Você está na página 1de 29

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

Departamento de Ciências Econômicas (DCEC)

A macroeconomia, mercado de
trabalho, inflação e curva de Phillips

Docente: Andreia Andrade dos Santos

Ilhéus, 2023.1
Taxa de desemprego x salário nominal
• Antes de entender melhor a Curva de Phillips original, é importante relembrar
as relações.
• Inicialmente, a relação direta utilizada foi entre desemprego e salário nominal.
• Taxas de desemprego altas, implicariam em salários nominais mais baixos.
• Entender como os salários são determinados, torna-se importante.
Taxa de desemprego agregado
Quando o desemprego é alto, a situação dos trabalhadores piora em dois
aspectos:
 Os trabalhadores empregados se defrontam com uma maior probabilidade de
que venham a perder o emprego.
 Os trabalhadores desempregados se defrontam com uma probabilidade mais
baixa de que encontrem emprego; ou seja, esperam permanecer
desempregados por um período mais longo
Em relação aos salários:
 Os trabalhadores se submetem a salários menores, caso as taxas de
desemprego estejam muito altas;
 Os empregadores podem preferir aumentar o salário dos funcionários, tendo
vista a baixa taxa de desemprego.
Determinação dos salários
• Os salários são fixados de várias maneiras: negociação coletiva, leis nacionais.
Dependendo do país, essa “influência” é maior ou menor.
• Embora as diferenças institucionais influenciem a determinação de salários, há
forças comuns em ação em todos os países. Dois conjuntos de fatos se
destacam:
 Os trabalhadores normalmente recebem um salário que excede seu
salário reserva (salário que poderia torná-los indiferentes entre
trabalhar ou permanecer desempregados). Ou seja, a maioria dos
trabalhadores recebe um salário suficientemente alto que os faz
preferir estar empregados a ficar desempregados.
 Os salários normalmente dependem das condições do mercado de
trabalho. Quanto menor a taxa de desemprego, maiores os salários.
Determinação dos salários
• Mesmo na falta de negociação coletiva, os funcionários têm algum poder de
negociação que podem usar para obter remuneração acima do salário reserva.
Isso depende de dois fatores:
• 1. Custo de substituição do trabalhador pela empresa;
• 2. Facilidade de encontrar outro emprego pelo trabalhador.

Quanto maior o custo da empresa para substituir o trabalhador (1)


e quanto mais fácil é para ele encontrar outro emprego (2),
maior poder de negociação o trabalhador terá.

• Além disso, as empresas podem, por vários motivos, desejar pagar


remunerações maiores do que o salário reserva: produtividade e redução da
rotatividade
• Salário- eficiência: Os economistas chamam as teorias que relacionam a
produtividade ou a eficiência dos trabalhadores com o salário que recebem de
Teorias do salário-eficiência.
Recapitulando!
As condições do mercado de trabalho afetarão o salário porque:
• Uma taxa de desemprego baixa torna a demissão voluntária mais atraente
para os funcionários de uma empresa. Nesse cenário, é fácil encontrar um
novo emprego.
• Quando o desemprego diminui, uma empresa que deseja evitar o aumento
das demissões voluntárias tem de aumentar os salários para induzir os
trabalhadores a permanecerem nela.

 Um desemprego baixo leva a salários mais altos. Simetricamente, um


desemprego mais alto leva a salários mais baixos.
Relação entre Salários, preços e desemprego
W = F(u, z)
(- , +)
O salário nominal agregado, W, depende de três fatores:
• = nível esperado de preços;
• u = taxa de desemprego;
• z = variável abrangente, que representa todas as outras variáveis que podem
afetar o resultado da fixação dos salários. Exemplos: seguro-desemprego (ao
tornar a perspectiva do desemprego menos angustiante, seguros-desemprego
mais generosos aumentam os salários a uma dada taxa de desemprego). Sem
seguro-desemprego, alguns trabalhadores teriam poucos recursos para
sobreviver e estariam dispostos a aceitar salários muito baixos para evitar
permanecer desempregados. Outra variável: multa por demissão sem justa causa,
etc
 Por convenção, definiremos z de modo que um aumento dessa variável implique
um aumento do salário (daí o sinal de mais sob z na equação).
Nível Geral de Preços
Por que o nível de preços afeta os salários?

