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FRANÇOIS CHESNAIS

A Mundializa ão
do Capita
O livro "A Mundialização do Capital", de
François Chesnais é uma radiografia da
economia política do capitalismo dos nos-
sos dias, tendo como foco principal a
análise da hegemonia do capital financeiro
na mundialização contemporânea.
O autor procura mostrar que, apesar da A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITAL
estreita interrelação entre as atividades
produtivas, que criam valores, e as ativi-
dades financeiras, em que os capitais se
valorizam, há, desde o ínicio da década
de 80, um "notável aumento da im-
portância das operações puramente fi-
nanceiras dos grupos industriais".
Apesar de relativa, a autonomização e
hipertrofia da esfera financeira assume, sem-
pre segundo o autor, uma dimensão ainda
mais particular: "a partir do momento em
que os bancos e outras in;tituições financei-
ras não se satisfazem mais com suas funções,
importantes mas subalternas, de interme-
diação financeira e de criação de crédito a
serviço do investimento, elas vão necesSãria-
mente abrir d transformação da esfera fi-
nanceira em campo de valorização
espedfico para operações de novo tipo,
suscetíveis de proporcionar mais-valia e lu-
cros finãnceiros" .
A mundialização, pensada como fase
específica do processo de internacionali-
zação e valorização do capital, abarcando
um conjunto de regiões do mundo onde
há recursos e mercado, evidencia ainda
mais o carl!ter excludente e destrutivo da
lógica do capital. Desse diagnóstico des-
dobra sua hipótese de que há uma ligação
estreita entre a mundic1lização do capital
e o "efeito depressivo profundo" presente
na déc~da de 90 .
A Mundialização
do Capitaí

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Índice
@ Xamã [ditora

1 a edição cm francês:
Índice das ilustrações, tabelas e gráficos, 9
ta mondi.-1lisation du capita l (Paris, Syros, 1994)
Siglas, 12
ISBN 85-85833-14-9
Prefácio, 1 J
1 ª t->dic.;ão em portugui>s, atualizada e ampliada - 1996
1 . Decifrar palavras carregadas de ideologia, 21
Termos vagos e ambíguos, 24
"Adc1pwr-::.e'·, mas ao quê?, 25
Edição: Expedito Correia e Carlos ,\lvarez
Capa: Expedito Correia Adaptar -se às estratégias privadas das multinacionais?, 25
1raduç.io: Silva na finzi I oá Adaptar-se às imposições dos mercados ÍÍJldnceiros1 , 29
Revisão TécniGJ: Vito I eti7ia México como caso exemplar, 31
RevisJo: Alvaro Bianchi Internacionalização do capital e mundialização, 32
Consultor: João Hatisla Pa111plt>11;.i A tecnologia e as relações capital-traba lho, 34
rditoraç;io Lletrônic:a: Xarn.i Editora Concentraçiio transfrontei ras e oligopólio mundial, 36
Mundialização e agrav;unP11to da polarização, 37
A civilização da mundialização. 40
A "Grande Transformaç,io". .50 anos depois, 41
Dados Internacionais de Catalogação na Publicac.;Jo (CIP)
(C.1mara Brasileira do livro, SP, Brasil) OrganiLação deste livro, 43

Chesnais, rrançois 2. O investime nto externo dire to (IEO): presença, as pectos q ua litativos e
A mundialiação do capital / Français Chcsnais; te ndê ncias recentes, 45
tradução Silvana I inzi I oá. - São Paulo : Xanl<i, 1996. IED e especializações comerciais, 47
Obras críticas prccur~ras, 48
Título original: La mondialisation du capit.tl. Trabalhos teóricos contempor.íneos, 50
Bibliografia. As três modalidades de internacionalização e o ciclo diferenciado do ca.pital, 51
A economia mundial como sistema hierarquizado polilicamentc, 53
1 . Comércio exterior 2. Economia mundial
Outros aspectos qualitativos do IED, 54
3. Finanças internacionais 4. Investimentos de
Investimentos d iretos e investimentos de ca rteira nos anos 80, 55
capital 5. Investimentos estrangeiros 6. Relações
econômicas internacionais 1. Título. O papel predominante do IED nos serviços, 60
Investimentos cru7;idos e aquisições/fusões, 61
96-0558 CD0-332 .673 IED e polarização a nível mundial. 65
A polarização 111duLida do comércio e dos fluxos de tecnologia, 67
Índices para catálogo sistcm,Hico:
3. A e mpresa multinacional hoje, 69
1. Capital : fluxos internacionais : Economia 332 .673 Definições de multin;ic:ionais e seus limites, 72
2. Investimentos diretos no exterior : Economia 332 .673 A amplitude da constituição das multinacionais como grupo, 75
A estratégia tecno-íinanceira e as multinacion.iis "novo estilo". 76
As "novas formas de investimento", 78
Parêntese sobre o conceito de capital, 80
Xamã V/\1 Fditora t> GrMici Llda. Custos de transação e internalização, 82
R. Loefgreen, 943 - Vila Mariana
04040-030 São Paulo - SP 4 . Concentração de capital e o perações descentralizadas: e mpresas-rede, 89
Tel/Fax: í011) 575-2378 O oligopólio internacional ou mundial. 92

lmpressci no Brasil
5
julho/96
A medida da concentração mundial. 93 Os impasses do enfoque residual, 187
A abertura dos antigos oligopólios nacionais. 96 A preocupação cie manter o conlJole da cadeia de valor. 188
Concorrência entre oligopôlios ou concorrência sistêmica?, 98 .A. multinacionalização de ativiciades fortemente relacionais, 193
Os custos irrecuperáveis e os cfeilos dinâmicos de aprendizagem, 100 Aspectos específicos das relações internas nas multina1...;.-::nais de serviços, 196
Custos de coordenação, Lecnotogias de informaç,I0 e concentração. 102 O caráter oligopolista de muitas atividades, 197
Externalização e empres.1s-red c. 104 Combinações de IED e alianças, 200
O grupo japonês: keiretsu e "toyotismo". 105 As redes nos serviços, 202
Internacionalização das externalidades e quase-integração. 107 A exploração de fontes de mão-de-obra qualificada, 203
A internacionalização das telecomunicações, 204
s. Rivalidade oligopalista e localização da produção industrial, 111
Multirnídic1. a "nova fronteira" para o IED nos serviços, 207
Que sentido dar ao conceito de "indústrias globais"?, 114
O caráter mundializado da concorrência. 115 9. O com ércio exterior no q uadro da mundial ização, 209
Três níveis nas estratégias de mundialização cios grupos. 117 Fatores que modelam o sistema de int.er,.àrnbio, 212
o lugar especial dos Eswdos Unidos no oligopólio mundial, 11_8 . A taxa de crescimento do comércio exterior, superior à do PIB, 215
A~ "vantagens empresariais" ligadas à coesão sistêmica da economia de ongern, 121 A bifurcação dos anos 70, 218
Reação o ligopolísta e investimentos cruzados, 124 Polarização e marginalização: o destino dos países devedores do Terceiro
Os investimentos externos dos grupos franceses, 126 Mundo, 219
Flexibilização da produção, proximidade do mercado e desigualdades salariais Algumas substiluiçôes de matérias-primas de base que destroem fluxos de comér-
entre países, 129 cio, 220
,A. integração industrial "continental", 131 As muitas formas de atu;:ição elas multinacionais no sistema de inl.erdmbio, 223
.A.s deslocalizaçôes sem investimento direto. 13S A formação de "uiocos" regionais, 230
O "imperativo da competitividade", 232
6. A tecnologia na atuação mundial dos grupos, 1 39
Alguns aspectos aluais primordiais da tecnologia. 142 1 O. O movimento próprio da mundialização financeira, 237
Coalizões Estados-grupos e concorrência sistêmica, 144 As íínanças concebidas como indústria, 240
A-; múltiplas dimensões da internacionalização da tecnologia, 146 O campo mais avançado ela mundialvação, 241
As funçc)es dos laboratórios no exterior, 149 A hipertrofia da esfera finance ira, 243
Tendências recentes da P&D cieslocalizada, 151 Cinqiienta anos depois de Bretton Woods, 248
Potenciais técnicos C' "invasão recíproca". 1S2 • O alcance da formação dos euromercados, 251
Diferenças. por país, no grau de deslocalização da P&D, 1 S4 O crescimento exponencial dos eurornercados, 253
Que indicador adotar no caso do Japão?, 15S A natureza dos em préstimos de capital ao Terceiro Mundo, 255
A situação diferenciada dos grupos europeus, 156 Dívida pública, liueralização e mundialização, 257
A P&D internacionalizada dos grupos franceses, 158 Desregulamentaç,fo e desintermediação, 261
A abertura dos mercados nacionais, 264
7. Tec nologia, cooperação oligopolista e barreiras de entrada, 161 Os mercados financeiros "emergentes" , 265
Patentearne11to no exterior, 163 "fora de balanço", "produtDs derivados" e capital fictício, 266
Oligopólios e redes de alianças, 16S A era das crises monelárias "auto-realizáveis", 268
Apropriabilidade das inovações e oligopólio, 166 O IED do setor financeiro, 2 70
Partilha de conhedmentos e comercialização cruzada, 169
Barreiras de entrada atuais, 170 11. Os grupas industriais, agentes ativos da mundialização financeira, 273
O exemplo das barreiras na área de eletrônica, 173 As várias formas de interpenetração entre indústria e finanças, 276
Oligopólios e normas industriais, 174 Um mercado financeiro privado internacionalizado, 277
O exemplo das telecomunicações, 176 A ascensão das direções finance iras, 279
A cooperação como instrumento de rivalidade oligopolista, 1 79 "Engenhari a financeira" e mundialização do capital, 280
Diversificação em finanças e bancos de grupo, 284
8. Serviços, "nova fronteira" para a mundialização do capital, 183 G rupos industri;:iis e especulação de câmbio, 287
Causas diferenciadas da internacionalização, 185 Os dois sentidos do teITTlO "capital financeiro" e a "corporate governanc:e", 290

6 7
12. M undialização, regulação e de pressão longa, 295 Índice das ilustrações, tabelas e gráficos
l11lernacionali1.açâo. regulação e crises. 29i
A destruiç.'í o das relações quP garantiam estabilidade e crescimento. 300
A hipótese de encadeamento cum ulativo d e efeiLO depressivo profundo. 302 Figura 1 Centros e periferié'ls no mundo (1992} - Urna rede
Conseciüências da mobilidade do capital produtivo. 304 hierarquiLada 38
Cornportanwnto dos principais componentes da demanda efetiva. 307 Gráfico 1 Evolução dos investimentos externos diretos, do PIB, do
Rumo a abalos financeiros seguidos?, 309 comércio internacional total e di! FBCF ,,., ,1rea ela OCDE,
O exemplo d ;i cris(' bancária mexicana d e 1995. 311 a rreços correntes 59
A d imensão mais fuml1ment.il d<1 "crise do modo de desenvolvimento", 31 2 G r.ííico 2 Tot.:il da OCDE: evoluç.10 dos coniponcntcs principais das
Há saída da crise sem um novo modo d e desenvolvimento?, 314 trançições intern;icionais 59
A economia mundial estaria inacabada?. 315
Particip;içAo dos produtos m;rnufaturddos, dos serviços e
Qu,ilasaíc:la 1 . 318 outros setores no v;ilor contábil total do IEO 62
Bibliografia, 323 Gr..Hico 3 Fl uxos de i nvestimen to i11lr.1tri;ídico 1980-1 990 e
c1isponibilidade em 1990 63
G rMico 4 Países receptores dos investimentos diretos mundii!is 65
Tabela 1 b Os d cL maiores países cm desenvolvimento receptores de
fluxos e estoques acumulados de IED -1 993 66
GrMico 5 Conccntr.ição dos fluxos tecnológicos (em porcentagem do
total no período 1980-1990) ú7
Tabela 2 Os trinta grupos 11Jo-financeiros mais internacionalizados,
ordenad os pelo monlilnte de ativos no exti>rio r, ein 1990
(em b ilhões de dólares e em nt'.imero de empregados) 74
Tabela 3 Vantagens ligadas à multinacion;ilização e opções de
localização, segundo J. H. Dunning 86
Tabela 4 Aquisições e c riação de companh i.=is por c apitais
estrangeiros, nos EUA 92
t
Tabela 5 Conce ntração no mercado d e computaóo res
Participação no mercado, em porcentagem 95
Tabela 6 Outros indicadores de concentração mundial 95
Tabela 7 Frtbricmtes de ;ui tomóveis, classificação por o rdem da
produção lo tai em 1992 97
G ráfico 6 O exemplo da Benetton 108
Tabela 8 Locais de produção - excluindo montagem e testes -das
principais companhias mundiais de semico ndutores, em
1992 127
Tabela 9 Os dez grupos franceses mais implantados no exll~rio r, por
pessoal e íaturamento . 128
GrMico 7 Especialização e intercâmbios intracorporativos reillizados
pelas filiais da Toyo til no Sudeste Asiático 132
Gráfico 8 Formas de internacionalização da produção industrial 134

8 9
Gráfico 9 Formas de deslo~11ização no setor têxtil e concordfü1cia/ Gráfico 14a Crescimento do capital fixo e dos ativos financeiros {1980-
discorclância das vantagens competitivas e comparativas 137 1992) 245
GrMico 10 Pri11cipais programas públicos no âmbito da indústria de Gráfico 14b ProjeçAo do crescimento dos ativos financeiros, 1992-
inform;ítica e semicondutores 145 2000 245
Tabela 10 Cinr.o modalidades de internacionalização da tecnologia 148 Tabel.=i 22 Crescimento dos eurornercados (em bilhões de dólares) 253
Lo~lização geogrM!ca das ativid~t~es das grandes compa- fa~la 22,1 Ativos disponíveis dos fundos de pcnsáo, nos principais
nhias, segundo a origem do deposito de patente nos EUA pníses d,1 OCDE com sistemas privados de aposentadori,1
(1985-19~)0) 157 (1980-1993) 257
Gráfico 11 Estrutura das parcerias estratégic.,1s na tecnologia de Gráfico 14c Estrutura dos ativos líquidos dos fundos mútuos nos EUA
irtformação, 1985-1989 167 (1980 e 1992) 259
Tabela 12 Motiv,1(;Ao das alianç.as estratégicas de c,1r;íter tecnológico, Tabela 23 Estrutura da balança de pagamentos da França 26S
setores e ;íreas tecnológicas, 1980-1989 171 Tabela 24 Investimentos cliretos do setor financeiro (bancos, títulos.
Tabela n Repartição da participação no mercado internacional de seguros) de e para o exterior 271
telefonia p1íblica, 1982 -1987 177 Tabela 25 Emissões de bônus de alta rentabilidade e alto risco
Tabela 14 Parte do comércio de algumas grandes companhias ("moedas podres'1 283
japonesas efetuada por firma de seu próprio grupo 191 Tabela 26 Criaçâo ou aquisição de bancos nos grupos, desde 1980
Tabela 15 Alguns exemplos de concentração mundial nas indústrias (grupos industriais ou majoritariamente não-financeiros) 286
de serviços 199 Gráfico 15 Transações diárias médias nos mercados de cJmbio:
Tabela 16 Aquisiçõe~fusões transnacionais nas telecomunicações 205 evolução a partir de 1986, em bilhões de dólares 288
Gráfico 12 Os grandes fluxos do comércio mundial de mercadorias cm Tabela 27 Investimentos estrangeiros dos fundos de pensão e fundos
1990 (em bilhões de dólares} 213 de investimento coletivo (tipo SICAV) em alguns países
industriali7ados, em 1991 289
Figura 2 Comé_rcioexteriordasmultinacionais: exportações de bens
e serviços, 1993 225 Gráfico 15a Crescimento dos ativos fin,1nceiros nos EUA, por tipo de
investimento (1980-1994) 292
Tabela 17 Dife~ent<:s f~rmas de intercfünbio de que participam as
multmac1ona1s 226 Gráfico 15b Crescimento industrial (porcentual anual) 302
Tabela 18 Suprimento cie produt~s imem_iediários em seis_p,1íses da Gráfico 75c Evolução dos preços de commodities, inclusive petróleo 303
OCDE: relaçao de suprimento mt.ern;:icional/nac1onal 228 Gráfico 16 Os encadeamentos cumulativos "viciosos" da
Figura 3 Tendências no intercâmbio inLracorporativo - Comércio mundialização 305
entre empresas coligadas de multinacionais americanas,
1982, 1989, 1992 229
Tabela 19 !nterc:_âm~ios inter-regionais (em porcentagem do
111tcrcamb10 total da 7ona e em porcentagem do comércio
mundial) 231
Gráfico 13 Avaliaçáo da balança comercial de um país Z, segundo a
nacionalidade de suas empresas 233
Gráfico 14 Índices de intercâmbio intra-setorial, todos os produtos 235
Tabela 20 Operações transfronteiras de ações e obrigações (cm
porcentagem do PIB) 243
Tabela 21 Comparação entre o crescimento (de 1980 a 1988) dos
fluxos comerciais, financeiros, de investimento externo
direto, e o crescimento do PIB nacional dos países da
OCDE (coeficiente multiplic,.ador) 244

10 11
Siglas
Prefácio
ASEAN Associil~o das Nações do Sudeste Asiático
BIS Bânco de Compensações l11lernacionais (sede em Basiléia, Suíça)
CAO/C.A,\-1 projeto auxilic1do por computado r/fabricação auxiliada por
c.omputador
CEE Comunidade Econômica Européia
DSTI Divis.'io de Ciência, Tecnologia e lnd(1stria (da OCDE)
EUA Estados Unidos
FBCF
D ecerto não é simples acaso que a primeira edição es-
ínrmação bruk1 de Qpital fixo
trangeira deste livro seja publicada no Brasil, onde conto com tantas
FMI Fundo MonNJrio lnt<"macional
amizades e cumplicidades de idéias, as mais antigas remontando ao
C7 G rupo dos sete p.1íses mais industrializc1dos
começ.o dos anos 70. A publicação original data de 1994. Por ocasião
GATT Acordo Geral de Tarifas e Comércio das sucessivas reedições na França, não foi possível fazer atualizações,
IED investimento externo d ireto nem intrcx:luzir materiais novos. É diferente nesta edição brasileira.
NAFTA Acordo de Livre Comércio da América do Norte Aqui, foram feitos acréscimos bastante substanciais nos capítulos
NFI novas formas de investimento 1, 2 e 12, e especialmente nos capítulos 10 e 11, que tratam das formas
OCDE OrganizaçJo de Cooperaç.fo e Desenvolvimento Eco11ômico específicas de valorização do capital que conserva a forma dinheiro. A
OMPI Org.1nização Mundial da Propriedade Intelectual edição brasileira tem, então, cerca de 40 páginas a mais do que a
OMC Organi7a<:..áo Mundial do Comércio edição francesa; não mudaram, entretanto, nem a estrutura do livro,
ONU Organi7aç.fo das Naçôes Unidas nem os eixos centrais de argumentação. Assim, o leitor ainda encon-
OPEP OrganiLaçáo dos Países Exportadores de Pe tróleo trará o tópico pessimista "Qual a saída?" do último capítulo, mesmo se
P&D pesquisa e desenvolvimento o poderoso movimento social que abalou a França em dezembro de
PIB 1995 exprimiu o fato de que ã. reflexão e a disposição à ação política
produto interno bruto
direta (greves e manifestações de massa) de milhares de mulheres e
PNB produto nacional brlilo
homens de diferentes gerações e posições profissionais e sociais, vão
PP.A paridade de poder aquisitivo
muito além do que faria supor a observação superficial O levante de
SME Sistema Monerario Europeu Chiapas tem o mesmo sentido, em um setor do campesinato pobre da
TEP relatório final do Programa de Tecnologia e Ec.onomia da OCDE América Latina.
de 1992
Mesmo assim, toma-se cada dia mais evidente que, quando se fala
TRIP aspectos comerciais da propriedade intelectual
em mundialização do capital (ou quando se dá um contexto mais rigo-
UNCTAD Conferê11~ia das Nações Unidas para o Comércio e o
Desenvolvimento roso ao termo inglês de "globalização"), está-se designando bem mais
UNCTNC Centro das Nações Unidas sobre Companhias Transmcionais do que apenas outra etapa no processo de internacionalização, tal
como o conhecemos a partir de 1950. Fala-se, na verdade, numa nova
configuração do capitalismo mundial e nos mecanismos que coman-
dam seu desempenho e sua regulação. Por mais que pareça
problemática a existência de ondas longas, na formulação de Kondra-
tieff (pressupondo a presença de mecanismos endógenos de recu-
12
13
peração cíclica), tanto mais se afigura possível, e até indispensável dis- fundos mútuos e fundos de pensão), cuja função é frutificar principal-
tinguir, na história do capitalismo, certos momentos em que nume;osos mente no interior da esfera financeira. Seu veículo são os títulos (secu-
~atores desembocam num novo conjunto de relações internacionais e rities) e sua obsessão, a rentabilidade aliada à "liquidez", da qual
internas, que "formam um sistema" e que modelam a 'vida social, não Keynes denunciara o caráter "anti-social", isto é, antitético ao investi-
apenas no plano econômico, mas em todas as suas dimensões. Todos mento de longo prazo. Não é mais um Henry Ford ou um Carnegie, e
esses fatores remetem à duração prolongada de urna fase de acumu- sim o administrador praticamente anônimo (e que faz questão de per-
l~ção do capital, à forma que assumem os seus "impasses" (melhor manecer anônimo) de um fundo de pensão com ativos financeiros de
dizendo, suas contradições), às saídas propostas e à maneira como várias dezenas de bilhões de dólares, quem personifica o "novo capita-
tudo isso se manifesta e se resolve no plano político. o período 1880- lismo" de fins do século XX.
.'913, cujas características foram iluminadas pelos grandes teóricos do
É na produção que se cria riqueza, a partir da combinação social
imperialismo - todos os que pertenciam então à Segunda Interna-
de formas de trabalho humano, de diferentes qualificações. Mas é a es-
cional, é claro, mas também Veublen e Hobson -, foi uma dessas fases
longas. Outra foi a fase de crescimento dos "trinta anos gloriososP, fera financeira que comanda, cada vez mais, a repartição e a desti-
nação social dessa riqueza. Um dos fenômenos mais marcantes dos
começando da reconstrução após a Segunda Guerra Mundial e termi-
últimos 15 anos tem sido a dinâmica específica da esfera financeira e
nando em 1974-1979 - a "idade de ouro", também chamada de
seu crescimento, em ritmos qualitativamente superiores aos dos índices
periodo "fordista". Alguns dos elementos constitutivos dessa fase re-
de crescimento do investimento, ou do PIB (inclusive nos países da
mo~~am aos anos 20, mas ela nasce verdadeiramente das relações
OCDE), ou do comércio exterior. Essa "dinâmica" específica das fi-
pohttcas (nacionais e internacionais) e das instituições (sindicatos
nanças alimenta-se de dois tipos diferentes de mecanismos. Os primei-
fortes, Estado social) constituídas ao fim da Segunda Guerra Mundial.
ros referem-se à "inflação do valor dos ativos", ou seja, à formação de
Outra fase ainda é a de "mundialização do capital", em que ingres-
"capital fictício". Os outros baseiam-se em transferências efetivas de ri-
samos no decorrer da década de 1980, decerto muito diferente do
queza para a esfera financeira, sendo o mecanismo mais impo~ante o
~ríodo "fordista", mas também do período inicial da época imperia-
lista, um século atrás. serviço da dívida pública e as políticas monetárias associadas a este.
Trata-se de 20% do orçamento dos prinçipais países e de vários pontos
Pois, embora tenham ressurgido alguns dos aspectos característi-
:ºs daquela ~poca (extrema centralização e concentração do capital,
mterpenetraçao das finanças e da indústria etc.), 0 sentido e O con-
dos seus PIBs, que são transferidos anualmente para a esfera financeira.
Parte disso assume então a forma de rendimentos financeiros, dos
quais vivem camadas sociais rentistas.
teúdo da acumulação de capital e dos seus resultados são bem dife-
rentes: o capitalismo parece ter triunfado e parece dominar todo 0 O capital monetário, obcecado pelo "fetichismo da liquidez", tem
planeta, mas os dirigentes políticos, industriais e financeiros dos países comportamentos patologicarnente nervosos, para não dizer medrosos,
do G7 cuidam de se apresentarem como portadores de uma missão de modo que a "busca de credibilidade" diante dos mercados tomou-se
histórica de progresso social. O que é significativo é a quanlidadP. fie o "novo Graal" dos governos. O nível de endividamento dos Estados
va~ações sobre o lema do "fim da história" e do "fun das utopias", in- perante os grandes fundos de aplicação privados (os "mercados")
clumdo-se nestas as promessas de uma vida decente para todos, no deixa-lhes pouca margem para agir senão em conformidade com as
quadro do capitalismo. Pelo contrário, especialmente nos Estados Uni- posições definidas por tais mercados... salvo que questionem os postu-
dos, a hora é do "darwinismo social" sob diversas formas teóricas, al- lados do liberalismo. Pelo contrário, assim que surgem dificuldades, as
gumas de forte conotação racista. O estilo de acumulação é dado pelas instituições financeiras internacionais e as maiores potências do globo
novas formas de centralização de gigantescos capitais financeiros (os precipitam-se em defesa dos privilégios desse capital monetário, quais-

1-1 15
quer que sejam o preço a pagar e os custos a socializar por via fiscal. desemprego, ou com os mecanismos viciosos da conjuntura ditada
Isto nos foi evidenciado, mais uma vez, pelos 52 bilhões de dólares pelas altas taxas de juros. Todas as virtudes atribuídas ao "toyotismo"
adiantados, em fevereiro de I 995, pelo governo federal dos Estados Uni- estão dirigidas a obter a máxima intensidade do trabalho e o máximo
dos e pelas instituições monetárias internacionais (FMl e BIS) como rendimento de uma mão-de-obra totalmente flexível, à qual se volta a
"avalistas em última instância", para evitar que a bancaJTOta do Estado contestar, cada vez mais (até nos relatórios do Banco Mundial), o direi-
mexicano desencadeasse, no plano mundial, um processo de desva- to de organização sindical. Os novos acionistas das empresas industriais
lorização em cadeia dos ativos financeiros. Isso mostra a que ponto os são particularmente encarniçados na busca desse aumento de produ-
governos dos países do G7 desmentem as esperanças de Keynes no tividade. Mesmo se o seu terreno essencial está situado na esfera fi-
sentido de uma "eutanásia progressiva" do capital rentista e de seu nanceira, nem por isso os grandes fundos anglo-saxônicos se de-
"poder opressor". sinteressam da indústria. Parte de seus ativos financeiros está na forma
de pacotes de ações. A "corporate govemance" e o "reengineering" à
Dado o volume que o capital monetário representa, as suas priori- moda americana ou britânica desempenharam um papel de primeira
dades (altas taxas de juros, "inflação zero") e o seu horizonte temporal grande.z a na destruição das relações salariais da época "fordista". Are-
(de curto ou curtíssimo prazo) ditam o comportamento das empresas pentina preocupação dos grandes grupos do capitalismo central com a
e dos centros de decisão capitalistas, como um todo. Suas prioridades questão do "dumping social" não passa de reflexo do seu ressentimento
refletem-se também no nível e na orientação setorial do investimento de que possam existir países (especialmente no Sudeste Asiático) em
pr~dutivo (te lecomunicações, mídia, serviços financeiros, setor de que a exploração seja mais feroz do que aquela que conseguem impor
sa:u~e privado). Keynes já observava que "os particulares (ou as insti- a suas próprias classes operárias.
twçoes) que fazem as aplicações raramente têm a iniciativa de investi-
mento novo, mas (...) para os empreendedores que têm essa iniciativa A expressão "mundialização do capital" é a que corresponde mais
~ ~nanceiramente vantajoso. e muitas vezes obrigatório, adaptar-se à~ exatamente à substância do termo inglês "globalização", que traduz a
ideias do mercado financeiro, mesmo se pessoalmente forem mais es- capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado para
clarecidos" (nota ao capítulo 22). É nesse contexto que devem ser com- a produção manufatureira ou para as principais atividades de serviços,
preend~das as_ ~udanças nas estratégias de investimento dos grandes de adotar, por conta própria, um enfoque e conduta "globais". O
~ru~os mdus11:a1s. Sob influência da esfera financeira e da preferência pela mesmo vale, na esfera financeira, para as chamadas operações de ar-
liqmdez, o honzonte temporal de valorização do capital industrial tende bitragem. A integração internacional dos mercados financeiros resulta,
a reduzir-se cada vez mais e a alinhar-se, mundialmente, ao que diversos sim, da liberalização e desregulamentação que levaram à abertura dos
autores norte-americanos caracterizaram como "short-tem1ism". mercados nacionais e permitiram sua interligação em tempo real. Mas
baseia-se, sobretudo, em operações de arbitragem feitas pelos mais
Para a classe operária e as massas trabalhadoras, 0 que O capital importantes e mais internacionalizados gestionários de carteiras de
tende a restaurar é o regime do "tacão de ferro", como O chamava Jack ativos, cujo resultado decide a integração ou exclusão em relação às
London. A ascensão do capital financeiro foi seguida pelo ressurgi- "benesses das finanças de mercado". Como veio lembrar a crise mexi-
mento de formas agressivas e brutais de procurar aumentar a produtivi- cana de 1994-1995, basta pouca coisa para que um lugar financeira-
dade _d_o capital em nível microeconômico, a começar pela mente "atraente" deixe de sê-lo em questão de dias e, de certa forma,
produ1tv1dade do trabalho. Tal aumento baseia-se no recurso combi- fuja da órbita da mundialização financeira.
nado às modalidades clássicas de apropriação da mais-valia, tanto ab-
soluta como relativa, utilizadas sem nenhuma preocupação com as As operações feitas com finalidade lucrativa, para "frutificar'' um
conseqüências sobre o nível de emprego, ou seja, 0 aumento brutal do capital, são por definição (sem que seja uma tautologia) "seletivas".

16 17
Não é todo o planeta que interessa ao capital, mas somente partes dele, que separa os países participantes, mesmo que marginalmente, da
mesmo que suas operações sejam poluidoras a nível mundial, no plano dominação económica e política do capital monetário rentista, daqueles
da ecologia como em outros. Ligar o lermo "mundializacão" ao con- que sofrem essa dominação, alargou-se ainda mais. Mas a mundiali-
ceito de capital significa dar-se conta de que, graças· ao seu for- zação também foi acompanhada de modificações nas relações políti-
talecimento e às políticas de liberalização que ganhou de presente em cas, agora entendidas como relações internas às burguesias impe-
1979-1981 e cuja imposição foi depois continuamente ampliada, o capi-
rialistas.
tal recuperou a possibilidade de voltar a escolher, em total liberdade,
quais os países e camadas sociais que têm interesse para ele. Nessa Aumentou o peso dos Estados Unidos, não apenas de\1do ao des-
escolha, houve, evidentemente, uma ruptura radical com o período em moronamento da União Soviética e à sua posição militar inigualável,
qu~ os países do Pacto de Bangdun eram fortes. Mas, como sugerem mas também em função de sua posição no plano do capital financeiro,
qs~ elementos de análise apresentados neste livro, os critérios de se- bem superior à que têm no plano industrial. É o que explica sua força
letividade modificaram-se, igualmente, em relação àqueles que pre- perante o Japão e o foto de lerem compensado tão completamente a
dominavam na época do imperialismo clássico (ver certos tópicos dos perda de competitividade que foi objeto de tantos estudos nos anos 80.
capítulos 1, S, 9 e 12). A modificação de critérios leva à c hamada O fato de os Estados Unidos serem a fonte principal do parasitismo fi-
"desconexão forçada", acompanhada por formas dramáticas de retro- nanceiro que está gangrenando o capitalismo mundial não os impede
cesso econômico, político, social e humano. Hoje em dia, muitos de imporem sua hegemonia por todos os meios ao seu alcance. Os
países, certas regiões dentro de países, e até áreas continentais inteiras conflitos entre burguesias são, por definição, conflitos que se dão no
(na África, na Ásia e mesmo na América Latina) não são mais al- terreno do apego comum ao regime da propriedade · privada. Por isso
cançados pelo movimento de mundialização do capital, a não ser sob sua forma mais acabada, e também mais freqüente, sempre foi militar.
a forma contraditória de sua própria marginalização. Esta deve ser estri- Hoje em dia, visto que nenhum Estado pode confrontá-los militarmente
tamente compreendida, como mecanismo complementar e análogo ao e que nenhum vai questioná-los no plano do sistema de propriedade
da "exclusão" da esfera de atividade produtiva, que atinge, dentro de dos meios de produção, os Estados Unidos gozam de uma situação
cada país, uma parte da população, tanto nos países industrializados sem precedentes na História. A rivalidade entre modos de organização
como nos países em desenvolvimento. do capitalismo (capitalismo "renano", "nipônico" ou "anglo-saxónico")
Por pouco que se saia do campo da ideologia pura e se entre no não pode ir muito longe, depois de os Estados Unidos imporem aos
campo de um enfoque científico, a palavra "globalização" ou "mundiali- demais exatamente as regras de jogo mais convenientes para eles
zação" representa um convite imediato a escolher ou criar instrumentos próprios, calcadas nas necessidades do capital financeiro de caraterísti-
analíticos que permitam captar uma totalidade sistêmica. Isto não ape- cas rentislas, de que são o epicentro. São eles, então, que ditam as
nas no tocante ao conceito de capital, que deve ser pensado comçi uni- regras do comércio e das finanças internacionais, através de seus posi-
dade diferenciada e hierarquizada, hoje cada vez mais nitidamente cionamentos no FMI e no GATT (agora Organização Mundial de Comér-
comandada pelo capital financeiro. Aplica-se também à econçimia cio, com maiores poderes de intervenção para impor aos países mais
mundial, entendida como relações políticas de rivalidade, de domi- fracos as políticas de liberalização e desregulamentação), e também
naçl:io e de dependência entre Estados. A mundialização do capital e a dos posicionamentos menos formais que ordenam o relacionamento in-
pretensão do capital financeiro de dominar o movimento do capital em terno do oligopólio mundial. Compreende-se o peso que esse fator re-
sua totalidade não apagam a existência dos Estados nacionais. Esses presenta, para a América Latina em geral e para o Jv1éxico e o Brasil
processos, no entanto, acentuam os fatores de hierarquização entre os em particular, e como pode condicionar inteiramente a política externa
países, ao mesmo tempo que redesenham sua configuração. o abismo e interna das camadas dirigentes.
18
19
Tomou-se lugar-comum ouvir, especialme nte de figuras políticas e
de jornalistas, que a mundializaç ão já se tomou "irreve rsível" e que não
há alternativa a não ser adaptar-se a ela, para o bem e para o mal. Não
há dú\ida de que a inte rnacionaliza ção das forças produtivas aume ntou
muito e que a interconexã o das economias exigirá daqueles que
querem construir outra forma de sociedade, ou mesmo modificar a
atual o rdem de prioridades, um pensamento e uma ação comuns. pois
pouca ou nenhuma solução duradoura pode ser concebida no quadro
de países isolados. Mas há certos campos, como o das finanças, onde
soa incongruent e a idéia de "irreversibilidade". Basta uma vista d'olhos
à história financeira do século XX para nos convencer disso.
Por volta de 1913, o grau de mundializaç ão financeira alcançado
no quadro da internacion alização da época, graças à liberdade de
movimento dos capitais, assegurada pelo padrão-ouro e pela liberdade
de câmbio e garantida por uma série de tratados sobre comércio e in-
vestimento, parecia um fato "irreversível". Nos anos 20, os mercados fi.
nanceiros todo-podero sos, sobretudo as Bolsas, e sua capacidade de
orientarem a economia, parecia igualmente "irreversível". Nos EUA, no
fim de 1928 e início de 1929, o presidente Coolidge não perdia ocasião
de fustigar quem expressasse alguma preocupaçã o com o nível al-
cançado pela bolha especulativa de WaU Street ou com as conseqüên-
cias dessa dominação das finanças sobre a repartição e alocação do
investiment o. Bastou o crash de Wall Street e o sucessivo desmorona-
me nto do sistema bancário para dar origem, bem antes das adicionais
conseqüênc ias da Segunda Guerra Mundial, a um sistema de finanças
compartime ntadas, administrad as, estritame nte controladas pelas auto- capítulo 1
ridades monetárias e políticas. Quem ousará afirmar, com segurança,
que algo s e melhante não poderá ocorrer nos próximos anos?
Decifra r palavras carregadas
de ideologia
François Chcsnais
maio de 1996

20
O adjetivo "global" surgiu no começo dos anos 80, nas gran-
des escolas americanas de administração de empresas, as célebres
"business management schools" de Harvard, Columbia, Stanford etc. Foi
popularizado nas obras e artigos dos mais hábeis consultores de es-
tratégia e marketíng, formados nessas escolas - o japonês K. Ohmae
(1985 e 1990), o americano M.E. Porter - ou em estreito contato com
elas. Fez sua estréia a nível mundial pelo viés da imprensa econômica
e financeira de língua inglesa, e em pouquíssimo tempo invadiu o dis-
curso político neoliberal Em matéria de administração de empresas, o
lermo era utilizado tendo como destinatários os grandes grupos, para
passar a seguinte m ensagem: em todo lugar onde se possa gerar lucros,
os obstáculos à expansão das atividades cte vocês foram le vantados,
graças à liberalização e à desregulamentação; a telemática e os satéliles
de comunicações colocam em suas mãos formidáveis instrumentos de
comunicação e controle; reorganizem-se e reformulem, em conseqüên-
cia, suas estratégias intemacionais.
Os grandes industriais japoneses, cuja economia continua sendo
uma das mais fechadas, mas cujos grupos estão entre os mais interna-
cionalizados do mundo, apoderaram-se dessa expressão para definir
sua visão do novo mundo "triádico" que estaria nascendo. Estimular o
"globalismo" significa, para eles, fazer o seguinte chamado aos dirigen-
tes industriais e políticos americanos e europeus: vamos parar de brigar
por questões menores e bobas, como quotas de importação e de que
modo nós manejamos a política industrial, vamos tomar consciência de
nossos interesses comuns e cooperar! De fato, as publicações que
fazem a mais extremada apologia da "globalização" e do "tecno-globa-
lismo'1 apresentam esse mundo que está nascendo como "sem frontei-
ras" (borderless, titulo do livro de 1990 de Ohmae) e as grandes
empresas, como "sem nacionalidade" (stateless, expressão empregada
pela influente revista Business Week , 1990).

23
Termos vagos e ambíguos outros deram provas em inúmeras ocasiões, inclusive em questões
como os riscos ecológicos para todo o planeta, em que, no entanto, os
fundamentos de ação foram preparados pelo trabalho dos pesquisa-
Esses termos, portanto, não são neutros. Eles invadiram o discurso
dores e alcançaram um acordo bastante amplo entre os cientistas.
político e econômico cotidiano, com tanto maior facilidade pelo fato de
serem termos cheios de conotações (e por isso utilizados, de forma
consciente, para manipular o imaginário social e pesar nos debates "Adaptar-se", mas ao quê?
políticos) e, ao mesmo tempo, vagos. Como observaram R. Bamet P. .1.
Cavanagh, são termos que teriam agradado à Rainha de Copas de Alice Tanto mais que, no tocante ao "progresso técnico", a globalização
no país das maravilhas, pois cada qual pode empregá-los exatamente
é quase invariavelmente apresentada como um processo benéfico e ne-
no sentido que lhe for conveniente, dar-lhes o conteúdo ideológico que cessário. Os relatórios oficiais admitem que a globalização decerto tem
quiser (1994, p. 13). alguns inconvenientes, acompanhados de vantagens que têm di-
ficuldade em definir. Mesmo assim, é preciso que a sociedade se
O lermo de origem francesa '•mundialização" (mondialisation) en- adapte (esta é a palavTa-chave, que hoje vale como palavra-de-ordem)
controu dificuldades para se impor, não apenas em organizações inter- às novas exigências e obrigações, e sobretudo que descarte qualquer
nacionais, mesmo que supostamente bilíngües, como a OCDE, mas idéia de procurar orientar, dominar, controlar, canalizar esse novo pro-
também no discurso econômico e político francês. Isso deve-se claro cesso. Com efeito, a globalização é a expressão das ''forças de mer-
ao falo de que o inglês é o veículo lingüístico por excelência d~ capi~ cado", por fim liberadas (pelo menos parcialmente, pois a grande tarefa
lalismo e que os altos executivos dos grupos franceses estão entupidos da liberalização está longe de concluída) dos entraves nefastos erguidos
dos conceitos e do vocabulário em voga nas business schools. Mas tam- durante meio século. De resto, para os turiferários da globalização, a
bém, com certeza, ao fato de que o termo "mundialização" tem o de- necessária adaptação pressupõe que a liberalização e a desregulamen-
feito de diminuir, pelo menos um pouco, a falta de nitidez conceituai tação sejam levadas a cabo, que as empresas tenham absoluta liber-
dos termos "global" e "globalização". dade de movimentos e que todos os campos da vida social, sem
A palavra "mundial" permite introduzir, com muito mais forca do exceção, sejam submetidos à valorização do capital privado. Este é o
que o termo "global", a idé ia de que, se a economia se mundiaÍizou tema central do recente estudo da OCDE sobre a questão do emprego:
seria importante construir depressa instituições políticas mundiais ca~ "Num mundo caracterizado pela multiplicação de novas tecnologias, a
pazes de dominar o seu movimento. Ora, isso é O que as forças que globalização e a intensa concorrência que se exerce em nível nacional
atualmente regem os destinos do mundo não querem de jeito nenhum. e internacional", quando "os efeitos benéficos potenciais são talvez até
Entre os países do Grupo dos Sete - EUA, Canadá, Japão, frança, Ale- maiores do que os que resultaram da abertura das economias depois
manha, Reino Unido, Itália - , os mais fortes julgam ainda poder caval- da Segunda Guerra Mundial", "é essencial a adaptação aos modos de
gar vantajosamente as forças econômicas e financeiras que a produção e intercâmbio que estão surgindo" (OCDE, 1994c, p. 7).
liberalização desencadeou, enquanto os demais estão paralisados ao
tomarem consciência, por um lado, de sua perda de importância e, por Adaptar-se às estratégias privad~s das multinacionais?
outro, do caminho que vão ter de percorrer para "adaptar-se". Os gran-
des grupos industriais ou operadores financeiros internacionais, que Se o começo do estudo da OCDE dá poucas indicações sobre as
acabam de recuperar uma liberdade de ação que não conheciam caracteristicas dessa globalização à qual seria preciso adaptar-se, certas
desde 1929, ou talvez mesmo desde o século XIX, estão ainda menos passagens seguintes, bem como outros trabalhos dessa organização in-
dispostos a ouvir falar de políticas mundiais coercitivas. Disso, uns e ternacional, têm o mérito de serem absolutamente claros, pelo m enos

24 25
sobre parte dos traços característicos da mundiali2ac ão Esses t t Um trabalho mais recente da OCDE (1994) adota um enfoq11(•
permitem d·z t • . ex os
• , er em avor de quais forças do mundo industrial a adap- histórico a fim de caracterizar a nova fase da mundializaç ão: '·Histori-
taçao deve se dar. O ponto fraco desses trabalh , ·1 .
1 baliza - · os e sI enc1ar sobre a camente. a expansão internaciona l deu-se sobretudo através do comer-
go çao financeira e, quase sem exceção, não estabelecer a ligacão cio exterior e sucessivam ente. nos anos 80. por um desenvohim ento
entre esta e as outras d ·m - . ·
. . , ensoes que sao mais claramente identificada s considerá\'e l do investiment o direto internaciona l e da colaboração in-
e mais bem estudadas. O que têm de interessante , .
· e precisar, com um terempresas. O que há de no,·o é que as empresas recorreram a novas
grau de clareza ausente na maioria dos estudos pu bl.ica d os por outras combinaçõe ,; entre os im·estiment os internaciona is. o comércio e a co-
or · -
ganizaçoes. que os traços característicos da mundializaçao - . -
tant - 1 , estao, nao operação internaciona l interempres as coligadas, para assegurar sua ex-
o ao mve do comercio internaciona l. quanto ao nível das empresas pansão internacion al e racionaliza r suas operações. As estratégias
portanto do capital. '
internaciona is do passado. baseadas nas e:,,.-portações, ou as estratégias
Ocorreu uma liberalizaç·ao mw·,o ampla do comércio e)-..1erior fitas multidomés ticas, assentadas na produção e \'enda no exterior, dão
. .
seu efeito foi sobretudo facilitar as operacões d . . .. lugar a novas estratégias, que combinam uma série de ati\idades trans-
tinac· alizad , - os grupos industriais mul-
1on . os. E o que se manifesta na importância do intercâmbio in- fronteiras: exportações e suprimentos externos, investiment os estrangei-
~corporath" o ( 40% do comércio dos EUA e do Japão) e sobret d d ros e alianças internacionais. As empresas que adotam essas estratégias
· . . • u o o
nn·el dos su ·
pnmentos mtemaaona is em produtos semi-elaborados e ro- podem tirar proveito de um alto grnu de coordenaçã o, da diversificaçã o
de operações e de sua implantação local''
dut~s ac~_bados._ organizados com base em terceirização internacional, ~os
quais os pesqwsadores de base" da OCDE conferiram especa.al atencao. - J C. Oman (1994) começa com uma refutação pmdente, mas firme,
As · . - da "assimilação da globalização ao multilatcrali smo'', isto é. o enfoque
-
sim. um desses estudos preçisa que "a global·izacao
. mudou a importãn 2
projetado pelo discurso oficial do GATT e do Ff\11. onde se continua a
;:a ;ela~va d°:5 fatores ~usadores de interdepend ência A intemacionali~
tratar a globalização e o comércio exterior como sinônimos. Segundo
ç ~ ~ dom,~ada mais pelo investiment o internaciona l do que pelo
Oman, a globalizaçã o deve ser entendida como ''um processo cen-
co~erc10 ex~enor, e portanto molda as estruturas que predominam na pro-
duçao e no mie • b. d trífugo e um fenômeno microeconô mico" (Oman. 1994). Ele acrescenta
. rcam io e bens e serviços. Os flwcos de intercâmbio in-
tracorporati vo ddquiriram importância cada \'ez m,.;or. que "embora os progressos tecnológico s e certas políticas, especial-
..... O investiment o
·
internaciona l é e,identeme nte acomodado pela globali - d . . mente a desregulam entação de mercados, tenham impulsionad o a glo-
tuições ban - • fi zaçao as insti- balização desde o fim da década de 1970, conferindo- lhe, ao mesmo
.. - canas e manceiras, que têm o efeito de facilitar as fusões e
tempo, uma forma particular, hoje o determinan te essencial é a trans-
aqu1s1çoes ~naciona is" (OCDE. 1992, p. 21). Essa definição é prece~da
pela observaçao de que os dois fatores pnn·cipais. . , formação em profundidad e do modo predominan te de organização do
que, na dccada de 80
trabalho". O que leva Oman a ser muito pessimista quanto à capaci-
~cel~raram a~ mudanças nas formas de intemaciona lizacão que pre~
. • . . dade da maioria dos países em desenvolvim ento, tanto de atrair inves-
vaJectam antenonnente, e que levaram à globaliza -
1 " • çao. senam, em pnme,ro timentos como de vender em condições competitiva s.
ug~, a desregulam entaçao financeira e o desenvolvim ento, cada vez
No plano industrial, é então aos novos modos de organização da
mats acentuado, da globalização financeira" e, em segundo lugar "o papel
produção, adotados pelas empresas multinacion ais, que deveria se
das ~ovas tecnologias que funcionam, ao mesr,o tempo, como 'condicão
- ., • fazer a inevitá,·el adaptação. O problema. já a esse nível. é que a libe-
permissiva e como fator de intensificação dessa globalizaçao.

. . 2. O conteudo real da Rocfada Urugu.:i,, ,ersc1ndo sol>n• o investinwn10, o direi10 de


1. Alguns dos tr.:il.,alho~ empremdido~ tlescll' 199
pcc-iat d.i ST/ Re,,ue publicado em hn~ de 1993. 0-1991 <'Stao reunidos no número es- in"talação nos "erviços, a proprif'(l;de intell'l"tual, tradu7 melhor do que os discursos
~obre comérno interna< ,onal as quf'SIO<'~ qu<-' mtcressam hoje aos grupo<; industriais.
26
27
r

raliza ção e a desregulamentaçã o, combinadas com . ..


proporcionadas pelas novas te cnologias de comunica: po(s~1b11idades • redução dos csloques de produ1os íinais;
l) de c uplicaram . . , • 0 ver quadro • encurtamento dos prazos de entrega;
c omprome ter e : capacidade mlrinseca do capital produtivo de se • d iminuição dos capitai s de giro;
escomprome ter, de investir e desinvestir- numa • diminuição do lempo de fatu ramento;
pa1avra, sua propensão -
• • a mo b·i·' idade. Agora o capital está à vo • • emprego de meios eletrônicos no setor de franqu ias e vendas a

::: ~~ em_ conc orre ncia as dife re nças no preço da força de tra ~:~i: varejo.

. p~ - e, se for o caso, uma parte do mundo -


ISSO, o capital concentrado d . e o utro. Para
seja pela da te rceirização.3 po e atuar, se1a pe la via do investime nto, Adaptar-se às imposições dos mercados finance iros?

