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Trabalho P2 - História do Pensamento Econômico.

Professor: Numa Mazat


Aluno: Alexander Henriques
DRE:116080849

Rio de janeiro, 04 de março de 2021


Introdução:
O presente trabalho tem como objetivo, apresentar de forma organizada as
principais diferenças entre a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica e a
teoria do valor e da distribuição na abordagem marginalista (neoclássica). Dessa forma,
para um melhor entendimento do assunto, o trabalho foi estruturado em três partes. Na
primeira delas, será explicado a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica,
como ela foi sendo construída a partir de ideias de diferentes autores e sua importância
para a determinação do excedente, diante do produto social e do nível de salários. Já na
segunda parte do texto, será abordada a teoria do valor e da distribuição na abordagem
marginalista (neoclássica), onde se buscará apresentar além da crítica a teoria clássica, as
principais características das ideias neoclássicas. Por fim, a última parte do trabalho
apresentara as principais diferenças entre as duas abordagens.

Parte I: Teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica


Inicialmente cabe ressaltar que a teoria do valor e da distribuição foi construída a
partir de conceitos criados por diferentes autores, no qual cada um deles além de
incrementar a teoria com novos argumentos, tentava de alguma forma também resolver
problemas não explicados. Assim sendo, embora os economistas clássicos não tenham
uma única teoria do valor e da distribuição, é possível observar características comuns
entre eles.
A teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica era caracterizada pela
ideia do valor-trabalho e seu foco centrava-se na determinação do excedente social. Neste
sentido, Smith, Ricardo e Marx, principais representantes dessa teoria, acreditavam que
os preços dos bens apresentavam uma ligação com os gastos de energia humana
provenientes da sua produção. Sendo assim, o trabalho seria o fator de produção
fundamental, além de ser o responsável pelo conflito das classes sociais, representadas
pelos trabalhadores, proprietários de terra e capitalistas
Por sua vez, excedente social podia ser entendido como sendo o resultado da
produção, que é inserido novamente no mercado.
Para os economistas clássicos é possível estabelecer uma distinção entre os
rendimentos de diferentes classes sociais, na medida em que a remuneração dos
assalariados representaria “gastos necessários” enquanto a remuneração dos proprietários
e/ou capitalistas “gastos não necessários”.
Nas palavras de GAREGNANI, P.; PETRI, F (1989.p. 22)
“O fato de que os meios de subsistência dos trabalhadores produtivos fossem
considerados como necessários para a reprodução estabelecia uma estreita
ligação entre a análise da origem e do montante do excedente e a análise da
distribuição do produto entre as classes. O excedente era o que tocava às classes
diferentes dos trabalhadores. Portanto, de seu montante dependia o montante dos
lucros dos capitalistas e das rendas dos proprietários fundiários.”
Destarte, segundo a teoria clássica o salário real é estabelecido antes dos lucros e
da renda da terra, isto é, o seu valor é colocado e conhecido quando se determina a
magnitude do excedente e a sua apropriação sob a forma de lucros e renda da terra.
Neste sentido, os autores clássicos além de terem em comum a ideia de um salário
estipulado pelo nível de subsistência, acreditavam que o salário era regulado por forças
econômicas e sociais que possibilitavam a sua designação anteriormente e
independentemente das outras quotas de produção.
Afirmam GAREGNANI, P.; PETRI, F (1989, p. 24)
“que as teorias do excedente apresentam, por assim dizer, um “núcleo” que está
separado do resto da análise pelo fato de que o salário, o produto social e as
condições técnicas de produção aí aparecem como já determinados. Neste
“núcleo” encontramos, como indicado na figura 6, a determinação das quotas
diferentes em relação aos salários como diferença entre um produto social
(líquido) dado e um “consumo necessário” dos trabalhadores igualmente dado.
Como se disse, tal determinação não apresentaria graves dificuldades se bastasse
efetuá-la em termos de quantidades físicas. Os problemas surgem na medida em
que, para determinar a taxa de lucro, tal determinação em termos físicos não
basta”.
Em que pese os economistas clássicos rejeitarem a utilidade (valor de uso) como
o fator determinante dos preços relativos (valor de troca), a busca por uma taxa de lucro
uniforme não possibilita que o valor de troca das mercadorias seja atribuído pela
quantidade de trabalho necessário para produzi-las. Assim, para Marx existe uma
redistribuição da mais-valia proveniente da diferença da proporção dos preços relativos e
da quantidade de trabalho utilizado para a produção. Essa redistribuição acontece entre
os mercados até que o capital empregado apresente uma proporção uniforme.

