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O sistema monetário
Já deve ter ficado clara a razão pela qual o saldo de papel-moeda que
entra na definição de meios de pagamento é aquele em poder do público e
não o saldo de papel-moeda emitido. Quando falamos em moeda, falamos em
liquidez, ou seja, em disponibilidade imediata de recursos que funcionam
como poder de compra. Portanto, macroeconomicamente, uma vez definido o
que é moeda e qual o conjunto de instituições responsáveis por sua emissão,
o que importa é determinar a liquidez de fato à disposição dos agentes, não
computando, portanto, aquilo que está sob controle do próprio sistema
emissor.
Podemos construir o Quadro 8.1 a partir das relações até aqui estudadas.
banco X: +$ 450
banco Y: 0
banco W: –$ 450
ATIVO PASSIVO
ATIVO PASSIVO
c = pmpp/M
d = dv/M
R = r/dv
Resumo
Os principais pontos vistos neste capítulo foram:
1. A quantidade de meios de pagamento de uma economia, em
determinado momento, é dada pela soma do saldo de papel-moeda em
poder do público e do volume de depósitos à vista nos bancos
comerciais.
2. Para efeitos da discussão sobre o funcionamento do sistema monetário,
define-se público como o conjunto dos agentes que não faz parte do
sistema emissor de moeda. O sistema emissor, ou sistema bancário, é
composto pelo Banco Central mais o conjunto dos bancos comerciais.
3. A quantidade de papel-moeda em poder do público em determinado
momento é dada pelo saldo do papel-moeda emitido, deduzido do caixa
em moeda corrente dos bancos comerciais (ou caixa em moeda corrente
do sistema bancário).
4. O chamado M1 é o agregado monetário mais importante, pois é o de
maior liquidez. Contudo, também pode ser útil observar e eventualmente
controlar outros agregados de menor liquidez.
5. São quatro as funções do Banco Central: controlar a emissão de moeda,
ser o depositário oficial das reservas internacionais, ser o banco dos
bancos e ser o banqueiro do governo.
6. Como depositário oficial das reservas internacionais, o Banco Central
é obrigado, em cada momento, a comprar e a vender, à taxa de câmbio
vigente, e de acordo com as regras vigentes, as quantidades de divisas
ofertadas e demandadas pelos agentes.
7. Nos regimes de câmbio flexível ou misto, o fato de o Banco Central ser o
depositário oficial das reservas internacionais permite que ele intervenha
no mercado, seja para atuar sobre o comportamento da taxa de câmbio,
seja para regular o nível das reservas.
8. Os bancos comerciais possuem três tipos de encaixes: os encaixes em
moeda corrente e os encaixes voluntários e compulsórios junto ao Banco
Central.
9. Enquanto banco dos bancos, cabe ao Banco Central conceder aos bancos
comerciais redescontos de liquidez, ou seja, empréstimos destinados a
permitir que os bancos comerciais enfrentem eventuais deficits na
compensação bancária não cobertos pelos encaixes voluntários e
compulsórios.
10. Como banqueiro do governo, o Banco Central é o depositário dos
recursos captados pela União sob a forma de impostos, taxas e
contribuições. Ao mesmo tempo, teoricamente, o Banco Central também
pode conceder empréstimos ao governo federal.
11. O conjunto formado pelo balancete consolidado dos bancos comerciais,
balancete sintético do Banco Central e balancete consolidado do sistema
monetário constitui as contas monetárias do país.
12. As principais fontes de recursos dos bancos comerciais são: os
depósitos à vista do público, os depósitos a prazo do público, os
redescontos de liquidez e os recursos externos, além de seus recursos
próprios. Desse conjunto, só os depósitos à vista são recursos monetários.
13. Os recursos à disposição dos bancos comerciais estão aplicados
principalmente em: encaixes junto ao Banco Central, empréstimos aos
setores privado e público, títulos privados e públicos, além do
imobilizado (agências bancárias, equipamentos para autoatendimento
etc.).
14. Os itens constantes do balancete sintético do Banco Central refletem suas
funções.
15. O passivo do balancete sintético do Banco Central é composto pela base
monetária mais os recursos não monetários. A base monetária é
composta pelo papel-moeda em poder do público mais os encaixes
totais dos bancos comerciais (caixa em moeda corrente mais encaixes
voluntários e compulsórios junto ao Banco Central). Os principais itens
dos recursos não monetários são os depósitos do Tesouro Nacional e os
recursos externos.
