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Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…

De onde vem a moeda?


Aula 01
Introdução e antropologia

Fontes nos últimos slides


O que será apresentado

1. Introdução ao tema Aula 01

2. Moeda ≠ Dinheiro ≠ Valor Aula 01

3. História da dívida e da moeda Aula 01

4. Moeda fiduciária e política fiscal Aula 02

5. Banco central e política monetária Aula 03

6. Moeda escritural e crédito bancário Aula 04

7. Rentismo, inflação e crises financeiras Aula 05

8. Multipolarismo e des-dolarização Aula 06


Introdução

O que os temas abaixo têm em comum?

Banco do Mercosul e do BRICS

Discussão sobre a taxa Selic entre Lula e Campos Neto

Teto de gastos do governo Michel Temer

Políticas de austeridade do governo Paulo Guedes / Bolsonaro

Novo arcabouço fiscal do Fernando Haddad

Des-dolarização do mundo e Nova Ordem Multipolar


Introdução

Todos envolvem moeda

Banco do Mercosul e do BRICS

Discussão sobre a taxa Selic entre Lula e Campos Neto

Teto de gastos do governo Michel Temer

Políticas de austeridade do governo Paulo Guedes

Novo arcabouço fiscal do Fernando Haddad

Desdolarização do mundo e Nova Ordem Multipolar


Introdução

O que as frases abaixo têm em comum?

O governo é como uma família que não pode gastar mais do que recebe

Os bancos são intermediários entre poupadores e investidores

Imprimir moeda sempre gera inflação porque dilui o poder do dinheiro

Se a dívida pública for muito alta, o país quebra

Bancos corruptos multiplicam dinheiro com as reservas fracionárias

Se o governo gastar demais, vamos virar uma Argentina!


Introdução

Todas estão erradas

O governo é como uma família que não pode gastar mais do que recebe

Os bancos são intermediários entre poupadores e investidores

Imprimir moeda sempre gera inflação porque dilui o poder do dinheiro

Se a dívida pública for muito alta, o país quebra

Bancos corruptos multiplicam dinheiro com as reservas fracionárias

Se o governo gastar demais, vamos virar uma Argentina!


Por que estão erradas?

Vamos partir do começo…


O que veio antes: O ovo ou a galinha?
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Você sabe de onde vêm a moeda?


Do meu salário.
De onde vem o seu salário?
Do lucro da empresa em que eu trabalho.
De onde vem o lucro da sua empresa?
De quem compra nossas mercadorias.
De onde vem a grana deles?
Do salário deles…
De onde vem o salário deles?
...
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

E se um novo país fosse fundado hoje?

De onde viria a moeda do governo? De onde viria a moeda dos bancos?


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

De acordo com o senso comum:

Governos se financiam com impostos Bancos emprestam fundos dos clientes

De onde vem a moeda do imposto? De onde vem a moeda dos clientes?

Sem moeda não existe imposto Sem moeda não existe empréstimo

E agora!?
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

De onde realmente vem a moeda?

Governos criam moeda fiduciária Bancos criam moeda escritural


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Como funciona esse processo?

Governos criam moeda ao gastar Bancos criam moeda ao emprestar

Pagar impostos destrói moeda Pagar dívidas destrói moeda

Imposto acontece após o gasto Poupança acontece após o empréstimo


O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Governos criam moeda física, que são


Bancos comerciais também criam
as cédulas de papel em nossa
moeda digital em seus computadores
carteira. Porém, a maior parte da
quando concedem crédito. Esse
moeda criada pelo governo é digital,
processo é [supostamente] regulado
criada pelo Banco Central em seus
pelos Bancos Centrais de cada país.
computadores.
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Governos gastam primeiro, colocando Bancos criam crédito primeiro. Depois,


moeda em circulação. Depois, o transformam as dívidas de seus
imposto é recolhido na mesma moeda. clientes em aplicações financeiras.

Um aumento dos gastos públicos pode Um aumento do crédito bancário gera


aumentar as receitas futuras. um aumento das poupanças.
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Logo…

O crédito público (moeda fiduciária), O crédito bancário não depende das


não depende da arrecadação, mas a poupanças, mas as poupanças
arrecadação depende do gasto. dependem da criação de crédito.

Se o governo não gastasse e os bancos não criassem


crédito, não haveria um único real na economia.
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

A moeda do governo e dos bancos é igual?

Não, mas são intercambiáveis

Você pode usar sua conta bancária Você pode usar a moeda do governo
para pagar tributos ao governo para quitar empréstimos no banco

Isso é possível porque as duas moedas


são medidas na mesma unidade: O Real
O que veio antes: O ovo ou a galinha?

Como chegamos nesse ponto?

O funcionamento das coisas, que foi


resumido nos slides anteriores, é uma
descrição da moeda nos dias de hoje.

Para entender esse processo, iremos ver


primeiro um pouco de história e antropologia.
Materialidade e Mitologia
Materialidade e Mitologia

O mundo dos espíritos

As antigas religiões animistas acreditavam que pessoas, animais, plantas,


montanhas, rios, estrelas, o próprio Sol e até mesmo a chuva e o trovão tinham
uma essência espiritual. Tudo tinha vontade própria. Os fenômenos da natureza
eram intencionais, sendo causados pelas emoções das coisas.

A Lua veio nos visitar O trovão está com raiva

O rio está com pressa O céu está chorando


Materialidade e Mitologia

A deificação das coisas

Com o passar do tempo, algumas dessas coisas se tornaram deuses. O Sol


era comumente um deles. A luz e o calor do astro, que permitiam aos humanos
enxergar o mundo, se aquecer e plantar, eram fruto da generosidade do Sol.
Materialidade e Mitologia

As vontades das coisas

As vontades e desejos das coisas podiam tanto punir como recompensar.


Agradar as entidades que compunham o mundo era questão de sobrevivência.
Seguir dogmas e até mesmo realizar sacrifícios eram parte do dia-a-dia.

O céu nos puniu O céu nos


com secas e recompensou
tempestades com sol e chuva
Materialidade e Mitologia

As vontades de um deus

Para as religiões teístas, os deuses são entidades separadas das coisas,


atuando diretamente sobre o mundo. Esses deuses, ou o Deus único, pode
tanto punir como recompensar. A vontade destes seres, ou deste Deus, está
acima das coisas. A humanidade é guiada pelos mandamentos divinos.

Deus nos puniu Deus nos


com secas e recompensou
tempestades com sol e chuva
Materialidade e Mitologia

Dogmas que “justificam” o mundo

Parte comum da religião é tentar explicar a realidade de forma que os fatos se


adequem às crenças; não o contrário. Para os que crêem na economia
convencional, mesmo inconscientemente, a verdade passa a ser distorcida
pelos mitos… gerando contradições que são varridas para baixo do tapete.

Crença / Mito Fato Conclusão

Mercados são eficientes Crises capitalistas são Se o mercado é infalível. Existem


em alocar recursos. muito recorrentes forças externas causando a crise.
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência


As religiões convencionais se autodenominam como religiões.
Seus seguidores sabem que as respostas que buscam estão no plano espiritual.

A economia convencional, por outro lado, finge ser uma ciência.


Seus seguidores acham que os mitos são a própria realidade.

Crença / Mito Fato Conclusão

Mercados são eficientes Crises capitalistas são Se o mercado é infalível. Existem


em alocar recursos. muito recorrentes forças externas causando a crise.
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Para compreender o mundo à nossa volta, precisamos eliminar nossas crenças.

Crença Hipótese Fato Conclusão

Mercados são eficientes Crises capitalistas são A hipótese é falsa. O mercado não
em alocar recursos? muito recorrentes é eficiente em alocar recursos

Nova conclusão Nova análise Nova hipótese

O capitalismo causa Observa-se o que as Os próprios mecanismos do


suas próprias crises crises têm em comum capitalismo causam crises?
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Assim como as religiões foram ferramentas de poder, as crenças da economia


hegemônica servem um propósito semelhante: fabricar mitos e crenças que, ao
invés de explicar o mundo, apenas justificam a hierarquia social.

