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Notas (cap.

3 - Modelo Clássico – Lopes e Vasconcellos)

 Preâmbulo

A Contabilidade Nacional, conforme discutido anteriormente, permite a agregação e


mensuração das atividades econômicas, mas não explica quais variáveis as determinam.
Ela fornece uma série de identidades, isto é, igualdades válidas em quaisquer
circunstâncias, mas não diz qualquer coisa sobre a "relação de causalidade" entre elas,
isto é, como possivelmente se dá a determinação das variáveis. Apenas no momento em
que são introduzidas hipóteses comportamentais passamos das tautologias para a teoria.

Os modelos macroeconômicos que buscam explicar o funcionamento da economia em


seu agregado devem recorrer a uma série de suposições para que possamos deduzir
resultados sobre a realidade.

Principais Pressupostos:

a) Perfeita informação sobre os preços:

Todos os compradores e vendedores possuem perfeito conhecimento


das condições do mercado. Esse conhecimento não se refere somente
às condições correntes de produção, mas também às condições
futuras. Assim sendo, não existe incerteza sobre o comportamento
futuro dos mercados.

As firmas operam num cenário de concorrência perfeita. Há uma


quantidade infinita de produtores e de consumidores, de modo que não
existem barreiras à entrada ou à saída de empresas.

As empresas estão sujeitas à disciplina do mercado, isto é,


são tomadoras de preço. Não há poder de mercado por
parte das empresas.

b) Não há obstáculo aos ajustes dos salários:

Os salários se ajustam de acordo com os preços (tanto para cima e


como para baixo), de modo que há um equilíbrio no nível de pleno
emprego (ou seja, o desemprego é voluntário ou
friccional/passageiro). Quem garante o pleno emprego é a
flexibilidade dos salários.

Tese da neutralidade da moeda: oferta de moeda não influencia o


emprego e a produção apenas atua no aumento da demanda e elevação
dos preços (teoria quantitativa da moeda).

A demanda agregada não é um fator determinante do nível do


produto; é válida a chamada Lei de Say: "a oferta cria sua própria
demanda".
c) As firmas e os trabalhadores agem de forma ótima:

Os agentes são racionais, de modo que há a maximização do lucro e a


maximização do consumo.

d) O mercado se equilibra:

Dada as hipóteses anteriores, o equilíbrio de mercado é uma


consequência natural (visão de longo prazo).

“Mão invisível”.

 Oferta Agregada Clássica

A oferta agregada corresponde ao total de produto que as empresas estão dispostas a


oferecer em um determinado período, a um determinado padrão de preços. Ou seja, é o
somatório da oferta de todas as empresas individuais.

 Função de produção agregada

Para gerar produto as empresas se utilizam de capital (máquinas, equipamentos,


edifícios etc.) e trabalho, de acordo com uma dada tecnologia. Esta relação entre
quantidade produzida e a utilização de fatores de produção com uma dada tecnologia é
explicitada na função de produção:

Onde:
Y = produto;
K = estoque de capital utilizado;
N = quantidade de trabalho (horas-trabalho);
T = nível tecnológico.

Ou seja, considerando que não haja desperdícios, isto é, que as empresas


sejam eficientes, a função de produção mostra o máximo de produto que pode
ser obtido para uma dada combinação de capital e trabalho, com uma dada
tecnologia.

 Retornos constante de escala,

isto é:
No entanto, os aumentos marginais em apenas um dos fatores levará a
incrementes cada vez menores no produto. Ou seja, a produtividade
marginal de cada um dos fatores é decrescente.
O que é a produtividade marginal de um fator de produção? É o incremento da
produção decorrente do aumento de uma unidade do fator, tomando os demais como
fixos.

Vejamos:

Considerando o trabalho como único fator variável – i.e,, Y = F(N) –, temos duas
características destacadas:

(i) a produção aumenta conforme aumenta a utilização de trabalho; e

(ii) o incremento de produção decorrente da utilização adicional de trabalho


é cada vez menor. Ou seja, a produtividade marginal do trabalho é
positiva, mas decrescente (F(N) = PMgN).

Graficamente:

 Demanda de Trabalho (Quem demanda trabalho? São as firmas)

As firmas contratarão força de trabalho de acordo com o objetivo de maximização do


lucro. Assim, podemos deduzir a demanda de trabalho a partir deste comportamento
maximizador.

 O lucro das empresas:

Onde:
W = salário nominal por unidade de trabalho N;
R = custo por unidade de capital K;
P = preço do produto Y
Como o produto (Y) é função da utilização de trabalho, temos: Y = F(N)

 Maximizando a Função Lucro

Sendo o nível de k constante, o que determina o lucro é a quantidade de trabalho.


Assim, deriva-se o lucro com relação ao fator N.

