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cap.

2 - Lopes e Vasconcellos

OFERTA DE MOEDA

 Funções da moeda:

a) Meio de troca: substituição das trocas diretas (dupla coincidência de desejo)


pelas trocas indiretas;
b) Unidade de conta: referência monetária, unidade de medida (preços, contratos,
salários etc.);
c) Reserva de valor: dada a separação entre os atos de compra e de venda em
termos individuais (separação temporal), há a possibilidade de reter moeda.

Obs.: Esta possibilidade de diferir o pagamento, a liquidação no tempo, é a origem do


sistema de crédito.

 Tipos de moeda

a) Moeda metálica: ouro, prata etc.


b) Papel-moeda: mantém a conversibilidade em ouro, que correspondia a seu
lastro;
c) Moeda fiduciária: a moeda fiduciária (confiança) surge a partir do uso
generalizado do papel-moeda, independente de existir ou não lastro;
d) Moeda escritural: surge a partir do desenvolvimento do Sistema Financeiro
(depósitos à vista ou depósitos a prazo).

 Base Monetária (B)

Base Monetária = Papel Moeda em Poder do Público + Reservas Bancos Comerciais

B = PMPP + R

 Meio de Pagamento (M1)

Meios de Pagamento = Papel Moeda em Poder do Público + Depósitos à vista

M1 = PMPP + DV
ou seja, a moeda de uma economia, ou conjunto de meios de pagamento, é o total de
ativos de liquidez imediata (excluindo a moeda mantida em reservas pelo sistema
bancário).

Ademais,

Meios de Pagamento = Moeda Manual + Moeda Escritural

O papel-moeda recebe ainda o nome de moeda manual ou moeda


corrente, para distingui-lo da moeda escritural, denominação que se
aplica aos depósitos a vista nos bancos comerciais, que, junto com o
papel-moeda, conformam o conjunto daquilo que denominamos meios
de pagamento.

A quantidade de moeda (os meios de pagamento) passou


a constituir-se tanto do papel-moeda emitido pelos
governos e carregado pelos indivíduos (moeda manual),
como dos depósitos a vista (moeda escriturai) no sistema
bancário, já que através das notas (cheques) podia-se
livremente dispor destes depósitos.

 Agregados monetários pelo grau de liquidez

Diante do desenvolvimento do Sistema Financeiro, tem-se agregados monetários com


diferentes graus de liquidez (ou seja, aquilo que se pode dispor imediatamente em
moeda).

Classificação:

a) (Alta liquidez) M1 = papel moeda em poder do público + depósitos à vista nas


instituições financeiras bancárias;

b) (↓ liquidez) M2 = M1 + depósitos de poupança + títulos privados emitidos por


instituições financeira (p. ex., CDB);

c) (↓↓ liquidez) M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operações


compromissadas com títulos públicos federais; e

d) (↓↓↓ liquidez) M4 = M3 + títulos públicos federais e títulos de emissão dos


estados e municípios.
Obs.: em linhas gerais, há um prêmio maior (rendimento) dada a perda de liquidez nos
diferentes agregados monetários.

Em época de elevação das taxas de inflação, diminui o grau de


monetização da economia, pois tanto as pessoas e como o
empresariado procuram aplicar mais recursos que rendem juros,
retendo menos moeda ou depósitos à vista. Ou seja, diminui o total de
Ml relativamente ao total de aplicações financeiras (M4). Quando a
inflação diminui, ocorre o contrário: aumenta a relação Ml/M4,
ocorrendo remonetização da economia.

 Papel-moeda em circulação e Papel-moeda em poder do público

Dada a emissão de moedas pela Casa da Moeda:

a) Papel-moeda em circulação: Papel-moeda emitido – Caixa das Autoridades


Monetárias (BC);

b) Papel-moeda em poder do público: Papel-moeda em circulação – Caixa dos


Bancos Comerciais.
Em outras palavras, o papel-moeda em poder do público (ou moeda
manual) corresponde ao papel-moeda emitido pelo Banco Central
menos a parcela mantida como encaixe em moeda pelo sistema
bancário (Caixa dos Bancos Comerciais).