Crença / Mito Fato Conclusão

O mercado é onisciente, Crises ocorrem quando humanos


Crises capitalistas são
racional, e perfeito, tal atrapalham o funcionamento
muito recorrentes
como o próprio Deus. perfeito do Deus mercado!
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

A partir de uma crença, é possível negar a realidade…

Crença / Mito Conclusão

O mercado é onisciente, As crises são fruto da interferência humana nos mercados!


racional, e perfeito, tal Precisamos de menos interferência e mais mercados!
como o próprio Deus. Precisamos entregar tudo ao Deus Mercado!
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

A partir de uma crença, é possível justificar contradições explícitas.

Crença / Mito Conclusão

O mercado é onisciente, O mercado é perfeito, até nas crises. Essas crises são como a
As crises são fruto da interferência humana nos mercados!
racional, e perfeito, tal renovação da terra, que mata as plantas fracas e permite que
Precisamos de mais capitalismo!
como o próprio Deus. as fortes cresçam! Devemos agradecer ao Deus Mercado!
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

A partir de uma crença, é possível justificar o extermínio de populações.

Crença / Mito Conclusão

O mercado é onisciente, O mercado é perfeito, até quando mata. Pessoas mais fracas
As crises são fruto da interferência humana nos mercados!
racional, e perfeito, tal são ceifadas, assim como ervas daninhas, para que as fortes
Precisamos de mais capitalismo!
como o próprio Deus. cresçam e prosperem! Devemos agradecer ao Deus Mercado!
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

O capitalismo nos trouxe uma nova religião, em que o Mercado é uma entidade
divina e o dinheiro é uma manifestação de sua vontade. Da mesma forma que
religiosos antigos interpretavam os fenômenos da natureza como ações divinas,
economistas hoje são os interpretadores do mercado e do dinheiro.

O mercado nos $ $ O mercado nos


puniu com crises recompensou
e pobreza com riqueza
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

A busca pelo dinheiro, análoga à busca pela iluminação, requer seguir


mandamentos e fazer sacrifícios. Isso é parte do nosso dia-a-dia, tanto que não
somos capazes de perceber que guiamos nossas vidas seguindo crenças
religiosas. Economistas hoje cumprem o papel de leitores das escrituras.

O mercado nos $ $ O mercado nos


fez perder dinheiro fez ganhar
porque… dinheiro porque…
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Outra parte comum da evolução religiosa é adotar crenças antigas e adaptá-las


para se enquadrar na mitologia nova. Uma das coisas que o capitalismo adotou
de outros sistemas foram as relações sociais da moeda e da dívida. Para o
cidadão comum, a moeda parece criação do próprio capitalismo.

$
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Quando o capitalismo misturou moeda, dinheiro e valor em uma única


entidade, isso gerou uma falha crítica. Esse detalhe que aparenta ser pequeno,
impede a economia convencional de explicar impostos, inflação, dívida pública,
crises econômicas, bancos, e a própria moeda.

$
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Veremos que a moeda e o dinheiro são coisas distintas. Embora o capitalismo


tenha adotado a moeda como meio de troca para a circulação de mercadorias,
essa não é a função fundamental das cédulas em nossas carteiras nem dos
bits em nossas contas bancárias.

$
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Compreender a natureza da moeda permite entender crises, inflação, dívida


pública, bancos, impostos, e muito mais. Ao enxergar a moeda como ela
realmente é, passamos a ver que o mundo não é movido pelas poupanças e
livres trocas… mas pelas dívidas e pelas punições aos que não podem pagar.

Dívidas são coisa $ Dívidas são uma


de indivíduos parte fundamental
gastando demais do sistema
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

A história da moeda e da dívida não é a história do comércio, mas sim do


autoritarismo, escravidão, militarismo, opressão e perda de liberdades.
Essa é a história dos devedores que perderam tudo…

Moeda é uma $ Moeda é uma


relação social relação social
voluntária imposta pela força
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

A história da moeda é também a história dos credores que tomaram as terras,


as famílias e os países dos devedores. Após perderem tudo, os devedores
entregaram a última coisa que ainda tinham: sua servitude.

Moeda é uma $ Moeda é o poder


representação da de se apropriar da
nossa riqueza riqueza alheia
Materialidade e Mitologia

Religião, Economia e Ciência

Sem perceber, os devedores perderam também suas religiões. Foram todos


consumidos por um novo deus que demanda sacrifícios em troca de moedas.
Moedas que são usadas para pagar dívidas que esse próprio deus criou.

As suas dívidas $ O mercado só


são uma punição funciona se todos
do deus mercado se endividarem
Materialidade e Mitologia

Espero que isso tenha te deixado curioso para ler o resto


Moeda, dinheiro e valor
Moeda, dinheiro e valor

Moeda, dinheiro e valor são a mesma coisa?

Não. Porém, esses termos são usados indiscriminadamente pela mídia e pelo
senso comum, fazendo parecer que são equivalentes.
Moeda, dinheiro e valor

Vamos começar com a pergunta: “Quanto vale 1 REAL (R$)?”

O senso-comum provavelmente vai responder que…

1 Real vale 1 Real

1 Real vale 100 centavos

Porém, isso não nos leva a lugar algum.


Moeda, dinheiro e valor

As respostas anteriores fazem tanto sentido quanto dizer que…

1 hora dura 1 hora 1 metro mede 1 metro

1 hora dura 60 minutos 1 metro mede 100 centímetros

1 minuto dura 60 segundos 1 centímetro mede 10 milímetros

Dividir uma unidade em partes não nos explica o que é a própria unidade.
Moeda, dinheiro e valor

Uma forma mais adequada de responder seria comparando com algo concreto

1 dia dura aprox. 24 h 1 pé mede aprox. 0,3 m

1 piscada dura entre 0,1 e 0,4 s 1 lápis comum mede aprox. 19 cm

O coração bate 60-100 vezes por minuto 1 polegar mede aprox. 25 mm


Moeda, dinheiro e valor

Se quisermos ser cientificamente precisos…

1 segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação


correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do
estado fundamental do átomo de césio 133

1 metro é a distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um


intervalo de 3,33564095198152 x 10-09 segundos.
Moeda, dinheiro e valor

Voltemos à pergunta sobre quanto vale 1 real (R$)

1 Salário mínimo - 2022 R$ 1.302,00


1 Litro de gasolina - Janeiro de 2022 R$ 5,12
1 passagem de metrô em São Paulo - 2022 R$ 4,40
1 m² de construção popular - Janeiro 2022 R$ 1.525,48
1 tonelada de minério de ferro - 2022 R$ 442,00
… …
Moeda, dinheiro e valor

O Real é uma unidade de medida, assim como:


metros, segundos, quilogramas, graus celsius, calorias, volts, litros, etc…

O Real é uma unidade de valor

Dólares, Euros, Rubros, Ienes, Yuans, Libras


também são unidades de valor

Nós utilizamos medidas de valor quando


desejamos comparar coisas distintas.
Moeda, dinheiro e valor

Porém, temos um problema…

O dia vai continuar tendo 24 horas no futuro.


A velocidade da luz é uma grandeza constante.
Porém, o valor das coisas, medido em Reais (R$), não é constante.

A gasolina pode ter valor de uso constante, mas seu valor de troca (preço) em
Reais (R$) pode flutuar com o passar do tempo.
Valor de uso ≠ valor de troca (preço)
Moeda, dinheiro e valor

E temos outro problema…

Existe uma definição científica exata para cada unidade de medida:


metros, segundos, quilogramas, graus celsius, calorias, volts, litros, etc…

Sabemos os valores das coisas apenas em relação umas às outras…


mas não temos uma unidade fundamental constante de valor.
Moeda, dinheiro e valor

Se tratando de medir valor, não estamos limitados à moedas.

Poderíamos medir o valor das coisas


utilizando algo concreto, como:
- Cabeças de gado
- Barras de ouro
- Garrafas de leite
- Sacas de arroz
- Etc…
Moeda, dinheiro e valor

E se utilizássemos sacas de arroz como unidade de valor?

Se soubéssemos o valor de tudo medido


em sacas de arroz… por consequência,
poderíamos medir indiretamente quantas
garrafas de leite vale uma barra de ouro,
ou quantas barras de ouro vale uma vaca.
Moeda, dinheiro e valor

Isso significaria que nós iríamos fazer compras utilizando sacos de arroz?

