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ECONOMIA A 11.

º ANO

U10. As relações económicas com o Resto de Mundo

10.1 A necessidade e a diversidade de relações internacionais


Atualmente, a quase totalidade dos países são economias abertas, ou seja, são países que estabelecem
relações entre si. Estas relações assumem múltiplos aspetos e estabelecem-se entre Estados, entre empresas,
e ainda entre indivíduos.
Os Estados estabelecem relações políticas, culturais, sociais e económicas. As empresas importam e exportam,
abrem sucursais ou criam empresas no estrangeiro. Os indivíduos deslocam-se entre países para passear ou
trabalhar.
É esta teia de relações, que se estabelecem entre os países ou entre os seus residentes, que dão corpo às
relações internacionais.

Existem várias razões que levam os países a trocar entre si bens, serviços e capitais. Um país procura no
exterior um determinado bem quando:
 não produz o bem;
 o produz em quantidades insuficientes para satisfazer as necessidades da população;
 o produz a preço mais caro ou de qualidade inferior, isto é, com menor eficiência.

Comércio – é a atividade de compra e venda que permite pôr à disposição do consumidor os bens e serviços de
que necessita para a satisfação das suas necessidades.

O comércio pode assumir as seguintes modalidades:


 Comércio interno – é realizado por agentes económicos pertencentes ao mesmo país;
 Comércio externo – é realizado por agentes económicos pertencentes a países diferentes. Por
exemplo, o comércio externo português é realizado entre Portugal e outro ou outros países;
 Comércio internacional – é o comércio realizado entre países, em geral.

Resto do Mundo – é o agente económico constituído pelo conjunto das unidades não residentes com as
quais um país tem relações de troca de bens, de serviços e de capitais.
Entre um país e o Resto do Mundo (RM) estabelecem-se relações económicas diversificadas, abrangendo
trocas de mercadorias, de serviços e de capitais, que se têm desenvolvido devido à globalização e à defesa
do comércio sem fronteiras.

Cada indivíduo, cada empresa especializa-se na produção de uma determinada mercadoria (bem que se
destina à troca), desenvolvendo capacidades que permitam obter essa produção nas melhores condições
possíveis e, depois, trocarem por outros produtos de que necessitam para satisfazer as suas necessidades.
Tal como acontece com os indivíduos e as empresas, também os países acabam por se especializar em
determinadas produções em resultado das condições naturais de cada país, da riqueza dos seus recursos, da
sua situação geográfica, da capacidade de obter custos de produção inferiores aos dos outros produtores ou
produtos de qualidade superior. Quando isto acontece, está-se perante a especialização ou Divisão
Internacional do Trabalho (DIT).

Portanto, como os recursos naturais, humanos e tecnológicos se encontram desigualmente distribuídos pelo
planeta, cada país pode aproveitar as suas potencialidades, especializando-se em determinadas atividades
produtivas em que tenha vantagens absolutas e relativas ou comparativas.
As vantagens dos países para a produção de certos bens incentiva o aumento da produção e,
consequentemente, as trocas internacionais.

O comércio internacional permite uma melhor utilização dos recursos mundiais, pois os países especializam-
se na produção de bens e serviços para os quais tenham maiores aptidões.
Associada à Divisão Internacional do Trabalho, está a noção de vantagens absolutas e relativas, que se
traduz, no facto de um país com abundância numa determinada matéria-prima ter vantagens em exportá-la ou
se tiver mão-de-obra abundante poder especializar-se em bens e serviços que requeiram muita mão-de-obra.

A DIT tem sido referida como a principal justificação das trocas de bens entre países, mas também uma
consequência, devido às vantagens que cada país apresenta relativamente à produção de bens.

A divisão da produção mundial entre países ditada pela DIT tem como consequência os países mais
desenvolvidos ganharem mais nas trocas (serem mais beneficiados) porque exportam bens
tecnologicamente mais sofisticados, com maior valor acrescentado, enquanto os países menos desenvolvidos

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(mais atrasados) produzem bens com mão-de-obra menos especializada e com menor transformação
tecnológica, originando desigualdades nas trocas.

As vantagens comparativas evoluem com o tempo. O exemplo português é bem elucidativo: a indústria
portuguesa baseou-se durante décadas nas chamadas indústrias tradicionais (calçado, vestuário, têxteis,
cortiça, etc.) que eram competitivas no mercado externo, devido aos baixos salários que eram praticados.
Contudo, perante a concorrência dos produtos asiáticos, especialmente dos chineses, Portugal teve de dedicar-
se a produções com maior valor acrescentado e tecnologicamente mais evoluídas.

Todos os países importam e exportam grandes quantidades de bens, importando inclusive bens em que são
especializados. Deste modo, as possibilidades de consumo dos residentes de um qualquer país são alargadas
pelo comércio internacional.

Fatores justificativos do comércio internacional:


 Divisão internacional do trabalho – os países especializam-se na produção de bens para os quais têm
vantagens, trocando com outros bens em que não tem vantagens;
 Estratégias de crescimento económico – os países ao produzirem bens com vantagens, aumentam a
sua produção, com vista a aumentar o seu rendimento e o seu bem-estar;
 Globalização – o alargamento das relações económicas entre os países resulta do desenvolvimento
das comunicações.