Como estamos considerando um mercado em concorrência perfeita, as


empresas não decidem nem sobre o preço (P) que vendem seus produtos, o
qual para elas é dado, nem sobre o salário que pagarão ao trabalho. A
decisão da empresa restringe-se a quanto contratar de mão-de-obra (N)
e determinar quanto produzir, de modo a obter o lucro máximo, ou seja,
deve-se maximizar a função lucro em relação a N.

Onde FN é a derivada primeira de F(N).

Ou seja: a maximização de lucro pela empresa implica que ela contrate


trabalhadores até o ponto em que a produtividade marginal do
trabalho PMgN ou FN iguale o salário real W/P.

Para que a firma utilize mais trabalho, o salário real deve


diminuir acompanhando a redução da PMgN, ou seja, a
quantidade demandada de trabalho (N d) possui uma
relação inversa com o salário real.

,
Nd = f (w/p)
A demanda por trabalho (Nd) depende inversamente do valor do salário real. Assim,
mais ou menos trabalho vai depender do nível do salário real.

Graficamente:

Para a firma, é irrelevante qual seja o salário nominal. Se o salário nominal crescer, mas
o preço recebido pela empresa por seu produto crescer na mesma magnitude, o custo da
força de trabalho não será alterado, logo não modificará sua quantidade demandada de
trabalho.

 Oferta de Trabalho (quem oferta trabalho? Os trabalhadores)

A questão agora é determinar como a oferta de horas de trabalho pelos indivíduos é


afetada pelo salário real.

Devemos notar que, aceitando que os agentes não sofrem de ilusão monetária, a
decisão de quanto trabalhar não será afetada pelo salário nominal percebido, mas pelo
poder de compra recebido pelo trabalho (salário real).

A decisão de quanto trabalhar corresponde à escolha de como alocar as horas do dia


entre trabalho e lazer. Assim, a decisão de quanto trabalhar decorre da maximização de
uma função utilidade.

Alterações no salário real possuem dois efeitos sobre as decisões dos indivíduos, a
saber: efeito substituição e efeito renda.

Considerando um aumento do salário real, ocorreria o seguinte:

i) pelo lado do efeito substituição, o lazer está ficando relativamente mais


caro, portanto, diminui a procura por lazer e aumenta a oferta de trabalho;
ii) pelo lado do efeito renda, um aumento no salário real significa que os
indivíduos estão mais “ricos”; logo, demandarão mais produtos e mais lazer.

Por simplicidade, suponhamos que o efeito substituição se sobreponha ao efeito


renda, e que a curva de oferta de trabalho seja positivamente inclinada em relação
ao salário real.
Dentro do pensamento clássico, a curva de oferta de trabalho reflete a chamada
Desutilidade Marginal do Trabalho (a perda de utilidade decorrente de dedicar mais
horas ao trabalho e menos ao lazer), ou seja, mostra quanto deve ser o salário real para
induzir o indivíduo a abrir mão do lazer dedicando esse tempo ao trabalho.

chamando Ns de oferta de trabalho. Depende diretamente do salário real.

Graficamente:

Em suma, a oferta de trabalho é positivamente relacionada com o salário real,


enquanto a demanda é relacionada negativamente.

 Equilíbrio no mercado de trabalho no modelo clássico

Uma vez determinada a oferta e a demanda de trabalho, basta analisar o funcionamento


do mercado de trabalho com a junção de seus componentes, para determinarmos o nível
de emprego e o salário real.

Graficamente:
* E = nível de equilíbrio.

Exemplo: ↑ salário real

Assim, quando o salário real


estiver acima do nível de
equilíbrio, haverá excesso de
oferta de trabalho,
caracterizando uma situação de
desemprego. Com isso, a
concorrência entre
trabalhadores para obter
empregos levará à redução dos
salários, reduzindo a oferta e
ampliando a demanda, até que
as duas quantidades se igualem,
em um nível inferior de salário
real (W/P) E'

Exemplo: ↓ Salário real


Se o salário real estiver
abaixo do equilíbrio,
haverá excesso de
demanda por trabalho.
Com isso, a concorrência
entre as firmas para
conseguir trabalhadores
levará ao aumento do
salário real, ampliando a
oferta de trabalho e
diminuindo a demanda,
até que as duas
quantidades se igualem.

Em resumo. significa que sempre que houver excesso de oferta de trabalho, haverá
queda no salário real e, sempre que houver excesso de demanda, haverá aumentos do
salário real. Isso garantirá que o mercado atinja um nível de salário real no qual a oferta
de trabalho se iguale à demanda.

Enfim, não existe desemprego involuntário no modelo clássico, visto que a economia
opera a pleno emprego. Percebemos isso porque, sendo o salário nominal flexível, não
existe qualquer obstáculo para obtenção do equilíbrio de pleno emprego.

Portanto, o nível de produto é determinado pelo estoque de fatores de produção e pela


tecnologia, independente da demanda agregada.

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