Essa pergunta tem um sério problema,


chamado de anacronismo histórico, ao
supor que as sociedades antigas eram
como as modernas. Ou seja, que a
“sociedade capitalista de trocas mercantis"
existe desde a antiguidade…
Isso é historicamente falso!
Moeda, dinheiro e valor

Imagine uma pequena comunidade rural, onde as famílias produzem para sua
própria subsistência. Cada família planta seu alimento, faz suas roupas, cria
seus animais, etc. O mercado, nessa comunidade, é um local pequeno, onde
as famílias distribuem apenas coisas pontuais que não são produzidas por
todos. É o local onde os eventuais excedentes são trocados.
Moeda, dinheiro e valor

As pessoas dessa comunidade não produzem com o objetivo de vender coisas


no mercado em troca de subsistência. As famílias já são auto-suficientes, não
precisando do mercado para sobreviver. O mercado é onde famílias podem
estabelecer relações bilaterais para trocar excedentes: queijo por cachaça; leite
de vaca por leite de cabra; maçãs por laranjas; sapatos por chapéus; etc.
Moeda, dinheiro e valor

Imagine que essa comunidade mede o valor das coisas em sacas de arroz, pois
esse é o item mais comum que os agricultores plantam e estocam.

E se uma família, a cada 5 anos, pedisse uma vaca para outra?

As duas poderiam simplesmente registrar que uma delas ficaria devendo X


sacos de arroz para a outra, a serem pagos ao longo de 5 anos.

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

E se a família que está devendo para a outra não produz arroz?

O arroz é apenas a unidade de medida do valor da dívida.


A família de João pode devolver um valor equivalente, em coisas que a família
de Maria não produz, quitando a dívida. Se essa relação fosse repetida a cada
5 anos, as famílias teriam um vínculo permanente entre elas.

Dívida quitada

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

Isso seria um caso de escambo?

NÃO. Maria não cria vacas para fazer uma troca imediata na feira. Ela já sabe
que João deseja uma vaca a cada 5 anos e se planeja para isso. João não
produz cestas mensais de produtos para depois fazer uma troca no mercado.
Ele já sabe que Maria deseja essa cesta todos os meses. É uma relação social.

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

A função do arroz foi apenas medir os valores das coisas.


Em nenhum momento o arroz, em sua forma física, foi usado ou trocado.

Se ao invés de arroz a dívida fosse medida em vacas, chocolates, Reais,


Dólares ou uma unidade inventada (O Realovo), a sequência de eventos seria
igual … sem que uma única moeda física tivesse trocado de mãos.

25 Realovos
Dívida quitada

Tem Deve pagar Tem à receber Tem


Família de João Família de Maria
Moeda, dinheiro e valor

E se tiver uma terceira família?

Em que tipo de relação social é possível que:


Maria esteja devendo algo para João…
Que esse algo tenha um valor numérico…
E que João possa transferir essa dívida de Maria para outra pessoa?
Moeda, dinheiro e valor

No exemplo anterior, as famílias mantinham registros de dívidas. Porém, isso


requer confiança entre as duas partes. Se não existe confiança, é impossível
existirem dívidas. Os vizinhos passam a tratar uns aos outros como se fossem
comerciantes de povos diferentes. Então, surge a necessidade de usar uma
mercadoria para cumprir o papel de dinheiro físico, aceito por todos.

25 gramas de ouro
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Essa mercadoria, que cumpre o papel de dinheiro, pode ser ouro, prata,
bronze, ou qualquer outra coisa. É algo que perde seu valor de uso e passa a
ter apenas um valor de troca. O dinheiro é usado como a representação do
valor de troca das outras mercadorias e, por consequência, não é um produto
consumido pela sociedade, mas sim meio de circulação.

25 gramas de ouro
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

O dinheiro, por ser mero representante do valor, não precisa possuir um


valor de uso intrínseco. O ouro, a prata, o cobre e até mesmo as cédulas de
papel, não cumprem uma função de uso para quem as possui. O dinheiro
torna-se o meio pelo qual se obtém outras mercadorias que, essas sim,
possuem o valor intrínseco de uso que as pessoas desejam consumir.

25 gramas de ouro
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Porém, commodities como ouro, prata, bronze e demais tipos de dinheiro


estão fundamentados nos valores de troca desses metais. Quando moedas
sem valor metálico são inseridas no mercado, estamos diante de um contrato
social que é representado por essas moedas. O valor de troca desse item não
é garantido por si mesmo, mas por alguma instituição.

25 Realovos
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

No exemplo anterior, com duas famílias, a moeda não precisaria existir.


Porém, quando temos mais famílias em um mercado, esses mesmos
Realovos precisam ser transferíveis de uma forma física ou contábil, deixando
de representar uma dívida que uma família tem com a outra. Os Realovos
passam a representar um crédito que a família tem com o mercado.

25 Realovos
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Sendo essa moeda uma representação da dívida que o mercado tem com a
sociedade, sendo algo que o mercado aceita em troca de suas mercadorias,
ainda é necessário uma relação de confiança, ou de imposição. Porém, não
é mais uma relação entre indivíduos, mas entre pessoas e instituições.

25 Realovos
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Por qual motivo alguém aceitaria moedas que, intrinsecamente não tem valor,
como meio de pagamento por coisas que tem valor real?

Ótima pergunta!

25 Realovos
Pagamento

Tem Tem
Família de João MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Porém, outras perguntas mais importantes são:

Em que tipo de contexto social a família de João deixaria de ter vínculos diretos
com a família de Maria e, ao invés disso, passaria a ter vínculos indiretos com
todas as outras famílias por meio de um mercado impessoal, onde todas as
famílias fazem trocas através de dinheiro ou moeda?

25 Realovos
Pagamento

Famílias MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Porém, outras perguntas mais importantes são:

Em que tipo de contexto social as famílias deixariam de produzir para sua


própria subsistência e, ao invés disso, passariam a produzir com o objetivo de
levar todos os seus produtos ao mercado, trocá-los por moedas, e usar essas
moedas para comprar seu sustento diretamente no mercado?

25 Realovos
Pagamento

Famílias MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Pois bem…

As comunidades não abriram mão voluntariamente de seu sustento nem de


suas relações sociais. Pessoas livres foram forçadas a se transformarem em
servos que vendem sua mão de obra em troca de moedas. Isso foi imposto por
meio da violência, colonialismo, e cercamento das terras e das máquinas.

25 Realovos
Pagamento

Famílias MERCADO
Moeda, dinheiro e valor

Antes de responder as perguntas:

Por qual motivo uma nota de 25 Realovos é aceita como se tivesse valor?
Ou… de onde diabos vieram os 25 Realovos!? Quem criou eles!?

Precisamos entender o que é valor, dinheiro e moeda. Com isso, a natureza


violenta da sociedade em que vivemos começa finalmente a aparecer.

Famílias MERCADO
Por que medimos o valor das coisas?
Por que medimos o valor das coisas?

Valor de uso

Os valores de uso estão relacionados com as


propriedades que uma determinada coisa tem
para cumprir uma certa função.

Engenheiros comparam propriedades materiais


para identificar ligas com o maior valor de uso
para o tipo de projeto que está sendo feito.
Por que medimos o valor das coisas?

Valor de uso

Nutricionistas comparam propriedades de


alimentos para identificar aqueles com o maior
valor de uso para a dieta desejada.

Podemos comparar o valor de uso entre dois


telefones, dois carros, duas geladeiras, dois
chuveiros, e assim por diante…
Por que medimos o valor das coisas?

Valor de uso

Por outro lado, não faz sentido comparar os


valores de uso entre uma liga metálica e uma
cesta de alimentos! As funções são diferentes.

Ou seja, o valor de uso não é uma propriedade


universal, mas sim uma propriedade específica
entre coisas que cumpram função semelhante.
Por que medimos o valor das coisas?

Valor trabalho / Trabalho para produção

O valor trabalho mede o dispêndio de energia,


trabalho e tempo necessários para produzir uma
coisa utilizando a infraestrutura existente.

É possível comparar a quantidade de trabalho,


energia e tempo necessários para fabricar uma
liga metálica e um conjunto de alimentos.
Por que medimos o valor das coisas?

Valor de troca (Preço)

Duas coisas com o mesmo valor trabalho não


necessariamente tem o mesmo valor de troca
no mercado. Aqui entram contextos sociais.

Os valores de uso e trabalho existem tanto em


comunidades que produzem para a subsistência
como naquelas que produzem para a venda. O
valor de troca existe apenas na segunda.
Por que medimos o valor das coisas?

A partir de que momento precisamos saber o valor das coisas?

