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COMÉRCIO EXTERIOR - GAE 132

NOTAS DE AULA – II 2022


UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO AO COMÉRCIO EXTERIOR

1.1 - Comércio Interno vs Comércio Externo

O comércio é atividade econômica que consiste em adquirir os bens dos


produtores e revendê-los aos compradores, visando o lucro. O comércio faz, por assim
dizer, uma espécie de distribuição física dos bens pelo território e pelas pessoas e
empresas, a partir das unidades de produção, que estão localizadas em poucos lugares,
até alcançar os consumidores, revendedores, investidores, que se localizam por todo o
país e pelo mundo.
A análise da atividade comercial revela que há várias formas de comércio. Entre
estas várias formas cabe destacar:

 Comércio Interno: efetuado dentro do território do país. Pode ser nacional, regional e
local.

 Comércio Externo: realizado com outros países. É o comércio de exportação, quando


vende para outros países; e de importação, quando adquire dos outros países.

A princípio, poderia se pensar que o comércio internacional nada mais seria do que
o prolongamento do comércio interno. De fato, tanto o comércio externo quanto o interno
apresentam várias semelhanças no que se refere a determinados aspectos:

 estão alicerçados nos desejos e nas necessidades humanas;

 têm como objetivo principal o atendimento dessas necessidades e desejos;

 ambos nascem da impossibilidade de uma região ou país produzir vantajosamente


todos os bens e serviços de que tenham necessidade os seus habitantes, devido a fatores
tais como: desigualdade na distribuição geográfica dos recursos naturais, diferenças de
clima e de solo e as diferentes técnicas de produção;

 ambos consistem na troca de determinados bens e serviços;

 ambos envolvem compradores e vendedores;

 benefícios mútuos para as partes;

 política de produção e de vendas;

 problemas de assistência técnica, creditícia, preferência de consumidores, faturamento,


detalhes de transporte, etc.

Todavia, não obstante a existência dessas semelhanças, possui o comércio


internacional pontos divergentes em relação ao comércio interno:
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 variações no grau de mobilidade dos fatores de produção: a mobilidade de fatores
ocorre em maior grau no campo interno do que no internacional:

- trabalho: menor mobilidade no comércio exterior devido a: especialização profissional,


associações, laços de família, costumes, idiomas, legislação imigratória restritiva
(dificuldade na entrada de trabalhadores de outras nacionalidades).

- matéria-prima e outros produtos: sujeita a restrições de diversas naturezas.

- capitais financeiros: movimentação poderá ser dificultada ou proibida. Maiores riscos


quando se transferem para outros países (expropriações, confiscos, etc).

 natureza do mercado: no mercado interno predominam os fatores de COESÃO,


enquanto no mercado internacional a predominância é de fatores de DISPERSÃO.
O mercado interno apresenta unidade de idioma, costumes, gostos, hábitos de
comércio, sistemas de pesos e medidas, etc. Essa unidade tende a padronizar hábitos de
consumo e os bens produzidos. No mercado internacional as diferenças existentes com
relação aos aspectos apontados tornam problemática essa padronização.

 existência de barreiras aduaneiras e outras restrições: dificultam a movimentação de


produtos e a cobrança de direitos aduaneiros acarreta maiores dificuldades para as
empresas que se dedicam ao comércio exterior refletido nos preços dos seus produtos e
nas possibilidades de sua colocação junto aos consumidores de outros países.

 longas distâncias: de modo geral, as distâncias percorridas pelos produtos no campo


internacional são muito maiores. Representa despesas mais elevadas com fretes, além do
tempo gasto no transporte e sua influência sobre as condições físicas do produto
(embalagens, transportes especiais, etc.).

 variações de ordem monetária: no mercado internacional fica difícil impor a um


exportador que aceite como pagamento outra moeda que não seja a do seu país. Surge,
assim, o câmbio.

 variações de ordem legal: grandes diferenças entre sistemas legais, implicando


diversidade de critérios no arbitramento das pendências que porventura ocorram. (Ainda
que o direito tenda a se universalizar, essas distinções persistem).

1.2 - Conceitos Básicos

a) Mercado Cambial

Como visto uma das principais diferenças entre o comércio nacional e o internacional
deve-se a que, dentro de um país, o intercâmbio realiza-se com a mesma moeda,
enquanto que no comércio internacional cada país tem sua própria moeda. A
heterogeneidade de moedas dos diferentes países torna mais complexa as relações
econômicas internacionais, pois surge o problema da troca entre eles.
Um sistema desenvolvido de comércio internacional somente pode funcionar se existe
um mercado onde uma moeda pode ser trocada por outra. Esse é o papel atribuído ao
mercado de divisas ou mercado cambial.
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 Os mercados de divisas são os mercados nos quais se compram e vendem as moedas
dos diferentes países.

Nesse mercado faz-se a troca de moeda nacional pelas moedas dos países com os
quais se mantêm relações econômicas, originando um conjunto de ofertas e demandas de
moeda nacional em troca de moedas estrangeiras.
O mercado de câmbio tem as seguintes finalidades:

 viabilizar pagamentos e recebimentos entre dois ou mais países;

 atender necessidades de pessoas físicas (viagens internacionais).

Basicamente, há cinco tipos de transação em um mercado de câmbio:

 entre instituições autorizadas e clientes;

 entre instituições em um mesmo país;

 entre instituições de diferentes países;

 entre bancos e o banco central do país;

 entre bancos centrais de diferentes países.

a.1) Estrutura do Mercado Cambial

O mercado cambial compreende, além dos exportadores e importadores, também


bolsas de valores, bancos, corretoras e outros elementos que, por qualquer motivo,
tenham transações com o exterior. Eventualmente, poderá abranger as chamadas
autoridades monetárias (Tesouro e Bancos Centrais).

CORRETOR CORRETOR

VENDEDORES COMPRADORES

 Sem considerar a possível participação do Banco Central.


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 Grupo Vendedor: exportadores, investidores, tomadores de empréstimo no exterior,
vendedores de serviços, turistas.

 Grupo Comprador: importadores, investidores, devedores de empréstimos,


compradores de serviços, compradores de títulos no estrangeiro, turistas.

 Bancos: intermediários entre os dois grupos (intervenção bancária é


OBRIGATÓRIA).

 Operadores de câmbio: funcionários altamente especializados


utilizados pelos bancos para comprar e vender moeda estrangeira.

 Corretores de câmbio: intermediários entre os bancos e as partes


interessadas, os operadores cambiais não efetuam as transações diretamente com os
clientes, mas utilizam esses corretores. Utilização NÃO OBRIGATÓRIA no Brasil
(facultativa).

a.2) Subdivisões do Mercado Cambial

 Mercado de Câmbio Sacado: entrega da moeda estrangeira se dá mediante


débito/crédito à conta da instituição autorizada a operar no mercado de câmbio.

 Mercado de Câmbio Manual: entrega direta da moeda estrangeira ao comprador no ato


da negociação (numerário em espécie, cheques ou cheques de viagem).