 Reservas (ou encaixes) bancárias (Encaixes técnicos, RV e RC)

As reservas dos bancos comerciais se apresentam de três formas, quais sejam:

a) moeda corrente guardada nos próprios bancos: feitas para compensar


excesso de pagamentos sobre recebimentos em papel-moeda na "boca do
caixa". É o Caixa dos Bancos Comerciais, também chamado Encaixes do
Sistema Bancário;

b) reservas voluntárias no Banco Central: feitas para atender excesso de


pagamentos frente a recebimentos na compensação de cheques; e

c) reservas compulsórias no Banco Central: são utilizadas, entre outras


coisas, para garantir uma segurança mínima do sistema bancário.
 Multiplicação por parte dos bancos comerciais

O processo de criação de moeda pelos bancos comerciais se deve ao fato de


estes manterem como reservas apenas uma fração dos depósitos à vista que
captam do público, emprestando o excedente (isto é, abrindo novos depósitos).
Portanto, sobre a parcela captada pelos bancos comerciais, estes criam
meios de pagamentos adicionais por meio do mecanismo chamado de
multiplicador.

 Exemplos hipotéticos (e simplificados) do multiplicador bancário:

Exemplo 1: Considerando um valor inicial de R$ 100 e reserva fracionária bancária de


20%. Pressuposto: o público não retem qualquer fração dos meios de pagamentos na
forma de papel-moeda.

Balanço Financeiro Situação/Banco 1


Ativos Passivo
Reservas (todas) 20 Deposito 100
Empréstimos 80

Balanço Financeiro Situação/Banco 2


Ativos Passivo
Reservas 16 Deposito 80
Empréstimos 64

Balanço Financeiro Situação/Banco 3


Ativos Passivo
Reservas 12,8 Deposito 64
Empréstimos 51,2

Até onde esse processo ocorre?


Progressão geométrica (decrescente) de razão (q) igual a 0,8:
(100 x 0,8) + (100 x 0,82) + (100 x 0,83) [...]
∑a1 = a1 / (1 - q) = a1 * 1 / (1 - q)
a1 = primeiro termo da progressão
Saldo dos Meios de Pagamento (M) = 100 * 1 / (1 – 0,8)
M = 100 / 0,2 = 500 (saldo dos meios de pagamento criados pelo banco)
Percebemos, pela situação n, que os R$100,00 de depósitos iniciais se
transformaram em R$ 500,00, sendo que R$ 400,00 foram criados
pelo sistema bancário por meio da concessão de empréstimos. Os
meios de pagamentos foram multiplicados por 5: partimos de R$
100,00 e chegamos a R$ 500,00, obtidos pela soma dos termos da
seguinte sequência: R$ 100,00; 80,00; 64,00 etc.

Multiplicador monetário (m) = 1 / (1 – 0,8)


m = 1 / 0,2 = 5
Ou seja, é a razão entre o saldo dos meios de pagamentos (M) e a base monetária B.
500/100 = 5
Obs.: ver isso melhor no próximo exemplo.
Obs.: falência em cadeia.

Exemplo 2: A base inicial permanece de R$ 100,00. O público retém 10% dos meios de
pagamentos na forma de papel-moeda e os bancos mantêm 20% dos depósitos na forma
de reservas.

Balanço Financeiro Situação/Banco 1


Ativos Passivo
Reservas 18 Deposito 90
Empréstimos 72

Balanço Financeiro Situação/Banco 2


Ativos Passivo
Reservas 12,96 Deposito 64,8
Empréstimos 51,84

Balanço Financeiro Situação/Banco 3


Ativos Passivo
Reservas 9,33 Deposito 46,66
Empréstimos 37,32

Progressão geométrica de razão (q) igual a 0,72:


(90 x 0,72) + (90 x 0,722) + (90 x 0,83) [...]
Equação:
∑a1 = a1 / (1 - q) = a1 . 1 / (1 - q)
Então,
Saldo dos Meios de Pagamento (M) = a1 . 1 / (1 – q)
M = 100 . 1 / (1 – 0,72)
M = 100 / 0,28 = 357,14 [saldo total dos meios de pagamento]