A mundializaç ão não diz respeito apenas às atividades dos grupos


Vantagens da tele info rmática para os grupos 1
e mpresariais e a os fluxos comerciais que e las provocam.' Inclui também
1 A leleiniom1.'ítica (às vezes ch,:1rnada "lel<>m' . ,. . a globalização financeira, que não pode ser abstraída da lista das forças
entre os novos sistemas de l<>leco . • . ahca ) surgiu da con vergência às quais deve ser imposta a adaptação (irmã gêmea do ajuste estrutu-
. d . . · · munrcaço<>S por s·itéli1e e bo 1
g1as e mto.m1ati zação e a m irroeletrônica. [la .' • a ca , as tecnolo-
1
lx1ncos. maiores possibilidades de e , 1 abriu, as grandes empresas e aos ral) dos mais fracos e desguarnecidos. Um recente relatório do Serviço
. t . on,ro ar a expansão de e== t·
1
m emacrona1 e de rclorçar O â b' . = = a 1vos em escala 1
0

• m 110 mune11al de sua~ or:iera •


de Estudos do FMI ( 1993) não hesita em falar das forç.a s que a liberali-
As grandes empresas e i nstitui - . ·· · çocs~ . 1 zaç ão monetária e financeira desencadeou (un leashed). Te ndo como
1 alualmente de redes mundiais . dçoeds 1mance1ras e bancarras dispõem
lemas aos grupos mas também od
pn va as e tclecomu ·
. ·
- E
nicaçoes. stas são ex- 1
o bjetivo a análise dos grandes ataques contra as moedas nos mercados
1 (é o caso dos me;cados íi nanceirts n~m ~-nt~rconectá-los à escala mundial de câmbio, esse relatório forne ce alguns números para situar o poderio
1 partP, graças à interconexi o .en t un ral1 zados que se constituíram, em 1 respectivo das forças envolvidas. Em 1993, só a liquidez concentrada nas
1
nanceiros nacionais). < ' empo real, dos pri ncipais cen tros ii-
mãos dos fundos mútuos de investimento (mutual funds), companhias
1 A lelei níormática permi1e a exten - d -
par1icul am1ente entre empresils .t -~º
as relaçoes de terceirização,
1
de seguro e fundos de pensão atingia 126% do PIB dos EUA e 165% do
quilômetros umas das oulras ~ s1 ua as a cen1enas de mi lhares de PIB do Reino Unido. No mesmo ano, as administradoras americanas e
1 neiras nas indústri as que se .val:.11 com od a deslocalização de larefas roti-
. • - .m gran ernente da int·o " · EI e uropéias desses fundos (menos de 500, as que realm ente interessam)
camin110 para a fragmentação d
1 de rm,,uca. a abre
"trabalho a dornicíÍio". e processos de trabalho e p ara novas formas concentravam em suas mãos, sem contar os bancos e fundos japone-
1 Os efeitos da teleiníom1álica dizem res . - ' . 1
ses, 8 trilhões de dólares. Mesmo que na época apenas uns 5% d os
obra, bem como de capital Ta,·s r· ·t . ,peno a (.conom,a de mão-de- fundos estivessem investidos sob forma de carteira de divisas - pro-
. , . · - e e1os me u em: 1
1
. • maior rlex1bilidade dos processo5 d , porção que se e levaria a 12% em 1995 - , já são 400 bilhões de dólares
maior quantidade de produws co · e pro?uçao (pode-se íabricar
1 d m o mesmo equ ipam ento)· 1 que podem ser mobilizados só por esse grupo de operadoras. A partir
• re ução dos esloques de produt . . , ., . ,
~os de iabricaç:lo de fluxo intensivo (' ~ _11~r~m1ed1anos, gr~ças aos méto- j daí, compreende-se por que os 300 bilhões de dólares que o Banco da
1 a prodl1ção quando do receb· /JU5l ,n _
r,me), que permitem dar início
1 rmento ( e pedido; França e o Bundesbank alemão e m penharam conjuntamente para tentar
1
preservar o Sistema Mone tário Europeu (SME), e m julho de 1993, n ão
foram suficientes para frear os ata ques contra o franco e por que os
~- ~s grupos que atuam no setor industrial ou ele ,. . . •
~est1mentos estrangeiros diretos para se b - . scn ,ços nem precisam mais lazer in- bancos centrais não têm mais meios de "punir" os especuladores.
pcl~_" dcslocalização"'. (Arthuis, 1993) As:r,~11c1a: e; _das vant~gens proporcionadas
os ~1permercados podem se abastecer de ht>;,:~~a e1as de loias de_ depilítarnentos ou
mais baratos, até muito longe se ior EI c~nsumo padromz;idos onde forem
4. Segundo as estimativas do último relatório da UNCTAD, as multinacionais contro-
de terccirização com produto,res 1 ~ caso. es estabelecem seus próprios contratos
oca1s e comcrci aliz d lam hoje um terço da produção industrial mundial. As vendas de suas fili:i.is alcançam
marcas (ver capítulos 5 e 8). am os pro utos sob suas próprias
um faturamcnlo de 5,35 trilhões de dólares, ou seja, um montante superior ao do
comércio mundial. (World lnvestmenl Report, 199S)
28
29
Num trabalho importante, H. Bourguinat ob proporcionadas por taxas de câmbio absolutamente flexíveis, e que portanto
finbeanceiro glob~d~ (constituído por operadore:::n~;;es;o~c;nei:~: lhes é intolerável que se mantenha uma faixa de taxas de câmbio mesmo
e m menos anomrnos do q f. que pardalmente regulada, suscetívei e\~ntualmente, de servir de modelo
cada") fosse ,;um d , ue _az supor a abstração da palavra "mer-
e spota perfeitamente 1 •d • , mais geral? E como interpretar o "sinal" da crise de 1994? Que nada venha
aplaudir'' (1994, p 25) C . _esc arec1 o, so podenamos
disso O . . . orno ele, nos também achamos que não é nada afetar o ní\iel das taxas de juros calculadas em termos reais, ou seja, uma
portful . ano de 199-1 foi marcado por dois acontecimentos da maior iro- estrutura de distribuição de renda em fa\-or das receitas de usura, aquelas para
. c1a no plano financeiro. O primeiro foi a alta das taxas de ,·,.,,o as quais Keynes, no último capítulo da Teoria gero!, recomendava "eutanásía"?
amencanas Ela oco d '" s Estamos portanto bem longe de lidar com um "despotismo esclarecido", e
·... rre quan o mal começou a retomada cíclica· e m .
;::::.:tq~!la~ente a capacidade que as receitas de ren~imen:~ sim com uma forç.a sobre a qual começam a pesar legítimas suspeitas.
para : e::n:;:nrr~.:::end;r ~uas P?sições, qualquer que seja o custo
no rnlor (expresso por tax~ed e_ unped1r_~ue o montante de sua mordida
. e Juros positivas em tennos reais) se·a . México como caso exemplar
d1cado... mesmo com uma alta de 1% 2% l preJu-
ou . nos preços.
de fa~o~:gundo fato é a queda da taxa de câmbio do d ólar. Duas sé ries O comportamento dos grandes operadores financeiros durante a crise
mesmo s p~recem estar em ação e e xerc er efeitos paralelos ou me.xi.cana de dezembro de 1994/janeiro de 1995 vem reforçar essas interro-
lernac· c~mbmados. A primeira diz respeito às políticas nacionais ~ in- galh:as. Fortes pressões políticas externas e internas (abrangendo ínclusi,-e
1o~a1s_ qu~ expressam a prioridade dada pelos EUA à busca d as mais do que dúbias condições da eleição de Salinas contra Cárdenas,
seus propnos mtere sses: reafirmação do direito de . . ~ em 1988) foram exercidas durante a presidência de Salinas, para obter do
monelári se1gneunage
o que exe rce m, menosprezando as necessid d
monetário internac ional, desde a década de 1960 ($.
e Guttmann, 1993); mas talve z, também sua decisa·o de d .
d: .
;::::0~1s~~;,a
, '
México a total liberalização e desregulamentação de seus mercados
monetários e financeiros. Na perspectiva de um enfoque de eqüidade e de
moralidade econômica (como está na moda atualmente, em certos ambi-
a taxa d d ·1 ' · e1.xar correr
.. . o o ar, de maneira a aplicar uma es éci d . entes intelectuais), seria fácil sustentar que os operadores financeiros que
vma ahviar o déficit de sua balan . P e e dumpmg, que organizaram os fluxos financeiros para o México, e decidiram que tais fluxos
lad d ça comercial. A segunda situa-se no
o os operadores nos mercados de câmbio que qw·seram d assumiriam principalmente (em quase 80%) a forma de compra de títulos
trar mais ., ' emons-
'. ~~ vez, que Ja estão em condições de provocar ala ues (obrigações públicas e privadas, e ações), teriam contraído uma obrigação
~on~unto~ \lltono~s (que a teoria monetária denomina crises "auto~ea- "moral" de estabilidade e de presença duradoura. A necessidade de uma
za oras ), ou se1a, de modificar o nível relativo de todas d desvalorização era perfeitamente previsívei dado o elevado déficit comer-
sem exceção, inclusive o dólar a fim de pode"'em b l as moe as cial e a rápida diminuição das reservas oficiais. A miopia dos operadores
li d ' • em o sar aquele tipo
pecu ar e lucros financeiros especulativos de que se alim t impediu-os de compreender. Mas foi ao povo mexicano que eles fizeram
,. be
A nova ·sa daria" dos especialistas inf li.zm enam.
pagar o preço. O anúncio da desvalorização, em dezembro de 1994, foi
maioria dos ·o . ~ . , e ente acompanhada pela
' 1 malistas econom1cos, com poucas e honrosas excec - diz seguido, em poucos dias, pelo brutal descomprometimento dos capitais que
que os 'mercados" (1 · _oeS, estavam colocados no mercado financeiro do l\.1éxico. Os primeiros a fugir
eia-se os operadores concentrados) "sinalizam"
a~ ~ove~os. ºi:1• qu~ seria o sinal da crise do SME em julho de 1993 tã foram os capitais dos grupos financeiros e das grandes fortunas mexicanas.
proxima a antenor? Nao seria o anúncio de que os me rcados se ac~stu~ Veio então, cumulativamente, o desmoronamento brutal do "mercado fi-
maram a obter lucros tin;inceiros vultosos, C.'l)lorando tudas as possibilidades nanceiro emergente", tão louvarln pP.lns c:omentaristas, abrindo, em menos
de um mês, urna recessão que foi se aprofundando a cada mês. O ano de
1995 registrou uma queda de 5% no PIB e uma taxa de inflação de quase
5. l:ste termo se reícre ao prívif<'gio úo senhorio medi 1 ..
50%. O desemprego alcançou 25% da população ativa, enquanto os
conta unicamente suas próprias necf>S :d d
sido aplicado ao caso dos [stados Uni~o:
sistema úe Brctton Woods.
:s, eva deerrnur moeda tendo cm
:C!ndnenhurn~- outra consideração. Tem
· · P rt,r ª cxpcnenc,a de sua gest.'¼o do
salários sofreram uma perda de poder aquisitivo da ordem de 55%, e mais
dois milhões e meio de pessoas caíram abaixo do limite de "pobreza ex-

.1(1
31
trema". Foi esse o preço que os mexicanos pagaram por terem se
"adaptado" ao jogo dos mercados financeiros. Mas os "especialistas" de
Aspectos importantes da mundialização
o I1::.D (i nvestimento externo d .ircto) su~1an tou. 0_ comr.rcio
. _ · exterior
, tão
l
Washington respondem, é claro, que a culpa é só deles, dos mexicanos, como vetor pnnc, . ·pa1 ,10 processo de internac1011al1zaçao,
f - seu pape1 e
que não souberam adaptar-se "bem", que não entenderam as regras do importante nos serviços como no setor de manu atura~. d ,_.
jogo e que, junto com os outros países em situação parecida, devem O IED caraderin-se por alto grau de concentraçao dentro ?s ~a1scs
adiantados, (.'Spcciahnente os da Tna . d e. Esse, ac·erto de '~Ivo se fez as custas
ser submetidos a uma tutela ainda mais severa pelo FivlI (termos do
dos países cm desenvolvimento. , • . d ·r-
comunicado final do G7 de Halifax, em julho de 1995). 0 chamado intercâmbio intra-setorial e_a ,_orma dominante o ~on;~s
. . Caracteriza-se pelo i ntercâmbio ,ntragrupo, nu qua~ o
~~~r~~~!:º;;ivados das multinacionais, bem como por suprimenltosd interna-
Internacionalização do capital e mundialização ' · •nsumos e produtos ilCa Ja os
~~~~~,,f~~ bases
1
cionais, i~rg::i~~dl:ri~~r~:l industriais 1Mcion..-iis ~~r,idas
A lL>g ç nd . • do IED As rnultin.u:iondtS bene11oam-se,
Em alta até fins da década de 1970, os trabalhos sobre internacio- e distintas está ocorre o a partir . ·. 1 doção de novas tecnologias
simultanearnente, da liberali7aÇdO do comercio, e; a cxl - (o loyOlismo) .
nalização do capital caíram de moda na França, de forma que os es- e do recurso a novas íom1aS de gerenciamento a pr uç,:° .
tudos anglo-saxônicos sobre "prcxiução internacional" 6 tendem a fazer . . •ências de rcximidac.le da produç;\o toyotIsta e ~s oportu~_•·
d As ex,g . ada . p~los grandes mercados continentais (U111ão l::.urope,a
com que a pesquisa francesa perca a vantagem comparativa que ~aN~í~~fº~~:~ncon~ as exi~ências de proximidade ao mer~ado íi'.1..-il _da
poderia ter obtido com os minuciosos debates anteriores. 7 Para dizer concorri\n~ia oligopolista, explicam a regionaliLação do comercio extcnor,
as coisas como são, este livro gostaria de aprofundar e atualizar certos nos três pólos da Tríade. . ,, . ed "
Os grupos industriais tendem il se reorgarn1.:ar como empreslas r e .
debates, •~inda hoje reivindicados por alguns, como M. Beaud e C.-A. .
As novas íormas de gerenciamento e ~on1ro le ' valendo
• - se de comp exas mo-
a reconciliar a
Michalet. A idéia subjacente a esta obra é que a mundialização deve dalidades de terceiriLação, visam a ª JU,~ar ?s ~;:~~~~~~: explorando as
ser pensada como uma fase específica do processo de internacionali- centralização do capital e a desccntra_,z~çao_ . ' Ía a~t~11atiLação.
ossibilidades proporcionadas pela tclrnnIormat1ca e pe . . des
zação do capital e de sua valorização, à escala do conjunto das regiões
p O grau de interpenetrilÇàcJ ent~ os capitais de_ d~erc;t~si~~o~:~~ton-
do mundo onde há recursos ou mercados, e só a elas. aumentou. O investirnento internacional cr\lzado e~ n ~ q , ,cJ mu~ial.
. lCl estruturas de oíerta alt,11nente conc,cntr as a rn\
No quadro 2, relacionamos certos aspectos importantes da mundiali- terras Scnbger: ~s:
o r =·
0
·,;1se houve o s:1rgimento de oligopólios mundiais num
b d r grupos amen-
zação. Os próximos capítulos ajudarão a entender as opções efetuadas • • , • •

número crescente de indústrias. Co~st1~111dos so retu o ~aço privilegiado


nessa lista. Trata-se de situar esses aspectos num contexto mais amplo. . opeus eles delimitam entre s, um ....., ·
canos, Japo~1~es e cur ' ào E espaço é defendido contra a entrada
de concorrenc,a e de cooperaçd · á sse
de novos concorrentes de tora a rea a
d. OCDE tanto por barreiras de en-
' . . .d lo GATT
6. Em particular os de J. H. Dunning e dos professores-pesquisadores da Universidade trada de lipo industrial, quanto por barreiras comerc1a1s regt as pe íonn~
de Reading, M. Casson e J. Cantnell. A ascensão de um capital muito concentrado, q:ie. codn~Nloaba r ão
, dcs lucros a emergenoa a g a IZilÇ
7. Com algumas exceções, importantes mas pouco numerosas (C.-A. Michalet, 1990 e monetária, a qual tavorc'!Ceu, com gfiran
~ . ,, ntuou os aspectos inanceiros
. do,.'
s
g~pos industriais e imprimiu
1992; M. Aglietta e A. Brender, 1989 e H. Bourguinat, 1992, sobre a mundialização fi- 1mance1ra , ace · . . .d de manuíaturas e serviços.
nanceira; M. Humbert e seus co-autores, 1993 e F. Sachewald e seus co-autores, uma lógica financeira ao capital mvestt o no S(.'!Or , -~ de lS ucos
1994, sobre os problemas industriais e tecnológicos), esse conceito ainda não foi ob- O movimento da murlClializaçào é excludente. Comd<exceçao d u;g/;; um
.nd . r dos" que h~1,fam ultrapassa >, antes e '
jeto de trabalhos de peso na França. Ele golpeia fortemente alguns postulados impor- "novos países ' ustna ,za ~ , . ' ' m,ite introduzir mudanças na
tantes da teoria econômica "dominante" (mainscrain economics) e não se presta, de patamar de desenvolvimento ,ncJustnal que lhes ~- . . .l Pm curso um nítido
modo algum, à íorm11!.:1ção matemática fo não s~ na esfera íi11a11ceir;i), e por isso tem produtividade do trabalho (> _S(! '.".}n~erem c:on~pettt'.~':d:nvo1vi,~,ento.
sido objeto de poucas pesquisas de parte dos macroeconomistas, tanto os que per- movimento tendente à margmahLaç<10 dos pa1scs e I ecuo
tencem à onda neoliberal como os keynesianos (ver, porém, G. Kebadjian, 1994 ). A . na dénda de 80 por um c aro r
Esse movimento caracter1Lou-se, . · _, í· ;m desenvolvimento,
atençao que os teóricos da escola da reguldçào (H. Boyer, 1986) serão necessaria-
mente levados a dar à mundialização, agora que desapareceu boa parte do quadro
dos IEDs e das transierênc,as ele tecnolo~1a ~os
bem como por um começo de excluSt10 e. v '°: p.
P;.se 5
aíses produtores de
político e econômico da regulação íordista, ainda não se concretizou realmente (ver produtos de base, em relaçi\o ao sistem,i de intercamb10.
capítulo 12 adiante).

32 3.1
A m~ndi~ção é o resultado de dois movimentos conjunto~. e'.>trei- recuperação de rentabilidade do capital investido nesses setores, de-
tamente mterligados, mas distintos. O primeiro pode ser carp cterizado , vem-se à ação combinada de fatores tec nológic os e organizacionais.
co~o a mais longa fase de acumulação inintenupta do capité•' que O capi-
Apesar das grandes diferenças que houve (e ainda há) entre os
~m~ conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às polílicac; de libe-
principais paises capitalistas, nesse aspecto, o modelo americano e inglês,
ralizaçao, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento
com eixo na desregulamentação e na "flexibilização" dos contratos de
de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início
trabalho, vem ganhando terreno regularmente. Cada passo dado na intro-
da década de 1980, sob o in1pulso dos governos Thatcher e Reagan.
dução da automatização contemporânea, baseada nos microprocessa-
A perda, para a esmagadora maioria dos países capitalistas, de boa dores, foi uma oportunidade para destruir as formas anteriores de
parte de sua caµacidade de conduzir um desenvolvimento parcialmente relações contratuais. e também os meios inventados pelos operários, com
autocentrado e independente; o desaparecimento de certa especificidade base em técnicas de produção estabilizadas, para resistir à exploração
dos mercados na~onais e a destruição, para muitos Estados, da possibili- no local de trabalho. Em cada fábrica e em cada oficina, o princípio de
dade de levar adiante políticas próprias, não são conseqüência mecânica " lean production", isto é, "sem gorduras de pessoal'' (v\/omack et ai, 1992)
~a gl~balização, inteJ'\-indo corno processo "externo", sempre mais coerci- tomou-se a interpretação dominante do modelo "ohnista" japonês de or-
th'.º•
un~ndo a cada pais, a seus partidos e a seus governos uma deter- ganização do trabalho (Coriat, 1992). O sistema "toyotista" de terceirização
mmada linha de conduta. Sem a intervenção política ativa dos governos e o "just-in-time" foram adotados ainda mais rápida e facilmente. Mesmo
~atch~r: Reagan, e também do conjunto dos governos que aceitaram no Japão, essas técnicas de organização na empresa haviam, desde a
na~ resistir ~ el:s, ~ sem a implementação de políticas de desregulamen- origem, seJ'\-ido aos grandes grupos, os que emitem pedidos, para fazer
~çao, d: pnvatizaçao e de liberalização do comércio, o capital financeiro recair sobre as firmas "terceiras" os imprevistos conjunturais e para impor
mt~m~cional e os grandes grupos multinacionais não teriam podido des- aos assalariados dessas firmas o peso da precariedade contratual, combi-
truir too depressa e tão radicalmente os entraves e freios à liberdade deles nado com niveis salariais bem inferiores.
de se expandirem à vontade e de explorarem
os recursos econômicos,
humanos e naturais, onde lhes for conveniente. Hoje, todos os grandes grupos adotaram essas técnicas; muitas
vezes, suas operações no exterior (especialmente em países mais fra-
cos) serviram de terreno de experimentação, antes de aplicar o sistema
A tecnologia e as relações capital-trabalho no país de origem ou em países vizinhos, pertencentes ao mesmo mer-
cado triádico. A implementação da ''produção sem gorduras de pes-
.É ness: _contexto que deve ser situada a implementação, pelos gru- soal" não elimina o interesse das multinacionais por locais de produção
~s- mduslria1s (tanto os do setor manufatureiro quanto os das grandes de baixos salários. mas elas não precisam mais deslocar-se milhares
atiVIdade_s de serviços), das oportunidades proporcionadas pelas novas de quilômetros para achar esses locais. O efeito combinado das novas
lecnolo_gi~, a c~meçar pelas tecnologias informacionais aplicadas à tecnologias e das modificações impostas à classe operária, no tocante
prod~çao mduslrial e às atividades de gestão e finanças. Beneficiando- à intensidade do trabalho e à precariedade do emprego, foi propor-
se: SHnultaneamente, do novo quadro neoliberal e da programãção por cionar aos grupos americanos e europeus a possibilidade de constituir,
1111
c~omputadores, os grupos puderam reorganizar as modalicl-':ldes de com a ajuda de seus Estados, zonas de baixos salários e de reduzida
sua_ mtemacionalização e, também, modificar profundamente suas re- proteção social, bem perto de suas bases principais , dentro dos
laçoes com a classe operária, particularmente no setor industrial. o próprios pólos "triádicos". Evidentemente, os salários no México são su-
grande _aumento de produção no setor de manufaturas e nas atividades periores aos da maioria dos países do Sudeste Asiático, mas, com a
de seMços concentradas ("industrializadas"), bem como a espetacular produção flexível e a automatização, os grandes grupos industriais
34
35
a~ericanos podem "suportar'' esse sobrecusto, tendo em contrapartida mundial dos grandes grupos, de seus investimentos cruzados intra-
a ~~1en~ vantagem de poderem redirecionar suas operações de ter- triádicos e da concentração internacional resultante das aquisições e
cemzaçao e produção na América do Norte. Na Europa, a situacão não fusões que efetuam para esse fim. É delimitado por um tipo peculiar
é diferente. O efeito conjunto da integração de países de níveis ;alariais de relacões de interdependência, que ligam o pequeno número de
~uito diferenciados, num Mercado Único totalmente liberalizado, da grandes-grupos que chegam a adquirir e manter wna posição de con-
liberdade de investimento estrangeiro e das políticas neoliberais corrente efetivo a nível mundial, em determinada indústria (ou com-
thatcheriana~, a~otadas inteiramente também em outros países, signi- plexo de indústrias de tecnologia genérica comum). Esse espaço é um
fica que hoJe ha consideráveis desníveis salariais dentro da Comuni- lugar de concorrência encarniçada, mas também de colaboração entre
dade Européia (desníveis que só vão se aprofundar com a "associacão" os grupos. A ele pertencem, essencialmente, grupos originários de um
de c~rtos países "ex-socialistas"). Nenhum grupo industrial precisa des- dos três pólos da Triade, pois as relações constitutivas do oligopólio são
lo~abza~ s~a produção para fora da Comunidade, ampliada a alguns por si mesmas, de modo intrínseco, um importante fator de barreira de
pa1ses hm1trofes a Leste, para encontrar mão-de-obra qualificada e entrada, ao qual podem agregar-se, depois, outros elementos.
barata

Mundialização e agravamento da polarização


Concentração transfronteiras e oligopólio mundial
No enfoque das "business schoo/s", o termo "global" se refere à
Há uns quinze anos, a literatura econômica conta com abundância capacidade da grande empresa de elaborar, para ela mesma, uma es-
de estudos sobre as imperfeições e ineficiências dos mercados onde tratégia seletiva em nivel mundial, a partir de seus próprios interesses.
os principais operadores são públicos. Queiram nos permitir, neste livro, Esta estratégia é global para ela, mas é integradora ou excludente para os
mu~ar _um pouco o enfoque e apontar os refletores para a concen- demais atores, quer sejam países, outras empresas ou trabalhadores. A ex-
traçao a escala da Triade, bem como sobre O oligopólio mundial Este tensão indiscriminada e ideológica do termo, tem como resultado ocul-
conceito atraiu a atenção de geógrafos e cientistas políticos (M.F. tar o fato de que uma das características essenciais da mundialização
Durand, J. ~.vy, D. Retaillé, 1992), dos quais tomamos emprestado é justamente integrar, como componente central, um duplo movimento
0
mapa da pagma 38. Do ponto de vista geopolítico, o conceito de oli- de polarização, pondo fim a uma tendência secular, que ia no sentido
gopólio mundial remete ao que K. Ohmae (1985) chamou de Triade da integração e da convergência. A polarização é, em primeiro lugar,
expre~s~o de m~ito sucesso. Falaremos bastante dela a propósito d~ interna a cada país. Os efeitos do desemprego são indissociáveis daqueles
repartiçao mundial do IEO (investimento externo direto), bem como da resultantes do distanciamento entre os mais altos e os mais baixos rendi-
es~tura de intercâmbio comercial. A hierarquia das regiões, segundo mentos, em função da ascensão do capital monetário e da destruição das
0
interesse que têm para os países e grupos que constituem o oli- relacões salariais estabelecidas (sobretudo nos países capitalistas
go~ólio, bem como a rede mundial dos pontos que lhe estão mais es- avan~ados) entre 1950 e 1970. Fm segundo lugar, há urna polarização in-
lre1tamen.e associados, aparecem claramente nesse mapa. temaciona~ aprofundando brutalmente a distância entre os países situados
Mas o termo "oligopólio mundial" refere-se igualmente ao atual no âmago do oligopólio mundial e os países da periferia.
modo principal de organização das relações entre as maiores firmas Estes não são mais apenas países subordinados, reservas de
mun?iais. Preferimos defini-lo, não tanto como uma "forma de mer- matérias-primas, sofrendo os efeitos conjuntos da dominação
cado ' ou uma "estrutura de oferta", e sim como um "espaco de rivali- política e do intercâmbio desigua~ como na época "clássica" do impe-
dade" industrial. Esse espaço forma-se sobre a base d; expansão rialismo. São países que praticamente não mais apresentam interesse,
36
37
Figura 1 - Centros ·~ ·
e peroerias no mundo (1992) nem econômico, nem estratégico (fim da "guerra fria") , para os países
Uma rede hierarquizada
e companhias que estão no centro do oligopólio. São pesos mortos,
pura e simplesmente. Não são mais países destinados ao "desen-
volvimento'', e sim áreas de "pobreza" (palavra que invadiu o linguajar do
Banco Mundial), cujos emigrantes ameaçam os "países democráticos".

À parte o pequeno número de novos países industrializados, que


haviam ultrapassado, antes de 1980, um patamar de desenvolvimento
industrial suficiente para lhes permitir adaptar-se, com grandes di-
ficuldades (D. Ernst e D. O'Connor, 1989 e 1992), aos novos ritmos
de produção do trabalho e se manterem competitivos, bem como
uns poucos países associados aos três pólos da Tríade, observa-se
uma nítida tendência à marginalização dos países em desen-
volvimento. Essa tendência esteve marcada, nos anos 80, por um
forte recuo dos IEDs e das transferências de tecnologia destinados à
grande maioria desses países. bem como por um início de exclusão,
do sistema de intercâmbio, de muitos países produtores de produtos
básicos. Como voltaremos a tratar no capítulo 8, esses países foram
golpeados em cheio, ao mesmo tempo, pela conjuntura mundial e
pelas transformações tecnológicas ocorridas no centro do sistema,
no sentido de substituição dos recursos tradicionais por produtos in-
termediários industriais, provenientes de indústrias intensivas em
pesquisa e desenvolvimento (novos materiais e biotecnologias). E.M.
Mouhoud ( 1993) utiliza o lermo "desconexão forçada" para caracteri-

-- Centro
!'eriferict_
integra
ao centro
,,. Ângulo morto
zar essa marginalização de áreas inteiras dos continentes, em re-
lação ao sistema de comércio internacional.

1\,fas épreciso dar mais um passo, e considerar as implicações das


deslocalizações para os países de baixos custos salariais, e os fluxos

'. _
~. Periferia
anexada
(reserva territoo-ial
estr.11~~ ou espaço comerciais resultantes. Essas implicações decorrem de relações cuja ini-
~ co!õn1zação
D Periferia
explorada
pioneira) ciativa cabe aos grupos industriais e comerciais dos países pertencentes
D Periferia 8 Principais ao oligopólio muncliaL que podem assim pôr em concorrem.:ia a oferta de
solta
o entroncamentos

WJ1 Semi-isolado
{periferia
baseada
em forças
o da rede mundial

O oligopólio mundial
força de trabalho entre diferentes países. S._Amin (1990) lembrou que a
expansão do sistema capitalista baseou-se na integração simultânea, no
quadro dos Estados-nações "regulamentados", de três mercados: "o das
próprias) mercadorias, o do capital e tecnologia, e o do trabalho". Em seu
Fome: M.-f. Durand. J. l evy, U. Retallé, 1992. movimento de mundialização, o capital está mandando pelos ares essa
integração. e tomando lodo o cuidado em não reconstruí-la. O sistema
38
19
mun dial "com eça a se tom ar integrado o nive lam ento da cultura e, com isso . a hom oge neiz ação da dem and a
qua nto às mer cado rias; (...) tend e ,
igua lmen te a se integrar no que diz resp
eito às tecnologias e às novas téc- a ser aten dida a nível mundial.
nicas finance iras (...). Mas não está
inte grad o qua nto ao trabalho".8 Ora, . d h bila ntes do plan eta pela "
um mer cado não- inte grad o ness a terce o cond icio nam ento subJ. etivo os a ·a1 dese mpe nha do pelo s EUA
per-
ira dim ensã o perm ite que as com -
panh ias expl orem a seu bel-prazer as suas ão" da míd ia. bem com o o ~a~ d
diferenças de rem uner ação do tra- lalespeco1letivo leva A. Valladão (199 3)
balho, entr e diversas regiões (depo is
de man dar pelo s ares a legislaçã o na dom inaç ão d o ·imaginário ind1V ,
1 u ee •
. " Vai ser prec iso espe rar algu-
trabalhista e as conv ençõ es salariais a dize r que " o sec, ulo XXI sera ame nca no .
nacionais), entr e dife rent es países • Mas em term os ime -
(com o no seio d;:i CEE), entr e continen mas déca das para saber se ele está cert o ou nao. '
tes. A lfüeralização do com érci o ex- , firm ação da posi ção cent ral
terior e dos mov ime ntos de capitais perm diat os houve, efet ivam ente , uma nota 1
ilircUn imp or, às clas ses operárias ' ve rea dial Há dez ano s o
. d · ação capitalista mun
dos países capitalistas avan çado s, a dos Esta dos Urudos na o~m d '
flexibilização do trabalho e o rebai- . h , aten çao era o ecl'mio . da com peti tivid ade industria l
xam ento dos salários. A tend ênci a é
para o alin ham ento nas cond içõe s
que ma1S
.
c ama \a ª
. ipal men te em com para çao . ao J - 0 A asce nsao •
das
mai s desfavoráveis aos assalariados. ame ncan a, pnn c apa . ..
As "deslocalizações", em função dos financeiros e a "fina ncem
cond içõe s oue as rege m, integram-se das d
finanças, o peso a quu:i . · · do pelo s mer ca -
ao mov imen to de polarização e o "mi cos e dos com port ame ntos das
acen tuam , junt ando seus efeitos aos zaçã o" acel erad a dos c1rc01tos eco ~o
câm bio comercial. Elas não levam a novo
da "des cone xão forçada" no inter- . . .
com pan hias indu stna is \Iler mod ifica r essa s1·tua ça·o, pelo men os tant o
s "milagres" de tipo core ano. Tais am . ,, d rona men to da ex-U nião
" ed
milagres exig em pod eros os apoios exte
rnos (com o a ajud a mac iça dos qua nto a qu a d o m uro de Berlim e o esm o .
., . . "d de qual itati vam ente supe nor,
EUA), mes mo qua ndo são passageiros SoV1et1ca. A pos1. ça·o do dóla r -e a atrahv1 a ,
e perf eita men te oportunistas, e so- f cilid ades de tran saça- o do mer -
bret udo intervenç ões ativa s, com o foi das poss ibili dade s de colo caça o ou d~
a d
o caso na Coréia do Sut
cad o financeiro ame ncan . em re laça o a to os os outr os• inclusive Lon·
o, d uaçã o entr e a real idad e
dres , rest abel ecer am os a licer ces do
de uma a eq
.
A civ iliz açã o da mu ndi aliz açã o ado pela s finanças, e o luga r ocu -
do cap1. ta1·ismo, ·'
Iª nov ame nte mm
. ente com O aum ento do des-
pad a pelos EUA. Isso tudo oco rreu JUun~
dams (ass im com o a do Japã o) e
Em seu livro Glo bal Drea ms, R.
Bam et e J. Cav anna gh (1994) es- • · dos Esta dos m 0
níve l entr e a potenci a . Laidi 1993). As raízes do "afrouxa
boç am uma anál ise da civilizaç ão do sua capa cida de de dar sent1d~ (Z. -
capi talis mo mun dial izad o. É a civi- . , "d de - com bina da com a
liza ção do "ba zar cult ural mun dial dial esta o na mca paci ª
izad o" e do "cen tro com erci al men to" da orde m mun
mun dial izad o" (glo bal sho ppin g mal ·p osta não apen as aos prob le-
[). Isto é cert ame nte imp orta nte, recu sa - d 0 G 7 de ofer ecer a men or res , •
para com pree nde r cert os aspe ctos • . e soci al e da polarizaçao,
da mun dial izaç ão; med ir o alca nce mas do dese mpr ego , da mis éria econ om1 ca
da tran sfor maç ão, ao long o dos ano • fin ;ras que aten tam à sua
s 80, das c ham ada s indústrias de mas tam bém às prof und as pe rtur baço • .
es ance .. ,
"míd ia" em cam po imp orta ntíss imo ·t listas O vazio dos coro u-
da valorização do capi tal (prim eiro posi ção de gov erno d e gran des pote ncia s cap1 a ·
para os capitais ame rica nos, depo is . fin . das reuniões anua is do G7 nao • uad ra mai s em ne-
para os grup os japo nese s). Ao se mea dos alS se enq
orga niza rem para prcx:luzir mer cado rias nhu ma perspectiva de dom inaç ão mun •a1 tá I
cad a vez mai s padr oniz adas , sob di es ve .
form a de telen ovel as, filmes da nova
gera ção hollywoodiana, vídeos, dis-
cos e fitas mus icai s, e para distrihuí-
los em esca la plan etár id, expl oran do A "Gr and e Transformaça- o ,,, e,•nqü ent a ano s dep ois
as nov as tecn olog ias de tele com unic
açõe s por saté lite e por calx>, essa s
indústrias tiveram, ao mes mo tem po,
um pape l imp orta nte em refo rçar . livro que teve cons ider ável in-
Em \944 , Karl Polanyi pub lico u ,um
d
fluê ncia e cuja ress onan• ·a aind a e gran e. Pen sado r de gran de es-
8. Sena m;us correio dizer "integrado qu<1n c1 que dife riam das de Marx
to ao preç o de venda da força d e trabalho". tatu ra inte lectu al, man eja•1 do ferr ame t
n as
40 41
(essencialmente as da ant I .
contra o marxis~o I ropo ogta) e procurando escrever. se não mercado e do lucro capitalista. Produtividade é a palavra-chave, m esmo
. ' pe o menos fora de t 1
sistema econômico c ·1 1· s e, e e tratava da gênese do se a CEE tem de organizar áreas sem cultivo e desertificadas para abrir
ap1 a ista. Para Polan . tr
desmistificar as idéias f d . .YI, ata,·a-se igualmente de o mercado aos concorrentes não-europeus, enquanto milhões de seres
un amentais do rb al.
caráter "natural" dado ' er; ismo, particularmente o humanos não comem à vontade nos países mais ricos, e outros milhões
' por toda a elernid d d
ser "natural". o sistema . a e, o mercado. Longe de de seres humanos passam fome por toda parte do mundo. Por sua vez,
. que conseguira se ·
pnmeiras décadas do - l impor no decorrer das os terrenos urbanos ou urbanizáveis escaparam à municipalização ou
. , . secu o XIX foi pel - .
historia a ter a prete nsã d , o contrano, o primeiro da socialização do solo, onde haviam sido submetidos a isso durante a
o e assegurar a satist: -
elementares da humanid d . . açao das necessidades grande crise e a guerra, e são objeto de especulação desenfreada,
f, • .
era dtstmta e instaurando O d
ª e, const1tumdo a esf,
- .
• .
era econom1ca como es- tendo como conseqüência que hoje existem centenas de milhares de
omimo todo-pod d
a bstratos e impessoai d eroso os mecanismos sem-teto, mesmo nos países mais prósperos.
s e um mercado supo 1
. s amente ··auto-regulador"
Para Polam1 0 · · É verdade que a mercadoria-moeda desapareceu com o desman-
- ' naz15 mo representava
das derivações do siste N , o pro1ongamento extremado telamento do sistema de Bretton-Woods e a ''desmonetização" do ouro.
ma. o entanto seu r Mas sua substituição por uma "moeda de crédito" - que é certamente
grande esperanca No m ' J\-TO tennina com uma
• · omento em que che
con...ulsões da Segund G . gavam ao fim as grandes uma "moeda de espírito", portanto produção humana - não subtraiu
a uerra Mundial Pol .
ciar, com base no kevne .. . ' any1 acreditava poder anun- a moeda do "mercado auto-regulador". Pelo contrário, permitiu-lhe
• J s1amsmo e no "new deal" .
mecanismos da econ . d , e tambem em certos exercer, no campo financeiro, uma tirania sem igual.
. om,a e escassez d
nova epoca. Esta assisti . . . - a guerra. o começo de uma O balanço não é muito animador, mas é preciso descrever a si-
na a reapropnacao e s bord' -
pe1a sociedade. PolanVJ· • 1,. • u maçao da economia tuação como ela é. Não se trata aqui de enfeitá-la, para melhor declará-
- JU'5ava ver um esboc d
dos mecanismos do m d . o e retomada do controle la "irreversível" e assim obrigar a sociedade a concluir que só o que
erca O pela sociedade • , .
Ihe parecia particulann 1 ' nos três mve1s-chave onde resta a fazer é "adaptar-se". Pelo contrário, este livro dirige-se àqueles
en e urgente "derrubar a fi •
trabalho humano, os usos d d . cçao da mercadoria": o cujo primeiro reflexo não é o de submeter-se à ordem "tal como é'', e
C .. a os a lena e, por fim, a moeda.
sim procurar compreendê-la e discutir sobre ela, para eventualmente
mquenta anos depois, estamos nos a ,
Polanyi. Por enquanto o tri ' " n!Jpodas das esperanças de esboçar caminhos diferentes dos que nos foram impostos. Esta função
• ' un,o da mercadoriza · " · - critica do intelectual parece-nos hoje mais necessária do que nunca.
que "1arx chamava de "feti h ' çao ' isto e, daquilo
c ismo da mercado · " -
p Jeto do que jamais ro· na , e total, mais com-
1 em qualquer mome t d
humano é, mais do que nun n o o passado. O trabalho Organização deste livro
te,·e seu valor venal des,,al ca, uma mercadoria a I . d
onza. d o pelo " '. qua , . am a por cima
capacidade de negocia - d progresso tecnico" e assistiu à
• çao e seus detentores d' · • A noção de internacionalização tem caráter genérico. Inclui o
diante das empresas o d . . , immu1r cada vez mais comércio exterior, o investimento externo direto e os fluxos internacio-
u os md1v1duos abast d ,
prar o seu uso As 1 . _ a os, suscetiveis de com-
. egis1acoes em tomo do nais do capital que mantém a forma monetária. Hoje pode até ser am-
salariado, que haviam id . . emprego do trabalho as- pliada, passando a incluir "as entradas e saídas de tecnologias, seja
• s o estabelecidas gracas ,
e as ameacas de revoJ . . . as grandes lulas sociais incorporadas aos equipamentos, seja tra·n smitidas e adquiridas de
. • uçao SOCial, voaram pelos .
Übera.is se impacientam de . ares, e as ideologias neo- forma intangível; os movimentos internacionais de pessoal qualificado
que ainda restem alguns cacos dei
o as. e os fhLxos de informações e dados transfronteiras" (OCDE, 1992, p.
uso da terra. bem como de
renováve·1s todos os recursos naturais. 232). Não se trata de contrapor as diferentes formas de internacionali-
ou não. foi st , b me1·d i o ainda mais estreitamente às leis do zação, e menos ainda de excluir esta ou aquela, mas simplesmente de
.J2
pensá-las como um todo, estabelecendo entre elas uma hierarquia, fun-
damentada tanto na análise, como nos fatos o bserváveis e mensuráveis.
Aqui, considera-se que o investimento leva a melhor sobre o intercâm-
bio comercial, que só será examinado em detalhe depois da análise do
IED e das operações das multinacionais.
Os fundamentos teóricos desta opção são explicados mais adiante.
Fm conseqüência, a análise parte do IED, prossegue com o estudo da
organização e da estratégia dos grupos, a nível industrial (capítulos 3, 4
e S) e também tecnológico (capítulos 6 e 7). O capítulo 8 trata do IED
nos serviços, cuja problemática, ao mesmo te m po próxima ao setor de
manufaturas e rivalizando com e le, está marcada também por aspectos
originais de muitos serviços. Vamos considerar depois a estrutura
mundial de comércio (capítulo 9), que assim ganha sensivelmente em
legibilidade. Por fim, os dois capítulos (IO e 11) dedicados à globali-
zação financeira procuram dar conta do movimento específico, cada
vez mais antagônico à indústria, do capital que mantém a forma
monetária. Por fim, no último capítulo propomos uma interpretação de
conjunto do momento atual da economia mundial, avançando a
hipótese de um processo acumulativo de efeito depressivo de longo
prazo.

capítulo 2

O ·nvestimento externo direto (IED):


;resença, aspectos qualitativos e
tendências recentes

. . ra ão internacional, o fED
"Como modafldade de mleg ç s,·cua"·ão taluez com-
, r: d rlecolagem: uma "
esta na ,ase e , . undiol em fins da década de
parável à do comercw m
1940. " .
. Gl bal Companies and Pr;/Jlic Pof1cy:
De
TheAnne
GrowmgJ_uhucs'h alinae
o
of Foreign Direcl lrwestment,
Londres, 1990
44
1ED e especializações comerciais

A rit,1ç~o <J.llf' sPrvf' rlf' Ppígr,1fe ô este capítulo expressa sobretudo


uma tomada de consciência tardia. O mesmo vale, em parte, para cer-
tos trabalhos da OCDE e da UNCTAD. Não se deve confundir a novidade
da tomada de consciência da importância do IEO e dos IEDs, com novi-
dade do próprio fenômeno. Na verdade, o papel cumprido pelos inves-
timentos estrangeiros, desde o fLm do século XIX, na determinação das
especializações comerciais dos vários países ou regiões do mundo sem-
pre foi desprezado ou fortemente subestimado.
O lugar atuahnente ocupado por muitos "países em desenvolvimento"
no sistema mundial de intercâmbio não é resultado de uma dotação fato-
rial natural, que de alguma maneira tenha caído do céu. Em grande
número de casos, sua situação de produtor e exportador de uma ou duas
matérias-primas básicas, de mineração ou agricultura, freqüentemente com
demanda cada vez menor pelos países industrializados, é resultado de an-
tigos investimentos diretos, feitos a partir dos anos 1880 por administrações
ou empresas estrangeiras. Eram gerahnente as do país colonizador ou,
quando se tratava de relações semicoloniais, da potência tutelar na "zona
de influência" em objeto. Vale lembrar que as empresas brytânicas tinham
alcançado, desde fins do século XIX, um grau de mundialização aproxi-
madamente igual ao que tiveram nos anos 1960-1970, antes do novo
deslanche dos investimentos internacionais. Quanto aos Estados Unidos, W.
Andreff calculou que, em relação ao PNB, o volume dos investimentos es-
trangeiros alcançara 7,3% em 1914, nível que voltou a atingir em 1966. 1 A
maior parte desses investimentos visava m atérias-primas básicas, então in-
dispensáveis para o florescimento da indústria americana

1. Vff Andreíí(1976) sobre os EUA e Farneni (1994) sobre o Reino Unido. Mid1alct (1968)
tmtou estimar a parte de investimentos diretos nas exportações de upital da França.

47
Ao silenciar sobre o papel das exportações de capital (fator postu-
lado como imóvel) na determinação das especializações, a teoria domi- finição fica um pouco insignificante ao lado da de Trotsky: "(...) pode-
nante, de origem ricardiana e sobretudo neoclássica, revela seus mos definir a economia mundial como um sistema de relações de pro-
fundamentos ideológicos. dução e de relações de troca, abrangendo o mundo todo".

