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MERCADO DE

RENDA FIXA E
DERIVATIVOS
Mercado a termo
Daiane Lolatto

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar os principais ativos negociados em contratos a termo.


> Explicar o hedge no mercado a termo de dólar.
> Descrever o funcionamento do mercado a termo de ações.

Introdução
O mercado a termo consiste em uma das modalidades de negociação do mer-
cado de derivativos. Os principais contratos de ativos negociados no mercado
a termo são de dólar e de ações. Nesse mercado, os participantes assumem o
compromisso antecipado de compra e venda de determinadas quantidade e
qualidade de um ativo.
A liquidação integral da operação a termo somente ocorre na data de venci-
mento do contrato. O contrato realizado entre os agentes econômicos pode ser
realizado em Bolsa e no mercado de balcão. Quando realizado em Bolsa, é padro-
nizado; quando realizado no mercado de balcão, o contrato é não padronizado.
Neste capítulo, você vai estudar com detalhes como funciona o mercado a
termo e quais os principais ativos negociados nesse mercado. Além disso, vai
reconhecer como se dá a operacionalização da negociação a termo do dólar e,
ainda, vai entender como funciona o mercado a termo de ações.

Ativos no mercado a termo


O mercado a termo é uma das modalidades de negociação de derivativos.
Derivativos são aqueles que derivam de um ativo-objetivo. A operação a termo
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consiste em uma operação de compra e venda desses ativos, acordada na


data zero, para liquidação em uma data futura (FIGUEIREDO, 2019).
De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2015), o contrato
a termo pode envolver derivativos agropecuários, financeiros ou de energia
e climáticos. Os derivativos agropecuários compreendem commodities agrí-
colas como soja, milho e café. Os derivativos financeiros têm seu valor de
mercado fundamentado em alguma taxa ou índice financeiro, como a taxa de
juro. Os derivativos de energia e climáticos envolvem, por exemplo, a energia
elétrica e o petróleo.
Os contratos a termo de dólar e de ações são os principais contra-
tos a termo negociados no mercado brasileiro. Os contratos a termo de
dólar, também denominados forward ou non-deliverable forward (NDF)
no mercado, são muito utilizados por empresas que possuem dívidas
em dólar e por exportadores. O objetivo desses agentes econômicos é o
de se proteger das variações cambiais negociando contratos a termo de
dólar com as instituições financeiras. Em contrapartida, as negociações
de contratos a termo de ações são realizadas na Bolsa por meio das
corretoras (FIGUEIREDO, 2019).
Nesse sentido, os contratos a termo podem ser realizados de forma pa-
dronizada quando os ativos forem negociados na Bolsa, ou seja, em um
mercado organizado, e de forma não padronizada quando forem negociados
em balcão, ou seja, em um mercado não organizado.
Os contratos padronizados são uniformes e atendem às necessidades dos
participantes do mercado de forma geral. Em contrapartida, os contratos não
padronizados não possuem uma estrutura predefinida e atendem às partes
de forma particular.
As negociações no mercado organizado ou não organizado exigem a
apresentação de garantias. Normalmente, os bancos consideram as ope-
rações de dólar a termo no limite de crédito concedido às empresas como
garantia. Por outro lado, na Bolsa, as garantias podem ser concedidas na
forma de cobertura ou na forma de margem em títulos ou carta de fiança
(FIGUEIREDO, 2019).
A liquidação dos contratos a termo ocorre somente na data de vencimento.
Isso quer dizer que o comprador e o vendedor do termo levam o contrato até
o final do prazo contratado. O comprador a termo paga e espera receber o
bem e o vendedor entrega o bem e espera receber. Acompanhe, na Figura 1,
a seguir, a demonstração da operação a termo.
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Figura 1. Operação a termo.


Fonte: Adaptada de CVM (2015).

Considere que:

„ t0 é o momento atual em que é realizada a negociação a termo;


„ tn é a data do vencimento, data em que os participantes do negócio
estão obrigados a cumprir sua parte;
„ comprador é aquele que se obriga a pagar, em tn, o preço fixado no
presente, nas condições estabelecidas pelo contrato a termo;
„ vendedor é aquele que se obriga a entregar o bem no vencimento do
contrato, nas condições nele estabelecidas;
„ operação é o ato de negociações entre os participantes com a definição
dos itens do contrato, como a quantidade, qualidade, condições de
entrega e de liquidação. O preço da operação deriva da negociação
realizada entre compradores e vendedores.