Naturalmente sabemos que uma panela de barro


vale mais que um grão de arroz. Sabemos
também que uma casa vale mais que uma vaca.

Porém, a necessidade de saber exatamente


quantos grãos de arroz vale uma panela, ou
quantas vacas valem uma casa, existe apenas
em contextos sociais específicos.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando não precisamos saber o valor das coisas?

Uma família não mede o valor dos cuidados que dá aos próprios filhos.

Dois amantes não medem o valor das horas que passam juntos.

Dois vizinhos de longa data não medem o valor das refeições que partilham.

Dois amigos não medem o valor dos favores que prestam um ao outro.

Você não mede o valor do casaco tricotado que sua avó te deu no aniversário*.

*Não deveria…
Por que medimos o valor das coisas?

Quando não precisamos saber o valor das coisas?

Todo o ano presenteamos pessoas próximas. Fazemos favores sem pedir nada
em troca. Ajudamos um colega de trabalho que está atarefado demais. Damos
carona para conhecidos. Cuidamos dos filhos pequenos de um casal que viajou
no aniversário de casamento. É tudo parte da nossa vida social.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando não precisamos saber o valor das coisas?

O que fazemos tem valor de uso, mas não quantificamos o valor de troca
dessas coisas. Nossos amigos achariam estranho se, após passarmos o dia
todo ajudando a descarregar caixas em uma mudança, pedíssemos 300g de
picanha, 2 salsichas, 1 litro de cerveja, e 1 potinho de sorvete…

? ? ?
?
Por que medimos o valor das coisas?

A partir de que momento precisamos saber o valor das coisas?

Por outro lado, se um funcionário de uma empresa de mudanças tivesse


descarregado as caixas dos clientes, seria normal cobrar pelo serviço… Neste
caso, os envolvidos são estranhos que não irão se encontrar novamente, e que
desejam acertar as contas para não ficar devendo nada à ninguém.

$
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

A necessidade de estabelecer valores numéricos para as coisas depende de


contextos sociais. Isso envolve situações em que uma das partes deseja garantir
que recebeu uma quantidade apropriada de algo que lhe era devido…
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os burocratas precisam saber o valor das coisas?

Nas civilizações antigas em que as terras pertenciam à uma entidade soberana,


era necessário quantificar os tributos que cada família deveria pagar para
usufruir da terra. Definidos os tributos em uma unidade padrão, restava definir
os valores de cereais, animais, peles, vasos, dias de trabalho, etc.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os burocratas precisam saber o valor das coisas?

Impostos não são uma transação comercial. Os burocratas não querem trocar
trigo por vacas, mas saber quanto trigo ou vacas são necessários para quitar
tributos. As famílias que produzem para a própria subsistência enxergam o
“valor” de sua produção apenas como um valor para quitar tributos.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Quando uma disputa toma proporções violentas (causadas por injúrias, danos
materiais, lesões corporais ou até mesmo morte) a vítima exige compensação.
Definido o valor da compensação em uma unidade padrão, resta definir os
valores de cereais, animais, peles, vasos, dias de trabalho, canoas, etc.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Novamente, não se trata de uma relação comercial. As vítimas não querem


trocar porradas por vacas, mas saber quanto é necessário para pagar o que lhes
é devido. Quem produz para a própria subsistência enxerga o “valor” de sua
produção apenas como um valor para quitar indenizações.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Se você furar o olho de alguém e o juiz definir que você deve entregar 2 vacas
para a vítima, isso não significa que você pode furar o outro olho dela e “pagar”
com 4 vacas. Se você fizer isso, o resultado não será uma transação comercial,
mas uma possível guerra entre famílias.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os juízes precisam saber o valor das coisas?

Nessa sociedade, uma pessoa não olha para seu próprio rebanho e pensa
“quantos olhos posso furar?”. Da mesma maneira que ninguém vê seus próprios
olhos no espelho e pensa “quantas vacas posso comprar com meu olho?”
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os contadores precisam saber o valor das coisas?

Quando uma instituição que detém vastos meios de produção entrega algo no
presente, esperando receber algo em troca no futuro, firma-se um contrato.
Definido o valor do contrato em uma unidade padrão, resta estabelecer os
valores daquilo que a instituição aceita receber como meio de pagamento.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os contadores precisam saber o valor das coisas?

Neste caso, trata-se de uma relação comercial. A instituição deseja receber uma
quantia de valor no futuro relativo ao que entregou no presente. Porém, apenas
as duas partes do contrato enxergam o “valor” das coisas. As definições a
respeito de quanto cada coisa vale não existem fora deste contrato.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando os contadores precisam saber o valor das coisas?

Se essa instituição firmar múltiplos contratos com a sociedade, fazendo várias


pessoas se endividarem com ela, sua influência para definir valores aumenta.
Mesmo quem não tem contratos com a instituição pode reconhecer seus
valores; pois são os valores que os muitos devedores enxergam nas coisas.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Perceba que em nenhum dos exemplos foi feita qualquer menção à utilização de
moedas como forma de pagamento. Os tributos foram pagos em espécie; as
compensações foram pagas em espécie, e os produtos adiantados também
foram pagos em espécie. Moedas não foram necessárias em momento algum.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Além disso, se uma instituição centralizada detém o poder de cobrar tributos,


julgar conflitos, e gerenciar as forças produtivas… essa instituição tem o poder
de definir o valor das coisas como sendo o valor que ela própria aceita para
quitar tributos, compensações e contratos.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Essa mesma instituição pode definir qualquer coisa como meio de pagamento
para os valores devidos à ela. Essas “coisas” poderiam ser vacas, moedas de
ouro, moedas de niquel, cédulas de papel, anotações em um livro contábil,
inscrições cuneiformes em tábuas de argila, ou bits em um computador…
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Se essa instituição aceitar órgãos como pagamento, as partes do corpo humano


imediatamente passam a ter valor como meio de quitação de dívidas. Uma
pessoa que esteja desesperada com problemas financeiros pode decidir vender
seu rim para pagar… ou roubar os rins de um terceiro.

$
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Pessoas já foram consideradas propriedade privada. O governo reconhecia


legalmente a escravatura, e usava seu aparato jurídico e policial para garantir
aos senhores de escravos a posse de seres humanos. Escravos eram aceitos
até como garantia para dívidas bancárias. As pessoas tinham um preço.

$
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

A sociedade capitalista tem pouco mais de 300 anos de idade. Nós vivemos em
um contexto social no qual devemos levar nossas próprias mercadorias ao
mercado, seja na forma de produtos ou mão de obra, com o objetivo de trocar
essas mercadorias por outras e sobreviver.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Antes do capitalismo, as pessoas produziam seus meios de sustento, e os


mercados eram um pequeno satélite em que as pessoas trocavam excedentes.
No capitalismo, os mercados se tornaram o centro da sociedade, e as pessoas
passaram a buscar seu próprio sustento através da eterna troca de mercadorias.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

A sociedade deixa de produzir para sua subsistência direta, fazendo com que os
valores de uso sejam apagados. O produtor de tabaco não planta para atender
necessidades sociais, mas com o intuito de levar sua produção ao mercado e
trocar por comida, roupas, ferramentas, madeira e coisas produzidas por outros.
Por que medimos o valor das coisas?

Quando precisamos saber o valor das coisas?

Quando uma sociedade inteira passa a viver assim, os valores das coisas
começam a aparecer na forma de preços. As coisas que antes tinham apenas
seu valor de uso, passam a ser produzidas pelo seu valor de troca.
Onde entra a moeda no meio disso tudo?
Moeda, dinheiro e valor

Recapitulando…

Valor de uso: Utilidade real da coisa.

Valor de trabalho: Dispêndio de energia para produzir a coisa.

Valor de troca (preço): Valor definido socialmente através da troca.

Valor contratual: Valor acordado com o propósito de quitar dívidas.


Moeda, dinheiro e valor

Recapitulando…

Unidade de valor a partir do qual são medidas as coisas. Pode


Dinheiro: ser ouro, prata, grãos, escravos, etc. Está relacionado com o
Valor de Troca e cumpre papel de intermediário nas transações.

Também é uma unidade de valor das coisas, principalmente das


Moeda: dívidas. Pode ser um objeto ou abstração que a instituição
credora determina. Está relacionado com o valor contratual.
Moeda, dinheiro e valor

Recapitulando…

O uso do dinheiro está condicionado por uma relação social de


Dinheiro: trabalho e produção de mercadorias. O dinheiro é necessário
para que a sociedade capitalista de trocas de mercadoria exista.