10.2 O registo das relações com o Resto do Mundo – a Balança de Pagamentos


Tal como as relações entre os residentes de um país ou de uma empresa são registadas em instrumentos
apropriados, como a contabilidade nacional ou a contabilidade das empresas, também as relações económicas
entre os diversos países são objeto de registo.
Portanto, as trocas de bens, serviços e capitais entre um país e o Resto do Mundo (RM) exigem o seu registo
para controlo e avaliação das operações e consequente definição das políticas mais ajustadas à economia e ao
comércio.
É indispensável conhecer o tipo de bens e serviços que se trocam, valor, origem e destino, o montante dos
capitais recebidos e investidos, bem como a situação global do país com o exterior, pois é necessário analisar a
natureza e o valor dos diferentes fluxos.

Balança de Pagamentos - documento estatístico e contabilístico anual, elaborado pelo Banco Central dos
países (Banco de Portugal), onde se regista o resumo de todos os fluxos monetários referentes às relações
económicas entre o país e o RM.
Os fluxos monetários têm origens diversas, sendo registadas nas diversas balanças em que se subdivide a
Balança de Pagamentos.

Estrutura da Balança de Pagamentos:


 Balança Corrente
 Balança de Capital
 Balança Financeira
 Erros e Omissões

As operações que implicam um pagamento ao exterior, dando lugar à saída de divisas, são registadas na
coluna dos débitos.
Exemplos de operações que dão origem a pagamentos ao exterior (débitos):
 compra de mercadorias ao estrangeiro (importações);
 pagamento de serviços prestados a residentes por empresas ou indivíduos do exterior (de turismo, de
transportes, de seguros);
 remessas para o exterior de rendimentos de capitais (juros, lucros, dividendos);
 donativos ou transferências sem contrapartida (auxílios governamentais ou de instituições, remessas de
imigrantes);
 envio de capitais para o exterior (empréstimos ou investimentos feitos por empresas nacionais fora do
país).

As operações que implicam um recebimento do exterior, dando lugar à entrada de divisas, são registadas na
coluna dos créditos.
Exemplos de operações que dão origem a recebimentos do exterior (créditos):
 venda de mercadorias ao estrangeiro (exportações);
 pagamento de serviços prestados ao exterior por empresas ou indivíduos nacionais;
 remessas do exterior de rendimentos de capitais;

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 donativos ou transferências sem contrapartida (remessas de emigrantes);
 entrada de capitais provenientes do exterior (investimentos de empresas estrangeiras no país).

O saldo final de qualquer balança é igual à diferença entre o valor dos créditos e dos débitos.

A Balança de Pagamentos, sendo um quadro contabilístico, encontra-se sempre equilibrada (saldada), isto é, a
soma dos saldos das suas 4 rubricas é igual a zero.

Os saldos das 3 Balanças que compõem a Balança de Pagamentos permitem analisar a situação das contas
externas do país e informam sobre a economia.

Balança corrente – inclui os fluxos monetários de todas as transações, exceto as relativas aos ativos
financeiros.

Componentes da Balança Corrente


 Balança de Mercadorias: troca de mercadorias;
 Balança de Serviços: troca de serviços;
 Balança de Rendimentos: troca de rendimentos do trabalho e do investimento;
 Balança de Transferências Correntes: transferências correntes privadas (Ex: remessas de imigrantes
e de emigrantes) e transferências correntes públicas (Ex: transferências correntes da UE).

Saldo da Balança Corrente – inclui os saldos das balanças de mercadorias, de serviços, de rendimentos e o
saldo das transferências correntes.

Componentes da Balança de Capital


 Transferências de capital: inclui os movimentos de capitais entre um país e o RM (Ex: transferência de
fundos da UE para infraestruturas);
 Aquisições/cessões de ativos não produzidos, não financeiros: royalties, patentes e franchises.

Componentes da Balança Financeira


 Investimento direto: inclui o investimento direto estrangeiro em Portugal e de Portugal no estrangeiro;
 Outro investimento: investimentos efetuados por instituições financeiras.

Saldo conjunto das Balanças Corrente e de Capital – se o saldo conjunto é positivo/credor, o país tem
capacidade de financiamento, se é negativo/devedor, o país tem necessidade de financiamento do RM.

10.2.1 A Balança Corrente


A Balança Corrente (BC) é sem dúvida a componente mais importante da Balança de Pagamentos pelas
informações que proporciona sobre o estado da economia de um país.
Na BC registam-se as transações com o exterior, referentes a mercadorias, serviços, rendimentos do
trabalho e do investimento e transferências correntes.

Balança de Mercadorias
Nesta balança registam-se os fluxos monetários resultantes das trocas de mercadorias do país com o exterior:
exportações e importações.
A uma exportação (saída de bens do país) corresponde uma entrada de divisas que se regista a crédito.
A uma importação (entrada de bens no país) corresponde uma saída de divisas que se regista a débito.
O saldo obtém-se pela diferença entre o valor dos créditos e dos débitos.