 Mercado Primário: é onde se realizam as negociações entre as instituições autorizadas


e os clientes.

 há entrada e saída efetiva de moeda estrangeira no e do país;

 impacto no balanço de pagamentos.

 Mercado interbancário (secundário): é o mercado onde se realizam as negociações


entre duas instituições autorizadas e também entre uma instituição legalizada e o BACEN.

 não há entrada e saída efetiva de moeda estrangeira no e do país;

 não há impacto no balanço de pagamentos.

 Mercado de Câmbio à Vista: neste mercado são efetuadas as operações “prontas” de


câmbio (spot exchange). Compra e venda de divisas para entrega imediata.

 Mercado de Câmbio Futuro: compra ou venda de divisas estrangeiras – a uma taxa


cambial determinada por ocasião da contratação – e que serão entregues em data futura.
São realizadas por exportadores, importadores, investidores em moeda estrangeira, etc,
os quais procuram evitar riscos de flutuações nas taxas cambiais.
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 Mercado Paralelo de Câmbio: compreende todas as operações conduzidas por meio de
pessoas físicas ou jurídicas não autorizadas a operar o mercado de câmbio. São
operações ilegítimas.

Trata-se de mercado ilegal, à margem da legislação e regulamentação vigentes,


sujeitando seus participantes às sanções cabíveis.

a.3) Taxas de câmbio

 É o preço de uma moeda expressa em outra. No Brasil, a taxa de câmbio expressa-se


como o número de unidades de moeda nacional por unidade de moeda estrangeira.

Quando o preço em reais de uma unidade de moeda estrangeira sobe, por


exemplo, a taxa de câmbio passa de R$ 4,50/dólar para R$ 4,62/dólar, dizemos que o real
desvalorizou-se. Pelo contrário, quando a taxa abaixa, dizemos que o real valorizou-se.
Uma desvalorização da moeda nacional faz com que nossos bens sejam mais
baratos no exterior, e com que os bens estrangeiros fiquem mais caros no mercado
nacional. Portanto, cria-se uma tendência para elevar as exportações e para reduzir as
importações.

a.4) Tipos de Taxas de Câmbio

Taxa de Câmbio Flexíveis ou Livremente Flutuantes

 Num mercado livre, a taxa de câmbio será determinada pelas forças da oferta e da
demanda. Nessas circunstâncias, diz-se que a taxa de câmbio é flexível ou flutuante.

 Exemplo: Mercado de Divisas (Reais/Dólar)

Tipo de
Câmbio
(Real/Dólar) D$ S$ (Oferta de divisas)
Superávit
1,20

1,00 E (Taxa de câmbio de equilíbrio)

0,80 D$ (Demanda de divisas)


Déficit
$
S
Dólares

 Eixo das ordenadas: medimos a taxa de câmbio, isto é, o preço em reais de um dólar.
 Eixo das abcissas: mede-se a quantidade de divisas. É o valor total em dólares das
entradas das exportações e dos investimentos estrangeiros no Brasil.
 A curva S$ reflete a oferta de divisas, a curva D$ mostra a demanda brasileira de divisas.
À taxa de câmbio de R$ 1,00/dólar, o mercado está em equilíbrio. Quando o real se
desvaloriza, passando a valer R$ 1,20/dólar haverá superávit de divisas; e se o real
valoriza-se para R$ 0,80/dólar, surgirá um déficit de divisas.
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Quem demanda e quem oferta divisas?
$ $
Demanda de Divisas (D ) Oferta de Divisas (O )
Importações Brasileiras (bens e serviços) Exportações Brasileiras (bens e serviços)

Investimentos brasileiros no exterior Investimentos estrangeiros no Brasil

Empréstimos de bancos brasileiros a Empréstimos de bancos estrangeiros a


residentes no exterior residentes brasileiros

Turistas nacionais Turistas estrangeiros

Quais fatores influenciam a demanda e a oferta de divisas?

 fatores domésticos: reservas cambiais, balanço de pagamentos, inflação entre outros


(situação fiscal, problemas políticos de sucessão, dificuldades de aprovação de reformas).

 fatores externos: taxa de juros internacionais, inflação externa, ...

Taxa de Câmbio Fixa

 São aquelas mantidas invariáveis em um determinado nível, seja por determinação


governamental (congelamento da taxa), seja por operações de compra e venda de divisas
por parte das autoridades governamentais sempre que as cotações de mercado se
desviarem das taxas determinadas pelo governo.

Câmbio Fixo Câmbio Flutuante

 BC fixa a taxa de câmbio  O mercado determina a taxa de


câmbio
Características  BC é obrigado a disponibilizar
reservas cambiais  BC não é obrigado a
disponibilizar reservas cambiais

 Maior controle da inflação (custo  Política monetária mais


das importações) independente do câmbio
Vantagens
 Reservas cambiais mais
protegidas de ataques
especulativos

 Reservas cambiais vulneráveis a  A tx de câmbio fica muito


ataques especulativos dependente da volatilidade do
mercado financeiro nacional e
Desvantagens  A política monetária (taxa de juros) internacional
fica dependente do volume de
reservas cambiais  Maior dificuldade de controle
das pressões inflacionárias,
devido às desvalorizações
cambiais
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Taxa de compra (Bid rate)

 É a cotação que o operador de câmbio dos bancos autorizados utiliza para as


operações de compra de uma determinada moeda.

Ex.: US$ 1,00 – RS$ 4,7305/RS$4,7400  Cotação de compra: RS$ 4,7305

Taxa de venda (Offer rate)

É a cotação utilizada pelos operadores de câmbio dos bancos autorizados utiliza


para as operações de venda de uma determinada moeda estrangeira.

Ex.: US$ 1,00 – RS$ 4,7305/RS$4,7400  Cotação de venda: RS$ 4,7400

 Spread diferença entre a taxa de compra e a taxa de venda da moeda


estrangeira negociada. (Bancos cobrem custos e realizam lucros)

Taxa de Câmbio Nominal

 Taxa à qual é possível trocar moeda de um país pela moeda de outro país.

Taxa de Câmbio Real

 Taxa à qual se pode trocar os bens e serviços de um país pelos bens e serviços de
outro país, ou seja, compara o preço de bens domésticos e internacionais na economia
doméstica. A taxa de câmbio real é o preço em reais de uma cesta de bens estrangeiros,
em relação à uma cesta brasileira.

Os economistas e o mercado empresarial consideram a taxa real de câmbio, que


envolve em seu cálculo a influência da inflação nacional no mercado nacional e no
mercado estrangeiro.

Onde:
𝑒.𝑃∗ E = taxa de câmbio real
𝐸= e = taxa de câmbio nominal
𝑃 P* = índice de preços do país estrangeiro (inflação)
P = índice de preço no mercado nacional (inflação)

 Inflação nacional (P) - Taxa de câmbio real (E)____ - Real__________:


Preço dos produtos exportados____ e preço dos produtos importados_____.

