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CAPITULO II - PATRIMONIO

Introdução

2.1. Noção e Classificação

2.1.1. Noção

Todas as entidades para exercerem as suas actividades, necessitam de um certo conjunto de


elementos, ou seja, de equipamentos, edifícios, mercadorias, dinheiro, ferramentas e outros. Isto
é mesmo que dizer que, no exercício de qualquer actividade estão sempre afectos valores que
são propriedade de alguém. Do ponto de vista jurídico, os elementos utilizados por cada
entidade podem considerar-se como sendo de sua pertença, ainda que, normalmente, os seus
direitos não incidam sobre a sua totalidade.

O conjunto de elementos utilizados pelas entidades no exercício da sua actividade constitui o


seu património. Contudo, nem só os edifícios, numerário e equipamento utilizados constituem o
património. A empresa (ou qualquer outro tipo de entidade), no desenvolvimento da sua
actividade, estabelece relações que originarão um conjunto de direitos e de obrigações. Assim,
serão criadas dívidas a receber (créditos da empresa ou débitos de terceiros) que representam os
valores pertencentes à empresa; e, dívidas a pagar (débitos da empresa ou créditos de terceiros)
que representam valores pertencentes a terceiros e que a empresa se obriga a liquidar. Tanto as
dívidas a receber como as dívidas a pagar, são consideradas valores integrantes do património.

Consideremos o conjunto de valores que constituem o Património de F. em 1 de Outubro de


200... (valores em MT):

ELEMENTOS PATRIMONIAIS VALORES


Dinheiro no cofre 30,000
Depósito no BIM 120,000
Dívida de Alves & Bento 25,000
Dívida a Borges & Cª 60,000
Letra a Receber de J. Reis 15,000
Letra a Pagar a C. Costa 50,000
Bacalhau 100,000
Açúcar 60,000
Sabão 20,000
Balcão 10,000
Mobília do escritório 22,000
Máquinas do escritório 28,000

Verificamos que nele existem certos elementos que são comuns a todos os comerciantes, ao
lado de outros elementos que são específicos de determinados comerciantes, os quais nos
indicam o respectivo ramo de actividade.

No mesmo conjunto, podemos distinguir os bens dos direitos e, estes das obrigações. Por
exemplo:

Bens: Dinheiro no cofre


o
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Direitos: Dívida de Alves & Bento

Obrigações: Dívida a Borges & Cª

Naturalmente, os bens são elementos corpóreos e os direitos e obrigações são elementos


incorpóreos.

Os elementos deste conjunto, embora sejam diferentes uns dos outros, apresentam, contudo, as
seguintes características comuns:

a) São valores (todos os elementos estão expressos em unidades monetárias);


b) Pertencem a determinada unidade económica;
c) São administrados com certo objectivo.

Assim:

Património é um conjunto de valores pertencentes a determinada unidade económica e


administrado com certo objectivo.

Cada componente de um dado património (ex.: as mercadorias, um edifício, uma dívida, uma
viatura, etc.), denomina-se de elemento patrimonial.

Como o património é um conjunto de elementos heterogéneos, existe a necessidade de


transformar ou expressar esses elementos numa mesma unidade. É assim que todos eles, em
geral, são traduzidos em unidades monetárias.

2.1.2. Classificação

O património de uma unidade económica classifica-se em:

a) Património Individual, se a unidade económica é um indivíduo;


b) Património Social, se a unidade económica é uma sociedade;
c) Património Público, se a unidade económica é um Estado;
d) Património Privado, se pertence a um cidadão
e) Património Nacional, se pertence a uma nação, o qual incluirá o património público e
o património privado.

O património individual pode estar subdividido em duas parcelas distintas: o conjunto de


valores afectos ao exercício do comércio (património comercial, também designado por
“fundo de comércio” e “estabelecimento comercial”) e o conjunto dos restantes valores
(património particular).

2.2. Massas Patrimoniais (Classes de Elementos Patrimoniais)

Os elementos patrimoniais podem ser reunidos em grupos que desempenham a mesma função
económica ou financeira, constituindo verdadeiras massas (classes de elementos) patrimoniais.

Assim, num dado património, podemos distinguir dois grandes grupos antagónicos:

o
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- O dos valores positivos, constituido por elementos que representam aquilo que se
possui ou se tem a receber, ou seja, bens e direitos. Estes concretizam uma vontade
de acção económica para prossecução dos objectivos propostos. Os bens e direitos
representam, precisamente, os meios daquela acção, daquela actividade, pelo que o
respectivo conjunto se designa por Activo;

- O dos valores negativos, constituido por elementos que representam aquilo que se
tem a pagar, ou seja, obrigações, cujo conjunto se designa por Passivo.

Os valores patrimoniais activos e passivos são valores concretos, que se consubstanciam em


determinados elementos corpóreos (bens) e incorpóreos (direitos e obrigações).