Assim, podemos concluir que o bem não é transferido até a chegada da


data de entrega acertada entre os participantes do negócio. A liquidação
ocorre apenas no final do prazo do contrato.

Enquanto no mercado a termo a liquidação ocorre apenas no venci-


mento do contrato, no mercado futuro os compradores e vendedores
têm suas posições atualizadas diariamente.

O mercado a termo apresenta algumas desvantagens em relação aos outros


mercados, como baixa liquidez em razão de o negócio não poder ser transfe-
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rido para outros investidores no mercado de balcão; pouca transparência, por


ser um contrato firmado apenas entre as partes; e, ainda, o risco de crédito.
Antes de tratamos especificamente do mercado a termo do dólar e do
mercado a termo de ações, vamos ver uma operação a termo de ouro.

Suponha que um investidor tenha comprado na Bolsa de Valores 100


lingotes de ouro. Um lingote de ouro possui 250 gramas. O contrato
vence em 30 dias, e o preço determinado no contrato a termo foi de R$ 20,00/
grama. Sendo assim, o valor do contrato corresponde a R$ 500.000,00, ou seja,
100 lingotes vezes 250 gramas vezes R$ 20,00/grama.
O comprador a termo assume o compromisso de pagar no vencimento
R$ 500.000,00 ao vendedor, e o vendedor assume o compromisso de entregar
os 100 lingotes de ouro por R$ 500.000,00 no vencimento do contrato, indepen-
dentemente do preço do ouro no mercado naquela data.
Caso o ouro esteja cotado por um valor inferior a R$ 20,00/grama na data de
vencimento, o comprador terá pagado um valor maior do que o preço praticado
no mercado à vista e o vendedor terá um retorno maior decorrente dessa nego-
ciação. Caso a cotação do ouro esteja menor, ocorre o inverso; o comprador terá
pagado um valor menor que o preço praticado no mercado à vista e o vendedor
terá um retorno menor em razão do preço negociado.
É importante destacar que não há lucro ou prejuízo na operação, porque
o contrato foi realizado a fim de os participantes se protegerem contra as
oscilações de preço do mercado. Ainda, o preço fixado no contrato a termo
deve ser cumprido por ambas as partes.

Mercado a termo na Bolsa


Os contratos a termo negociados na Bolsa de Valores (B3) cumprem as mesmas
exigências de uma operação à vista, envolvendo a presença de intermediação
de uma sociedade corretora. Os negócios a termo realizados nos pregões da
Bolsa são informados nos terminais e podem ser objeto de um contrato a
termo (ASSAF NETO, 2021).
Os contratos a termo exigem depósitos de garantia dos investidores,
conforme determinado pela Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia
(CBLC). A CBLC é responsável por garantir, fiscalizar e controlar as operações
a termo realizadas na B3. A garantia pode ser realizada por meio de cobertura
ou margem (ASSAF NETO, 2021).
A garantia de cobertura consiste no depósito na CBLC realizado pelo
vendedor a termo a fim de garantir que sua obrigação futura será paga ao
comprador. Na garantia de margem, o investidor realiza um depósito de uma
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margem de garantia igual a diferença entre o preço a termo e o preço à vista.


Ainda existe a garantia de margem adicional, na qual há um reforço da garantia
toda vez que se verifica uma queda na cotação do ativo (ASSAF NETO, 2021).
De acordo com a B3, o depósito de garantias deve ser realizado em es-
pécie, podendo ser trocado pelo depósito de outros ativos, a depender da
câmara. Os ativos em espécie aceitos compreendem o dólar americano e a
moeda nacional. Os ativos passíveis de troca aceitos pela câmara são, por
exemplo, título público federal, ouro ativo financeiro e ação de companhia
aberta admitida à negociação na B3 (2022a).
Dessa forma, as partes ficam protegidas nas negociações realizadas a
termo. A proteção é o objetivo da existência desse mercado. Na sequência
vamos entender, especificamente, como funciona o mercado a termo de dólar.

