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INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

Ao estudarmos os agentes económicos (os intervenientes na actividade económica) vimos que:

-as empresas (ou instituições não financeiras) - produzem bens e serviços;


-as famílias – consomem;
-o Estado – satisfaz as necessidades sociais (colectivas);
-as Instituições financeiras – são todas as instituições que intervêm no financiamento
da actividade económica. Prestam serviços financeiros aos outros agentes económicos.

Elas, de uma forma geral:


-recebem depósitos,
-concedem empréstimos;
-guardam valores;
-realizam câmbios;
-Mas a acção mais relevante: é a captação das poupanças, que canalizam para o
processo produtivo, através da concessão de crédito.
(mais propriamente as instituições financeiras monetárias)

.Encontram-se assim no centro da actividade económica, utilizando a moeda como


instrumento para o desenvolvimento sócio-económico de um país.

As instituições financeiras podem ser (conforme a capacidade legal ou não de receber


depósitos e conceder crédito e, por conseguinte, criar moeda):

-instituições financeiras monetárias:

-podem receber depósitos e conceder créditos; e por conseguinte,


-podem criar moeda.
São:
-As autoridades monetárias:
-o Banco Central;
-o Ministério das finanças. (= autoridade máxima).

-Os bancos comerciais (ou instituições de crédito) – são a forma mais pura de
instituição financeira monetária, podendo realizar todas as operações
monetárias e cambiais previstas na lei, criando moeda escritural, através da
concessão de crédito (multiplicador de crédito);

-As Instituições especiais de crédito (têm o mesmo estatuto que os bancos


comerciais, embora sejam vocacionadas para sectores de financiamento
especializados).
.Ex: -os bancos de investimento (são instituições cuja função principal
é a concessão de crédito de médio a longo prazo);
-os bancos de poupança (Ex: as caixas económicas);
-as sociedades de desenvolvimento regional; etc.

*Nota: apesar das diferenciações legais entre as instituições de crédito (os bancos
comerciais) e as instituições especiais de crédito (IEC), a linha de orientação mundial
tem sido a da polivalência dessas instituições, ou seja, permitindo que umas realizem
operações reservadas apenas às outras. Ex: Os créditos a longo prazo que eram
reservados às instituições especiais de crédito passaram a ser permitidos também às
instituições de crédito; assim como os a curto prazo têm sido objecto de actividade das
IEC.
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-instituições financeiras não monetárias:
Podemos subdividi-las em:

 As que podem conceder créditos, mas não têm capacidade de receber depósitos e, por
conseguinte, não podem criar moeda.
.São as:
-Instituições parabancárias:
.Ex,s: -Sociedades de investimento;
-Sociedades de Leasing ou locação financeira;
-Sociedades de factoring;
-Sociedades Gestoras de Fundos de Investimentos;
-Sociedades Gestoras de Fundos de Pensões;

 -As que não podem conceder créditos, nem têm capacidade para receber depósitos e
não podem criar moeda.
.São as:
-Outras instituições financeiras:
Ex: Companhias de Seguros.

Analisemos as funções do Banco Central:

O BANCO CENTRAL
Como já vimos as autoridades monetárias são:
-O Ministro das Finanças; e
-O Banco Central.

O Banco Central tem duas funções.


-A de ser o banco emissor (de moedas);
-A de ser o banco central.

Como banco emissor:


1º-Tem a exclusividade da emissão de notas de banco (papel moeda) e moedas
metálicas. (como vimos os bancos comerciais e as instituições especiais de crédito
podem criar moeda escritural, através do multiplicador de crédito).

.O montante dessas notas e moedas que o Banco Central emite pode estar:
-uma parte em circulação ( C );
-outra parte em reservas nos bancos ( R )

.Ora bem, ao total do dinheiro criado pelo banco central (uma parte em circulação outra em
reservas nos bancos) chama-se “Base Monetária” (BM)”. Assim:

BM = C + R
.Mas, como sabemos, o total de moeda que um país possui não se limita apenas ao que
constitui a “Base Monetária” (que depende do Banco Central), pois os bancos comerciais
também o influenciam criando moeda (escritural), através do crédito. Assim, a moeda total
(M) de uma economia será:

M=C+D
*D =depósitos.

