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RESUMO: A alocação dos recursos públicos é sempre uma decisão importante. Não
só por apontar a origem de receitas que são escassas, mas também por sinalizar os problemas
que se pretende enfrentar. Em boa medida, esse processo reflete as escolhas, em termos de
políticas públicas, que são feitas em nome de uma determinada sociedade, retratando sua
capacidade de entender e superar os desafios que se apresentam no trajeto de seu
desenvolvimento coletivo. Facilmente constatável, a bibliografia que trata do assunto é
vigorosa e impressiona por seu volume. Contudo, as abordagens usuais da análise
orçamentária focalizam o Estado como um ente meramente residual, auxiliar do mercado, ou
simplesmente um reflexo da dinâmica de forças sociais mais profundas. Por conseguinte,
acaba-se ofuscando as implicações que as decisões orçamentárias têm sobre a governança
democrática. Em face disso, ainda que de forma exploratória e incompleta, o presente texto
traz à tona um conjunto de enfoques que destaca, além de aspectos fiscais e econômicos,
também as dimensões organizacionais e políticas imbricadas no processo de alocação dos
recursos públicos. Com o auxílio de duas lentes conceituais alternativas (ator estritamente
racional e comportamento organizacional), examinam-se as opções epistemológicas e
metodológicas dos aportes teóricos da economia do bem-estar, da rational choice, do
incrementalismo, dos multiple streams, das coalizões de defesa e do equilíbrio pontuado. O
texto evidencia que divergências na assunção de premissas em cada enfoque provocam
distintas interpretações e conclusões sobre o fenômeno estudado, especialmente em relação à
quantidade, ao papel das preferências, à capacidade cognitiva e à lógica de processamento
subjacente à decisão dos atores envolvidos na orçamentação. Ao procurar reconhecer
caminhos de pesquisa mais proveitosos à compreensão do processo de alocação dos recursos
públicos, bem como instigar a reflexão sobre mecanismos de governança orçamentária,
observa-se que os enfoques dos multiple streams, das coalizões de defesa e do equilíbrio
pontuado apresentam maior potencial explicativo em comparação aos demais, na medida em
que admitem (mais realisticamente) a limitação cognitiva dos agentes (indivíduos e
organizações), a complexidade e a ambigüidade dos contextos e as múltiplas dimensões que
caracterizam as decisões de políticas públicas.
2 INTRODUÇÃO
A alocação dos recursos públicos é sempre uma decisão importante. Ela não só aponta
a origem e a aplicação de receitas que são escassas, como também define os instrumentos que
serão empregados para esse fim. Nesse sentido, as decisões alocativas sinalizam quais
problemas se pretende enfrentar, em que extensão isso será feito e como tais propósitos serão
alcançados. Em boa medida, elas refletem as escolhas, em termos de políticas públicas, que
são feitas em nome de uma determinada sociedade, retratando sua capacidade de entender e
superar os desafios que se apresentam no trajeto de seu desenvolvimento coletivo.
Assim, quando se considera o caso brasileiro, onde as condições sociais e econômicas
são sensíveis ao curso das ações governamentais, o assunto ‘decisões orçamentárias’i torna-se
ainda mais relevante. Em vista disso, o compromisso intelectual de tentar observar, refletir e
compreender como tais decisões se processam, nos seus variados aspectos e estágios, parece
algo realmente notável.
Além desta introdução, o presente texto divide-se em mais 5 seções. A seção 2 discute a
importância do uso de múltiplas lentes na análise de fenômenos complexos. As seções 3 e 4
apresentam as proposições teóricas de acordo com duas macro-perspectivas. A seção 5 busca
contrastar e situar os enfoques e modelos apresentados a partir de suas opções
epistemológicas e metodológicas. A seção 6 apresenta uma breve conclusão do trabalho.
7
Três elementos interferem nesse processo. Indicadores, por sua capacidade de sinalizar
a amplitude e a severidade de uma circunstância. Eventos relevantes e crises, pela propriedade
de reforçar uma percepção pré-existente e focalizar uma dimensão específica da questão; e,
feedback sobre uma política pública que está em curso, por sua capacidade de refletir a
percepção de principais (ouvidorias) ou por destacar aspectos sobre o desempenho dessas
políticas (sistemas de monitoramento e avaliação).