O uso da moeda está condicionado por imposição de uma


Moeda: instituição credora que detém os meios de cobrança de dívidas.
A moeda é condicionada por uma relação social de autoridade.
Moeda, dinheiro e valor

Recapitulando…

Tal qual a dualidade onda-partícula da luz, temos uma


Dinheiro:
dualidade moeda-dinheiro na sociedade capitalista moderna.
A moeda foi adotada como dinheiro, mas são coisas
diferentes. Dependendo da situação econômica e política, as
características do dinheiro ficam mais fortes, outras vezes as
Moeda:
características da moeda se sobressaem.
Moeda, dinheiro e valor

Agora, vamos falar de dinheiro.

Quanto uma sociedade é governada pelo Mercado, as coisas passam a ser


produzidas com o objetivo de serem trocadas pelo seu valor de troca. Ou seja,
o arroz deixa de ser arroz e a vaca deixa de ser vaca… ambos se tornam valor.
Isso é o “feitiço/fetiche da mercadoria” ou “feitiço/fetiche do dinheiro”.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche da mercadoria

Resumidamente, é a ilusão de que quando o agricultor vai para o mercado e


troca arroz por vacas, o próprio valor do arroz está “magicamente” se
transformando em uma vaca. Como se o mercado tivesse poderes de alquimia
para converter um tipo de mercadoria em outra que tenha valor equivalente.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

O feitiço do dinheiro é um caso especial do feitiço da mercadoria. A partir desse


ponto, o agricultor vai ao mercado e transforma seu arroz em dinheiro, para em
seguida transformar o dinheiro em vacas. Aqui o poder de alquimia do mercado
extrai o valor do arroz na forma de dinheiro, e depois o transforma em vacas.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

O dinheiro cumpre o papel de substância fundamental de valor à partir da qual


todas as mercadorias são feitas. Da mesma forma que um feiticeiro utiliza suas
energias místicas para criar fogo, água, ar e terra, o mercado utiliza o dinheiro
para criar mercadorias. É como se as coisas fossem feitas de dinheiro.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Façamos um exercício rápido: Abra sua geladeira, sua despensa, seu armário
de limpeza, ou as gavetas do seu banheiro. Olhe os ingredientes de cada coisa
que você tem em sua casa e tente descobrir quantas delas utilizam dinheiro
como matéria prima. A resposta, obviamente, é nenhuma.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Se você plantar dinheiro, não vai brotar uma casa ou uma siderúrgica.
Se você fizer uma trilha de dinheiro, não nasce uma ferrovia ou rodovia.
Se você enfiar dinheiro na cabeça, não surge conhecimento profissional.
Porém, essas obviedades são constantemente ignoradas em nossa sociedade.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

O grande truque de mágica, ou melhor dizendo, a grande ilusão do mercado, é a


ideia de que a economia é uma caixa preta na qual colocamos dinheiro de um
lado e tiramos mercadorias do outro. Isso é obviamente um absurdo! Porém, é
assim que a sociedade capitalista acredita que a economia funciona!

Caixa preta
do Mercado
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Como uma das várias provas de que capitalistas acreditam nessa maluquice,
basta ver a obsessão em relação ao PIB (Produto Interno Bruto)... que nada
mais é do que o somatório, em dinheiro, dos preços de todas as mercadorias
que circulam na economia em um dado intervalo de tempo.

PIB
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

A medida do PIB é meramente a transformação de tudo o que existe na


economia em valor de troca, expresso na forma dinheiro. O PIB não mede o
valor de uso das coisas. No PIB, uma estátua gigante de ouro maciço que
custa 1 bilhão de Reais vale tanto quanto um hospital de 1 bilhão de reais.
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Essa insanidade é facilmente identificada quando ouvimos coisas do tipo:

“Precisamos das doações de dinheiro dos milionários para construir um hospital”

Obviamente não é o dinheiro que constrói o hospital, mas o feitiço do dinheiro


afeta a sociedade de tal maneira que adultos passam a acreditar em alquimia.

Caixa preta
do Mercado
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Outra forma de reformular o mesmo absurdo seria:

“Precisamos que o governo arrecade dinheiro para construir um hospital”

Por que arrecadar dinheiro se o hospital não é feito de dinheiro? No entanto,


quando políticos falam de “orçamento público”, predomina essa visão absurda.

Caixa preta
do Mercado
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

A insanidade aumenta quando se faz dinheiro com dinheiro, deixando a


produção de lado. Se 1 trilhão R$ se transformam em 2, os capitalistas acham
que 1 trilhão R$ de valor foi criado na economia. Como o valor das mercadorias
é medido em dinheiro, surge a ilusão de que mais dinheiro é mais valor.

Caixa preta
do Mercado
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Quando uma economia alimentada por dinheiro pára de produzir mercadorias, a


sociedade sofre um choque de realidade. Quando o truque de mágica para de
funcionar, alguns buscam respostas… outros buscam culpados.

Caixa preta
do Mercado !?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

A caixa-preta é aberta, mostrando que não era o dinheiro que estava sendo
transformado em mercadorias. São os recursos naturais da Terra e o trabalho
das pessoas que realmente fazem tudo acontecer.

!?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

A percepção dessa realidade surge nos momentos de crise do capitalismo.


Como as classes dominantes dependem do feitiço do dinheiro para justificar a
hierarquia, ou seja, a crença de que é o dinheiro deles que sustenta o país,
os governos tentam fechar a caixa novamente o mais rápido possível.

!?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Para fechar a caixa utiliza-se austeridade fiscal e austeridade monetária. As


classes dominantes, que controlam o governo e os meios de produção, criam
escassez artificial de moeda para reviver o “feitiço do dinheiro”. O poder de um
pequeno grupo depende da manutenção desse mito.

Caixa preta
do Mercado !?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Quando o poder do dinheiro é colocado em cheque, entramos no período de


austeridade, que é a utilização da moeda como arma. Essa mudança altera as
dinâmicas sociais de maneira abrupta, sendo mantida até que a fé no dinheiro
retorne ou até que a sociedade derrube o sistema.

Caixa preta
do Mercado !?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Na segunda aula veremos o que é austeridade fiscal.


Na terceira aula veremos o que é austeridade monetária.
Ambas são políticas terroristas praticadas por governos capitalistas durante os
períodos de crise, sacrificando pessoas para preservar a hierarquia social.

Caixa preta
do Mercado !?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Hoje o Ocidente passa por outra grande crise do capitalismo, criando uma janela
histórica em que todos nós podemos enxergar o interior da caixa-preta e ver de
onde realmente vem o sustento da sociedade. Cabe à nós decidirmos se iremos
fechar a caixa novamente ou se iremos quebrar o feitiço.

!?
Moeda, dinheiro e valor

O que é o feitiço/fetiche do dinheiro

Se o dinheiro é a unidade de valor das mercadorias, e a moeda é uma arma


utilizada para dar força ao dinheiro. O que exatamente é a moeda?

!?
O que é a moeda
Por que a moeda é diferente de dinheiro
O que é a moeda

A moeda de acordo com o senso comum:

Meio de troca

Reserva de valor

Unidade de conta
O que é a moeda

A história da moeda segundo o senso comum:

Escambo primitivo

Metais preciosos

Crédito bancário
O que é a moeda

O que a moeda realmente é:

Meio de troca imposto por força de lei

Dívida legalmente transferível

Dívida quantificada em unidade nacional


O que é a moeda

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Crédito legalmente reconhecido

Moedas impostas militarmente

Escambo (durante colapso econômico)


O que é a moeda

Para entender moeda, temos que


entender o que é crédito

Para entender crédito, temos que


entender o que são dívidas

Para entender o que são dívidas,


precisamos entender história
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Os templos eram centros de poder
político e religioso, além de serem
câmaras de comércio e manufatura.

Sementes, animais, utensílios e vários


produtos eram oferecidos “à crédito”
para a população e comerciantes.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


As dívidas eram reconhecidas
legalmente e registradas em tábuas de
argila utilizando o alfabeto cuneiforme.

As dívidas agrárias, concedidas à As dívidas comerciais, concedidas às


população rural, eram medidas em famílias de comerciantes, eram
Bushel de cevada. medidas em Shekel de prata.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Os templos não emprestavam moeda,
o que a população agrária e os
comerciantes recebiam eram produtos.