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2º-Controla todo o sistema bancário e monetário de uma economia, através daquilo que se
chama a Política Monetária (política monetária é exactamente o poder de influenciar, orientar
e controlar o sistema monetário). Através da política monetária consegue influenciar e
controlar a quantidade de moeda existente no país. Como?
De diferentes formas, que inclusive já analisamos aquando do estudo da moeda):

1ª forma- Lançando moeda ou retirando moeda de circulação,


ou seja, alterando directamente a base monetária. Mas como é que o Banco Central
(BC) lança moeda ou retira moeda de circulação? Como já vimos, isso é feito através
da compra e venda de títulos, sobretudo obrigações do Estado, e também
emprestando dinheiro aos bancos, incentivando-os através da diminuição do preço
desse empréstimo, preço esse que se designa de taxa de redesconto.

2ª forma- Influenciando as reservas dos bancos.


Como sabemos é o BC que fixa a taxa de reserva legal (que os bancos são
obrigados a reter). Então se o BC subir esta taxa, está a imobilizar mais dinheiro, que,
por isso, os bancos não poderão utilizar para conceder crédito e, portanto, criarão
menos moeda (escritural), através do mecanismo já estudado: multiplicador de
crédito.

3ª forma- Regulação directa.


Porque o BC pode “mandar” nos bancos, pois ele representa o poder do
Estado. Pode apenas dar “conselhos” que os bancos só seguem se quiserem (embora
possa ser perigoso desobedecer…) ou pode até ordenar a eliminação de um banco que
esteja a “portar-se mal”. Algumas das formas mais frequentes de regulação directa são
a fixação das taxas de juro e os limites ao crédito (definindo quanto é que cada banco
pode conceder de crédito).

Como banco central:

.É o banco dos bancos.


-é nele que os bancos depositam as reservas;
-é a ele que os bancos recorrem em caso de necessidade: os bancos com falta
de liquidez podem recorrer ao banco central que lhes compra títulos com vista
a refazer a sua liquidez.

.É autoridade monetária e consultor do governo.


-cabe a ele orientar e controlar a política monetária em coordenação com o
Ministro das Finanças (fiscalizando assim a actividade das instituições
financeiras);
-cabe-lhe aconselhar o governo na área da política orçamental.

.É o banqueiro do Estado:
-apoia financeiramente o Estado:
-concedendo-lhe empréstimos; ou
-concedendo-lhe os meios necessários para a participação do
Estado no capital de organizações monetárias internacionais.

.É a autoridade cambial:
-define as normas que regulam as operações com ouro e divisas;
-fixa os limites de detenção de disponibilidades em divisas por parte dos
bancos;
-tem de possuir reservas em ouro e divisas para garantir os pagamentos
internacionais.

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*É ainda o BC que representa o país nos organismos monetários internacionais (Ex: no FMI).

O BC exerce o seu papel de autoridade monetária sob a orientação do Ministro das Finanças e
a sua administração é nomeada pelo Governo.

MERCADO MONETÁRIO E MERCADO FINANCEIRO.

.Mercado monetário – é o Mercado onde se dá a procura e a oferta de activos


monetários (moeda).

.São activos monetários (moeda):


-As moedas em circulação; Têm total liquidez
-As notas de banco (papel-moeda);
-Os depósitos à ordem; e Têm um alto grau de liquidez
-Os títulos de curto prazo.

. No seu funcionamento intervêm:


-Os interessados;
-As instituições bancárias; e
-O Banco Central (enquanto entidade supervisora)

.Mercado financeiro ou de capitais - é o mercado onde se dá a procura e a oferta de


activos financeiros (ou seja, nele se transaccionam os títulos de crédito de média e
longa duração, que não são susceptíveis de tão fácil conversão em meios de
pagamento imediato, sendo necessário, primeiro, a sua venda).

.São exemplos de activos financeiros (ou produtos financeiros):


-obrigações;
-acções;
-títulos de participação;
-títulos de dívida pública; etc.

.No seu funcionamento intervêm:


-não só os interessados directos; mas também:
-as instituições financeiras;
-o Banco Central; e
-as sociedades corretoras ou brokers; ou
-as sociedades financeiras de corretagem ou dealers;

*( Liquidez - É a facilidade com que um activo pode ser transformado ou convertido em meio de
pagamento. Uma forma fácil de distinguir o Mercado Monetário do Financeiro é, portanto, o grau de
liquidez dos respectivos activos transaccionados.)

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O MERCADO DE TÍTULOS:

Constitui um segmento do Mercado Financeiro, onde se transaccionam principalmente


acções das sociedades anónimas, mas também obrigações, títulos de participação, etc.
No Mercado de títulos é possível distinguir:

-mercado primário - diz respeito à emissão de títulos e à sua


distribuição pelo público que os subscreve.