A obra clássica de Lenin sobre o imperialismo (1916) foi e continua


Obras críticas precursoras
sendo, sem dúvida, o mais lido estudo marxista sobre as questões rela-
tivas à caracterização da fase do capitalismo que se abriu por volta de
As obras teóricas críticas realmente precursoras remontam ao
1900, bem como sobre a internacionalização nessa época. Ele faz a sín-
~omeço deste século. São os estudos de J. A. Hobson ( 1902) sobre 0
tese de um conjunto de caracteristicas sobre as quais quase todos os
imperialismo britânico, com sua análise da posição central ocupada
teóricos do imperialismo, acima citados, estão de acordo, embora um
pelas finanças. São, sobretudo, os trabalhos dos teóricos que eram, ao
ou outro possa privilegiar um dos aspectos ou atribuir-lhe um sentido
mesm~ tempo, militantes políticos de diversas correntes da Segunda Jn-
que lhe é próprio. A primeira dessas características refere-se à concen-
ternac1onal, que contribuíram para a análise do imperialismo. Este era
tracão e centralização do capital industrial e à formação, em particular
entendido como teoria global do funcionamento da economia mundial
na -Alemanha e nos EUA, de grandes grupos industriais, designados sob
e~ determinado estágio de desenvolvimento do capitalismo, cuja
o nome genérico de "monopólios". A segunda caracteristica diz respeito
g~nese estaria ao nível dos mecanismos endógenos às relações de pro-
a análogo movimento de concentração e centralização do capital
priedade e de produção capitalistas, bem como do movimento de acu-
monetário, que se verificou (de forma desigual, conforme os países) na
mulação interna nos países capitalistas avançados. Com efeito, Rosa
Luxemburgo, Trotsky, Hilferding, Bukhárin e Lenin concordam num área dos bancos, tendo como um de seus efeitos o nascimento do capi-
tal financeiro, analisado por Hilferding e por Lenin.
ponto metodológico fundamental: a unidade da economia mundial no
sentido de _uma integração cada vez mais estreita de todas as suas ~ar- A característica seguinte diz respeito à importância adquirida pela
tes_' num ~1st~ma de relações moldado pelo capital e dominado pelos exportação de capitais, em contraposição às exportações de mer-
patses capitalistas centrais. Quando Trotsky escreve, em seu prefácio de cadorias, e que têm como efeito desencadear, à escala das relações
1930 à Revolução Permanente, que "o marxismo deriva da economia entre países, certo número de mecanismos de centralização interna-
mundial, considerada, não como simples somatóda de suas unidades cional do valor e da riqueza, em beneficio dos países exportadores de
nacionais, e sim como uma poderosa realidade independente, criada capital. Aqui, cada autor privilegia tal ou qual mecanismo. A análise de
pela divis~o internacional do trabalho e pelo mercado mundial, 0 qual, Lenin não é muito precisa. Ele ressalta, diversas vezes, que os rendi-
na nossa epoca, domina todos os mercados nacionais", ele está apenas mentos centralizados são, com freqüência, rendimentos rentistas, nas-
reafumando perante Stálin (e perante Bukhárin, então aliado deste) 0 cidos de empréstimos financeiros (como na análise de Hobson) e que
que acredita ser uma afirmação teórica comum e irreversível. A têm acentuado caráter parasitário. Mas, em outras passagens de sua
"poderosa realidade independente" não se refere unicamente à esfera obra, Lenin diz que a exportação de capitais permite um desen-
do in'.ercâmbio comercial ("a divisão internacional do trabalho"), mas volvimento capitalista acelerado dos países aonde se dirigem, o que
lambem ao movimento do capital produtivo de valor e de mais-valia pressupõe que tais capitais assumam a forma de capitais investidos na
que se deslocalizou e internacionalizou, bem como, é claro, aos mer~ produção. Rosa Luxemburgo (1912) estuda os mecanismos de centrali-
cados onde se move o capital monetário concentrado. Embora Buk- zação da riqueza, estabelecidos em proveito dos consórcios financeiros,
hárin comece seu livro A economia mundial e o imperialismo (1915) no quadro de empréstimos aos Estados, destinados a financiar grandes
com um capítulo sobre o "conceito de economia mundial". sua de- investimentos de infra-estrutura (ferrovias, portos) em países semicolo-
48
niais. Ela é também a primeira a estabelecer o lugar do setor armamen-

49
tista em. relação à expansão mundial do capital e às suas contradições. A publicação desses estudos interessantes antecedeu por pouco o
A análise de Hilferding (1910), sobre os mecanismos de exportação de
reflorescimento do neoliberalismo e da teoria neoclássica, bem como
capitais e de centralização do valor, é mais um aprofundamento de to-
a sustentação cada vez maior na formalização matemática. Isso fez com
das as outras. Ele é o primeiro a examinar, de modo explicito, a dimen-
que seus autores pudessem ser facilmente marginalizados e obrigados
são da "exportação de valor destinado a produzir mais-valia no exterior",
a juntar-se às fileiras do que Keynes chamava de "o valente exército
ou seja, o que atualmente se entende por IED. O caráter desigual do
dos economistas heréticos". Eles tiveram influência duradoura, sobre-
desenvolvimento resultante da expansão internacional do capitalismo é
tudo entre autores (franceses e suJ-americanos) de inspiração marxista.
ressaltado por todos os teóricos, mas é Trotsky quem leva mais longe a
o tri~nfo da ortodoxia, no começo dos anos 70, permitiu à teoria tradi-
análise, com sua teoria do "desenvoh,imento desigual e combinado",
cional continuar ensinando aos estudantes que os vínculos de interde-
onde delineia os efeitos da inserção internacional, sob a égide do capital
pendência entre países passam sobretudo pelo comércio, com o IED e
financeiro, dos países capitalistas atrasados e das colônias.2
as multinacionais desempenhando, quando muito, um papel se-
cundário. O salto do IED nos anos 80 levou a questionar essa interpre-
Trabalhos teóricos contemporâneos tação, mas, muitas vezes, substituindo-a por uma visão de mundo onde
só contaria a capacidade dos países de se tomarem "atrativos" para o
O rápido incremento dos investimentos dos EUA e a expansão investimento estrangeiro.
mundial das muJtinacionais americanas a partir de fins dos anos 50 sus-
citaram, ao longo da década seguinte, intensas discussões teóricas. As três modalidades de internacionalização e
Uma das questões já dizia respeito à natureza mais coercitiva das in-
o ciclo diferenciado do capital
terdependências criadas pelos IEDs e pela presença das multinacionais,
em lugar dos vínculos criados pelo intercâmbio comercial. Essa
Já antes situamos este nosso trabalho entre os que surgem como
evolução originou também um conjunto de trabalhos importantes, em
particular os de M Byé e de F. Perroux, na França, e de S. Hymer e de prolongamento das obras dos anos 70 sobre a internacionalização, d~
R. Vernon, nos Estados Unidos. No caso francês, esses estudos
capital, e indicamos que C.-A. Michalet e M Beaud parecem ser os um-
propuseram instrumentos conceituais para pensar as relações entre o cos cada um à sua maneira, que ainda se reivindicam de uma corrente
"espaço das nações" e o "espaço" próprio da grande companhia ou qu; outrora reunia numerosos professores, pesquisadores e militantes
unidade "interterritorial". Os trabalhos de Vemon estabeleciam, já em poüticos.
1966, a necessidade de criar uma teoria unificada dos investimentos ex- A contribuicão relevante de C.-A Michalet foi pesquisar uma lógica
ternos e do comércio internacional, e propunham um quadro prelimi- que unifique as· diferentes formas de intemacionalizaç!o, qu~ P:rmita
nar para isso, enquanto as obras de Hymer e sua corrente mostravam pensar essa internacionalização nas suas três dimens~s mais ~por-
a ligação existente entre a expansão internacional das grandes compa- tantes: 0 intercâmbio comercial, o investimento produhvo no extenor e
nhias e o grau de concentração oligopolista dos setores a que perten- os fluxos de capital monetário, ou capital financeiro. Para Michalet,
ciam. como anteriormente para C. Palloi.x, as relações entre essas três mo-
dalidades de internacionalização devem ser buscadas ao nível das três
formas ou "ciclos" da movimentação do capital, defmidos por Marx: o
2. Estas observações não representam nem sequer um €5boço do livro que falta escrever so-
bre a atualidade dos aportes da leoria clássica do impe-ialismo em relação à etapa atual. Re- do capital mercantil; o do capital produtor de valor e de m~is-\':3~ia; o
sal1am unicamente os aspcc1os que lêm ocupado o maior lugar no "subconsciente teórico" do capital monetário ou capital-dinheiro. Essa abordag~m e u~lizad~
do autor ao escrever este lrabalho.
por Michalet para definir os períodos do movimento da mtemactonaJ1-
50
51
dus trial, deixando a este uma única alternativa: ou acentuar o
~ação, e_m particular para situar o momento quando se passa à
movimento no sentido de profunda interpenetração com o capital
econ~rrua mundial" (Michalet, 1985, p. 309). "No paradigma tradicional,
monetário, ou submeter-se às exigências deste.
o capital produtivo fica colocado por fora da mundializacão do - l
A tra f - • capi1a .
. ~s o~açao da economia internacional em economia mundial
coi~ode Justamente com o fim dessa dicotomia. A mundiatizacão do A economia mundial como
capital produtivo torna-se parte integrante da mundializacão d~ ·_ sistema hierarquizado politicamente
tal " M . - capi
• ais exatamente, torna-se o centro dela.
É a_ partir ~o movimento do capital produtivo que se deve pensar À abordagem de M. Beaud não se situa no mesmo plano da de
as_ re~aç~es reciprocas que se estabelecem entre as três modalidades Michalet, mas, mesmo assim, é complementar a esta, ao dar lugar às
p~nc~pa1s da internacionalização. É esse movimento que comanda a relações políticas entre os Estados. Para M. Beaud, o conceito de
cnaçao de ~alar e de riqueza. É evidente que produção e circulação economia mundial pressupõe que se saiba "articular economia - as
(ou_yroctuçao e comercialização) estão estreitamente ligadas, e, con- realidades econômicas em sua diversidade e suas inúmeras implan-
sequentemente, a produção e o comércio exterior. Mas a análise ganha tações - e capitalismo - forma particular da atividade econômica, ca-
em clareza, quaü~ativarnente, quando se tem o cuidado de distinguir a paz de impulsionar uma lógica de ampliação de produção, que tem sua
esfera _da produçao daquela da circulação. e de estabelecer entre elas dinâmica própria". Beaud considera que a economia mundial "está na
urna hierarquia epistemológica isenta de ambigüidade. confluência de duas lógicas de reprodução: a da humanidade, em seus
. U~a ~itura a~enta d~ Mic~ale~ mostra que ele coloca dois modelos. múltiplos grupos humanos, e a do capitalismo ( em si mesma una e
0
. p~e~o ~ o de mtemac1onalizaçao do ciclo de capita~ entendido como múltipla)" (Beaud. 1987, p. 25).
ciclo umco, integrando os ciclos de capital mercanW e capital monet - · Essa formulação superestima a capacidade de resistência das for-
como • ano
mo~~ntos subordmados da ascensão do capital produtivo. Na mas econômicas não-capitalistas. Ela atenua o caráter "totalitário·• e
s:gunda hipotese, a internacionalização de cada um dos três ciclos, con- "totalizante" do modo de produção capitalista, que está sempre subor-
siderados separadamente, reveste-se de uma forma particular. dinando (muitas vezes, simplesmente destruindo) o conjunto das for-
, ?~ nossa parte, situamo-nos exclusivamente na segunda hipótese. mas e esferas de atividade social que ainda escapam à lógica da
E a -uruca que rermite dar conta de certas dimensões essenciais da "mercadorização" e à subordinação às operações do capital. Em sua
realidade atual. O mesmo vale para a importância do capital concen- apresentação do sistema nacionaVinternacionaVmultinacionaVmundial
trado n~ grande_ distribuição, procurando reafirmar a pretensa hierarquizado, Beaud estabelece uma ordem de prioridade diferente
~uto_nom1a do capital mercantil, o que permite compreender melhor as da nossa. Apesar dos trabalhos de Michalet e de dados numéricos bas-
nvalidades agudas que ocorrem entre as companhias industriais e tante claros sobre o IED e as multinacionais, ele prefere começar pelo
de distribuição. Vale sobretudo para o movimento do capital monetári:s comércio exterior, ao passo que este só pode ser compreendido após
que se ergue como força plenamente autônoma diante do capital in~ a análise dos investimentos. Não obstante , o ponto forte dos traba-
lhos de M. Beaud consiste em enfatizar que os Estados existem, em
3. P<1rece ser tilmbérn a posiç.ão mais próxima d('• Marx. Ele dá numerosos excm 1
;nostrand oJ com~ uda uma, r~;is três Íor111as de capital pode- assumir sentidos dil,~::
es, s~u_nc º,,i'ls epo~-as h,stoncas ou segundo a posiç,10 econômica dos ";i ffltc-s
capital comercial sob as fom1as mercadoria e dinheiro); outras vezes, pelo contrário,
pode exprimir o movimento "encurtado" l) - D' do capital monetário dP empréstimo,
econom•c~s qlJ() a •~puls,onam. A<;sim (ver capítulos 10 e 11), crn ccrtosgc.aso~ ·•
que é um capital produtor de juros, cuja "remuneração" representa uma punção so-
~I~ do c~(.>1tadl monet,mo pode corresponder à bc,a fin.:ili7.=tçao de um moviment; deci
0
bre o lucro industrial, que se comporta como Ci'lpital de agiotagem sempre que isso
'.ª ~nnç_ao .º cap,tal, p~ssanrlo pda produção (D_ M ⇒ p ⇒ M' _ o·, onde O = lhe seja permitido pelas re laçocs sociais.
capt1al-d111he1ro, M = cap11al-mcrcadoria investido, p = processo produrivo, M' _ D'=

52 53
particular os das grandes potências, e que a economia mundial é um
conjunto fortemente hierarquizado a nível político, bem como "Por último" [e talvez mais importante}, diz Bourguinat, "existe um
econômico, de modo que, a cada etapa, é a partir das "economias na- componente estratégico evidente na decisão de inveslir_nento da com-
cionais dominantes" que as tendências de funcionamento da economia panhia. Não somente seu horizonte é ~ensiv~lment~ m~JS ~mplo, c_o ~:
capitalista vão atingir as "economias nacionais dominadas". Estas co- também as motivações subjacentes sao muito mais ncas, (...) .ª td~
nhecerão as conseqüências juntamente com os efeitos da dominação de penetração, seja para depois esvaziar os concorrentes .1oca1s: ~eJ~
política à qual estão submetidas. para 'sugar' as tecnologias locais, faz parte desse aspecto estrateg1co
<.lo investimento direto e, geralmente, está i~erido num process~ com-
plexo de tentar antecipar as ações e reaçoes dos concorre~tes . Res-
Outros aspectos qualitativos do IED salte-se O uso do termo "sugar" (siphonner), pouco habitual entre
eco nomistas acadêmicos. Esse termo remete à existência, no contexto
O crescimento do IED adquiriu tal magnitude na década de 1980 de estruturas de oferta concentradas, de mecanismos ~e aprop~aça · -o e
que a importância do investimento na constituição das interdependên- de centralização, pelas companhias mais fortes, de a~vos ou nqu~zas
cias entre países tomou-se (ou pareceu tomar-se) perceptível até nas produzidos por agentes econômicos (além d~ _assalanados, cI_aro), ~o
estatísticas. Por essa razão, o papel do IED começou a se impor à aso pequenas empresas industriais, comerc1a1s ou de pesqwsa, cuia
e ' d~ .
atenção de economistas que haviam preferido ignorar a sua existência. existência é reconhecida por poucos autores aca em1cos.
Os dados sobre o IED ainda são de qualidade muito inferior à das es-
tatísticas de comércio exterior. Eles só permitem captar, por assim Investimentos diretos e investimentos
dizer, a "ponta do iceberg".
de carteira nos anos 80
O papel desempenhado pelo investimento internacional mostra-se
ainda mais significativo quando se consideram as dimensões qualitati- o caráter insatisfatório dos dados disponíveis sobre os investime~-
vas do IED, bem como seus traços característicos, em comparação aos los internacionais decorre diretamente de alguns dos elementos e~f~tt-
do comércio. H. Bourguinat deu muita atenção a explicar em que o zados no texto de Bourguinat, em particular o componente es~ateg1co
investimento externo direto "tem uma natureza totalmente específica, e as formas de poder econômico envolvidas no investimento d1reto.
em relação ao simples intercâmbio de bens e serviços" (1992, p. 115). Segundo a definição adotada pelo FMI em 1977, e que também serve
Ele encontrou pelo mens quatro razões importantes: de fundamento aos princípios diretivos da OCDE para cole~ de dad~s es-
Em primeiro lugar, diferentemente do comércio exterior, o IEO tatísticos nesse campo (ver quadro à página 50), o IID "designa um mv~-
"não tem uma natureza de liquidez imediata (pagamento à vista) ou limento que visa a adquirir um interesse duradouro em uma empre~ c~Ja
diferida ( crédito comercial)". Não se reduz a uma transação pontual. ,
exp,oraçao- se dá em outro país que não o do investidor, sendo o obJetivo
e ,, L
Pelo contrário, sua segunda característica é introduzir uma "dimen- deste último influir efetivamente na gestão da empresa em ques ao .
são intertemporal" de grande importância, pois "a decisão de im- ·
Batsc h (1993) lembrou, recentemente, a tmpo · d a noça-o de "multi-
rtâneia.
plantação dá origem a fluxos (produção, comércio, repatriação de plicador de influência", que !lasce das participaçõe~ em casca!ª• per-
lucros) que se estendem, necessariamente, por vários longos perío- mitindo à companhia central, organizada como holdmg (ver capitulo 3),
dos". A terceira particularidade é "implicar transferências de direitos controlar uma empresa com uma participação muito reduzida.
patrimoniais e, portanto, de poder econômico, sem medida comum Observem-se as expressões-chave utilizadas na definição do FMI: s~-
à simples exportação". tam aos olhos sua dimensão qualitativa e a dificuldade _de '._Densuraçao
decorrente. Elas explicam a insuficiência de qualquer publicaçao de dados
54

55
---- -
lnves_timentos estra ngeiro; -princip ais de finições 1 bancos centrais dentro das limitações de seus recursos materiais e hu-
O,; mves11menI0s <'strJngei ros d • j manos, que se baseia a maioria das séries estatísticas, em particula r as
vestimentos dircros ou ! . . ro c>m ser erNu.1dos sol> íonna d<' in- 1 de caráter compara tivo entre países. A única verdadeira exceção são os
e<> investimentos "de cartcir.i"
trnbora c~sa distinçt!o se·íl às vc .,, . . j dados publicad os a cada cinco anos pelos Estados Unidos, após levan-
1uríd1c.i~ ou <'St,llíst1cas ro ts'd /• . um ~es dr!tcd, por razões cont.íbeis

• < , r I era-se I m·c.'Sl,m<'nto t
º' es r,1_nge1ro como m- 1 tamento detalhad o junto às empresas, tanto matrizes como filiais.
l'~!"!''nt o direto quando o investidor dP .
dtnM1as ou do direito d e vor
<1rb11rário, íoi adO(ado porque
1rmento .i longo prazo, p< rmir,mJo
·
~:! lem 1O'º ou m;i,s d,1.S ações or-
numa <'mpres.i . l:sse cri tério. <>ml>ora 1
•ma-se, que tal pílrtIc:,paç
:
· ·
dO ~1,1 um rn~es-
Para saber se há "interesse duradou ro" e "controle da gestão", se-
ria preciso poder empreen der levantam entos detalhad os junto às com-
panhias, matrizes e também filiais. Para isso, seria preciso dispor dos
1 so-
1 b rP as dec-is&•s de ge~til" d ' seu propnet,m o exerc:c-r rnrluê11c1a
. · , · '" d <'ll1 /UPS.1. '
m eios materiai s, e sobretud o da autorida de política requerid a. Com
l ·
J{I
.
11111 mvcsIImc nto = Ird n A·,,0 · - •
'r-"' g" •· m 1enor .:i 1Oº'·0 ser,,< conta b, 1.rzado como
.d
mi·est,m(>nlO d<> c.arteir.•
1 «. , onsi er,1-se que 0:, · . fd
rmes • ores de carteira nJo efeito, as informaç ões necessárias para avaliar corretam ente o controle
exercem inlluênc,.i sobre I g~•. d e um.i flm1;i
"C · ' c.-,,c10 cJ I l 1ua1 possuem ,tçücs. de wna firma sobre outra alentam ao "sigilo empresarial", ainda sacros-
1 .artPir,1 de inve\tllncn
.
to!>"
e srgna o eOllJtrnto dos• de' x· ·t b
d,.· .
1 ap11caçÕ<>s íinanc:C'ircls sob ionn~ d . • . · 1 >s1 os <lncários '--' dcl5
e t1Iu1os publ1cos 011 pri\ íldos santo na maioria dos países. Para contorna r essa dificulda de, o FMI e
0 s I1uxos de• lllV<'Slimento direto 1 . ' ·
1 a OCDE fizeram adotar, pelas administ rações dos bancos centrais dos
1 presentam a som,I dos seguintes <ilern~ni~,~~ quer que se1a seu destino, re-
países-m embros, uma série de convenç ões relativas a um patamar,
l • aportes líquidos de e apitai /X'I
pra c.Jc, ac;õPS ou <1uotas l .
· ' d .
d o lll\tw,t1 or dir<'to, sob fonna de com-
. • • umento e cap1líll ou e· ;\ d
1
j medido em participa ção no capital, a partir do qual, com base nos con-
• en,présiim os líquidos inrluin l ' .. . n iç o e empresas, hecimentos atuais de administ ração de empresas, pode-se estimar qe
1
lan1cntos ie1tos pc>la matri,, ; sua ri l~a~- empr t>sl1mos d curto pr«lo e adian- haja controle de uma firma por outra. Esse patamar é de 10% (ver
1
• lucr~ n,io distribuíd os (r<'111vcs;idos) quadro), mas todos os países ainda estão longe de aplicar essas con-
. l!m,l fmna ,\ é considera da li/ia/ de um 1 ··
o d1te110 de indict1r ou destitu· . . • llrm,i B, se ,1 firma R 1,ver 1 venções. Muitos países ainda fornecem dados sobre o IED utilizando um
.idministr,1ção da íinna A ir a m~1ona. cios membros do conselho de 1
patamar de 20% do capital, quando não, em certos casos, de 50%! ·
de seus ac:ionist,1s. • ou se possuir mais da metade do direito d e voto j
I T. Hatzichro noglou, da Di\isão de Ciência, Tecnologia e Indústria da
Uma íinnd A é uma firma fi/iad~ h

menos d e 50% e.lo direito de t d < a uma firma B. se estd última possuir
da p · · OCDE, elaborou uma lista das carências graves de que sofrem as estatís-
• vo o os acionisras mne,ra, mas partrcipar
ticas sobre IED (OCDE, 199-t). Independentemen te da ausênc ia de um
ativamen te da gCSldO da íim A !: •
a B, mesmo que ,1 r1rrnt1 B possua
'ª · su sera sempre cons·
d
1d d
· era a como íih ada 1
que ela cxe rc,:a poder ~íetivo ~a g~::1os d e-~ 0% do direito de voto, dcsde patamar comum, os problemas mais imix>rtantes decorrem de que:
u111.i íimM. ,.\ não />ode ser con ··d dc10 a r,rma A. (Nos Estados Unidos j • a contabili dade, em termos de fluxos, não leva em conta os in-
~
51 era a como riliada , •· •
.. uma nrma B se esta 1
1 n.,o possuir pelo lll"nos 1'''" v 'º
d0 d .
IrP110 de voto dd ,··irma n, mesmo que vestimentos, cada vez mais numeros os, que são financiad os através do
exerça poder de dPCisão re , 1 b ..
1 • · " so m c1 r1m1a A.)
. Um,1 rirma constitui um,i holdrn , ua l mercado de capitais do país receptor ,
1 ter mves111nenros ou créduos d 8 9. ndo sua funçJo consiste em de- • certas firmas podem ser controlad as majorita riamente por inves-
• El e outras 11rmas no mesmo ou num terceiro
íi , .
pd1s. a 6 considNa d,t como sociedade
"ª1 nce,ra e, em certos países 1 tidores estrangeiros, sem que isso apareça nos dados, quando cada
1 pode c?mpregar ap0nas um pequeno .
manter os livros ern d,a Freqi·· t numero < e pessoas, o necessJrio par~
1 qual detém uma participação inferior a 10%;
h kt •. 1<'11 emente a Pscollia g ' í" d
o mgs depende das vamagens fiscais ~fe "d leogra ~ca a sede das
1 • é muito dificil conhecer o emprego final dos fluxos que transitam
1 .• . . reci ,1s pc os paIses receptores
Dc1m,c11m úe r(,r"tJrence dt::(ai/lée d . . por hofdiTtgs.
_ o_[_._1_9'J_2_. - - - -
_1 _oc es inves11sscmems direcrs ín(Nnation aux, 1

relalh·os a flwms fi • _ _ _ _ _ _ _ __ _ __ _j

nanceiros, a menos que sejam . 4. f o caso, por exemplo, do Reino Unido e do Cana<l:i, país H"<"eplor que tem uma
cados os elementos qualitativ os envolvido s d fi . ~re,11ame nte verifi- pr~ença estr;ingeira muito con~1deráv el, cujas estiltisticas publicadas subestimam
-
da OCDE. Ora, , na . e uuçao do FMI ou nos muito seriamente o lugar ocupado na economia pelo~ investimentos diretos provenien
princípios diretivos 1~ do exterior (OCDf:, 19941.
e sobre taJS dados, coletados pelos
56 57
Po r tod as essas razõe
s, os da do s nu mé ric os Gráfico .
so bre IED rep re-
sentam, qu an do mu ito . t ext ern os 1dir 1,3 do PIB do com
ércio
, indicadores de nível
e de tendência. Não obs- Evo lur io do s investim
r-. 1 t e n os , d
etos ,
OC DE a pre, ços co rre ntes
tante, da da a importân intemact0n a 0 tal2 ,3 e da FBCF na are a
ci1t do lED. qu em qu t!r
pe
a ,
sé rio nã o deveria se va sq uis ar a realidade a
ler desse pre tex to pa ra
no s mo de los de ins erç nã o inc lui r tais da do s
ão dos países na ec on
om ia mu nd ial .
Os Gráficos I e 2 foram
elaborados pe la OCDE
de do is anos. Eles tra du , co m um int erv alo
zem a me lho ria ob tid a
dados, graças aos traba na co let a e análise do s
lhos dos últ im os anos.
tagem de co bri r um pe O Gráfico I tem a van-
río do ma ior e de mo str
do cre sci me nto do IEO ar o caráter espetacular
a pa rtir de 1985. O Gr
ma is refinada, ma s sob áfi co 2 tra z um a análise
re um pe río do ma is cu
cente. Esse gráfico co mp rto , e tam bé m ma is re-
ort a, em pa rtic ula r, um
em inv es tim en tos de a de co mp os içã o do lED
carteira (participações
10%, ma s tam bé m, e até inf eri ore s ao pa tam ar de
pri nc ipa lm en te, co mp ras
qu e representam ativos de pacotes de ações,
financ eir os de tid os por
funçã o do s ren dim en tos seus proprietários em
nas bolsas) e em inv es
me nte dil os . O cre sci me tim en tos diretos pro pri a-
nto do IED co nti nu a se
ter câ mb io, ma s o an nd o su pe rio r ao do in-
da me nto da s du as cu
dis tân cia en tre elas são rva s e a am pli lud e da
sensivelmente dif ere nte
s en tre os do is gráficos.
O Gr áfi co 2 tam bé m Gráfico 2
. . •
mo vim en to do IED e a
ev ide nc ia a ex ist ên cia
de vín cul os entre o T tal da OCDE: evo1uça~ o dos oom po nen tes prmc1pa1s
globalização financeira, o •
da s tra nsaçõe s int ern aao nal. •
capítulos lO e 11. A cur de qu e trataremos no s S
va significativa é a do s
É um a das numerosas investimentos de ca rte
ira ..
expressões nu mé ric as 1 1 '
do pe so ass um ido pe '
po sse de ativos fin an
ce iro s, aq ui, títulos rel
ativos à pro pri ed ad e
la ,' \
1
I '
1,1vo,l ...f.-:O to
co mp an hia s (na ind úst das
são ad qu irid os na persp
ria, serviços ou se tor ba
nc ári o e financeiro), qu
e J
I
' \ 1
I em cart eira

ectiva de ren tab ilid ad e \ 1


tre ma me nte voláteis. im ed iat a e qu e são ex- \ I

..
,,
\ I

Em bo ra essas curvas sej


am bastante "el oq üe nte
s", elas estão lon ge
,
, ' I
I
Inve stim ento
'
de se rem suf icie nte s ' , I direto
pa ra en ten de r as relaçõ
es qu
I ' Rendimentos de
atu alm en te, en tre o IED
e os fluxos co me rci ais
e se estabelecem,
de be ns e serviços, e
I
., ,,,
.., - - '
,,. ,
,_ ,~•...... •-.
..... tnvestimentO

para de ter mi na r o peso , --- -~: ;os


de cada um na intern
ten dim en to vai ex igi r pe aci onalização. Esse en -
squisar dados qu an tita tivo Ben s
tos do s qu ais req ue rem s ma is refinados, mu i-
lev an tam en tos es pe cíf
ex em plo , no qu e diz res ico s. É o cas o, po r
peito , de ntr o do int erc
cor res po nd en te a fluxos âm bio total, à pa rcela
de bens e serviços org •: OCDE Departamento Eco
cio na is so b fon na de an izados pelas mu ltin a- fon te: , nOmíco.
int erc âm bio int rac orp ora .
tivo , be m co mo de co . d ,.,,,
sem exclusão dos fluxos int
n- • Médias anuais as exporta,.. ,._
....- - e 1mportaÇV<->, ra~ E.
58
59
tratos de sup rim ento int ern
aci ona is, de lon ga du raç ão.
os dad os disponíveis no cap Examina rem os
ítu lo 9. em ten no s de valor agr ega de co ntribuiçã o ao PIB e
do ou . à ger açã o
m tod as as eco no mi as cap•taü stas ava nça das . Ta mb ém
de em pre gos , e 1
O pa pe l pred omin an te do tem forte con tra ste com sua art ici paç ão no lED.
IED nos serviços p d um qu art o do lo-
Os se rviços. qu e rep res en_tav am ape nas cerca e
Os asp ect os par tic ula res 70 . , res po ndi am po r
da inte rna cio nal iza ção no tal do lED no co me ço da de ca da de , Ja qu ase
serviç os ser ão ob jeto do cam po do s d flux o os
capítulo 8. Aqui, qu ne mo me tad e no fim do s ano s 80 Em ten no s e servicos rep re-
des la<"ar qu e um a da s m c1is s ap en as enf ati zar e . · '
60% do tot al do s flux· os .
claras ma nif est açõ es do lug sen tavam . na me sm a ep · oc a ent re ::>!:>% e anuai:.
IED no mo vim ent o de mu ar ocu pad o pel o ,
ndi ali zaç ão dec orr e do seu
pap el pre dom i- de im-eslimen to ex temo dir eto O pro ces so de int ern aci ona liz açã o nas
nan te na int ern aci ona liz açã . . pe la \ia do IED do qu
o do s serviços. atividades de sen 1ço . de u se po rtanto, ma is e
A notável estabilid ade da s - , . . to
co ntribuiçã o do s sen iço s po r me io das exp ort aço. e s Esse mvest ime n abr ang e os lEDs con tro-
mu ndi al, tal com o apa rec ao co mé rci o . , t leq ue de "no vas formas
e no s dad os con sta nte s do • t
ciais, tem sid o ap on tad a s bal anç os com er-
lados ma jor ita nam en e, e tam bém um vas 0i de
em tod os os estud os qu e " tra tar em os no \ 3 e 8 par a as quais
se fize ram sob re a investim en to . de qu e s cap tu os , o
int ern aci ona liz açã o de sse d l bor ató rio .
set or. Em vinte ano s, de ·ço s
<,et or d e SCT Vl _ ser viu' mu ita s vez es, e a de exp enm en-
tic ipa ção total do s ser viç os 1970 a 199 1, a par -
den tro do com érc io mu nd tação.
em nad a. Essa co nst ata ção ial não a um en tou
, qu e talvez par eça sur pre
exp lic açã o. end ent e, me rec e a art e rep res en tad a pel
Co mo mo str a a Ta bela os ser viç os,
l, p . ,
O FMI po rpô s rec en tem no tot al do s inv est im . ext en or, e esp eci. a\m ent e no tável no s
en te qu e as tra nsf erê nci en tos no . J ão
(salários de tra bal had ore s
im igr ant es, royalties, dir eit
as "in vis íve is" gra nd es paí ses da O COE em par tic ula r no ap ' ap esa r de est e
os autorais, rendi- , do
me nto s de capital), qu e até
o mo me nto tê m sid o co mp ser ger alme nte cons1·de rad o co mo se n , pri ori tar iam ent e, paí s de
uta do s nas ex- . . t be
po rta çõe s e im po rta çõe s
de serviços, pas sem a ser ori gem de e mp res as ind ust na1 s. Mas a ª la ref let e sob ret ud o du as
sér ies estatísticas. 5 Ap lic exc luí dos das novas . . ·de nte o car áte r am b1g , uo
and o-s e ess e c rité rio . ver coi sas. Em pnm e1r o 1ug a r , e de for ma evt • ,
câm bio de sen iço s "re ais
" re presen ta, qu and o muito
ific a-se qu e o inter-
da no cão de se rviç . e o est ad o po uco sa ris fat óri o das estat1st1c .
as
ext eri or do s paí ses indust , 25% do com érc io • os d
rializados. dis pon íve is. Em se gu n o d lug ar de ntr o os • 1·m ite s da con fia bil ida de
•, .
Se fizermos um a dif ere nci da s est atí sti cas , a pa r r,c1• çao mm to a lt a do s inv est im en to s no s
açã o e ntr e os diversos iten pa .
"re ais ", \"erificaremos qu
e ho uv e um ret roc ess o do
s de serviços ban cos , seg uro s e seM·co s fin anc eir os. ... . um a vez , no s de pa ra-
,na1s
s ite ns de "trans- . . t o mo vim e nto do lED
por tes " e "se rvi ços gov ern
am ent ais ", um ligeiro cre mo s co m mt erc on exo• e s evi den te s ,en re e o
-
·'viagens" e um a ele vação sci me nto do ite m da glo bal iza ção fin anc eir . qu e s era ex am ina . da em ou tro s cap1tu
ma is ace ler ada do ite m a, -
Est es ab ran ge m, em par "outros serviços".
tic ula r, os ser viç os fin anc los .
cim ent o explica, qu ase qu eir os, cuj o cre s-
e po r si só, a evo luç ão de
ass im , a evo luç ão do int erc sse ite m. Me sm o
âm bio de serviç os co ntr ast
a for tem ent e com Investim en tos cruzad os e aq
tud o o qu e sab em os sob
rt! o seu cre sci me nto e o ui siç õe s/fus õe s
lug ar qu e ocu pam ,

5. Para maiores det,1lhes,


con vém consultar os dad
O cre sci me nto do l ED a o lon go da dé ca da d e l 980 est eve forte-
-
acordo com a~ nova,; nor
ma,; do íM I: Services <;ta
o~ publicados p<'la OC Df
d<' me nte ma rca do , po r um lad o pe la ele vaç ao do inv est im ent o inl em a-
tionau>., 1970-1991, Par tistiques .;ur fes échangC'~ . • trit . -
is, OC O[, 1993. mcerna-
cio nal cru zad o, po rtanto um fen om en o res o' em gra nd e me did a, a
áre a da OC DE. Po r ou tro .
ess o tem sid o do mi nad o l
60 lad o, ess e pro c pe a

61
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,uµremacia das aqulslçõcS/fusões sobre os investimentos criadores de
novas capacidades,

..j .,""' .,.,. ..,-- - ., O Gráfico 3 roi elaborado pelo Centro das Nações Unidas sobre

- M' M
o· i;i·
N
~i M'
"'
.; -- ..-
.,, M Companhias Transnacionais (a tualmente integrado ao UNCTAO de

-• ,.,.
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Genebra). Ele demonstra o caráter essencialmente "intratriádico" do
LCD, que, ao longo da década de 1980, se concenlrou, em mais de 80%,
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!ll' "' '.1 .,,- \ N
N
,.:"' N
13. '!l- dentro da área da OCDE. 6 No mesmo periodo, as aquisições e rusões
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i .,.... .,,-"' de empresas existenles representaram a modalidade predominante de


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lnvestimenlo enlre os países da OCDE.

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Fluxos de investimento lntntriádico 1980·1990
e disponibilidade em 1990

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1,•11111,.irl lndlcdm J 1a11.;1 ("-' c:.r-Ndrncnlo m(i(IIO .111uo1I do c:•phal disponh't"I e dos 1tu'(Ol. A111x-tt

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1"ºk' UNCTNC (19911

~ Q f, Ocvem-sc a K. OhrnAft t1985) as t•·-qm!l>socs "Tfl~ulc" t> ..lriâtlico". Elas f0tam utlll-
o· g~ r.\rl.u lnk.lJlmcoH? pel,.-. l,U)Jn~ l-C llOOI) e pelo jorruthsmo ~,:1nürnic.:.o, C! depois am•

! .ê
~
~
'13.
.§ =~
.....
"., .,
.. -,.
"'
,~.1111m1~ divulgdJa.s Os tu~ "pólos" da I ri.,rtc ,ndicarn os tUA, ~ Unl.:io Cu101)é•a e o
J ,pá<). mas {'ffl tomo desses pálo~ iorm.a,n.se assoo<1çóer. um pouco m<1iore... S>cgunda

~ ~
e
~ 11
t:,
8
~ J1 §.
~
l( J ., ::
~~
~
Ohmae. ;i; urut..t l?SpctJt1Ç1 parn um fl'IÍ~ l'ffl descuvolvlmCf.llO - iOS qu,ns dt,•cffl-SC!
,1nllj,!m. p.,1ses ditos ''!-('J(.1,1lis1as" - coos1!i,le C"ln alçar-~ ~1 corM.hÇdO d~
11tJtl'hlf ho)e os

] j ~., f -~ ~ 1:§. ~
~

-~
f -e ~
- m1'luhfo assoc1.1do. nu:M110 qu1.~ f>Crhér-Jco, de: um dus t,ês pciJos. ( d.iro que um lugat

62 ~ s8 &'I ,){ l 1:
,){
:,;,
:f o ;/ 8
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e .
~z
i ru,10 deve~ ft•1to aCJ\ "n(>\IO!i, palse-;. tndustr 1al1.L.ad~" ,t\,.\ltcos.

6J
Em mea dos da d éca da de 70, dive
rsos tipos de ince ntiv os e de IED e polari zação a nível mu nd
rest riçõ es imp ulsi ona ram as emp ial
resa s a o ptar por aqu isiç ões/ fusõ
num mom ento de farta disp onib ilid es ,
ade e con tand o com nov os inst ru- Para term inar de esb oça r o qua dro
men tos c riad os no con text o de · · ais tend ênc ias do
glob aliz açã o fina nce ira. Em mui das pnnc1p , d
tos lED na déc ada de 80, falta indi. car
seto res. esp ecia lme nte os de alta
inte nsid ade de P&D ou d e pro- o luga r que cabe aos pa1s.es em U .d
e-
. • . . cnto Em seu rela tório de
duç ão de mas sa, a evo luçã o tecn ,;emoh1m 1991 , o Cen tro das Naç oes ~1
ológ ica refo rçou o pes o dos cus tos C
.
nhia s Tra nsn
. . (UINCTNC) mos trav a a amp litu as
fixos ( esp ecia lme nte sob a form b
so re om pa ac1 ona 1s de
a de des pes as ele\ ·ada s de P& D), des se proc esso . obs erva ndo que , •· 1980 e 1988, qua se triplicou o
que ess as e mp resas pre cisa vam entre . . , d
rec upe rar, pro duz ind o par a mer mon tant e de im•estimen to exte rno
cad os mun diai s: bem com o as \·an - dire to real iza~ o no i:n ~~ ~a ::o ~~
tage ns de pod erem apro visi ona r, ''> bilh ões para -l 1O bilhões
à esc ala mu ndia l, cert os insu pass and o d e 1-._ de dotares. '
mos ess enc iais , esp ecial men te . .
os de lant e investido no m en . t . or da Tría de repr esen tava 30%, d a d.isponibili-
ord em cien tífic a e tecn o lógi ca. d d mun dial de ent rada de inve sllm . . . 988 e
plano nac ion al, a únic a m a neir
Em indú strias j á olig opo lista s
no a e ento direto, e m 1 , ra esti mad ,
o
a de atin gir efic azm ent e ess es . . d r
Essa evoluca o foi con firm a a po outros trab alhos. O Gráfico
jetiv os é pen etra r em out ros mer ob- em 391\.!.."
''U • • .d
cad os, pelo inves tim ento dire to. 1 elab orad o pe IO Dep arta men to de Com erci• o d os Esta dos Um os,
,

~os tra a prog ress iva redu ção da • , m des en-


Em outros ram os industriais, um part icip açao dos pa1s es e
dos prin cipa is objetivos indus triais vol\ ime nto na disp onib ilid ade mun
de um a aqu isiç ã~f usã o con siste dial do IED.
em peg ar uma parc ela do mer cad
esp ecia lme nte qua ndo for aco mp o,
anh ada pela aqu isiç ão de marcas Em te rmo s de fluxo, a pa rti·c·p 1
acã o dos país es e m des env ohi men
• to
comerci ais, de rede s de distribuição aos níve is mai s baix os que se con
e de clie ntes cativos. É bem com - caiu, no fim dos ano s 1980. hec e m
preens ível que - no dup lo con text IED entr e 1987 e 1991. De 1991 a
o de um a con jun tura eco nôm ica há dec ada s: 18:' dos fluxos de 1993,
mun dial marcad a por mui ta ince rtez ndo ~ atingir cerc a de 35%, mas
a e inst abil idad e, mes mo nos perí o- esse s perc entu ais aum en_tara m , che
dos de re tom ada, e de intensificaç ;:sc ime nto lent o, c ujo relativo as-
ão da con corr ência, dev ido à abe são parc elas de um con1 unto, e m
tura dos olig opó lios nac ion ais r-
cen so dev e-se ª. rece ssao • os país es da OCO E e a uma mom entâ nea
e , a o me smo tem po, ao re duz n . d
ido des ace lera ção das aqu isiç ões/ fusõ te
c resc im e nto da dem and a em
vár ios seto res do me rca do - es. Dez pa1ses, sen o se do Sudeste
aquisiçõ es/ fusõ es te nha m se ben efic as
iado de forte pre ferê ncia. Gr.ífico 4 d. .
Países rece ptores dos investim
entos diretos mun iais
Tud o isso convergiu, a partir de fins
da déc ada de 1970, para de tonar
wn gran de movimento de investim rais<!s industrializado<
ento internacional cruzado, dom inad rle-.en-volvírnent
pela s aquisições/fusões. Um a vez inici o
ado esse movimento, e com ele o 69,~
l\~ •::::>>>~·.::::lr:ll;,,~,~~,,~
proc esso de con cen traç ão/centraliz
ação, tomou-se ine vitável sua amplifi- :: ::
caç ão e ace leração . Atualmente , essa 73,9
- - -.
"invasão recí proc a" (par a usa r o
título de um importante estu do ame
um asp ecto central da con corr ênc
rica no; ver Erdilek, 1985) re pres enta
-~ ~f
.......~~/

-~~-~
ia entre mem bro s dos oligopólios
mundiais. Vale obseT\-ar, já aqui, a
forte assimetria que mar ca o investi-
men to cruz ado entr e os três pólos da
Triade, sen do que o sist ema japo nês 80,8
coloca barreiras relevantes à pen etra
ção dos oligopólios rivais. Voltaremos -- -- --
a essa que stão, mais adia nte.
AsiâUco (Incluindo a China) e três da Améri La .
maior parte desses investimentos. c:a ltna, receberam a A polarização induzida do comércio
Este aspecto merece ser destacado A •
e dos íluxos de tecnologia
Interior dos países da OCDE é . concentraçao do IED no
acompanhada po
Igualmente el evada, dos . . r uma co11centração, Esse movimento não dii respeilo apenas ao IED; a mesma tendcn-
Entre 198 1 e 1992 _
i nvesll~entos nos países de rora da OCDE. cla ao "acerto de roco lriádlco'", e portanto à marginalização dos países
' a particlpaçao dps de . ,
de IEO foi, em média de 72% z maiores pat!;es receptores excluídos dos proces-sos que o comandam, está igualmente ocorrendo
. ' e apenas 18 países f,gur
menos um ano, nessa lista dos dez n . aram , pelo no inlercfunbio comercial. Verifica-se que o comércio no inlerlor da
port, 1994 p 14) . laJores (World lrwestmen, Re• '"Tríade" também aume11Iou mais rapidamente do que o conjunto do
' . . 0 mais recente relatório da DM •
Transnacionais da UNCTAD ( I I--I rld soo de Companhias comércio mundial, passando de 13% para 17% deste, no decorrer desse
que houve ainda maior a lnwstment Report, 1995) lndka período. "Tanto em lermos de invesúmenlo direto, como em termas de
China a parte do lea·o AaTcebntuação_ dessa tendência , cabendo ã com ércio, as lnterdependéncias no Interior da Triade tiveram, portanto,
• a ela I b inclui · d' •
tltLxos e acumulados. m icaçoes relativas tios efeito superior à.s Interdependências relativas, tanto ao resto do mundo,
como às ligações en.lre a Triade e o resto do mundo, revelando maior
Os L • Talx>la 1b velocidade de inteqração dentro da Triade do que entre a Triade e a
oez maiores ,-- . Am
n..-.íses ~
d esenvo 1v·,m.cmto receptores d n resto do mundo"' (UNCTNC, 1991. p. 36).
"estoques acumulados tle IEO• - 1993 e uxos
P.dses r«-~Pfares rlu,co~ ;--;- - - - - - - - - - - Por fun, o Gráfico S ilustra que o mo\Oi.mento conjunto de concen-
Paf~ re-C!flOreJ A
P•'I!,CS t.'t 11 dek.., 1~1vuncnto W - _ cum. tração e mW'l!Ínalizac;-áo estende-se 1mnbém, e de ranna ainda mais acen•
7J 3SI Pdi.-.estm~lvnncnco(AJ
500Jt9(, luada, à tecnologia. Volmremos a essa questão nas capitulas 7 e 9. NO(c mos
Ot:~ nwkl,rcs paf:scl en
dcsenvolvio,o,to iecq;itor<~ (BI Ot:l m.li(')tCS pclíses cm parem. desde já. que a maioria dos palses do mundo não somente estão
'i8.0C1J dCS4..'t1volvimcn10 tl"CC.,Jtorcs IB)
J36.997 excluídos dos acordos de cooperação tecnológica entre companhias, ma,
PorcL'f1ugcm B/A
19 l'Oft erll,igem 8/A
China
f,7 que se esgotaram até as Wll lrJdicionais de tra11Síerência de tecnologia.
27.SH Chin.1
Cíng4µur,i S7.I72 OàÍICO 5
C,.629 C!ng.. pu,,, Co ncentraç.io dos íluxos lccnológicos
S0.802
ArRcntut.i'I
~.305 lnúunc!sla (em poro:intag<>m elo lokll no pcríodn 1980- 1990)
M.1Jásia <4. 1>&
S20b México
M~xieo <1.912 ■ AQ)ldr-. dft ~ ~ . l o lel"""'°Clu ~ ~
-1,901 Orastl
lndonêslA 40.J7I ■ ,,,.._~..i.1c 1in,nç" e d,! tr.-.,,flod• • •- ) •
2.004 Mal~"" 26.9J6
T,Ulândid
1,7 15 At~bla 5.ludir.1
Hong K<N>g 22.461
1.6117 l\qtcnllna 21.,01
Colômbia
950 Hc>ng Kong 17.669
l,11\\\ln
9 17 Ta1lãnd1,1
13.624
P,6.rnwnória
Porc.t.•HAgl'fn das nove m.1iorcs
rct:t!'ntorêJ, excluindo., China
S6

64
1,7
capítulo 3

A empres a multinacional hoje

''A Pmpresn 11111/tínacional está assumindo, ca da 1)(•z


mais, o pap<'I de regente da orquestra, em relaçcio a d1-
1X!rsas atil'ídades de pmr/11ç<io e transações, que se dão
no ínteríor ele 11n1 "cacho " ou "rede" de relaçõe.<: l ransna-
cíorw is, tanto interna s como e>:ternas às comp a nhias, e
que pod<?m inrluir ou não um inpestimento de capital,
mos cujo of>jetwo consiste em pr omover seus int<?ressPs
1:lubais"

J. H. Dunnmg. 'The New Style Multinatronals - Clica


the Late 1980s and Early 1990s", m J. H. Dunning, Ex-
plaining .Wultinational Production, Lo nd res, Unwin Hv-
man, 1988
Neste capítulo e nos dois seguintes, a análise refere-se aos
grupos industriais e às opções de localização que lhes são ditadas
pelo fato de pertencerem a estruturas oligopolistas no plano mundial.
Como eles continuam sendo chamados de "empresas" ou "compa-
nhias", "multinacionais" ou "transnacionais", 1 mesmo se suas dimen-
sões, seu "alcance global" e seu modo de funcionamento os
diferenciam cada ve.z mais do grosso das organizações comumente
chamadas de empresas ou companhias, vamos respeitar a terminolo-
gia consagrada.
Isolar as multinacionais para identificá-las, mesmo que só por um
capítulo, não é isento de riscos. Quando se focaliza a atenção nas multi-
nacionais, como fazem - e induzem outros a fazer - as obras das busiª
ness schools, é fácil perder de vista as relações oligopolistas que ligam
esses grupos, bem como suas características de valorização do capital, do
qual não passam, afinal, de suporte organizacional. Talvez não seja sufi-
ciente dizer simplesmente, como M Beaud, que "é na lógica de acumu-
lação e concentração do capitalismo, lógica que atua num mundo
parcelizado em Estados-nações, que deita raízes o florescimento das com-
panhias e bancos multinacionais" (1989, p. 58). Mas é nesse nível, sim, que
se situa o "fio de prumo" para qualquer análise séria
Em menos de quinze anos, a fisionomia e algumas das modali-
dades de funcionamento das multinacionais mudaram profundamente.
Hoje, a estratégia que tende a predominar é aquela definida por C.-A.
Michalet como "tecno-financeira", e a multinacional mais típica da
época atual é aquela descrita por J.H. Dunning na citação que serve de
epígrafe a este capítulo. Não podemos, porém, ficar enredados, nem

1. Alguns aulores, como por exemplo P. Dockes (1975) e G. Dcstanne de Bem (1977,
p. 265) atribuem grande importância à escolha exata dos termos. Para nós, o que im-
porta é sobretudo a noção de grupo, como d iscutiremos mais adiante.