Mercado a termo de dólar


Segundo Figueiredo (2019), as operações a termo de dólar no Brasil são
muito comuns. As empresas importadoras, as exportadoras, as que possuem
dívidas em dólar ou ativos em dólar normalmente procuram os bancos para
fixar antecipadamente a taxa de câmbio que vão pagar ou receber no futuro.
A liquidação ocorre, geralmente, por diferença.
Vamos acompanhar o exemplo a seguir de uma empresa que possui dívidas
em dólar com acerto por diferença.

Considere que a empresa Delta tenha uma dívida em dólar com o banco
Cifrão no valor de US$ 100.000,00 que vencerá daqui a quatro meses.
Considere, ainda, que a empresa Delta acerte com o banco Crescer a cotação de
R$ 4,30/US$ 1,00, na data zero, a compra de dólar a termo. Com isso, ela garante
que a dívida custará US$ 100.000,00 x R$ 4,30/US$ 1,00 = R$ 430.000,00, conforme
podemos observar o acerto financeiro por diferença no quadro a seguir.

Situação 1: R$ 4,50/ US$ 1,00

Pagamento da dívida (US$ 100.000,00 x R$ 4,50) = (R$ 450.000,00)

Recebimento na operação de dólar a termo = R$ 20.000,00

Compra de dólar a termo (US$ 100.000,00 x R$ 4,30) = R$ 430.000,00

(Continua)
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(Continuação)

Situação 2: R$ 4,15/ US$ 1,00

Pagamento da dívida (US$ 100.000,00 x R$ 4,15) = (R$ 415.000,00)

Pagamento na operação de dólar a termo = (R$ 15.000,00)

Compra de dólar a termo (US$ 100.000,00 x R$ 4,30) = R$ 430.000,00

A partir do momento em que a empresa Delta compra dólar do banco Crescer,


ela trava o valor que pagará no futuro ao banco Cifrão. Assim, a operação a
termo evitou que a empresa tivesse uma perda financeira frente a uma eventual
desvalorização do real.
Quando a empresa Delta compra dólar a termo para efetuar o pagamento da
dívida que está em dólar, ela está garantindo que a dívida custará R$ 430.000,00,
pois o contrato de compra de dólar a termo foi negociado a R$ 4,30/US$ 1,00. A
partir do momento em que ela compra dólar a termo, ela recebe os US$ 100.000,00
no vencimento e paga por essa compra R$ 430.000,00. Assim, ela efetua o pa-
gamento da dívida que, independentemente da cotação, será em dólar. Logo, o
acerto financeiro consiste na variação do dólar no momento da quitação da dívida.

O mesmo ocorre com as empresas importadoras e exportadoras que pro-


curam os bancos para fixar antecipadamente a taxa de câmbio que vão pagar
ou receber no futuro. Vamos ver uma operação a termo de dólar realizada
por uma empresa exportadora.

Suponha que a empresa exportadora brasileira Horizonte receberá


US$ 100.000,00 daqui a seis meses. Considere que essa empresa
acerte com o banco Crescer a cotação de R$ 4,40/US$ 1,00, na data zero, a venda
de dólar a termo. Com isso, ela garante, em qualquer situação, o recebimento de
US$ 100.000,00 x R$ 4,40/US$ 1,00 = R$ 440.000,00, conforme podemos observar
o acerto financeiro por diferença no quadro a seguir.

Situação 1: R$ 4,60/ US$ 1,00

Recebimento da exportação (US$ 100.000,00 x (R$ 460.000,00)


R$ 4,60) =

Recebimento na operação de dólar a termo = R$ 20.000,00

Venda de dólar a termo (US$ 100.000,00 x R$ 4,40) = R$ 440.000,00

(Continua)
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(Continuação)

Situação 2: R$ 4,25/ US$ 1,00

Recebimento da exportação (US$ 100.000,00 x (R$ 425.000,00)


R$ 4,25) =

Pagamento na operação de dólar a termo = (R$ 15.000,00)

Venda de dólar a termo (US$ 100.000,00 x R$ 4,40) = R$ 440.000,00

A partir do momento em que a empresa exportadora brasileira Horizonte


vende dólar ao banco Crescer, ela trava o valor que receberá no futuro. Logo, a
operação a termo evitou que a empresa tivesse uma perda financeira frente a
uma eventual valorização do real.

Na sequência, vamos entender como ocorre a determinação do preço do


dólar a termo no mercado de derivativos.