-mercado secundário - é onde se transaccionam os valores já emitidos e


postos em circulação e que podem livremente ser negociados. É onde
se situa a bolsa de valores (quando os valores – títulos – já se
encontram admitidos à cotação).

A Bolsa de Valores - é o local onde se transaccionam (se compram e se vendem) títulos


de médio e longo prazo (acções, obrigações, títulos de participação), já emitidos e
cotados.

Cotação de um título - é a atribuição do seu preço, resultante do confronto dos


interesses de quem procura e de quem oferece.

O aforrador que decide aplicar as suas poupanças através da bolsa (por exemplo,
comprando acções) pode fazê-lo:
-ou dando ordens de compra ao banco de que é cliente, o qual encaminhará a
ordem de compra (ou de venda, se for alguém que pretenda obter recursos
financeiros através da bolsa) para um corretor;
-ou recorrendo directamente aos corretores, os quais se encontram
organizados em sociedades:
- Sociedades corretoras (ou brokers) - limitam-se a executar as ordens
dadas pelos seus clientes.

- Sociedades financeiras de corretagem (ou dealers) - para além de


executar as ordens de compra e venda dos seus clientes, podem possuir
uma “carteira de títulos” própria, podendo, portanto transaccioná-los.
Elas ainda podem emprestar dinheiro aos seus clientes para a
efectivação dos investimentos (em acções, por exemplo)

Mas apesar dessa diferença entre esses dois tipos de sociedades, elas desenvolvem
uma actividade semelhante:
 -compram e vendem títulos por conta de outrem;
 -aconselham os seus clientes nas transacções (nas compras e
vendas);
 -fazem, em conjunto com o cliente a gestão da carteira de títulos;
 -prestam todos os serviços ligados à guarda da carteira (como seja:
cobrança dos juros das obrigações, recebimento dos dividendos das
acções, etc.).

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MERCADOS INSTITUCIONAIS:

.Mercados institucionais – mercados onde se transacciona (onde se compra e


se vende) moeda entre as instituições de crédito ou entre estes e o Banco
Central. Estas transacções visam suprir a falta ou excesso momentâneo de
liquidez dos bancos (por exemplo para satisfazer os pedidos de levantamento
dos clientes). E podem verificar-se:

- ou no Mercado Monetário Interbancário (M.M.I.)


-No M.M.I. processam-se as transacções de dinheiro entre as
instituições de crédito.

-ou no Mercado Interbancário de Títulos (M.I.T.)


-No M.I.T. processam-se as transacções de títulos entre o Banco
Central e as instituições de crédito ou entre uma instituição de
crédito e outra instituição de crédito, tendo em vista a devida
adequação de liquidez por parte das instituições intervenientes.

PRODUTOS FINANCEIROS:

Menos ou mais, quase todo o indivíduo, preocupado com o futuro, poupa. Poupar é
não gastar hoje as disponibilidades que possuímos, podendo guardá-las ou aplicá-las
em produtos financeiros rentáveis, de modo a multiplicar as poupanças.

São vários os produtos financeiros (os depósitos a prazo, os certificados de aforro, os


bilhetes do tesouro, os fundos de investimento, as acções, as obrigações, os títulos de
participação), de entre os quais o investidor escolhe de acordo com o risco que quer
assumir, com o prazo que pretende manter imobilizado o seu dinheiro (tem a ver com
a liquidez, portanto), com a rendibilidade que permitem, etc.

Assim, os produtos financeiros apresentam diferentes características, em função das


quais o investidor faz a sua escolha. Vejamos.

-Os depósitos a prazo -o risco é nulo;


-a rendibilidade é baixa;
-a liquidez varia nos seguintes prazos: 30, 60, 90, 181
e 365 dias.

-Certificados de aforro -o risco é nulo;


-a rendibilidade é média/alta;
-liquidez: após o 1º trimestre.

-Bilhetes do tesouro -o risco é nulo;


-a rendibilidade é média/alta;
-liquidez: prazos variáveis até 365 dias.

-Fundos de investimento -o risco é variável /controlado;


-a rendibilidade é média;
-liquidez: qualquer prazo superior a três dias.
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-Acções -o risco é especulativo;
-a rendibilidade é variável;
-liquidez: variável (dependente da procura),

-Obrigações -o risco é variável/controlado;


-a rendibilidade é média/alta;
-liquidez: variável (dependente da procura).