Já o policy stream, origina-se de uma ‘sopa primitiva de idéias/soluções’ que lutam por
aceitação dentro de redes de políticas. Nascidas geralmente no interior das comunidades
epistêmicas, as idéias são submetidas a diversos fóruns e sob diversas formas, com a
finalidade de difundi-las, sensibilizar aliados e angariar apoio para sua adoção. Enquanto
algumas se mantêm intactas, outras são combinadas em novas propostas, rejeitadas ou
simplesmente desconsideradas. Critérios de viabilidade técnica, razoabilidade de custos e
aceitação política importam nesse processo.
Por fim, o politics stream é um constructo de três elementos: ‘clima’ nacional; grupos
de interesse; e, alteração na estrutura governamental. O clima nacional é uma espécie de
bússola indicadora da opinião publica. Ele estimula os decisores a promoverem ações que vão
ao encontro das expectativas gerais. Já o posicionamento dos grupos de interesse na arena
política, sinaliza o grau de consenso em torno de uma proposta. A rejeição à emergência de
uma questão pode ser vista como um aumento no custo de sua adoção. Mudanças na
composição (ou no arranjo de competências do sistema de comando), por sua vez, dizem
respeito ao fato de que substituições de lideranças, chefias e outras posições estratégicas
propiciam mudanças nas políticas públicas.
Uma vez que os fluxos convirjam num determinado ponto do tempo, abre-se uma janela
que oportuniza aos empreendedores políticosx a introdução dos assuntos que eles desejam
promover na agenda governamental. Kingdon reconhece que esses movimentos dependem
primordialmente do politics stream e do problem stream, e adverte sobre o caráter transitório
das janelas, que ao se fecharem encerram a oportunidade de mudança. Por isso mesmo, a
atuação dos empreendedores políticos é essencial. São eles que investem tempo, energia e
outros recursos para ‘amarrar’ os fluxos e fazer com que uma idéia alcance a janela adequada
e oportunamente. Mais do que defensores de uma política pública em particular, esses atores
mediam forças e manejam habilmente as preferências e as tecnologias indeterminadas.
Dada a atenção escassa, é necessário algum mecanismo de priorização que limite a
quantidade de idéias. Zahariadis (2003) assinala que esse dilema é resolvido em função da
estrutura institucional e do tipo de janela de oportunidade. Uma vez que os problemas têm alta
complexidade, o sistema como um todo se reparte em inúmeros subsistemas especializados
(comunidades de políticas), os quais atuam como filtros primários na incubação de problemas
e soluções. Outro aspecto relevante nesse mecanismo é a seqüência na qual os fluxos
alcançam as janelas de oportunidade. No MS, as mudanças podem surgir também de soluções
(ideológicas), ligadas a problemas independentemente de conexões causais.
Visto que a busca/disponibilidade de soluções ocorre no interior de redes de políticas, o
design institucional que elas mantêm (nível de integração) é um atributo fundamental, pois
isso afeta o modo como as soluções são geradas, difundidas e debatidas. O tamanho, a
disposição à cooperação/ competição, a capacidade administrativa e a facilidade de acesso aos
fóruns que uma rede é capaz de sustentar interferem no sucesso/fracasso das idéias
desenvolvidas em seu interior (ZAHARIADIS, 2007).
Como bem sintetizou Zahariadis (2007), se a ambigüidade é um fato inescapável à vida
política, então o contexto onde os problemas são definidos e as ‘soluções’ são postas em
marcha pode ser apenas parcialmente compreendido.
8
5.3 Processo Cognitivo na Decisão de Políticas Públicas: as Coalizões de Defesa de
Sabatier & Jenkins-Smith
O enfoque das coalizões de defesa, ou Advocacy Coalitions Framework (ACF), foi
inicialmente proposto por Paul A. Sabatier, no final da década de 1980, consolidando-se com
a edição do livro Policy Change and Learning: an Advocacy Coalition Approach (1993;
1999).xi De lá para cá, o ACF recebeu aprimoramentos em sua estrutura, e mostra-se bastante
útil para examinar as mudanças nas políticas públicas, especialmente em relação ao papel dos
aspectos cognitivos nesse processo.
Dada a importância e complexidade das decisões de políticas, os diversos participantes
do processo buscam meios de anuir e influenciar na definição dos problemas, no debate
público, na escolha do curso de ação e na implementação em favor de suas posições.
Nos subsistema encontram-se uma ou mais coalizões de defesa – comunidades semi-
autônomas que se reúnem em torno de idéias e compartilham um conjunto de crenças – que
atuam de forma mais ou menos coordenada e relativamente estável no tempo. As coalizões de
defesa buscam traduzir suas crenças em políticas públicas e programas governamentais. Note-
se, no entanto, que participam dessas comunidades não apenas os membros do governo, mas
todos os muitos atores implicados em fazer de uma idéia uma política pública.