16. Os itens do ativo do balancete sintético do Banco Central indicam as
operações ativas do Banco Central. São eles: as reservas internacionais,
os redescontos de liquidez, os empréstimos ao Tesouro Nacional e a
outros órgãos públicos e esferas de governo, os empréstimos ao setor
privado e os títulos públicos federais.
17. Qualquer aumento (redução) nas operações ativas do Banco Central
não compensado por aumento (redução) de igual valor em seus recursos
não monetários implica expansão (contração) da base monetária.
18. O balancete consolidado do sistema monetário é uma somatória dos
balancetes consolidados dos bancos comerciais e sintético do Banco
Central. Em seu passivo ele traz os meios de pagamento, o passivo não
monetário dos bancos comerciais e o passivo não monetário do Banco
Central. Ele mostra que qualquer expansão (redução) nas operações
ativas do sistema bancário não compensada por expansão (redução) de
igual valor no passivo não monetário dos bancos comerciais ou do Banco
Central implica expansão (contração) dos meios de pagamento.
19. O multiplicador bancário é uma variável que sintetiza o processo de
multiplicação da base monetária pelo processo de criação de moeda
operado pelos bancos comerciais.
20. O multiplicador bancário depende do comportamento dos agentes com
relação a seus recursos líquidos, ou seja, que parcela eles, em média,
mantêm em papel-moeda e que parcela eles mantêm em depósitos à vista
(variável d) e do encaixe total dos bancos comerciais com relação aos
depósitos à vista (variável R). Os encaixes totais dependem das decisões
dos bancos comerciais (encaixe em moeda corrente e encaixes
voluntários no Banco Central) e das determinações do Banco Central
quanto aos encaixes compulsórios.
21. Quanto maior d, maior o multiplicador. Quanto maior R, menor o
multiplicador.
22. Para expandir os meios de pagamento, o Banco Central pode: expandir
seus empréstimos ao Tesouro nacional, a outras esferas de governo ou ao
setor privado; aumentar as reservas cambiais; comprar títulos da dívida
pública de emissão do governo federal (operações de open market);
expandir os redescontos aos bancos comerciais; ou diminuir os encaixes
compulsórios. As operações contrárias reduzem os meios de pagamento.
Exercícios de fixação
1. Prove que:
a) quanto maior a proporção de papel-moeda em poder do público/M1,
menor o multiplicador bancário;
b) quanto maior a proporção depósitos à vista nos bancos comerciais/M1,
maior o multiplicador bancário;
c) quanto maior a proporção encaixes totais dos bancos
comerciais/depósitos à vista nos bancos comerciais, menor o
multiplicador bancário.
2. Considere os seguintes dados d = 0,6; R = 0,3. Calcule o multiplicador dos
meios de pagamento em relação à base monetária e interprete o resultado.
3. Com base nos dados do exercício anterior, calcule o multiplicador
considerando um aumento de 20% na proporção de papel-moeda em poder
do público em relação aos meios de pagamento. Explique o porquê do
resultado encontrado.
4. Suponha uma elevação dos empréstimos do Banco Central ao Tesouro
Nacional. O que acontece com a base monetária? Suponha agora que parte
desses empréstimos fique alocada na conta depósitos do Tesouro Nacional.
Muda alguma coisa no resultado anterior? Por quê?
5. Classifique as afirmações a seguir como verdadeiras, falsas ou dúbias,
justificando sua resposta:
a) quanto mais desenvolvido for o sistema financeiro, maiores tendem a
ser os estoques de M1, M2, M3 e M4;
b) o valor do multiplicador depende do comportamento das pessoas quanto
à forma de guardarem seus recursos líquidos;
c) ocorrerá uma expansão da base monetária sempre que houver uma
retração nas operações ativas do Banco Central e ocorrerá uma
expansão dos meios de pagamento sempre que houver uma elevação nas
operações ativas do sistema bancário.
d) considerando o balancete sintético do Banco Central percebemos que a
única forma que tem o Banco Central para influir sobre a oferta de
moeda é por meio do controle de suas operações ativas.
Referências
SIMONSEN, Mario H.; CYSNE, Rubens Penha. Macroeconomia. 22 ed. São
Paulo: Atlas/Fundação Getúlio Vargas Editora, 1996, p. 129-197.