-Títulos de participação -o risco é variável/controlado;


-a rendibilidade é variável;
-liquidez: variável (dependente da procura).

De entre os diversos produtos financeiros destacam-se as acções, as obrigações e os


títulos de participação, aos quais dedicaremos uma pequena atenção.

.ACÇÕES

As acções - são parcelas de capital de uma empresa constituída em forma de


sociedade anónima.

O titular de acções de uma sociedade anónima tem a qualidade de accionista (é


sócio da empresa).

As acções constituem património do accionista e conferem-lhe determinados


direitos.
-por exemplo de receber uma parcela dos lucros da empresa, parcela
essa proporcional ao número de acções que a pessoa possui.

Os lucros a distribuir por cada acção designam-se de dividendos (dividendo é,


pois, o lucro que o accionista recebe por cada acção que possui da empresa) e
podem variar de ano para ano.

O valor das acções varia de acordo com a sua maior ou menor procura. Assim:

-se as acções representam uma quota-parte de uma empresa em


crescimento, com boas perspectivas de lucro, haverá muita gente interessada
em adquiri-las. Logo a cotação dessas acções sobe no mercado bolsista (na
bolsa) e quem as possui pode obter uma mais-valia (ou seja ganhar vendendo
as acções por um preço mais elevado do que as comprou, se quiser vender);

-se for contrário o titular das acções pode ter menos-valias.

O risco ligado a esse tipo de títulos é um risco especulativo, ou seja, que


depende das condições do mercado (da procura).

Um outro risco ligado às acções tem a ver com o facto de os dividendos


dependerem dos resultados da empresa.

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Assim o titular (o investidor) nunca sabe exactamente o quanto pode ganhar
com o seu investimento. Inclusive pode até perder.

Caso a sociedade seja dissolvida, o accionista tem o direito de receber uma


parcela do resultado da venda dos bens da empresa, depois de satisfeitos os
compromissos com terceiros (depois de serem pagas as dívidas da empresa). A
quantia a que terá direito será proporcional ao número de acções que possuir.

O titular das acções pode, se desejar, vender as suas acções na bolsa ou fora
dela, correndo o risco de liquidez, caso não haja comprador interessado no
momento em que quer vender.

.OBRIGAÇÕES:

Obrigações - são títulos representativos de um empréstimo concedido a uma


empresa ou ao Estado.

Conferem, portanto, ao seu titular a qualidade de credor (e não de sócio).

O titular das obrigações recebe um determinado juro, cujo montante (a taxa de


juro) é logo fixado na altura do empréstimo e é depois reembolsado do
empréstimo, no fim do prazo estipulado para o empréstimo.

Aqui, portanto, o titular (o investidor) já sabe desde o início aquilo que vai
ganhar

.TÍTULOS DE PARTICIPAÇÃO:

Títulos de participação - são emitidos pelas empresas públicas, pois só estas


estão autorizadas a fazê-lo e constituem uma forma de estas empresas
aumentarem o seu capital.

Apresentam uma componente de rendimento variável (na medida em que


está dependente dos lucros que a empresa obtiver em cada ano) e uma
componente de rendimento fixo (pois é garantida, logo à data da emissão do
título, uma remuneração a uma taxa fixa, independentemente dos lucros que a
empresa vier a obter).

Estes títulos têm grande liquidez, pois podem ser rapidamente vendidos, dado
haver sempre muita procura desse produto financeiro.

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OS PREÇOS E A INFLAÇÃO

O PREÇO:
À quantidade de moeda que se dá em troca de um bem chama-se preço.

O preço de um bem é, então, a expressão monetária do valor de um bem.

O preço está, desdelogo,entre outros factores, relacionado com o custo de produção


desse bem. Os custos de produção dependem do preço dos factores de produção e
variam com as quantidades usadas desses factores no processo produtivo.

Esses custos abrangem os custos directos dos factores (os directamente ligados à
produção como, por exemplo, as matérias-primas e os salários dos trabalhadores) e os
custos indirectos, ou seja, aqueles que a empresa tem de suportar para manter a
produção, por exemplo, os salários dos gestores, a energia gasta na iluminação,
apublicidade, etc.

*Também haverá que fazer a distinção entre os custos fixos e variáveis, a qual será abordada no capítulo da produção.

Para além de incluir o custo dos factores necessários à sua produção, o preço de um
bem inclui ainda uma percentagem de lucro, que corresponde à retribuição do
trabalho do empresário e do risco por ele suportado quando aplica os seus fundos na
empresa.