71
nos problema s de definição , nem em certos aspectos do desen- d s nmcles bancos e instituiçõe s financeira5 .
e que figuram. ao lado o g < • • CUJO . • ,entário costuma ser feito
voh'imento anterior das multinacio nais, que lodo mundo ainda terá bem . . s m11nd1a1S, tm
presentes ao espírito. entre os mil maiores grupo - ultinaciona is de \'erdade.
pela revista Business \ \ eek. Ess~ sao as m

. 1 ocurou defüúr tracos em


ta aoscom.panhia
É delas que C.-A. l\lichalct. em espec1,1, pr
Definições de multina cionais e se us limites d fi . . o proposta por ele apresen
suas principais obras. A e ruça po) c-m geral de grande
. .. ma empre-;a ( ou um gm . , .
J\a definição de empresa multinacio nal, t<1mbém chamada de multinac1onal como li .· , implantou no e:-..1erior vanas
rtir de uma base- nac1ona.,
companhi a multinacio nal ou mesmo transnacional - se adotarmos a porte. que, a pa . . tratégia e uma organização con- . ·1
. . . es seguindo uma es
terminolog ia cio Centro (depois Dhisão ela l.:NCTAO) que. hã 25 anos. filiais em \'anos pais • . .. 11 . Essa definição pennanece uti
\"em trabalhand o. no quadro das !':ações Unidas. parn acompanh ar su;i cebidas em escala mundial (1985, p. ) .1-· multinacio nal ima.riavcl-
2 1 lembra que a comparu,1a
e\'oluçâo - . nunca se chegou a um acordo enlre os pesquisad ores, em \·ários aspectos; e ;i . • no graude empresa no plano na-
r se constituir cor
nem mesmo entre as or~anizaçõ es internacion ais. mente começou po ue ela e resultado de um
. li ao mesmo tempo, q .
cional. o que irnp ca. tracão e centrali-
A primeira definição amplamen te utilizada foi a d e R. Vemon, para . s longo e complexo. de concen •
quem uma multinacio nal seria uma grand e companhi a com filiais in- processo. mais ou meno .. mente se dh·ersificou, antes de comecar
zacão do capital, e que, frequenle : tu· fonal tem uma origem
dustriais em , pelo menos. seis países. Sob pressão dos µrincipab países . . a companhia mu nac
a se intemac1onalizar. que f de sua base nacional e
de ori~em dessas companhi as, que, encabeça dos pelos Estado~ Unidos, e os pontos fortes e racos
~
od
procurava m dificultar o estudo desses grandes grupos, diluindo-o s num nacionol. de r~l- o qu . de sc-u Estado sNão componentes de sua cs-
a ajuda que h\cr receb1d h'a é em geral. um
mar de médias ou pequenas empresas. esse limite foi reduzido a dois . . tithidade: que esc,a compan J ' • .
países (OCDE, 1975), e depois, a um só. tratcg1a e de sua compe • e' de holding intc mac1onal, e
, · · fca contcmpor anea ª
d"al e tc-m estratégias e uma
gmpo, cuja ,arma 1unc a '
Assim, em seu relatório de 1994, a 0i\isão sobre Firmas Transna- por un.li q ue · gmpo atua em. escala mun J
e'>se
cionais da UNCTAO enume rou a existência de q uase 3i mil multinacio - organização ~tabelecid as para isso.
nais, para esclarecer, três páginas adiante. q ue o essencial da análise iria
. nvclheceu , na definição de t.tic halet. é a
se limitar aos ct>m grupos mais tran~nacionais, dos quais reproduzim os, . . "
O aspecto que mais efiliais às estratégias que a co•
. , ... 1 t ção de . bem como . . .
na Tabela 2, os trinta primeiros. Em 1990, esses cem grupos concen- mençao a imp an a . d -o ainda era possível distinguir
tra\·am cm suas mãos cerca de um terço do montante total mundial de mand am. At,~ a metade da decada e ' ,
três tipos de estratégias diferentes :
íED; possuíam ativos de valor acumulad o da o rdem de 3,2 trilhões de
dólares, sendo cerca de ➔0% situados fora do país de origem.:l São, com
poucas \'ariações, os mesmos que encontram os na lista dos 300 maiores
1 . i~ dr <>rt!,!.Plll (dndc>, de 19R'i), o C<"ntro
1,11,1 oulr,1
grupos industriais do mundo, publicada anualmen te pela re\·ista Fortune. Co111 lin~<' no ,nonl,intc de \C'nd ¾' 101,1' opa.
1 n li,u de 600 wupn, rM qu.11, cnlff'
IL "-.( 1NC, 1<JRR, p 533 <' "'gu1n1csl torneceu ui'~ ',-11 •ones(", <' 12 Puropeu,. /\ lisu
alll('flCt anos, J 1 19'101 t«~n
º' < 1111 prnn<'no~. c2
1
> gru ,o-. pr,1,n , de ali\ o,; no exterior \f 1.l os' <'
l.. O Centro d.i, f\..i~o<.., Unidas '>Ohre Comp,1nh1,1s fr.111sr1-1don,11s (t JNCTNCJ Jo, d"- ,uhl11.. id,1 cm 1•1•13 IJ,1~<•,1 l.-1 no rnont.111 : •. se o m1ml-ro <' o nl("-1110 p,1r,1 o f,1riJo , 12'_
sohrdo no lOlll<.-'ÇO de 1'J91, .1 rwd1do do !,!O\'Crno .11n <'ri< ,1110. P.irtc.• dos •,e11s fllul,ues 1 n' «miigur.'l~..io ,e11s1vC'111w111e d1tc-r<'t1I . . 1 S·l Gru11os qu<' tê·m Lomo P"''
'º ><' 0 • J
lo1,1rn <'rU,10 fr;insteridos para a l JN(. rt\D, C'lll Cc-11dir,1. ond<' teve• pross()tuim<,110 um 111 "
par..i º' ,
~Ut\ e a, ,1 28, enqu ullo, r:"
1,1 1 l uroJ)<l,
N:I\" l<'IJn,h.1 f.unlll'ITI e11t1.1m rn,._,;,1 lts1..i r os
prngram.i cJ,. tr.1balho rNluzido, 110 quadro d,1 Dr\'is.:to .-.obrr I inn..i, 1r.mss1dcron.1" e
lnH'Slinwnlo. d,, ong<'tn a •\u\lr., lrd, o Cuud., ~ .l . T'JC lJNC r AD 1/1,'orld lm ,•,rmtnr Report,
( ~,n .,'rupos md1-. n11<•rn1cio11.1h.l..ido<; l IN, li ' , ,111 ,11111111'-0 da u111•rn,ll1on.1lt-
, crurm, · ,
1,•,'))f'- 1, )6-271. Ls~~ d1JC'f1•11~as H ·ll<'ll'm · de " 13) No <'nt,11110, o
l. O C<.'fltro d,1s N..içoc.., Unid.1, sobre Companhia s Trnnsn,1<:iooais pulil,cou, .-i po11c os
_,
- , pos 1, ,111cest~ p,1.,..,, 111 4 1
,mos de d 1~f,mcia, du;is list.is do~ 1'iO g rupo, rn,115 i11tcrn.icmn,1liü1do,. 1 diííc.rl <"-f,1. . 1 . l •sr t irnlll'ITI IPv,1 ,1 ;ic<~lluar o peso to~
'~
,~, ..ic dos grupo, <'llfOf>ell'
1 . <.
los
( lO
gru
lllH"- < C" \ C'llf n. • .
ern tr11n<><- < e illl\< . 1 t 'l'
bd1><:er um,1 compar..iç,10 estrit,1, por que os <rtérios dP h,1..,, muddnm cfp urru l,q,. cnk•r10
, .
<'aros, rn,11, ( 1e) que 11 11 li'- fln "•
P1c-me11tos 1111,1111
72
73
• estratégias de aprovi sionam ento, caract erístic as das
multinacio-
l a partir de
nais do setor primário, especi alizad as na integr ação vertica
antigo s países
recurs os minerais, energé ticos ou agríco las situad os nos
Mundo;
coloniais ou semicoloniais, depois chama dos de Terceiro
• estratégias de merca do, com o estabe lecime nto de
"filiais inter-
de enfoq ue "multi-
mediá rias". de ntro do que Porter ( 1986) c hama
domé stico";
de pro-
• por fim, estratégias de "produ ção racionalizad a ", isto é,
o estabe lecime nto de
dução integr ada intern aciona lmente , media nte
filiais "mont adoras".
nos três
No capítulo 5, iremo s consta tar que, nos países situad os
e de racio-
pólos da Tríade, houve fusão das estraté gias de merca do
de filial que
naliza ção da produ ção. A forma principal, se não única,
dora. Por
ainda existe nos países industriais do centro é a de tipo monta
a se tomar parte de
sua vez, esse tipo de filial tende, cada vez mais,
determ inar
um conjunto maior, com fronteiras. muitas vezes, difíceis de
com precis ão.

A amplitude da constituição das


multinacionais como grupo
acionais
A definição de Michal et menci ona a organi zação das multin
grupo foi ob-
como grupos. Resta indica r a amplit ude disso. A noção de
acalorados,
jeto de trabalh os aprofu ndado s e de longos debate s, às vezes
foi chega r a uma de-
nos anos 70. Um dos resultados desses trabalhos
isador es
finição comu m, com peque nas varian tes, a todos os pesqu
nte para
france ses. Essa definição tinha um nível de genera lidade suficie
do com a
conte r vários eleme ntos que só iriam adquirir pleno conteú
evoluç ão do capitalismo no decorr er da décad a de 80.
espe-
Na formu lação sugeri da por F. Morin ( 1974), essa definição
do por uma
cificava que se devia enten der por grupo "o conjunto forma
controladas
matriz (geral mente chama da holdin g do grupo) e as filiais
de decisã o
por ela. A matriz é portanto, em primeiro lugar, um centro
maiori a das
financeiro, ao passo que as fU1Tlas sob seu controle, na
algum a ativida de. Assim,
\·ezes, não passam de empre sas que explor am
das partici-
o p apel essenc ial da matriz é a perma nente arbitra gem
75
pações finance iras que detém em fiuncao •
. , . da renl· bTd d e dos capitai s
em·o1\ldos. E a funcão d b. . a J' a A base de sua
. - e ar 1tragem da mat • dução materi al direta para o fornec imento de ser.iça s.
nance1 ro ao gn1po'·. nz que confer e caráte r fi. know- how e na
compe tilhida de está alicerç ada na definiç ão de um
os setores onde for
. De_ modo semelh ante, a estrutu racão de . P& O. Ela tentará valoriz ar essa vantag em em todos
muito diversi ficado d,, li • • um con1un to, às vezes isso, ela tenderá
' ... irmas em·oh idas ·1. possíve l aplicar suas compe tências tecnoló gicas. Com
grupo ..em tomo de um centr fi . em mu tiplas athidad es. como modali dades total-
° mance 1ro e atra\,· d e uma teia de vín- a sa,r do seu setor de origem e diYersi ficar-se em
cu1os. princip alment e fina nce1ros . es dade de monta r
. .. , mas em cert mente origina is. Sua nova força reside em sua capaci
soais era consid erad os casos tambér n pes.
de operad ores
ª por i\f. Beaud (1978) operaç ões comple xas·, [quej uão exigir a combi nação
domina nte de segme nta çao ' d . como sendo "o modo iais, firmas de
p o cap1laJ no est. . atual do capital ismo"
ag10 \indos de horizon tes muito diferen tes: empres as industr
ara os pesqu isado f , . terais de financi a-
- re<, rances es que estav
am trabalh ando nessa engenh aria, bancos interna cionais , organis mos multila
questa o, esse modo de , .
outros terão es-
segme ntacao acomp anl .
iava. por parte dos gru- mento. Destes , uns serão locais. outros estran~ eiros,
pos. uma busca de valorizaca· 0 d. .
. o cap1fal diferenc,ad · tatuto interna cional" ( 1985, pp. 59-60).
. . . a e multifo rme
que tanto podia assum ir f
ª orma produh
.
rn d · . ·
e imest1 rnentos de capital ,
'
É às compa nhias que adotam esse tipo de enfoqu e que. alguns
como uma \arieda de de t .
· d . ormas que nao envol · "multin aciona is
m usina!, nem criacão d ' 1 • v1an1, nem tnvesti mento anos depois , J.11. Dunnin g ( 1988) atribui o nome de
· e \a o r, e as vezes
produti vos, quand o não paras1·r. . aprese ntando aspect os im- nm·o estilo". Estas seriam . antes de mais nada. "o sistt.·m
a nerYos o cen-
anos.
penden tes mas
tral de um conjun to mais amplo de ali\idad es. interde
O interes se desses eníoqu ·
es. numa o u noutra \'anant consist e em
e tr
n e outras coisas. no fato de que e 1es Ja .• e, consis te gerenc iadas menos formal mente , cuja função primor dial
prenun c· , o da organi-
d as estraté gias predom inant lavam a import ância fazer progre dir a estraté gia concor rencial global e a posiçã
ement e finance iras d as mullina cionais con- g precisa : "Não
1empor âneas. \"erem os . . zação que está no âmago (core organi zation) ". E IJunnin
ma1s adiant e O pap I d mais eficien te
multina cionais . operan do . . e esemp enhad o pelas é apenas . ou mesrn o princip alment e, pela organi zação
. e intervm do ativ suas eslraté gias
nance1 ros mundia lizados amenr e nos merca dos li- de sua produç ão interna e de suas transaç ões, ou por
.• a comec ar pelo mer d -
- ca o de cambio , onde se que essa o rganiza ção
deram os maiore s mmim entos d. . 1 . de tecnolo gia de produt os e de comerc ializaç ão,
e 'a onzaca o especu1ativa .
m t. . cio capital relaçõe s que es-
• .
one ano. Trata-s e . aí, d a estrateg •
1a "tecno fi . ,. atinge seu objetiv o. e ,;im pela nature za e fomw das
. ira das multina cio-
na1s, com sua dimens ão de \"alo . - . inance tabelec e com outras empre sas".
nzacao do rendimento do capital , que
passan ios a examin ar. - em
O ..objetiv o", mais do que nunca. é o lucro, ao qual se soma,
outro, o ob-
combin ações variáve is de um capital ismo "nacion al"' para
lização fi.
A cstra!égi~ tccno~financeira e jetivo de cresce r e durar. Com efeito, no quadro da mundia
finance iro dos
as mujtmac,onais "novo estifo" nancei ra, que examin aremo s mais adiante . o rendim ento
e tanto mais de
ath·os é \igiado pelos detent ores de carteira s de ações,
· freque ntemen te,
Ao t
enrnna r seu livro ' em l98'" •1· h J perto, na medid a em que estes são, cada \·ez mais
d -', " 1c a et anunc·,ava o surgim ento o, grupos de
e uma quarta forma de t 1, .
es ra egia q 1 grande s im estido res institu cionai s (fundo s de pensã
nancei ra". Esta corres pondia a .. . ~ ue e e chamo ·
u de •·tecno -fi- que têm a pos-
uma ,onna de int seguro s gerind o carteira s de ativos import antes etc.), e
sead a no.s ali\'os intanaí veis d a compa nhia . emac1 onaJiza ção ba- finance iros
., no . sibilida de de compa rar tal rendim ento com o de ali\·os
l\1i c h alei precisa va· '·A t 1• . ' seu capital human o•·· E nteme nte ren-
_ · es ra eg1a tecno-f in • , puros. O grupo multina cional, então, precisa ser emine
e\·oluç ao das athida des da . ancc1ra e resulta do de uma ser basead a
s compa nhias no exterio r, passan do da pro tável. mas atualm ente essa rentab ilidade não pode mais
do grupo e de
7(, unicam ente na produç ão e comer cializa ção própria s

77
suas filiais. Precisa basear-se ta bém no que Dunning chama de forma
m <lula de um parceiro menos poderoso, com base num aporte sob forma
vaga e um tanto eufemística de suas "relaçoes - '
' com outras empresas". de ativos imateriais. Entre estes, incluem-se o know-how de gestão, as
• .
A nmidade, aqui, d ecorre d os linutes, licenças de tecnologia (em geral superadas pelas mudanças tecnológi-
cada vez mais indí tint
lu~ro e renda. A multiplicaç ão das participaç ões minoritáriass d os, entre cas), bem como o franchisin g e o leasing, muitas vezes empregad os
nh1as "coligadas " das . . - e compa-
. partic1paçoes em cascata e, sobretudo de nu- nos serviços. No caso das grandes joint-vent ures criadas pela SABIC
merosos acordos de terceirização e de cooperaçao - . , (braço industrial da Arábia Saudita) com a Shell, a Exxon, a Mobil etc.,
. mter-empresas, que
1 foi a atribuição de uma parte da comercial ização, asseguran do aos
,:~ram ~o surgimento das chamadas "empresas-rede", não teve como
uruco efeito tomar muito penneá,·eis e ind'JS tintas as fronteiras .
da compa- sauditas um acesso ao mercado protegido por barreiras industriais na
. T ,
nh ia. ambém acarretou a incorporaçao, -
ao lucro, de receitas que se re entrada, como contrapar tida mais important e da participaç ão no capital
so~vem em créditos sobre a atividade produtiva de outra companh ia so~ reconhec ida às multinacio nais (cf. Chesnais, 1989). Tais aportes são, às
a ,orma de punções sobre ul vezes, bastante fictícios; seu valor é sempre inferior ao das parcelas de
- - . seus res lados de exploraçã o brutos. fssa di-
mensao e partícuJarmente fácil de perceber nas ·'nO\ . . capital reconheci das a seus proprietár ios.
vestimentas·• Está , as companhi as de m-
. presente, também, em muitas das cooperações e outras Em lodos os casos exemplares, essas modalidades "novas" decorrem
novas formas de relacões entre com""'"'h;~ ~
- tJ<-UUua.>, que estudaremos no capítulo ..J. da lógica do investimen to e não da venda (~'JX)rtaçáo), como observa
Oman em sua introdução à coletânea de 1989. Com efeito, a remuneraç ão
As "novas formas de investim ento" do aporte intangível, real ou fictício, depende do montante dos resultados
da atividade empresari al (percentu al do faturamen to ou dos lucros). A
multinacional à qual foi reconheci da uma participaç ão no capital tem in-
A origem das "novas formas de investime nto" (C Oman 1984
d , , e teresse, portanto, em que esses resultados sejam bons, m esmo se também
C. Oman et ai., 1989) r emonta aos anos 1965-1975 .
grande ond d • • quan o, com a ganha numerosas prestações de royalties e de assistência técnica Resta o
a e nacionaliz ações no Terceiro l\fundo, as multinacio nais
. d • problema do caráter rentisla que tem esse investimento, ou do grau de
geralmen te pertencen tes ao setor primário, foram o b nga as a compar-
,
tilh ar com os pa1ses importânc ia do componen te-rentista no lucro apropriado.
'"anfitriões " a prop . d d
de mineracã o , . . ne a e e o poder das empresas Esse problema foi reconheci do por Oman. Ele procurou estabelecer
- . - . Após a pnme1ra forte recessão de 1974-1975 , o recurso
as "novas r, .. uma distinção entre empresas que investem com "espírito empreend edor"
ta ens ormas. au~entou ainda mais, em função das muitas van-
g que ofereciam as multinacio nais em certos casos exemplare s. e as que realiz.am "investime ntos rentistas". "Em ambos os casos," diz ele,
''as empresas estrangeiras intervêm como investidores e não como ven-
A~ ~ovas formas de investime nto (NFI) são definidas por con- dedores. no sentido de que seu objetivo primordia l consiste em se apro-
trapos1çao ao investime nto direto que comporta, como vimos . 1
aport d . ' um priar de uma parte do ganho econômic o da exploraçã o do projeto".
: e ~apitai monetário (seja eqi capitais transferido s a p~r do
, Nos países do Terceiro Mundo, foi fácil perceber, no período 1970-
extenor, se1a levantado s no mercado financeiro d
NFfs garantem a . o pais receptor). As 1985, essa distinção entre "rentista" e "empreen dedor", em certos ra-
h uma companhi a uma fração do capital e o direito de
::::a e;s: a c~ndu~a de outra companhi a, sendo que o operador/ par-
angerro nao fomece nenhum aporte em capital, mas somente 4. O man desmvolve ess.l idéia, explacan<lo: '·O investidor 'cmpreemlc'C.lor' preíer<•,
em ar . '"'n dúvida, as Nfls aos l[D clá-;sicos, por que elas lhe J)C'l'matern S<' desligar de uma
·,, '.vos •_materiais . As NFis originam, seja uma participaç ão mi- p.Hte m.:tior dos riscos e/ou dos custos, que recaem sol)fe o país rcc<'ptor ou os oulros
non ana, seia uma empresa (
, . comum a chamada joint-vent ure), reco- participantes, mas ele, 111111tas vezes, intervém ativamente ao longo de Ioda a duraçâo
do projeio, para que estc lenha sucesso como in\'estimento. Ao con1r:mo, o inve!>tador
::~:ndo a m_u~tma:ional a proprieda de de uma fração do capital, um
·rmtasta' senic-se muito menos comprometido com o sucesso da opcraçao (!!), clc as-
de participaç ao nos lucros e um direito de acompan har a con- sume pouco ou nenhum rasco ou responsabil idade de execu~o. ou 5eJ<l, não se preo-
78
79
mos da indústria, como a pelroquírnica e as montadoras autom obilísticas. internacional" (definição dada por Andreff em sua tese de 1976), esten-
Mediante a concessão de partes do capital, as multinacionais forneceram dendo o conceito de modo a incluir, agora, não apenas a atividade in-
tecnologia s eiou marcas comerciais. com exclusi\idade, a empresas locais dustria 1, mas também os serviços e os bancos. Alegando a
que. em sua arnliac;ão, não tinham condições de entrar no mercado obsolescência das teses sobre internacionalização do capital, "seja em
mundial como concorrentes. porque suas tecnologias eram obsoletas ou funcão de dificuldades metodológicas não superadas, seja por ligação
porque a máxima produção realiz,ivel no país receptor estava longe de co~ a atual crise do maJXismo, seja por esse enfoque ter sido aban-
corresponder aos patamares mínimos de escala e de re n tabilidade. donado pelos que o propuseram", Andreff tem consideráveis reticências
a seguir por essa trilha. No entanto, ela é certamente uma das que
Parêntese sobre o conceito de capital ainda m erecem ser exploradas.

Com efeito, uma das maneiras de captar a extrema diversidade das


Num trabalho em tom um tanto abusado. \\/. Andreff (1990) fez formas de atividade e dos modos de desdobramento das multinacionais
uma série de críticas à definição de l\'lichalet (e também a todas as consiste em abstrair, por um instante, as formas concretas em que o capi-
outras que encontrou): por que a referência às grandes d imensões. tal se encarna (empresas predominantemente industriais ou de produção
quando existe "multinacionalização·• de certas cate.1?orias de pequenas de sen1ços, bem como instituições bancárias e financeiras), e voltar ao
e médias empresas? Por que a referência às filiais. quando as novas capital como categoria econômica fundamental. O capital defme-se como
formas de investimento são cada vez mais importantes, para não fa lar um valor (que, no caso das multinacionais, atingiu determinada massa),
em empresas coligadas, que não são p ropriamente filiais? Quantas cujo objetivo é a auto-valorização, a obtenção de lucro, em condições nas
multinacionais têm u ma estratégia realme nte mundial? :; quais o ramo industrial, bem como a localização geográfica do com-
Algumas dessas críticas não estão isentas de contradições (uma prometimento do capital têm, em última análise, caráter contingente. Nes-
estratégia mundial estaria ao alcance da pequena ou média empresa sas condições, um dos atributos "ideais" do capital, que é também, mais
que e stabelece alguns pontos de comercialização ou m esmo de pro- do que nunca, um dos objetivos concretos colocados pelos grupos, é a
dução fora de s uas fronteiras nacionais?). Andreff não estaria nos le- mobilidade, a recusa a se prender a determinadas modalidades de com-
vando de volta à definição oficial. cujas limitações foram demonstradas prometimento setorial ou geográfico - qualquer que tenha sido sua im-
pelos próprios autores dos relatórios do UNCTNC? portância na formação e crescimento do grupo - , bem como a
Andreff acaba concluindo que "a atual di\·ersidade toma caducas capacidade de se soltar, de desinvestir tanto. quanto de investir.
as tipologias correntes e atinge a maior parte das definições·', nenhuma "'
No caso de um grupo industrial, a valorização - e portanto o
das quais seria c apaz de englobar o conjunto das carac terísticas da aumento - do capital, de um periodo a outro, baseia-se, em primeiro
multinaciona l contemporânea. A única saída consistiria em "ater-se a lugar, na organização e no acionamento da força de trabalho assalariada
uma definição muito ampla de m ultinacional. entendida como toda na produção (tanto de mercadorias como de serviços). Em segundo lugar,
companhia cujo capital está em·oJ,ido num processo de acumulação abrange operações, hoje cada vez mais numerosas, efetuadas nos mer-
cados financeiros, que examinaremos nos capítulos 10 e 11. Há ainda
cup..i ern contnhuir ,ith·arnt•rilc p,1r,1 a C,lJMndatl<' do proj <'to d0 gerrt1 2..inho. 1...1 1m outras formas de valorização, que têm origem na apropriação de receitas,
('S()<~ t<lf, é• l1Pt111l1<'11or ;\ prnb,1liilid,1de de que(''(' '1SSlflll,) rtSCOS, comriromcta recrn fora de qualquer intervenção na produção. Por exemplo, em seu estudo
"ºs d" vulto, p,ir..i ,lJttd,ir ,1 re,ol\'CJ <.<'.rios prol1le1n,1s d<· e-..pk >r,1çao irnprcvi~tos, ou
p.:ir,i proporcron,ir 110v,1, lécnic,1:, ao proj<>lo." sobre os grupos americanos, baseado nos resultados dos trabalhos da
'>. \V. 1\ndrert publicou 0111 199(, u11i;i cdi\·Jo in1c•ir,imei111• r<:\ is.:idil de seu m.:inual economia industrial americana da grande filiação clássica (Berles e l\i1eans,
cujo c.onte1klo tog(' toulm cnlc> às etílicas ici!As ;iqui. ' Bain, Blair e Scherer), J.M. Chevalier definiu em 1977 o que chamava de

81
"valorização imprcxiutiva do capital" çomo uma realidad ,. b A nova economia industrial, da qual O.E. \,Villiamso n é um dos ini-
um c . t d . e que a range
. oniun o e mecanismos pelos quais os detentores de capitais podem ciadores e expoentes mais conhecidos, não o entende assim. Ele pre-
real12ar
_ wn luçro sem ter de passar pela produça-o"
_ . Che"alier re1actonava
• cisa justificar, custe o que custar, a formação da grande companhia,
entao quatro categorias de operações e fontes de receitas: cuja e xistência contraria o postulado da concorrência perfeita, deixa
. 1) "o ·
. coniunto dos lucros espeçulativos: mais-valias imobiliárias mal a soberania do consumidor e nos leva para bem longe do terreno
ma1s-vahas sobre estoques, especulações com títulos etc."; , aonde a ortodoxia re inante deseja nos atrair. Por enfrentar essas
2) as ven~as "que têm origem no domínio do merçado, mais do questões, ao passo que a teoria neoclássica as contorna ou as esvazia,
que na produçao"; a teoria das "falhas de mercado'· logo beneficiou-se de consideráve l le-
3) "os lucros monetários"· g ilim idade na profissão econômica. No entanto, Williamson não
' esconde que seu objetivo é mostrar a ilegitimidade teórica da ação das
4) por fim, "a venda de certas categorias de servicos"
autoridades antitruste. O eixo do seu livro consiste em demonstrar que
. - A participação no capital e na gestão de uma emp~esa. e na repar- as grandes dimensões das companhias contemporâneas e certo grau,
tiçao de seus
, . resultados financeiros , sem "subscnçao. . d e capital",
. que é mais ou menos elevado, de concentração, não passam de conseqüên-
ad caractenshca fundamental das "novas formas" , e, mais . uma expressao .
cias inevitáveis de um universo econômico com informa<;ão imperfeita
taessa capacidade que o capital concentrado possui, de crescer alimen- e com freqüente s comportamentos oportunistas, os quais tomam os
nd0-se de um componente rentista. Esse atributo não se manifest
mercados inaptos a cumprir seu papel, apesar de se r esta a instituição
apenas nas relações Norte-Sul. Ao longo dos anos 1975- 1990 , a
· d t ·a1· , . , os pa1ses fundamental do sistema econômico atual. 6
m us n izados lambem assistiram a uma notável ampliacão d 1
de formas d . - - o eque ~em violentar o texto de Williamson, cujo estilo é claro e que abre
. e apropnaçao e centralização, pela grande empresa, de valo-
res produzidos, fora das suas "fronteiras de companhºa" todo o seu jogo, pode-se resumir assim sua conclusão: a c oncentração
presas . 1 , por outras em-
de meno~s, ~u ~a.is vulneráveis, a este ou aquele título. Os acordos econômica e as grandes dimensões da ª hierarquia" não são, de modo
algum, culpa das companhias, e sim unicamente dos mercados, c ujas
. , cooperaçao
. c1enl!fica e técnica com labora to' n·os p,u bl"1ços ou un1ver-
.
s1t~os, que examinaremos mais adiante, muitas vezes comportam in- "falhas" obrigam as empresas a intemalizar certas transaçõe s, depois
.gredientes
. desse tipo ' assim· como o leque de relações de terceirizacão de terem absorvido as companhias com as quais estavam negociando,
mdustrial sobre as quais · se constroem as "empresas-rede". - ou a criar novas unidades de produção para organizar as transações
dentro do seu próprio mercado "interno", privado.
Custos de transação e internalização Visto que as causas de falha dos mercados vão aumentando, até de
fonna qualitativa, a partir da intemalização da companhia, a teoria dos cus-
Um dos aspectos específicos, e também um dos privilégios ou "··an- tos de transação foi apresentada, por uma corrente importante da teoria
tagens
. p ~pnas
, · " d a grande companhia, e conseqüentemente da multi- "
nac10nal, e constituir' entre a matriz e as fiti . .
I ais, um mercado miemo (há
&. O que explicaria e tornaria inevit:ivcl, e poru.nto justiíicávc·l, o recurso il integraçJo,
tempos denomm· ad o, por F- p erroux de "espaco , · " d a ··grande
•·
. . , . propno as dquisiçocs/íusões e a constituição de "hierarquias''. (termo us.ldo por Williamson
~1da~e mtemacional"). Apresentar as coisas desta maneira é fazer em parc1 designar as grandes companh ias), seriam ;ipenas "os custos de redaç;io e de exe-
cução de contrato!- complexos" entre companhias independentes. [SS<'S custos, por
pnme1ro lugar, uma constatação, da qual pode-se depois tirar evid~nte- ~ua vez, decorreriam da açJo combinada d<> fatores ligados ao ambiente das compil-
. , w
mente • n ce rto numero
· de conclusões; por exemplo, no que ' diz res- nhi;is e de fatores humanos. Os primeiros decorrer\am da inseguranç.,, ou ainda do
peitos. as fonte de competítividade ou ao poder econômico de c;ir;iter imperfoiro da iníonnaç.ão disponível para a tomada de decisões da companhia.
determinada companhia. Os fatores humanos seriam consa1üênci;i çla limitada racionalidade e do oportunismo
1errenho que caraClf!fizariam o comportamento dos seres humanos.

82
83
anglo-saxônica, como a chave da formação da empresa multinacional rentes antes da integração horizontal). A intemalização constitui, por-
e de su~ decisão de produzir no exterior. Essa posição foi defendida, tanto, uma motivação poderosa para as compras e fusões e um instru-
~m particular. por A. Rugman e M. Casson. Este último elaborou uma mento precioso na estratégia dos oligopolistas" ( 1981 , p. 28).
hsta ,(por
. .definição, não exaustiva) dos obstáculos mais comuns ao A lógica da intemalizaçáo, portanto, é que ela proporciona um
comerc10 mtemacionai ligados à imperfeição dos mercados, e portanto meio, não apenas de sah·aguardar a vantagem monopolística das com-
geradores de custos de transação. Tais obstáculos incluem: a falta de panhias, mas também de criar e sobretudo de reforçar essa vantagem.
co~lato entre o comprador e o vendedor, a ignorânc ia de seus desejos É o que Rugm~ acaba concedendo. Ele reconhece que ''a intemali-
reciprocos, ~ falta de acordo quanto aos preços, a falta de confianca zaçâo é um artifício (device) para a companhia manter sua vantagem
na a~equaçao das mercadorias às especificidades inicialmente est~- específica, em esc ala mundial", e também q11P ;\S filiais permitem às
belec1das, a necessidade de deslocar as mercadorias, a existência de multinacionais segmentar os mercados nacionais e utilizar a discrimi-
tarifas aduaneiras, de taxação dos ganhos criados pela transação de nação de preços para maximizar seu lucro, em nível mundial.
controles de preços, de cotas, a falta de cortfianca na devolução ' em
A intemalizaçâo leva à formação de situações que proporcionam
caso de não-pagamento. •
a apropriação de rendas. É o que acontece especialmente com a tec-
. Como se vê, a lista é longa; podemos até nos perguntar por qual nologia, o que explica, segundo Michalet, por que "a maioria dos adep-
milagre pode haver, apesar de tudo, um comerc10 · · 111temac1onal
· · entre tos dessa teoria [da intemalização] conferem grande importância à sua
companhias independentes! Os autores que adotam esse enfoque são aplicação à tecnologia". " Esta é definida", observa ele, "como um bem
_ lodos os casos, a tazer d a ·mtemahzaçao
levados: em · · a contrapartida coletivo. Seu consumo não reduz sua disponibilidade; o fato de que um
necessana, de certa forma inevitável, da muJtinacionalização. Reto- indivíduo tenha acesso a ela implica que todos os outros indivíduos
mando uma observação de Míchalet sobre esse enfoque, "a luta contra também podem ter. A natureza desses bens os coloca fora do campo
os custos de transacão
• gera as multinacionais", de ma neira
· quase natu- da economia, pois são a negação da escassez. Sendo o seu custo mar-
ral. Essa luta permite justificar a preferência pelo investimento direto, ginal nulo, o preço também deveria ser nulo. Eis aí uma situação nada
em contr~~sição_ á exportação ou à venda de licenças. A realização atraente para a companhia privada que produziu aquele conhecimento
desse ObJehvo, nao apenas leva as companhias a criarem filiais em e que, assim, estaria impossibilitada de valorizá-lo. É nesse ponto que
vários países no exterior; também as obriga a ligá-las muito estrei- a teoria da intemalização encontra nova oportunidade de se mostrar
tamente, sob controle único, para dom1·nar a ·mtemalização interna- útil. O efeito, açambarcar a tecnologia e o know-how que a acom-
cional dos custos de transação. panha, será realizado mediante a criação de um mercado interno da
c ompanhia. Junto com isso, a vantagem tecnológica que essa compa-
H~ apenas uma linha divisória muito fina, entre a intemalizacão nhia detém não irá mais se diluir no mercado livre. A intemalizaçâo
:o~~ebida,, como meio de a ~om~ia se defender das imperfeições realiza a metamorfose de um bem intangível - um determinado saber,
u f~as. do mercado, e a mtemalização como instrumento que lhe por exemplo - em um elemento patrimonial" (1985, p. 81).
~mute cnar novas "falhas", em proveito próprio. Como constata Oun-
~g, apesar de pró_xi~o a Rugman e Casson, cada vez que "as empre- A teoria dos custos de transação vem, então, legitimar a capaci-
sas preferem substituir ou não utilizar os mecanismos de m d dade da grande companhia de se apropriar das rendas. Para quem se
· d' • . erca o, e coloca, mesmo que parcialmente, neste terreno herético, a única
Slffi 1slribmr seus recursos em função de seus próprios procedimentos
de control~, não apenas elas ganham com isso, como outras empresas posição cientificamente honesta é a de Dunning. A partir do momento
correm o nsco de sofrer perdas (em particular, as que eram seus clien- que a falha de mercado não é, de forma alguma, para a fuma de gran-
tes ou seus fornecedores antes da integração vertical, ou seus concor- des dimensões, sobretudo uma multinacional, um parâmetro externo

84 85
sobre o qual ela não possa interferir, e sim, pelo contrário, uma situação do mercado , e de com isso aumenta r o seu poder de negociação pe r
que ela pode c riar ou acentuar, por sua própria intervenç ão. nos cam- ante todos os outros agentes econômicos. Voltando ao caso da tecnolo
pos que lhe interessa m, e ntão essa com panhia deve ser definida como gia, a "vantage m específica resultante da inte malizaçã o" dá à grande
dispondo , além das suas próprias "vantage ns específicas da compan- companh ia uma pec uliar capacida de de faze r frutificar, ~orno fo_nte de
hia", também de uma ampla variedad e de vantage ns competil i\·as (Ta- renda, suas patentes e licenças. negocian do a sua cessao e, hoJe, st-u
Licla 3), decorre ntes do seu privilégio de se colocar, parcialm ente, fora intercâ mbio c ruzado. Essa capacida de deve-se à posse da vantage11
única: 0 me rcado inte rno do grupo transnac ionalizad o e protegid o, que
Tt1hcla 3 nasceu da c riação de novas filiais ou da aquisição /fusão das empresa•
Vantagens ligadas à multinac ionalização
e o pções de localizaçã o, segundo J. H. Dun nino existe ntes.
- -- ----- ---=-- -- -- b
~ riáveis que afetam ~
Vantage n~ específica s 1 Vantagen~ de~orren tes
da com panhid da mlernahzação
I opções dt; !ocalizaçã o
(positiva o u
negativamente) _ I
IA \l,mlagm;, p rópr,,1~,
em senlldo csrrilo
[conom1,1s de transaçao ~ ~ urros espN .ííicos d o
na aqu1s1ç.:io dos insum os J)il lS.
Propried<1dE' de lindu\ive uxnolôgia). qualidade e prf'ÇO dO'i
1ccnolog1a. R<-dução da incerteza. insumos.
Dotaçõ<>s cspcxíí1c;i~ Maior prote1,.:io da q ual idade da~
(pessoal, <:,1pitais, ll.'<.nologí;i. mfr<1 est~lllur.i~ e
o rga ni7M;dOl. An-.;w às s11wrgias cxl<'malid.idp; <P&O
próprias d,1s ati, idades etc.l.
B. \lanragi,nç ligada, .:i mtcrd<'f)en dcntes. Cu,1os de tran~portc <· dc>
o rganizaç,lo como Contrólc d;i va lidade e das 1( Om_unic<1 ç<10. . .
g rupo. iniciativas. D1st<1nc1a psi<.ologica
1. Econo1mas de escala, Possibilida de dP evitar ou (língua, cuhur.i etc.
<'Conom1<1s de d,• explor.:i r medidas Pol111~a comc;r:.c~al
envergadu ra. govcm ,unenu is 1 (b.:irrciras t.:iriran as c-
Poder de mencaclo Íesf)('cial mcmc fiscais). nao-t,m í{mas.
corno comprado r P
como vendedor.
Acesso 110s mercados
P~sib ilidade de praticar
rnanipulaç ao dos preços
d,• transfori>ncia, f1xaç<10
I
c.on11ngcoc1amcnto,.
Am<'.tça s prol<'c ionis1<1~.
Po liuca ind ustrial,
(de íatores e de de preços predatório s etc. tC(. no lógic.:i. social.
prod utos! Sub\;<'flÇócs <' incentivo\
2. /•.1ultinac1onaliLaç,10 para arr.:iir as companhias.
anterior. 1
Conheci mento do
mercado mundial.
Aprcnd1Lagcm da 1
gestão int<'m acion,11.
Capacidad<' df'
explorar as diferenças
<>ntre países. 1
Aprendi7ilgt.m di\
gestao de riscos
- - -'---- -- ---- - J_
Font<> adapcado mais cornplí'Un1<'nte do que em outros autorc-5 francew~. d a Tabda
1.1. e m 1. H.
Ou nning. 1988. (01.ISeiv~<.c. c m pJr1icular, que D11nnir1g 11Jo u tiliza a P>-p<<.'s sào "va11tagens
ck,~
pal~s". e quP i11cl ui. dp111rc as va11tasens pró prias ela compdnhia. uma longa list.l tk.•
vantai;<>r» li-
gadas à organi.taçâo como grupo f' à multinaoon ali1açJo a,1tpr,or.l

86 87
capítulo 4

Concentração de capital e operações


descentralizadas: empresas-rede
As dimen sões dos grand es grupo s, cuja fisionomia come
a perce ber. aume ntaram subst ancia lment e ao longo
çamo s
da décad a de 80.
A crise poupo u os
Essa const ataçã o foi feita por W. Andreff já em 1982.
um cresc iment o
grand es grupos; pelo contrá rio. eles eiq>erimentaram
mente , foi propo rciona do
susten tado. Este foi marca do ou, mais exata
e pela forma assu-
pelo reílor escim ento de sua expan são intern acion al
capítulo 3, que o
mida por essa expan são. Já pudem os const atar, no
80 este\'e coloc ado sob
rápido cresc iment o do IED no decor rer dos anos
domi nado pelas
o signo do im·es timen to intern acion al cruza do e
aquisi ções/f usões .
ncias recen -
A Tabel a 4 apres enta. para os Estados Unidos. as tendê
ição de empre sas
tes relativas à c riação de novas empre sas e à aquis
ro de transa ções
existe ntes por comp anhia s estran geiras , tanto em núme
e 1995. predo minar am as
como em valor de im-estimentos. Em 199-t
is estran geiros .
conce ntraçõ es e as fusõe s-aqu isiçõe s feitas por capita
as opera ções de
Embora meno s detalh ados, os dados disponíveis sobre
parce las majoritárias,
conce ntraç ão industrial (fusõe s e aquis ições de
filiais conju ntas)
aquis ições de parce las mino ritári as, criaç ão de
éia e,iden ciam
efetua das por empr esas de paíse s da Comu nidad e Europ
anhia s, impli-
igualm ente o ritmo acele rado de conce ntraçã o das comp
ntraç ão deu-s e.
cando sua ··racio naliza ção" e reestr uturaç ão. A conce
éia e a nível pro-
simul tanea mente , no plano nacio nal, à escal a europ
ro de fusõe:. e
priam ente intern acion al. ou seja, "triád ico". O núme
foi mais de qua-
aquis ições de partic ipaçõ es major itárias em 1988-1989
Essas opera ções
tro vezes super ior ao nível regist rado em 1982-1983.
1987, quand o, evi-
aume ntaram significativamente sobre tudo depoi s de
impul so suple menta r
dente mente , a persp ectiva do Mercado Único deu
alizaç ão.
ao proce sso conju nto de conce ntraç ão e intern acion
91
A · · - Tabela 4
. .
- --9.u,s,çoes e criaç.io de com anhia, ~or cap,ta,s
- - - e__ ~ tran~ir os nos EUA
1 - - -
- - É por isso que definim os o oligopó lio mundia l como um "espaço
. _ Remessa s de investimento
de rivalida de", delimit ado pelas relaçõe s de depend ência mútua de
1
1 .- (m,lhoes de dólares e número de rem essas) 1
- _
1 1 Aqui,;íções (A) - , ~ - - - - - mercad o, que inte rligam o pequen o número de grande s grupos que,
I 1- - V -, - ,-: - - - r ~ ç companhias (8)
Ano
- ·- ,l or Número , V 1 --;_ - - 1 numa àada indústri a (ou num conjun to de indústr ias de tecnolo gia
- - -
li\~ -1- - - ª .2! _ ! _Numero 1 8/ A gené rica comum ), chegam a adquiri r e conserv ar a posição de con-
1 l 9íl4 1 1
·"-
-
315
1 3.361 449 -- i
--º..!8
1 1985 1 .?0.083 l!)() 1 corre nte efeli\·o no plano mundia l. O oligopó lio é um lugar de concor-
3.on rência encarn içada, mas também de colabor ação e ntre grupos. Estes
1 1Aso 1 5,;c; 1 t Jc,1 1 o. 1s 1
1 19Rc, J

' 198- 1 U.'JJJ 1 'i-O 1 :::~~ 1 485 O. .!S l reconh ecem sua "mútua depend ência de m e rcado" (Caves, 1974), de
1 s
1
modo que as relações que constitu em o oligo pólio são, em si mesma
i C.-1 .HSS 1 j 1 -135 U. 19
j 1988 869
1 1 r;5 5 0.12 / à entrada de
e de forma inerent e, um importa nte fator de barreira
1989 1 1 7.817 1 OU·
l 'i~).708 837
1 1990 1 55 11s 1 839 j :~::~; 1 7-n I o 19 tros, sobre o qual virão depois se desenvo l\-er outros ele mentos (tais como
1 199 1 1 17 806 1 561 1 7.732 1 778 1 0.19 1 os c ustos irrecupe ráveis ou o nível dos investim entos e m P&D).
1 10.ú1 6 1 -16 3 1 5JO l 0 43 1
1 1992
1 ;:;~: j
L _2_993 - L 2_!_:_0~ 1 SSJ 1 4~8 1 0 .44
A medid a da conce ntraçã o mundial
lstesdddo s, ,ios.loc0t1 1p.31J,e,, dqueles< los-;:;;;;: --.-. - _1 - 4 Jb _.J_ ~ 14 _ j
bala,~,r; de paQ,1mc1110, .
de •m ~1m1t-,110.., l.''>l,1bek-c.1tl.~ . 1><ase nos
,;;, c,,m
A taxa de concen tração mundia l dá uma primeir a aproxim ação do
..,
fontf' • Sune)· t.J{Ci,rrent /Ju....ines•;.

t- número de rivais oligopo lislas e m sentido próprio, isto é, aqueles que


A partir dessa consta tacão três ",
primeir a diz tespeito à car;cle ~zacã~ ues oes podem ser colocad as.
A efetiva mente são capaze s de s ustenta r uma concor rência "global
a da concor rência e atuando simuJta neamen te em seu próprio m e rcado, nos mercad os dos
das formas de mercad o li - da naturez
-
resu antes da concen traçao. -
fere-se à interpre taca-o da . A segund a re- rivais e e m outros. O process o combin ado de investim ento interna
• s causas subJace t - tratamo s acima, acaba
ceira refere-s e à mane i· ra c omo os gra d n es a concen tração. A ter- cional cruzado e de aquisiç ões e fusões, do qual
longo dos últimos anos 0 bl n es grupos aborda ram , ao resultan do e m níveis que, em igualda de das demais condiçõ es, corres-
pro ema clássico d e gestao- a
,
burocrá ticos" ligados as

d . _ dos "custos pondem àqueles que, há apenas vinte anos, permiti am diagnos ticar
gran es dime nsoes . . . naciona l
lados pela mundia lização . e, em pnnc1p1 0, aumen- existên cia de uma situação de oligopó lio no plano
Com os estudos feitos nos anos 50, no quadro da legislação anti-truste
dos EUA, tinha-se chegad o a um acordo sobre os indicad ores de concen-
O ofigopóf io internacional ou mundial tração. A parcela corresp ondente às quatro, oito e vinte primeiras compa-
nhias, em produçã o e vendas, era utilizada como primeiro elemen to de
Atualm ente, a forma de oferta mai , . aprecia ção da forma domina nte da concorr ência em determinado ramo ou
o grupo de produtos. A maioria dos autores conside ravam que, se as quatro
oligopólio. A e xistênc ia de situacõ es de o~i car~c-len~IJca no mundo é
se reduz mecani -
camen le ao grau de conce t . . gopoho nao
n raçao. Com efeit o, o e nuncia • maiores compan hias, na produçã o. vendas e faturam e nto de um setor ou
, do mais
generic o mas tambe' m
'
. f ,
mais rutifero para d . , uma categoria de produto s, detinha m, em conjunt o, m e nos de 25% do mer-
prende-se à interde pende"n eia . ' escreve r o ohgopo lio
entre compan h·
compan hias não reagem mais . ,as que ele acarreta , "as
a forcas im . co, e sim
• pessoa. is prove nientes do 1. Nào utili7amo s aqui o termo "PSpaço" em sPntido grográík o ou geopolíti
mercad o, e sim pessoal e dº 1 a suas · · ,. ( Pº1ckering, 1974). na acepçao conceittldl de "meio ideal ou abstrnto" , dc-limitado por determin
adas re•
' ire amente ' nva.is P<•noux sobre as formas
lações. Nossa definiçao tem origem t>rn certas ,1nálises der.
92 de concorrê ncia.