O bushel de cevada e shekel de prata


eram apenas as unidades nas quais os
valores devidos eram medidos.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Os templos tinham preços tabelados
para os produtos, representando aquilo
que estavam dispostos a pagar/vender.

Embora as dívidas fossem quantificadas em cevada e prata,


elas podiam ser pagas com qualquer coisa em função dos
valores que o templo definia para quitar obrigações.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Um agricultor da Suméria iria pagar as
dívidas usando aquilo que produzia em
suas terras ou trabalhando no templo.

Um comerciante da Suméria iria viajar para outras civilizações, onde iria trocar os
produtos que pegou do templo e, ao retornar, as dívidas seriam pagas com os
produtos que foram trazidos. A diferença era o lucro do comerciante.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Não pagar dívidas resultava em perda
temporária do usufruto da terra e
transformava pessoas em servos.

Essas perdas eram revertidas toda vez que uma guerra acabava, quando
um novo rei subia ao trono, ou quando a sociedade corria risco de colapsar.
Esse evento era chamado de Amar-gi (Retorno à mãe / Retorno à origem)
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

O Amar-gi, representava a devolução das terras às suas famílias de origem,


a libertação dos servos que haviam vendido sua força de trabalho, assim
como o perdão das dívidas não-comerciais e dos impostos atrasados.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

O perdão das dívidas e impostos, a libertação dos servos, e a restauração


das terras, eram vistos como parte da ordem social. Sem o Amar-gi, a
população suméria seria gradualmente transformada em servos.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

A elite da Suméria sabia que ao tomar as terras e a liberdade de alguém,


isso seria temporário. No próximo amar-gi, tudo seria restaurado. O Credor,
nesse caso, se apropriava temporariamente do valor gerado pelo devedor.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)

Na tradição judaico-cristã, o Amar-gi recebeu o nome Ano do Jubileu,


aparecendo no velho testamento em Levítico 25. Para nós, isso parece uma
política revolucionária, mas na época, era visto como conservadora.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Antiga suméria (Crédito)


Sendo assim, as coisas tinham valor
como forma de quitação de tributos,
dívidas e contratos nos templos.

Além disso, o não pagamento de


Anote isso
dívidas resultava em perda temporária
de terras, de bens e de liberdade.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Dívida de sangue (Unidade de conta)


Antigas leis indígenas e saxônicas
estipulavam que injúrias e mortes
deveriam ser compensadas.

A família infratora deveria pagar à


família vítima um valor que dependia do
rank social e dano causado.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Dívida de sangue (Unidade de conta)


A multa deveria ser paga como forma
de evitar uma represália ou até mesmo
uma guerra entre famílias.

Diferentes coisas tinham seus valores


tabelados por lei, significando que o
pagamento era feito em espécie.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Dívida de sangue (Unidade de conta)


Sendo assim, as coisas tinham valor a
partir do momento que podiam ser
utilizadas para pagar compensações.

O não pagamento resultava em


Anote isso
derramamento de sangue e conflitos
bélicos entre famílias e clãs.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Os impérios grego e romano tinham
natureza bélica, com uma “economia”
baseada nas conquistas militares.

O império se expandia, explorando


outros povos através da captura de
escravos, pilhagem e tomada de terras.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Exércitos profissionais necessitavam de
treinamento constante e não podiam
ser formados por camponeses.

Manter grandes exércitos necessitava


de vastos “pagamentos” na forma de
distribuição dos espólios.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


O fruto das pilhagens era utilizado para
pagar as tropas, em especial na forma
de terras, ouro e prata.

Esses metais eram roubados dos


templos conquistados, mas também
retirados das minas por escravos.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


As moedas eram cunhadas e
padronizadas pelo império, utilizando
metais das minas e das pilhagens.

Os povos conquistados (e a população)


deveriam pagar seus tributos utilizando
essas moedas que o império cunhava.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Para obter moedas, os civis e os povos
conquistados deveriam oferecer
produtos e serviços ao império.

Alternativamente, essas pessoas


deveriam trabalhar para entes privados,
os patrícios, em troca de salários.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


As pessoas também poderiam obter
moeda através de empréstimos junto
aos credores privados (proto-bancos).

Esses credores privados tinham seus


direitos garantidos pela lei e podiam
demandar o pagamento das dívidas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


O não pagamento de tributos pelos Anote isso
territórios conquistados gerava
penalidades militares.

O não pagamento de tributos/dívidas


Anote isso
pela população gerava penalidades
civis e até escravidão por dívidas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A moeda era utilizada pelo império para
financiar exércitos e infraestrutura,
além de pagar servidores públicos.

Os impostos não serviam para


arrecadar moeda, mas sim para criar
demanda pela moeda do império.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


O império não era sustentado por ouro Lembre-se
e prata, mas sim pelos escravos, do fetiche
do dinheiro
pilhagem e terras conquistadas.

Os exércitos e os metais preciosos


eram os meios pelos quais o império
continuava a se expandir.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A moeda tinha valor porque as pessoas
eram obrigadas a obter essas moedas
para pagar impostos e dívidas.

O não pagamento resultava em


Anote isso
penalidades que poderiam incluir a
expropriação de terras e a escravidão.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A moeda do império era imposta à força
sobre os povos conquistados,
substituindo relações sociais antigas.

Nações que antes usavam o crédito,


como a Suméria, foram obrigadas a
adotar a moeda do império.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


A antiga tradição do amar-gi e o ano do
jubileu ainda faziam parte da religião do
povo hebreu (Judeu).

Revoltas populares pedindo perdão de


dívidas e redistribuição de terras eram
comuns no império Grego e Romano.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Políticos subiam ao poder, com apoio
popular, prometendo reforma agrária e
perdão de parte das dívidas…

Políticos (chamados de tiranos) eram


assassinados pelas elites, os patrícios,
por prometer esse tipo de coisa.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Grécia / Roma (Moeda Estatal)


Havia uma disputa constante entre os
plebeus que desejavam reaver suas
terras perdidas e sua liberdade…

E os credores patrícios que desejavam


manter suas terras e seus servos.
Credores contra Devedores
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Colonização e Moeda da Metrópole


A dinâmica entre metrópole e colônia
era semelhante à dinâmica entre
império e povos conquistados

A metrópole impunha sua própria


moeda sobre a colônia, cobrando
impostos e dívidas nessas moedas
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Colonização e Moeda da Metrópole


A necessidade de realizar pagamentos
para a metrópole, em sua própria
moeda, criava demanda por ela.

Não era uma relação comercial entre


iguais, mas uma relação de exploração
entre poderes diferentes
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Colonização e Moeda da Metrópole


A atuação das metrópoles não se
resumia apenas a cobrar tributos e
dívidas, mas abrir mercados à força

A abertura de mercados era feita


destruindo as antigas relações sociais
que existiam nas terras conquistadas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Colonização e Moeda da Metrópole


Era necessário destruir os meios de
sustento dos povos originários,
tornando-os dependentes do mercado.

Uma vez inseridos nos mercados, as


Anote isso
colônias produziam mercadorias para a
metrópole em troca de moedas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Colonização e Moeda da Metrópole


Basta lembrar a história da colonização
da África, América e Ásia para ver
como se dava a expansão do mercado.

Porém, se alguém acha que a era das


colônias acabou, a verdade é que a
exploração apenas mudou de forma.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Ascensão e queda do Dólar

Embora faça sentido cronológico falar


sobre as duas grandes guerras, assim
como a ascensão e queda do dólar,
Esse conteúdo complexo requer
primeiro se familiarizar com conceitos
que serão vistos nas próximas aulas
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

História da moeda e dívida segundo a antropologia:

Ascensão e queda do Dólar

Sendo assim, faremos uma pausa na


linha do tempo, mas voltaremos aqui
após aprender sobre política fiscal,
política monetária, sistema bancário,
rentismo, e crises financeiras.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

Dias de hoje
Com a ascensão de outros países,
principalmente a China, a hegemonia
Americana está acabando

A tendência é que o dólar perca seus


privilégios, se tornando apenas uma
entre dezenas de outras moedas.
A história da dívida, da moeda, e do dinheiro

Dias de hoje
Precisamos entender nossa moeda,
para saber como se posicionar nesse
novo mundo multipolar

Isso significa conhecer os mecanismos


fiscais, monetários e bancários que
regem o funcionamento das moedas
Por que a moeda tem valor?
A cenoura que faz o burro andar
Seja colocada na frente… seja colocada atrás
Por que a moeda tem valor?