Na internet
9.1 Introdução
No capítulo anterior, demonstramos a forma de funcionamento do sistema
monetário e falamos dos mecanismos por meio dos quais o Banco Central
pode exercer o controle sobre a oferta de moeda na economia. O controle da
oferta monetária é o elemento mais importante da chamada política
monetária. Quais são os objetivos que determinam o desenho da política
monetária de um país? A resposta a essa pergunta passa pela relação entre
moeda, inflação e nível de atividade, uma questão extremamente polêmica,
tão polêmica que está na raiz da existência de diferentes correntes teóricas,
cada uma das quais advogando, a esse respeito, uma posição distinta. Assim,
o desenho de política monetária de cada uma delas é também bastante
diferente. Na Seção 9.2 discutiremos essa questão e as diferentes posições
sobre ela.
Como vimos no capítulo anterior, a moeda do mundo contemporâneo é
fiduciária. Mesmo no plano internacional isso é verdade, já que o meio de
pagamento internacional é o dólar americano, ou seja, um papel emitido pelo
governo dos Estados Unidos e por ele garantido. Assim, a discussão sobre a
relação entre moeda, inflação e nível de atividade está inexoravelmente
ligada à discussão sobre o papel desempenhado pelo governo como elemento
gerador de demanda na economia. Em outras palavras, na medida em que a
moeda é fiduciária, o Estado acaba desempenhando dupla função: de um lado
ele é o elemento garantidor da totalidade de papel-moeda em curso; de outro,
ele conforma um dos elementos constitutivos da demanda agregada e,
enquanto tal, demanda papel-moeda para fazer frente a seus gastos. É em
função disso que a discussão sobre a relação entre moeda, inflação e nível de
atividade passa também pela discussão sobre o chamado deficit público. Na
Seção 9.3 trataremos dessa questão.
onde,
M = meios de pagamento
V = velocidade de circulação da moeda
P = nível geral de preços
Y = produto agregado real
M = $ 100
V=4
P · Y = $ 400
Tendo compreendido o que é a velocidade de circulação da moeda, fica
fácil perceber o que significa a equação quantitativa da moeda. Ela diz apenas
que, dados V – que se supõe relativamente estável, já que depende do
comportamento dos agentes – e o nível de preços em que opera a economia
(P), a quantidade de moeda em circulação ou oferta monetária (M) é
determinada, em cada momento, pelo nível de produto (Y). Evidentemente,
para o mesmo nível de produto (ou seja, para o mesmo Y) e um nível mais
elevado de preços (ou seja, para P maior), maior deverá ser a quantidade de
moeda (M) para transacionar esse mesmo volume de produto real.
Da mesma maneira, para o mesmo P e para um nível de produto maior
(para Y maior), também deverá ser maior a quantidade de moeda em
circulação na economia (M). Finalmente se por uma razão qualquer houver
alteração em V, por exemplo, se ela cair – porque as pessoas passam a ficar,
em média, mais tempo com o dinheiro no bolso –, também tem de crescer M
para que, dado o nível de preços (P), o mesmo volume de produto real possa
ser transacionado. No fundo a equação quantitativa da moeda é uma
identidade contábil e deveria, rigorosamente, ser escrita como:
onde,
Dp = Deficit público
Ig = Investimento do governo
Sg = Poupança do governo
onde,
Dp = deficit público
B = base monetária
Div = dívida pública
onde,
Ipr = investimento privado
Ipu = investimento público
Spr = poupança privada
Sg = poupança do governo
Se = poupança externa
Como vimos pela expressão 9.4, o deficit público pode também ser
definido como o excesso do investimento público sobre o saldo do governo
em conta-corrente, ou poupança do governo, ou seja, ele pode ser definido
como Ipu – Sg. Desse modo, podemos escrever:
Resumo
Os principais pontos vistos neste capítulo foram:
Referências
BIER, A., PAULANI, L.; MESSENBERG, R. O heterodoxo e o pós-
moderno: o cruzado em conflito. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GREMAUD, A.; VASCONCELLOS. M. A.; Toneto Jr. Economia brasileira
contemporânea. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
PAULANI, L. Teoria da Inflação Inercial: um episódio singular na história da
ciência econômica no Brasil? In: 50 anos de ciência econômica no brasil:
pensamento, instituições e depoimentos. Petrópolis: Vozes, 1997.
SIMONSEN, Mario H.; Rubens Penha Cysne. Macroeconomia, 2ª ed. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas Editora, 1996, p. 129-197.
Na internet