mitchell Innes; 1913;
Theory (MMT) é a solução?
“What is money?” Banking Law Journal
André Lara Resende; 2017;
L. Randall Wray; 2015;
Juros, Moeda e Ortodoxia: teorias monetárias e controvérsias políticas
Modern Money Theory: a primer on macroeconomics for sovereign monetary
André Lara Resende; 2022;
Steve Keen; 2022; A camisa de força ideológica da macroeconomia
The New Economics : A manifesto https://www.cebri.org/media/documentos/arquivos/V_5.4.2022_-_Andre_Lara
_Resend.pdf
Stephanie Kelton; 2020;
The deficit myth: Modern Monetary Theory and the birth of the people’s Warren Mosler; 2013;
economy Soft Currency Economics II: The Origin of Modern Monetary Theory
FONTES: 3. Funcionamento da moeda bancária (escritural)

Josh Ryan-Collins, Tony Greenham, Richard Werner, Andrew Jackson; 2017


Where Does Money Come From? – A Guide To The Uk Monetary And Banking System

Michael McLeay, Amar Radia, Ryland Thomas; 2014


Money creation in the modern economy (Bank of England)
https://www.bankofengland.co.uk/-/media/boe/files/quarterly-bulletin/2014/money-creation-in-the-modern-economy

Deutsche Bundesbank; 2017


The role of banks, non-banks and the central bank in the money creation process.
https://www.bundesbank.de/resource/blob/654284/df66c4444d065a7f519e2ab0c476df58/mL/2017-04-money-creation-process-data.pdf

Steve Keen; 2022;


The New Economics : A manifesto
FONTES: 4. O Capitalismo e suas crises econômicas
Karl Marx; 1867 Ladislau Dowbor; 2018
Capital: A Critique of Political Economy A Era do Capital Improdutivo

Irving Fisher; 1933 Richard Werner; 2003


The debt-deflation theory of great depressions, Econometrica, 1: 337–55. Princes of the Yen: How Japan's Central Bankers Engineered their Country's
https://www.jstor.org/stable/1907327
Boom and Bust
Hyman P. Minsky; 1992
The Financial Instability Hypothesis Richard Vague; 2019
https://www.levyinstitute.org/pubs/wp74.pdf A Brief History of Doom: Two Hundred Years of Financial Crises

Dirk J Bezemer; 2009 Atif Mian; Ludwig Straub; Amir Sufi; 2019
No One Saw This Coming: Understanding Financial Crisis Through Accounting Models
https://mpra.ub.uni-muenchen.de/15892/1/MPRA_paper_%2015892.pdf The Saving Glut of the Rich and the Rise in Household Debt
https://www.rba.gov.au/publications/workshops/research/2019/pdf/rba-workshop-2019-sufi.pdf

Michael Hudson; 2021


Super Imperialism [3rd edition] - The Economic Strategy of American Empire Leda Maria Paulani; 2022
Recursos Públicos para o Enriquecimento Privado: uma reflexão sobre o
Michael Hudson; 2015 papel do Estado no atual padrão de acumulação (e o Brasil como paradigma)
Killing the Host - How financial parasites and debt destroy the global economy https://sinait.org.br/doc_reforma/caderno35.pdf

Michael Hudson; 2012 Rudinei Marques, José Celso Cardoso Jr; 2022
The Bubble and Beyond : Fictitious Capital, Debt Deflation and Global Crisis Dominância Financeira e Privatização das Finanças Públicas no Brasil
https://fonacate.org.br/noticia/entidades/fonacate-lanca-livro-dominancia-financeira-e-privatizacao-das-financas-
James Andrew Felkerson; 2011 publicas-no-brasil/

$29,000,000,000,000: A Detailed Look at the Fed’s Bailout by Funding Facility


and Recipient Ilan Lapyda; 2021
https://www.levyinstitute.org/publications/29000000000000-a-detailed-look-at-the-feds-bailout-by-funding-facility Os Principais Agentes Privados da Financeirização no Brasil do século XXI
-and-recipient https://sinait.org.br/doc_reforma/caderno23.pdf
FONTES: 5. Leis e regulamentos relevantes
Obrigatoriedade de aceitação da moeda pública
Lei Orçamentária Anual – Conhecida como L.O.A
https://www12.senado.leg.br/orcamento/legislacao-orcamentaria Artigo 43 do Decreto Lei nº 3.688 de 03 de Outubro de 1941

LEI Nº 4.595, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1964 (Art.8 par. único; Art. 10


art. 167, inciso III, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) inciso V, Art. 11 inciso II)
Regra de Ouro, que restringe o volume das despesas correntes, por meio da Como o Banco Central cumpre a função de “prestamista de última instância”,
vedação à realização de operações de crédito que excedam as despesas de oferecendo reservas aos bancos comerciais. (Os lucros desses empréstimos
capital. viram receita do governo):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4595.htm
Regra de Primário, que impõe a necessidade de se contingenciar despesas,
por meio da limitação de empenhos e movimentações financeiras, com o Normas prudenciais do Banco Central do Brasil
propósito de cumprir a meta de resultado primário fixada na Lei de Diretrizes https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira

Orçamentárias (LDO), em conformidade com os dispositivos da Lei


Complementar no 101/2000, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Normas do comitê internacional de Basiléia
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/recomendacoesbasileia
https://www.bis.org/bcbs/basel3.htm
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), estabelecida no ano 2000.
Anualmente, a Lei Orçamentária fixa uma meta de resultado primário, ou Resolução BCB n° 129 de 19/8/2021
seja, o resultado da subtração de receitas esperadas e despesas autorizadas, Possibilidade dos bancos depositarem reservas no Banco Central em troca
excluindo pagamentos de juros e amortizações da dívida pública de juros (tipo poupança):
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o%20BCB&nume
Novo Regime Fiscal, fixado pela Emenda Constitucional no 95/2016, convertida nos ro=129

arts. 107 a 114 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da


CF/1988, que fixou um teto congelado em termos reais para as despesas primárias Operações compromissadas do Banco Central
https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1999/pdf/res_2675_v2_L.pdf
para vigorar pelo período de duas décadas, de 2017 a 2036.2. Conhecido como teto
de gastos - O Novo Regime Fiscal previu, por até vinte anos, correção das despesas
Base monetária conforme definido pelo Banco Central do Brasil
apenas pela inflação de doze meses acumulada até junho do exercício anterior ao que https://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/NM-MeiosPagAmplp.pdf
se refere a lei orçamentária. https://www3.bcb.gov.br/sgspub/
FONTES: 6. Outras fontes
Custo ao tesouro nacional em 2021 para pagamento de juros dos títulos
públicos:
https://www.portaltransparencia.gov.br/despesas/programa-e-acao?paginacaoSimples=true&tamanhoPagina= Global Revenue Statistics Database; OECD
&offset=&direcaoOrdenacao=asc&de=01%2F01%2F2021&ate=31%2F12%2F2021&programa=0905&colunasS
elecionadas=linkDetalhamento%2CmesAno%2Cprograma%2Cacao%2CvalorDespesaEmpenhada%2CvalorD
Base de dados das estatísticas tributárias; OCDE
espesaLiquidada%2CvalorDespesaPaga%2CvalorRestoPago https://www.oecd.org/tax/tax-policy/global-revenue-statistics-database.htm

Relatório Mensal da Dívida Pública Federal, de Setembro 2021 (Pág. 13, Radhika Desai, Michael Hudson; 2021
tabela 2.4) Beyond the Dollar Creditocracy: A Geopolitical Economy
https://www.michael-hudson.com/wp-content/uploads/2021/07/Hudson_Valdai116.pdf
Em Setembro de 2021, os títulos públicos estavam: 31% em instituições
financeiras, 23% em fundos de investimentos, 22% em previdências, e 10% Esteban Almiron; 2022
com não-residentes. How Argentina has been trapped in neocolonial debt for 200 years: An
https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41762
economic history
https://geopoliticaleconomy.com/2022/12/18/argentina-neocolonial-debt-history/
ANBIMA – Consolidado Histórico de Fundos de Investimento (Julho,
2022. Pág. 7) Radhika Desai; 2022
Em 2022 os fundos de investimento brasileiros tinham 70% de seu capital What is really causing inflation? Neoliberal financialization decimated
alocado em títulos públicos productive capacity
https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/estatisticas/fundos-de-investimento/fi-consolidado-historico.htm https://geopoliticaleconomy.com/2022/11/07/inflation-neoliberal-financialization/

Você pode acompanhar os gastos do governo através do Portal da Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI (Evento
Transparência: BNDES)
https://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento
Dia 01: https://www.youtube.com/watch?v=HXsbSiOH8bE
Dia 02: https://www.youtube.com/watch?v=ygrocuaff8I
Serviço de exportação de engenharia do BNDES
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/bndes-aberto/exportacoes
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes/contratos-exportacao-
bens-servicos-engenharia
FONTES: 6. Críticas ao Novo Arcabouço Fiscal

Notícias sobre o novo arcabouço fiscal:


https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/04/18/veja-a-integra-do-projeto-do-novo-arcabouco-fiscal.ghtml
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2023/03/entenda-os-principais-pontos-da-regra-fiscal-proposta-pelo-governo-lula.shtml
https://jornalggn.com.br/coluna-economica/xadrez-do-rascunho-de-arcabouco-fiscal-e-suas-limitacoes-por-luis-nassif/
https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/03/30/arcabouco-fiscal-equipe-economica-divulga-a-proposta-para-substituir-o-teto-de-gastos.ghtml

Críticas ao novo arcabouço fiscal


Revista Outras Palavras, primeiro link é a crítica ao projeto inicial, a segundo é uma crítica ao projeto aprovado
https://outraspalavras.net/crise-brasileira/onde-haddad-errou/
https://outraspalavras.net/crise-brasileira/arcabouco-o-que-era-ruim-pode-piorar/

Proposta de novo arcabouço fiscal beneficia mercado financeiro


https://averdade.org.br/2023/03/proposta-de-novo-arcabouco-fiscal-beneficia-mercado-financeiro/

Nova regra fiscal beneficia mercado financeiro e ignora dívida pública


https://averdade.org.br/2023/04/nova-regra-fiscal-beneficia-mercado-financeiro-e-ignora-divida-publica/

Obrigado por querer entender sobre a política e a economia de nosso país.

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