Determinação do preço do dólar a termo


O preço do dólar a termo não segue as expectativas do mercado; ele é formado
com base no preço do dólar à vista e na diferença entre as taxas de juros
interna e externa, denominado cupom cambial (FIGUEIREDO, 2019).
Para determinar o preço do dólar a termo, vamos considerar o exemplo
descrito por Figueiredo (2019) de um investidor realizando essa operação.
Considere que um investidor realize as seguintes operações:

„ empreste no mercado internacional US$ 1 à taxa i* (fixa);


„ realize a conversão de US$ 1 em R$ C0 (dólar à vista na data zero);
„ invista R$ C0 no mercado interno à taxa de juro interna i (fixa);
„ adquira o correspondente à sua dívida em dólar, US$ (1 ⫹ i*), no mercado
a termo de dólar a R$ F0.

Isso quer dizer que o investidor tinha uma dívida US$ (1 ⫹ i*) e, a fim de
se proteger, contrata uma desvalorização cambial — comprou R$ F0 X (1 + i*)
no mercado a termo de dólar. O F0 corresponde à cotação do dólar a termo
na abertura de posição. A compra a termo de dólar foi aplicada rendendo R$
C0 X (1 + i), na mesma data do vencimento do contrato a termo.
Assim, o resultado da operação no vencimento a termo corresponde a:

R$ C0 X (1 + i) - R$ F0 X (1 + i*)
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Dessa forma, como todos os parâmetros eram conhecidos antes da


realização da operação, significa que não há riscos na operação, ou seja,
R$ C0 X (1 + i) - R$ F0 X (1 + i*) > 0.
Ainda conforme Figueiredo (2019), para não haver arbitragem, temos:

Sendo assim, podemos concluir que, para não existir chances de arbi-
tragem em um mercado eficiente, “o preço do dólar a termo é função do
preço do dólar à vista e da relação entre as taxas de juros interna e externa”
(FIGUEIREDO, 2019, p. 8).
Resumindo, vamos supor que um investidor empreste no mercado inter-
nacional, para pagamento daqui 12 meses, US$ 1.000,00, o correspondente
a R$ 4.000,00 na data zero, considerando a taxa de juro fixa. Esse investidor
investe no mercado interno esses R$ 4.000,00 com rendimento fixo de 12% ao
ano. Para se proteger contra as oscilações da cotação do dólar, o investidor
adquire a termo US$ 1.000,00 com uma cotação fixada a R$ 4,20/US$ 1,00.
Dessa forma, o investidor terá obtido um rendimento no mercado interno
de R$ 480,00, ou seja, terá um montante de R$ 4.480,00 e deverá pagar pelo
contrato a termo de dólar R$ 4.200,00. Aplicando a fórmula:
R$ C0 X (1 + i) - R$ F0 X (1 + i*)
Temos, um resultado positivo de R$ 280,00 (R$ 4.480,00 – R$ 4.200,00). O
que significa que a o investimento é favorável e que não há riscos na operação,
pois o investidor conhecia as taxas de juros.

No estudo especial do Banco Central denominado “Spread no mer-


cado de câmbio” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2019), você poderá
verificar a evolução do spread (diferença entre o preço de compra e venda) no
mercado a termo de dólar.

Mercado a termo de ações


A negociação dos contratos a termo de ações ocorre em balcão, mas deve
ser registrada na Bolsa de Valores. Da mesma forma que um contrato a
termo comum, o contrato a termo de ações corresponde a um compromisso
de compra ou venda de uma determinada ação, a um preço pré-fixado, com
liquidação em uma data futura (MOLERO; MELLO, 2018).
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Segundo Figueiredo (2019), os contratos a termo de ações da B3 são ne-