Refira-se que em circunstâncias excepcionais, um bem pode ter um preço de mercado


inferior ao seu custo de produção. Tal poderá ocorrer se for considerado
estrategicamente desejável, ou por razões económicas ou por razões sociais. Nesses
casos, o Estado subsidia as empresas, de forma que elas não sejam prejudicadas.

Mas, muitas vezes, os preços variam de um sítio para o outro e conforme as épocas. É
que os preços podem ser influenciados por vários outros factores, além do custo de
produção.

Vejamos alguns exemplos:


-Se um mercado, em determinado dia, aparecerem muitos produtores a
oferecerem um determinado produto, por exemplo, morangos, atendência será
para esses produtores, desejando vender tudo o que levaram para o mercado,
baixarem opreço, sacrificando parte do seu lucro. Mas, se noutra semana,
apenas aparecer um produtor com morangos e muita gente interessada neles,
o produtor tenderá a aumentar o seu preço, aproveitando para aumentar o
lucro.
-Todos assistimos, no fim das estações, ao fenómeno dos saldos. Os
comerciantes para venderem os artigos que sobraram, sacrificam parte do seu
lucro e vendem os chamados “restos de colecção” por um preço mais baixo do
que o habitual.
-Também o prestígio de uma casa ou de uma marca pode levar os empresários
a vender os produtos por um preço mais elevado.

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A INFLAÇÃO

Inflação – é uma subida anormal, generalizada e persistente do nível de preços e


serviços.

Devemos salientar que, para se falar em inflação, é necessário que a subida de preços
seja persistente, ou seja, continuada. Deste modo, as subidas esporádicas ou
ocasionais do nível geral de preços não podem ser consideradas inflação.

Por outro lado, tem de ser generalizada(quase todos os bens sobem de uma forma
continuada), ou seja, a mera subida do preço de um ou dois bens, não constitui
inflação.

No entanto, não significa que têm de aumentar os preços de todos os bens e serviços,
mas sim a grande maioria deles.

Assim, quando dizemos que num dado período os preços aumentaram 3%, isto não
significa que os preços de todos os bens subiram 3%, mas sim que em média os preços
das principais categorias de bens – como alimentos, bebidas, alojamento, cuidados de
saúde, transportes, etc. – aumentaram 3%.

Há também que distinguir a inflação das subidas normais (e individualizadas) dos


preços de determinados bens, que decorrem do funcionamento normal da economia.

Assim, por exemplo, é normal assistirmos ao longo do ano, oscilações importantes nos
preços médios de alguns bens em virtude do seu carácter sazonal. É o que acontece,
por exemplo, com o preço de alguns produtos agrícolas (legumes, frutas, etc.) que são
em princípio mais baratos nas épocas das colheitas que nos restantes meses do ano,
tendo em conta, nomeadamente, os custos de armazenagem que incidem sobre os
produtos.
Isto seria uma subida sazonal dos preços e não uma inflação.

Subida sazonal dos preços – é a subida periodicamente dos preços, ou seja, subida normal e
individualizada (de um bem ou alguns bens), dependendo das épocas.
A inflação, pelo contrário, é um fenómeno mais complexo. E, como fenómeno
complexo, ela não pode ser atribuída a uma única causa específica, mas antes a um
número de causas que, actuando conjuntamente, concorrem para a sua ocorrência.
Como fenómeno complexo que é, torna-se não só difícil caracterizá-la, como também
fazer o seu controle.

Para efeitos de análise, iremos separar as causas e analisá-las uma por uma, mas nunca
esquecendo que as mesmas não actuam isoladamente, mas sim em conjunto.

Antes, porém, de passarmos à análise das causas, vejamos alguns conceitos que se
relacionam com o de inflação, como, por exemplo, os conceitos de desinflação,
deflação e estagflação.

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Desinflação:

A taxa de inflação não é constante. A um período de forte inflação (uma inflação


galopante, por exemplo, em que os preços sobem vertiginosamente) pode seguir-se
um período em que, embora os preços continuem a subir, sobem menos (inflação
moderada).

A desinflação- é, assim, um processo de abrandamento do ritmo da subida dos


preços relativamente ao período anterior (a taxa de inflação diminui, mas
continua a haver inflação).

Deflação:
Se a inflação se caracteriza pela alta dos preços, o fenómeno inverso, a baixa
continuada dos preços, chama-se deflação.

A deflação– é uma descida generalizada e persistente do nível de preços dos


bens e serviços.