Assim, as escolhas de políticas públicas no ACF não derivam puramente da
racionalidade técnica ou da vontade do ator mais poderoso. Tampouco se processam no vácuo
do espaço e do tempo. Ao contrário, o jogo das políticas é intrincado, e com equilíbrios
múltiplos e instáveis, conforme o contexto e o momento. Há vieses e cargas valorativas
importantes na interpretação dos problemas, na definição de sua amplitude e na escolha dos
instrumentos ‘adequados’ ao seu enfrentamento. O modo como se definem as relações
causais, os cursos de ação e as metas pretendidas dependem da visão de mundo subjacente, ou
mais precisamente, de um sistema de crenças que é próprio a cada coalizão.
Sabatier & Weible (2007) esclarecem que o sistema de crenças no ACF possui três
níveis, hierarquicamente relacionados. No nível mais alto está o ‘núcleo profundo’ (deep core
beliefs), o qual se constitui de crenças ontológicas e normativas básicas. O nível intermediário
corresponde ao ‘núcleo da política’ (policy core), e representa os compromissos normativos e
as percepções causais básicas da coalizão. Esse nível de crenças funciona como o catalisador
das coalizões, aglutinando-as no interior do subsistema. Por fim, têm-se os ‘aspectos
secundários’ (secondary aspects), que compreendem um grande conjunto de crenças mais
estreitas – e que não abarcam todo o subsistema. De cima para baixo, essas categorias
estruturais impõem resistência às mudanças.
Sendo o sistema de crenças a heurística principal das coalizões, mudanças nas políticas
públicas dependerão de acomodações valorativas. Alterações profundas demandarão em
transformações substanciais no núcleo da política, enquanto os ajustamentos menores exigirão
apenas mudanças nos aspectos secundários.
Sabatier & Weible (2007) argumentam que essa dinâmica responde também ao tipo de
recurso disponível às coalizões. Sugerem uma tipologia baseada em seis categorias: (a)
autoridade formal/legal para a tomada de decisões; (b) suporte da opinião pública; (c) domínio
de informação relevante; (d) tropas prontas para mobilizações; (e) disponibilidade de recursos
financeiros; e, (f) habilidades de liderança.
Para explicar a mudança nas políticas públicas Sabatier & Weible (2007) fazem menção
a quatro caminhos (ou processos) típicos. O primeiro é de natureza endógena, e decorre de
uma atividade cognitiva: aprendizagem por meio da acumulação de conhecimento. O
segundo, diz respeito a choques provocados por perturbações externas, as quais afetam o
comportamento dos atores de um subsistema. Embora não se constituam em condição
suficiente, os choques externos representam reais oportunidades para as mudanças de grande
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escala. Outro caminho refere-se a choques internos, os quais provocariam uma reconfiguração
dos recursos de poder e/ou um reforço das crenças das coalizões minoritárias. A quarta via de
mudança diz respeito aos acordos negociados e se concretiza quando as coalizões rivais
superam um longo histórico de conflitos, unindo-se em torno de acordos substantivos. Na
ausência de perturbações externas e de choques internos, essas mudanças podem ser vistas
como produtos do processo de aprendizagem ou da resolução alternativa das disputas. Nesse
sentido, no ACF as decisões alocativas são entendidas tanto como uma função da competição
entre coalizões no interior de um subsistema quanto da influência de eventos externos.xii
5.4 Incrementalismo Interrompido: a Teoria da Atenção de Baumgartner & Jones
Numa analogia à teoria paleontológica evolucionista de Gould & Niles, Frank
Baumgartner & Bryan D. Jones utilizam a metáfora do equilíbrio pontuado (punctuated
equilibrium theory, 1993 – PET) para explicar por que os processos de políticas, tipicamente
marcados por gradualismo e estabilidade, ocasionalmente produzem mudanças em grande
escala (True, Jones & Baumgartner – T,J&B, 2007 p. 155).
Especialmente aplicável ao contexto decisório da orçamentação, as explicações que a
PET oferece são relevantes e abrangentes, pois alcançam tanto a regularidade dos ajustes
incrementais quanto as repentinas e drásticas mudanças (punctuations) que, de tempos em
tempos, afetam a programação das políticas públicas.
Seguindo a idéia de ‘processamento desproporcional das informações’ de Padgett
(1980),xiii a PET assinala que os elementos centrais para entender a alternância desses
movimentos são a geração e a difusão de temas/idéias (issues), a definição da agenda e a
estrutura institucional que está presente nas instâncias decisórias (venues).