93
cado, reinava uma situação de concorrência imper Tabela 5
feita. Se as quatro
com panhi as mais impor tantes detive ssem mais Conce ntraçã o n o m ercado de comp utado res
de 25% do merca do.
estava-se de acordo em dizer que começava a PMticipação no m<'rc.ado, em porcenwgc ~ - - ---
haver uma situação de ---,
oligopólio. Entre 259u e 50%. tal oligop ólio era caract r- --r - - ! IBM 4 1O in?il.<',hl !
eriz.ado como fraco __Lpr~ _ prím< '~ . H<'fllll d~
e instável: além desse ponto. era considerado cristal
izado e constituído -- -- -- -- 1- ~ ---;;
1Total de compu tadore s 53 67 I 0, 181 l
de fomia duradoura. Para J. Bain ( 1968), os oligop 1984 1
ólios altamente con- 28 15 (,4 0,097
lexcluindo pcriíéficos e 1988 1 ~-
centrados são aqueles onde as oito primeiras empre
de 90% do m ercàdo e as quatro primeiras, de 65%
sas controlam mais l
rndtN1a 1sl
1
l
a 75%; no caso dos <.íst(_~11,1s de gr,mdc porte 1')84 58 7(, ') 1 0,3<;
1
oligopólios muito concentrados, as oito primeiras
companhias detêm entre J')l\8 4 .) 75 93 0 ,21 11
85% e 90% e as quatro primeiras. entre 60% e 65%: por 1
fim , os oligopólios 1 .u (,2 0,07(,
mode radam ente concentrados são aqueles em que sistf'lnas m('<lios 1984 22
o controle é, respecti- 17 4.! 64 0 ,070
vamente, de 70% a 85% e de 50% a 65%. 19 88 1
1 1

micros 19 84 J7 60 77 o, 16(,
Os dados reuni dos no relató rio TEP (OCDE, 1992),
fragm entár ios, mostr am que tais propo rções
embo ra ainda
já foram atingi das, a
- - - - --- -- - -
-
1 1<)1',8 24
~------ 46_1
. b (,
~CJ --'- 0,089_ _1
>rinc ip,1tS iin11 ,h de inlol'-
1
~nnte: i.... l la111m. l<J\I_, ,, I'~ r1 H do lcva ntrl111cnto da Dataina t,on so re a 1
,
-
nível mund ial, bem mais freqü en temen te do que
se costu ma admi tir. m~tica ,,, n d11t·R~11es ,mos.
Repe rcutin do os temor es de que as polític as de d
0 a nume rosos setores e
ajuste estrut ural, que . ,,
dade de P&D ou '·alia tecno logia • bem com . . d d
favore ceram ampla ment e o movim ento de conce
n tração em nível in- N
fabric acão em grand e escala. as .m d, strias de alta intens1da e e P&D,
terna ciona l, estive ssem acarr etand o o risco de u truturas de
cartel izaçã o intern a- na verda de, as maior es exceç ões são os setore
s onde as es . .
ciona l, esse relató rio suger iu que "talve z lenha - . . d . é o caso dos lança mentos espaoais.
soado a hora de
chega r a um acord o sobre a ident ificaç ão e oferta sao ainda mais concentra as~os produ tos
m edida do oligop ólio m uito especializados da
a,iões ci\is de longo curso ou ou .
intern acion al". Propu nha então que as medid
as de conce ntraç ão . d, trias o desapareomento de um dos poucos
indúst ria militar. Nessas 10
(ver Tabel as 5 e 6). que havia m sido inicia us ' . - d
lment e public adas em concorrentes que restam so, pode ter como efeito le\-ar a 51tuaçoes e puro
certo número de estud os de caso e estud os
setori ais, inclus ive nas e simples m onopólio.
public ações da OCDE. da CEE, do Centr o de 1
Dese nvolv iment o da
OCDE e das Naçõ es Unida s (o Centr o das Naçõ
es Unida s sobre Com-
Tab<'la 6
panhi as Trans nacio nais, enqu anto existi u, e o Outros indica dores de conce ntração mund ial 1
UNCT A0), passa ssem ____ - - - -- - - - -
r-- - - --,d · ~ d.; produçã o mundial
a ser cole tados sistem aticam ente e subm etidos 1984 1 ~ .,,npres. ,s res!.'.:.. .tm po<
a exam e perió dico Au10m6 ,é•S 198<> 3 empresa s r(--.,= ~= por
• , ... da .,,,,<luçãr, noundial
nas instân cias intern acion ais adequ adas. Não
é nada certo que isto 1
~ra, dl', ,dro p.,ra autom(M••S
r ~,
,
.,,
- <,mpresas respo1tv em por
j , .,.
88" da proctu,à o mur,u,a 1

. ... 1

nd 1 i
esteja sendo feito realm ente. Poe~ 1988 ó <,mpr(,saS 1=t""
- ·..-.v<em
~ po r 85... da pro<luçã o nou 'ª
•-·1 ()Rl\.'1 -, 5 ,.,.,.,,esas responclc•m po< f,;-.., da P' oduça• o mundia
,,.. cl~ >roduç,\u mu nd 1.111
d e d ,IUU"> 198 . .,...
1PrOCC">S 3m("lll0 líl (•1npres;1S respond em por 10·" • a 1 • d'
Forma s muito conce ntrada s de produ ção e de - ~..,. da p«xJuç. ,o mvn ,a1
come rcializ ação, Proc~sam.-r1to de dados -'!>1C l 'l88 1
4 c•11-.:,resas respor• E,tn por
1~ ;:mpr,•-;..is respoud em p• ,, 10( • da prndJç-
j und 11
em escala intern acion al, não são novid ade nenhu 1 ~ m d'\
ma. Na indús tria do ., w1erial 1nédico 1989
:, <:-1Ylfm~s.is r~pv,·---"= f"''
t\.A'<;"",
qoo,0 da p,nduça o mun ,a
1
petról eo ou da extraç ão e tratam ento de metai I Produto s p<•lroquin1i ...os:
s não-ferrosos (por e- 34 • da p<,,duça.> mund1.1I
l'l80
xemp lo, alumí nio). a elevada conce ntraçã o const
itui. há muito tempo , 1
Poli1 xopi\.•11u ;;O"•, da produçã n mu"di~I
da pmduçá muo<ha1
j , ...
I
uma carac teríst ica domin ante da oferta . O que
é carac teríst ico da r,o•. da p<oduçã n rnundral 1
cham ada fase de mund ializa ção é a exten são 55"• da p<oduçi lo muno.a!_
de estruturas de oferta
muito conce ntradas, para a maior parte das indús
trias de alta intens i-

94 95
Tabela 7
A abert ura dos antigos oligopólios nacio nais Fabricantes de automóveis,
e 1ass1.f.,caça~o por ordem de produção total em 1992
Entre os econom istas que se interessam pela mundi alização,
não existe acordo geral sobre a n ecessidade de estuda r as
ainda
conseq üên-
- - -_-_-_-_.!. .--_-_-_-..- -,-9-92-
.. 1
(em mil veículos)
e - - - -- ----- i
1982
1 ci;si- ClassiíiJ°Carros_de U~~~~á- 1
~
I
cias da concen tração mundi al. Alguns especialistas continu c anle Carros _ele Ut(htá- 1Ola j
íicaç60 a<,ilO
am a dar 1 pass<>10 ~ -j
atenção sobretu do às conseq üências, em matéria de concor pa,;~c,o I nos 1 1
rência, da 1 -l- 1T 4 7791 1.107 1
abertura dos antigos oligopó lios nacionais. General MoCors
~ ord Íl 5.053 1.898 6.951
3.8041 1.924 1 5.728 1
2
2 2:993
1
1.146
1
É indiscutível o aumen to do grau de concor rência em cada mer- 1loyo1a 1 4.097 1.253
. 150 3 3 2.386 1.2841
S.
cado nacion al. consid erado separadamente. Em certas indústr
gopolistas, onde o efeito concor rencial da liberalização do
ias oli-
mercad o só IVolkswagen~
NiSSiln
3.291 1
2.316
201 ! J.4q \
7761 3.092
2 4

s
\ : :::~~I
q:~ 1
se toma realme nte efefü·o quando acomp anhado por uma 6 8 1.468 192 1
penetra ção
dos rivais, median te investi mento direto, é certo que o m ovimen
fiall 2.001 1 276 1 2.2771 7 jS 1.962 1 359 1
to de 1 761 334 2.095
investimentos cruzad os que se deu ao longo da década de
Renau 1
t . \ l 8 1 11 7S0
fortemente as barreiras industriais que protegi am as posiçõe
1980 atingiu
s dos oli-
Chrysler
IPSA
800 1.2S5 1 2.055
1.842 107
9 7 1.504 1
224
182 l
2 .04'J 1
gopólios nacionais. faident emente , os autores americ anos 132 1.854 1o
são particu - 721
l 9 8&0 1&O

"li ::
larmen te sensíveis a esses efeitos. Por diversas razões , a começ Honda
ar por 1. \ J 11 13 399 j
seu avanço tecnoló gico e seu poderi o finance iro, os oligopó J~••ubis l,i 1.142
lios ameri- 1azda 1.139 1
533 1.675
1.417 1
12 1 10 82
canos eram particu larmen te fortes e eficazes na defesa coletiv
posições. Têm-se, então, numerosos estudos, especialmente
a de suas
no setor de
uzuki
4
652
277 1
334 987 13
14
l 18
28
11

726 157 883 1


informática (Ramm , 1990 e 1992), sobre os efeitos da abertur IHyundai
gopólio americano e sua evolução sob efeito da concorrência
a do oli-
japone sa
1~l\e.-ccdes-Benz 54 il 269 1 8111 15
16
14
12
4 66 1
8 00
242 1
o
61 681
Na França , F. Sache wald ( 1994) public ou dados mostra
ndo a
lvAi {Lada) 620 1
119 481 (100 17 19 1 13 \ 292
1SULU
queda na particip ação de m ercado do maior produt or automo o S98 18 16 1~ o
bilístic o BMW
nos Estados Unidos ( Genera l Motors), na Itália (Fiat) e,
claro, na
l Fuji Heav/
598 1
423 147 570 19 -
Espanha, onde o fim do franqui sm o e depois a entrad a do
país na CEE Kia 323 1 S54 20 -
levaram à elimina ção das proteçõ es que asseguravam à Seat 1 21 15
quase 50% Rovcr 6
3461 231
21 \ 367
do mercad o interno . A autora observa que, em compe nsação
, em ou- 1
D3C\VOO 239 31 270 22 -
tros países, a compr a de certo númer o de fabricantes, seja
grupos nacion ais (caso da França), seja por grupos estrang
por outros liTotal dos 22 33.868 10.8391 44.707 25.435 \ 7.429
eiros (caso 26.605 9.436
do Reino Unido) , contrab alanço u a queda de concen tração 1
Total mundial 34.838 13.117 1 47.955
resultante
1. Inclui a produção da Oaih<115U e da Hino.
da penetração externa e diminu iu a amplitu de de seus efeitos.
As cir- _,._~ .... A d.
2. Inclui a prvv._...ào "" u 1• wSf.Ale daSkoda( .dq . 'da em
cunstâncias que permit iram a abertura dos oligopólios nacion 3. Inclui a P'odução da Laocia e da 1986 , 22° produtor em 19821
ais tam- Alfa Romeo a um
bém impedi ram que fosse um processo com efeitos unívoco 4. Inclui a P1oton ~'Aalásial . da ~ da Nissan que possui 6,2". do seu capital.
s. Devido . d .
5. tm 1982, a fJ'oduç~o da fuji Heavy fo, a ic1<>na
ao movim ento de fusões/aquisiç ões que o acomp anhou, esse ,
processo
levou à generalização de situações de oligopó lio mundi al, basead ?
&. ,\ British Leyland passou~ Rover em 1 86· . TT
fonte: F. Sachcwa kl (1994), il partir do F,nanc,a1 ,mcs.
. sctt'ffibro de l 9 93, e de Ahshuler el ai.,
as em
nÍ\'eis nada despre zíveis de concen tração. l984, no tocante a 1982.

97
96
Concorrência entr e oligopólios ., pe esse quadro estat , .ico, em seu artigo clássico
ericanos como extensão
ou con corr ênc ia sistêmica? , ar que R. Cave s Ja rom
sa o IED dos g~po s am , . . trodu z íortes
de 1974, quando anali , e m ·
. -d d oligopolis ta dome stica
a e , . d t . pode ser corri gido
internacional de sua nvahcará .
Foi S. H}m er o primeiro a anunciar, já em 1970,
que a plena recons- ., . ,• o ter estatico a eona
d li pólio ressaltando explic1-
na- vanave1s estra teg1c as. o go ,
e o renascimento de multi sem abandonar o enfoq ue em termos e
trução dos capitalismos europeus e japonês
ição, da internacionalização de as de oferta.
cionais nesses países iriam provocar a trans tamente o caráter concentrado d as es!rutur
do oligopólio doméstico dos t t do a manu tencã o de níveis elevas" dos de conc en-
capital caracterizada pela extensão mund ial • d no novo con-
tituiç ão do oligo pólio inter- Embora cons a an dos gran es grup o do
EUA, para urna situação que assistiria à cons tracão e a ··sobre"ivência d .
ma1 • n·ca
i .
anos de expansão inter na- idera que, levan rr- .
nacional propriamente dito. Após quase vinte - 1980 M Hum bert efetiv amen. te cons T amer icano s a
anos de aquis ições /fusõ es texto dos anos • · ,
ciona l dos grup os japon eses e uns dez d línº da dom inacã o dos J' ohgopo JOS
• . e a maio r incerteza, _o
o , -eremos no capítulo 5, ao em conta o ec 10
mud anca tecno ogica
transfronteiras, este já está cons tituíd o. Com _ .
des rupos e de sua inter açao
"indústria globa l" utilizada rupç ao dos Japoneses, a, . •
contrário do que dá a entender a expressão . g , truturas e estendê-la
didas com o aparelhos de pro- estud o das novas estrateg1as dos gran
por M.E. Porte r (1986), as indústrias, enten blem ática redu nda as es
eh mar de enfo que sisté mico "
plano mun dial Em comp en- exige "aba ndon ar uma que pro ,
dução, estão longe de estarem integradas no . t no se costu ma a
t te'gi·as" é, para nos,
e em grau sem precedentes. ao func10nam en º• . d
..- teraçao as es raman ter esse
sação. o merr:ado mu11dal est6 i11tegrado, sim, , e_ a m se deve termo.
inlemos dos vários países da (p. 256). E justamente porqu
Isto vaJe. em particular, para os mercados . T10 ue Julga mos que
t acterísticos do oli-
ial efetiva, com a única ex- a essê11cia do oltgopo t , q que certos aspe c os car
OCOF., onde se concentra a demanda mund É bem verda de, con u ,
d 0 · M Hum bert
inter no do Japão. Evocando, aos qurus . .
ceção parcial e tão problemática do mercado •. dial estão muit o próx imos daqu eles
ndên cia transcenda as fron- ". Isto se aplic a, em parüc u-
em 1974, '"a possibilidade de que a inter depe go~ ho m~n o de "con corrê ncia sisté mica seus grand es
a, que estas ainda consti- d U "dos ao lado dos
teiras nacio-nais", Caves considerava, na époc coniere o erm 1 ump rido pelos Esta os m
ial de dependência recíproca". inte.
tuíam "nítidas delimitações na cade ia mund lar, ao ~ape ·ocnaJ·s" de que trataremo no capít ulo _segu
s Em
grupos nac1 ,
trias, não é mais assim.
Hoje, num núme ro cada vez maio r de indús . tifica r a manu tença o desse termIho. as
Outras razões pare cem JUS
publi cou um importante r ólio tradu z infini tame nte me or,
prim eiro lugar, o conc eito de ~ igopuma es
Em 1988, a revista &011 omie s et socié tés tru ~ de oferta, bem com o
.
. Em seu artigo, M. Humbert d perte ncer ou nao a
núme ro especial sobre a teoria do oligopólio . -
t da (atua lmen te barre iras
" ao de oligopólio. Ele ob- d1mensoes . etê . de barre .iras d e en ra •
prefere o conc eito de "concorrência sistêmica as da pers1 s nc1a h" uia de fatores bem .
serva que, na teoria clássica do oligopólio
, este "é urna estrutura estável . • . tr 'das com base em uma Jerarq inaçã o sofn-
, . Bain ) de efeito s de dom
produtores, os quais, segundo dmarrucas, cons w
de um núme ro relativamente pequ eno de . . . 1 de fluxo e de profW1da
diferentes dos fatores class1cos de 'od'o 1rucIa
êm as quantidades produ- tro I do apo' s um pen
o princípio cham ado 'de P. S}1os Labini', mant . • conh ecere mos ' de novo ,
hesita e acaba renunciando, dos etc. Por ou d a ' perm ite dizer que nao ,
zidas mesm o se aparece algum novo; este ..
instab1hdade, na ª nos _ li ar certos aspectos elas•
sob a ameaça de que o preço caia a um
nível em que sua entrada não situações mais estáveis, onde voltarao se a mn ª_ s

vão preferir uma concorrência ao de ~reç o .


seria lucrativa.. Os detentores do oligopólio sicos do oligopólio, no cam po da fixaç
ado equilibrio. Supõe-se, em
suave, não de preços, privilegiando seu delic W H mer e $. Rowthom formulavam a
geral, uma situação de equilibrio cham ada
'de Nash' (1951), ou seja, onde 1 - - Num art,go d: 1978 . ~-do . tra;lSitório, mais oudemeno
s prolongado,
uma estrutura de
nenh uma comp anhi a pode espe rar melh
orar sua posiç ão com uma j hipótese de que. apos um peno rist"te,'. . l a iormdção
~"rna ciona l cru1<1do, acabaria re-
as outras estratégias sejam 1 de acentuad,,
riv,,ltdade ?hgo~o d ' ças
mudança de estratégia (mes mo supo ndo que . - 1
rt·r do mves tunen to m ~ '
Í1. ç~ da corre lação e ,or '
dadas e estáveis)". Sem dúvida, tudo isso é
exato. Deve-se contudo obser- 01erta u111ca, a p,,
1 sultc1nd? numa partil ha
dos
1 intr,1-ohgopoh'itas, bem como en
mer~a~;i~d:1
d~~i ;ação preços. É possível de
98 99
identificar indícios de ambos esses íenômenos, mesmo se, por enquanto, só
apareceram den1 ro do contexto de situações de oligopólio mi!>10, no sentido N pe ríodo de mudança tecnológica radical e rápida, aumentam
de Cona (1978), isto é, com a intervenção dos Estados no jogo oligopofistico. os custos considerados irrecuperáveis pela compan h.ia (lmvestimentos
um .
No setor automobilístico, por exemplo, existe um~ forma instável de partilha , modificações ocomdas. no
de risco muito alto). Isso deve-se tanto as
dos mercados, mas é fato a existência de "acordos de restrição voluntária das
, 1 composição interna dos investimentos, sob forma de maiores
exportações" e de decisões relativas a quotas de produção pelas filiais es- mve e ·t e de
trangeiras, de cuja elaboração participam os grupos e governos, e o pape( t d P&D e de equipamentos muito específicos, mw o caros
dos EUA. No setor de semicondutores, a intervenção do governo dos Estados gas os ede vida muito curta, como ao alto grau d e ·mce rteza inerente
duração
U nidos, Pm 1979, par.:i frear moment,111eamente a guerra de preços pro-
movida pelos japoneses, resultou, de facto, em uma fixação dos preços no
às fases de mudança tecnológica paradigmática. Os trabalhos de K.
mercado americano a preço de monopólio, proporcionando aos oligopólios Fl mm (1990) sobre a indústria de semicondutores mostram um cres-
americanos menos competitivos a venda de seus produtos (K. Flamm, 1990). a
cimento , - sob pressao
relevante dos custos irrecuperave1s, - desses fatores '
de forma que o mercado é caracterizado como se afastando cada vez
mais da categoria dos "mercados disputáveis", conforme Baumol e Lee
Os custos irrecuperáveis e ( 1991).
os efeitos dinâmicos de aprendizagem
Segundo outra abordagem, nas indústrias de forte teor de P&0 e
Podemos agora voltar-nos para a segunda questão colocada pela de investimentos produtivos altamente específicos e o_n:rosos, a
onda de fusões, e tentar compreender as causas subjacentes à concen- tendência à concentraçao_ apoia-se
. nas vantagens diferenciais , de que
. .
tração. A economia industrial contemporânea oferece uma série de se beneficiam os inovadores e os imitadores rá~idos, e graças as qua1S
abordagens, ma.is co!!)plementares do que contrapostas, procurando com- eles podem reconstituir ou consolidar as barreiras de entra~a a e~s.e
preender por que, na etapa hoje aJcançada de funcionamento de um capi- . Para G. Dos1. ( 1984' p. !90) ' essas vantagens
setor industrial. . d1ferenc1ais
d' âmica
talismo muito intern;:icionalizado, estruturas de oferta fortemente estão baseadas no efeito conjunto de curvas de apren~a~e~ m
concentradas são antes a regra do que a exceção. São elas: a da teoria .
e de efeitos de "preenchimento ,, d e mercado. Numa
. mdustrta
. como a
dos custos irrecuperáveis; a das "vantagens diferenciais" ligadas ao de semicondutores, os efeitos de aprendizagem mcluem.
aprendizado tecnológico e aos efeitos de preenchimento de mercados que • os elementos de aprendizagem clássicos;
essas vantagens proporcionam; por fim, a da informação imperfeita e da
gestão dos custos de coordenação decorrentes da intemalização. • elementos de domínio tecnológico peculiares à operação de uma
tecnologia totalmente nova;
A teoria dos custos irrecuperáveis (J.L Gaffard, 1991 ) enfatiza, não
apenas o nível de investimentos que uma companhia deve atingir para • e lementos de economia de escala na produção.
criar vantagens estratégicas, que equivalem a barreiras à entrada de ter- . eiro se beneficiam desses elementos ga-
As empresas que pnrn b de
ceiros, mas também o caráter de investimento "a fundo perdido" que ham uma dianteira sobre as que vêm depois, lançando as ases.
esse investimento possui, total ou parcialmente, caso a companhia seja
obrigada a liquidar os ativos industriais correspondentes. O princípio
:m saber tecnológico novo, sobre o qual podem então "co~truir" (isto
, proceder à acumulação tecnológica estudada por K. PaVItt, 1984, e J.
geral é que "quanto mais elevados forem os custos irrecuperáveis, e, tw li 1989) beneficiando-se, ao mesmo 1em po , das quase-rendas
Can
maior é o risco ~ssumido por quem entra, e portanto menos atraente e ,
de inovação • tipo schumpetenano,
de . que pod em re-investlr lme-
a entrada A partir daí, as barreiras de saída, os custos irrecuperáveis, .
<liatamente. Os e1e1
r ·tos de "preenchimento" de mercados. acompanham
tangíveis e intangíveis, que tomam indesejável sair, mesmo quando os acentuam as vantagens diferenciais de que se beneficiam as compa-
resultados econômicos são negativos, também servem para desencora- enhias que se envolveram, com sucesso, no começo da fase de emer-
jar a entrada" (R. Schmalensee, 1988, p. 644).
gência de um novo processo ou produto.
100
101
.Custo: de coordenação, companhias. De um lado, ficam as companhias que estão em con-
dições de economizar nos custos de transação, organizando sua inter-
tecnorog,as de informação e concentração
nalização; do outro, as que são obrigadas a assumir todo o peso desses
. Na déc~da ~e 1950, a Federal Trade Commission, encarre ada de custos. Os efeitos de patamar ou de tamanho inicial, as condições de
apbcar a. .leg1slacao acesso ao capital e él experiência "gerencial" necessária para gerir a
. - anti-truste • sob o olhar de um Congresso, nag época
;u1to v1gdante ~ara as conseqüências do poder de mercado resultant~ integração e economizar eficazmente nos custos de transação também
.ª concentraçao, preparou uma série de indicadores que propor- funcionam, portanto, como barreiras de entrada. Todos esses elemen-
oonavam uma presunção inicial quarito à existência de situacões e de tos pode m ser mobilizados para explicar a extensão assumida pelas
condutas monopolísti cas. um d esses indicadores referia-se à· distância indústrias concentradas.
entre ~ grau de concentração técnica, isto é, a dimensão das fábricas Dois importantes economistas industriais japoneses, K. J. Jmai e Y.
e locais- de produçao, · resu 1lante das caracteristicas das tecnologias de Baba, demonstraram que a informação representa uma das variáveis-
produçao, e o grau de _co~centração medido em participação no mer- chave no tamanho e configuração da grande companhia internacionali-
cado. Nos trabalhos class1cos de Bain so bre concentracao - e barreiras zada. Ela afeta tanto as suas fronteiras como sua estrutura e gestão
de entrada, enfatiza-se, além das varitagens absolutas .em te d internas. "O crescente peso da incerteza no ambiente econômico tomou
custos e de ba · li nnos e ultrapassado o método de gerenciamento através de planejamento an-
d rre1ras gadas à diferenciação dos produtos (orçamentos
~ propaganda e despesas associadas à "inovação de produto"), tam- tecipado e controle. As estruturas organizacionais mediante as quais se
bém o papel das economias de escala na produção. 2 produz informação tomaram-se da maior ímportància para a capacidade
Os partidários da "nova economia industrial" (ver C Ant Ili de adaptação das companhias às condições mutáveis, tanto da demanda
1989), que têm no livro d Wtlr . one , como da tecnologia" (K. J. Imai e Y. Baba, 1991 , p. 398). O tamanho e
ra - . e iamson uma de suas fontes de inspi-
çao, cons1de~am qu:, devido aos custos de transação enfrentados os meios organizacionais indispensáveis ao domínio das informações ne-
pelas compan_h1:15, a dimensão das companhias não será determinada cessárias para atuar nos mercados mundializados apresentam-se, assim,
pelas
d caractenshcas
.. . pe1a necessidade
da tecnologia de produção, e sim . como elementos inerentes à existência desses mercados.
e reconciliar_as exigências que obrigam as companhias a intemalizar A ligação com o movimento de concentração à escala mundial
suas transaçoes, com os custos de gestão da grande não é difícil de estabelecer. Uma vez que o caráter imperfeito cresce
chamados "custos burocráticos". empresa, os
na esfera internacional, acentuando o papel estratégico da informação,
. Já observamos o caráter fortemente apologético das segue-se que os custos de transação a serem enfrentados pelas com-
'Wilhamson Aqui n r . posições de
- . . . , os imitaremos a constatar que a teoria da infor- panhias que se internacionalizam, não podem deixar de se ampliar con-
ma~ao imperfe~la e da necessidade de economizar nos custos de trari- sideravelmente. Inversamente, a natureza, a amplitude e a qualidade da
saçao,
rt leva a identificar um novo tipo de van tagem estrateg,ca
, . e informação necessária para produzir e vender em mercados interna-
po anto a traçar uma linha de "clivagem" suplementar no universo ~as cionalizados, e à qual a grande empresa tem acesso, explicam os
graves problemas de "viabilidade informacional" enfrentados pelas
2. Essa fü,ta ~: fatores e sua hierarquia siio características do "Í rf ., pequenas e médias empresas (ver M Willinger e E. Zuscovitch, 1988).
geu, e esrec111carne11tc, dos seus as ectos . . . or isrno crn seu dfJO·
transformações recnolõgicas de íinfdos ~..;articulares no con_texto americano. As A fusão das tecnologias de telecomunicações e de informática e o
japon<.-ses, nem urn pouco disposl~ a se in~s lr970 e a ,rrupç;1o_de g_rancfos grupos surgimento da teleinformática permitiram às grandes companhias ge-
europeus, nas regras do jogo oligo olisticas JÍ arem, como hav,arn _,e,10 os grupos
renciar melhor as economias de custos de transação, obtidas pela in-
rcpresentilram outros tantos íato~C:l u~ vi tad as r,elas co~1ranl11~s <1meric,111as,
constituem -'IS barreiras. 1 eram modu,c.ar a hierarquia dos latorcs que tegração, e reduzir os "custos burocráticos" associados a sua

102 103
internacionalização. Essas nov . em de uma nova
t- d as tecnologi.as toma m possível tamb ém próprio pode r econ ômic o. Elas simp lesme nte dispõ
uma melh or el • organizar, reforçar e
ges ao as nume rosas "nov
r açoe s" (ver Dunning, no gama de proce dime ntos e de meio s de ação para
capítulo 3) por meio das qu . a grand eas ectiva de estab elece r
ais comp anhi pod
e estab elece r
conso lidar as "deficiências de merc ado", na persp
• a
um controle estrito sobre parte das o e formas estáveis de domi nação oligopolista, que
foram afeta das pela
preci sar absor vê-Ia. Essa é a o . . 1·dp raçoe s de outra empr esa, sem oligopólio mund ial e
ngma 1 ade das empr esas- rede. crise, pela passa gem do oligopólio domé stico ao
pelas profundas muda nças tecnológicas.
Externafização e emp resa s-re de
O grup o japo nês: keiretsu e "toyotismo"
A utiliza ção do lermo "extemaHza . "
cessa s distintos, embo ra oss ~o pode reme ter a dois pro- ão pelos teóric os
vezes, conc omitantes. Uma O grupo japon ês tem sido objet o de grand e atenç
primeira acep ção do I P _a m_ser, muita ssão do grupo keiretsu ou
• ermo md1c a a exten ou f d
apro un amen to da empresariais nos EUA e na Europa. Seja a nível
divisão industrial do trabalh da comp anhia individual, mem bro de um keiretsu
ou assoc iada a um
i os serviços); certa s
atividades, anter iorm ente o;~. uedatualmente inclu grupos, a comp anhia
iza as de forma interna pelas empr esas, ou outro mem bro importante de um dos grand es
desta cam- se e toma m s o das "novas for-
· e ramo s separ ados , q ue exist ·
em, por assim japon esa parec e ter cheg ado a tirar o melh or partid
dizer, "por direito próprio". Os novos setor es dos cham d " . mas" de relações, sem perde r, de form a alguma, o
domí nio do que M.E.
por exem pl . a os sel'VJÇos comp anhia japon esa
para empr esas" ' 0 , cons htuem caso tí · A Porte r cham a de "cade ia de valor" da empr esa. A
. • pico. segu nda
mane ira de utilizar O lenno "ext emal izaca rizaçáo, mas não
·
o" é por opos1çao - - .
a mtemali- utiliza toda a gama de relações de coop eraçã o e tercei
zação, no senti do da teoria d os custos •de trans açã É tem nada de uma ho/lo w corpo ration (corp oraçã o oca) do tipo que foi
o. neste sentido
que o empr egare mos aqui. denu nciad o pela Business Week num artigo de març
o de 1986, a res-
.
Nos últim os vinte anos, assistiu-se
. peito de alguns dos brasõ es da indústria amer icana
meio s que perm item à rand : :ma exten sao _considerável da s industriais
gama de
m~re sa reduzir seu recurso à Com ecem os pela forma keiretsu, adota da pelos grupo
integração direta e evitar ter de a: li e financeiros de grand es dime nsões , altam ente diver
sificados, mas com
interno (m . P ar conti nuam ente o seu merc ado
esmo que mais bem domi nado' graça s a- telemalica). Essa
-. form a de empr esa foi
s dis • estru tura frouxa e muito descentralizada. Essa
evolu ção susci tou muita a que "atinge, ao
d cusso es em econ omia industrial. No caso descr ita pelos obse rvado res não-j apon eses como
eraçã o tecn I' . integ ração vertical de
os acord os de coop
por exem plo, as novas formas mesm o tempo, as dime nsões e as vantagens da
de relaç ões entre comp anh· ot~g1ca.' . Seu objetivo é a
ias em sido carac teriz ad as, por certo s tipo ocidental, e a flexibilidade da desce ntrali zação
autor es, como situad as "em alg I coop eraçã o e o fluxo de informações recíprocas
entre parceiros, mais
rarquias" (P. Mariti R•H • Sffilley . um ugar entre os merc ados e as hie- ...). Uma vez que os
e 1983) e por outro
' . - . s, c~mo acarr etand o que uma hierarquia rígida de cima para baixo (
um "requ estio name nto rof~ mem bros de um grupo industrial são coord enad
os por meio de suas
Analogamente, as moda li!ad do do prmc 1p10 de mtem aliza ção" .
grand e firma come r-
• es recen tes de acord os de tercem·.zaçao . relaç ões com o mesm o grande banc o e a mesm a
sao apre-sentadas por alguns como pelas equip es
cº,1:1º um_ "novo tipo de patro nato" e, por cial, tanto pelos vínculos de partic ipaçã o no capital
outros, como formas no s de pesqu isa, o
vas de quase-integração verticaJ". de direç ão, eles tamb ém comp artilh am os laboratório
rciali zação ) e, se
~s m~da iidad es de exlem aiiza ção utilizadas pelas grand es com- pesso al de acom panh amen ro (conta bilida de e come
et ai., 1985) .
panh1as nao com orta as". neces sário , a capac idade de produ ção" (Altshuler
Pelo contr ário P m nenh ~m quest ionam ento das "hierarqui
às . a de vínculos de
' repre senta m meio s que perm item
comp anhia s esta- O keiretsu é definido, então, como uma rede dens
belec er relac ões assimétri o, já é uma rede,
• cas peran te outra s empr esas e refor çar o seu coop eraçã o entre os mem bros do grupo: nesse sentid
104 105
com a difer ença de que os vínculos de colab - - . • .
oraç ão no plano financeiro, - d inter naliz açao
adap taçao a as exigenc1as, mas tamb ém às -
nova s opor -
tecno lógic o, industrial e com ercial, que os l
tunid ades prop orcio nada s pelas tecno og ias de infor maca o.
mem bros do keire tsu esta-
bele cem entre si, deco rrem , ao mesm o temp •
o, da coop eraç ão entre
parc eiros iguais e da form ação de um merc ado lnte rnal izaçáo das exte rnal idad es e quase-integ
interno. Mas o merc ado
inter no do grup o keiretsu difer e sens ivelm ente raçã o
do merc ado inter no da
com panh ia multidivisional de tipo amer icano . , .
, pois está base ado em e citar um recen te estud o italia no que
dosa gens sábia s e em cons tante evolu ção do A esse respe ito. e mter ess~n l t ( ·er Gráf ico 6), l\lirog\io.
que K. J. lmai e B. Itami . d
indic aram com a imag em de '•infiltração mútu inclu i estu os d e caso .da Ftat, Bene t on ' -
merc ado... Referindo-se expli citam ente a O.
a da orga nizaç ão e do Grup po Finan ziario TessJle (GFT) e o se1o das te\ec omu nicaç oes. O
E- Williamson (1975), outro r. d l term o de -em-
,
capít ulo de smte d'g'd o por C. Antonelb, a o a o
econ omis ta indus trial japo nês, A. Goto, discr se, re J I rk firm)
imin a que, do pont o-de - , para a qual
vista da empresa, esta, "ao cons tituir um grup presa -rede " (firm e reseau, impr esa rele ou d
netw o •
o ou assoc iar-s e a um , emp resa, essen cialm ente,
grup o exist ente, pode fazer econ omia s em da uma de fimiça . -
o q
ue faz dess a form a e
. . ,.
relaç ão aos custo s de tran- .
. ca-o alter nativ a (e supe rior) à das ·'hier arqui as .
saçã o em que seria obrig ada a incor rer se a uma forma de orga niza.
trans ação se dess e no mer- .
cado " e, ao mesm o temp o, pode evita r as "des 1 ões de Antonelü é que, ness as firmas,
econ omia s de esca la ou Uma das principais cone us r de quas e-int egra cão,
perd as de contr ole a nível da gestã o central,
que arris caria se tives se "a telem ática levou a. a docã •
o de nova s arma s •
ampl iado suas ativi dade s e proc edid o por si • . pare cem ser cara c ten'zadas por pode rosos
próp ria à transação·•.3 com base na eletr omca , que d talme nte na possi bilid ade, que
O segu ndo nível em que se pode estud ar a efeitos centn,pe tos base ados · fun .
ame n
_ '
expe riênc ia japo nesa ento d intemali.zar impo rtant es ex-
é o da gestã o toyotista da prod ução , das re laçõe aume nta com o aum das dime nsoe s, e
s de traba lho e relaç ões . do-se nas redes (netwo,1< ..... .xtemalities)". Antonelli tam-
profissionais e da gestã o de estoq ues. Aqui tamb tema/idades, opow n e
ém, o prob lema essen - . , .
• tradu ção da telem atica le va a "uma qued a dos custo s
cial cons iste em sabe r se o fato de proc eder bém estim a que a m - _
- com base num cont rato al ( ) tem sensíveis efeitos na dirne nsao
de supr imen to a longo prazo - a uma form
a de "desl ocali zaçã o" da ª
médi os de coor dena çao ( ...), qu ··· .
. d de form a mter na nas companh ias (...). per-
prod ução de parte dos com pone ntes , ante das ali\id ades organ iza as . f
riorm ente fabri cado s na . m
fábrica centr al do grupo. para emp resas jurid
.
mitin do assun que empresa s maio res unc1one eficazmente•· (sublinhado•
icam ente inde pend entes , . t com o fato de que "graças a
no original). so te m a ver'. paru cular
constitui uma ''rupt ura radic al" com os princ ls men e,
ípios de intem aliza ção (rup- . "d d de tirar relatórios instantâneos
tura radic al que nece ssari amen te significa, contabilidade eletr ônica e a poss1btli a e
dent ro da teoria de Coas e rden ada tem a possibilidade
Willi amso n, a volta a situa ções muit o mais próx (on-line reporting), cada filial ou empdresa
imas do merc ado) . Aqui _c7°mos a preço s fixados inde-
tamb ém, tudo pare ce indic ar que o mov imen rodu cão em merc a os m e ,
to formal de extem ali- de vend er sua P • . )· de defen der suas prete nsoe •
zaçã o é acom panh ado por uma série de med pend entem enle o d merc ado (shod oW pnce s , s
idas drást icas, cujo objeti- btenc ão de novos investi- .
ivo é esten der para fora, espe cialm ente para diant e dos outros me . mbro s do grupo, para ª 0

terce iriza dos, as exigê ncias . d tes para novo s projetos de inves-
e meio s de coer ção ligados às "hier arqui as". ment os; ou de trans fenr recur sos exce en
Estam os dian te de uma
tirnento." (Antonelli, 1988, P· 27)
ne (1987) demo nstro u. em seuS trabalho s sobr e
3. Coto oh:,erva que \Nillia mson indica corre Por sua vez, D. Leborg - flexh·et baSe ada na mi-
.
lilmen tc lluc o:, uil>dl SU {outra tlenom i-
naç,fo par<¼ c-;c;a 1orma origin al da~ estrutura~ •
a "quase-integraçao ve rtical" que a auto maça o •
de grupo 1apo11<.-sasl po<l<.'<tam repr<' · _ d •a1izacões a um aprofun-
senta r um modo ,1herrMtivo ;is h1er<1rquias,
mas o ÍclL numa nota tle rcxlap é,
escla n.'<.c"11do que não procur<¼ aprot unuar cs<.a
croeletrônica, leva a uma p roliferacao • e espec i • ·
an.'.ilise por st• tratar, segun do ele, de . . - d trabalho Da mesm a forma, a p rodu cão flexh~l só
urn 1enômeno "cultu ralme nte espec ífico" . Goto
rc-;pondc•, muito arertad,1mcnte, que dame nto da d1V1sao e . . -
n.-io há ,wnhu ma ra1ão para consi derar esse . rtânc ia de suce ssão de séries curtas.
"t~cc íro modo " de " infiltr ação míttua da vem acen tuar a impo dom mar uma
or~am ülÇ;\O e rio mcrc<¼do" como uma institu
ição unic,1mc-111c japon<"lc1. Ora, a com plexi dade da integ ração das oper - modu lares aume nta
açoe s
7(16 107
~is do que proporcionalmente ao número de elos a serem integrados: prietári os de capital A "desverticalização" das grandes compan hias em
da-
I que uma certa desinte gração técnica pennite um
control e mais redes de empres as especia lizadas, ou o agrupam ento de empres as nes-
apertad o dos custos e da qualid a d e. .,,._ -
□ 11ão, a gestão comput adoriza da sas redes, podem ser uma resposta a essas pressõe s como um todo.
dos _fl~os externo s, isto é, entre as compan hias. bem como a maior Nessa dupla perspec tiva, a empres a-rede apresen ta-se então, não
preasao de fabricaç ão, pennite m às compan hias nn· . .
P CJpais coorden ar como uma "ruptura " com as hierarquias e a intemal ização, mas antes
seus t ·· d
en:emza os: uma rede de empres as es,._..,.;~
P'-'~ 1:--...
as. como uma nova forma de organiz ar e de gerenci ar essas hierarquias,
Por razões téc nicas, deve-se acresce ntar, d1'z e 1a, o papel das bem como de maximi zar as possibil idades de "intema lizar" as "exter-
- •
pressoe s econom icas e finance iras · A importa· neia . d . nalidad es" (isto é, as vantage ns externa s, no sentido de Alfred Marshall),
. .. os nscos na P&O
nas imobihzações em alta tecnolo gia e ' de modo mais gera1, nas tmo- . , proporc ionadas pelo funcion amento em rede.
biliza - .
çoes em cap1tal fixo, leva a sua "mutua lizaça·o" entre vários pro- O exame de muitos dos acordos de coopera ção tecnoló gica leva
a essa mesma conclusão.-1 Quando feitos entre parceiro s de dimens ões
Gráfico 6
O exempl o da Benetton e poderio diferenc iados, esses acordos decorre m essenci almente de
uma estratég ia de apropri ação de recurso s, abaixo de seu valor. É um
4.S00 lojas franquead as meio de obter, ao menor custo e, se necessá rio, em condiçõ es leonina s
ltEOE DE VENDA A VARE/O
em 'i2 palses (40.000 pes~,1 para a pequen a empres a ou o laboratório universitário ou público, co-
nhecim entos científicos e técnicos essenci ais para as operaçõ es dos oli-
(exini-emp resa)

gopólio s das compan hias maiore s e mais podero sas, parceir as nos
acordos . Essa é a situaçã o mais usual no campo da biotecnologia.
REDE OE INTERFACE Con1rnle infonna1iz ado di~ron
COM O MERCADO das vendas a varejo

70 derecrore., de moda Reposição do


(em 1 O.ireas-diav e) esioque C<"nlr.al

CENTRO Direção Logística f~brica (850 pJ


NEVRÁLGI CO geral • Áj><ft d, cent
00GaUPO • linpntt110
finanç.u Marketing • Centr. qualid.idt

ligaç..'ln onform.11iu tla


em tempo real
REDE OE (g~enci.am ento e conll'Olef
PRODUÇÃ O
DESCENTR ALIZADA

4S0 peciueJYS nnpn,su


Súbcontraiadas (25.ooo ~IISOas)
ao con-
Fonte: Adapcado de Oru~e Cclmier. 5tratt¾Jie de/' n ·. . 4. Remetemos a nossos trabalhos sobre os acordos de cooperaç ão técnica e
tions d'OrganiL ation, 1990, p. 114. e trepn,;e e, mo1wa11on des hommes. Paris, (di- os nessa opOC1unidade (f-. Chesnais , 1988 e 1990).
junto de estudos que re lacionam

108 109
capít ulo 5

Rivalidade olig opol ista e


localização da prod ução indu stria l
rial
A té aqui, atribui mos conte údo ao conce ito de grupo indust
s por oligop ólio
multinacional e come çamo s a definir o que enten demo
s que coma ndam a capac i-
mundial. Podem os agora exam inar os fatore
te seus rivais, bem
dade dos grupo s de travar conco rrênc ia efetiva peran
grupo s atuam
como os fatores que confo rmam a mane ira como esses
"vant agens de país" de
mund ialme nte. Vamo s come çar exam inand o as
rmos a exam inar
algun s protag onista s impor tantes , para depoi s passa
suas decis ões de locali zação da produ ção.
da mão-d e-
Tais decis ões não são ditada s unica mente pelo custo
orien tam para os
obra. Outro s requi sitos igual mente coerc itivos as
dos mais promis-
países ou regiões onde a dema nda é maior e os merca
enfre ntado s num
sores , e també m onde seus principais rivais devem ser
ção, o futuro dos
confr onto direto . Com efeito, na fase de mund ializa
de levar a conco r-
memb ros do oligopólio depen de de sua capac idade
particular, suas
rência ~ b<:1ses da retagu arda de seus adversários, em
oligopólios nacion-
bases locali zadas em seus paise s de origem. Como
prazo , estar á
ais ou mesm o conti nenta is, sua existê ncia, a longo
jar a rivalid ade num
amea çada, se eles não forem capaz es de mane
conte xto "mun dial", ou seja, triádico.
de alta tec-
Ao lado dos oligopólios estabe lecido s nas indús trias
indústrias onde, ao
nologia e nas grand es indústrias mecân icas, existe m
ira imed iata e
contr ário, a existê ncia dos grupo s repou sa, de mane
da liberalização
quase exclusiva, em sua capac idade de tirar proveito
benef iciare m dos
do comé rcio exteri or e da telem ática, a fim de se
social para "deslo-
baixos custo s salariais e da ausência de legisl ação
s industriais em
calizar" (J. Arthuis, 1993). Esses grupo s não são grupo
, como a Nike,
sentid o própr io, e sim diversos tipos de "emp resas-rede"
ou a Lacos te, bem
a Benet ton, que se intern acion alizou fora da Europa,
dos. Todo s eles
como cadei as de lojas de depar tamen tos ou hiper merca
locais , na Ásia ou no
funcio nam por tercei rizaçã o de empr eende dores
113
nont ..ia Aínca. t\<:!m p1eu:.a1•. mais fazer investimentos exten1os dire- nível geográfico supranacional, que, no livro de 1986, parece poder ser
tos para se iJeneficiarem das vantagens proporcionadas pelas "deslo- continental, mas também mundial.
calizações". Examinaremos esses aspectos no fim deste capítulo. Alguns grandes grupos industriais americanos, e também muitos pes-
quisadores (economistas e sobretudo geógrafos), têm sido seduzidos pela
Que sentido dar ao conceito de "indústrias globais"? idéia da ·'fábrica global", isto é, de uma integração mundial muito extre-
mada, abrangendo inclusive a própria produção industrial, com uma di-
Num dos livros que mais contribuiram para lançar o termo de "glo- visão de tarefas mundial entre as filiais. Essa idéia, com poucas exceções,
oolização", Porter refere-se repetklaJ11enle à existência de "indústrias glo- não deu em nada. Em sua apresentação dos modos de internacionalização
bais". Segundo ele. "o contexto de análise apropriado, na elaboração da da companhia-rede japonesa, K lmai e Y. Baba ( 1991) enfatizam o caráter
estratégia internacional Ida companhia), é a indúsbia, porque a indúsbia extremamente centralizado e hierarquizado do modelo sugerido por Porter.
é a arena onde se ganha ou se perde a vantagem competitiva". Uma Eles colocam dúvidas sobre s·ua viabilidade como modelo de alcance
indústria global seria "uma indústria em que a posição concorrencial de geral, até devido à segmentação dos mercados e aos problemas de ga-
urna companhia. num país, é influenciada de forma significativa por sua ra.ntir fidelidade da clientela, a que a estratégia de "fábrica global'' não con-
posição em outros países e vice-versa" ( 1986, p. 17). Ele estabelece, no segue responder. O fim da dominação americana, quase sem partilha; a
entanto, uma contraposição entre as situações em que "a indústria inter- formacão do oligopólio "triádico" e a constituição, nos três pólos, de vastas
nacional é uma somatória de indústrias essencialmente domésticas - daí áreas -de livre comércio, puseram fim, pelo menos dentro da área da
o termo mullidoméstica" e o caso em que "a indústria internacional não OCDE, à hipótese de "fábrica global".
é mais simplesmente uma somatória de indúsbias domésticas, e sim uma
série de indústrias ligadas entre si !Porter usa a palavra linked, mais pro-
O caráter mundializado da concorrê ncia
priamente traduzida por "interconectadas"], na qual os rivais concorrem
sobre base realmente mundial" (ibid., p. 18).
O caráter mundializado da concorrência afeta todas as empresas.
Por trás da aparência de grande clareza, escondem-se várias Para as empresas puramente nacionais e para as pequenas e médias
possíveis fontes de ambiguidade. O termo "indústria" remete ao empresas, especialmente européias, ela é, em grande parte, con-
'
mesmo tempo, à indústria como base industrial (ou aparato produtivo) seqüência d ireta da liberalização do intercâmbio, dentro do contexto
e à indústria como sinônimo de um mercado, ou de uma área de con- do GATT (hoje, a OMC) e do Mercado Único Europeu ou do NAFfA.
corrência, em relação a um produto homogêneo. A maior parte do Para essas companhias, a concorrência mundializada é uma ameaça
tempo, Porter expressa-se de maneira que leva a pensar que são so- que, em certos casos, pode ser bem precisa e identificável, mas, mui-
bretudo as estratégias das companhias, estratégias multidomésticas ou tas vezes, permanece anônima. Durante longo período, essas empre-
globais, que determinam a caracterização da indústria, embora, em ou- sas viveram relativamente protegidas. Elas se beneficiaram, sem ter
tros trechos do livro, a relação pareça ser mais complexa. cons-ciência disso, dos freios e entraves colocados ao livre jogo do
É no tocante ao conceito de "integração global" que se colocam mercado capitalista, por lutas conduzidas por outras forças sociais em
as maiores dificuldadp_<;_ "Numa indústria global," diz Porter, "uma em- 1936. l!H5-t91!8 e 1968,. Hoje, a concorrência mundializada er~ue-se
presa deve, de uma forma ou de outra, integrar suas atividades em base diante dessas companhias (às vezes ainda artesanais, como no caso
mundial, a fim de tirar proveito das interconexões !capture the linkagesl da indústria pesqueira na Bretanha) como expressão das leis coerciti-
entre países" (p. 19). Essa integração "mundial" pode induzir, portanto, vas da produção capitalista, às quais a liberalização e a desregulamen-
à integração da produção manufatureira como tal. Isso se daria a um tação devolveram agora toda a sua potência devastadora.

114 115
Para os grandes grupos que operam em setores industriais Três níveis nas estratégias de mundialização dos grupos
muito concentrados no plano mundial, as coisas não se passam da
mesma forma. Esses grupos conhecem seus rivais. No caso deles, a O caráter oligopolista da concorrência implica a dependência
mundialização da concorrência não é anônima. Pelo contrário, ela mútua de mercado, bem como a instituição de formas combinadas de
assume a forma de uma situação em que eles se encontram com cooperação e de concorrência entre os ''verdadeiros rivais". Não signi-
seus rivais e, às vezes, se chocam com eles, "nos quatro cantos do fica, de maneira alguma, que os grupos deixem de se entregar a uma
planeta": para sermos exatos, nos três pólos da Tríade e mais em rivalidade acirrada, muitas vezes encarniçada, chegando até a ser "mor-
alguns outros países e pedaços de continente onde existe um poder tal". A arena é mundial. É preciso, então, que também o sejam as es-
de compra - uma "demanda a atender". Para esses grupos , o tratégias dos rivais, bem como os modos de coordenação, controle e
caráter "global" do mercado, bem como da concorrência (ou rivali- gestão aplicados de ntro dos grupos. Mas é sempre explorando, o me-
dade), resulta tanto do IED, sob a forma da •'invasão mútua" pelos lhor possível, as desigualdades nacionais, e até reconstituindo-as, que
investimentos cruzados, como da liberalização do intercâmbio os oligopolistas levam a concorrência.2 Isso vale até dentro do "Primeiro
comerciaL Para eles, a mundialização é sinônimo de abertura dos Mundo", embora suas estratégias coletivas tenham por efeito homo-
oligopólios nacionais e de rivalidade intensa, mas também signfica geneizá-lo cada dia mais.
recuperar a liberdade de ação, em particular a de poder organizar a
Devem-se considerar três níveis essenciais. O primeiro nível é o das
produção, integrando as vantagens proporcionadas por diferentes
"vantagens próprias do pais de origem", aquelas que cada rival tira por sua
aparatos produtivos ou sistemas nacionais de inovação, e explorando
filiacão nacional. O segundo rúvel concerne a aquisição elos insumos es-
os diferenciais no custo da mão-de-obra.
tratégicos à produção, cujo suprimento, no plano mundial, deve ser organi-
~s indústrias caracterizadas por estruturas de oligopólio mundial zado por toda grande empresa. Atualmente, os insumos estratégicos são
são aquelas em que "as quebras na cadeia mundial de dependência e ssencialmente de duas categorias. Em primeiro lugar, há as matérias-pri-
recíproca" entre os oligopólios deram lugar a uma situação na qual mas estratégicas, muitas vezes situadas, como no passado, fora da área da
a ."interdependência" (entre oligopólios) "transcende" tranqüila- OCDE, em países ou regiões do Terceiro Mundo. Depois, há os insumos
m~nte as fronteiras nacionais. 1 Essa situação nova não é produto da científicos e tecnológicos, desta vez localizados nos países da OCDE. A in-
"estratégia" de uma empresa, nem sequer de várias. Representa o terpenetração, cada vez mais estreita, entre a ciência e a atividade
resultado de um mo'vimento de conjunto, no qual os acontecimentos econômica, faz da identificação desses· insumos (a chamada "vigília tec-
políticos cumpriram um papel muito importante. As estratégias das nológica") e de sua aquisição, mediante "acordos de cooperação técnica"
companhias integraram-se como componentes desse movimento, ou operações de integração vertical na origem, um componente da es-
que foi se tornando uma avalanche, à medida que cada grande tratégia tecnológica dos grupos, complemento de sua própria P&D. Como
grupo começou a entender as novas regras do jogo e, conseqüente- veremos nos dois próximos capítulos, trata-se de um campo onde também
mente, a desenvolver seus investimentos no exterior. Mesmo to- a concorrên'cia entre os grupos é muito.'viva, mas onde é igualmente muito
mando "indústria" como sinônimo de mercado, então, já é possível importante sua colaboração mútua
atribuir-lhe um conteúdo mais preciso, dando ao conceito de inter-
dependência entre rivais, que está presente em Porter, maior im-
portância do que lhe confere esse autor.
d<'
2. Ver, a r<-speito, a import,mte observação metodológica -~:.-A. Michalet: ·:o ~l<l·
belecimcnto de um espaço multinacion..ll integrodo nao_s1~n111c.1 q~e a~ 11111ltinac10-
nais elimincm as dcsigualdMles n;icionais. Nao po_dcm taLe:lo, e na~_lem intcr~se d<'
atuarem nesse sentido, [se quiser(>m continuar ;iJ 1trar proveito das duerenças existen-
1 Vf'f° a citaç.10 de R. Caves no capítulo 4. tes entre os p;ií~s·· (1985, p. 83).