Estagflação:
Uma outra noção que passou a ser utilizada pelos economistas é a estagflação. Trata-
se de um termo obtido pela contracção das noções de estagnação e de inflação.
Designa o facto de, a partir da década de 60 do Século XX, se ter assistido na maior
parte dos países industrializados a uma aceleração do ritmo da inflação e a um
abrandamento do crescimento económico, acompanhados de forte desemprego. A
situação era nova, pois até então os dois últimos fenómenos estavam associados à
deflação.

Estagflação – é o termo utilizado para designar períodos de estagnação


económica e ao mesmo tempo subida generalizada do nível de preços
(inflação).

CAUSAS DE INFLAÇÃO:
 A inadequação entre a moeda em circulação e o volume de bens e de serviços postos à
disposição dos consumidores:
De facto, o aumento da moeda em circulação, sem o correspondente aumento da produção de
bens e serviços, acarreta um excesso de procura de bens e de serviços face à respectiva oferta
por parte dos produtores, originando a respectiva subida do preço. Este é um aspecto que
perceberemos melhor, quando estudarmos as instituições financeiras e o particular papel do
Banco Central.

 O aumento do preço de alguns bens essenciais ao processo produtivo, nomeadamente as


matérias-primas:
Por exemplo, a utilidade do petróleo no processo produtivo, como matéria-prima ou como
matéria subsidiária, explica que, na maior parte dos bens, o custo da produção tenha
aumentado em virtude da subida do seu preço.

Efectivamente, quando a matéria-prima (ou a subsidiária) sobe de preço, os produtores


normalmente tendem a aumentar o preço do produto final, para manterem as suas margens de
lucro.

 As próprias relações comerciais entre países (com o resto do mundo):


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Este tipo de causa afecta mais os países cujas economias dependem muito da importação dos
produtos e serviços dos países industrializados e não só, cujos preços muitas vezes já vêm
inflacionados. Nestas circunstâncias fala-se em inflação importada e afecta os países
dependentes dos países industrializados.

Em Cabo Verde, por exemplo, a inflação importada contribui sistematicamente para a inflação
interna, pois importamos grande parte dos bens de que necessitamos, os quais já podem vir
inflacionados dos países de origem.

 Aumento da massa salarial distribuída sem aumento de produtividade:


Efectivamente esta causa pode contribuir para o desenvolvimento da inflação a dois níveis:
-Por um lado, pode concretizar-se num aumento da procura de bens e de serviços não
satisfeito pelas respectivas ofertas, dado que os trabalhadores ficam com mais
disponibilidades monetárias e, portanto, com mais poder de compra, sem que a oferta
consiga dar resposta;

-Por outro lado, vem onerar os custos de produção, e, consequentemente, os preços


de venda, a fim de que possam manter-se as margens de lucro dos empresários.

 As práticas de açambarcamento:
O açambarcamento de alguns bens por parte dos produtores ou dos distribuidores origina uma
escassez desses bens no mercado e, consequentemente, a subida dos respectivos preços.

 A política de crédito adoptada pelo Estado:


Todos sabemos que os empresários recorrem ao crédito para financiarem a sua actividade.
Naturalmente, se astaxas de juros (nos empréstimos para o investimento, para a produção)
forem elevados, os empréstimos são muito caros e o preço dos bens será forçado a subir.
Inversamente, a descida das taxas de juro pode contribuir para a diminuição do preço dos bens
e, portanto, para combater a inflação.

CONSEQUÊNCIAS DA INFLAÇÃO:

 A depreciação do valor da moeda – Com efeito, o aumento dos preços faz com que o
consumidor compre, com o mesmo dinheiro, cada vez menos produtos;

Ora sendo o preço expressão em moeda do valor dos bens, numa situação de inflação,
como já sabemos, torna-se necessário despender mais moeda para adquirir o mesmo
volume de bens, ou seja, a moeda perde valor, pois, com a mesma quantidade de
moeda, adquirem-se menos bens.

 O entesouramento de ouro ou de divisas estrangeiras – que não se desvalorizem em


consequência da quebra de confiança na moeda nacional. Perdendo a confiança na moeda
nacional, os aforradores preferem desfazer-se da moeda nacional e entesourar em ouro ou em
divisas.

 Depreciação do nível de vida das pessoas – A inflação faz diminuir o rendimento real das
pessoas, o seu poder de compra. O poder de compra traduz-se na quantidade de bens
e serviços que um certo rendimento permite obter. Ou seja, é a capacidade que as
pessoas têm para adquirir bens e serviços com o rendimento de que dispõe.

