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10.

Relações económicas com o Resto do Mundo

10.1 A necessidade e a diversidade de relações internacionais

Comércio: atividade económica de compra e venda de bens e serviços.

Comércio interno – trocas de bens e de serviços entre unidades residentes no mesmo país.

Comércio externo – trocas de bens e de serviços entre unidades residentes e não residentes.

O comércio resulta da especialização produtiva de cada país que faz com que vendam os bens e serviços
nos quais têm vantagem na produção e com que compram os produtos que não produzem ou produzem
em menores quantidades. Esta especialização derivada da distribuição desigual dos recursos no mundo
dá origem à divisão internacional do trabalho.

Vantagens absolutas Vs. Vantagens comparativas

Os países especializam-se nos produtos nos quais têm vantagem comparativa.

Ex.: Inglaterra produz maior quantidade de vinho e de têxteis do que Portugal e por isso tem vantagens
absolutas nos dois produtos.

Mas…

Portugal tem vantagem comparativa na produção de vinho e a Inglaterra tem vantagem comparativa na
produção de têxteis. Portugal especializa-se no vinho e através do comércio externo vende a sua
produção à Inglaterra e compra os têxteis à Inglaterra, que faz o inverso.
Abertura de fronteiras → Aumento do comércio → Movimentos de bens, serviços e capitais → Aumento
das deslocações de pessoas

10.2 O registo das relações com o Resto do Mundo – a Balança de Pagamentos

Os registos dos fluxos económicos de cada país são efetuados na Balança de Pagamentos, que se
encontra dividida em Balança corrente, Balança de capital e Balança financeira.

Saldo = Crédito (entrada de divisas) – Débito (saída de divisas)

Défice: Débito ˃ Crédito

Nulo: Débito = Crédito

Superavit: Crédito ˃ Débito

Como o saldo contabilístico da Balança de Pagamentos tem de ser nulo, calcula-se residualmente a
rubrica «Erros e Omissões».

Operações de câmbio e taxas de câmbio

No comércio internacional, as transações económicas requerem, normalmente, a troca de moeda


nacional por moeda estrangeira – operação de câmbio.
A função do mercado cambial, que funciona permanentemente, é a troca de moedas.

A taxa de câmbio (nominal) é o preço da moeda nacional em termos de uma moeda estrangeira, ou seja,
é o valor a que é possível trocar moeda de um país pela moeda de outro país.

A Balança corrente

A Balança corrente é constituída por:

Balança de bens – fluxos relativos a bens, como matérias-primas e bens de equipamento

Balança de serviços – viagens e turismo, serviços de transporte, prémios de seguros e direitos de


utilização de ativos intangíveis não produzidos não financeiros (patentes, direitos de autor, marcas e
franchising)

Balança de rendimentos – rendimentos do trabalho e do capital

Balança de transferências correntes – transferências públicas e privadas

Balança de bens

Dois tipos de fluxos monetários:

Exportações de bens: venda ao Resto do Mundo – entrada de divisas

Importações de bens: compra ao Resto do Mundo – saída de divisas

Saldo da Balança de bens:


Superavit: Exportações ˃ Importações

Nulo: Exportações = Importações

Défice: Importações ˃ Exportações

Taxa de cobertura é um indicador económico que representa a percentagem das importações que é
coberta pelas exportações.

Taxa de cobertura = (Valor das exportações / Valor das importações) x 100

Quando o valor é:

Inferior a 100%, significa que o valor das importações é superior ao das exportações e por isso o país tem
de usar divisas acumuladas previamente ou de recorrer a empréstimos;

Igual a 100%, significa que o valor das importações é igual ao valor das exportações;

Superior a 100%, significa que o valor das exportações é superior ao valor das importações, permitindo
acumular divisas.

Balança de serviços

Balança de rendimentos

Balança de transferências correntes

(não há matéria adicional nestas 3 balanças da balança Corrente)


O saldo da Balança corrente traduz a situação de uma economia face ao Resto do Mundo. Um saldo
positivo significa que a economia consegue gerar receitas para cobrir os encargos face ao exterior.