True, Jones & Baumgartner (T,J&B, 2007) definem as venues em duas categorias
principais: subsistemas e macro-sistemas; as quais operam por meio de processos paralelos ou
seriais, respectivamente. Considerando a limitação cognitiva dos atores e a complexidade dos
problemas enfrentados, os subsistemas podem ser vistos como componentes de uma teia de
organizações (tais como repartições governamentais, comunidades epistêmicas, ONGs,
grupos de pressão e outras formas de associação coletiva) que abordam problemas de maneira
parcelada e especializada. Por conta de aspectos como ideologia, cultura organizacional e
rigidez de repertórios de soluções técnicas, os subsistemas tendem a reforçar positivamente as
políticas públicas já adotadas, freando mudanças e cortes orçamentários drásticos. Uma vez
que os subsistemas políticos compartilham interesses e têm significados de sucesso comuns,
eles lançam mão de ‘feedback negativo’ para desencorajar novas idéias e manter issues de
interesse em seus domínios, lutando sempre por arranjos institucionais que preservem seus
canais de atuação (monopólios de políticas). Por conseguinte, nesse espaço dos subsistemas o
padrão natural é a estabilidade por meio de ajustes marginais.
Já os macro-sistemas, representam as instâncias que tratam de questões macro-políticas.
Se uma issue ganha proeminência e é capturada por essa esfera, abre-se a oportunidade para
as mudanças rápidas e agudas (as quais se refletirão em pontuações no orçamento).
Nessa direção, T,J&B (2007) ressaltam que o enquadramento que se dá às questões de
políticas públicas é essencial à dinâmica das venues e, portanto, ao padrão das mudanças. Os
monopólios de políticas (que refreiam a escala das mudanças) dependem diretamente da
imagem que os subsistemas são capazes de gerar em apoio a seus interesses. No entanto, essa
imagem (entendida como forma de definir, difundir, discutir e compreender as questões que
envolvem as políticas públicas) tanto influencia quanto é influenciada pelos arranjos
institucionais que se interpõem nos espaços políticos. Assim, enquanto os defensores de uma
dada política pública buscam enquadrá-la a partir de seus aspectos mais positivos, grupos
rivais tendem a difundir imagens de desaprovação dessa mesma política, o que pode ser
determinante para a estabilidade das políticas.xiv Na medida em que não há um controle
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absoluto do impacto das imagens nos macro-sistemas, antigos monopólios de políticas
públicas podem entrar colapso, enquanto outros surgem à procura do espaço deixado.
Assim, o sucesso do fluxo das issues depende de uma dupla habilidade dos atores.
Importa a aptidão em manipular símbolos, retóricas e evidências com o fito de gerar as
imagens capazes de mobilizar a atenção dos macro-sistemas. E também a capacidade de
reconhecer e escalar as jurisdições (venue shopping) e os rosters apropriados à formação dos
consensos que as mudanças requerem. Se isso acontece, é sinal de que o processamento
paralelo do subsistema falhou (possivelmente porque não houvesse repertórios e
procedimentos operacionais prontos para lidar com um novo problema). O aumento da
atenção eleva a issue na direção do macro-sistema, onde o processamento passa ser serial, em
virtude da incerteza e da escala envolvidas na eventual mudança. Vale destacar que o PET
assume sobrecarga de informação e escassez de tempo e atenção. Tal como no ACF, as
imagens competem entre si, impelindo o governo a priorizar a atenção.
Em harmonia com a GCT, a PET não assegura que os problemas capturados na
instância macro-política se liguem a soluções estritamente racionais. A eventual adoção de
soluções logicamente conectadas aos problemas requer uma ação de empreendimento político.
Uma vez que o processamento das informações é ‘desproporcional’, a resposta dada aos
problemas governamentais não guarda, necessariamente, relação com a severidade dos sinais
(JONES & BAUMGARTNER, 2005). Assim, o governo tanto pode reagir exageradamente a
problemas fracamente sinalizados como se omitir diante de sinais contundentes.