 Inflação nacional (P ) - Taxa de câmbio real (E)____ - Real__________:


Preço dos produtos exportados____ e preço dos produtos importados_____.

A taxa cambial nominal não reflete a realidade a cerca do comportamento real da


taxa de câmbio, já que deve-se considerar a inflação interna e externa. Porém o conceito
de taxa de câmbio real apresenta limitações (o cálculo do índice é um cálculo médio dos
preços dos bens e serviços).
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a.5) Estabelecimento das cotações cambiais

A tabela de cotações de câmbio poderá ser elaborada de duas maneiras:

 País dê o certo (método Indireto): quando a taxa cambial indica o número variável de
unidades de moeda estrangeira que serão trocadas por uma unidade de moeda nacional.

 País dê o incerto (método Direto): quando a taxa cambial indica o número variável de
unidades de moeda nacional que serão trocadas por uma unidade de moeda estrangeira.

a.6) Apreciação, Valorização, Depreciação e Desvalorização

 Apreciação (appreciation): é a elevação gradual do valor de uma moeda como


resultado das forças de oferta e demanda de um mercado, em um sistema de taxas
cambiais flutuantes;

 Valorização (revaluation, revalorization, upvaluation): ocorre quando o valor oficial de


uma moeda é aumentado por decisão das autoridades monetárias do respectivo país;

 Depreciação (depreciation): é o declínio gradual no valor de uma moeda, em virtude


das condições de oferta e procura de um mercado, em um sistema de taxas cambiais
flutuantes.

 Desvalorização (devaluation): queda do valor de uma moeda em relação às demais,


determinada por um ato governamental. Ocorre quando uma moeda tem paridades fixas.
Poderá também ocorrer em um sistema em que são estipulados limites mínimos e
máximos para a taxa cambial.

a.7) Arbitragem

Refere-se a uma operação de compra e venda de ativos negociáveis, na qual a


expectativa de ganho decorre da diferença de preços entre dois mercados. Nesse sentido,
a arbitragem pode envolver transações com moedas, commodities, bens e direitos.

 Arbitragem de câmbio: compra de moeda no mercado com preço mais baixo e a


correspondente venda do montante em outro mercado, a preços mais elevados, com a
obtenção de lucro pela diferença nas cotações.

 Arbitragem Direta: aquela em que duas praças localizadas em países diferentes


arbitram suas respectivas moedas nacionais. É a arbitragem sobre duas praças, também
conhecida por arbitragem de dois pontos.

 Arbitragem Indireta: é a arbitragem mais comum e ocorre quando duas praças


(localizadas em países deferentes) arbitram a moeda de um terceiro país, operação
conhecida como arbitragem triangular ou de três pontos.
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TAXA DE CÂMBIO
RS$/US$ - COMERCIAL COMPRA E VENDA
MÉDIA ANUAL – 2000 a 2021

Ano TAXA DE CÂMBIO RS$/US$ TAXA DE CÂMBIO RS$/US$


COMERCIAL COMERCIAL
COMPRA MÉDIA VENDA MÉDIA
2000 1,8294 1,8302
2001 2,3496 2,3504
2002 2,9204 2,9212
2003 3,0775 3,0783
2004 2,9251 2,9259
2005 2,4344 2,4352
2006 2,1753 2,1761
2007 1,9471 1,9479
2008 1,8338 1,8346
2009 1,9968 1,9976
2010 1,7594 1,7603
2011 1,6742 1,6750
2012 1,9540 1,9546
2013 2,1570 2,1576
2014 2,3529 2,3534
2015 3,3309 3,3315
2016 3,4895 3,4901
2017 3,1914 3,1920
2018 3,6536 3,6542
2019 3,9445 3,9451
2020 5,1552 5,1558
2021 5,3944 5,3950
Fonte: IPEA (ipeadata.gov.br)

Existe um único mercado de câmbio legal no País. A terminologia "câmbio


comercial", ou "dólar comercial", e "câmbio turismo", ou "dólar turismo", no entanto, é
utilizada pelo mercado para indicar as diferentes taxas praticadas de acordo com a
natureza da operação.
Assim, as expressões "câmbio turismo" ou "dólar turismo" são utilizadas
comumente para classificar as operações relativas a compra e venda de moeda para
viagens internacionais, geralmente em espécie. As expressões "câmbio comercial" ou
"dólar comercial" são usadas para as demais operações realizadas no mercado de
câmbio, tais como: exportação, importação, transferências financeiras, etc. Essas
expressões são utilizadas mesmo quando as operações são realizadas em outras
moedas estrangeiras, como o euro, iene, etc.
As operações de câmbio têm diferentes características, de acordo com a natureza
de cada uma, com custos administrativos e financeiros também diversos. Assim, a taxa de
câmbio pode variar de acordo com a natureza da operação, da forma de entrega da
moeda estrangeira e de outros componentes tais como valor da operação, cliente, prazo
de liquidação, etc. As taxas de câmbio divulgadas normalmente são médias apuradas
para simples referência.
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a.8) Swaps

 A operação de swap (troca, em português) no mercado cambial representa a compra


ou venda de câmbio pronto contra a simultânea venda ou compra de câmbio futuro, ou
seja, é uma operação de mútuo financiamento, utilizada por investidores no curto prazo
para a proteção contra riscos cambiais.

Segundo Ratti (2009), o custo de um swap compreende três aspectos:

 a diferença entre as taxas prontas e futura da moeda negociada;

 juros porventura pagos a uma outra parte para obtenção dos recursos utilizados na
operação;

 o chamado “custo de oportunidade”, representado pelos juros que o possuidor obteria


em outro tipo de aplicação que não o swap.

Os swaps normalmente são utilizados para operações com moeda e taxas de juros
e têm por objetivo a diminuição dos custos, o aumento dos lucros nas operações
financeiras, a proteção contra possíveis riscos e perdas, além da especulação nesses
mercados.
No mercado de swap, o que os participantes negociam é a troca de rentabilidade
entre dois ativos. Os respectivos fluxos de caixa serão permutados com base na
comparação de rentabilidade entre eles.
As operações de swaps fazem parte do mercado derivativos, que são contratos
para execução futura derivados de instrumentos originais, como títulos, ações e outros.

a.9) Posição de câmbio

A posição de câmbio é representada pelo saldo das operações de câmbio (compra


e venda de moeda estrangeira, de títulos e documentos que as representem e de ouro-
instrumento cambial) prontas ou para liquidação futura, realizadas pelas instituições
autorizadas pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio.

 posição de câmbio comprada: é o saldo em moeda estrangeira registrado em nome


de uma instituição autorizada que tenha efetuado compras, prontas ou para liquidação
futura, de moeda estrangeira, de títulos e documentos que as representem e de ouro-
instrumento cambial, em valores superiores às vendas.

 posição de câmbio vendida: é o saldo em moeda estrangeira registrado em nome


de uma instituição autorizada que tenha efetuado vendas, prontas ou para liquidação
futura, de moeda estrangeira, de títulos e documentos que as representem e de ouro-
instrumento cambial, em valores superiores às compras.
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a.10) Mercado de Câmbio no Brasil
(http://www.bcb.gov.br/rex/LegCE/Port/Ftp/Capitais_Internacionais_Mercado_Cambio_Brasil.pdf)

A Resolução nº 3.568, de 2008, estabelece a livre negociação entre os agentes


autorizados a operar no mercado de câmbio e seus clientes na compra e venda de moeda
estrangeira, sem limitação de valor e natureza e sem qualquer autorização prévia do BCB.