• Tanto os trabalhadores quanto as empresas se preocupam com salários


reais, não nominais.
• Ou seja: Os trabalhadores não se preocupam com quantos reais recebem,
mas com quantos produtos podem comprar com esses reais.
• Os trabalhadores não estão preocupados com os salários nominais e sim
com os salários nominais (W) que recebem em relação ao preço dos bens
que compram (P). Eles se preocupam com W/P
• Do mesmo modo, as empresas não se preocupam com os salários
nominais que pagam, mas com os salários nominais (W) que pagam em
relação ao preço dos bens que elas vendem (P). Portanto, também se
preocupam com W/P
Nível Geral de Preços
W = F(u, z)

• Por que os salários dependem do nível esperado de preços, , em vez do nível de


preços efetivo, P? Porque os salários são fixados em termos nominais e, no momento
em que são fixados, ainda não se conhece o nível de preços relevante (depende da
regra dos países; 1, 2, 3 anos)
• Se os trabalhadores esperam que o nível de preços — o preço dos bens que compram
— vá dobrar, eles pedirão que o salário nominal dobre. Se as empresas esperam que
o nível de preços — o preço de bens que vendem — vá dobrar, elas estarão dispostas
a dobrar o salário nominal.
• Mesmo quando os salários são fixados pelas empresas ou pela negociação entre uma
empresa e cada um de seus trabalhadores, os salários nominais são normalmente
fixados por um ano. Se o nível de preços subir de modo inesperado durante o ano, os
salários nominais normalmente não serão reajustados imediatamente.
Taxa de Desemprego
W = F(u, z)
(- , +)
• A taxa de desemprego u afeta o salário agregado. O sinal de menos sob u
indica que um aumento da taxa de desemprego diminui os salários.
• Um desemprego mais alto enfraquece o poder de negociação dos
trabalhadores, forçando-os a aceitar salários mais baixos.
• Um desemprego mais alto permite que as empresas paguem salários mais
baixos e ainda mantenham trabalhadores dispostos a trabalhar.
Determinação de preços
• Os preços dos “produtos” fixados pelas empresas dependem dos custos desta
empresa.
• Inicialmente, como uma grande simplificação, se supõe que as empresas
produzam bens usando o trabalho como único fator de produção. Nesse caso,
podemos escrever a função de produção como:
• Y = NA
Y = Produto
N = nível de emprego (“número de trabalhadores em serviço”)
A = produtividade do trabalho (produto por trabalhador )
• Se as empresas dobram o número de trabalhadores que empregam, elas
dobram a quantidade produzida.

Maior nível de emprego, maior a produção, variando também com a


produtividade do trabalhador
Determinação de preços
• Deve ficar claro que essa é uma grande simplificação.

• Na verdade, as empresas usam outros fatores de produção além do trabalho,


como:
 capital — máquinas e fábricas,
 matérias-primas — petróleo, por exemplo.

• Além disso, há progresso tecnológico: a produtividade do trabalho, A, não é


constante, mas aumenta consistentemente ao longo do tempo.
Determinação de preços
Y = NA
Dada a hipótese de que a produtividade do trabalho, A, seja constante,
podemos fazer mais uma simplificação. Suponha que um trabalhador
produza uma unidade de produto — em outras palavras, de modo que A = 1.
Com essa hipótese, a função de produção passa a ser dada por:
Y=N
• A função de produção Y = N implica que o custo de produzir uma unidade
adicional de produto seja o custo de empregar um trabalhador adicional
ao salário W.
• Usando a terminologia da microeconomia: o custo marginal de produção
— o custo de produzir uma unidade adicional de produto — é igual a W
Determinação de preços
• Se houvesse concorrência perfeita no mercado de bens, o preço de produzir
mais uma unidade de produto seria igual ao custo marginal:
P =W
• Muitos mercados de bens não são competitivos (isto é, não apresentam
concorrência perfeita), e as empresas cobram um preço maior do que seu
custo marginal:
P = (1 + m)W
m = margem (markup) do preço sobre o custo.