B,J&T (2007, pp. 168-169) defendem que, embora a orçamentação seja mormente
incremental e estocástica, é possível desenvolver hipóteses seguras sobre a distribuição
estatística das mudanças de políticas. Pelo fato de o orçamento mudar marginalmente na
maior parte do tempo, com ajustes radicais apenas ocasionalmente, a curva que representa as
alterações orçamentárias no tempo/espaço assumirá uma forma leptocúrtica. Assim, a
distribuição univariada das decisões orçamentárias terá um pico central alto e delgado
(representando a absoluta recorrência de ajustes meramente marginais), ombros fracos
(indicando a baixa probabilidade de alterações moderadas) e caldas pronunciadas no limite
(retratando as pontuações episódicas). Em grande medida, o PET oferece uma explicação
original, sugerindo distribuição não-gaussiana nos ajustes, e choques episódicos decorrentes
tanto de fatores endógenos quanto exógenos.
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Quadro 1 – Contraste das proposições teóricas
Garbage-Can + Coalizões de Julgamento serial
Wefare economics Pub lic choice Incrementalismo
Multiple streams defesa + Equil. pontuado
Decisões
Decisões Decisões alocativas como
alocativas como alocativas como resultantes da
produto de Decisões resultantes do competição entre
compromissos alocativas como impacto das idéias fluxos
políticos prévios e resultantes do sobre o sistema informacionais
Decisões de repertórios empreendimento de crenças (que (temas/idéias) que
alocativas como organizacionais político e da estabelecem a tentam penetrar
Decisões uma escolha (procedimentos combinação de visão de mundo, num limitado
alocativas como estratégica dos operativos fluxos de inclusive quanto à espaço de agenda
uma escolha atores em posição padronizados). problemas, casuação dos (atenção do macro-
otimizante. de decidir. Governo Governo visto soluções e do problemas sistema). Governo
Unidade
Governo visto visto como um como uma contexto político, sociais). Governo visto como um
básica de
como um monolito conjunto de constelação de segundo uma visto como um aglomerado de
análise
que seleciona o agentes egoístas atores restringidos ordem temporal conjunto de subsistemas que
curso de ação que que selecionam as em suas (componentente subsistemas produzem e
maximiza o ações que capacidades de estocástico). (constituído por processam
objetivo nacional. maximizam seus processar Governo visto coalizões que informações
objetivos informações, de como uma rede de competem entre (desproporcionalm
pessoais. comparar interações si) que respondem ente) no intuito de
alternativas e de complexas a eventos controlar as
julgar marcadas por econômicos e imagem que
consequências de ambiguidade. sociais, bem como favorecem aos
todas as suas à aprendizagem respectivos
ações. política. monopólios de
políticas.
A adoção de um
curso de ação é
propiciada pela
Se um agente
abertura de uma O curso de ação
toma um curso de A adoção de um
janela de adotado traduz a
ação hoje, é curso de ação
oportunidade posição valorativa
porque esse está estabilizador(incre
(acaso) e pelo da coalizão
em harmonia com mental)/drástico(p
Se um agente empreendimento dominante ou um
a expectativa ontuações) deve-
toma um curso de político (coupling ). compromisso
histórica dos se a à imagem
Se o Estado toma ação em nome do Resulta de mútuo entre
demais atores e, que
um curso de ação, Estado, esse deve disputas e coalizões
especialmente, desviou/mobilizou
esse deve ser ser entendido barganhas no competidoras
porque a estrutura a atenção do
entendido como a como a decisão interior de redes (mediados por um
organizacional macro-sistema e
decisão que que maximiza a de políticas e da policy b roker ). O
existente já possui restringiu/promove
maximiza o utilidade do agente liderança do enigma do
Padrões as rotinas u a mudança de
objetivo de corrigir dada uma empreendedor. O pesquisador é
dominantes necessárias para agenda. O enigma
a falha de estrutura forma de enigma do solvido em grande
de inferência tratar a alternativa do pesquisador é
mercado. O regras. O enigma pesquisador é parte quando se
escolhida. O solvido em grande
enigma do do pesquisador é solvido compreendem as
enigma do parte quando se
pesquisador é solvido quando se parcialmente crenças políticas e
pesquisador é compreendem o
solvido quando se mapeia a estrutura devido à os recursos
solvido quando se contexto político,
encontra o institucional formal ambiguidade disponíveis em
considera as os arranjos
propósito da ação. e evidencia a estrutural. cada coalizão, a
decisões tomadas institucionais, a
preferência do Identificar a situação do
no ano anterior e identidade dos
decisor. cronologia dos contexto externo
se revela conjunto atores e o
fluxos, decifrar a (dinâmico) e os
de repertórios e processo de
identidade do parâmetros
procedimentos formação da
empreendedor e estáveis do
operacionais da atenção.
mapear o design sistema político.
organização.
da rede auxilia a
entender a
decisão.
