Este documento apresenta as principais diferenças entre a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica e na abordagem marginalista (neoclássica). A abordagem clássica se baseia no valor-trabalho e na determinação do excedente social, enquanto a abordagem neoclássica se baseia na utilidade marginal e vê todos os tipos de renda determinados simultaneamente pelas quantidades ofertadas e demandadas dos fatores de produção. As principais diferenças são que os clássicos veem as forças sociais como
Este documento apresenta as principais diferenças entre a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica e na abordagem marginalista (neoclássica). A abordagem clássica se baseia no valor-trabalho e na determinação do excedente social, enquanto a abordagem neoclássica se baseia na utilidade marginal e vê todos os tipos de renda determinados simultaneamente pelas quantidades ofertadas e demandadas dos fatores de produção. As principais diferenças são que os clássicos veem as forças sociais como
Este documento apresenta as principais diferenças entre a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica e na abordagem marginalista (neoclássica). A abordagem clássica se baseia no valor-trabalho e na determinação do excedente social, enquanto a abordagem neoclássica se baseia na utilidade marginal e vê todos os tipos de renda determinados simultaneamente pelas quantidades ofertadas e demandadas dos fatores de produção. As principais diferenças são que os clássicos veem as forças sociais como
Introdução: O presente trabalho tem como objetivo, apresentar de forma organizada as principais diferenças entre a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica e a teoria do valor e da distribuição na abordagem marginalista (neoclássica). Dessa forma, para um melhor entendimento do assunto, o trabalho foi estruturado em três partes. Na primeira delas, será explicado a teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica, como ela foi sendo construída a partir de ideias de diferentes autores e sua importância para a determinação do excedente, diante do produto social e do nível de salários. Já na segunda parte do texto, será abordada a teoria do valor e da distribuição na abordagem marginalista (neoclássica), onde se buscará apresentar além da crítica a teoria clássica, as principais características das ideias neoclássicas. Por fim, a última parte do trabalho apresentara as principais diferenças entre as duas abordagens.
Parte I: Teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica
Inicialmente cabe ressaltar que a teoria do valor e da distribuição foi construída a partir de conceitos criados por diferentes autores, no qual cada um deles além de incrementar a teoria com novos argumentos, tentava de alguma forma também resolver problemas não explicados. Assim sendo, embora os economistas clássicos não tenham uma única teoria do valor e da distribuição, é possível observar características comuns entre eles. A teoria do valor e da distribuição na abordagem clássica era caracterizada pela ideia do valor-trabalho e seu foco centrava-se na determinação do excedente social. Neste sentido, Smith, Ricardo e Marx, principais representantes dessa teoria, acreditavam que os preços dos bens apresentavam uma ligação com os gastos de energia humana provenientes da sua produção. Sendo assim, o trabalho seria o fator de produção fundamental, além de ser o responsável pelo conflito das classes sociais, representadas pelos trabalhadores, proprietários de terra e capitalistas Por sua vez, excedente social podia ser entendido como sendo o resultado da produção, que é inserido novamente no mercado. Para os economistas clássicos é possível estabelecer uma distinção entre os rendimentos de diferentes classes sociais, na medida em que a remuneração dos assalariados representaria “gastos necessários” enquanto a remuneração dos proprietários e/ou capitalistas “gastos não necessários”. Nas palavras de GAREGNANI, P.; PETRI, F (1989.p. 22) “O fato de que os meios de subsistência dos trabalhadores produtivos fossem considerados como necessários para a reprodução estabelecia uma estreita ligação entre a análise da origem e do montante do excedente e a análise da distribuição do produto entre as classes. O excedente era o que tocava às classes diferentes dos trabalhadores. Portanto, de seu montante dependia o montante dos lucros dos capitalistas e das rendas dos proprietários fundiários.” Destarte, segundo a teoria clássica o salário real é estabelecido antes dos lucros e da renda da terra, isto é, o seu valor é colocado e conhecido quando se determina a magnitude do excedente e a sua apropriação sob a forma de lucros e renda da terra. Neste sentido, os autores clássicos além de terem em comum a ideia de um salário estipulado pelo nível de subsistência, acreditavam que o salário era regulado por forças econômicas e sociais que possibilitavam a sua designação anteriormente e independentemente das outras quotas de produção. Afirmam GAREGNANI, P.; PETRI, F (1989, p. 24) “que as teorias do excedente apresentam, por assim dizer, um “núcleo” que está separado do resto da análise pelo fato de que o salário, o produto social e as condições técnicas de produção aí aparecem como já determinados. Neste “núcleo” encontramos, como indicado na figura 6, a determinação das quotas diferentes em relação aos salários como diferença entre um produto social (líquido) dado e um “consumo necessário” dos trabalhadores igualmente dado. Como se disse, tal determinação não apresentaria graves dificuldades se bastasse efetuá-la em termos de quantidades físicas. Os problemas surgem na medida em que, para determinar a taxa de lucro, tal determinação em termos físicos não basta”. Em que pese os economistas clássicos rejeitarem a utilidade (valor de uso) como o fator determinante dos preços relativos (valor de troca), a busca por uma taxa de lucro uniforme não possibilita que o valor de troca das mercadorias seja atribuído pela quantidade de trabalho necessário para produzi-las. Assim, para Marx existe uma redistribuição da mais-valia proveniente da diferença da proporção dos preços relativos e da quantidade de trabalho utilizado para a produção. Essa redistribuição acontece entre os mercados até que o capital empregado apresente uma proporção uniforme.