• Se os mercados de bens apresentassem concorrência perfeita, m seria igual a


zero, e o preço, P, seria simplesmente igual ao custo, W (salário).
• Na medida em que esses mercados não sejam competitivos e que as
empresas tenham poder de mercado, m será positivo, e o preço, P, será mais
alto que o custo, W, por um fator igual a (1 + m)
Relação de fixação de salários
• Vamos considerar a hipótese de que os salários nominais dependam do
nível de preços efetivo, P.
• Sob essa hipótese, a fixação de salários e de preços determina a taxa de
desemprego de equilíbrio (também chamada natural)

W = P F(u, z)
Dividindo ambos os lados pelo nível de preços, temos:
= F (u, z)
(-, +)
• A determinação de salários implica uma relação negativa entre o salário
real, W/P, e a taxa de desemprego, u. Quanto maior a taxa de desemprego,
menor o salário real escolhido pelos fixadores de salários.
• A intuição é simples: quanto maior a taxa de desemprego, mais fraca a
posição dos trabalhadores na negociação e menor o salário real.
Relação de fixação de salários
• A relação entre o salário real e a taxa de desemprego é chamada de relação
de fixação de salários. Quanto maior a taxa de desemprego menor o salário;

 O termo “fixadores de salários” faz referência:


 aos sindicatos e às empresas se os salários forem determinados por
negociação coletiva;
 aos trabalhadores individuais e às empresas se os salários forem fixados
caso a caso; e
 às empresas se os salários forem fixados na base do “pegar ou largar”
Relação de fixação de preços
Não sendo concorrência perfeita:
P = (1 + m)W (1)

• Vamos examinar agora as implicações da determinação de preços


• A razão entre o nível de preços e o salário resultante do comportamento de
fixação de preços das empresas é igual a 1 mais a margem (m)

(invertendo...) (1) Um aumento da margem leva


as empresas a aumentarem
(2) seus preços, dado o salário
Salário Real que têm de pagar;
(2) de modo equivalente, um
aumento da margem leva a
uma diminuição do salário
real.
Relação de fixação de preços

O que expressa essa equação?


• As decisões de fixação de preços determinam o salário real pago pelas
empresas.
• Um aumento da margem leva as empresas a aumentarem seus preços, dado
o salário que têm de pagar; de modo equivalente, um aumento da margem
leva a uma diminuição do salário real.
Relação de fixação de preços
• Suponhamos que todas as empresas — inclusive aquela para a qual você
trabalha — aumentem sua margem. Todos os preços vão subir.
• Mesmo que você receba o mesmo salário nominal, seu salário real cai.
Portanto, quanto maior a margem fixada pelas empresas, menor seu salário
real (e o de todo mundo).
• A relação entre o salário real e a taxa de desemprego é chamada de relação
de fixação de salários. Quanto maior a taxa de desemprego menor o salário
Relação de fixação de salários e de preços

• O salário real é medido no eixo


vertical, e a taxa de desemprego no
eixo horizontal. A relação de
fixação de salários é mostrada pela
curva negativamente inclinada WS
• A relação de fixação de preços é
mostrada como a linha horizontal
PS (de fixação de preços, do inglês
price setting) no gráfico. O salário
real resultante da fixação de preços
é igual a 1/(1 + m); ele não
depende da taxa de desemprego

O equilíbrio do mercado de trabalho requer que o salário real escolhido na fixação


de salários seja igual ao salário real resultante da fixação de preços. PONTO A
Relação de fixação de preços e salários
• O Preço é fixado pela empresa
com base no salário real:

F (, z) =
• O Salário é fixado inversamente ao
crescimento da taxa de desemprego: F
(, z)
A taxa de desemprego de
equilíbrio, , é tal que o salário
real escolhido na fixação de
salários é igual ao salário real
resultante da fixação de preços.
Taxa natural de desemprego
• A taxa de desemprego de equilíbrio, , é chamada de taxa natural de
desemprego.
• Erroneamente, o termo natural sugere uma constante da natureza que
não seja afetada pelas instituições e pela política econômica.
• Fatores como a generosidade do seguro-desemprego ou a legislação
antitruste (que faz as empresas aumentarem seus preços) não podem ser
vistos como resultado da natureza.
• Pelo contrário, refletem várias características da estrutura da economia.
• Por essa razão, um nome melhor para a taxa de desemprego de
equilíbrio seria taxa estrutural de desemprego, mas até agora esse
nome não é utilizado de forma generalizada
Taxa natural de desemprego

