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Maurício Reinert
Introdução
O Mercado tem ocupado cada vez mais espaço na vida de todos. Este conceito
abstrato que está entre os fundamentos do mainstream do pensamento econômico
dos séculos XX e XXI torna-se concreto para as pessoas comuns nas relações de
troca do dia-a-dia e por intermédio das notícias na imprensa e dos comentaristas
econômicos, cada vez mais presentes e valorizados. Para os economistas do
mainstream o Mercado tem a capacidade de regular as transações por meio do
preço, sem que seja necessária uma regulação externa, seja do Estado seja de
qualquer outra instituição (SATZ, 2010). A crise de 2008 trouxe um desafio para
esse pressuposto, pois se o Mercado é capaz de se regular como foi possível
ocorrer uma crise dessa magnitude (DAVIS, 2009)? As críticas ao pensamento
econômico do mainstream não são novas, mas se acirraram com a situação atual.
Uma das criticas que tem se fortalecido é a de que a forma com que os
economistas encaram o mercado precisa ser repensada. A Filosofia Política, a
Ciência Política e a Sociologia, entre outras, tem apresentado alternativas a visão
econômica (ZELIZER, 2011; SATZ, 2010; MARTES, 2009; GRAÇA, 2009;
FLIGSTEIN, 2001).
O valor econômico, o quanto um indivíduo está disposto a pagar por um bem (bens
e serviços) não está descolado do seu valor social, o quanto às pessoas de um
grupo percebem algo como valioso (ASPERS; BECKERT, 2011). Em virtude disso,
para se compreender o valor econômico do conhecimento é preciso compreender
qual seu valor social, ou seja, qual o significado subjetivo que o conhecimento tem
para um determinado grupo social.
Adam Smith, no livro Riqueza das Nações (SMITH, 2008), já discutia questões
relacionadas ao valor e preço dos bens. Smith apresenta conceitos e faz distinções
que serão a base da Teoria Economia Moderna. Para ele é o trabalho que dá o
valor de todas as coisas, “o trabalho, portanto, é a medida real do valor de troca de
todas as mercadorias”(p.33). Faz-se necessário observar que ele não distingue
valor e preço, um seria traduzível no outro. Entretanto, mais adiante, ele faz uma
distinção é fundamental, qual seja, a diferença entre preço real e preço nominal dos
bens. O preço real é o seu valor em trabalho, já o preço nominal é o seu valor em
dinheiro. Frente a impossibilidade objetiva da medida do preço real das
mercadorias, o preço nominal é mais utilizado. Uma segunda distinção importante é
entre preço natural e preço de mercado dos bens. O preço natural é o quanto essa
mercadoria custa, ou seja, seu valor, já o preço de mercado é dado pela relação
entre oferta e demanda. É essa relação que continua a ser a base da Teoria
Econômica (VARIAN, 2000).
Aspers e Beckert (2011) propõem que para a compreensão do valor econômico dos
bens é preciso explicar ao mesmo tempo como ele é constituído socialmente e
como é resultado das relações de mercado, e que ele é inseparável do significado
que esse bem possui. Eles apresentam três distinções que são importantes para
essa compreensão. A primeira é a distinção entre valor de uso e valor de
investimento. O valor de uso refere-se a satisfação de uma necessidade a partir
das necessidade de um bem, já o valor de investimento refere-se a uma
expectativa de auferir retornos monetários a partir desse bem. A segunda distinção
é entre o valor individual e valor relacional. O primeiro refere-se à satisfação que o
comprador busca pra si ao adquirir um bem, já o relacional está associado ao outro,
seja na compra de um presente ou ao se comprar algo visando o status associado
a esse produto. Por fim, a distinção entre valor funcional e simbólico. O valor
funcional possibilita ao comprador utilizá-lo para a transformação da realidade
física. O valor simbólico vai além dos efeitos físicos. Em geral um bem possui
ambos os valores, todavia eles analiticamente independentes.
Referências
DAVIS, G. Managed by the Markets. New York: Oxford University Press, 2009.
HAUSMAN, D.M. Preference, Value, Choice and Welfare. New York: Cambridge
University Press, 2012.
HAYEK, F.A. The use of knowledge in society. The American Economic Review,
v.35, n.4, 1945.
SATZ, D. Why Some Things Should Not Be for Sale. New York: Oxford University
Press, 2010.