Segundo o senso comum, a moeda tem valor porque:

Confiamos no governo

Podemos comprar coisas com ela

Ela é aceita culturalmente


Por que a moeda tem valor?

A moeda antigamente tinha valor porque:

Perdiam-se terras ao não pagar dívidas

Perdiam-se liberdades ao não pagar dívidas

Sofria-se violência por não pagar indenizações

Sofriam-se consequências militares ao não


pagar tributos para o império/metrópole
Por que a moeda tem valor?

A moeda nos dias de hoje tem valor porque:

Perdemos a casa se não pagarmos o banco

Perdemos terras se não pagarmos IPTU / ITR

Perdemos direitos civis ao não pagar impostos

Ficamos sem água e sem eletricidade se não


pagarmos as contas das distribuidoras

Perdemos acesso ao crédito se não pagamos


nossas dívidas (nome sujo no SERASA/SPC)
Por que a moeda tem valor?

A moeda nos dias de hoje tem valor porque:

Governos criam moeda e controlam:

O poder judiciário que define o


valor de multas e compensações Empresas estatais que definem o
valor dos produtos/serviços ofertados
O poder tributário que define o
valor dos impostos a serem pagos Bancos públicos que definem o
valor das dívidas e dos juros
Por que a moeda tem valor?

A moeda nos dias de hoje tem valor porque:

O setor privado cria moeda e controla:

Bancos privados que definem o Poder tributário indireto que define o


valor das dívidas e dos juros valor dos impostos privados

Falaremos disso na aula sobre rentismo…


Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

É aceita para quitar passivos com o


governo e com o sistema bancário.

Por consequência, a moeda se torna a


unidade nacional de conta.

Logo, se torna o preço de produtos e serviços.


Por que a moeda tem valor?

A moeda hoje realmente tem valor porque:

Ela é um ativo financeiro legalmente aceito


para cancelar passivos financeiros.
Por que a moeda tem valor?

O que são ativos e passivos financeiros?

Ativos são valores positivos ( + ) Passivos são valores negativos ( – )

Representam valores à receber Representam valores à pagar

Fazem parte do balanço dos credores Fazem parte do balanço dos devedores
Por que a moeda tem valor?

Todo o passivo tem um ativo correspondente

Ativos ( + ) Passivos ( – )

Impostos a serem recebidos Impostos a serem pagos

Dívidas bancárias a serem recebidas . Dívidas bancárias a serem pagas


Por que a moeda tem valor?

Governo População
Ativos Passivos
Impostos a receber Impostos a pagar

Passivos Ativos

A moeda do governo representa um A moeda do governo representa um


crédito com o setor público. É aquilo crédito com o setor público. É aquilo
que o Estado deve à população. que o Estado deve para nós.
Por que a moeda tem valor?

Bancos População
Ativos Passivos
Dívidas a receber Dívidas a pagar

Passivos Ativos

A moeda do banco representa um A moeda do banco representa um


crédito com instituição financeira. É crédito com instituição financeira. É
aquilo que o banco deve aos clientes. aquilo que o banco deve para nós.
Recapitulando

Recapitulando
1. Valor ≠ Dinheiro ≠ Moeda

2. Feitiço da mercadoria: ilusão de que


produtos se transformam em produtos.

3. Feitiço do dinheiro: ilusão de que o


dinheiro se transforma em produtos.

4. Sociedades centradas no mercado


são característica única do capitalismo
5. Economistas são sacerdotes de hoje
Recapitulando

Recapitulando
6. Moeda é um passivo do emissor
7. Moeda é um ativo do usuário
8. Governos criam moeda fiduciária
9. Bancos criam moeda escritural
10. Gastos ocorrem antes das receitas
11. Poupanças ocorrem após o crédito
12. Moeda é uma criatura jurídica
13. O uso da Moeda é uma imposição
Perguntas das próximas aulas

Se o governo cria moeda…


Por que fala-se tanto de corte de gastos?
Por que fala-se tanto em taxa Selic e dívida pública?

Os governos não são representantes do povo, mas sim da classe dominante.


Sendo assim, cortes de gastos públicos e a subida dos juros, conhecidos como
austeridade fiscal e monetária, são ferramentas para reduzir o poder da
população e transferir riqueza da base da sociedade para o topo.

Nas próximas aulas veremos como isso é feito, quais as consequências para
quem vive na base da sociedade, e quais os ganhos para quem vive no topo.
Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…

De onde vem a moeda?

FONTES

Moeda, imposto, dívida pública e outras coisas…


FONTES

1. História da moeda, da dívida e do dinheiro

2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

3. Funcionamento da moeda bancária (escritural)

4. Crises econômicas, corrupção política e neoliberalismo

5. Leis e regulamentos relevantes

6. Outras fontes
FONTES

1. História da moeda, da dívida e do dinheiro

David Graeber; 2011;


Debt: The First 5000 Years

Michael Hudson; 2018;


… and forgive them their debts: Lending, Foreclosure and Redemption from Bronze Age Finance to the Jubilee
Year

Karl Marx; 1859


A Contribution to the Critique of Political Economy

Alfred Mitchell Innes; 1914;


“The credit theory of money,” Banking Law Journal
FONTES

1. História da moeda, da dívida e do dinheiro

Georg Friedrich Knapp; 1924,


The State Theory of Money

John. M. Keynes; 1930;


A Treatise on Money: the pure theory of money

Karl Polanyi, Conrad M. Arensberg, Harry W. Pearson; 1957;


Trade and Market in the Early Empires: Economies in History and Theory

L. Randall Wray; 2004;


Credit and State Theories of Money: The Contributions of A. Mitchell Innes
FONTES

2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

Daniel Negreiros Conceição, Fabiano Dalto; 2022;


A Importante Lição da Coronacrise sobre os Limites do Gasto Público
https://fonacate.org.br/wp-content/uploads/2022/04/Cadernos-Reforma-Administrativa-N.-37.pdf

Abba P. Lerner; 1943;


Functional Finance and the Federal Debt. Social Research, no. 10

Abba P. Lerner; 1947;


Money as a Creature of the State
FONTES

2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

Andrew Berkeley, Josh Ryan-Collins, Richard Tye, Asker Voldsgaard, Neil Wilson; 2022;
The self-financing state: An institutional analysis of government expenditure, revenue collection and debt issuance
operations in the United Kingdom

Fabiano A S Dalto, Enzo M Gerioni; Júlia A Omizzolo; David Deccache; Daniel Conceição; 2020;
Teoria Monetária Moderna: a chave para uma economia a serviço das pessoas

L. G. Belluzzo, L. C. Raimundo; S. Abouschedid; 2021;


Gestão da Riqueza Velha e Criação de Riqueza Nova: a Modern Money Theory (MMT) é a solução?
FONTES

2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

Alfred Mitchell Innes; 1913;


“What is money?” Banking Law Journal

L. Randall Wray; 2015;


Modern Money Theory: a primer on macroeconomics for sovereign monetary

Steve Keen; 2022;


The New Economics : A manifesto

Stephanie Kelton; 2020;


The deficit myth: Modern Monetary Theory and the birth of the people’s economy
FONTES

2. Funcionamento da moeda pública (fiduciária)

André Lara Resende; 2017;


Juros, Moeda e Ortodoxia: teorias monetárias e controvérsias políticas

André Lara Resende; 2022;


A camisa de força ideológica da macroeconomia
https://www.cebri.org/media/documentos/arquivos/V_5.4.2022_-_Andre_Lara_Resend.pdf

Warren Mosler; 2013;


Soft Currency Economics II: The Origin of Modern Monetary Theory
FONTES

3. Funcionamento da moeda bancária (escritural)

Josh Ryan-Collins, Tony Greenham, Richard Werner, Andrew Jackson; 2017


Where Does Money Come From? – A Guide To The Uk Monetary And Banking System

Michael McLeay, Amar Radia, Ryland Thomas; 2014


Money creation in the modern economy (Bank of England)
https://www.bankofengland.co.uk/-/media/boe/files/quarterly-bulletin/2014/money-creation-in-the-modern-economy