A inflação provoca, pois, uma deterioração do poder de compra.

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Dito de outra maneira a inflação provoca um aumento do custo de vida e, por isso, faz
diminuir o nível de vida. (estes dois conceitos são inversamente proporcionais:
aumentando o custo de vida diminui o nível de vida).

E isso acontece principalmente com as pessoas que auferem rendimentos fixos. Assim, os
indivíduos que vivem de juros de capital depositado, de rendas, de pensões, de subsídios, e de
outras formas do rendimento fixo, vêem as suas condições de vida deteriorar-se
continuamente, em virtude da desvalorização progressiva dos seus rendimentos.

 O agravamento do próprio processo inflacionário– na verdade, a depreciação da moeda cria


nos cidadãos uma predisposição para a aquisição de bens de consumo (pois o objectivo é
desfazer-se da moeda nacional e não entesourá-la, em virtude da sua desvalorização), o que
contribui para a expansão do consumo e, consequentemente, para a elevação do nível de
preços, quando uma das formas de combater a alta do nível de preços é, exactamente, diminuir
o consumo de bens e serviços finais.

Mas uma inflação continuada acaba por afectar negativamente toda a actividade
económica.

Como a subida generalizada dos preços afecta também os factores de produção,


agravando os custos, as empresas, para manterem os lucros, vão repercutir as subidas
dos custos nos preços dos produtos finais, agravando cada vez mais a inflação.

Por outro lado, face à imprevisibilidade da evolução dos preços das matérias-primas e
dos equipamentos, as empresas vêem-se impedidas de planear com segurança
investimentos a médio e longo prazo, o que pode levar a uma retracção da oferta e à
consequente pressão altista sobre os preços. Por tudo isso, é comum afirmar-se que a
inflação gera inflação, que a inflação é ao mesmo tempo causa e consequência da
inflação.

É por estas e outras razões que o governo e o Banco Central procuram manter a
estabilidade dos preços.

O ÍNDICE DOS PREÇOS NO CONSUMIDOR (IPC):

Quando nos referimos ao aumento ou diminuição da inflação, estamos de facto a


aludir à evolução de um índice de preços.

Um índice de preços mede a evolução dos preços entre dois momentos, em que um
deles é usado como momento de referência e que designamos, por exemplo, de ano-
base, ao qual é normalmente atribuído o índice de 100 e outro é o momento corrente,
que designamos, por exemplo, ano-corrente.

Existem diferentes tipos de índices de preços, no entanto, aquele que é mais


amplamente utilizado para medir a inflação é o índice de preços no consumidor,
também conhecido pela siglaIPC.

O índice dos preços no consumidor (IPC) é um número (designado número-índice)


utilizado para medir a evolução do custo de compra (preço) de um cabaz de bens e
serviços, suficientemente representativo do consumo das famílias, em diferentes
momentos. Um desses momentos constitui o momento de referência usualmente
designado por ano-base.

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O IPC calcula-se da seguinte forma:
1-Considera-se um conjunto de bens e serviços, representando o chamado
cabaz do consumidor;
2-Determina-se quanto custa esse “cabaz” de produtos no ano-base;
3-Determina-se quanto custa o mesmo “cabaz” no ano que se está a considerar
(o ano-corrente)
4-Estabelece-se a relação entre esses dois preços do custo do “cabaz”.

Em cabo verde, o organismo incumbido de levar a cabo a complexa tarefa de elaborar


os índices de preços no consumidor é o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Assim, por exemplo, se considerarmos que o “cabaz do consumidor” custava em 2015,


140.000$00 e, em 2016, 154.000$00, o índice de preços de 2016 em relação a 2015,
calcula-se do seguinte modo:

I2016/2015 =154.000$00 x 100 = 110


140.000$00

110 é o número índice. Ficamos a saber que com 154.000$00 em 2016 podemos
comprar os mesmos bens e serviços que comprávamos em 2015 por 140.000$00. Ou
seja, dito de outra maneira: por cada 100 que gastávamos em 2015 agora gastamos
110 (gastamos 10 a mais).
E, portanto, procedendo da seguinte forma podemos encontrar a taxa de inflação:

Taxa de inflação = IPC(2016) – IPC(2015) x 100 =


IPC (2015)
Neste caso vamos considerar o IPC de 2015 como sendo 100 (já que não temos
outros dados), ou seja:

Taxa de inflação = 110 – 100 x 100 = 10%


100
*O IPC que calculamos em cima é o IPC Sintético (que tem em conta o cabaz na totalidade), que nos interessa. Mas
também podemos calcular o IPC Simples (o de cada bem constante do cabaz).