Existe alguma taxa de câmbio fixada pelo Banco Central atualmente?


Não. As taxas de câmbio são livremente pactuadas entre as partes contratantes, ou seja, entre o
comprador ou vendedor da moeda estrangeira e o agente autorizado pelo Banco Central a operar no
mercado de câmbio.
O Banco Central coleta e divulga as taxas médias praticadas no mercado interbancário, isto é, a
taxa média do dia apurada com base nas operações realizadas naquele mercado, conhecida por "taxa
PTAX", a qual serve como referência, e não como taxa obrigatória.

Assim, todas as operações de câmbio são permitidas, desde que observada a


legalidade da transação, tendo como base a fundamentação econômica das operações e
as responsabilidades definidas na respectiva documentação. A regulamentação cambial
brasileira vigente estabelece que todas as operações de câmbio devem ser realizadas
com instituições autorizadas pelo Banco Central do Brasil a operar no mercado de câmbio
no País. Os bancos, exceto os de desenvolvimento, e a Caixa Econômica Federal podem
ser autorizados a realizar qualquer tipo de operação de câmbio. Por sua vez, os bancos
de desenvolvimento, as agências de fomento, as sociedades de crédito, financiamento e
investimento, as corretoras de câmbio ou de títulos e valores mobiliários e as
distribuidoras de títulos e valores mobiliários podem ser autorizados a realizar operações
de forma limitada.
As operações de câmbio são formalizadas pelo uso de formulário definido pelo
BCB, denominado contrato de câmbio, que é registrado no Sistema de Informações do
Banco Central (Sisbacen), permitindo a identificação dos clientes, a natureza e o valor da
operação, entre outras informações. Nas operações de até US$10.000,00, ou seu
equivalente em outras moedas, são dispensadas a formalização do contrato de câmbio.
Os exportadores residentes no Brasil, com base em parâmetros estabelecidos pelo
Conselho Monetário Nacional, podem manter suas receitas de exportação no exterior sem
a necessidade de conversão desses recursos em moeda nacional. Atualmente, o CMN
permite que a totalidade das receitas de exportação pode ser mantida no exterior. Não há,
portanto, restrição nas transferências financeiras do e para o exterior, as quais são
conduzidas diretamente na rede bancária autorizada, sem interferência do Banco Central
do Brasil, inclusive as operações realizadas por pessoas físicas e jurídicas residentes e
domiciliadas no País, para fins de constituição de disponibilidades no exterior. As pessoas
físicas ou jurídicas, residentes, domiciliadas ou com sede no exterior, podem ser titulares
de contas de depósito em moeda nacional no País. As contas em moeda estrangeira no
País somente são admitidas em situações específicas, tanto para residentes no Brasil
quanto para residentes no exterior.
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b) Balanço de Pagamentos (BP)

b.1) Histórico

Crescimento do comércio internacional necessidade de medi-lo REGISTROS


F.M.I. - Padronização Internacional

b.2) Finalidades

 informar como o país se comporta diante do comércio internacional;


 tornar-se um instrumento para o governo tomar decisões necessárias para corrigir
problemas do comércio internacional;
 servir para medir os efeitos das medidas tomadas.

b.3) Conceito

 “The balance of payments is a statistical statement that summarizes transactions between residents and
non-residents during a period. It consists of the goods and services account, the primary income account,
the secondary income account, the capital account, and the financial account. Under the double-entry
accounting system that underlies the balance of payments, each transaction is recorded as consisting of two
entries and the sum of the credit entries and the sum of the debit entries is the same”
(Balance of Payments and International Investment Position Manual, Washington, D.C.: International Monetary Fund, 2009, 6th ed., pág.
9).

Resumindo, é um registro de transações entre residentes e não residentes, durante


um período de tempo, que contabiliza pagamentos (ou transações) entre operações de
importação/exportação de bens e serviços, capital financeiro e transferências financeiras.

b.4) Estrutura do Balanço de Pagamentos

 Desde jan/2001: Bacen divulga o BP usando metodologia do FMI – 5a. Versão Manual
do Balanço de Pagamentos (1993).

 A partir de fevereiro de 2015: referência mudou para a 6ª edição do Manual de Balanço


de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6), do Fundo Monetário
Internacional (FMI), publicada em 2009.

ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS


(Antes de jan/2001) (ATUAL)
I. Balanço Comercial I. Balança Comercial
II. Balanço de Serviços II. Balanço de Serviços
III. Donativos ou Transferências Unilaterais III. Balanço de Rendas
IV. Saldo do B.P. em T.Correntes (= I + II + III) IV. Donativos ou Transferências Unilaterais
V. Movimento de capitais autônomos Correntes
VI. Erros e Omissões V. Saldo do B.P. em T.Correntes (= I + II + III +
VII. Saldo total B.P. ( = IV + V + VI) IV)
VIII. Movimento capitais compensatórios ( - VII) VI. Conta capital e financeira
VII. Erros e Omissões
VIII. Saldo total B.P. ( = V + VI + VII)
IX. Haveres da Autoridade monetária (são as
variações das Reservas Internacionais) (= -
VIII)

Mudanças de 2015
• Balanço de rendas  Rendas primárias
• Transferências unilaterais correntes Rendas secundárias
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TRANSAÇÕES CORRENTES – I, II, III e IV CONTA CAPITAL E FINANCEIRA – VI

I - Balança Comercial Conta capital


Exportações (FOB) e Importações (FOB) transferências unilaterais relacionadas com
patrimônio de imigrantes e aquisição ou alienação
II – Balanço de Serviços de bens não financeiros não produzidos (cessão
Viagens internacionais, transportes, seguros, patentes e marcas)
Serviços governamentais, serviços diversos
(comunicações, construção, computação e Conta financeira
informações, royalties, licenças, corretagens, Investimentos diretos
aluguéis de equipamentos, pessoais, filmes, Investimentos em carteira (ações, títulos de renda
propaganda, serviços de recreação etc) fixa)
Derivativos e
III – Balanço de Rendas (primárias) Outros investimentos
Salários
Lucros e dividendos (reinvestidos)
Juros

IV - Transferências Unilaterais Correntes (rendas


secundárias)
ERROS E OMISSÕES – VII
HAVERES DA AUTORIDADE MONETÁRIA – IX
Variações das Reservas Internacionais:
Haveres a curto prazo no exterior
Ouro monetário
Direitos Especiais de Saque (DES) - Special Drawing Rights (SDR)
Posição de reservas no FMI

b.5) Considerações

 Registro Contábil no B.P.