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Garbage-Can + Coalizões de Julgamento serial
Wefare economics Pub lic choice Incrementalismo
Multiple streams defesa + Equil. pontuado
Racionalmente
limitado, satisficer
Racionalmente
Racional, Intencionalmente por meio de
Racionalmente Racionalmente limitado, satisficer
maximizador por racional, atenção seletiva,
limitado, satisficer limitado, satisficer , por meio do
meio de cálculo, otimizador por persegue o
por meio de persegue o sistema de
preferências bem meio de cálculo de interesse do
heurísticas interesse da crenças, persegue
comportadas, expectativas subsistema
Modelo de simples (T-1), comunidade de os interesses da
orientado ao (updater ), político a qual
indivíduo persegue de modo políticas públicas coalizão, dentro de
interesse coletivo orientado ao pertence, dentro de
amplo a segundo uma uma lógica de
do Estado, segue próprio interesse, uma lógica de
estabilidade das lógica de adequação à
uma lógica de segue uma lógica adequação aos
estruturas e o adequação ao estrutura valorativa
consequência nas de consequências processos
consenso político. contexto ambíguo. e às condições do
decisões. nas decisões. cognitivos e
contexto externo.
afetivos e ao
contexto externo.
Linear e Linearidade
parcialmente desconexa e
Não-linear e
previsível. As parcialmente
imprevisível. A
decisões seguem previsível. Existem
interação
Linear e previsível. Linear e previsível. linearmente a mecanismos
idiossincrática do
Linear e previsível. A dinâmica das Decisões se dinâmica do causais que
empreendedor
Segue um roteiro escolhas é pautam por um sistema de permitem estimar
político com a
Seqüência de lógico e causal prestabelecida por referencial crenças. A as respostas
natureza
progressão tanto nos passos uma regra de histórico (T-1) de amplitude das (feedb ack,
randômica dos
das decisões do processo otimização das modo que as mudanças está redefinição de
fluxos torna a
alocativas decisório quanto preferências, mudanças ancorada no nível imagem, escalada
seqüência das
nos estágios das dadas as seguem uma de crenças, mas de sub sistema ).
decisões
políticas. instituições seqüência unitária não se pode prevê- Todavia, essas
indeterminável.
formais. e prestabelecida. las precisamente respostas
Logo, a trajetória
por conta da contingentes não
das mudanças é
importância de conectam
imprevisível.
fatores de ordem linearmente as
exógena. mudanças.
A interação entre
as imagens e as
Preferência pela Perturbações
Coincidência instâncias políticas
estabilidade e externas, choques
Falhas políticas temporal dos três determina tanto a
limitação cognitiva internos,
(problemas de fluxos e estabilidade
Falhas de do agente e da aprendizagem
ação coletiva, empreendedorism quanto a mudança
mercado na estrutura geram orientada e
informação o político brusca das
alocação de gradualismo nas acordos
assimétrica, propiciam as políticas. As crises
Mecanismos recursos privados decisões. negociados são os
instituições mal decisões e as externas e as
e padrões de geram o espaço Saliência das caminhos típicos
desenhadas e etc.) mudanças trocas de partido
mudança para as decisões políticas e eventos para as
permitem que inesperadas. favorecem as
governamentais na sociais e mudanças. A
atores racionais (Eventualmente há pontuações. A
direção do bem- econômicos amplitude das
tomem decisões janelas de estrutura
estar coletivo. drásticos mudanças
contrárias ao oportunidade organizacional e a
ocasionalmente depende de qual o
interesse coletivo. periodicamente regulação
geram mudanças nível de crença
definidas). institucional
abruptas. afetado.
favorecem à
estabilidade.
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Em boa medida, esses elementos que servem ao contraste das proposições conectam-se
a quatro dimensões distintivas das modernas teorias da decisão, conforme sugere March
(1994, pp. 7-8): (1) autonomia ou interdependência dos atores implicados na decisão; (2)
decisão baseada em lógica de conseqüências (choice-based) ou de adequação (rule-based);
(3) preferências e alternativas estáveis, consistentes e claras ou instáveis, mal-comportadas e
ambíguas; e, (4) conhecimento permite atividade instrumental ou requer interpretação
dinâmica nas situações de decisão.
Organizadas em eixos radiais de duplo pólo, essas dimensões propiciam elaborar uma
ilustração das proposições analisadas segundo as premissas assumidas. A figura 1 explora
essa possibilidade e contrasta graficamente as proposições examinadas no quadro 1.