776 117
r
O terceiro nível é o das atividades "correntes", mas decisivas. de pro- estrutural" dt uma economia. sendo um de seus componentes o
dução e sobretudo de comercialização. Atualmente, são os grandes con- sistema nacional de inovação. Entretanto, a posição dos EUA no sistema
juntos continentais, mercados únicos ou "com unitários" formados nos três financeiro mundial, seu poderio político e militar e o lugar que ocupam
pólos da Triade, que constituem o quadro geopolítico da integração indus- na projeção planetária de imagens e mitos mercantilizados, são fatores
trial É lá que as multinacionais procuram tirar proveito da ampliação e que entram nas •·vantagens relacionadas com a nacionalidade" das
da crescente homogeneidade de seus mercados, e também das de- multinacionais americanas (incluindo todos os setores) e que pesam
sigualdades entre os países de uma área regional/continental, tanto no sobre a evolução, quand.:> não sobre o resultado, das rivalidades oli-
âmbito da especialização do aparato produtivo. como em matéria de cus- gopolistas. Temos aí a dimensão cuja importância foi sempre lembrada
tos salariais. de legislação trabalhista e de regime fiscal do capital. Em por M. Beaud: o caráter hierarquizado da economia mundial e o lugar
função do papel que cumpre, hoje, a capacidade das companhias de correspondente às potências hegemônicas.
estarem em contato direto com seus mercados, os grandes conjuntos "re-
gionais" (isto é, continentais) são também o lugar principal da rivalidade O caso típico atual é o da hegemonia americana, baseada numa
por investimentos cnizados: a capacidade de um grupo manter seu status -;érie de fatores que continuam a compensar, com folga, o en-
de concorrente/rival efetivo mede-se na importância de sua presença nas fraquecimento e a inegável perda de competitividade industrial dos
outras regiões da Triade, além da sua própria. EUA, bem como os efeitos, inclusive econômicos, do rebaixamento so-
cial em curso, com as profundas lacerações que o acompanham. Esses
O restante deste capítulo é dedicado à análise do comportamento
fatores são, em primeiro lugar, financeiros. Basta lembrar aqui o papel
das multinacionais em relação ao primeiro e terceiro nível de mundiali-
zação. O papel desempenhado pela tecnologia, em suas estratégias de mundial do dólar; a capacidade dos Estados Unidos de aplicarem a
mundialização. bem como o lugar desta nas relações de cooperação e política monetária que quiserem, sem se preocuparem muito com as
de concorrência entre rivais, serão objeto dos capítulos 6 e 7. repercussões que pode ter em praticamente todos os outros países, ri-
cos ou dominados e pobres; a possibilidade de "compensar" as mais
O lugar especial dos EUA no oligopólio mundial baixas taxas de poupança interna dos países da OCDE, drenando para
si todos os capitais requeridos para financiar seu déficit orçamentário
e servir de paliativo ao subinvestimento. A ascensão da esfera fmanceira
A primeira fonte de desigualdades de que a maioria das multina-
recolocou quase todos os trunfos da rivalidade imperialista mundial nas
cionais se beneficiam e que, geralmente, desejam conservar, relaciona-
mãos dos EUA Os mercados financeiros americanos são inigualáveis
se com suas próprias "vantagens de país". as que lhes são dadas pelo
fato de pertencerem a um espaço n acional. Essas vantagens não em suas dimensões, mas também em sua diversidade.
servem apenas para delimitar, até hoje, os países do "Norte" dos do É claro que os fatores da proeminência americana são também
"Sul". sendo que este último continua a reunir a maioria dos países e militares, como lembram diariamente a Guerra do Golfo e a dependên-
regiões que conheceram uma dominação colonial ou semicolonial. cia de todos os outros países das decisões (ou falta de decisões) dos
Constituem também componentes centrais da concorrência oli- Estados Uni.dos. São, por fim, fatores diplomáticos; para citar apenas
gopolística, dentro do grupo de países mais rtcos. dois exemplos recentes, lembremos a maneira como os EUA fizeram
As "vantagens de país" resultantes de uma d eterminada ftliação prevalecer seus pontos-de-\:ista no GATT (e hoje, na Ol\1lC), e o modo
nacional abrangem, nas mais diversas combinações, os fa tores como utilizaram o peso de sua diplomacia para ajudar certos grandes
econômicos, políticos e militares. Trataremos mais adiante dos fatores grupos de telecomunicações e de armamentos a obterem importantes
econômicos, políticos e sociais que conformam a "competitividade contratos no Oriente Médio.

1 UJ 119
têm sido quase smorumos até hoje, nem que a hegemonia americana
. Por fim, são fatores "culturais". A esse respeito, um dos elementos
ma1~ decisivos da posição que os EUA conservam, como "economia ainda se beneficia daquela exercida pela Inglaterra durante mais de um
século, nem que ela ainda pode reivindicar (de forma cada vez menos
na:1onal ~ominante, atuando fora de seu tenitório nacional de origem
legítima) a Declaração de Independência de 1776, e portanto a Europa do
e 1mpuls1onando ~ma dinâmica estrutural no espaço mundial" (M.
Beaud, J 987), relaciona-se com o inglês como "língua-veículo" mundial- Iluminismo. E atualmente, convém levar em conta que a dominação pelas
finanças é particularmente adequada às características específicas, "sel-
mente ~ominanle. Esse papel é indissociável da influência quase in-
comparavel dos EUA sobre o conjunto das indústrias de comunicacão vagens" do capitalismo americano, desde o século XIX.
de massas
. • ( 0 ~ d e o ·mg1es
• serve, então. para consolídax u111a "cultura").
-
Essa mflue~cia, por sua vez, é indissociável do lugar ocupado pelos As "vantagens em presari ais" ligadas
Estados Unidos na indústria de telecomunicações, onde gozam de uma à coesão sistêmica da economia de origem
vantagem concorrencial decisiva, graças aos investimentos com finali-
dades militares e à interconexão com a globalização financeira. Quando passamos aos grupos originários dos países, mesmo gran-
. O so_nho projetado mundialmente a partir de Hollywood ou de Ana- des países. que não gozam do status americano e que não podem com-
h~1m (a :idadezinha da Califórnia onde fica a sede do grupo multinacional pensar uma eventual perda de competitividade com os mesmos meios
Disney) e O do capitalismo e da mercantilizaçâo total das atividades hu- que os Estados Unidos, nos deparamos com os fatores que determinam
manas, sua aspiração e te ndência. Dele se beneficiam, em conseqüência, a competitividade estrutural.
todas ~ multinacionais, bem como o conjunto das forças sociais com- O que diferencia os grupos alemães e japoneses das outras multinacio-
prometidas com a extensão e consolidação da influência do capitalismo nais é que eles podem apoiar-se em economias domésticas ainda caracteri-
em t~do O planeta. Porém, para a evoluçáo da concorrência em nível zadas por uma forte competitividade estrutural. Esse conceito surgiu nos anos
mundial e para o resultado da rivalidade oligopolista, em indústrias bem 80, em funçi\o da necessidade de ultrapassar as limitações, tanto da "compe-
4
distantes do setor de mídia, não é indiferente que sejam os EUA, e não titividade de preços" como da "competitividade fora de preços". Esse con-
outro g~de ~s, a projetar esse "sonho mundial", e que a imagem da ceito fundamenta-se numa abordagem "holística". interessada nos fatores que
~ercant1hzaçao s~ja es_sencialmente americana. Os grandes grupos afetam a coesão sistêmica das economias nacionais (O1esnais, 1986 e 1990).
Japoneses ou alemaes nao alimentaram qualquer dúvida a respeito. Em Baseia-se na idéia de que, embora a competitMdade se apóie, por definição,
~ez de _te~tarem projetar, pelo menos por enquanto, uma imagem capita- na atividade das empresas, ela não é simples resultado apenas de seus inves-
lista prop~a, trataram de se inserir no molde americano: a Sony comprou timentos e atividades individuais. A competitividade de cada companhia,
a Columb1a (filmes e discos), a Berstelsmann comprou a gravadora RCA 3 tomada isoladamente, possui uma dimensão sistêmica ou estrutural: é uma
Há quem diga que os EUA continuam sendo a potência hegemônica expressão dos atributos do contexto produtivo, social e institucional do país.
mundial, de certa forma, "por falta de opção"; mais exatamente pela re-
Há três dimensões particularmente importantes. Sempre o foram,
cusa d o Japa~
- e~ se candidatar a um papel ao qual estaria qualificado
'
mas o são ainda mais diante da mundialização. A primeira decorre do
por seu podeno industrial e financeiro. Essa interpretação é insatisfalo' ·
d.d na,
n~ me I a em que subestima o peso desses fatores, tomados de conjunto.
Nao se de,ie esquecer que a dominação do capitalismo e da "raça branca" ,1. Acornpet,tiviriarle de preços, haseada sobretudo no cusl<> da mão-rle-ohra, chegou
ao seu limite (ver}. Mathis e[ .i/., 1988), em particular, desde que a microeletrô11icd e
a produção "sem gorduras de p0,soal" reduziram sig11iiicativa111cnte a parcela dos
s,1lãrios no custo total dos produtos. Hâ urna apresentação do~ limites das abordagens
3. Ver A. Vall;i?ao (19931 <' R. B;imet e J. Cavariagh (19941, bem como o estudo de C _
tradicionais e uma lonia discussão das numerosas facetas dc1 competitividade estrutu-
A. M1d1ale1, miustamente pouco conhecido sobre o "estranho d d · ·
n f I" (1" ) . '· rama o Cmema
llll11 'ª :.,89, especialmente o c.:ipítulo sobre ;is "maiors''. , , ral no relatório TEP, capítulo 11, OCDE, 1'J92.

121
I Jn
tama nho e efiicaa - · e portanto da com titivid . , -de-obra, por fim a qual idad e
a,
_ade mlnn .seca. do setor de públicos, o nível de qual ifica ção da mão
im·es timen t pe , uisa públ icos e universitários)
bens de capital ou bens de ment as. máquinas do sistema de pesquisa (cen tros de pesq
especializadas para tod . o (maqumas-ferra
. exte malid ades são, em grande
os os outro s ramo s). Na Fran
ça, 0 papel particular e das infra-estruturas cien tíficas. Esc;as
desse setor e a irnpo ...t.;.~-• d . ntos do Estado, bem com o dos
ucu,u.a e nao perd er a ...•·1.rad "da rnicroeletrô · ª parte, resultado da ação e dos inves time
industrial tioram exammado . - . ruca tamb ém do com porta men to e
s por J Mis os feitos governos regionais e locais. Resultam
I d . lraL num a sene de estud 6
entre 1976 e 1983 O • ias. O pape l desses fatores na
. se or e bens de irlveslirnento frances naufragou dos investimentos das próprias com panh
com o o do Remo Uni"d º· para isso . • . Qua ndo se com bina m com
contribuíra
m
- .
uma sene de razões, de- com petim idade sistêmica é mais ambíguo
vendo-se colo car na prirll e· 1•-1... mali dade s são. com certeza,
. ira JJu1a, em amb os os casos 0
, peso esmagador os dois fatores descritos acim a. as exte
d as indústrias militares. que ditar . . Caso cont rário , são sobretudo
uma fonte de com petil h1da de sistémica
Irônica profissional rchesn,.;~ S rf.am: em particular, as trajetórias da ele- de" de um país para as mul-
t ......, e e ati 1990 e 1992)· lnversamente, o Japão
.' um com pone nte impo rtant e da ·•atrativida
e a Alemanha mod em·JZaram suas indús trias d be de .mvestimento e orrên cia travada entre os ..locais''
e ns tinacionais, um dos elem ento s da conc
tudo fizeram ,~ JUora pres ervar o papel art.i . ,
I d dessa mdu slria na difusão para atrai r im-estimentos estrangeiros.
de tecno logi . cu a or
utivo com o um tod ~
intersetor ial
a, para o SISte ma prod
O maneiras de estabelecer
segundo elem ento importante d
.. o. No caso do pote ncia l de P&D, uma das
a com petit ivida de estrutural tem prop orcio nada . sob forma de
a \·er com as relac ões d b
os anco s e do sis · 1 a linha dhis ória entre uma exte mali dade
• . ema finan ceiro com a as companhias, nacionais ou es-
irldú stna Num context d e mundtaliz . . . . • recursos científicos e técnicos. a todas
o açao fman . d
cetra , e pnvatizaçao e e um -sistema naci onal de ino-
de desregulame ntac ão boa . trangeiras, que quiserem usuf mir dela,
• ' parte da capacidade d e proteger a .movação ai., 1992 : Nels on et ai., 1993 ),
a longo prazo , e de sal vagua11d ar o mve .
stiment ( . • vaçã o" (Freernan, 1987 ; Lund vall et
. , em particular, o inves- ou não. dessa interação com as
líme nto imat erial ) está nas m. d
aos o ststema b
. o
- · consiste em verificar as manifestações.
. ancano e financeiro. Dois mica. Independentemente de
aspectos de,·em ser considerados O
. outras dimensões da com petit ivida de sistê
pnm euo refere-se ao papel dos ção estratégica das empresas na
bancos e dos mercados de ca p1·1 a15 •.
no fmanc· . suas próprias ali\id ades de P&D, a situa
iame nto pnva do da ino- aque le do qual depe nde a va-
,açã o e dos outros. Ul",estimen tas .•materiai be • econ omia capitalista faz desse elem ento
s, m com o a duração do uisa com o um todo. A eficácia
horiz onte temp oral prop orcio nado as -
empresas para er,etua r os inves . lorização competitiva do sistema de pesq
ti- do na P&D e no ensin o cien-
men tos preparatórios para o Iongo pra20. O segund do<; gastos imateriais efetuados pelo Esta
, - o aspecto refere-se ensão das empresas a inov ar,
a opça o dos bancos, de cont ribuí rem
o - - tÍflco e técn ico dependerá, de fato, da prop
u nao a sobr e,ivên cia das em- que elas esta bele cem com as
presas do pais em par11·c uI ar da quelas com t ·ai bem com o da qual idad e das relaç ões
' po enc1 tecno lógic o, se ne- públ icos.
cessário seni ndo- lhes d e an tepar o .cont ra as a · · - univ ersid ades e os cent ros de pesq uisa
,. . qwsrçoes e absorções
estrangei ras. Desse dupl o pont~ V"\Je -VJsta um das c
.. . ' omponentes da com -
petiltvrdade sistê mica da AIemarth a e, que os ban . d (pspe< 1almC'nte r1quelcs impu lsio nado s no
c:on-
6. N,1 rc,1lidade, os trabal hos rccell lcs
nte a indús tria· . cos_ am a reco nhec em iato de que o
d<'mon,trar que, ape-,.-\r do
responsabilida des pera texto do progr ama TF.PJ rontribuírilm p.:ira
estão, pelo men os em part . , no caso Japones, os bancos ainda ''amb iente = ciorul"' é dctP1minado p<'las evolu çoes históricas C' depP nde, <'111 g rande
e, subordinadas a esta. s,1s n.to de1x,1m dl' cump rir um pàpcl
rn<'lJ1da, d<1s polílic.1!, go,crn,1111cnta1s, <1> cmprc
Resta o amp lo lequ e de ia r t e,npr esas J>O$Sdlll ser tcnt,1das <1 c:onsidCl'dí
ores que a teori a • . impo rt,mtl' cm !-lia tonst ,tuiça o. [mbo rd ,1$
econom1ca hoje de- que de- algum a iormil lhes seria
nom ina externa/idades . 1nc1uem -se aí a · f o <1111bien1e n;icional tomo um iator "<-xterno",
s m ra-es trutu ras e serviços c:ond 1cion ado pelas al>ordagen~ e p<'ias dccisóe~
"da,fo", na ,Nddd <' e$l<' é íortem<'nle
das empr esas (Holl111g~,,orlh, 19921. O
cornu ns dos meios e1npresana1s <' da d ireçao
propí cio à comp<'111i, id,1dc , na medi da Nn
ambi ente nacio nal propo rcion a um clima
s' .
,; _ º"de <'nta_o, J. Mistral aband onou suas po içocs, ma, penn anecp vMido o <hu r<'Conhc<:ida e c1prcc1.ida, pda ,ocit'<.lade
que .i coopcr,1ção, sob diver!>as iorma s, ior
\,tlor <'xplica11vo da comr 1"'·1· ·d d . -
"" t\t a e Japon esa e a 1ema,
1
em relaçã o a perda de co111re-
·~ cm geral e pelas empre-.as em part1c ul.ir como r<'pf'e<>mtando uma fonte <>,petiiica de
· ·f
t111v1( ad<' de p,11scs com o" í 1a11ça. rendirn<'ntos cresrc-ntes IC. H. r ergus on, 191)
1).

112 123
cons umid or '"clássico·•, no
Reação oligopolista e investimentos cruzados no caso dos insum os à produ ção; ou um
de assegurar a fidelid ade
caso de bens finais. Hoje em dia. a exigência
• . própr ia do oligop ólio inter-
O movi ment o de intern acion alizaçao, ern parhc ular na fase de do client e confu nde-s e com a necessidade,
rnund ializa câo ue . . . .
b, em seus própr ios mer-
. q Ja ahng1 u, coloc a os Estad os e ta nacional, de contr abala nçar a pressão dos rivais
grupos, diant e do delic ado probl ema d
be , • m em os grand es
cados (hoje contin entai s, além de nacionais).
ir na intem acion alizac ã e sa r ate que ponto se pode
tecido
produ tivo e d • o, s~m provo car exces sirn desgaste do As posições de um grupo, dentro do tecido produli\'O
e do mercado privi-
const ituem a ba d .
. os proce ssos intera tivos que idade de Ira\ãr uma con-
dade . No Reino Unid se a mo- legiado de seus ri\'ais, ma.rúfestam seu grau de capac
vaçao bem- suced ida e da comp elilhi Em econ omia indstrial. E'.
cons ervad or e as multi nacio n . o. o gove rno corrêocia oligopolista propr iame nte "glob al".
ais optar am pela deslo caliza cão sem análise inicial interessante,
lim1·1es Co
. nvoca ram os g rupos estra ngeir . os especiaJm . • Graham (1985 e 1990) está na origem de uma
lugar d 1 • ente Japon eses, estendendo o conceito de "reação oligopolista"
(F. T. Knickerbocker, 1973, e
para virem explo rar em recur sos produ th·os d -
' e es, os do efetuado nos EUA,
. .
:ªrt1culc11 uma class e operá ria quali ficad CUJOS filhos eles mesm os
o paJS. em R.I:. Ca\ies . 197-1) n0 im-eslimento internacional cruz.a
Jogaram no de . . a primeiro pelos grupos europeus e depois pelos
grupos japoneses. Unicamente
tran.,;portar ra
.. semp rego e na marg mahz ação social, ao das comp anhia s que trou.xe-
fora
(Fam etti. 199-t) . pa ao se mostr ar capaz de invadir o país de origem
suas ativid ades essenciais um mem bro de um
ram a ri\'alidade oligopolisla para a "casa dele", é que
A França enfrenta atualm ente o mesm o PrO b lema, e urna das linhas salvaguardar suas posições.
dema rc t • · . oligopólio nacio nal "inva dido'· pode esperar
a onas que estao surgi ndo é a ue se para, dentr o dos círculos proporcionadas por
dirigentes os partid - • q Duas razões são emmciadas por Graha m: as \antag ens
U
' anos e os adversários da solucão britãn ica ma das uma internacionalização mais ampla. com a possib
ilidade de efetuar trans-
·• •
a maior capacidade de mal.i-
paJa\'ras-chave é a "atrat ividad .
e , para comp ensar os ··su cessas " (1eia-se os ferências e ~subvenções cruzadas" entre filiais; e
"imperativos") d a mundializac . •
ao dos princ i . ça de le\'ar a concorrência
o Miche lin é sem d uv1 • •d • . PclJS grupos franceses. dos quais dade, em conseqüênc ia da materialização da amea
a o mais mund ializa do d e lodos. ; Ha, IS anos os s trabalhos, provenientes tanto
;,.i · • • a fundo '·na casa.. dos rivais estrangeiros. Outro
Prinr-in
'-'t""s tn\'estimentos franc eses tem ~ .
sido feitos nos EUA e na CEE, send o mistas industriais, vieram
. . de especialistas de administração como de econo
um de seus pnnc· · molim s o inves timen to cruzado ali r Formou•se atualmente amplo
ipais gopo ISla. Antes confin nar a importância dessa segunda razão.
de detalh ar O caso francê , ca s be . . , . .
exam inar a logica sub·
Jacente a esse tipo consenso em tomo da fonnulação de Ohmae
(1985) sobre a necessidade,
de im·estimenlo (J ·.p• Thullier, 1982).
insider, isto é, um concorrente
para lodo rival '"de \'erdade .., de ser um globa l
. . ção e mercados "triádi-
O im·es tirnen to c ruzad o correspond e a dois 1mperafü·os: os • _ que tenha um pé em cada um dos sistemas de produ
.. • . . • tm
perath-os class1cos de conco rrênc ia p or d:' satisfazem plenamente essa
• . ueren c,aça o do prod u 1o. ca- cos". O probl ema é que só os grupos japoneses
racte nst1c o do oligo póli o em quais . . al cruz.ado, no interior da
. . quer circu nstân cias e exigência. Eleti\'amente, o im~s timen to internacion
da rivalid ade dentr o do oligo ·1· . , os. novo s de detenção do capital
tmpe raltvo s, própr
_.
ios
po 10 tnlemac1onal. Triade, é marc ado por forte assimetria, país a forma
. de companhias japonesas,
As estrateg,as de difere nciaç ão da oferta e de fideliza - d e a estrutura dos keiretsu dificultam as aquisições
das fi . çao a chen- do IED no tecido industrial
tela nunc a pude ram ser aplica
, e 1c1entemente, de longe . Elas sempre e tomam muito dificil uma penetração profunda
- . - colocaram essa questão en-
supo em uma certa proxi mida de das co
mpan hias, em relaç ao aos con- japonês. Compreende-se por que os americanos 8
sumi do bilaterais com o Japão.
rcs que escol heram como alvo. Atual me n e, o estad o da de-
t tre as prioridades das suas negociações comerciais
mand a . ou . .
, numa conJuntura moro sa e instáv el reforc
do client e Est _' • a pnon dade dada
às políticas de fideliz acão e e uma comp anhia indus trial. "'i1 M'-Cidd da qul'Cia dos setore s
• · li. Dur.1nte os úllimo s ;mos, il cris<> econô mica j<1poru
ri,1is 1apon --s. i\lgumdS empre-
iinouili.írio C' banca rio, têm dcb,li udo O$ grupos 1nd11st si-
ord cm su;is rel.1ço ~ com ,1 ,\ .\aLda , tê•m aprnve it.1do essa
~s am<-ricanilS, tomo " 1
7 Sohrc o e oncci1o dc> -'l ra11\.11 1<lue,
-'~ -
\'f'r C.-1\. ,\11< halC'I, 1')') 3. tuaç;io par;i penC'lrar no tecido indust rial e no merc;i
do j;iponê s.

125
Nossas pesquisas (Chesnais. 1988 e 1990) nos levaram a identificar Tabela 8
Locais de produção _ excl~i~do mont~gem e testes -das fin ei pais
um fator compleme ntar importante, relacionado com a vantagem que uma
companhi a obtém por sua capacidade de se colocar em contato direto com - -- --- ___I___
companhias mundiais de semicondu tores,. em 192=__ _ _ _
1 EUA furopa '· l
1 Companhia~_ _ Japao - t A ~1a - - - ~ __
o potencial científico e tecnológico (ou com o sistema nacional de ino- 1- ·
Companhia s amertca'.'35 8 ') -i-
1
31 1 10
vação) de seus rivais. Vamos deLxar de lado esse aspecto, ao qual voltare- 2
- 1 1
A<h,uKcd Micro D<-v1ces 1 1
mos no capítulo 6. No caso dos semicond utores, a Tabela 8, elaborada
por !VI. Delapierre e C. ~1illell~ traduz de forma muito clara a po~ição dos
1
/\l&í
Ham,
1''
1
l 3
4
7
11

16
~
1

ri,ais nessa indústria, mostrando a inferioridade dos grupos europeus, que 1111d 1 : 1 2 2B
1LSI Logic
2
~ 3 2'''
não conseguiram fincar pé no Japão. ao passo que as multinacionais ameri- ''º'º'º'ª
N,ition,il Scmiconduc tor 1 ,J 4
11
22•• 1
canas chegaram a tanto - com a ajuda de seu Estado. 1 5
Tcx..is lnsl'.umcnb .. 2' 1 2
1 l2 1
Companhias europt!ras ~s 1 ~i 3•-
1 2 10
Os investim entos externo s dos grupos franceses Phihps 1 1 1 ,e 1 2
16
1 3

Os protagonistas do debate desencadeado. em junho de 1993, pela


1~~~~~·~~lllS
CompanhiaOII s japonesas 1 8
.,.::?2 1 2: 1 !1 1 6;;::: li
!H1tillhl
íupt,u
publicação do relatório Arthuis sobre as deslocalizações industriais apre-
Mab11,hita 1
sentavam o nível salarial como detennina nte principal da deslocalização. Mit,ulushi
I
4J 1 1lS 1
1 8 2·"
v
1 2:
Isto se aplica, decerto, aos grupos que recorrem principal ou exclusi-
vamente à terceirização. bem como às cadeias comerciais, de que tratare- ~t7 1 ! 1 l1
mos mais adiante. No que diz respeito aos grupos cujo capital está l !:,311 )0 3
l
'>hMp
5011) 1 ➔ 1 1
comprome tido em indústrias tecnologicamente avançadas, não é assim. A
distribuição internacional de seu IED demonstra que são fatores sensivel-
1Tcr.,h1ha
Companhia cOt'eana
620 12"
l
mente diferentes que determina m suas opções de deslocalização. 1 1 -~ 1\., 1
ls..im~ung
1
Em 1992, a distribuiç ão do total de i n vestimen tos por áreas
Total j 58 _ __ 11 4 4 __L 26
- - - - -- · ( , 3 M d," ([spanhal· 4 jom1-,eriturc com
econômic as mostrava que mais de 62% do total do IED e mais de 45% 1. hclu,ndo o laJ>,IO. 2._joint.vcntu r~~ ª~~~~ ~~;c'sc to~o~ N,ppon SÍ~I Semi<:ornJuctor
a K,"' Jsal-1 ~11199 1l. 5. A ~B-\.i de ; :1de ,,.. capilal pela Nippon Stccl - vai co11,·Prter umil
do p essoal desses grupos no exterior estavam na CEE. Se tomarmos o
conjunto dos países da OCDE. as proporçõe s correspondentes, para os
t~11 mMço de l99J, ilpós ~,~,ç;\Ok'
11nidack~1aponl'~a par~~ çào <
landa.,. Nihon ',etnK; . uctOI', I°
i:.=~:., .°. ~ t~h 8 .._1 exclusivamen te par.ia Intel;(, Dublin (lr-
com a Ka.-asal-i Steel _ '"!do de produção em
( rt (Alemanhal· 9 incluindo a io.,1.,enturc com a
investimen tos franceses, são de 93% e 71 %. Os poucos países fora da t 98'." 8 Grà-SrPl anha; j<>Rll-,f'nlurc crn
Tosh,ba IO. Glas~o\\ (Escócia); Toulouse _rança ' ·
7~ )· l l C,1~\.. ([scóctal e ,~igdal Haf'fnek lb-
. · 1u·111 lo K n Sem1co11d11ctor jo111t-veriturf' com a KollE! I Stt-cl ', J9'J'l)· t 3 Taiwan: joinl-
área da OCDE onde há uma presença significativ a do IED francês são radl, 12. me < a ., _- . · · . . •. .,t•ntu.-e com a HC1Nlett Packard e -a ,Canon; •
t 4. . .
,!'nrurc<oma At!'r(t99_l,C ,ng.tpura. J01n_l Xawai(199tl · 16 emiunçã0daa qu1s,ç.\o
o Marrocos, o Brasil e a Tunísia. Para o pequeno número de grupos A,._.u,,110 (lttlli<ll. í~eisin~ (Ak:manl!a!; .15· 1oint~et'l::· •·~essivo d,; ,,.~ào em Sunr•)"-ale
franceses em condições de se envolver numa ,·erdadeira rivalidade oli-
da "'~11Plics C.'1'11 19, 5 1,es loc<11~ ,mera~._ rna~,..~ex:~o
(C.ih1órnial, em 1.,11or ele Alhuqu«que (l'óo,,O
.,º!,:;! 1
(\.Jl.thl. l " Caen (frança!, Sou1hamP:
. Mun· ue P Rcgcll5bourg (Ak•manhal, V,\.
ton 11ngla1crra), Harnhurgo L-\lemanhal; UI. C.n,g,tpuhra. 19 · (I :t,q · e OUfl( l 9931 '.!1. Ren11cs,
gopolista de tipo mundial, o florescime nto das aquisições e fusôes nos • · l ?) e· rJ jo,nt venturc (;(Jl ll a S cuz.,., e<: ron,cs r •
lad1 (,\u,,\n.t ; -• ,ngapu . ·. C l •llf'IO e llri,\n?i (ltálial: ü i1tc.luindo a joint.venture com
EUA. especialm ente na década de 80, foi inteiramen te decorrente da C.n:ll<~JI!' e Rou~<PI 1T ranç.il. Catõnia. NaH
. 0 . 1199'1" ">J ,,_,100 A _. --
VCII0C
IGr' Br-anl,

,l·
~
, 4 Land--hut (,\lcmanh al
aA,l\,tnCed \h(IO C\l<'eS - ·e-:. p '·
'J'Jl '5 ,\lsdot11,\lem anha•. 16. 1rtgapur~. equ,m (1994 • Ó,\Í,\l-\(.'ll\Ult'C oma5-hoonga
• , - ·
n!ê,C0 rp.
lógica de investime nto cruzado " triádico·· ofensivo, pelos grupos que . · - .: · · · . p'
,~
· . '8 incluindo a i11t-,e11turc com a Moloro1a; 29. Rangcoc (19'1 -•1 •
procuram assegurar posições mundiais (ver Tabela 9). A concentra ção e,,:,· I; 2 . ll\111i;<lon ll:scócl1all. - . d ' . José (C,,l11ómial a um grupo de emptt>ga~. A nvv~
3~ rm 199" venda do esta><' ec,rnullo e""" •
•· -· 1e· ·1 \\lorls , .ii se,vir de íundiç,io para., Samsu11~.
f-lllp<CSa Integral<'( rr<:u,
dos investime ntos na Europa ou em países limítrofes da CEE é rato para . ' E . .
· .-...
~onte, "'· .,..1ap,cn!' e . ••
e ._, ll!'lli 1199-' com base crn daclos da lntegratt'<l Circu,t nsineer111g
.
os grupos de menores ambições e recursos, que procuram manter suas Corp.. 1991-1991.

126 127
da integra - .m d USlri. al "regi onal.. merc ado futur o, e têm por ob-
posiç ões, tiran do o máx imo pro\' eito cao diato ; pode m ser "pre curs oras " de um
-
Atua lmen te. f~em parte dess~ ru o utros rivais , ou a titulo de prev isão
em seu polo de orige m na Tríad e.
~ _P jetiv o ocup á-lo ante s que cheg uem o
ad b até ter o obje tivo de. impe dir que
a Rena ult e a Peug eol, que foram obrig as a a ando nar as posi coes de merc ados aind a virtu ais; pode m
. - d -
que ha\1 am tenta do conq uista r na Amé
rica do Nort e D sição . No caso da Rorer,
• -
· a1 ecor rem al- um rival ocup e o luga r, faze ndo a mes ma aqui
gum as d o cedo dem ais. para a Rhône-
_as pos1çoes defe ndid as por seus dirig ente s. a inco rpor ação leria ocor rido "um pouc
·d
rati\'OS enfre ntad os pelo s grup os dec1·d 1 os a e,·ar a con-
1 a opor tunid ade" . O mov imen to de
Os impe .
PouJenc. mas era prec iso apro \·eita r
- com a nova rece ssão ame rican a
• • ·• do· . .
ame nte ''em casa
corr cnc1a diret
_. s nva1s sao os do temp o e do inco rpora ções/ fusõ es desa celer ou-s e
r efeti va sua ame aca É . em 1994, com a inco rporação,
tama nho cnllc o nece ssár io para toma
- · aqur que de 1992 - 1993 , mas pare ce retom ar força
inter vêm as O - s I d d acêu tica da Koda k, a Sterl ing
pçoe s em fa\·o r das incor pora cões fusõe pela Sano fi ( EJI), da gran de filial farm
fran~eses que ,_nesh
ti u adas por or enve rgadura pela Lafa rge-C op-
C. Po ttier ( 1993). no .toca nte aos grup os , am e recu - Drugs, bem com o oper açõe s de men
fica tivo. Ele cons tatou que o -
pera r um atraso µart1c ulan nc nte signi pée e pela Lyon naise d es Eaux.
das princ ipais m otiva cões c;:
trol~ _d~s rede s de distr ibuiç ão foi uma -
ext · . d ·•
aqw s1coes franc esas no
enor , espe cialm ente nos EUA: "Ao e do mercado
.•
trole de uma rede de dist: b~i~ ;; Flexibilização da produção, pro xim idad
a Umroyal, a l\lich elin assu me o con e desigualdades salariais ent re países
ofere ce, a baix os preces, pn;u s
=e hou~e óran_ds (~a rcas próp rias), que • d
s. Trata-se de u
e qual idad e mfen or, de d iversas o rigen pela form ação de vastas zonas
sent a m etad e do md m erc a . o de Os últim os dez anos foram marc ados
eleva da ren tab ilidade. que repre merc a o ame rican o lação de m erca doria s e da per-
de · -
a Ro rer a Rhôn e-Po ule que com binam as vantagens da livre circu
repos1çao. Ao adqu irir ' nc passa a enca beca r e inten sifica ção) de form as de
a méd icos A Th - sistência ( o u mes mo da reco mposição
uma rede de 820 repre sent antes junto · oms on colo ca a es. ou os loca is de tipo parti cular-

no cent ro de sua estra tégia ao desigualdades entre os países e regiõ
conq_u_1sla de redes de distr ibuiç ão caso, em particula r, da Europa, com
Europa. depo is a RCA nos E~A ." men te atraente para as emp resas. É o
ad~w nr a Tel:f unke n e a Ferguson na , com o NAF TA Nessas zonas.
dess e r · - de ime- o Merc ado Únic o, e da Amé rica do Norte
As mco rpora coes • tpo nao sao nece ssar iame nte rentá veis ava. em 1985 - na époc a ainda
assistiu-se à fusão do que Mich alel cham
Taf)(>l,1 fJ deras - de "estratégia de mer-
diferencia nderas e, em parte, contrapon
O s dez grup os franc eses mais impla ntad os no exte rior da prod ução " das mult inac ionais.
por pessoal e fatur ame nto
' cado '' e "estratégi a de racio naliz ação
nto quas e total das filiais-inter-
- -,1-P-1.>s-·so-11 cinprc-g,1do Pessoal m11lf1io..><>ado r Essa fusão com porto u o desa pare cime
a1ur<11T1en1 0 no estratégia 'mull idom éstic a., de Por-
Grur o_ _ __ no <>l<l<'rior r'"'
•1<> P\ler , exterior, nn '}., do mediárias, características da cham ada
_ <'lnº{ , do tota l la turarn<-.110 to t.il o plen o flo resci m ento das diversas
ter. Em c omp ensa ção, prop ocio nou
Alsthom 124 _000 58 C.8,0 da prod ução indu stria l Esta passa
'-l(c.helin 9 4 .900 70 1\0, s varia ntes da estratégia de racionalização
s pólo s da Tríad e, dest inad a prier
5.-\1111-Goba,n lOAO O 67 72,5 a ser organizada no inter io r dos diferente
Géné ral<' d~ [aux 68 _500 14 27,0 ado cont inen tal onde se deci diu a
Cornp agnie dr- SU<'l 63 _000 110 ritari amen te à vend a no gran de merc
50,0
inter nacio nalm ente .
impla ntaç ão de uma produção integrada
10
Acco r 60 _ 0 73 53,0
lho111so11 '>l. 100 q C.8,6 d e maio ria das mult ina-
Ly~n ai~• des Ll ux 50.00 ,J 45 11 . <.. É a esse nh·e l e nesse quad ro que a gran
Rhon e-l'ou l,~1t _ izaçã o inter naci onal da prod ução
49 600 % 77,r, cion ais procuram otim izar a o rgan
xhne ,dc-r 4750 0 47 50,0 fator es. O prim eiro diz resp eito
1 fabril. Essa opçã o é com anda da por dois
loul dos 10 grupo , _1
L _.=- d e difer enci ação da ofert a e
às exigências, já indic adas , das polít icas
685 00 S(,
u-11i-ca_cio_1__-
ícmtc DRf[, a h,il de 1993. (n. e · 11~oc.--o-m- a p roxim idade das com panh ias
de fidel izaçã o da clien tela. impl ican do

128 1.!9
. O segundo fator adotadas també m
em relação aos consu midore s que preten dem atingir estrangeiro e das políticas neolib erais thatcheristas,
de flexibil izacão da há consid erávei s diferen -
está relacionado às características organizacionais por outros países, signifi ca que atualm ente
de p;oxim i- ,ai se aprofu ndar
produ ção (B. Coriat, 1992) e a suas exigências em tennos ciaçóes salaria is dentro da CEE (difere nciaçã o que só
de peças, pro- Nenhu m grupo in-
dade entre quem passa os pedido s e seus fornec edores com a "associação" de certos ex-países sociaJistas).
dutos semi-elaborados e serviços. para fora da CEE
dustrial tem necessidade de desloc alizar sua produ ção
e-obra quali-
se a im- e de alguns países limítro fes a Leste, para encon trar mão-d
Com a introdu ção do sistema de produ ção flexível. altera- is impõe m-se
dos locais em ficada barata. Aos assalariados e suas organizações sindica
portân cia relativa dos custos salariais e da proxim idade arranc ar na
opçõe s de localizacão da condic ôes bem difere ntes das que ha\iam conse guido
relação ao merca do, como detenn inante s das feito sob a ameaç a do de-
de pessoaÍ·· não época . dos "comp romiss os fordistas". Isto é
produ ção. A implan tação da "produ ção sem gordur as governamentais
"fora", a baixos semprego, com o apoio das novas teorias e políticas
elimin a o interes se das multin aciona is em produ zir o conse ntimen to
arem mais perto em matéri a de salário e de empre go, e també m com
~lário s. O que ela faz é impuls ionar os grupos a procur tiva".
os''. de dirigentes sindicais que julgam que 'não há alterna
de suas bases import antes, até dentro dos pólos ''triádic
quais o ar-
Entre as grandes indústrias mecân icas e elétricas (das
quétip o é a indústria autom obilíst ica), tem sido ampla
mente descri ta a A integ ração industrial "continental"
mão-d e-obra de média
queda da parcela corres ponde nte aos custos de
(Wom ack et ai., A implan tação de fábricas ou unidad es de produ
ção em países
ou baixa qualifi cação. no total dos custos de produ ção
madam ente 25% de níveis salariais,
1990). Segun do C. Oman , ela teria passado de aproxi diferen tes tem por objeth ·o aproveitar os difere nciais
verdade que os posiçã o técnic a
em média , na décad a de 1970, para IO% atualmente.
É mas també m econo mizar na espec ializaç ão. A decom
ou na Indonésia, condiç ões, ob-
salários no Méxic o são mais altos do que na Tailân dia dos processos de produ ção permit e, em determ inadas
e a General eneida de de
mas, graças à produ ção flexível e à autom atizaç ão, a Ford ter ganho s de especialização. bem como maior homog
como contra - també m ser espalha-
Motors podem "supor tar" esse acrésc imo de custo, tendo cada segme nto produ tivo. As ativida des podem
o conjun to de das filiais, no
p;¼rtida a imens a \·antagem de poder voltar a centra lizar das no espaç o e localiz adas livrem ente, seja em nível
ca do Norte nto intern aciona l
suas operaç ões de suprim ento e de produ ção na Améri caso da integra ção compl eta, seja por subfom ecime
perto de suas bases. O último estudo public ado por
e. Oman , po; e suprim ento no exterio r.
res, "a produ cão
exemp lo, enfatiza que, em relaçã o aos anos anterio Tais ganhos de espec ializaç ão podem ser importantes.
Sem que
baixos salári.os,
destin ada à Améri ca do Norte, procu rando locais de exista mercado regional, e muito menos merca do comum
ou "comu -
os dentro dos
passa a se instala r em áreas de salários menos elevad nitário ", assistiu-se à implan tação, pelos grandes grupos
japoneses, de
J, ao invés de na
~rópri os EUA e no Méxic o [mesm o antes do NAFfA formas de integração indust rial transn aciona l num conjun to de países
alizada para
Asia ou outra região". De resto, embor a a produ ção desloc ASFAN. No caso
ente orientada do Sudeste Asiático, espec ialmen te dentro do chama do
as econo mias de baixos salários da Ásia contin ue largam da indúst ria autom obilíst ica e da eletrô nica, a integr
ação indust rial
que está se es-
para os merca dos extra-regionais, a nova tendên cia transn aciona l permi tiu aos grand es grupo s japone
ses explo rar as
países, cada vez
boçan do é clara: o invest imento ·•dirige-se a esses econo mias de espec ialização e de escala propor cionad
as pelas bases
rápida expansão''.
mais. na ótica de abrir o merca do asiático. em indúst riais em formac ão nesses países. Dessa forma
, eles puder am
nado da in- situad a fora do
A situaç ão não é diferente na Europa. O efeito combi constr uir uma segun da plataf orma de export ação,
dentro de um de equipa mento e
tegração d_e países de nÍ\•eis salariais muito diferentes, Japão, mas na Ásia. Esses países recebe m os bens
de investimento são muito re-
Merca do Unico totalm ente liberal izado, da liberda de certos insum os do Japão. As reexp ortações para o Japão

/J(I 131
duz:1da!.. As , endas se dividem vnln- vendru, denl d . se ,,stava lon~c do grau de lnle~fação eorw~pond!!nle ~o M~rcado
~,çõe, para "' Estados Unidos e a Eump•~- que sem apoiam
la ·
a reglao e e~1)0r•
nas expor-
Único. e f'm que os grupos eumpeus ainda pouco se bcneJldavnrn tia
do Japão (Ver Grâlico 7).
<;ot'> Mia< •• parti, inlegmçáo induslrin1 transfronleiras. O caso llpico de antegraç,m por
espedalíz;:ição por 1>md111C1 fc,l, durante mullo tempo, a IBM. A crinçao
A p,1rtir ele PcrtN e lambê ri ó
Okk<'n ( 1986 • .,} t 'd rnh ~ ge ,grafo económico brilánlco p_ do Mercado Co1nurn. bem come, a .-xísténcia dt! b.i><'S econômicas sóll
1 199- . em sr o ah1tual. na lileralura ' l I.Jel •
c<1111raposiç,i10 ao "mullit.lorm'>stico". uma tlislincào ' l, s a ecer, cm das. n,35 de tradlc;6es dislintM, em \órios paises. µ,-rmitiram à 18\t ddO·
e r ·• ~ • marc-ante entre duas tar uma divbJ.o de lntbalho por proch1to. e roncenlrar. numa umca
s ~ t.'~
1 de_ lntc~mção transnacional: a inlegr"<;âo por espec:i n •
[VH produto (êl~ ,eze~ rh,1mada. de forma um la I a Zi'çao
dP um ou outro slslema ou \f"rie rtr compuli\dorcs
fábrica, a produção
I") . n o enganosa. de "hori- A norma apregoada peta 18~1 nos an• ,, 1965-19$5, "produzu no local o
1
"'" a e a inlcgr.içao vertJcal (Savarv. 1CJ92J. Em lodo •
- horizonlnl ou v,•rlie:.al. em uma ou o lra . ~
o.s c:a~s hpicos que se vende no local''. pcnni1iu•lhe D\J-tl'e!:êr em todos os pa1se, como
trnnsn.ociunaJ mv _ • . u vnn.ant~ - . ~ mlegração produtor nacional. e negocia1 o acesso i\OS m-.•rcado,; Na m<im,rna out<~
câmbio •ll· p~ut:ttfl º":1
de sen,·oh~mento muito slqnlficativo no inler- mobill~lica, que íoi o laboratório de integraçào wnical ,•m ,ua.< dlfc
s nats ou Sf!m1•acabados~ entre as f16ais e e l
1abnc.--i.\ 1jc• dlver.;os rentes modalidades, a Ford e a General Motors abriram um caminho
. pruses, e po11anto um comérc1n C'On5idera""o n.,.re1 as
n,11 lona!'" de li ..ln • · u m er- logo trilhodo pelos grur><>s europeus (em parucular a Renault}
. . p,, lracorporatlvo"' e lambem1 cl•-
0.J'-'• • mtra-setonaJ"'.
No caso da. especlaHzaçilo por produto. ns nllai,;- rerebf"m um
d Euro~a. ~~\H~ duas c~1ra1egi.l~ foram init'idlmentc <fcsenvohi•
\.ti
"mnndalo regional"', c1uc atualmente e, muitas n~zes, "mumU<"l" fl,u ~e
ª~
por mullmae1011ms arncricana.s O
Comwu ~lava co d .
#

' uma epoca em (IUC o ~ter<:ado espeda!Jz.,m em uma ou várias tinhas de produlos <tue lém caráter rlc
meçan o ,, se clcmonstrnr pk:namenle h'hU
"''-.:; "º• mas sistema "complelo'"; e, qrupo lhes cJn autonomia quase lolal na organl
Cr~HIL'(, ~ zação da produção. No pais ow,le e:,l.i lmplanl1:tda. a íillnl tem lambém
E!fleeializaç~io e inlerc.imbios inlrdcornn 1· a missão de comerclaU1.nr torta a linha de produtos do grupo. Na inte-
,e.li,, ui I foi" . r-rd ,vos
•·· ·t·ICO
_~_• _ us_Pl'..lS
_ _dil
I h\15 __ TO\'Oh ' noSud-t
occ~ e "'Ulil
gração vertical, tl esp<•c.iallu,çào é haseada na decompo:'J.lç-.ão ll!cn1ca
do sistema produtivo. A orgr.ni1,açáo pode .ser íélta •·em cadeia,.. ou ·•em
racho"; cm ambo~ os ca5,os, o ph't1 do cunjunlo é ;1 unida<IP de mon
tagem final. Aluahnenlc, os gnrpos têm começado a •pertar suas redes
a concentrar as filiais e a suhstilulr a produção deslocalizada, organl
zada em base inrragrupo, por íomedmenlos externos. por lercc1rizaç;,o
e contratos de longa duração. /\ mobilidade intrinseca do capital. com-
binada com a variedade de soluções técmCa.\ oíereclda.s P a atrall\i-
dade do suprimento na, proxlmidad~• (o ·just-in-time'·}. vai le\'ar
necessariamente a umn variedade de e'tqucmas de localização bem
maior do que no p;\S5-f'ldO. ~erá enlão cada \l?Z meis dificil apresentar

1-'c\ã d1t 4..1,,~lu


-- - todas as opções estr.ittêgicns dos grupos em figuras símple, como
aquelas Inspiradas em P ílicken (,ir[1firn 8). Mas tudo rndic,, que "
figura "e" (embaixo à esquerda) está ganhando 1l'rreno em rclaçáo às
l •tylp rlf-ll"!CO
figwas "e·• e "d", Ela corr<'sponde as modallrlade, técnicas e organi-
zacionais do 1oyoli.smo. combinadas com A esistc.nda de um ..mercado
l<1u1, 1 ,, t, ,,,,,,, único". E.\sa modalidade lev., a um ,1pet10 das wll<çôe~ ele tcn;elJUilçao
/ I,
1 ,.
• '
CrJíico 8 e a sua racionalização. Ela elimina empregos. às vezes em escala im-
Formas de internacionalização da produção industrial portante. Mas faz a fortuna das regiões onde os salários se deterio-
raram e o nde a proteção social foi rebaixada (por exemplo, a

:. ·frod~ prn .,,. mercadq mlllMfi.tl Escócia).
"p,íl'tlr de um úoico local, <:om ~

As deslocalizações sem investimento direto

Nos últimos dois ou três anos, o conceito de deslocalização tem


recebido extensões que vão além da acepção inicial do termo, que era
sinônimo de implantação no exterior. ligada a um im·estimento direto.
F. Sachenwald (IFRI, 1992. capítulo 2) acaba de fazer um inventário bem
claro das principais extensões do termo, comentando especialmente as
do relatório Arthuis ( 1993).
<:
d
P~io det1oali_.;., <:0ra filias
mUg,ação-rtk<!I t-cional A primeira extensão, que não traz problema nenhum, refere-se às
e,pec~..tãs .,.. proclllfo,
~izaçiopor atllgi<>da produção,
de. "mwato" m!SldiaJ ou reg!OM( pma,.. ,-Ka4o contihffltal ou 1nundial;
participações minoritárias. A segunda, que ela considera "muito mais
com filiaít-ãficitas e mon~ c$1tralu,ada embaraçosa", é relativa ao "amálgama entre deslocalização e impor-
tação proveniente de países de baixos salários". Aqui. a extensão com-
porta, por sua vez, duas modalidades: l) as "deslocalizações sem aporte
de capital" e 2) '"as deslocalizações resultantes da atividade mercantil
internacional". O primeiro caso é o dos grupos industriais cuja existên-
cia, ao contrário, repousa. de maneira imediata e quase exclusiva, sobre
sua capacidade de tirar proveito da liberalização do comércio exterior
e da telemática, a fim de beneficiar-se dos baixos custos salariais e da
e ausência de legislação social para "deslocalizar". São os diversos tipos
P ~ "de ff""4:&noo-:, com
'-;uiriz~- p,_in>,dades,
de "empresas-rede" que se inspiraram no exemplo da Benetlon (a qual
paN uno "mer<:ado únfoo"' cónt~ internacionalizou-se fora da Europa, em países onde sua conduta talvez
o i
seja bem diferente do que na Itália). A primeira delas é a Nike. As
coleções são concebidas na sede do grupo, no Oregon (que tem menos
de 500 assalariados americanos), onde está concentrada sua capaci-
dade d e design , bem como sua estratégia comercial. Os padrões dos
novos modelos são transmitidos (por uma rede de comunicações
telemáticas privada) para Taiwan. onde se situa· um segundo elo impor-
tante do grupo. É lá que são fabricados os protótipos, que vão servir de
modelos para a produção industrial de massa. Esta vai ser feita no
O Unidade de produção ~ fluxo de componente ~ Fluxo de produto acabado Sudeste Asiático, mas onde puderem ser conseguidos contratos de ter-
í onlP: •\dapl,ldo de P. Did,,11 ( 199:!I e de 1. S,wary 1199 l l. ceirização mais vantajosos, de sorte que tem-se assistido à Nike sair de

13-1
certos países, à medida que os salários aument a\'am ou que surgia a Gr.íficn 9 .
sindicalização. Formas de deslocalização no setor têxtil e concordâ~cia/discordân
c1a
das vantagens com petitivas e com parativas
O segundo caso típico é o das ..desloca lizações resultan tes de a tivi- 111nirl.idP 7()(l = produc:i,1 urn,:,1111L•t1I<' 11,1 C[•
dade m ercantil intemac ionar·. que diz respeito ao suprime nto de pro-
dutos industriais padroni zados, onde os custos forem mais baratos. Esse Taiwan/ Hong Kong 1

í CE (1) CE com
modelo não se refere apenas aos insumo s e produto s semi-el aborado s, deslocalização (3)
mas também a produto s acabad os dE' consum o de massa, que hoje as parcial no Magreb (2)
grandes cadeias comerciais ou hiperme rcados podem ir buscar bem
Fiação
longe. estabel ecendo seus próprios contrato s de terceiriz ação com pro-
dutores locais e comerc ializan do os produto s com s uas marcas Tecelagem
+1
próprias . Esse sistema e praticad o no setor de vestuário. por exemplo, Estampa
por todas as grande s cadeias de loJas. Os grande s grupos de dis- +1
Confecção
tribuiçã o america nos (Sears, Bloomin gdale) foram os primeiros. mas
logo foram seguido s pelos grupos comerciais e lojas de departa mentos Coleção +1
Marketing
popular es europeu s. Comercialização
Por pouco que se adote uma problem ática tendo como conceit o- 100 80
1 Custo to ~
chave o de copito!. ou seja, uma massa fmanceira de algum vulto, cujo
objeti\'o é a auto-,·alorização com lucro, a extensã o não é embara çosa. 111 cu,to do p«xhihl iabri< ~do 1otdh11<11t<é na ( l : hrJ. ..
É a té absolut amente legítima. Hoje e m dia, o capital mercantil, m al ul- p1 C I\IO coI11 ,k-<õlocalvaçao· pa,na1 " 1,~
no "'•'l.. ,..1 tnorw da ,\trK:3 • 8-).
(;I c:,,,o do pmdulo iahri< .Jdo totah111>n1e rM Á,ia e tkpoiç vcndnk> na CI:
• !IS.
trapassa um certo limiar em termos de tamanh o e capacid ade de or-
Not3 os •" rc,>ft",('l\l.1111 ""custos d<' tr~nspor1e. ele 1,, ,·c,mp,<11111
,ri' rfar.s 1c.-. ,nrlu,,1ne, <lu le~l•I<•
ganizaç ão. pode adotar as combin ações mais variadas, associando as fonte 11<,.,,011 Con,ullong Group. 1e, mC-<.An1sme-.
(>Ide /·h,,úillem,•nl de la Ctt. março dt· 1984
formas próprias ao capital compro metido na produçã o, e as formas que
caracterizam o capital que se ,-aJoriza como capital comerc ial concen -
trado. A partir d<1í, em uma problem ática de repartiç ão do valor agre-
gado e m diferen tes pontos da "cade ia de valo r", e també m d e
c rescime nto dos países em desenvo lviment o, não é nada indiferente
qtle o comérc io internac ional se dê por inici::ttiva desse capital e se
traduza na existênc ia de bo"eira s industriais ao acesso a mercad os,
muito mais pode rosas do que aquelas com as quais o GATf se preo-
c upa. Basta olha r para a coluna da direita no Gráfico 9, para perceber
isso. O custo de produçã o e comerc ialização dos produto s asiáticos é
de 85 unidade s de cálculo conceitu ai, mas 30 dessas unidade s são para
'·retribuir" a distribuição, controla da pelas cadeias comerciais situadas
nos países da OCDE.