- princípio das partidas dobradas = a um débito em determinada conta, deve corresponder


um crédito em outra conta e vice-versa.
- Para permitir o lançamento em partidas dobradas, dividem-se as contas em:
– Contas operacionais
– Conta caixa

• Conta operacional = correspondem aos fatos geradores do recebimento ou do


pagamento de recursos ao exterior, como as exportações, fretes, seguros, dividendos,
donativos, amortizações etc.
– Fato gerador: entrada de recursos no País = registra como crédito (+)
– Fato gerador: saída de recursos do País = registro como débito (-)

• Conta caixa = registram o movimento dos meios de pagamentos internacionais à


disposição do País, ou seja, das reservas internacionais.
Lançamento: mesma sistemática das empresas
– Aumento no saldo das contas (moeda de outro país) = Registrada como débito (-)
– Redução no saldo das contas = crédito (+)

Contabilização do Balanço de Pagamentos:

Contas operacionais: I, II, III, IV e VI Conta de caixa: IX


– entrada recursos no país = positivo – aumento dos valores = negativo (débito)
(crédito) – diminuição valores = positivo
– saída = negativo
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 Saldo do Balanço de Pagamentos (BP) = V + VI + VII

 Se o país captar recursos além de sua necessidade de financiamento  Superávit no


BP  Reservas

 Se o ingresso de capitais autônomos não for suficiente para financiar as transações


correntes  recorre aos estoques de capital acumulados no passado (se possuir
reservas) ou recorre ao FMI ou atrasa seus compromissos.

 Capitais Compensatórios (“abaixo da linha”): pois não entram no saldo do BP  são


destinados a financiar o resultado das operações autônomas e voluntárias  não é
voluntário, existe para dar equilíbrio as contas (zerar a soma das contas).

 Reservas Internacionais: estoques de ativos em poder das autoridades monetárias


disponíveis para pagamentos de dívidas e aquisição de direitos junto a não residentes de
um país. Composição: haveres a curto prazo no exterior, ouro monetário, Direito
Especiais de Saques (DES), posição de reservas no FMI.

 Medidas de ajuste do BP (esgotadas as reservas e K compensatórios):

- redução do nível da atividade econômica;

- aumento da taxa interna de juros;

- subsídios às exportações;

- restrição tarifária ou quantitativa às importações;

- controle da saída de capital e de rendimentos para o exterior;

- desvalorização real da taxa de câmbio.

 DÍVIDA EXTERNA BRUTA E LÍQUIDA


Dívida externa bruta: estoque das dívidas do setor público e privado acumulado pelo país.
Dívida externa líquida: dívida externa bruta menos as reservas do período.
15
 O governo brasileiro dispunha no final de 2021 de aproximadamente US$ 362 bilhões
de dólares registrado como reservas internacionais no balanço do Banco Central. O
acúmulo desse valor se deu pelos sucessivos superávits no comércio internacional
(exportações em valores maiores que as importações) e pela entrada de investimentos
externos no país.
Quando os dólares entram no país em função das exportações, eles são de
propriedade das firmas exportadoras.
Quando entram por investimento em ações, por exemplo, eles pertencem a quem
vendeu as ações a investidores internacionais.
Quando entram por investimentos em títulos bancários, pertencem aos bancos que
venderam tais títulos.

Como, então, esses dólares vão parar nas mãos do governo, mais especificamente do
Banco Central?
16
1.3 - Teorias de Comércio Internacional

As principais linhas teóricas procuram explicar as razões das vantagens


multilaterais decorrentes das redes internacionais de trocas.

a) O Mercantilismo

 Meados do séc. XV a meados do séc. XVIII.

 Acreditavam que um das formas capazes de fortalecer economicamente um ESTADO


seria a contínua obtenção de saldos favoráveis em sua balança comercial com o exterior.

 Um das funções do ESTADO era favorecer as exportações. Um país poderia se tornar


mais rico se obtivesse um superávit comercial (E>I) nas transações comerciais. Para
atingir esse objetivo o governo deveria estimular as exportações e dificultar ao máximo,
quando não proibir terminantemente, as importações.

 Principal problema dos mercantilistas: o fato de acreditar que a economia de uma nação
só auferiria benefícios em detrimento de perdas sofridas pelas economias de outras
nações.

b) Vantagens Absolutas

 Ideias mercantilistas criticadas pelos economistas clássicos, a partir da metade do


século XVIII.

 Adam Smith: “The Wealth of Nations” 1776, obra seminal onde foram destacados os
benefícios da divisão do trabalho, da especialização e das trocas, que poderiam ser
auferidas por todas as nações através do comércio exterior.

 Desde que um país, atendendo às suas vocações, habilidades e recursos disponíveis,


pudesse produzir determinado produto a custos comparativamente mais baixos do que
outros países, deveria especializar-se em sua produção, trocando-o no exterior pelos
produtos nos quais outros países então se especializariam.

 Ex.: suponha que o Brasil e o EUA possam produzir dois tipos de bens somente: café e
automóveis:
Brasil EUA
Produção mensal de automóveis (em mil unidades) 6 8
Produção mensal de café (em mil sacas) 3 2

- Brasil: produz café “melhor” do que os EUA.


- EUA produzem automóvel “melhor” do que o Brasil.

 Se o Brasil se dedicasse a produzir automóvel durante a 1ª metade do ano e café


durante a 2ª metade e os EUA fizessem a mesma coisa teríamos:

Os dois países produzindo os dois produtos

Brasil EUA Total


Produção anual de automóveis (em mil unidades) 36 48 84
Produção anual de café (em mil sacas) 18 12 30
17
 Entretanto, se o Brasil se dedicasse o ano inteiro à produção de café e os EUA à
produção de automóveis, a produção total de ambas as mercadorias aumentaria:

O Brasil produzindo somente café e os EUA somente automóveis

Brasil EUA Total Ganho


Líquido
Produção anual de automóveis (em mil unid.) 0 96 96 12
Produção anual de café (em mil sacas) 36 0 36 6

 Conclusão: se cada país produzir bens cujos custos comparativos são menores, ambos
os países sairiam ganhando, pois comprariam seus produtos a custos menores.

c) Vantagens Comparativas

 David Ricardo (1817) – “On the Principles of Political Economy and Taxation”

 A contribuição de Ricardo foi no sentido de destacar a possibilidade de vantagens


mútuas não apenas nos casos em que ocorressem vantagens absolutas de custos, mas
também naqueles em que se verificassem vantagens relativas.

 No ponto de vista ricardiano, o comércio exterior para uma nação seria vantajoso até
mesmo nos casos em que ela pudesse produzir internamente a custos mais baixos do
que os da nação parceira, desde que, em termos relativos, as produtividades de cada
uma fossem relativamente diferentes.