Ainda que de modo impreciso, a figura 1 exibe variações na assunção de premissas por
parte das proposições examinadas. Enquanto as visões estritamente racionais (WE e PCT)
ocupam majoritariamente a área direita dos pólos superiores, os enfoques da BR situam-se
mais à esquerda dos pólos inferiores do gráfico. Os casos limites de cada macro-perspectiva
são, possivelmente, a WE e o MS. Essa diferença de posicionamento reflete as divergências
de premissas quanto à lógica de decisão e à quantidade de atores implicados, ao conhecimento
e à visão de mundo (objetiva ou ambígua), à forma de processar informações, ao
comportamento das preferências e aos objetivos que orientam o processo de decisão alocativa.
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7 CONCLUSÃO
O presente texto resgata e contrasta proposições teóricas influentes no moderno debate
sobre alocação de recursos públicos. Com o auxílio de duas lentes conceituais, expõe as
implicações que as escolhas epistemológicas e metodológicas produzem na forma de abordar
e inferir de cada enfoque/modelo examinado.
O que se observa é que os enfoques MS, ACF e PET apresentam maior potencial
explicativo em comparação aos demais, sobretudo por assumirem mais realisticamente a
limitação cognitiva dos agentes (indivíduos e organizações), a complexidade e a ambigüidade
dos contextos e as múltiplas dimensões que caracterizam as decisões de políticas públicas. Ao
conjugarem idéias, instituições, redes de políticas, escolhas e processos sócio-econômicos
(John, 2003) o MS, o ACF e o PET disponibilizam categorias analíticas que oportunizam ao
pesquisador jogar alguma luz no interior da black-box das decisões alocativas. De modo
destacável, o governo é visto nesses enfoques como uma ordem social que transcende o papel
residual geralmente atribuído a ele pelas abordagens da economia neoclássica.
Embora a riqueza do fenômeno sócio-político não se esgote nas categorias de análise
desses enfoques, há imensas virtudes em sua adoção. Eles permitem capturar a essência do
processo alocativo porque combinam diferentes níveis de análise e conectam diversos avanços
empíricos e conceituais, clássicos e recentes (tais como teoria de redes, teoria dos prospectos,
aprendizagem organizacional, teoria da atenção, path-dependence e tantos outros). Acima de
tudo, eles permitem enxergar o indivíduo na presença das relações político-sociais que se
desenvolvem no tempo e no espaço.
Em face disso, ainda que de forma exploratória e incompleta, este artigo buscou trazer
à tona proposições teóricas que conjuguem também as dimensões organizacionais e políticas
implicadas nas decisões alocativas, reconhecendo sua importância no enfrentamento dos
problemas contemporâneos. Ao contrastar esses aportes, o texto procurou reconhecer os
caminhos de pesquisa mais proveitosos à compreensão do processo de alocação dos recursos
públicos, bem como instigar a reflexão sobre mecanismos de governança orçamentária.
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i
No âmbito deste texto, não se faz distinção formal entre os termos ‘decisões orçamentárias e decisões de políticas públicas’.
Assume-se que orçamentação pública e políticas públicas são dimensões de um mesmo objeto: decisões alocativas. Em que
pese o risco de imprecisão, utilizam-se esses intercambiavelmente, na medida em que ambos reflitam “o compromisso do
governo com um determinado objetivo.” Como ficará claro ao longo do artigo, a indagação latente mais importante é: ‘por
que as decisões alocativas promovem, ora a persistência, e ora a mudança drástica das políticas?’
ii
Conforme assinala Pidd (2003, p. 61), “a wicked problem is a complex issue that contains a high level of uncertainty and
disagreement.”
iii
Esse modo de abordar fenômenos complexos não é exatamente novo. Tal estratégia tornou-se popular especialmente a
partir do consagrado estudo que o Professor Graham T. Allison (The Essence of Decision, 1969) realizou sobre a crise dos
mísseis em Cuba. Allison mostrou que o uso de lentes conceituais concorrentes permite elucidar a posição e os interesses que
o pesquisador carrega implicitamente ao examinar seu objeto e interpretar as evidências que lhe são salientes. Nas palavras
do autor (1971, p. 253), “diferentes lentes conceituais levam os analistas a diferentes julgamentos sobre o que é relevante e
importante.” Mais recentemente, Sabatier (1999, 2007) propôs que esse ‘pluralismo metodológico’ auxilia a perceber as
vantagens comparativas de cada teoria em diferentes contextos, e evita a presunção de que há uma única teoria válida. No
âmbito deste artigo, as diversas teorias e enfoques podem ser agrupados em duas grandes lentes conceituais (racionalidade
17
econômica estrita / racionalidade limitada), as quais se orientam por um conjunto fundamental de premissas que é bastante
distinto.