11(, 137
capítulo 6

A tecnologia na
atuação mun dial dos grupos

"Outror a c>m ris política s dP cwncia ,, Lecn1Jfogíu (/Uf'


cahiu admini. ,tmr as ambi,;;ii es e as l'.\peran ças - l' tum-
ht;rn os ímpede ições, as impúlén cia:.. afP os acirlenLes -
do progrt•!>\'>O témico. A irrupção da ló,gico de merwd o no
A
rmmrin da ciénria e rio cecn ,/ogiu tV>io mudar twl,J. (...)
ol>nrda1.wm dos problem as r:ompetP 11s ner<>ssidades da
r>,· mornin mercan til, q11e irn11ufsiona cI int,,111acior,"lizuç<i"
rios rne,nuJ os ( . .) Queinm u-sr> 11m fusít'<'I· •1qur>IP que
fJl'<JfJ'>1-cionmJ(1, t•ntre os cientista s r, (JS nwrn1do r(•s. 11m
<'-'f"Içn omle as (fEJ('S(,i<•.-. err1 jogo pvrliam •wr p<•rcebidns
nxn uni pouco nu11s ti,, grandPu J.

G Fe1 né, Snenct•. puuuoir et argPnt: la recl1erc lw entre


nu1rchc; <•t pobtu111e. Pa1is, 1993.
Os pesq uisa e dese nvo lvimento (P&D)
im-e slim ento s em
e ntre as desp esas industriais mai s con
cen trad as do mun do. Uma
estã o
con cen -
país , junto com uma con cen traç ão.
tração particularmente elev ada por
hia (ver quadro). Os gran des grupos
muitas vezes bastante alta, por com pan
ente, des pes as mui to elev ada s de
industriais mun diai s têm , invariavelm l
central de sua atua ção inte rnac iona
P&D. A tecn ologia é uma dim ensã o as re-
rmi nan tes ond e se entr elaç am
É tam bém um dos cam pos mai s dete
ênc ia entr e rivais.
lações de coo pera ção e de con corr
- - - - - - - - - -285 ~
r----------
O[ gastaram um total de cerc a de
[m 1988, os países da OC l. os EUA
cm 1985 ) cm P&0 . 0csSl' tot,t
bilhõ es de dól,1res. (225 bilhõ es d(> dóla res, Oll seja, 48.4 %), os
( 138 bilhõ es
rnspontl<'m por qua ~ mct,1de por 17,9 %
de um quc1rto (27,7%), o Japã o
países da CtE por pou co mais ,1is p aíses , por ,1pe nas 6%.
dos dcm
(5 1 ilh6<>s d<> dólares) <' o rnnj unto íorte grau de ,on -
c:MaL!PriJ,1-se por
A P&0 PÍCtu,1d<1 11<1 rndu stn ,, o restr ito de gran dt--s cm-
rior de um grup
centr,)ÇJO de r<'nm,os, no inte qua se t odo s O!.
P&0 sup erdm os de
pres ds, cujo s o rç,11nrntos de mes mo nos gran des país es.
sa e [nerg1a),
m111istérios (excPlo os de ()e1e cm 1rns da 1
N,1tio11al Science Fou ndat ion
Os nüm erm , pub licac ios pela de 50% dà P&0 i ndustrial 1
bem m,11s
década de 197 0 mos trc1v;m1 4ue stria is. Os
elos vinte maio res grupos mdu
american,1 eram finan ci ados p conc entr ação da P&D in- 1
198 0 sobre cl
dc1dos publicc1dos n<1 déca da de <10 e mos trclr que não era
essa con clus
dustrial 110 l;ip;'io vier am coni i rm.u c1ssegurd m
As cinc o maio res com pan hias
pec ulia r aos [ stados U nido s. ilísti ca, 55% na eletr ônic a,
stria auto mob
cerca de 70% ela P&0 na indú icas tiim uma
rurgia; só cl!> inclústnc1s quím
50% no setor tf>xtil, 78% na side pPSq uiScl c1cn tíiica
capa cidil des de
repm tiçJo rn.1i !> distri buíd a das panhi,1s
N o caso d<l Franç,1, segu ndo os números ofici ais, 7°6 d;is com
pan hias ), rece-
(apr oxim ada men te 150 com
iden tiiica das, que fazem P&D oncg em púb lica. e con -
s e subvenções de
bem cerca de 90% dos contrato l de pesq uisa inclu stric1I. Os
do pote ncia
cent ram em suas mão s 75% o ainda
nais indi cam 11m,1 con centr<1çã
lev;intc1rnentos industridi:, proí issio por dois terço s do investi-
s resp onde m
maio r: uns vinte grupos fran cese no Rein o Unid o.
tc1nciahnente a mesma
men to em P&0 . A situação é subs só a Alem anh; -i poss ui um
industrializad os.
tntre os cinc o prin cipa is países nsõe s que disp õem de
s de méd ias dime
tecid o sign riica tivo de empresa
certa capacidade de P&0 .
141
. • ais, nascidos
b.s,1 ele\,1da co1Ke111raç;iu rlds cksrx:-..,s· .d' p ·.
e &D ·:º'K<'ntraç,10. clar,1. científicas e diferentes técnicas: é o caso dos novos materi
mente supc>rior, 0111 mwttr.> r ,150s,. ,l. cunce111r,1çào <fa Of<'rt0' · .., os e a pro-
pod e S<.'r cons1der.1da "rntur •I •1111nnsec.t nientc ·
necess
'
~
· 111u~1n,11) n:io do encon tro entre a químic a aplicada, os materiais clássic
• "
d . . . 'rtd ou portador,1 d<• ador. Nos casos
grama ção indust rial infonn atizad a por microc omput
• ex1st,1m 1w,os m ínimos
er•uêncict. Embor,1
tdnto l,m1.111hos de• <'mprc~, críticos . e imPst1mPnto cm P&IJ, <' por- se possív el identif icar
1 rlmv lv,m,h, eis de um St•tor mel 1rtr· <•m terrnos U<' valor <1greg,1do P de ,.ash onde essas sinerg ias são impor tantes, toma-
1 "" rd parc1 outro) PSS(_>;, p·s athida des indus-
- 1
a < imen<i.'íO d e <'mpr0S,l!> dP d111wns. . . f /. . ' os correspc111dem "'cachos" tecnológicos (GEST, 1986), isto é, grupos de
<h f'" ucf)•s me•< ras .SOO a 2 mil <•mprcg,1dos) o de uma base tecnológica
1 n,10 postul, un a ui11Ce1 11rv-ão
-~ · '' 110 interior dos m<1ior~ · o d triais e de seniço s estabelecidos em tomo
·
[n.t1S. ,\e; pe~111~,b ,1mc•rrc~n l'> <' br, · . '., :-,nrpo,, ,n li!>· e da biotecnolo-
' • • • 1 cllltCd~
.
'x'lllf)fC'
.
lllOS\n
· ' rdlll Cfll<', C'lll re- comum (em particu lar nos campo s da microe letrôn ica
1 1aç,,o ao seu 1,lllldn ho as <'Ili em dia, traços
"rendrm ento d,h dev><•<; «~ clP p, pl)r,;s.1s nwd,as rr1ova111 m.tIs e té•m um gia). Em outros casos, a tecnol ogia apresenta, hoje
1 '' •,up<>rr ,r ,10 dos· gr•1ndes . . . grupos. l:ntr0 os campos pre-
os t,llores quc> P>.plic.im c•ssP dc>c;em ><'n ho 1,. •
'>11<1 rl<',1bil1 d.ide, ,, "ieno, sistêmicos marcantes. Estes não caracterizam apenas
rigid<•z d<' suas hiN ' lr<flll - ,·nt'· 1 . 1 stao ogia espacial,
r 1e S('lf fX~'>Oaf.
•~ '-'ffl.1S , u Ili\(' "ll""rio ,--
r d e (Jlld1·JIJC-,lÇdO méd,,1 ferenc iais dos grandes sistemas (telecomunicações, tecnol
també m a tecnologias
Fmt~. C. l<'fn/, !coo,d J. 1991
sistem as de armam entos), mas dizem respeito
tais como o pro-
- - - -- -- -- _ _J menos espetaculares, mas não menos re,·olucionárias,
- - - - - -- AM) etc.
jeto e fabricação auxiliados por compu tador (CAD/C
Afguns aspec tos atuais primordiais da tecno logia Indepe ndente mente de seu impac to sobre o cresci mento
macroe-
go, cuja nature za e amplit ude são
conôm ico e sobre o nível de empre
- As tranfon naçõe s ad\ind as, desde fins da décad
a de 70 os parâm etros da
, nas re - controvertidas, esses desdobramentos modifi caram
lacoes entre a · • •
- l . c1enc1a, a tecnol ogia e a ali\ida de indust rial fizeram da compe liti\ida de microe conôm ica, bem como as condu
tas conco rren-
i ecno og1a um fator de c rr .d todos os fatores que
característi f _ompe t iv1 ade, muitas vezes decisivo, cujas ciais das empresas. Estas foram obrigadas, por
dido (ou seus in-
. casa etarn prahca mente texto o sistema indust rial (enten descrevemos acima, a aumen tar bastante suas despes
as
em sentid o amplo e porta b
I a rangendo parte dos serviços). A ênfase as, de resto,
, no vestimentos imater iais) em P&D. O custo dessas despes
pode ser coloca da nos aspect os abaixo. foi particu larmen te forte
tem aumen tado sensivelmente. Tal elevação
l e t fannacêu-
A_ vincul ação entre conhe cimen to cientif ico funda menta ec- na inform ática (semicondutores, compu tadore s) e no campo
-
nolog1a tornou .se sensn ·e1m ente mais estrei ta M . d conjun to do
. · ais o que em lico, mas abrange praticamente textos os setores. O efeito
qualquer outr , - t rmaçõ es nos
a epoca, assiste -se a uma interp cnetra ç ao en r e a tec- aumen to no nível das despesas requeridas pelas transfo
nologi a ind 1 ·a1 d finalid ade competiliv=- e a pes . d o cresci mento da
us n , e ..., quisa e base " paradigmas tecnológicos", e no custo destas, explic a
··pura " orient ada" que t tecnol ogia.
' sem falar na "pesqu isa fundam ental ' em pa- parcela de valor agregado que é investida em
pel cada vez mais im rt
. po ante. O exemp lo mais claro é, eviden te- Essas transformações, como um texto, acarretaram mudan
ças na
vida" estão em
:en~e , o da b1otec nolog ia, onde as "ciênc ias da emen tares" (Teece ,
os proces sos indu t . . p compo sição dos "recursos especializados compl
gaçao quase direta com s na1s. aralela mente to- empresa carece,
d . ,
porân eas caract erizam s • 1986). Estes são definid os como recursos de que uma
as as tecnologias cntica s contem e comer ciali-
alta capac idad d d'f . · e por sua
ni- mas que lhe são necessários para ter êxito na elaboração
e e usao inters etoria l. Elas oferec em oportu de valor agre-
zação de urna inovação, e para se beneficiar dos fluxos
d t
de invent ar no-
. ade:, ~e ~enovar a conce pção de muitos produ tos e deve poder
a transfo rmaca -o dos gado e de quase-rendas de empresa, que norma lmente
, os .. ais impor tante ainda: exigem
t d proces sos almejar.
dom das -
man es e fabrica çã o, bem como técnic as de gestão, em
para que
10 d 0 o sistem a indust rial. Tudo se junta para exercer pressão sobre as companhias
seja em pé de
Muitos pontos de inflexã o tecno l'og,cos .
recentes foram resulta do elas cooperem. seja com quem é mais fraco do que elas.
d ~ .. _ os acordos de
e ert1bzaçoes recípro cas (ou •·comb inatóri as") entr rt d ' . .
e ce as Isc1phnas igualdade. Num contex1o de rápida mudança tecnológica,

1-IJ
1-U
• . . lar conhe ceu o estabe lecime nto de
coope ração e as alianças estratégicas' são um meio que A indústria eletroruca, em parucu .'
permit e às em- angen do s1mul taneam en te , certa subve nção
presas, minim izando riscos e mante ndo a possib ilidade g rande s progra mas, a b r , -
de se desco m- d formaç ao. no con tex.,..o da conco rrên-
prome te rem, obter os recursos compl ement ares e insum pública, muitas \·ezes e leva a, e da d riacão e reparti ção de P&D e
os tecnológicos . . d •
essenc iais. São també m um dos princip ais instrum entos eia tnád1ca. e un portan tes acor os e e - .tária os .
das rx>líticas de . base nacion al ou comu m progra mas ma.is
competitividade (tamb ém c hamad as de "rx>líticas comer ciais de tecnol ogia, em . .
G 'ti
estraté gicas" d ' da de 1980 (ver ra co lO) foram os projeto s impul-
por alguns autore s, como P. Krugman). Dando contin uidade conhe cidos da eca l VHSIC e o 5E.\l.\TFCH. o projeto
ao capítulo
ante rior, vamos começ ar por localizar as estratégias "privad
as" das com - sionad os, pe lo Pentág ·
ono nos El!A.. o
. t ge,acã o", e. na Europa, os tl0 15
.
panhia s, no quadro de suas relaçõ es com os respec tivos Estado japonê s \'LSI e os •·comp utador es de _q~n ;ESSI do progra ma
s. Eurck a.
ESPRIT da CEE e o pro1e o
program as des progra mas nacion ais não im-
0 fato de perten cerem a gran . os
Coalizões Estados-grupos e conc orrên cia sistê mica pediu 05 grupos rna1or . s sobret udo arnen can e 1·aponeses, de esta-
e ,
GrJfico 10
As a liança s e acordo s são, por excelê ncia, o m eio que permi Princi ais rogram as públic os ~o âmbito d<1
te que
divers as e mpres as se coligu em para o aperfe içoam ento ind~r ia !e informática e semi-c onduto res
aceler ado de
tecnol ogias (comp artilha ndo parte de seus recurs os de
P&D, trocan do
conhe cimen tos que c ada uma detém ), bem como para sua
aprop riação
e proteç ão. Tais acordo s são estabe lecido s, muita s vezes,
em base
mundi al, mas també m podem marca r os esforç os dos
m esm b ros do
oligop ólio de um país, a fim de asse gurar, com a ajuda
de seu Estado ,
sua compe titivid ade inte rnacio nal diante de seus rivais:
esforç os que
hoje só (X)de m dar resulta do se forem empre endid os coletiv
ament e (F.
Chesn ais, 1988 e 1990). Para os Estado s, a tec nologi a sempr
e foi con-
side rada um camp o que afeta a sobe rania (G. Fe m é et ai., :/\ ~ Malionol Micro
1992). É este ··,,::,T TIOh (Jopãol
o caso, ainda mais, nos países que constr uíram uma indúst ·,;: S1ro1t ic
ria de arma-
mento s relaci onada com o lugar ocupa do pelas Forças
Armad as no

f=~~~f'
Estado (F. Chesn ais e C. Serfati, 1992). O lugar a té hoje
ocupa do pela
polític a tecno lógica resulta desses fatores , mas també m traduz
dos Estado s, a tentati va de mante r algum a função e algum
. d e parte ~ ?
~,,._, •:: :-:- ,} Supra S'1gmu
pape l pe- i:\f{:i:
:-:'::: .. ,7 ·'?:-<
(Jopôo

m.:.Jf!l~:l-- •; •; •; ~~ · ·
rante o proces so de mundi alizaç ão. JBSI (Europol1

Nos três pólos da Tríade, os grupos maiore s conseg uiram


assim, em
divers os setore s indust riais, inte ressar seus govern os (e,
na Europ a, a
Comis são da CEE) na elabor ação e financ iamen to de amplo
s progra mas,
que dão conteú do ao conceito de "conc orrê ncia sistémica·• .• ·1lodo JQ<U.1' l'l8, ,nantt.,.-,d..t .i
(M. Humb ert, ..,,, "'~qu1• ·' e d,.o;f-ovolv1111te0lo ah'3ng~ o p<:
1 O 42 p,ograma 1,era1"' ,-
1988). Tais setore s perten cem à categoria das "indús trias .
estraté gicas" , ,;r"-rn.h dc ~fada ~< tecno10%ias de m1orm,1ção.
" "' ~ . t ' nRI I E.urei •· •\s li·< ,1oloi;ws de i11101-
- .- A
princip almen te em função de suas ligaçõ es com o setor militar .,-· o .,.,ma 1rss1 goza de um''""° "'"' ncn\o <.:on1unto :,,e' ,._-

1de proietos l:ur~a. 11 ' ,~ ..• ..,__11% cio n,t1n1a11t.. ,1al "º' 111\.lllCM·
• • - •
e espaci al. pros . .
r'laç ão rt>prcsenlam 14,6'1-o tio toU . E. _,. N~ ·s ,,,, .,.., 'l.t:lm1br o ,IP 19'H•.
º'""ª
mcotos ((onícrro < ia minl<ten• a.1d<- 1991'...,. 1 , . e~,~ • --•
e L Millelli ( 19941
1. A distinç~o enlr<' ambos será expli cada no ca pitulo 7
í0<1le: OCDE l 19921. Atualtza çao de,.,.,.
.,e aptcn .
belecerem, paralelamente, acordos intratriádicos, cujo efeito consiste mentares que podem contribuir ao bom êxito e também à redução de
em ~~nsolidar: a _h!erarquia entre as companhias, dentro do pró prio oli- prazos da inovação. Em função do que indicamos no começo deste
gopol10 mundial. E o que veremos no capítulo seguinte. capítulo, as atiládades de acompanhamento e aquisição assumiram es-
pecial importância e gozam de recursos consideráveis. Todos os gran-
As múltiplas dimensões da des grupos as implementam em escala internacional, paralelamente às
internacionalização da tecnologia suas atividades proprias de produção de tecnologia
A aquisição de insumos especializados pode também ser feita por
Para cenm autores, a internacionalização da tecnologia refere-se es- intermédio das chamadas "alianças estratégicas" relativas à tecnologia.
sencialme~te, à localização de parte da P&D no exterior. É essa a hlpó;ese, Tais alianças interligam grandes grupos. Representam uma terceira di-
em especial, de K. Pavítl e P. Patei do SPRU, que afirmam que a esfera mensão decisiva da internacionalização. Essa dimensão não passa de
da tecnologia representaria um "caso importante de não-globalizacão" uma concretizacão do mútuo reconhecimento oligopolisla e da for-
(1991). Quando se mede a amplitude do processo de mundializaçãO: tal mação de barrelras de entrada de tipo industrial, cujos efeitos são im-
abordagem parece singularmente reducionista. É indiscutível que o caráter por;antes, tanto para o desenrolar das relações de rivalidade no
estratégico da tecnologia confere ao laboratório central dos grandes grupos interior da Tríade, como para as possibilidades de entrada de novos
um papel P_Mticular na orientação e coordenação do trabalho das outras rivais de verdade.
unidades. E igualmente certo que a P&D nunca foi deslocalizada no A quarta dimensão da internacionalização é a que a grande com-
mesmo grau que a prcxlução. Mas não se pode parar por aí. Somente con- panhia conduz individualmente, por meio de seus depósitos de paten-
s~derando a tecnologia em várias dimensões, das quais apresentamos tes no exterior, e coletivamente, por sua participação, junto com outros,
cmco, esquematicamente, na Tabela 10, é que se pode apreciar plena- no estabelecimento de normas, especialmente por ocasião de proces-
mente o alcance da internacionalização. sos de "normalização antecipada" (ver, no capítulo seguinte, uma
A prtmeira dimensão, que sempre foi a mais bem estudada diz análise desse fenômeno novo).
res~ito à pr~dução privada de tecnologia, mediante a combin~ção A quinta dimensão é a da valorização internacional das tecnologias
de msumos Vindos do exterio r com a atividade própria da P&0 do produzidas pelo grupo. A multinacional é o único participante do sistema
g~po~ Essa produção pode levar a inovações que são divulgadas, de inovação que pode escolher entre três fonnas de valorização de suas
~1s sao pat_:nteadas_ e m aterializadas em produtos. Mas ela dá lugar atividades em P&D: a produção de bens para exportação, baseada em in~
igualmente a produçao de conhecimentos, e nvolvendo em particular vacões de processo ou incorporando inovações de produto; a venda das
os procedimentos de produção (o know-how industrial) que per- pa;entes ou concessão de licenças, cedendo o direito de utilizar as in~
manecem "tácitos", específicos do grupo, e que só circulam dentro \,ações; por fim, e sobretudo, a exploração das tecnologias a nível de todo
de seu espaço próprio.
0 grupo. É aqui que se situa a circulação da tecnologia no interior do
A segunda dimensão relaciona-se com a organização, em escala espaço privado dos grupos, que foi estudada com precisão por C.-A.
~undial, das ali\lidades de acompanhamento tecnológico e de aquisição de Michalet (1985). Recomendamos seu livro, no tocante a esse aspecto, para
msumos especializ.ados (conhecimentos científicos ab.stratos, bem como tec- nos concentrarmos nos outros quatro.
nolQRias complementares j;í testadas) junto às universidades, aos centms de Na Tal.Jela IO, procuramos mostrar como a multinacional é o único
pesquisa públicos e às pequenas companhias de alta tecnologia No quadro "ator" participante dos sistemas de pesquisa e inovação, que pode atuar
de um determinaoo projeto de pesquisa, essas modalidades visam a ajudar a nível das cinco dimensões. Os outros participantes (inclusive as em-
0
grupo (ou uma de suas empresas afiliadas) a adquirir os insumos comple- presas "mononacionais" domésticas) estão limitados a duas ou, no

146 147
lodo,
Tabela 10 máxim o, três dime nsões. É a nível das cinco dime nsões, como um
_ __ Cinco modali dade~ de ~aci onalização da tecnologia que se efetuam as opções de central ização e descen traliza ção
dos lo-
1 gica global do
_,1oc1 aJ,d;i1 ~ Moda lidac;;-- --1
cais de decisã o e de implem e ntação da política tecnoló
}orgdn inçAo ,
- - ---- - - - '°5t11l l l ~ ~
Produç.ao privada 1 ,\l11hindC1CJ1uis
dn lecnolo gu, Pl11
bM,(' rnullin;ic ional
I IED

_ _ _ final · -
llll<'nnediária
I . - -
' Jm~adc s de r &D
ll.'IS riha,s;
- -
1
grupo. Na literatu ra, essas opções são geralm ente estuda das to mando
P&D isolada mente; seria impo rtante integrá-las num enfoqu e mais
a
am-
labora1órios
iiliados, criados ou plo, relativo à interna cio nalizaç ão da tecnologia.
_L int~rad os pcl,"
___ _ l ilflt ll<içrn><;/íusoc-.
Aqui~ ição~ 1c-.ompra d e As funções dos labor ató rios no exter ior
tecnolog ia no
[mpr<"-,!
~s c_,uegoria
s de Ioda!>
\ e I
Oiw>ru = s
mod.llid ddes de
e
patcnles, aqu1S1\ ..io
Ide
lextcnor, por
compra ou por
relaçocs
1
o I
rg<10< c P pcsq11i~d acornp~1~ham,~1to
tecnolog ,co
licen.ças d<'
know-h ow
industn;il O estabe lecime nto de laboratórios no exterior, as modali danes
dP.
lassrn1c1ricas
~tmac1 011c11 s -i-- l~D Acor . d os aquisiç ão/fusã o ou de investi mento novo escolh idas para esse fim, a
r I
IIX"nológicos com
lHllversi dades ou nature za das funçõe s atribuí das a esses laboratórios, e nfim, as
formas

I_ l
_ _ _ _ _ ___ I __ _
com p<'quena s e
nwdias <'mpresas
<~ran g<'1r; is~
de divisão de tarefas e de coorde nação das decisõ es no interio
grupos . são todos e leme ntos que sofrera m transfo rmaçõ es import
r dos
antes
lntcn ..irnbio Comum dadc
l
i;:,_, - -.-
lntercam bio enlrc ao longo dos últimos vinte anos. A evolução foi similar, e muitas
vezes

ll
cnuado rfr•
conhc><i m entos e
1 .
ecno og,as com o
1 · ,,.
Clfc'.lllll•~dil, J
un,v~s• oes
asson,tç
_a< es,
i'
de•
~es
,ntcm.\c tonais
c ien1is1,1s e
1. ig
en 1ie,ros
d<'
I
laborató
trabalho

1r1tercam

rios
s con'1·u111os,
.
l>10
! concom itante, àquela das filiais na produç ão.

A regra, em matéri a de organi zação e localiz ação da P&D, tem sido


cxtenor , por engen h ciros • · ,
· - - - - - ·- __ ___ rn,omial
colabor ação,
RKonhc cirnent_o __ AI_ _ _ - - - Isso
parc<'fia e Multina cionais sempr e, geralm ente, sua centralização no pais de origem do grupo.

---
intcrc..irnbio paritário !

-
rn~1uo _de;,tro dos 1c-;::c1~~~c.as dt~
~~f~;:::~os ~~;:~og,a com
1
decorr e de tudo o que foi ditn ~n!Nio rmente , seja acerca do caráter
tratégic o da tecnolo gia para a e mpresa , seja sobre o e nraizam ento
es-
dos

l - --
Protcç,i o dos
conl_wd mentos e
das rnm·açõ es no
exterior
~

1
orgào
~ __ ___
- - - - - - __ _
lmpresa s de lcxi
1e rv><,I
,, - u,sa
r .
,1.s cat ·. oria~ e as 1 qu,~, dP
es.,r<;c•al,kstas de
< ,reitos <
1111emacionais


patente
1
multi11aC1onais
- - -
1Jepõsi10 de
-
patentes no exterior
grupos em seu país de origem , de onde tiram parte de suas
especillcas de compa nhia'·. Foi "em casa" que os grupos desenv
''\.antag

sua compe tência técnica . seu mercad o mais import ante e sua experi
ens
olveram
ên-
1

__
Ciei1tjst<1s,
I
rndt\ 1dualmcnte ou intemac ,onais
1<·m grupo
Publ ic ões
Rf'vistas cicnt ííicaf

cia comercial. Enfim, durant e muito tempo , os proble mas
tração, de comun icação e de coorde nação militar am igualm ente
P&D.
de admini
em
s-

1\'alorila çào do Órgà°" de · - - -.- . - - - favor da extrem a central ização das atividades de
PCS<!lll5a 0 <'pos,to de . V<.>nda de patenlcs

l
capital tecnológ ico
tora do país de
origem o u em uase I ~atenb7 -' s~u,do s
e pu • ,c~çoes,
e cessão de direitos
Qµand o se estuda vam as exceçõ es à regra de central ização , con-
\inha estabe lecer, logo de saída. uma distinç ão e ntre os grupos
que se
, 111ultinac.ional
1
.
_ _ _

1:mpres;is de Iodas
as categori as
1confcr<'flc1<1S,
_ _ _ _ f>Jlestras
1
i;;-:-
Pesqui~ ele
----r_d-_____l C'ln +
Exportações
benefi ciavam de um merca do domés tico import ante e aquele
tence ntes a países que são "peque nos" desse ponto- de-\ist a (a
s per-
Suíça,
1mercad o,; o riginár ias
a Holand a, també m o Canad á). Para as multin aciona is
t-- - -- - ~~tr angeiro s
.\1ultina cionais idem + -iN_n_+___ 1
desses países, a necess idade de desloc alizar sua produç ão antes
com merca dos
das
im·
l~D roduçào e vend;is o utras, a fim de se coloca rem em contato direto
-- _ _ _ _ _J _ _ _ __ _
as íiliais
estrangeira~ portan tes, explica va a descen traliza ção mais precoce e mais signific
a-
os
íonte: r O ,c-sna,s, "partir de O. Archihogi e 1. Mid11c (1994). tiva de parte da sua P&D. Às vezes, até dizia respe ito a aspect

148 149
absolutamente estratégicos da P&D, levando a estabelecer no ..!Xlerior Tendências recentes da P&O deslocalizada
o laboratório mais importante.

No caso dos grupos que gozam de um mercado doméstico provei- Atualmente, os últimos dois tipos de laboratório levam a melhor
toso, a deslocalização da P&D decorria de uma lógica diferente. Nos sobre O primeiro. Por sua vez, o papel dos laboratórios nascidos como
anos 70, havia três tipos de laboratórios (Pearce, 1989). O primeiro tipo laboratórios "de apoio" transformou-se, em função da importância as-
era o laboratório "de apoio", cujas funções limitavam-se à adaptação sumida pela P&D ligada a produções sob encomenda (customised R-D).
dos produtos e processos às condições locais da econo m ia onde se Mas é preciso ampliar o quadro das transformações em curso. B.
implantavam , no contexto de uma internacionalização "multido- Madeuf (l 993) observa que tanto a descentralização como a deslocali-
méstica". Geralmente, era criado junto a filiais-intermediárias, mediante zacão dificilmente podem ser discutidas, hoje, independentemente dos
investimentos novos. Alguns grandes grupos americanos atribuíram a fat~res que impulsionam a integração da P&D, da forma mais estreita
essas unidades, desde a década de 60, uma função complementar de possível, aos outros setores da empresa, em particular ao marketing. O
acompanhamento tecnológico e de centralização perante o laboratório chamado modelo "interativo" de organização da inovação, considerado
principal (Fusfeld, 1985). 0
mais eficaz (Kline e Rosenberg, 1986), requer, justamente, um grau
bastante forte de descentralização, cujo alcance depende da configu-
O s egundo tipo, bem mais raro na época, era o laboratório racão das relacões "usuários-produtores" (Lundvall, 1992). Em seu re-
especializado, que executava programas de P&D o rganizados pela ce~te estudo s~bre a indústria da informática e de semicondutores, M.
direção dos grupos, sobre a base de uma divisão internacional do Oelapierre e e. Millelli ( 1994) constatam, assim, que "a aproximação
trabalho c.ientífico. Nesse caso, até hoje bastante excepcional, a com O cliente leva, cada vez mais, à instalação de centros de pesquisa
não ser na indústria farmacêutica, a P&D d eslocalizada correspon- nos principais mercados, no contexto da elaboração de sistemas ou de
dia à criação de laboratórios especializados, cujas tarefas eram circuitos integrados [adaptados ] à demanda" (p. 252). No contexto de
atribuídas no contexto de programas de pesquisa estabelecidos grupos fortemente multinacionalizados, esse fator vai jogar no sentido
em base internacional. Quem mais avançou nesse sentido foi a
da descentralização dos setores de P&D.
1B!\t{, que representava, até o começo da década de 1980, 0
modelo de referência eJ'Tl termos de organização e controle. Os De modo mais geral, a mundialização impulsionou um número
laboratórios não eram ligados funcionalmente às unidades de pro- crescente de grupos a adotar Quntarnente com a forma de holding fi-
dução; faziam trabalhos de pesquisa "fundamental orientada" ou nanceira) um modo de organização multidivisional, com a criação de
de pesquisa aplicada, no quadro de programas concebidos e geri- divisões semi-autônomas, responsáveis pela gestão de diferentes pro•
dos diretamente pelo laboratório central, a partir de uma es- dutos (ou linhas de produtos) ou por diferentes áreas geográficas. Isto
tratégia global de pesquisa e de centralização dos conhecimentos. levou a mudancas na localizacão da P&D no organograma dos grupos.
O terceiro tipo de laboratório, identificado em parte dos estudos Muitos deles, ;mbora mant:ndo um serviço central de P&D relati-
de caso, era o grande laboratório relativamente autônomo, si- vamente importante, descentralizaram uma parte significativa de sua
tuado junto a uma filial importante, que recebera do grupo um pesquisa para junto das principais divisões por produto. Em certos cas~s,
''mandato mundial" para a concepção, produção e venda de um grupos muito grandes e diversificados da indústria química e fannaceu-
produto o u uma linha de produtos. Essas duas categorias de labo- tica (onde as próprias "divisões" são multinacionais de porte), é onde se
ratórios tinham, é claro, uma função complementar de acompa- situa O foco central de P&D que estão os verdadeiros laboratórios cen-
nhamento tecnológico e de interface com o sistema de pesquisa trais. Essas mudanças organizacionais são efetuadas, muitas vezes, por
e de inovação do país onde estavam implantados. ocasião de uma grande operação de aquisição/fusão. Quando a com-

150 757
comp ensaç ão, no caso
tórios impor tantes , a peso nas aquIsIçoes dos grupos franceses. Em
panh1a ad~uin_da é estrangeira e conta com labora ular os farma cêutic os, a
ção geográfica. dos outros grandes grupo s europ eus, em partic
descentrahzacao da P&D a, ·ompa nha a deslo caliza uma motiv ação muito
l · · · 1 aquis ição de laboratórios situados nos EUA foi
Essa tendê ncia e.xplica a gener alizac, ão do mode o mIc1a mente as- até criar ou adqui rir
impor tante de seu IED. Esses- grupo s conse guiram
repar tição internacion al
socia do à IBl\l, ou seja, a organ izaçã o de uma labor atório s no Japão . Por sua Yez, as multin
acion ais japon esas da
os integrados inter-
de ~arefas, entre unida des com status de ''laboratóri indús tria farma cêutic a tamb ém instal aram centro
s de P&D na Europa
nacio nalme nte" (Papanastassiou e Pearce, 199-4
). Essa evolu cão cor- Unidos.
2
(F. Guell e, 1989, identi ficou sete) e nos Estados
o e contr~ Je pro-
resp~ nde às no\·as possi bilida des de coord enaçã consi deraç ão as
ali\'am ente os m eios Tais o peraç ões devem ser vistas toma ndo em
porcio nadas pela telemática. Esta fez cresc er qualit aquis ição de insum os
P&D intern acion alizad a. afüida des de acom panha mento tecno lógico e de
de geren ciame nto e controle, pelos grupos, da tos. bem como tec-
a de 70. uma das espec ializad os (conh ecime ntos cientí ficos abstra
:'-Jo~ le\ant arnen tos efetua dos ate mead os da decad sidad es, centros de
ais, espec ialme nte nolog ias comp lemen tares já testadas) junto às univer
razoe_s freque nteme nte invocadas pelas multin acion logia. O caráte r es-
ar suas athida des de pesqu isa públic os e pequ enas firmas de aJta tecno
amen canas , para Justificar sua recusa em ampli ormen te. São elas que
or, relacionava-se com a dificuldade de gar:an 1r super
t· _ tratég ico dessas ativid ades foi explic ado anteri
. _ no exteri
P&D
asseguram a "intem alizaç ão das extem alidad es'' no camp o da P&D. ou.
ado por e. Anton elli
\1sao e _conlrole adequados. O le\'an tamen to realiz de que fala H. Bourg ui-
98 ameri canas e e uropé ias de forma mais crua. a "sucç ão" de tecno logias
(1 S) Junto "\ cuca de -10 multin acion ais forma de ''roub o", essa
pela introd ução da nat (ver capítu lo 2). Mesmo quand o não toma a
most r~u as muda nças de postu ra provo cadas de coope ração tec-
os como tendo fa- intem alizaç ão pode se dar m edian te contra tos
telem altca Um dos motí,·os princi pais recon hecid rio amen cano para
a ligado às novas pos- nológica "leon inos", expre ssão utiliza da num relató
v~~ecido a adoçã o de novos equip amen tos estari as peque nas firmas de
ação intern acion al das defin ir as relaçõ es entre os grupo s industriais e
s1b1hd~des propo rciona das no camp o da "aplic
ção entre as filiais e a biotec nolog ia (OTA, 1984).
capa_c1dades de P&D, resultante da maior intera
à categ oria dos
matnz . l>cm como do estab elecim ento de uma divisã
o de trabal ho mais As pequenas e m édias empre sas que perte ncem
os e ao potencial cien- ial, da maio ria das
~profundada. corres pond..nte nos requisitos técnic "quas e-labo ratóri os" (com o é o caso, em espec
s coligadas". prefen do dos grupos
tifico, tanto dos países-anfitriões como das companhia pequenas firmas de biotec nolog ia) têm sido o alvo
como para as fusões
estrangeiros, tanto para os acord os de coope ração
de comp anhia s, mui-
(Chesnais, 1988 e J990). As aquis ições desse tipo
Pote nciais técnicos e "invasão recíproca" tas vezes, se segue m à colab oraçã o no âmbit o de
acord os firmad os por
l" (corp orate venture
adian tamen tos de "capi tal de risco empr esaria
ade por '"invas ão os que prece deram e
, A P~,º é um dos terrenos onde se exerc e a rivalid capita [). Foi esse o caso da série d e acord
tria farma cêutic a e
rec,_proca • Os grandes gnipo s amer icanos da indús prepa raram a aquis ição, pela multin acion al suíça
Hoífm an La Roche
de mfonn ática comp reend er am , desde- fins dos anos 1960, o ·m 1eresse
d: s, .. ~aloc arem em conta to com os poten ciais cientí
ficos europ eus em
. A vontade de grandes 2. A indú,1ri,1 i,1rm,1cêutic,1 sempr e t<'ve n•quisi1oc,
<'Sp€(ificos de ~sloc, 1liLaç ao da P
b1olog1a 1~ole cular ~u em ciênc ias matem áticas & D. lndcpct1d<-n1emcnlC' da 1wces!>1dadc de ter a<:<'SSO ;i 'ionl<'s de conhec imento s
coloc arem em conta to
c~mpanh,ac; europeias do mesm o setor de se cif'llli1 1c.os p,irticul,1rmet1t<' import anlcs, ontem no Reino Unido, llOJC, a pilrtir d,1c,
(ou o sistema nacio nal 7i r tC>,les ( línicos p,ira olJtcr a <111tori-
dire_lo co~ o pcten , iaJ cientí fico e tecno lógico IJiolC<.noloiia,, nos EUA a nrcess id;ide cfo condu
coloca r o produt o no m<'fca uo e para ,1dapu r tais produt os a
e subjacente a muita s 7açd<> admm rstrativ a d<'
de ino~a çao) ele seus rivais amer icano s estev patologias (',pedf icas, <'xigiu o estabd ecimcn to de labori1 lór10, nos pr in<.ipais mer-
ica do "forte . Segun do I em tunção do C'Slágio ri(' ri
opera ç~s de aquisiçãQifusão em direçã o à Amér mesmo q ue nJo iosc;c rndispf' 11sávf'
cado,; naetonais, Í\<;O
,1nii1n,10.
vo não teve grand e valid11de oligopo h.,til com as comp,1nhi,1s elo país
C. Potlle r, ao longo da décad a de 1980, esse objeti
1 SJ
152
(60% do capital), da Genentech, a mais importante empresa de biotec- levantamentos parecem indicar, com as devidas reservas, que entre 1960
nologia da Califórnia. e 1978 a parcela "deslocalizada" da P&D industrial passou de 2% a 10%
do total, mas que em 1982 havia caído novamente para 9%. B. Madeuf
Desde o início da década de 90, as pequenas companhias ameri-
(1993) estima, com base em dados de diversas fontes, que em fins da
canas de eletrônica têm sido objeto, por sua vez, de grande atencão
década de 80 tal porcentagem poderia estar, no máximo, em pouco
pelos grupos japoneses (M. Delapierre e C. Millelli, 1994, p. 260).
mais de 12%. Esse baixo grau de expansão vai no mesmo sentido que
Quando uma multinacional cria ou adquire laboratórios no e xterior
as conclusões dos trabalhos de F. Scherer (1992) quanto ao caráter de-
estes são encarregados do trabalho de aproximação e de negociaçã~
fensivo das estratégias oligopolistas dos grupos americanos, nos anos 80.
preparatória para acordos. Caso contrário, o encargo cabe a equipes
especializadas nas filiais. Sua intemalizacáo é o quanto basta para assegurar as atividades de
acompanhame~to, de aquisição e de centralização. Mantém-se um di-
ferencial entre a extensão de sua P&D, medida pelos indicadores de
Diferenças, por país, no despesas e de empregos científicos, e os patenteamentos a partir das
grau de deslocalização da P&D filiais. o caráter altamente centralizado da gestão dos grupos ameri-
canos; 0 fato de que a maioria de seus laboratórios resultaram de inves-
Voltemos agora à P&D propriamente dita e às teses de K. Pavitt timentos novos e; por fim, a força da síndrome de "invenção nossa"
so~re seu baixo grau de deslocalização. As numerosas mudanças quali- (invented here) podem ajudar a explicar esse diferencial.
tativas de que falamos acima, sem dúvida, superam as mudanças estri-
tamente mensuráveis. Além disso, é dificil analisar estas últimas, na Que indicador adotar no caso do Japão?
falta de dados sintéticos e comparáveis, exceto pelo número de depósi-
tos de patente nos EUA. Mas estes, infelizmente, não são totalmente É certamente no caso do Japão que se verifica o maior diferencial
confiáveis. Com efeito, em muitos grupos, a obtenção de patente, sinal entre a internacionalização da tecnologia, entendida como atividade in-
de controle sobre a tecnologia e sobre sua exploração e domínio reser- ternacional de acompanhamento e de aquisição/sucção (até por meio
vado da direção do grupo, continua a ser centralizada (ver Bertin e de espionagem industrial e do roubo de conhecimentos), e a interna-
Wyatts, 1986, e Desranleau, Etemad, Seguin-Dulude, 1988). Só nos casos cionalização da tecnologia, entendida como atividade formalizada de
em que a filial é um laboratório importante (a Genentech, por exem- P&D. A primeira remonta ao fim do século XIX. A criação do MITI, em
plo), ou_ possui, no momento da fusão, uma importante carteira de pa- fins dos anos 50, permitiu coordenar a atividade mundializada de acom-
tentes, e que se pode ter certeza de que não é assim. Muitos trabalhos panhamento e de aquisição, a partir do Estado, até passar o bastão aos
servem-se desses dados de forma pouco crítica e os utilizam para grupos reconstituídos. Inversamente, a criação de laboratórios no exte-
"testar" hipóteses, por meio de cálculos. A tabela 11 sintetiza os dados rior, pelos grupos japoneses, efetivamente começou tarde, só a partir
reunidos por K. Pavitt e P. Pavel sobre a origem dos depósitos de pa- de 1985, de forma que a P&D feita nas filiais representa apenas cerca
tentes das maiores multinacionais. Ela indica urna grande diversidade de 1% do montante de recursos alocados à P&D no Japão (F. Guelle,
no grau de patenteamento no exterior pelos grupos de diferentes 1989).
países, tomado como indicador do grau de deslocalização da P&D no Segundo um estudo da Science and Technofogy Agency (agosto de
exterior. 1989), contam-se 188 laboratórios estabelecidos por empresas japonesas
No caso dos EUA, outros autores corroboram a idéia de que os no mundo, empregando 4.378 pesquisadores. São números muito baixos,
grupos americanos não teriam impulsionado a internacionalização de se comparados aos 16.400 pesquisadores empregados no exterior, em
sua P&D muito além do nível alcançado nos anos 70. Os resultados de 1983, pelos 23 grupos alemães da amostra estudada por Wortmann (1990),