 Assim, a especialização internacional seria mutuamente vantajosa em todos os casos


em que as nações parceiras canalizassem os seus recursos para a produção daqueles
bens em que sua eficiência fosse relativamente maior.

 Ex.: suponha que os EUA produzissem mais milho e mais soja por mês do que o Brasil:

Brasil EUA
Produção mensal de milho 4 6
Produção mensal de soja 1 3

 Como mostra a tabela, os EUA ganham do Brasil tanto na produção de milho quanto na
produção de soja. Mesmo assim, valerá a pena os EUA se concentrar somente na
produção de soja.

 Portanto, interessa aos EUA produzir soja, enquanto interessa ao Brasil produzir milho.

 Conclusão: mesmo no caso de um país conseguir produzir melhor os dois produtos,


ainda vale a pena se especializar naquele em que tem a vantagem maior.
18

 Críticas:

- A teoria é mais abrangente do que a Teoria da Vantagem Absoluta de Adam Smith.


Ricardo abandonou a ideia de custos absolutos e partiu para a ideia dos custos relativos.
- Como A. Smith, Ricardo considerou que os preços eram determinados principalmente
pela quantidade de horas trabalhadas. Outros fatores não foram levados em
consideração.
- Ricardo e Smith procuraram mostrar que a especialização da produção estimula o
comércio internacional e beneficia o consumidor.

d) Teorema de Heckscher-Ohlin

 Teoria Neoclássica do Comércio Internacional.

Ricardo não apresentou nenhuma justificativa econômica para as diferenças nos


custos de produção dos países. Somente em 1933, na obra do economista sueco Bertil
Ohlin (“Interregional and International Trade”) surgiu uma explicação para as diferenças
de custo de produção. Ohlin foi fortemente influenciado por seu mestre, Eli Filip
Heckscher, de forma que essa argumentação ficou conhecida como teorema de
Heckscher-Ohlin.
As hipóteses centrais deste modelo são:

 concorrência perfeita em todos os mercados;

 existência de 2 fatores de produção: capital (K) e trabalho;

 países com dotações diferentes de K e trabalho;

 conhecimento tecnológico livremente disponível no mundo;

 existem produtos que usam intensivamente K e outros que usam intensivamente mão-
de-obra.

Cada país se especializará e exportará o bem que utiliza intensivamente seu fator
abundante.
Nestas condições, a previsão do modelo é a seguinte: os países ricos tenderiam a
exportar produtos capital intensivos (máquinas e equipamentos, por exemplo) ao passo
que os países mais pobres exportariam produtos mão-de-obra intensivos (tecidos,
vestuário, alimentos, etc).
A teoria também enfatiza as vantagens do livre comércio, já que os países
poderiam atingir um nível de bem-estar material superior sem recorrer ao protecionismo.
19
e) Novas Teorias do Comércio Internacional

A partir dos anos de 1960, as insuficiências dos modelos teóricos em responder


questões relacionadas com a natureza do fluxo comercial entre países motivaram a busca
por explicações em modelos analíticos alternativos.

e.1) Ensaio sobre comércio e transformação

 S.B. Linder (1961)

 A abordagem de Linder enfatiza o papel da demanda doméstica e de seus


determinantes como fatores relevantes no desenvolvimento do potencial exportador.

 Um produto ser produzido e consumido no mercado interno é condição necessária, mas


não suficiente, para que possa apresentar potencial exportador.

 Mudanças no padrão do comércio exterior de um país podem ser explicadas por


mudanças no seu padrão de consumo doméstico. Ou seja, a elevação do padrão de
consumo de uma sociedade aumenta o potencial para o desenvolvimento de seu setor
exportador.

 Como mudanças no padrão de consumo são resultantes do crescimento do nível de


renda, o crescimento do fluxo comercial dar-se-á com aqueles países de níveis de renda
semelhantes (mesmo nível de renda per capita).

 Explicação para a crescente importância do comércio entre países ricos (norte-norte),


em contraposição às teorias tradicionais que previam intensificação do comércio entre
países ricos e pobres (norte-sul).

 Entretanto, o comércio real, devido às forças desaceleradoras (distância geográfica,


culturas diferentes, políticas diferentes) pode apresentar uma configuração
completamente diferenciada da esperada pela semelhança nos níveis de renda per
capita.

e.2) Teoria do Ciclo de Vida do Produto

 R. Vernon (1966)

 Explica o comércio internacional a partir do progresso tecnológico e das várias etapas


da vida do produto.

 Novos produtos e novos processos produtivos tenderiam a surgir nos países ricos
devido à demanda por produtos sofisticados e pela existência de capacidade empresarial
e de mão-de-obra altamente especializada para trabalhar em pesquisa e
desenvolvimento.

 As inovações tecnológicas surgidas nos países desenvolvidos dão a estes países


monopólio transitório da produção e exportação de novos produtos.
20
 À medida que os produtos ficam padronizados, poderiam ser produzidos em outros
locais e tenderiam a se transferir para os países em desenvolvimento, atraídos por
menores custos de produção (particularmente, mão-de-obra).

 As plantas industriais seriam assim distribuídas:

- 10 estágio: as indústrias de ponta localizam-se nos países desenvolvidos que realizam


grandes investimentos em P&D;

- 20 estágio: as plantas industriais seriam localizadas em países ricos com grandes


mercados consumidores, ricos em capital e mão-de-obra qualificada;

- 30 estágio: assumindo-se que haja uma grande mobilidade internacional de capital, os


países em desenvolvimento, ricos em mão-de-obra não qualificada, seriam os locais
ideais para a localização da produção do produto padronizado.

e.3) Comércio Estratégico

 Desde os tempos de A. Smith, a intervenção governamental é considerada pelos


economistas como destruição de valor, porque, segundo eles, ela distorce o livre
comércio.

 Nos últimos anos, dada a recessão global (desde 2008), a intervenção do governo tem
aumentado em todo o mundo. Intervenção do governo pode realmente adicionar valor?

 Desde 1970, uma nova teoria, a teoria do comércio estratégico, foi desenvolvida para
resolver esta questão.

 A teoria sugere que a intervenção estratégica por parte do governo em determinados


setores pode melhorar as chances de sucesso internacional. Quais setores?

 Indústrias capital-intensivas com elevadas barreiras à entrada, onde as empresas


nacionais têm pouca chance de ter sucesso sem a ajuda do governo. Estas indústrias
também apresentam vantagens substanciais do pioneirismo.

 Teóricos comerciais estratégicos não defendem uma política mercantilista para


promover todas as indústrias. Eles propõem a ajuda somente a algumas indústrias
estrategicamente importantes.

e.4) Especialização Intra-setorial e ganhos do comércio

 Evidências empíricas de elevado comércio intra-setorial entre países de dotação


semelhante deram impulso ao surgimento de um novo paradigma.

 P.R. Krugman (1981)


21
 Nem sempre é a vantagem comparativa que impulsiona o comércio. Muitas vezes, são
os retornos crescentes ou as economias de escala (tendência de os custos unitários
serem mais baixos com a produção maior) que levam ao comércio.