A Balança de Mercadorias apresenta:


 um superavit quando o saldo é positivo, isto é, o valor das exportações é superior ao das importações;
 um défice ou deficit quando o saldo é negativo, ou seja, o valor das exportações é inferior ao das
importações;
 um saldo nulo ou equilibrado, se o valor das exportações for igual ao valor das importações.

Tradicionalmente, a Balança de Mercadorias portuguesa apresenta um défice pelas seguintes razões:


 a necessidade de importação de bens;
 o fraco crescimento da procura externa (exportações);
 o peso de grande parte dos bens exportados ter pouco valor acrescentado;
 a deterioração dos termos de troca (indicador de comércio externo que indica se o país precisa de
exportar mais para obter a mesma quantidade de importações) associada à subida dos preços
internacionais do petróleo.

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A importância da Balança de Mercadorias, enquanto instrumento de análise da situação económica de um país,
não se esgota no cálculo do seu saldo.
Desta Balança é possível retirar outros instrumentos, habitualmente designados como Indicadores do Comércio
Externo, dos quais se salientam a Taxa de Cobertura e a Estrutura das Importações e das Exportações.

Taxa de cobertura
O país precisa de conhecer o saldo e a composição da Balança de Mercadorias, mas também de saber se tem
capacidade de pagar as importações através das receitas das exportações.

A taxa de cobertura é um indicador de comércio externo que representa, em percentagem, o valor das
importações que podem ser pagas com o valor das exportações.

Taxa de cobertura = Valor exportações * 100


Valor importações

Este indicador está intimamente relacionado com o saldo da Balança de Mercadorias:


 Quando a Balança de Mercadorias é deficitária, ou seja, o seu saldo é negativo, a taxa de cobertura
tem um valor inferior a 100. Isto significa que o valor das exportações é inferior ao das importações;
 Quando a Balança de Mercadorias está equilibrada, ou seja, quando o saldo é nulo, a taxa de
cobertura é igual a 100, porque o valor das exportações é igual ao das importações;
 Quando o saldo da Balança de Mercadorias é superavitário, a taxa de cobertura é superior a 100,
porque as exportações são superiores, em valor, às importações.

A estrutura das importações e das exportações implica uma análise aprofundada do tipo de bens sujeitos a
importação e a exportação:
 Quando um país importa essencialmente bens que incorporam uma elevada transformação industrial e,
simultaneamente exporta bens com fraca ou nenhuma transformação, isto é, bens agrícolas, está-se
perante um país necessariamente pouco desenvolvido;
 Quando as exportações de um país são essencialmente constituídas por bens industriais de elevado
valor acrescentado, resultantes da utilização de tecnologias avançadas, e as suas importações são
normalmente constituídas por bens primários, esta situação revela um país bastante desenvolvido.

Operações de câmbio
As moedas divergem de país para país. No comércio internacional, isto é, nas trocas de bens e serviços entre
países de moedas diferentes, os pagamentos são efetuados em moeda que seja aceite pelos intervenientes, ou
seja, em divisas.
Como nem todas as moedas nacionais são aceites nas trocas internacionais, por estarem sujeitas a flutuações
frequentes ou a instabilidade das respetivas economias, os países têm de dispor de divisas para pagar os bens
que compram ao Resto do Mundo.

Divisas – são moedas aceites como meio de pagamento nas trocas internacionais: euros; dólares; libras; ienes.
Para que um país, por exemplo, Portugal possa efetuar pagamentos com uma qualquer divisa, tem de trocar a
sua moeda nacional por outra. O mesmo acontece sempre que se viaja para um país cuja moeda não seja o
euro. É necessário trocar euros pela moeda desse país, ou seja, tem-se de cambiar moeda.
Para esse câmbio ser possível, é necessário que exista uma relação de troca entre essas duas moedas.

Taxa de câmbio – é a relação de troca que se estabelece entre duas moedas; é a quantidade de uma
determinada moeda que é necessária (ex. euro) para adquirir uma unidade de outra moeda (ex. dólar).
No caso do euro, compete ao Banco Central Europeu (BCE) fixar a taxa de câmbio.

A relação de troca entre as diversas moedas nacionais depende de muitos fatores, de entre os quais, da
inflação e da política de desvalorização da moeda.
 A inflação contribui para a depreciação do valor de troca da moeda, pois quando a moeda se
desvaloriza, ela passa a valer menos relativamente às moedas dos outros países. Por exemplo, se o
euro se depreciar, passa a ser necessário juntar mais euros para adquirir a mesma quantidade de
dólares.
 A política de desvalorização da moeda é uma estratégia utilizada por países que decidem
unilateralmente alterar a taxa de câmbio para tornar a sua moeda mais barata, tornando as
exportações mais baratas, logo mais competitivas no mercado internacional.
Esta estratégia pode ser considerada uma forma de protecionismo, na medida em que os estrangeiros
passam a necessitar de menos dinheiro para adquirirem a mesma quantidade de exportações, enquanto
os nacionais precisam de mais moeda para adquirirem a mesma quantidade de importações.

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