iv
No sentido de que o indivíduo tem preferências completas, transitivas e atua em função delas. (Veja-se, por exemplo,
Tresch, 2002, pp. 34-35).
v
Conforme assinala Besley (2006), essas duas visões mais destacáveis têm exercido grande influência na definição dos
métodos de análise, dos procedimentos operacionais e do design das instituições orçamentárias.
vi
O comportamento real dos indivíduos seguidamente viola as hipóteses de raciocínio estritamente lógico, auto-interessado,
otimizante e instantaneamente ajustável aos incentivos (JONES, 1999), sobretudo quando se admite que subsistemas políticos
operm em contextos complexos, tipicamente não-estacionários, não-ergódigos, envolvidos por incertezas keynesianas e
marcados por equilíbrios múltiplos e/ou instáveis. Mais recentemente, psicólogos comportamentais encontraram suficientes
evidências de que os indivíduos enfrentam deficiências na formação de suas preferências, na geração e na comparação de
alternativas de ação. Estudos mostram que as pessoas seguidamente tomam decisões desinformadas e, raramente, apóiam-se
em ferramentas de análise estritamente racional. De fato, as preferências e as escolhas moldam-se também pelas emoções
(JONES, 2001).
vii
Conforme será visto adiante, o MS assenta-se no garbage can theory de Cohen, March, & Olsen (1972).
viii
O equilíbrio pontuado vale-se da teoria do julgamento serial de Padgett (1980).
ix
Essencialmente, a Garbage Can Theory (GCT) sugere que nas chamadas ‘anarquias organizadas’ (universidades, comitês
de orçamento e o próprio governo federal como um todo, por exemplo), ao invés de programadas ou previsíveis, as decisões
resultam da confluência casual de atores, problemas e soluções (MARCH, 1994). Entendidas na vertente intelectual da BR,
essas situações de decisão caracterizam-se particularmente por: preferências problemáticas, tecnologia indeterminada e
participação fluida. Dadas tais condições, procurar por alternativas que maximizem o benefício líquido de sua adoção torna-
se uma tarefa impossível. Em face disso, a GCT assume que a decisão é regida por uma lógica temporal e exógena (triagem
temporal). Seus elementos constituintes (atores, problemas e soluções) são vistos como fluxos independentes, caracterizados
em função: do momento no qual se manifestam; da quantidade de energia disponível/exigida (atores e problemas); dos
recursos oferecidos (soluções); e, do acesso às situações de decisão.
x
A competência pessoal (bem como outras características inerentes à figura do empreendedor político) torna-se fundamental
no resultado do empreendimento. Analogamente, organizações podem assumir esse papel.
xi
Em parceria com Hank Jenkins-Smith.
xii
São considerados exógenos ao subsistema (a) os parâmetros relativamente estáveis do sistema (atributos básicos do setor
em que opera o subsistema, distribuição básica dos recursos naturais, valores sócio-culturais e estrutura social e estrutura
constitucional); (b) eventos externos dinâmicos (transformação das condições sócio-econômicas, mudança na opinião
pública, mudanças na coalizão governamental e no impacto de outros subsistemas); (c) estruturas de oportunidade das
coalizões (grau de consenso necessário à mudança e abertura do processo político); e, (d) limitações de recursos dos atores.
xiii
Padgett (1980) examinou a alocação de recursos nos programas domésticos do governo federal norte-americano e propõe
que a decisão orçamentária segue uma lógica de busca seqüencial, dado um conjunto ordenado de alternativas discretas.
Embora também parta de um referencial histórico (tal como propuseram Wildavsky, 1964 e Davis et al., 1966), o modelo de
Padgett reconhece que a direção da busca por alternativas (aumentar ou reduzir dotações) é decidida conscientemente,
sofrendo a interferência de fatores tais como as limitações de ordem legal, técnica e fiscal, o papel institucional e a opinião
que cada ator tem diante da programação analisada. Nesse sentido, Padgett defende que a escolha alocativa tem natureza não-
determinística, já que decorre de uma busca serial que combina predisposição cognitiva e sensibilidade ao contexto
orçamentário. Assim, no ‘julgamento serial’.
xiv
Note-se que a imagem é formada tanto por aspectos de natureza emocional como puramente racional. Assim, tanto as
evidências científicas quanto os apelos ao sentimento servem para direcionar ou desviar a atenção dos macro-sistemas
(T,J&B, 2007).
18