Deutsche Bundesbank; 2017


The role of banks, non-banks and the central bank in the money creation process.
https://www.bundesbank.de/resource/blob/654284/df66c4444d065a7f519e2ab0c476df58/mL/2017-04-money-creation-process-data.pdf

Steve Keen; 2022;


The New Economics : A manifesto
FONTES

4. O Capitalismo e suas crises econômicas

Karl Marx; 1867


Capital: A Critique of Political Economy

Michael Hudson; 2021


Super Imperialism [3rd edition] - The Economic Strategy of American Empire

Michael Hudson; 2015


Killing the Host - How financial parasites and debt destroy the global economy

Michael Hudson; 2012


The Bubble and Beyond : Fictitious Capital, Debt Deflation and Global Crisis
FONTES

4. O Capitalismo e suas crises econômicas

Atif Mian; Ludwig Straub; Amir Sufi; 2019


The Saving Glut of the Rich and the Rise in Household Debt
https://www.rba.gov.au/publications/workshops/research/2019/pdf/rba-workshop-2019-sufi.pdf

Rudinei Marques, José Celso Cardoso Jr; 2022


Dominância Financeira e Privatização das Finanças Públicas no Brasil
https://fonacate.org.br/noticia/entidades/fonacate-lanca-livro-dominancia-financeira-e-privatizacao-das-financas-publicas-no-brasil/

Ilan Lapyda; 2021


Os Principais Agentes Privados da Financeirização no Brasil do século XXI
https://sinait.org.br/doc_reforma/caderno23.pdf
FONTES

4. O Capitalismo e suas crises econômicas

Irving Fisher; 1933


The debt-deflation theory of great depressions, Econometrica, 1: 337–55.
https://www.jstor.org/stable/1907327

Hyman P. Minsky; 1992


The Financial Instability Hypothesis
https://www.levyinstitute.org/pubs/wp74.pdf

Dirk J Bezemer; 2009


No One Saw This Coming: Understanding Financial Crisis Through Accounting Models
https://mpra.ub.uni-muenchen.de/15892/1/MPRA_paper_%2015892.pdf
FONTES

4. O Capitalismo e suas crises econômicas

Ladislau Dowbor; 2018


A Era do Capital Improdutivo

Richard Werner; 2003


Princes of the Yen: How Japan's Central Bankers Engineered their Country's Boom and Bust

Richard Vague; 2019


A Brief History of Doom: Two Hundred Years of Financial Crises
FONTES

4. O Capitalismo e suas crises econômicas

James Andrew Felkerson; 2011


$29,000,000,000,000: A Detailed Look at the Fed’s Bailout by Funding Facility and Recipient
https://www.levyinstitute.org/publications/29000000000000-a-detailed-look-at-the-feds-bailout-by-funding-facility-and-recipient

Leda Maria Paulani; 2022


Recursos Públicos para o Enriquecimento Privado: uma reflexão sobre o papel do Estado no atual padrão de
acumulação (e o Brasil como paradigma)
https://sinait.org.br/doc_reforma/caderno35.pdf
FONTES

5. Leis e regulamentos relevantes

Obrigatoriedade de aceitação da moeda pública


Artigo 43 do Decreto Lei nº 3.688 de 03 de Outubro de 1941

Lei Orçamentária Anual – Conhecida como L.O.A


https://www12.senado.leg.br/orcamento/legislacao-orcamentaria

Normas prudenciais do Banco Central do Brasil


https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira

Normas do comitê internacional de Basiléia


https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/recomendacoesbasileia
https://www.bis.org/bcbs/basel3.htm
FONTES

5. Leis e regulamentos relevantes

LEI Nº 4.595, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1964 (Art.8 par. único; Art. 10 inciso V, Art. 11 inciso II)
Como o Banco Central cumpre a função de “prestamista de última instância”, oferecendo reservas aos bancos
comerciais. (Os lucros desses empréstimos viram receita do governo):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L4595.htm

Resolução BCB n° 129 de 19/8/2021


Possibilidade dos bancos depositarem reservas no Banco Central em troca de juros (tipo poupança):
https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/exibenormativo?tipo=Resolu%C3%A7%C3%A3o%20BCB&numero=129

Operações compromissadas do Banco Central


https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/1999/pdf/res_2675_v2_L.pdf
FONTES

5. Leis e regulamentos relevantes

art. 167, inciso III, da Constituição Federal de 1988 (CF/1988)


Regra de Ouro, que restringe o volume das despesas correntes, por meio da vedação à realização de operações
de crédito que excedam as despesas de capital.

Regra de Primário, que impõe a necessidade de se contingenciar despesas, por meio da limitação de empenhos
e movimentações financeiras, com o propósito de cumprir a meta de resultado primário fixada na Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO), em conformidade com os dispositivos da Lei Complementar no 101/2000, a Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), estabelecida no ano 2000. Anualmente, a Lei Orçamentária fixa uma
meta de resultado primário, ou seja, o resultado da subtração de receitas esperadas e despesas autorizadas,
excluindo pagamentos de juros e amortizações da dívida pública
FONTES

5. Leis e regulamentos relevantes

Novo Regime Fiscal, fixado pela Emenda Constitucional no 95/2016, convertida nos arts. 107 a 114 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da CF/1988, que fixou um teto congelado em termos reais para
as despesas primárias para vigorar pelo período de duas décadas, de 2017 a 2036.2. Conhecido como teto de
gastos - O Novo Regime Fiscal previu, por até vinte anos, correção das despesas apenas pela inflação de doze
meses acumulada até junho do exercício anterior ao que se refere a lei orçamentária.
FONTES

6. Outras fontes

Você pode acompanhar os gastos do governo através do Portal da Transparência:


https://www.portaltransparencia.gov.br/orcamento

Serviço de exportação de engenharia do BNDES


https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/bndes-aberto/exportacoes
https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/consulta-operacoes-bndes/contratos-exportacao-bens-servicos-engenharia

Base monetária conforme definido pelo Banco Central do Brasil


https://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/NM-MeiosPagAmplp.pdf
https://www3.bcb.gov.br/sgspub/
FONTES

6. Outras fontes

Relatório Mensal da Dívida Pública Federal, de Setembro 2021 (Pág. 13, tabela 2.4)
Em Setembro de 2021, os títulos públicos estavam: 31% em instituições financeiras, 23% em fundos de
investimentos, 22% em previdências, e 10% com não-residentes.
https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:41762

ANBIMA – Consolidado Histórico de Fundos de Investimento (Julho, 2022. Pág. 7)


Em 2022 os fundos de investimento brasileiros tinham 70% de seu capital alocado em títulos públicos
https://www.anbima.com.br/pt_br/informar/estatisticas/fundos-de-investimento/fi-consolidado-historico.htm

Global Revenue Statistics Database; OECD


Base de dados das estatísticas tributárias; OCDE
https://www.oecd.org/tax/tax-policy/global-revenue-statistics-database.htm
FONTES

6. Outras fontes

Custo ao tesouro nacional em 2021 para pagamento de juros dos títulos públicos:
https://www.portaltransparencia.gov.br/despesas/programa-e-acao?paginacaoSimples=true&tamanhoPagina=&offset=&direcaoOrdenacao=asc&de
=01%2F01%2F2021&ate=31%2F12%2F2021&programa=0905&colunasSelecionadas=linkDetalhamento%2CmesAno%2Cprograma%2Cacao%2C
valorDespesaEmpenhada%2CvalorDespesaLiquidada%2CvalorDespesaPaga%2CvalorRestoPago

Andre Roncaglia; Rogerio Melo; Luiz Arthur S. Faria; 2022 (Vídeo)


Inclusão financeira e as moedas sociais digitais
https://www.youtube.com/watch?v=Ri7oLnfK29M
FONTES

6. Outras fontes

Radhika Desai; 2022


What is really causing inflation? Neoliberal financialization decimated productive capacity
https://geopoliticaleconomy.com/2022/11/07/inflation-neoliberal-financialization/

Radhika Desai & Michael Hudson; 2023


Inflation’s Drivers on The Geopolitical Hour
https://michael-hudson.com/2023/01/inflations-drivers-on-the-geopolitical-hour/

Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XXI (Evento BNDES)


Dia 01: https://www.youtube.com/watch?v=HXsbSiOH8bE
Dia 02: https://www.youtube.com/watch?v=ygrocuaff8I
Agradecimentos

Obrigado por querer entender sobre a política e a economia de nosso país.

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