Taxa de inflação - é a variação média do nível geral de preços entre dois momentos e é
normalmente expressa em termos percentuais.

As taxas de inflação podem ser calculadas para um país ou apenas para uma região;
para a generalidade dos bens e serviços ou somente para uma dada categoria de bens
e/ou serviços.

Para calcular a taxa de inflação, portanto, recorremos aos índices de preços no


consumidor em dois momentos diferentes, como já vimos:

Taxa de inflação= IPC (no momento-corrente) – IPC (no momento-base) x 100 =


IPC (no momento-base)

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Apontamentos da Economia Politica II – Dr. Hermes Andrade
O INE efectua mensalmente o cálculo de três indicadores de inflação: taxa de inflação
mensal, taxa de inflação homólogae taxa de inflação média anual (dos últimos 12
meses).

Taxa de inflação mensal (Tim): mede a variação dos preços no consumidor entre dois
meses consecutivos. O cálculo da taxa de inflação mensal requer que se faça a
comparação do valor do IPC num dado mês com o valor do IPC no mês imediatamente
anterior.

Por exemplo entre Dezembro de 2016 e Novembro de 2016:

Tim= IPC (mês-corrente) – IPC (mês-base) x 100


IPC (mês-base)

Taxa de inflação homóloga (Tim): mede a variação dos preços no consumidor entre
um dado mês de um determinado ano e o mesmo mês do ano imediatamente
anterior.

Por exemplo entre Dezembro de 2016 e Dezembro de 2015:

Tih= IPC (mês-corrente) – IPC (mês-base) x 100


IPC (mês-base)

Taxa de inflação média dos últimos doze meses (Tim – 12 meses): para efectuar o
cálculo deste indicador é necessário conhecer os índices de preços no consumidor
relativos a 24 meses consecutivos, com efeito, neste caso, o que se pretende é medir a
variação dos preços médios de 12 meses relativamente aos preços médios dos 12
meses imediatamente anteriores.

Por exemplo, IPC dos 12 meses de 2016 relativamente aos 12 meses de 2015 (média
anual, portanto):

Tim (12 meses) = IPC médio dos 12 últimos meses (corrente) – IPC dos primeiros 12 meses (base) x 100
IPC dos primeiros 12 meses (base)

Ou seja:
(IPCjan + IPCfev + IPCmar…) – (IPCjan + IPCfev + IPCmar …)
Tim (12 meses) = 12 12_____________ x 100
(IPCjan + IPCfev + IPCmar …)
12

Ou

Tim (12 meses)=(IPCjan + IPCfev + IPCmar…) – (IPCjan + IPCfev + IPCmar …) x 100


(IPCjan + IPCfev + IPCmar …)

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Apontamentos da Economia Politica II – Dr. Hermes Andrade
Exemplo:
Considere a seguinte tabela, que nos mostra os índices de preços no consumidor
mensais, para os anos 2010 e 2011 (base 100: ano 2008):

Índice dos Preços


Meses
2010 2011
Janeiro 106,5 109,4
Fevereiro 106,5 109,6
Março 106,8 111,0
Abril 107,6 111,6
Maio 108,0 112,1
Junho 108,0 112,0
Julho 108,4 111,7
Agosto 108,5 111,6
Setembro 108,7 112,0
Outubro 109,2 112,1
Novembro 109,7 112,3
Dezembro 109,8 112,5

A partir destes dados vamos calcular:


a)A taxa de inflação mensal em Março de 2011:

Tim = 111,0 -109,6 = 1,3%


109,6

b)A taxa de inflação homóloga em Março de 2011:

Tih= 111,0 – 106,8 = 3,9%


106,8

c)A taxa de inflação média dos últimos 12 meses para Dezembro de 2011:

Tim (12 meses) = (109,4 + … + 112,5) – (106,5 + … + 109,8) = 3,1%


(106,5 + … + 109,8)

Medidas de combate à inflação:

Tendo em conta as graves consequências económicas e sociais da inflação será,


certamente, preocupação das entidades governamentais combater esse flagelo.

Para tal, será necessário considerar, em primeiro lugar, a origem do fenómeno


inflacionista para, em seguida, se delinear com mais sucesso as estratégias para o seu
combate.

Analisemos o quadro seguinte que pretende, de uma forma simples, apresentar as


teorias explicativas da inflação e as formas mais comuns de travá-la.

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