 Multiplicador Monetário (m)

Em que d é a parcela dos meios de pagamentos que o público mantém


como depósitos à vista (DV/Meio de Pagamento = 90/100) e r é a
relação reservas/depósitos à vista dos bancos comerciais (Reservas
Totais/DV = 18/90).

m = 1 / [1 – 0,9 (1 – 0,2)]
m = 1 / [1 – 0,9 (0,80)]
m = 1 / 0,28 = 3,57 (multiplicador monetário)

ou, sendo a fórmula do multiplicador a partir dos saldos, enquanto a anterior é deduzida
a partir dos coeficientes (d e r):

m = 357,14 / 100 = 3,57

Portanto, percebemos que o valor do multiplicador será tanto maior quanto maior for a
preferência do público por depósitos à vista frente ao papel-moeda, e quanto menor a
proporção de reservas dos bancos, isto é:

d↑→m↑
r ↑ →m↓

AS FUNÇÕES DO BANCO CENTRAL

i) Banco dos bancos:


> tem a função de zelar pela estabilidade do sistema financeiro nacional;
> funciona como emprestador em última instância.

ii) Banco depositário das reservas internacionais:


> responsável pela política cambial. Ou seja, o BC mantém em seu ativo um
estoque de moedas estrangeiras que viabilizam sua intervenção no mercado
cambial.

iii) Banco do governo:


> banqueiro do Tesouro Nacional. O Banco Central recebe Depósitos do
Tesouro em seu passivo e do lado do ativo realiza Empréstimos ao Tesouro,
além de carregar títulos públicos.

iv) Banco emissor de papel-moeda:


> responsável pela política monetária. O papel-moeda emitido é uma dívida do
Banco Central, ou uma fonte de recursos para este, e, como tal, aparece em seu
passivo.

 O Balanço Sintético do Banco Central

 Passivo Monetário e Passivo Não-Monetário

Passivo Monetário: é composto pelo papel-moeda em poder do público mais as


reservas dos bancos comerciais, o que corresponde à definição de Base Monetária, vista
anteriormente.
Passivo Não-Monetário: são os demais itens do passivo do BC (depósitos do Tesouro,
recursos especiais etc.)
 Expansão e Contração da Base Monetária (B)

Fatores de expansão da Base Monetária: a ampliação das reservas internacionais do


país, a compra de títulos públicos pelo Banco Central, a concessão de empréstimos ao
Tesouro Nacional, aos bancos comerciais, ou a qualquer instância de governo, a
diminuição dos depósitos do Tesouro Nacional etc.

Fatores de contração (os exemplos invertidos): diminuição das reservas internacionais


do país, a venda de títulos públicos, o recebimento de empréstimos concedidos ao
Tesouro, aos bancos, o aumento dos depósitos do Tesouro Nacional (em decorrência de
um superávit fiscal, por exemplo) etc.

Exemplos:

1) Entrada excessiva de dólares, por exemplo. Sem alterar a base monetária.


2) Entrada excessiva de dólares, por exemplo. Com alteração da base monetária.

3) Controle da inflação, por exemplo. Com alteração da base monetária.

4) Controle da inflação, por exemplo. Sem alterar a base monetária.

Em síntese,
i) um aumento do ativo não compensado por uma elevação do passivo não monetário
das autoridades monetárias ampliará a Base Monetária;
ii) uma queda do passivo não monetário não acompanhado por redução do ativo
também aumentará a Base Monetária.
 Instrumentos de controle monetário utilizados pelo BC

i) Reservas Compulsórias:
> afetam basicamente o tamanho do multiplicador dos meios de pagamentos
dos bancos comerciais.

ii) Política de Redesconto:


> a variável importante é a taxa de juros cobrada pelo BC em seus
empréstimos aos bancos comerciais.

iii) Operações de Open-Market:


> quando o banco tem o objetivo de contrair a Base Monetária, vende
parcela dos títulos públicos de sua carteira retirando moeda de circulação.
> se o objetivo for a expansão monetária, o Bacen compra títulos no
mercado, ampliando sua carteira e monetizando a economia.