gociados com bastante frequência. O preço das negociações equivale ao
preço à vista da ação mais uma taxa de juros para o vencimento da operação.
Mas quais são as características desse mercado? Na sequência, vamos
entender como funcionam vencimentos, garantias, entrega física, liquidação
antecipada, depósitos de garantias e a liquidez do mercado a termo de ações.
Os vencimentos dos contratos a termo de ações são fixados, geralmente,
em 30, 60 e 90 dias corridos. Os contratos podem ser realizados com outros
vencimentos, mas não é comum. Na teoria, a B3 define o limite de 16 dias
corridos no mínimo e de 999 dias corridos no máximo (MOLERO; MELLO, 2018;
B3, 2022b).
Os contratos a termo de ações, diferentemente de outras operações
a termo que acontecem no mercado de balcão, exigem uma garantia de
liquidação. Apesar de o termo de ação necessitar de depósitos de margem
de garantia, a liquidação da operação é garantida pela clearing house da B3
(MOLERO; MELLO, 2018). Clearing house, ou câmera de compensação, é um
sistema criado para facilitar a relação entre compradores e vendedores em
um mercado financeiro (CVM, 2015).
Outra característica importante do mercado a termo de ações é com
relação a entrega física. Nesse mercado há a exigência da entrega física do
ativo. O comprador a termo é obrigado a possuir os recursos necessários para
a compra das ações no vencimento do contrato. Em contrapartida, o vendedor
a termo é obrigado a ter as ações para a entrega na data de vencimento. A
liquidação por diferença não é uma prática comum nesse mercado, apesar
de a Bolsa permitir esse tipo de operação (MOLERO; MELLO, 2018).
De acordo com B3 (2022b), a liquidação no mercado a termo de ações pode
ser realizada no vencimento ou de forma antecipada. A liquidação antecipada
somente pode ser solicitada pelo comprador, com, no mínimo, três dias úteis
antes do vencimento. Essa é uma exclusividade do comprador, e não do ven-
dedor; o vendedor somente pode liquidar a operação na data do vencimento.
Essa característica é específica para o mercado a termo de ações, no qual
há a assimetria de direitos e obrigações entre as partes (MOLERO; MELLO,
2018). A liquidação antecipada de contrato a termo de ações, segundo Assaf
Neto (2021), é bastante rara.
O depósito de garantias é exigido nesse mercado. O investidor não tem a
obrigação de desembolsar recursos no momento inicial, mas deve depositar
uma margem de garantia inicial. Também poderão ser solicitadas margens
de garantia adicionais após o momento inicial sujeitas a variação do preço
do termo em relação à ação à vista e da oscilação do preço da ação que é
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calculada pela clearing da Bolsa (MOLERO; MELLO, 2018). De acordo com a B3


(2022a), os depósitos podem ser efetuados em espécie ou por meio de outros
ativos, a critério da câmara.
Os compradores de ações a termo têm o direito de receber os dividendos
e direitos distribuídos às ações do contrato a termo, em conjunto com as
ações, na data da liquidação (MOLERO; MELLO, 2018).
A baixa liquidez é uma das características do contrato a termo de ações.
Segundo Molero e Mello (2018), isso acontece porque quando uma ação a termo
fica em carteira por alguns dias, o seu prazo diverge dos 30, 60 ou 90 dias.
Nesse sentido, para a posição ser desfeita, é necessário o consentimento da
contraparte inicial, ou o comprador deve solicitar a antecipação da liquidação.
Essa baixa liquidez pode resultar em uma certa ineficiência no mercado a
termo, penalizando o investidor (MOLERO; MELLO, 2018).

Foi realizada uma operação a termo, na data zero, com 10.000 ações
da Forte ON com vencimento em 60 dias corridos. O preço à vista
da ação era R$ 40,00 e a taxa de juros do mercado para 60 dias corridos estava
sendo negociada por 12,4% ao ano, taxa composta para 360 dias corridos. Sendo
assim, qual foi o preço a termo negociado na data zero? Como determinar a
operação por liquidação financeira no vencimento para o comprador se Forte
ON à vista estivesse cotada a R$ 46,00?
Para determinar o preço a termo negociado na data zero, temos:
Preço a termo = R$ 40,00 X (1,124 (60/360)) = R$ 40,79
A liquidação financeira no vencimento para o comprador será:

Compra a termo = 10.000 ações x R$ 40,79 = (R$ 407.900,00)

Venda à vista = 10.000 ações x R$ 46,00 = R$ 460.000,00

Lucro = R$ 52.100,00

A compra a termo das ações compreende o preço da ação à vista mais a


taxa de juros, ou seja, representa o valor da ação no vencimento. No momento
da liquidação, a empresa recebeu as ações por R$ 40,79 e está vendendo no
mercado à vista por R$ 46,00. Assim, podemos concluir que a empresa teve
um ganho na operação, pois o preço de compra é inferior ao preço de venda.