A Balança de capital

A Balança de capital regista as transferências unilaterais de capital entre residentes e não residentes. Os
fluxos de capitais são constituídos por:

Transferências de capitais

Ex.: fundos europeus; transferências de património; perdão de dívida

Aquisição/cedência de ativos não produzidos não financeiros

Ex.: compra e venda de ativos intangíveis, como patentes, marcas e franchising

Ex.: compra e venda de ativos tangíveis, como terrenos

A Balança financeira

A Balança financeira regista todos os fluxos que implicam mudança de titularidade entre residentes e
não residentes de ativos e passivos financeiros. Esta Balança é constituída por operações de:

Investimento direto:

A aquisição de uma empresa residente por um agente não residente regista-se a crédito e é um exemplo
de investimento direto do exterior em Portugal
A aquisição de uma empresa localizada no exterior por um agente residente regista-se a débito e é um
exemplo de investimento direto de Portugal no exterior

Investimento indireto ou de carteira:

Compra e venda de produtos financeiros, como ações e obrigações

Outro investimento:

Créditos comerciais, obtenção de empréstimos e constituição de depósitos em bancos não residentes

Derivados financeiros:

Compra de derivados na bolsa

Ativos de reserva:

Ativos de não residentes na área do euro e expressos em moeda de países fora desta área.

Saldo global da Balança de Pagamentos = 0

Balança corrente + Balança de capital + Balança financeira = 0

A Balança financeira reflete as transações da Balança corrente e da Balança de capital e por isso terá um
sinal contrário ao saldo conjunto destas duas. Assim:

Se o saldo da Balança financeira for negativo (porque o saldo conjunto das Balanças corrente e de capital
é positivo), significa que a economia tem capacidade de financiamento;

Se o saldo da Balança financeira for positivo (porque o saldo conjunto das Balanças corrente e de capital
é negativo), significa que a economia tem necessidade de financiamento.
Balança de Pagamentos e regime cambial

Regime de câmbios flexíveis: taxas de câmbio são determinadas pelo mercado, sem intervenção do
Estado.

Regime de câmbios fixos: taxas de câmbio são definidas pelo Estado.

Quando existe:

Uma situação de défice, o Banco Central decreta a desvalorização da moeda para corrigir o défice

→ Desvalorização da moeda: uma unidade de moeda nacional permite comprar menos unidades de
moeda estrangeira. As importações ficam mais caras e por isso diminuem enquanto as exportações
tornam-se mais baratas para o exterior, aumentando.

Uma situação de excedente, o Banco Central acumula reservas ou decreta a valorização da moeda para
corrigir o excedente

→ Valorização da moeda: uma unidade de moeda nacional consegue comprar mais unidades de moeda
nacional. As importações ficam mais baratas e por isso aumentam e as exportações tornam-se mais
caras para o estrangeiro, diminuindo.

10.3 As políticas comerciais e a organização do comércio mundial

Políticas comerciais: Livre-cambismo e Protecionismo

Protecionismo

O protecionismo é uma política de comércio internacional cujo objetivo é a proteção da economia


nacional, implementando um conjunto de medidas que limitam a entrada de produtos vindos do
exterior e que facilitam a saída dos produtos nacionais para o exterior.
Protecionismo sobre as importações:

Barreiras alfandegárias tarifárias (aplicação de impostos sobre os bens e serviços)

Barreiras alfandegárias não tarifárias (limitações quantitativas à importação de bens e serviços –


contingentação, imposição de normas de qualidade)

Protecionismo sobre as exportações:

Subsídios às exportações (tornam os produtos nacionais mais competitivos no mercado)

Dumping (existe quando os bens exportados têm um preço de exportação inferior àquele que praticam
no mercado do seu país. A prática de dumping é proibida, sendo tomadas medidas antidumping para
neutralizar os seus efeitos)

Desvalorização da moeda.

Livre-cambismo

O livre-cambismo defende a livre circulação de bens e de serviços sem quaisquer restrições económicas.

Organizações internacionais de defesa da liberalização das trocas:

GATT (General Agreement on Tariffs and Trade), fundado no pós 2ª Guerra Mundial, deu origem a um
forte incremento das trocas internacionais

OMC (Organização Mundial do Comércio) que substituiu o GATT

A OMC tem como principal função garantir que o comércio circule o mais livremente quanto possível a
nível internacional, de modo a melhorar os níveis de vida e os rendimentos dos países membros.
Princípios da OMC

Não discriminação, garantido pelo princípio da nação mais favorecida (as vantagens concedidas a um
país têm de ser estendidas aos demais) e pelo princípio do tratamento nacional (todos os bens
importados devem ter o mesmo tratamento)

Concorrência leal (comércio justo e aberto)

Transparência

Tratamento especial e diferenciado para os países em desenvolvimento

Funções da OMC na atualidade:

Negociação de acordos comerciais;

Implementação e monitorização dos acordos;

Resolução de conflitos comerciais;

Assistência aos países em desenvolvimento;

Cooperação com outras organizações internacionais.

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