Obs.: nota-se que quando o Tesouro Nacional (governo) incorre em déficit, isto não
necessariamente implica expansão monetária, caso o governo se financie por meio da
colocação de títulos junto ao público. A expansão monetária só ocorrerá caso o Bacen
adquira os títulos do Tesouro, monetizando o déficit público.

DEMANDA POR MOEDA

 Motivos para reter moedas

i) Motivo-Transação (↑ Y ↑ L, demanda por moeda):


A moeda é vista basicamente como meio de troca, para a realização das
trocas necessárias.
Considerando que as trocas dependem da quantidade de produto
(renda), temos que a demanda de moeda varia positivamente com o
nível de renda (relação direta).

ii) Motivo Portifólio (↑ r ↓ L, demanda por moeda):


Considera-se a moeda como um ativo financeiro, sendo uma forma
alternativa aos títulos e às aplicações financeiras para se guardar a riqueza.
A característica da moeda como um ativo financeiro é que ela não
rende juros, apenas possui liquidez absoluta. A taxa de juros pode ser
vista como o custo de oportunidade, o que se deixa de ganhar por
guardar moeda, em vez de aplicar em títulos, ou seja, é o preço que se
paga pela retenção de moeda. Assim, quanto maior a taxa de juros,
menor será o estímulo para manter saldos monetários (relação
inversa).

 Equação da demanda por moeda

Onde:
(M/P)d = a demanda por encaixes reais;
Sendo:
M = quantidade nominal de moeda;
P = nível geral de preços;
Y = nível de renda real; e
r = taxa real de juros.

 Equação quantitativa da moeda

Onde:
M = quantidade de moeda
V = velocidade de circulação da moeda
P = nível geral de preços
T = número de transações
Portanto, o estoque de moeda (M) vezes seu "giro" (velocidade de
circulação) (V) é igual ao valor total das transações (bens e serviços)
realizadas (PT).
 Equação quantitativa da moeda em termos de renda

Ou seja, podemos utilizar o produto PIB (renda) da economia, em vez do número de


transações (T) para expressar a mesma igualdade.

Pagamento em moeda = valor total de bens em serviço trocados numa


economia
Onde:
Y = produto real; e
V = velocidade renda da moeda (número de giros da moeda criando renda)

Agora, reorganizando os termos da equação para expressar a quantidade de moeda em


termos reais, bem como a versão TQM na versão Cambridge, temos:

Fazendo 1/v = k, sendo 0 ≤ k ≤ 1:


k é a moeda que se mantém em mãos (é a proporção de moeda que se mantém
guardada de determina renda, ou seja, é o inverso da velocidade que a moeda circula, ↑
k ↓ V). Ainda em outras palavras, é a moeda guardada entre o recebimento e o gasto.

Onde k é uma constante chamada de coeficiente marshalliano ou


coeficiente de Cambridge.
k, o coeficiente marshalliano, é estável no tempo, ele muda
apenas por hábitos e alterações institucionais, que acontecem
apenas raramente no tempo. Ex. Pix, tende a aumentar V e
diminuir k.
A equação quantitativa se transforma em uma teoria, quando são feitas hipóteses
sobre os fatores que afetam o comportamento das variáveis.
Assim sendo, supondo constante o valor de V e k, a equação
quantitativa fornece uma primeira explicação para a aparição da
inflação ao estabelecer uma relação entre quantidade de moeda (M) e
produto nominal (PY).

Moeda só impacta Preço (↑ M → ↑ P)

Isso porque o produto é constante no curto prazo (neutralidade


da moeda), quer pela economia se encontrar no pleno emprego,
quer pela demora na resposta da produção (oferta constante,
inelástica), teremos que a variação na quantidade de moeda
repercutirá basicamente sobre o nível de preços (inflação de
demanda).

Definindo inflação como um aumento generalizado e


contínuo no nível de preços, conclui-se, por esta
expressão, que ela decorre de um aumento contínuo na
oferta de moeda.

Exercícios:

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