Vantagens da negociação a termo de ações


Figueiredo (2019) destaca como vantagens na compra de ações a termo a
proteção de preços, a diversificação de riscos, a facilidade na obtenção de
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recursos e alavancagem de recursos. Já as vantagens na venda de ações a


termo incluem o ganho nas operações de financiamento e o aumento da
receita. Assaf Neto (2021) também relaciona essas vantagens na negociação
a termo de ações.
A proteção de preços está relacionada a uma expectativa de alta nos
preços das ações. O investidor compra ações a termo, fixando o preço, e se
beneficia da valorização dos preços das ações. Mesmo que o investidor não
tenha recursos suficientes para a aplicação, ele pode contar com a entrada
de recursos ao longo do prazo da operação a termo (ASSAF NETO, 2021; FI-
GUEIREDO, 2019).
O investidor pode diversificar o risco e consequentemente reduzi-lo, por
meio da compra de novas ações em operações a termo, desembolsando
apenas a margem de garantia. Nesse caso, em vez de o investidor concentrar
todos os seus recursos em um único papel, ele adquire uma diversidade de
papéis, pagando somente a margem de garantia. Então, quando ocorre uma
eventual perda com uma ação, as outras podem compensar com ganhos
(ASSAF NETO, 2021; FIGUEIREDO, 2019).
A geração de caixa é outra vantagem significativa nas operações a termo
de ações. A fim de gerar caixa, o investidor vende suas ações no mercado à
vista e as compra novamente em operações a termo. Assim, a empresa não
se desfaz de sua posição acionária e consegue captar recursos para outras
aplicações de curto prazo (ASSAF NETO, 2021; FIGUEIREDO, 2019).
O investidor também pode alavancar seu retorno financeiro com as opera-
ções a termo, porque consegue aplicar mais recursos nas operações a termo
do que nas operações à vista (ASSAF NETO, 2021; FIGUEIREDO, 2019).
Com relação às vantagens nas operações de venda a termo de ações, o
investidor consegue financiar suas operações comprando no mercado à vista
e vendendo no mercado a termo, gerando, assim, uma receita de juros com
a diferença entre os preços a termo e à vista. Ainda, o investidor pode obter
ganhos de juros decorrentes da venda a termo, pois os juros são adicionados
no preço à vista da ação (ASSAF NETO, 2021; FIGUEIREDO, 2019).
Sendo assim, apesar de ser um mercado com baixa liquidez e a liquidação
ocorrer apenas no vencimento, possui diversas vantagens. Para isso, os in-
vestidores devem conhecer com profundidade o negócio que estão operando.
A negociação a termo proporciona segurança aos participantes que buscam
fixar os preços na data zero para liquidação em data futura. A negociação
a termo de derivativos como um todo é interessante, apesar de ser mais
utilizada na negociação de dólar e de ações.
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Referências
ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2021.
B3. Garantias. São Paulo: B3, [2022a]. Disponível em: https://www.b3.com.br/pt_br/
produtos-e-servicos/compensacao-e-liquidacao/clearing/administracao-de-riscos/
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br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-variavel/termo-de-acoes.
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e%20arbitragem. Acessado em: 6 maio 2022.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Spread no mercado de câmbio. Brasília: Banco Central
do Brasil, 2019. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/conteudo/relatorioinflacao/
EstudosEspeciais/EE048_Spread_no_mercado_de_cambio.pdf. Acesso em: 6 maio 2022.
CVM. Mercado de derivativos no Brasil: conceitos, produtos e operações. Rio de Janeiro:
CVM, 2015.
FIGUEIREDO, A. C. Introdução aos derivativos. 4. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2019.
MOLERO, L.; MELLO, E. Derivativos: negociação e precificação. 2. ed. São Paulo: Saint
Paul, 2020.

Leituras recomendadas
GIAMBIAGI, F. (org). Derivativos e risco de mercado. São Paulo: Atlas, 2017.
SANTOS, J. C. S.; SILVA, M. E. Derivativos e renda fixa: teoria e aplicações ao mercado
brasileiro. São Paulo: Atlas, 2021.
VARANDA NETO, J. M.; SANTOS, J. C. S.; MELLO, E. M. O mercado de renda fixa no Brasil:
conceitos, precificação e risco. São Paulo: Saint Paul, 2019.

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