 As economias de escala estimulam os países a se especializar e fazer comércio,


mesmo na ausência de diferenças entre eles em termos de recursos e tecnologias.

 As economias de escala podem ser internas (dependem do tamanho da firma)


ou externas (dependem do tamanho da indústria)

 Quando as estruturas econômicas dos países se tornam muito semelhantes, o comércio


entre eles tende a ser, principalmente, do tipo intra-industrial.

 Assim, Krugman distingue dois tipos de comércio:

- comércio intersetorial, fundamentado no princípio da vantagem comparativa.

- comércio intra-setorial, baseado na existência de economias de escala.

 Conclusão: quanto mais semelhantes forem as dotações de fatores entre países,


menores as diferenças nas estruturas industriais, consequentemente, maior volume de
comércio intra-setorial entre os mesmos.

f) Vantagens Competitivas

Os modelos tradicionais para explicar porque as nações importam determinados


bens e exportam outros enfocam as diferentes misturas de recursos entre os países.
O modelo convencional também implica que os países com recursos naturais
relativamente abundantes deveriam ser prósperos, enquanto aqueles com menos
recursos naturais deveriam ser relativamente pobres - uma afirmação refutada pelas
rendas per capita mais baixas em países ricos de recursos como o México e Brasil,
quando comparados com a prosperidade de locais improdutivos e superpovoados como o
Japão ou a Tailândia. O Japão, por exemplo, é um líder como exportador de aço, apesar
da escassez relativa de combustíveis fósseis e minério de ferro.
Tais paradoxos levam a questões sobre as fontes de vantagem comparativa. Nas
palavras de Michael Porter, “como explicar por que a Alemanha é a base para tantos
líderes internacionais de editoras, carros de luxo e químicos? Por que a Suíça, um país
tão pequeno, é a base para tantos líderes internacionais de produtos farmacêuticos,
chocolate e comércio? Como há líderes de caminhões pesados e equipamentos
pequenos na Suécia? Por que a América tem produzido os internacionais proeminentes
concorrentes na área de computadores pessoais, softwares, cartões de crédito e cinema?
Por que as empresas italianas são tão fortes em ladrilhos de cerâmica, botas de esqui,

Porter, M.E. A vantagem competitiva das nações, Campus, Rio de Janeiro, 1993. 896p.
22
maquinário para embalagens e equipamentos de automação industrial? O que torna as
empresas japonesas tão dominantes em relação a eletrônicos, câmeras, robótica e
máquinas de fac-simile?”
Porter encaminhou uma equipe de pesquisa que examinou aproximadamente 100
indústrias espalhadas ao redor dos dez maiores países do mundo. Ele concluiu que os
recursos básicos (por exemplo, terras, minerais) são muito menos importantes na
explicação da competitividade internacional de uma indústria do que os recursos
avançados o são (tecnologia sofisticada e força de trabalho, que é altamente motivada e
especializada, mas adaptativa). As vantagens competitivas surgem principalmente de
quão eficiente e efetivamente estes recursos avançados são aplicados.
Outros determinantes importantes que Porter identificou incluem:
 demanda doméstica robusta, que permite que uma indústria se inicie;
 ofertantes concorrentes internacionais e indústrias relacionadas;
 concorrência doméstica vigorosa que força as empresas a atingir a alta qualidade para
os produtos e serviços para o consumidor.
Porter notou que os subsídios ou a proteção do governo contra as concorrências
internacionais normalmente criam apenas indústrias anêmicas que requerem suporte
contínuo do governo. Argumenta que o sucesso internacional para uma indústria é
facilitado se as políticas do governo simplesmente:
 encorajam a rivalidade doméstica;
 investem fortemente em qualificação dos recursos humanos que viabilizem a
produtividade; e
 enfatizam a qualidade como prioridade nacional.
E por fim, o Acaso também atuou. Ocorrências fortuitas que pouca tem a ver com
as circunstâncias de um país e estão fora de controle das firmas e do governo (guerras,
por exemplo).

O Sistema Completo de PORTER (1993)


Determinantes da vantagem nacional - “Diamante” Nacional
23
Teorias de Comércio Internacional – Um resumo
(Peng, M.W. Global Business, 2 ed., Cegange Learning, 2011 – Chapter 5, pag. 161)
Teorias Pontos Principais Pontos fortes e Pontos fracos e
Clássicas influências debates
 O comércio internacional é um  Precursor do  Alocação ineficiente
jogo de soma zero – comércio protecionismo moderno. dos recursos.
Mercantilismo deficitário é perigoso.  Reduz a riqueza da
(Colbert 1600-  Os governos devem proteger nação no longo
1700) as indústrias nacionais e prazo.
promover as exportações.
 As nações devem especializar-  Nascimento da  Quando uma nação
se em atividades econômicas economia moderna é absolutamente
em que têm uma vantagem  Precursor do movimento inferior a outra, a
Vantagem absoluta e comercializar com de livre comércio. teoria é incapaz de
Absoluta outras.  Derrota do dar qualquer
 Especializando-se e mercantilismo pelo explicação.
(Smith, 1776) comercializando cada nação  Quando existem
menos intelectualmente.
produz mais e consome mais. muitas nações, pode
ser difícil encontrar
uma vantagem
absoluta.
 As nações devem especializar-  Orientações mais  Relativamente
se em atividades econômicas realistas para as nações estática, assumindo
Vantagem em que têm uma vantagem (e suas empresas) que a vantagem
Comparativa comparativa e trocar com interessadas no comparativa e
(Ricardo, 1817; outras. comércio mesmo não dotações de fatores
 Mesmo que uma nação seja tendo vantagem não mudam ao longo
Heckscher, absolutamente inferior a outra, absoluta. do tempo.
1919; Ohlin, as duas nações podem ainda  Explica padrões de
1933) ganhar com o comércio. comércio com base em
 Dotações de fatores sustentam dotações de fatores.
a vantagem comparativa.