• Na medida é permitido que as empresas formem cartéis mais facilmente


e aumentem seu poder de mercado, ele leva a um aumento de sua
margem — um aumento de m.
• Um aumento na margem das empresas reduz o salário real e provoca
um aumento na taxa natural de desemprego.
• Ao deixar que as empresas elevem seus preços, dado o salário, o
cumprimento menos rigoroso da legislação antitruste leva a uma
diminuição do salário real.
• Um nível de desemprego maior é necessário para fazer os funcionários
aceitarem esse salário real menor, levando a um aumento da taxa
natural de desemprego.
VERDADEIRO OU FALSO?

1. A taxa de desemprego é igual à razão entre o número de desempregados e a


força de trabalho.
2. Durante os períodos de alto desemprego, a probabilidade de perder um
emprego reduz e a probabilidade de encontrar um emprego aumenta.
3. Os salários dependem positivamente da taxa de desemprego e negativamente
do nível esperado de preços.
4. O motivo pelo qual os salários dependem do nível esperado de preços é que
eles são normalmente fixados em termos nominais por determinado período de
tempo. Nesse período, mesmo que o nível de preços se torne diferente do
esperado, os salários normalmente não serão reajustados.
5. Quanto maior a margem escolhida pelas empresas, mais alto o preço, dado o
salário, e, assim, menor o salário real resultante das decisões de fixação de
preços.
6. A taxa de desemprego sempre será igual à taxa natural.
Curva de Phillips
• Em 1958 Phillips publicou um trabalho que analisava um período de 1861 a
1957 no Reino unido, quando percebeu uma relação inversa entre
desemprego e inflação. Quanto maior a taxa de desemprego, menor a taxa
de inflação. Em outras palavras, haveria um dilema entre inflação e
desemprego.
• A veracidade desta relação implicaria que os países poderiam escolher entre
combinações diferentes de desemprego e inflação.
• Um país poderia ter um índice baixo de desemprego se estivesse disposto a
tolerar uma inflação mais alta, ou atingir a estabilidade do nível de preços —
inflação zero — se estivesse disposto a tolerar um desemprego mais alto.

• Muito da discussão sobre política macroeconômica tornou-se uma questão


acerca de qual ponto escolher na curva de Phillips.
Curva de Phillips
• Dois anos depois, Paul Samuelson e Robert Solow repetiram o exercício de
Phillips para os Estados Unidos, com dados de 1900 a 1960.

• Exceto pelo período de acentuado


desemprego na década de 1930,
também parecia haver uma relação
negativa entre inflação e desemprego.

• Samuelson e Solow batizaram de curva


de Phillips, que rapidamente se tornou
fundamental para o pensamento
macroeconômico e para a política
macroeconômica.
Atividade
Curva de Phillips e a relação entre desemprego e inflação
Atividade 1

1. Apresentar um período no Brasil ou outro país em que as conclusões da Curva de Phillips


original (trade-off entre inflação e desemprego) podem ser verificadas e explicar o que estava
ocorrendo no país que explicaria essas taxas de desemprego e inflação. Lembrar de mostrar
quais seriam essas taxas numericamente, em forma de gráfico ou tabela.
2. Apresentar um período no Brasil ou outro país em que as conclusões da Curva de Phillips
original (trade-off entre inflação e desemprego) não podem ser verificadas e explicar o que
estava ocorrendo no país que explicaria essas taxas de desemprego e inflação. Lembrar de
mostrar quais seriam essas taxas numericamente, em forma de gráfico ou tabela.

 
Referência da aula
Básica:

Cápítulo 7- Mercado de Trabalho


BLANCHARD, Olivier. Macroeconomia. São Paulo: Prentice Hall, 2004. 3ª ed.
 

Você também pode gostar