2.3. Aspectos Distintivos do Património

Num património há a considerar dois aspectos distintos:

- a sua composição;
- o seu valor.

Quanto à sua composição, o património engloba um conjunto de elementos heterogéneos


(elementos patrimoniais) com um determinado valor, como sejam as mercadorias, numerário,
edifícios, etc. A composição do património diz respeito à natureza dos elementos patrimoniais
que o integram e à sua extensão, ou seja, à proporção em que eles se encontram. A composição
de patrimónios será tão distinta quando:

a) os elementos de cada um forem diferentes;


b) tiverem os mesmos elementos mas com extensão (valor) diferente;
c) tiverem elementos e valores diferentes.

Entende-se por valor do património, a quantia que seria preciso dar para o obter, isto é, para
receber em troca todo o activo, ficando ao mesmo tempo com o encargo de pagar todo o
passivo.
Sendo o activo, conjunto de valores positivos e o passivo, conjunto de valores negativos, o valor
do património corresponde à soma algébrica das duas classes de elementos.

A expressão numérica do valor do património, chama-se Situação Líquida (Património Líquido


ou Capital Próprio).

Sendo a situação líquida dada pela diferença entre o activo e o passivo e vistas que foram as
noções destes últimos, facilmente se depreende que ela representa o conjunto de valores que
pertencem efectivamente ao proprietário da empresa, ou seja, representa os direitos deste último
sobre as propriedades da mesma. Em termos monetários, a situação líquida ou capital próprio
num dado momento, representa o valor que o proprietário da empresa teria direito a receber se
cessasse a sua actividade, liquidando o património (do ponto de vista contabilístico), nesse
momento.

Três casos podem ocorrer em dada situação patrimonial:

1) O activo é superior ao passivo, havendo um excesso de valores activos sobre os


passivos. Neste caso a situação líquida diz-se Activa. É o mais frequente e representa
um capital próprio positivo. Esquematicamente:

A>P S. L. Activa: ou seja: A = P + S. L. Activa


o
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2) O activo e o passivo são iguais, não havendo, neste caso situação líquida, ou seja, ela é
nula.

A=P S. L. Nula; ou seja, A = P

3) Por último, o activo pode ser inferior ao passivo. Neste caso, existe um excesso
de valores passivos sobre os activos (deve-se mais do que se possui e se tem a receber).
Logo, a situação líquida diz-se Passiva e corresponde a um capital próprio negativo.

A<P S. L. Passiva; ou seja, A + S. L. Passiva = P ou: A = P – S. L. Passiva

O património de qualquer unidade económica encontra-se necessariamente numa das três


situações citadas. De todas, a 2ª, é a de mais difícil ocorrência, visto só excepcionalmente
coincidirem os valores de ambas as classes de elementos patrimoniais.

2.4. Factos Patrimoniais

2.4.1. Noção

O património de uma unidade económica está sujeito a uma contínua transformação motivada
por dois tipos de acontecimentos, sendo:

- Acontecimentos normais ou voluntários que resultam das operações efectuadas,


voluntariamente, pela unidade económica (compras, pagamentos, vendas, saques,
aceites, recebimentos, etc.);

- Acontecimentos extraordinários ou involuntários, que são independentes da vontade


da empresa (incêndios, roubos, quebras, etc.)

Estes dois tipos de acontecimentos constituem factos patrimoniais. Assim, factos patrimoniais é
tudo aquilo que implica variações no património.

2.4.2. Classificação

Os factos patrimoniais classificam-se em:

- Factos patrimoniais permutativos (ou qualitativos), quando provocam uma


variação na composição do património mas, não no seu valor. Estes são os mais
frequentes e, temos como exemplos os seguintes factos: compra de mercadorias,
pagamento de uma dívida, aquisição de um edifício, um saque sobre um cliente,
etc.;

- Factos patrimoniais modificativos (ou quantitativos), quando, para além da


variação na composição, ocorre, também, uma variação no valor do património.
Implicam, portanto, uma variação na situação líquida (valor do património). Estes
factos estão relacioandos com todas as operações que originam um lucro ou
prejuízo para a unidade económica, tais como: venda de mercadorias com um lucro,
venda de um valor móvel (ou outro) por um preço inferior, ou superior, ao
representado no património, etc.

Assim, podemos concluir que:

o
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a) Quando variam apenas valores activos e/ou passivos o facto patrimonial é
necessariamente permutativo, na medida em que não varia a situação líquida;

b) Quando variam simultaneamanete valores activos e/ou passivos e valores da situação


líquida o facto é necessariamente modificativo;

c) Quando variam apenas valores da situação líquida o facto é necessariamente


permutativo, na medida em que não variando quaisquer valores activos e/ou passivos
também não poderá variar a respectiva diferença.

o
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