Teorias Pontos Principais Pontos fortes e Pontos fracos e


Modernas influências debates
 A primeira vantagem  Primeira teoria a  Os Estados Unidos
comparativa reside na nação incorporar mudanças podem não ser
Ciclo de Vida inovadora líder, que exporta dinâmicas nos padrões sempre a nação
do Produto para outros países. de comércio. inovadora líder.
(Vernon,1966)  A produção migra para outras  Mais realista, com o  Muitos produtos
nações avançadas e outros comércio de produtos novos são agora
países em desenvolvimento em industriais no século XX. lançados
diferentes estágios de ciclo de simultaneamente em
vida do produto. todo o mundo.
 Intervenção estratégica por  Mais realista e positiva  Resistência
parte dos governos pode incorpora o papel dos ideológica de muitos
Comércio ajudar as empresas nacionais governos no comércio. estudiosos do “livre
Estratégico a colher vantagens próprias do  Oferece assessoria comércio” e
(Brander, pioneirismo em certas política direta. formuladores de
indústrias. políticas.
Spencer,  As primeiras empresas-motor,  Todos os tipos de
Krugman, 1980) auxiliadas pelos governos indústrias afirmam
podem ter melhores chances que elas são
de ganhar internacionalmente. estratégicas.
 A vantagem competitiva de  Mais recente, mais  Não tem sido
diferentes indústrias em complexa e mais exaustivamente
Vantagem diferentes nações depende dos realista entre as várias testada.
Competitiva quatro aspectos que interagem teorias.  No exterior (não só
Nacional das em um “diamante”.  Teoria multinível que se nacionalmente) a
 Os quatro aspectos são: (1) conecta diretamente a demanda pode
Indústrias dotação de fatores, (2) a investigação sobre as estimular a
(Porter, 1990) demanda doméstica, (3) empresas, indústrias e competitividade de
estratégia, estrutura e nações algumas indústrias.
rivalidade das empresas e (4)
as indústrias correlatas e de
apoio.
24
1.4 - Estrutura do Comércio Exterior Brasileiro

A gestão das operações de comércio exterior no Brasil era realizada por diversos
órgãos de diferentes esferas do governo. Esses órgãos são responsáveis por legislar,
fiscalizar e incentivar as atividades de comércio exterior. De acordo com o Ministério do
Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC, 2014), era possível dividir essas
funções em quatro classificações:

* formuladores de políticas e diretrizes: CAMEX (Câmara de Comércio Exterior); CMN,


Câmara de Política Econômica, etc;

* operacionais/gerenciais/reguladores que atuam como gestores: SECEX/DECEX,


SRF e BACEN, e como anuentes na importação e na exportação (responsáveis por
anuências prévias e verificações);

* defensores dos interesses brasileiros no exterior: MRE, DECOM, DEINT, SAIN/MF


(Secretaria de Assuntos Internacionais), entre outros;

* Apoiadores: BB. BNDES, APEX, ECT, SBCE, entre outros.

 Organograma até a medida 870/2019 :

Medida Provisória 870/2019 – Organização básica da Presidência da República e dos


Ministérios

A Medida Provisória estabeleceu a organização básica dos órgãos da Presidência


da República e dos Ministérios, definindo suas competências e sua estrutura básica.
A estrutura do novo ministério da Economia tem, além das sete secretarias
especiais, 19 secretarias comuns, uma subsecretaria-geral vinculada à Secretaria
Especial da Receita Federal e uma Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos.
25
Órgãos da Presidência da República e Ministérios
1) Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 2) Cidadania; 3) Ciência
Ministérios Tecnologia, Inovações e Comunicações; 4) Defesa; 5) Desenvolvimento
(16) Regional; 6) Economia; 7) Educação; 8) Infraestrutura; 9) Justiça e
Segurança Pública; 10) Meio Ambiente; 11) Minas e Energia; 12) Mulher,
Família e Direitos Humanos; 13) Relações Exteriores; 14) Saúde; 15)
Turismo; 16) Controladoria Geral da União.
1) Chefe da Casa Civil da Presidência da República; 2) Chefe da Secretaria
Outros Ministérios de Governo da Presidência da República; 3) Chefe da Secretaria-Geral da
(6) Presidência da República; 4) Chefe do Gabinete de Segurança Institucional
da Presidência da República; 5) Advogado-Geral da União; e 6) Presidente do
Banco Central do Brasil.
1) Fazenda; 2) Receita Federal do Brasil; 3) Previdência e Trabalho; 4)
Ministério da Economia Comércio Exterior e Assuntos Internacionais; 5) Desestatização e
Secretarias Especiais Desinvestimento; 6) Produtividade, Emprego e Competitividade; 7)
Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

Uma das alterações mais relevantes trazida pela Medida Provisória no 870/19 para
o comércio exterior brasileiro foi a criação de um novo Ministério da Economia, que
consiste na junção do poder de três pastas (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços – MDIC, Ministério da Fazenda e Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e
Gestão – MPOG). O novo Ministério incorporou também a Câmara de Comércio
Exterior – CAMEX, que permanece sendo um órgão colegiado.
Como consequência, questões relativas a comércio exterior, defesa comercial,
desenvolvimento da indústria e serviços foram incluídas na competência do Ministério da
Economia e ficarão a cargo da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos
Internacionais.

De acordo com o Decreto no 9679/19, editado em 2 de janeiro, a Secretaria


Especial foi dividida entre (i) a Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior,
(ii) a Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais, e (iii) a Secretaria de
Comércio Exterior.
A Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior, que anteriormente
integrava a estrutura do MDIC, continua exercendo as competências que lhe foram
outorgadas pelo Decreto no 4.732/03, mas foi dividida em dois Departamentos: o
Departamento de Estratégia Comercial e o Departamento de Investimentos Estrangeiros.
A Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais, por vez, assumiu grande
parte das competências antes alocadas sob a antiga Secretaria de Assuntos
Internacionais (SAIN) do Ministério da Fazenda, incluindo as negociações econômicas e
financeiras com outros países. A nova Secretaria de Assuntos Econômicos Internacionais
terá também competência para avaliar e definir o posicionamento brasileiro quanto a
26
políticas, diretrizes e iniciativas de instituições e organismos internacionais em matéria de
cooperação econômica, monetária e financeira.
Na mesma linha, a nova Secretaria de Comércio Exterior assumiu as
competências da antiga Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do MDIC. A estrutura
da nova Secretaria de Comércio Exterior contempla o novo Departamento de Defesa
Comercial e Interesse Público, que reúne funções do antigo Departamento de Defesa
Comercial (DECOM) e parte das atribuições da antiga SAIN, que era responsável por
questões relativas a interesse público. Antes, procedimentos de defesa comercial e
interesse público eram examinados separadamente, por órgãos relacionados a ministérios
distintos (DECOM fazia parte do MDIC e SAIN fazia parte do Ministério da Fazenda).
Outra mudança relevante trazida pelo Decreto no 9679/19 foi a criação de uma
Secretaria de Advocacia da Concorrência e Competitividade, dentro da Secretaria
Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade - uma das demais Secretarias que
compõe o Ministério da Economia -, que tem como uma de suas competências o
acompanhamento do impacto concorrencial da política de comércio exterior.

Sistema Integrado de Comércio Exterior - SISCOMEX

Instituído pelo Decreto no 660, de 25 de setembro de 1992, é um sistema


informatizado responsável por integrar as atividades de registro, acompanhamento e
controle das operações de comércio exterior, através de um fluxo único e automatizado
de informações. O SISCOMEX permite acompanhar tempestivamente a saída e o
ingresso de mercadorias no país, uma vez que os órgãos de governo intervenientes no
comércio exterior podem, em diversos níveis de acesso, controlar e interferir no
processamento de operações para uma melhor gestão de processos. Por intermédio do
próprio Sistema, o exportador (ou o importador) trocam informações com os órgãos
responsáveis pela autorização e fiscalização.

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