Parte II: A teoria do valor e da distribuição na abordagem marginalista


(neoclássica)
A teoria marginalista ou neoclássica, desenvolvida por Menger, Walras, Jevons e
outros, contesta a teoria do valor-trabalho dos clássicos, na medida em que essa última
excluía, indevidamente, a utilidade ou o valor de uso, como fator para determinar os
preços.
Sobre a teoria neoclássica, escreve HUNT, E.K. e LAUTZENHEISER (2013, p.
241), in verbis:
“(...) o utilitarismo serve de fundamento filosófico para a teoria neoclássica do
valor-utilidade e que essa teoria defende uma visão geral da harmonia de todos
os interesses. Essa tradição intelectual representa a defesa mais profunda e bem
elaborada do status quo do capitalismo de mercado ou de uma ideologia que o
apoie.”
Ademais, os escritos marginalistas foram distinguidos por um caráter
radicalmente subjetivo, oferecendo uma teoria do valor baseada na utilidade marginal.
Segundo BLAUG, (1993) o que essa teoria traz de novo está na vertente da definição do
valor dos bens a partir de um fator subjetivo, a utilidade, como a satisfação das
necessidades humanas.
Com efeito, a característica fundamental da teoria neoclássica está baseada na
crença de que “todos os tipos de renda são determinados de forma simultânea e simétrica
em termos das quantidades demandadas e ofertadas dos “fatores de produção”, quais
sejam: terra, trabalho e capital” (Kurz & Salvadori, 1995, p.428).
Diante disso, as relações sociais existentes entre os donos do meio de produção e
os trabalhadores precisariam ser esquecidas para produzir uma relação subjetiva referente
as mercadorias e o estados de consciência. Nesse sentido, as demandas individuais
provenientes dessas relações, teriam grandes impactos sobre o nível de preços. Desse
modo, ao considerar o fundamento de valor como um fato de consciência individual, as
relações sociais são esquecidas, pois esse princípio considera somente características do
indivíduo como sendo consumidor.

Parte III: Diferenças entre as abordagens clássicas e marginalistas (neoclássicas).


Importante enfatiza que independente da teoria do valor e da distribuição que se
adote, clássica ou marginalista, existe nelas princípios gerais de causa e efeito distintos,
para explicar a realidade econômica. Sendo assim, observa-se que o princípio inserto na
teoria do valor-trabalho difere radicalmente do contido na teoria da utilidade. Na teoria
clássica se parte das relações socioeconômicas entre os homens, enquanto a abordagem
marginalista considera as relações psicológicas entre indivíduos e produtos acabados.
Essas premissas diferentes influenciam a teoria da distribuição. Neste sentido, para a
abordagem marginalista é irrelevante a distinção entre a renda produzida pelo trabalho e
a renda gerada pela propriedade, na medida em que um sistema de livre concorrência
maximiza a satisfação de todos (MEEK, 1971)
Com essa visão, o capital é identificado como tempo de espera (poupança)
tornando-se produtivo e consequentemente cabendo ao capitalista sua renumeração, não
se vislumbrando assim, a exploração do trabalhador.
Na teoria clássica a determinação prévia do salário, isto é, antes da taxa de lucro,
é fundamental, fazendo parte integrante do sistema econômico de concorrência. Já para
os neoclássicos é o mecanismo da concorrência que estabelece o salário, dessa forma a
determinação anterior do salário impede o funcionamento natural da concorrência.
Outro ponto de distinção entre as duas abordagens está na origem dos lucros. Para
a teoria clássica os lucros têm origem na exploração do trabalhador, visto que em virtude
da sua dependência dos capitalistas para sobreviver, cabe aos trabalhadores menos
daquilo que é produzido. Já, na abordagem marginalistas, o lucro é o retorno da
contribuição do capital para a produção e riqueza da sociedade. Portanto, os “preços” de
todos os fatores são capazes de remunerá-los por esta sua contribuição. A teoria
neoclássica, portanto, busca unificar a explicação da remuneração dos fatores de
produção fundamentalmente nos conceitos de produtividade marginal e de equilíbrio de
mercado.
Consequentemente observa-se uma diferença com relação a natureza das forças
(sociais para os clássicos e naturais para os marginalistas), que regulam a distribuição de
renda.

Bibliografia

• GAREGNANI, P.; PETRI, F. “Marxismo e teoria econômica hoje”. In:


HOBSBAWN, Eric J. (org.) História do marxismo. Vol. 12: O marxismo hoje
(Segunda parte). Tradução: Luiz Sérgio N. Henriques e Carlos Nelson Coutinho.
Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1989, pp. 383-474)

• BHARADWAJ, K. (1985) Sraffa’s Return to Classical Theory: Change and


Equilibrium. Political Economy. Vol. 1, 2, pp. 3-32.

• KURZ, H.D. (2019) Classical Political Economy. Munich Social Science Review,
New Series, vol. 2.

• SERRANO, F. (2001) Equilíbrio Neoclássico de Mercado de Fatores: um ponto


de vista sraffiano. Ensaios FEE, V. 22.

• KURZ & SALVADORI, “A critique of economic theory”. Penguin, 1995, p.428,


in OREIRO. José Luis . A Teoria Neoclássica da Distribuição.

• HUNT, E. K. LAUTZENHEISER. “A história do pensamento econômico: uma


perspectiva critica”. 3 Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013

• LIMA, Luiz Antônio de Oliveira. “O conceito de capital e a teoria da distribuição


da renda”. In: Revista de Administração de Empresas. vol.14 no.2 São Paulo.
1974 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
75901974000200001#aulo Mar./Apr. 1974

• MEEK, R. (1967). Economia e ideologia. Edição Zahar, 1971

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