Parte II: A teoria do valor e da distribuição na abordagem marginalista
(neoclássica) A teoria marginalista ou neoclássica, desenvolvida por Menger, Walras, Jevons e outros, contesta a teoria do valor-trabalho dos clássicos, na medida em que essa última excluía, indevidamente, a utilidade ou o valor de uso, como fator para determinar os preços. Sobre a teoria neoclássica, escreve HUNT, E.K. e LAUTZENHEISER (2013, p. 241), in verbis: “(...) o utilitarismo serve de fundamento filosófico para a teoria neoclássica do valor-utilidade e que essa teoria defende uma visão geral da harmonia de todos os interesses. Essa tradição intelectual representa a defesa mais profunda e bem elaborada do status quo do capitalismo de mercado ou de uma ideologia que o apoie.” Ademais, os escritos marginalistas foram distinguidos por um caráter radicalmente subjetivo, oferecendo uma teoria do valor baseada na utilidade marginal. Segundo BLAUG, (1993) o que essa teoria traz de novo está na vertente da definição do valor dos bens a partir de um fator subjetivo, a utilidade, como a satisfação das necessidades humanas. Com efeito, a característica fundamental da teoria neoclássica está baseada na crença de que “todos os tipos de renda são determinados de forma simultânea e simétrica em termos das quantidades demandadas e ofertadas dos “fatores de produção”, quais sejam: terra, trabalho e capital” (Kurz & Salvadori, 1995, p.428). Diante disso, as relações sociais existentes entre os donos do meio de produção e os trabalhadores precisariam ser esquecidas para produzir uma relação subjetiva referente as mercadorias e o estados de consciência. Nesse sentido, as demandas individuais provenientes dessas relações, teriam grandes impactos sobre o nível de preços. Desse modo, ao considerar o fundamento de valor como um fato de consciência individual, as relações sociais são esquecidas, pois esse princípio considera somente características do indivíduo como sendo consumidor.
Parte III: Diferenças entre as abordagens clássicas e marginalistas (neoclássicas).
Importante enfatiza que independente da teoria do valor e da distribuição que se adote, clássica ou marginalista, existe nelas princípios gerais de causa e efeito distintos, para explicar a realidade econômica. Sendo assim, observa-se que o princípio inserto na teoria do valor-trabalho difere radicalmente do contido na teoria da utilidade. Na teoria clássica se parte das relações socioeconômicas entre os homens, enquanto a abordagem marginalista considera as relações psicológicas entre indivíduos e produtos acabados. Essas premissas diferentes influenciam a teoria da distribuição. Neste sentido, para a abordagem marginalista é irrelevante a distinção entre a renda produzida pelo trabalho e a renda gerada pela propriedade, na medida em que um sistema de livre concorrência maximiza a satisfação de todos (MEEK, 1971) Com essa visão, o capital é identificado como tempo de espera (poupança) tornando-se produtivo e consequentemente cabendo ao capitalista sua renumeração, não se vislumbrando assim, a exploração do trabalhador. Na teoria clássica a determinação prévia do salário, isto é, antes da taxa de lucro, é fundamental, fazendo parte integrante do sistema econômico de concorrência. Já para os neoclássicos é o mecanismo da concorrência que estabelece o salário, dessa forma a determinação anterior do salário impede o funcionamento natural da concorrência. Outro ponto de distinção entre as duas abordagens está na origem dos lucros. Para a teoria clássica os lucros têm origem na exploração do trabalhador, visto que em virtude da sua dependência dos capitalistas para sobreviver, cabe aos trabalhadores menos daquilo que é produzido. Já, na abordagem marginalistas, o lucro é o retorno da contribuição do capital para a produção e riqueza da sociedade. Portanto, os “preços” de todos os fatores são capazes de remunerá-los por esta sua contribuição. A teoria neoclássica, portanto, busca unificar a explicação da remuneração dos fatores de produção fundamentalmente nos conceitos de produtividade marginal e de equilíbrio de mercado. Consequentemente observa-se uma diferença com relação a natureza das forças (sociais para os clássicos e naturais para os marginalistas), que regulam a distribuição de renda.
Bibliografia
• GAREGNANI, P.; PETRI, F. “Marxismo e teoria econômica hoje”. In:
HOBSBAWN, Eric J. (org.) História do marxismo. Vol. 12: O marxismo hoje (Segunda parte). Tradução: Luiz Sérgio N. Henriques e Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1989, pp. 383-474)
• BHARADWAJ, K. (1985) Sraffa’s Return to Classical Theory: Change and
Equilibrium. Political Economy. Vol. 1, 2, pp. 3-32.
• KURZ, H.D. (2019) Classical Political Economy. Munich Social Science Review, New Series, vol. 2.
• SERRANO, F. (2001) Equilíbrio Neoclássico de Mercado de Fatores: um ponto
de vista sraffiano. Ensaios FEE, V. 22.
• KURZ & SALVADORI, “A critique of economic theory”. Penguin, 1995, p.428,
in OREIRO. José Luis . A Teoria Neoclássica da Distribuição.
• HUNT, E. K. LAUTZENHEISER. “A história do pensamento econômico: uma
perspectiva critica”. 3 Edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013
• LIMA, Luiz Antônio de Oliveira. “O conceito de capital e a teoria da distribuição
da renda”. In: Revista de Administração de Empresas. vol.14 no.2 São Paulo. 1974 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 75901974000200001#aulo Mar./Apr. 1974
• MEEK, R. (1967). Economia e ideologia. Edição Zahar, 1971