155
154
ou com os 76.200 pesquisadores empregados pelas multinacionais Tabela 11
Localização geográfica das atividades das grandes companhias,
americanas fora dos· EUA, em 1982, segundo o levantamento efetuado segundo a origem do depósito de patente nos EUA (1985-1990)
pelo Departam ento do Comércio. Metade dessas 188 unidades de pes- em rcent:a m
quisa situam-se nos Estados Unidos. Esse baixo nível poderia ser expli- sendo:
I
cado, até hoje, pela natureza das funções que lhes são confiadas. Um
Nacion,ilidade
- - - - - _ __:~.1P
1
No
.::ª:.:.:ís:.......J--=.
No
ex::.:.:t:cr
:::.:.io
1
::.:r:.......1._ .::.
l:U
.::..:...:
A,..._T;_.:I : ~ Japão
- ,:.-1
Outr~ I
~:~
t;
levantamento de L. Peters ( 1990) junto a 100 filiais industriais japonesas !Japão {143) 1 9 8 ,9 1 1,1 1 0,8 1 0 ,3 1 1 1

nos Estados Unidos constata que 50 delas declaram fazer um pouco de


P&D, precisando que esta é voltada sobretudo para a adaptação dos 1: , ~ : ; : : " 1 : ~ : '. 1 :t. 1 , , 1 ;:; i 1 º·' i
produtos ao mercado americano. A maioria das tecnologias vêm das
matrizes. A conclusão do levantamento de Peters (que sempre defen- 1 ~,:::~~:\ 43) 1 : ::~ 1 ~ ~:: 1 ;~\ 1 ::a 1
o,4 l ~ :;
49
li
deu a presença das companhias japonesas nos Estados Unidos) enfatiza lrinlãndia (7} 1 81 ,7 1 18,3 1 1,9 1 11.4 1 o.o 1 ,

a importância da atividade de acompanhame nto tecnológico de suas


flliais, observando que este parece ser eficiente e bem integrado aos I~:·.::·,:~,
Suécia (13)
1 : ::
1 60,7
1::::
1 39,3
1 ::::
J 12,5
1
1
·:,;
25,8
1

1
~::

0 ,2
1

1
~ ::

0,8
i
outros setores da atividade global do grupo. Em suma, parece que a
1 1
"sucção" funciona direito. Reino Unido {56) 1 54,9 1 45, 1 1 35.4 1 6.7 1 0,2 1 2, 7 1
1Suíça {l O) 53,0 47,0 19,7 26, 1 0,6 0,5
Holanda {9) 42, 1 1 57,9 1 26,2 1 10,5 1 0,5 1 0,6 1
A situação diferenciada dos grupos europeus 6
18E'lgica {-t1.!_
l _ _ _1__3~6~,::4_ '.._~6~3!..',6'..-...:.........:2
.: ::.:3:'..'..,::.8_ _ ..::.
3..:..
9:..::.,3_.L.- ' º -- ' - -º-'_
-º '-- __,I
Como mostra a Tabela 11, o montante dos depósitos de patente Nota: número c.k> companhias de cada país indicado cn1re parí'lltescs.
l·o111e: P. Pa1el e K. Pav itl (1994).
efetuados no exterior por laboratórios situados junto às fiJiais , bem
como pelas empresas de alta tecnologia integradas, por aquisição, aos No caso dos outros três maiores países europeus (Itália, Alemanha
grupos industriais, aumenta significativamente quando se passa dos e França), a parcela dos depósitos de patente efetuados por compo-
dados americanos ou japoneses às multinacionais européias. A parcela nentes dos grupos situados fora do país de origem exprime um alto
de depósitos de patentes efetuados no exterior é, evidentemente, muito grau de enraizamento nacional, no que diz respeito à execução da P&D.
elevada no caso dos grupos belgas (Solvay), holandeses (Shell, Philips, No caso da Itália, entretanto, a P&D industrial está circunscrita a um
Akzo), suíços (Nestlé, os três grandes da indústria químico/farmacêu- número muito reduzido de grupos: a Olivetti, que se desenvolveu nos
tica) e suecos (Fricson). Sua internacionalização foi muito precoce e Estados Unidos através de urna aliança estratégica com a AT&T, e a
acentuou-se ainda mais nos últimos quinze anos. O caso do Reino Fiat, cujas alianças tec nológicas são sobretudo européias.
Unido é mais impressionante. Tratando-se do país onde o capitalismo
desenvolveu suas bases tecnológicas mais antigas e onde, até a década oúnico levantamento alemão disponível no exterior é aquele pu-
de 70, as despesas de P&D igualavam as da Ale manha ou da França, blicado, em inglês, por M. Wortmann (1992), relativo a uma amos-
o grau de deslocalização dos grupos britânicos coloca certos proble- tragem de 23 grupos. A parcela de pesquisa deslocalizada, medida em
mas. É a expressão, a nível da P&D, da crescente desconexão desses efetivos de pessoal de P&D, representava 17% em 1983. Embora a P&D
grupos em relação a seu país de origem. Traduz, ao mesmo tempo deslocalizada tenha crescido nos últimos vinte anos, a intensidade da
como conseqüência e como causa agravante, o rebaixame nto do P&D nas filiais estrangeiras é inferior, não apenas à da parte nacional
sistema de inovação do Reino Unido, que não pode sobreviver a tal das atividades das multinacionais, como também à média nacional nos
grau de desinteresse por parte dos maiores grupos. diversos ramos da indústria alemã. Pelos motivos anteriormente expli-

157
156
cados, a aquisição e a fusão de laboratórios no exterior, bem como a de produtos, indicador, segundo o LARFA, do fato de que os labo-
deslocalização da P&D, estão muito mais avançadas no caso da ratórios funcionam em base global, especializados num produto ou
indústria química/farmacêutica do que nos outros setores importantes numa linha de produtos, para O grupo inteiro. No caso dos laboratórios
da indústria alemã. situados no exterior, a ligação funcional predominante é feita a nível da
filial local (20 casos sobre 36), seguida pela ligação à divisão de produto
(13 casos).
A P&D internacionalizada dos grupos franceses

No caso da França, u~ números refletem as peculiaridades do


sistema de inovação, que foi construído a partir do Estado3 e cujo eLxo
foi-se deslocando lentamente para o setor das empresas (tanto públicas
como privadas). Os dados expressam também o movimento tardio na
internacionalização dos grupos franceses, em todos os setores.
O primeiro levantamento acerca da internacionalização dos grupos
franceses foi efetuado recentemente, pelo LAREA ( 1993) para o Minis-
tério da Pesquisa. Os dados referem-se a uma pequena amostragem de
apenas 15 grupos. Estes possuem, no total, 56 laboratórios na França,
sendo 12 resultantes de fusões ou aquisições. Dos 15 grupos estudados,
4 não possuem nenhum laboratório no exterior, embora realizem mais
de metade de seu faturamento fora da França, fato que merece ser res-
saltado. Os outros 11 grupos estabeleceram 36 laboratórios no exterior,
sendo 14 criados, 16 comprados e 6 laboratórios de propriedade con-
junta (joint-ventures), aos quais se somam as unidades de pesquisa
clínica próprias da indústria farmacêutica.
A implantação de laboratórios no exterior ocorreu em duas ondas
distintas. As implantações mais antigas foram feitas na CEE e tomaram
a forma de criação de laboratórios, em particular na indústria farmacêu-
tica e de materiais. A partir de 1980, o movimento acelerou-se e diver-
sificou-se geograficamente (em particular para os Estados Unidos),
passando a ser feito sobretudo mediante compra e formação de joint-
ventures. O montante global da P&D realizada no exterior continua
baixo: para 7 das 11 empresas, a proporção de pessoal dos laboratórios
deslocalizados é inferior a 20%. No caso dos laboratórios situados na
França, a ligação funcional predominante efetua-se a nível da <livbãu

3. Ver nosso trabalho sobre o sistema de inovação francês (1993), bem como os de J.
J. Salomon (1986) e de E. Cohen (1992).

158 159
capítulo 7

Tecnologia, cooperação oligopolista


e barreiras de entrada
A internacio nalização da tecnologia pelas multinacio nais não
se limita a suas atividades de P&D, de acompanh amento tecnológic o e
de centralizaç ão e apropriaçã o de conhecime ntos. Inclui as medidas
tornadas pelos grupos para proteger suas tecnologias privadas e impedir
que sejam imitadas ou utilizadas sem a concordân cia dos proprietários,
conforme as leis de patentes e instrumen tos jurídicos internacionais, re-
centemen te reforçados. E abrange ainda a formação de "alianças es-
tratégicas •· internacio nais entre os grandes grupos, bem como a
elaboraçã o de normas industriais, através de cooperaçã o que, às ,·ezes,
começa desde a fase de desenvolv imento tecnológico.

Patenteamento no exterior

O patenteam ento no exterior atende a dois objetivos. Nos países


onde as companh ias (ou órgãos de pesquisa) julgam ter urna possi-
bilidade mais ou menos certa de explorar suas invenções, o patentea-
mento serve de preparaçã o para a produção local, para exportaçõ es,
ou ainda para a venda de patentes ou cessão de licenças. É este o caso
entre os países da Tríade, onde, em relação ao total de depósitos de
patentes, boa parte é efetuada por companhi as ou órgãos de pes-
quisa estrangeiros. Em 1990, essa parcela era de 45% nos Estados Uni-
dos. Na Europa, a Organização Européia de Patentes (EPO, European
Patent Office) registrou nível semelhan te de patentes depositad as por
companhi as ou instituiçõe s de fora de seus países-me mbros. Mas a
proporção para certos países europeus, tomados i ndividualm ente, é
bem mais elevada: na Alemanha e na França, era, respectiva mente,
68% e 8-1%.
Esses números, que cresceram muito ao longo da década de 80,
refletem um grau <lc i11le1 nacionaliz ação bem superior ao do com ércio
exterior. do qual falaremos no capítulo 9. Para D. Archibugi e J. Michie

l(t.l
(1994), eles e xpressam mais uma modalidad e de "im·asão recíproca" um papel secundário de\•ido ao controle que a OMC pretende impor
entre rivais. Ainda uma vez, a única exceção é O Japão, onde O índice com base no Tratado de Marrakesh.
de peneiraçã o é de apenas 12%. Tal como para outros indicadore s isto As primeiras avaliações publicada s nos Estados Unidos sobre os
está relaciona do com as especi fi cidades institucion ais do sis;ema resultados da Rodada Uruguai ressaltam que é nessa área important e
japonês. e .reflete o baixo grau de penetraçã o do Japão pelas com p a- que os am ericanos, no essen cial, ..ganharam " a disputa. Em vários
nhi as am encanas e européias. aspectos. as tensões entre os grandes países industriais sobre os "an-
teparos agrícolas" e a aeronáuti ca serviram de biombo para esse
Nos países onde as companhi as não têm atividades e muitas
capílutu Lias negociaçõ es. para disfarçar como os países mais ricos
\·e~es não têm nenhuma intenção de \Ír a lê-las, o patentea:O ento per-
impusera m sua lei aos mais fracos. O norn arsenal jurídico permite
mite p roteger as inven ções e abrir processos em caso de imitacão,
às grandes companh ias aperfeiço arem os obstáculo s ao acesso à
bem com~ proibir sua exploraçã o por outras companh ias (seja d o ~aís
tecnologia . Países como o Brasil ou a Índia, que tiveram certas velei-
cm questao ou estrangeiras). Por isso, a extensão do patenleam ento
dades de política tecnológic a independe nte, devem ser definitivam ente
ao plano internacio nal é um dos elementos que refletem. tan to a am-
obrigados a acertar o passo. O mesmo vale para a China, mas esta
plitude geográfica da atuação de uma companhi a, como a importânc ia
parece pouco disposta a ceder atualment e. Não devem surgir novos
que ela a tribui à proteção de suas posições monopolis tas, à extracâo
concorren tes com a força da Coréia. Acima de tudo, é preciso que
renlista de royaltiPs. e ao exercício do poder de esterilizac âo das i~o-
as rendas tecnológi cas sejam recebidas com toda a tranqüilida de. Na
vações, se assim desejar. Os grandes grupos ameri ca~os sempre
verdade, considera ndo a participaç ão tão limitada dos países do Ter-
deram a maior importânc ia a essa proteção. Foram eles que im-
ceiro Mundo nos fluxos internacionais de tecnologia (\·er o Gráfico
puseram no GATI, ao fim da Rodada Uruguai, a adoção dos TRIP, as-
5, no capítulo 2). assim como a importânc ia das barreiras de entrada
pectos comerciais dos direitos de propriedad e intelec tual (trade-relo ted
ospects oi intellectua / propPrty rights). de tipo industrial, que examinar emos a seguir, as regras introduzid as
no tratado da Rodada L'rugu ai têm u111 Cdráter absolutam ente dcs
. º. ~lad_o que fechou a negociação. em dezembro de 1993, abrange medido. São uma manifesta ção de poder político, a expressão da
dispos1çoes unportantes para organizar "a harmonização de cima para von tade de impor aos países pobres um tributo suplem entar, além
~o" (J.P. FrétiUel e C. Véglio, 199-t, p. 11 8) da proteção da "propriedade daquele represent ado pelos juros da dívida.
mtelectua r. Impõe que todos os países, qualquer que seja seu nível de
renda e de desenvolvimento, adotem, até o fim do século, sistemas de
Oligopó lios e redes de alianças
proteção com o os \igentes nos países capitalistas avançados . a comecar
pelos EUA Prevê que as nmas formas de proteção que possam ser criadas
futuramente sejam estendidas a todos os países, ampliando O alcance de "Alianças estratégicas" são os acordos de cooperação relativos à tec-
aplicação da "cláusula da nação m ais favorecida··. A aplicacão desse nologia constituídos entre os grandes grupos, dentro dos oligopólios. Vamos
princípio, bem como a elaboração de "normas de resolucão de ·conflitos·· diferenciá-las, aqui. das cooperações tecnológicas que os grandes grupos
isto é, de meios de coerção e sanção contra os "fallos~s", tomam ess~ industriais organizam, cada um por si. com companhi as ou órgãos fi.
texto bem mais coercitivo do que todas as precedentes convencões inter- nanceiram ente menos poderosos, por iniciativa do laboratório central da
nac10nais sobre propriedade industrial e intelectual ( os tratados de Paris e matriz ou de uma de suas m aiore!> lilidis ou empresas associadas. As
de Berna). Aos olhos dos EUA e de seus aliados no GATT, este era um alianças são o que Oelapierre e M):telka ( 1988) chamam de "redes que
dos maiores "defeitos~ dessas convenções. A Organização Mundial da Pro- constituem o oligopólio propriamente dito, organizando as ali\.;dades como
priedade Intelectual (OP.1PI). que as administra. agora vai ser relegada a um todo, alran~s da trama das relações contratuais entre seus membros".

1(,.J
Gr,if,co 11
r\c.. lt'Crut ,l) 01lh1dd.1, •·molw111 d çolncaç,lo ,,q:.lf,l mull1clm1en-
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r>f'SCflUS.ldo,s. c.Jo MUUI ltn1,IIIU1o d1• JK."'!io(IUi~.b c<.:01lúmil,b ,1pli~tttJ~ ,t lt"(-
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nnlog1,l1o tk• 1111orm,1ç,,n· L~,1 ..f(•\',1d,1 d<•n,,cl◄l{k• C'\f)hC,H"'· r'm p,Ulí' pelo
,.v,10 t,,mpu ,k- Jphr-,tr~,lo 1• flf'I,\ ,...,1r ..11o1 \.1Un11.u;,1o N11f1 1 lt'l(fO:, n-. c,1mp1~
d,,, tt...ic.noloJ],1õh d,• 1u111nl\.1ç:10 4.'fll !tlJUl,1 t•l.1 < ,líJt h·ri,,1 wo uliAPf>Ulh1
1111lug1r-o coniwnudo f:'fll 1onw d("- uu1,1 l('f"t1ol,,ge.1 gpm~rlr-,1
IPr 0
8
A füionomia dc%as rede, jâ pode ser percebida analltica e até o
o
~ralicnmcnlc. gr.,ça.s nos lrab.1lhos empreendidos por J. llagedoorn e
seus colegas da Universidade de Umbourg, em Manslricht. sobre a ' 111'h 1
eslrulura das alianças internacionais erure indústrias baseadas cm tec-
nologias genéricas Aplicando métoodos analílicos soO<licados 1\ cen-a
de ~ mil acordos c:ontidos na base de dados do MERIT, esses pesquisa-
dores puderam identificar ··cachos" de aU,mças entre concorrentes oll•
gopolistas e estudar sua evolução no tempo, tan10 do ponto de ,ista
da densidade como da e<t~bllidade do, J)drlidpantes. Esses dados são
visualizados através de grá/icos cm duas dimensões. resultanles de um
0
processo de colocação em esca11 não-m<étrica. No Gráfico 11, as linhas
·2 ., o z
grossas Indicam uma coopcraç,io muito eslrelta (sele ou mais aconlos
de cooperação), No caso das tecnologia, de iníonnação, os pesquisa- Onncns.io l

dores do MERIT cnfalizam a maneira como certos grandes grupos


acentuaram sua situação de "'centralidade". no interior de urna rede
7 ,dl;inç.<l!I ou 111JJ1
de alianças que se lornou consideravelmenle mais eSlreita, no inler• 'í ou t, all,m~,b
valo cm que pôde ser observada. J 011 ..a .,.\1,mç.,ofi

Lm11tc~lt. C!mopi1.1., O
Apropriabilidade das inovações e oligopólio tmpr~" tapot1e-,..t1o C)
fmrHf'tt.aS ;nnrrktU\AS 0
Para a,aliar bem o alcdnce dessa densa ltama de redes de alianças 1oni,-· Mase~m e Sch,,c;t,1,11,,,."l '1-<',Hllnl,; comp.11111"" .111d ttM' ~lnM.lum oi ~1,.-1,,gk.. ,1lli..v~-s ln
COfi! l~hno'°SI'") At!Rlf R,..,1>Mtf:I A"•,nor~1,t1om 9().{l(JI . M.1.nuitllt 1•n1
nas indústrias de alta Lecnoto~ia, foma-se necessdrio um novo parên•
tese teórico. A teoria contemporânea da inovação 1 enfatiza a importân- dobramentos. O maior pool ficava nos EUA. Era constituído pela RCA, ITT.
cia dos "regimes de apropriação", ou seja, do grau em que uma ino- General Electric e Westinghouse e administrado pela RCA. Esses grupos
vação pode ser protegida (variando de regimes "fortes", em que é possuíam, em conjunto, mais de 4 mil patentes. Como a legislação de pa-
muito difícil a imitação de tecnologia, a regimes "fracos", em que se tentes existe em base nacional, foi depois necessário repetir a operação
torna quase impossível protegê-la). Isto permite compreender um im- em todos os países importantes. Desde o começo, o intercâmbio crnzado
portante fator subjacente às alianças. Num período de mudanca tec- de licenças era acompanhado de acordos relativos à partilha de mercados,
nológica rápida e radical (também chamada "paradigmátic;"), na até chegar, depois do crash de \Ã/all Street, à fonnação de um cartel inter-
maioria das vezes, o regime de apropriação fica gravemente en- nacional formal, com uma diretoria estabelecida em Zurique.
fraquecido e, conseqüentemente, também as barreiras de entrada.
Estas serão consolidadas tanto mais rapidamente quanto mais houver Partilha de conhecimentos e comercialização cruzada
um esforço cole tivo, seja pelas companhias já instaladas, seja pelas
mais importantes companhias novas, quando se traia da emergência de Atualmente, não existem cartéis, pelo menos por enquanto. Em com-
uma indústria completamente nova. Foi o que ocorreu nas indústrias pensação, existe a densa rede de alianças constituída entre os maiores
tecnologicamente avançadas que surgiram em fins do século XIX. Em grupos de cada setor, como evidenciado nos gráficos do MERIT. Em certos
condições diferentes e apoiando-se em meios ligeiramente diversos, é o casos, essas redes estão ligadas por afinidades culturais e históricas.:! Em
que está acontecendo novamente. outros, as alianças ligam, por algum tempo, rivais ''implacáveis'·. Em outros
É interessante lembrar a analogia histórica, ressalvando os seus casos ainda, a aliança não passa de antecâmara à incorporação (por e-
limites. Em seus trabalhos sobre a indústria de grandes equipamentos xemplo, entre a Fujitsu e o grupo britânico lCI).
elétricos, R. Newfarrner (1978) mostrou como a interdependência e a acão A repartição dos custos astronômicos de P&D, que poucos grupos
coletiva entre as grandes companhias, que em menos de vinte anos c;ns- podem suportar sozinhos,3 bem como a troca de conhecimentos tec-
truíram um oligopólio mundial (e até um cartel muito e ficiente), mani- nológicos, por intercâmbio cruzado e outras formas, servem de base
festaram-se, em primeiro lugar, no campo tecnológico, vindo depois a se para uma considerável proporção das alianças. No entanto, todas as
exercer no âmbito da comen::ialização e preços. A partir dos acordos fir- bases de dados mostram que as cláusulas relativas à comercialização
mados entre a General Electric e a Westinghouse em 1896, as principais têm igualmente um lugar importante. Já evidenciamos essa dimensão
companhias mundiais implementaram muitos intercâmbios cruzados de li- em nosso trabalho de 1986-1988, a partir das primeiras bases de dados
cenças. tanto por requisitos de complementaridade tecnológica, como confiáveis, como as do grupo italiano FOR (Chesnais, 1988). Reprodu-
para ampliar a variedade de produtos oferecidos e m determinados mer-
cados. Essa cooperação foi sucessivamente consolidada, nos anos 20, pela 2. Por exemplo, entre a Sicmens e ,1 Phillips, à qu;il o grupo ..:tlc mJo deve seu rápido
constituição de pools de patentes compartilhadas por várias companhias rcerguirncnto depois de ter perdido todas as suas patentes em 1945.
(seja por depósito próprio, seja comprando-as de inventores isolados, seja 3. Alguns exemplos de custos de projetos de pesquisa, <le concepção e de dcsen-
voh-imcnto tecnológico. N,i a<'mnâut1ca civil: a preparaç.iio do Boeing 7(,7 cu~tou
em conseqüência de fusões). Os campos escolhidos eram aqueles onde quase 1,5 bilhão de dólares, no começo d;i dé~ada de 80; hoje, a estimativa de custo
a tecnologia ainda estava evoluindo rapidamente, e onde só pela posse de par..:t um avião similar, de 11ov;1 gernç.lo, é 2,5 bilhões. Na área de telecomunicações:
os sistemas de comutação numéríc;1 dos ,mos 80 cust;iram entre 1, 3 e 1,8 bilhão de
um bom conjunto de patentes era possível cobrir todos os eventuais des- dól;ircs em despesas de P&IJ. Na indústria iarmacê1.1tica: o custo d;i l'&D e do~ testes
clínicos pilra um nO\'O med icamento situa-se entre 200 e 250 milhões de dol.:ircs (para
um;i só substância ativa). t\ íusao que os dois grandes grupos quimico-farmad•11ticos
1. Pilra uma síntese, ver C.. Dosi, C. ~reeman et ai., 1988, bem como o primeiro suíços, Roche e Sandoz, ac;ibarn de ;inunciar p<1ra formar umil "super-empresa", é
capítulo do relatório HP (OCDE, 1992). uma dar.:i expressão das pressões exercidas por estes custos.

168 /(,')
zimos aqui uma tabela do MERIT (Tabela 12), que sugere que as con-
siderações estratégicas relativas ao mercado e à comerdalização podem
ser ainda mais importantes hoje do que há oito anos. Duas séries de mo-
tivações ganham, de longe, de todas as outras. A primeira tem origem na
exploração de aspectos complementares ou sinergias tecnológicas (le-
vando a intercâmbios cruzados), bem como na aquisição de insumos com-
plementares que pennitam reduzir os prazos de conclusão das inovações.
A segunda série (as duas últimas colunas) diz respeito à colaboração em
nível de mercado, como tal. A parcela de motivações relativas à conquista
de mercados (acorrias cie romPrcialização cruzada, em múltiplas variantes)
é. claramente, muito elevada
Compreende-se por que certos estudos de economia industrial não
hesitam em utilizar o termo "coalizões" (Porter e Fuller, 1986) ou
"colusões" (Jacquem_in, 1985 e 1987), quando tratam das alianças estratégi-
cas entre grandes companhias. Como obse1varemos mais adiante, essas
coalizões e colusões não são estáveis; não excluem a mais acirrada con-
corrência entre coligados, seja após a dissolução da aliança, seja até du-
rante sua aplicação. Mas isso não impede de caracterizá-las pelo que são,
nem de avaliar as possibilidades de cartelização ulterior.

Barreiras de entrada atuais

Nos trabalhos clássicos da economia industrial americana nos anos


50, especialmente em J. Bain, o maior teórico das barreiras de entrada,
coloca-se ênfase sobre três séries de fatores: l) vantagens absolutas em
lermos de custo, incluindo tanto o acesso privilegiado a fontes de
matérias-primas ou outros fatores de produção, como a posse de téc-
nicas de produção e tecnologias, com um grau de proteção relati-
vamente eficaz perante as companhias rivais; 2) economias de escala
na produção, às quais se atribui grande importância na época; 3) bar-
reiras lig~das à diferenciação dos produtos (verbas de propaganda e
despesas associadas à "inovação do produto") e ao controle de impor-
tantes redes de distriuui1_,;ãu.
Não é o caso de descartar, como preconizaram alguns, a abor-
dagem de Bain. Trata-se apenas de introduzir uma série de modifi-
cações e qualificações. A principal modificação, cujo alcance é eviden-

17() 171
tement e essencial, diz respeit o à natureza da '·matéria-prim a·· em
tomo nhado nas barreiras de e ntrada, pelas econom ias de escala dinâmi
da qual se adquirem atualme nte as vantagens absolutas em termos cas
de e pela~ econom ias de aprendizagem. Estas últimas incide m, ao mesmo
custo, e à maneira como se reserva o acesso a ela
te mpo, sobre a rapidez das inovaçõ es e sobre o custo dos produto s
que
Essa matéria-prima-cha,·e corresp onde aos conhec imento s científi-
incorporam tais ino,·ações-
cos e técnicos. Estes incluem. ao mesmo tempo. conhec imento s
cien- Pode-s e fazer uma idéia do alcanc e das aliança s entre grande s gru-
üficos e técnicos cada ,·ez mais abstrat os, mas codificados (e portant
o s em relação ao primeiro aspect o das barreiras de e ntrada._Como
de domíni o público. para que m tiver formaç ão para decifrá-los).
e a ~mos, ao co~enlar a tabela de J. Hagerdoom, seu objeth·o cons1~t
massa de conhec imento s cienlffi cos e técnicos '•tácitos•· (portanto e em
"se- assegurar aos grupos que se aliam, e m princípio ~~ forma recipro
c re tos'·, em maior ou menor grau). que resultam hoje de combin acões. ca~
\"antagens pri\ileg iadas e tal,·cz decisivas em maten a de custos
,·ariá,•eis de uma indústria para outra. e ntre os sabere s operários 0
e d
acu- rapidez da inm·açã o.
mulados no decorre r da produç ão e os conhec imento s resulta ntes
das A atualiz acão da aborda gem de Bain de,·e-se dar também no to-
no\'as tecnologias. A matéria -prima cha,·e, então, é muito cara e,
por cante às econ~m ias de escala, as quais, é claro, são difere~tes das_
ser parcialmente tácita, não pode ser obtida sem negoci ar com quem da
a detém. 'o caso de tecnologias genéric as, as barreiras de\'em época do fordismo, mas não menos decish·as: bem como as barre1r
ser as
constru ídas na fonte e, ao mesmo tempo, de forma muito flexível ligadas à difere nciaçã o dos produt os e ao controle de import ~tes re~es
.
de dislribuicão. No caso da indústria farmacêutica, as pesqws as
No campo das técnicas de produç ão automatizadas. por e xemplo, feit~s
nos últimos· vinte anos mostra ram que as autonz · -
açoes para coloca
, cao
certo número de grande s usuários. particularmente na indústria _-
aut~ no mercad o. os process os prepar atórios. o acesso ao corpo medico
mobilística. trabalham em estreita cooperação com os grande s grupos .
bem como a protecã o tarifária e não-tarifária, ajuda\'am, de fato, a
eletrônicos, que lhes fornece m equipa me ntos ou sistema s. L. 11.Melk c~n-
ae solidar a última ca;egoria das vantagens de Bain, para as compan
1\1. Delapie rre estuda ram esse tipo de relação para a CGE. l~ias
El~s con- . , instaladas. Embora sejam uma fonte de custos para as compa nhias,
cluem que, no contexto das relações produtores-usuários entre grande Iª
s elas penalizam sobretu do as pequen as compa n h',as e as "n ovas" · ern
grupos. "o oligopólio estabelece-se median te mecan ismos de control
e, potencial (F- Chesnais, 1986).
em comum , do:, conhec im entos e da produção. A vincula ção entre
os
principais agentes, ,isand o o mercad o final, determ ina as condiç ões
apropriação e acumulação dos conhec imento s e a repartiç ão das
de o exemplo das barreiras na área de eletrônica
ca-
pacida des de produção. A concorrência vai poder então e xe rcer-se
no · nte, o t d d s barreiras de entrada
tocante aos produtos específicos, diferenciados. A definiç ão conjun Para ser realme nte pertane es u o a .
ta da deve ser feito setor por setor_ A escass ez de estudos de casos mdus-
orienta ção tecnológica estabe lece certo número de norma s de
ope- lriais, que hoje caíram em desgraça por _serem "descri tivos", os
ração, que dei.xarn em aberto as vias de valoriza ção e mantêm a fluidez to:~
dos traços do mercad o" (~I. M11elka e L Delapierre, 1988. p. 77). preciosos, sobretu do quando são bons. E o caso de um trab~
o.
cente de O. Ernst e O. O'Conn or (1992) sobre a indústria ~lctrom
A s egunda adapta ção re fere-se à introdu ção da dimen são de ca.
lendo como objetivo, e ntre outros, mostra r como as barreira~ fo~a"_l
tempo_ Ela está implíc ita em Bain, que trabalh a\'a no apogeu reerguidas na década de 80, contribuindo para tomar bem m_alS
do d1fíctl
fordisrno, num contex to de trajetórias tec nológic as balizad as, em do que nos anos ante riores a situaçã o de "novatos" e m potenc ial. como
que
se procura\·a '·alcançar'' tecnolo gicame nte o país na dianteira. Hoje,
a as compa nhias corean as.
dimens ão de tempo tomou-se crucial. É nesse ponto que se situa a
con- Existe m atualm ente, nessa área industrial, cinco catego rias ess~n-
tribuição dos trabalhos citados no capítulo -l, sobre o papel desern
pe- ciais de barreiras de e ntrada. A primeira relacio na-se com as econom
ias
172
173
de escala, que envolvem, não somente a rodu - .
aprendizage m tec • - . P çao, mas tambem a empresas que atuavam em determinado setor. Quando não foi assim,
no1og1ca, os pisos de investim t
variedade A d en ° e as economias de a norma foi estabelecida sob a égide do órgão público nacional de nor-
. segun a concerne as barreiras r d . .
imateriais com I t • iga as aos mveshmento s malização, mas com estreita participação dessas empresas. O esta-
' P emen ares a P& D stricto sens • . .
para desenvolver a base de conheci t u, que sao necessanos beleciment o de uma norma implica, necessariam ente, enfrentar
men os e competênci as be interesses contraditórios. E.sse estabelecim ento é feito sob efeito de no-
os seniços complemen tares de apoio. , m como
vas exigências tecnológicas , mas reflete também as posições inicial-
As duas formas de barreiras seguintes 1· mente ocupadas no mercado, em função da correlação de forças das
mento dessa ind · tri em a ver com o f11nciona-
us a, com base em relacões contratuais ue companhias e organizaçõe s em·ohidas, em termos financeiros ou or-
ao mercado convenciona l São as b .. q escapam
:::~bio, organizado n~ quadro d:::;::~e :\:::~:a: ~:
ar os acordos de suprimento
como fornecedor seja com
a
::~!ª /;

ganizacionais. ou simplesmen te porque estavam no lugar certo, no mo-
mento certo. É assim que, na maioria das vezes, os usuários estão
pouco ou nada representa dos nas discussões relath·as ao esta-
par componente s de base, seja
' o comprador. O destino de uma belecimento de nonnas. Parte-se do pressuposto de que as normas
pode estar em jogo, tanto no suprimento de insumos complemee :~::a serão vantajosas, de modo geral, mas isto não significa necessaria-
como na comercializ acão d . .
empresas do • e sua produçao, cuios clientes são outras• mente que cada qual irá se beneficiar com elas.
. . mesmo setor' ou de seiores 1 .
ecnolog1cam ente ligados. Ourante muito tempo, o processo de formação de normas foi na-
A ultima categoria de barreiras diz respeito às normas b .
de regulamenta · • cional Mais tarde, deu-se a internacionalização, seja pela cooperação e
çao e as estratégias de limitacão d e arre1ras
cactos. elaboradas pelas a1· . negociação entre os organismos de normalização nacionais, seja pela pro-
iancas entre Estados e gr e dacesso aos mer- gressi\a extensão das normas de um país-líder, à medida que seu produto
ou qual nacionalidad e (partic • 1 _ an es grupos de tal
eracã u armente amencanos e japoneses). A su- ou processo foi se impondo sobre a concorrênci a Nos casos cm que um
p • o da norma de "compatibil idade 181\1" ab . d
onde o que estava em . nu gran es batalhas, produto chegou a se impor. de forma muito ampla e rápida, no mercado
Jogo era a formacão de padrõ be internacional, apresentando-se como "único" e "indispensável~, a empresa
manutenção da anar uia de . .• es a rtos ou a
d . _q padroes proprios a cada grupo ou alianca proprietária pode tentar impor suas próprias normas, tanto aos usuários
e grupos. As barreiras regularnenta re - .
afetando direta ou indiretarne t s nunca foram tao numerosas, como aos outros produtores. Foi assim, durante trinta anos, na indústria
n e os custos de entrada num númer de computadores, onde a IBM conseguiu obter o reconhecimento de facto
~~~:::\d~ s~~~es ou segmentos de mercado da indú~tria eletrônica~ das suas próprias normas e fortalecer sua empresa criando uma divisão
. . onnor observam que, enquanto a Índia B . entre os produtos "compatíveis com IB~f' e os outros.
sof~1am ac~sações por suas políticas de "reserva de mer:a~o"ra;11
maiores pa1ses elaboraram m . be . O "padrão 1Brvr• foi se deteriorando, depois afundou, sob efeito de
··mer d ." e1os m mais eficazes para defender, oss
ca os naturais dos grupos nacionais. mudanças técnicas complexas, das quais a empresa perdeu o domínio.
Isto não decorre apenas de problemas de coordenaçã o burocrática,
mesmo facilitada pela telemática, nem do conservadorismo e lentidão
Oligopólios e normas industriais próprios a toda grande "hierarquia". O conjunto dos fatorP<; ;\presf'Jltados
no começo do capítulo 6, em particular os traços sistêmicos de muitas
O estabelecim ento de nonn as tecrucas
' . e. .indissociáve l da rod - tecnologias criticas, bem como as interfaces e sinergias que já men-
e comercializ ação padronizada s. Remonta ao século XIX p _uçao
desse proc a ongem cionamos diversas \·ezes, fazem com que as normas sejam hoje, quase
essa, que se acelerou e estendeu de fonn
efeito do fordismo. A iniciativa e controle c~uberam a c~tnstante, s~b que necessariamente, obra de coalizões entre companhias. Elas são esta-
, mui as vezes, as belecidas no quadro das alianças tecnológicas entre essas companhias. No
174
17S
caso de projetos de grande vulto, constituem até um dos principais ob- ·1 ter uma medida dos modos atuais de nonnatização, bem como
jetivos e realizações e, muitas vezes, sem nada que garanta levar em conta mt em . - de forca dos principais agentes, .isto e,
, os grandes grupos e
todos os interesses políticos e sociais que deveriam ser considerados. da pos1çao • 1 ·d s com-
, os grand es Estados• desde que os governos envo vi o
também
Nos campos de tecnologias avançadas, essas estratégias coletivas reendam o que está em jogo e saibam o que querem. . •
de fL\;ação de nonnas serão tanto mais eficazes se forem elaboradas P A nonnatizaçáo das tec.nologias de informação e comumcaç':,'.
cedo, no desenvolvimento e lançamento de produtos. Com efeito, um tomou-se um processo extremamente comple~o, e_m termo~ ~e p
aspecto característico da normalização, nas indústrias oligopolistas de ·iz
cedimentos a
e o rgan ·çáo· Sabe-se que as impltcaçoes
. estrateg,cas
. - da
n-
alta tecnologia, é que ela tende, cada vez mais, a intervir previamente normatização, em matéria das tecnologias de mformaça~, sao_ c~
à determinação de produtos. O estudo já citado dos pesquisadores do Sl. deráveis· elas determinarão o futuro dos grupos como tais, tera~ i_n-
CEREJVI, da Universidade Paris-X, mostra corno "a complexidade dos .
.d. . sobre . . d os pais
as vantagens concorrenciais , es e influenc1arao
ct encta dºf - (OCDE,
produtos impõe a combinação de tecnologias e elementos diferen- t , o desenvolvimento de tecnologias inteiras e sua l usa o

=~~:
ciados, o que coloca a questão de organizar a complementaridade de al 992c)
e A interrelação entre as tecnologias de m· fonnação e outras
. d tec-
modo a pennilir essa necessária combinação. Impõe-se um padrão de · •
nologias passou a interessar, entao, um crrc , ulo cada vez maior
. e or-
intetface, para assegurar as próprias condições de mon(agem do pro- ganismos de normalização, inclusive em nível intema~1onal
duto final, seja ele um automóvel, um a\,i ào, uma rede de telecomuni- Europa, em nível comunitário. Nem por isso foram reforça os o c
cações ou um sistema de fabricação integrado. Isso leva os construtores Tabela 13
a defmirem conjuntamente essas normas de interconexão. Eles podem, R rtição da participação no mercado internacional
assim, entender-se sobre quadros de organização da indústria, na epa d e te Ie fonia
• pu' blica, 1982-1987
medida em que a norma não é tecnicamente neutra, e sim portadora 1 1982 1984 1986 1987
de certas orientações técnicas. Padronização e diferenciação voltam a IAT&T(EUA) -. 25,5 26 28 26
ser reconciliadas, na medida em que os produtos de cada fabricante Northern Tetecom (Canadá) 4,1 8 8 13
têm a garantia de encontrar, na oferta dos outros, o ambiente ne-
cessário à sua operação" (M. Delapierre e M. 1Vf}1elka, 1988, p. 79).
ITT (EU A)
Alcatel (írança)
11,7
3,0
6
12 } 18* } 18*

O exemplo das telecomunicações


GTE (EUA)
Siemens (Alemanha)
7,0
7,0
6
11 } 13;<
} 13*

Philips (Holanda) - - 2.. -


ltaltel (Itália) 2,5 2 2 2
O processo, assim definido, é comum a todas as indústrias oligopo- Êricsson (Suécia) 6,7 8 8 8
lístas de alta tecnologia. Toma-se ainda mais significativo nas indústrias GEC (Reino Unido) 5,2 3 3 3
como a de telecomunicações. Nesta, o caráter realmente global dos Plessey (Reino Unido) 1,7 3 4 3
sistemas atuais, o papel desempenhado pela telemática no processo de r ujitsu (Japão} 1,0 2 2 3
mundialização, e também o número extremamente reduzido de forne- NEC (Japão) 5,6 7 8 9
cedores, tomam particulannente importantes as questões em jogo. De- Outras 19,0 2 2
6
pois das fusões da CGE com a ITT (formando a Alcatel), da Siemens
! Total 100 100 100 100
com a GTI (EUA) e da Plessey com a GEC (Reino Unido), o número de
grupos presentes no mercado de telecomunicações caiu para oito, mas • Em 1986 houve fusão da A k ate1 e ITT, bem como da GT[ e S,emeos .
·• Empresa conjunta comª AT&T. . •• da ltaltel
quatro deles cobrem 70% das vendas. Certos trabalhos da OCDE per- Fonte: C. Antonelli (1991), com base em entrevistas ded,ngentcs .
176
177
demo crátic o do proce sso e sua transparência. A lentid
ão dos procedi- É nesse quadr o que está se gestan do o futuro sistema, mund
mento s formais, bem como a maior comp lexid ade ializad o
dos proble mas, mas fortemente excludente, das redes de ondas longas
fazem com que a norma lizaçã o seja, cada vez mais, tanto , as c hama das
em nível na- ..info\i as". Seu estab elecim ento pode vir a selar a
ciona l como internacional, prepa rada no conte xto de m orte (ou. pelo
delibe raçõe s in- meno s, a marginalização total) do lntelsa~ e levar a
formais (OCDE, 1992c). Muitas vezes, é no estági o uma configuração
inform al que se de "desertificação informacional" :; para contin e ntes inteiro
s. As quest ões
realiza o conse nso e ntre os agent es principais (indus e m jogo no setor de teleco munic ações são. então , partic
triais. prestadores ulann ente cru-
de serviços, grand es usuár ios da indústria e dos serviç ciais. Mas a elabo ração de "norm as por antecipação "
os). tende a tomar-se
O monta nte de despe sas de P&D. a im:n:r sibllid ade uma dimen são de todos o,; grandf"_,; progr amas riP P&n
dos eleva dís- flllP sf" fonna rn
simos investimentos comp romet idos, e ainda os rendim entre os grand es grupos oligopolistas e os principais Estado
entos cresce n- s, nos diver-
tes de adoçã o, de que se benef iciam os sistem as adota sos pólos nacio nais (ou comu nitário s) da Tríade. As cham
dos e m primeiro adas pesqu isas
lugar, 1 tomar am-se outro s tantos incentivos que impul ''pré-c ompetitivas", conduzidas e m coope ração , inclue
sionam a elabo rar m, cada vez mais
unorrn as por antec ipaçã o''. Estas come çam a ser esboç freque nteme nte, negoc iações ,isand o a firmar um quadr
o técnic o de de-
adas duran te a termin acão das solucõ es concr etas, ulterio rment e incorp
própri a fase de P&D, elimin ando assim a comp etição orada s nos pro-
entre tecnol ogias dutos fi~ais elabo rados por cada um dos parce iros.
alternativas. A concl usão do relató rio da OCDE é lúcida Para os grand es
: "A norm a assim grupos, estab elecid as as condi ções de forma ção de um
obtida é fmalmente aplicada, antes mesm o de serem merca do e sua
tomad as as de- relativa estabilidade, as soluçõ es conce bidas por cada
cisõe s forma is. É então muito difícil que tercei ros um dos partici-
possa m exerc er pante s terão menos possibilidades de serem quest ionad
qualq uer influência sobre o result ado final, se não partic as pelo súbito
iparam dos tra- apare cime nto de algum a altern ativa tecnológica totalm
balho s desde o come ço, ou porqu e não foram comi ente difere nte.
dados , ou porqu e Mas a contra partid a é a formação de barreiras de entrad
nem seque r ficara m saben do da existê ncia dessa s etapa a perante todas
s informais. Às as outras comp anhia s, o apare cimen to de situaç ões
vezes, certos gover nos não têm neces sariam ente consc de "fe nolho" tec-
iência da im- nológico (Foray, J990) e a determ inação do rumo das trajetó
portãn cia, ou mesm o da existência, dessa s discus sões rias tecnológi-
informais, antes cas, em proveito de um núme ro muito peque no de interv
de elas estare m concluídas. As norm as por antec ipaçã enientes.
o irão també m
contribuir para exclu ir os repres entan tes dos usuários
no proce sso de
norma lizaçã o, porqu e uma norma por antec ipaçã o deve, A cooperaçã o como instr ume nto
por definição,
antec ipar neces sidad es, de mand as e até a própr de rivalidad e oligo polista
ia existê ncia d e
usuários que ainda não existem". E a OCDE limita-se
a fazer a única
recom endaç ão ao seu alcan ce, de que "a confusão entre Para termi nar este capitu lo, falta preci sar, sem dúvid
as fronte iras a, que o
da P&D e das atividades de norma lizaçã o justifica, hoje quadr o final não é um "supe rimpe rialism o" estável, à
em dia, a cons- mane ira de Kaut-
tituição de uma nova geraç ão de comis sões e organ sky, consti tuído por oligopólios que domin em perfei tame
izaçõe s, tanto a nte as barrei ra~
nível das n&ções como internacional, que fu ncion em de entrad a e organizem suas relaçõ es, em sosse gada
como interface coope ração . O
e ntre a P&D t: a norma lizaçã o". proce sso é bem aquel e carac teriza do por M. Delapierre
e L. Mytelka
sob o título "deco mpos ição, recom posição dos oligop
ólios" . Trata-se de
um proce sso comb inado e perma nente . A decom posiç
~- Trau-s e das curvas de aprend itagcm cujo eleito é a reduçã ão se dá sob o
o do custo umt,írio, em
lunçao da experiência cumulativa da produçJo. Q<; Lrab<llh
os sobre os "rendimenros cres-
cent<.>s_d<> adoção ... as , ·,rnragem para as compa nhias
já insulada~ e as irreversibilidades e;. A nxpr<'SSM <" de R. 1anvin, da UNCT AD '1991) . Vertam
que criam, devC>rn -!><' a B. Arthur e P. David (wr OCDE, bérn o capítulo 8 sobre a
1992, e foray, 19901
internac,onalizaçao <los serviços

178
17')
impa cto de muda nças técnicas, cujo ritmo e É nesse quad ro que se situa m as opçõ es
trajetórias são difíceis de oferecidas às peque_nas
controlar, mas as tendências à recom posiç ão e médi as empr esas, bem com o às comp anhia
são igual ment e fortes e s dos pequ enos pa1ses
rápidas. O exem plo mais recen te é o da explo industrializados, que não sPjam as multinacio
são do oligopólio organi- nais de que se falou 0/.
zado em tomo da IBM e dos fabricantes de comp Wals h, 1987). As estru turas oligo polis tas e
utado res de grand e as barre iras de ehtra da
porte , sobr e a base da integ ração vertical deLxam pouc a escol ha a essas empr esas, a não
da linha de comp onen - ser busc ar formas de
te.51computadores: essa ex-plosão foi seguida coop eraçã o com as grand es, na espe rança de
pela recom posiç ão ime- ter aces so a um ~e~c ado
diata, por meio de alianças, de oligopólios muito maior e/ou de cobrir algum as distâncias de seu
fortes em cada nível, atras o tecnologico. A
espec ialme nte o dos microprocessadores, onde espe rança que uma empr esa de um pequ eno
a Intel detém mais de pa~s p~e ter, de. c~egar
60'"' do merc ado, e o dos sistem as operaciona a fi rmar acordos , d epen de de seu pode r de nego c,aça o; este esta ligado
is (Microsofl, NovelJ, IBM,
Apple) e sistem as de aplicação (Microsoft, Lotus à sua ex-periência e ao grau de domi naçã o . .
e Bor:land). que exerc e em seu pro~ o
merc ado e. sobre tudo, às dificuldades de aprop
A relação entre os grupos oligopolistas combina riaçã o de sua tecno ~gia
uma dime nsão de sem seu acord o e participação. Na melh or das
conc orrên cia e coop eraçã o. Com efeito, os acord hipóteses, o cami nho
os e parcerias entre passa pela assoc iação e a aliança. Todas as empr
comp anhia s do mesm o porte, ou aque les firma esas q~e cheg aram ª
dos por multinacionais · pode rosos come çaram por ser aliados subal
de dime nsõe s mais mode stas, que lutam para amea çar grupos mais · ter-
abrir o aces so aos mer- nos deste s. Atualmente, é essa possibilidade , . . ara
cado s oligopolistas mundiais, domi nado s por empr que esta mterditada P
esas bem estabeleci- as com panh ias da maio ria dos paíse s em
das, deve m ser entendidos como "o prolongam dese nvol \ime nto, com o
ento da conc orrên cia, mostra o Gráfico 5 (capítulo 2).
mas por outros meios". Diferentem ente das joint-
uentu res clássicas, as
alianças estratégicas não são nece ssari amen te
conc ebidas para durar.
As moti vaçõ es dos parce iros pode m ser abso
lutam ente agressivas.
Hame l, 0oz e Pralahad (1988 ) analisaram certa
s situa ções que eles con-
sider am bem típicas, onde o acord o era um meio
para a empr esa "ex-
torqu ir comp etênc ias do conc orren te, reduzir
a capa cidad e deste de
empr eend er açõe s autôn omas (ao privá-lo de
comp etências essen ciais
para toma r iniciativas em maté ria de conc orrên
cia), a fim de tomá-lo
cada vez mais depe nden te do prosseguimento
de uma parceria, dentr o
da qual ele estej a semp re cede ndo terreno".

O prob lema cruci al das parce rias estra tégic


as é então , muit as
vezes, o do equilíbrio precário na corre lação de
forças e ntre os parcei-
ros e a amea ça de prevalência de um parceiro
sobre o outro. Porter e
Fuller prop usera m uma tipologia da esco lha
do aliado e dos motivos
que levam à aliança: "1) poss e de uma fonte
cobiç ada de vantagem
competitiva; 2) comp leme ntari dade ; 3) identidade
de enfoq ue acerc a
das estratégias intemacionajs; 4) baixo risco
de se toma r conc orren te
no próprio camp o da coop eraçã o; 5) compatibil
idade de estruturas or-
ganizacionais; 6) nece ssida de de se assoc iar
antes que isso seja feito
por outras comp anhia s rivais" (M.E. Porter e M.S.
Fuller, 1986, p. 341 ).

180
1/H
capítulo 8

Serviços, "nova fronteira"


para a mundialização do capital
Nos serviços, o investimento tem primazia sobre o comércio
exterior. O vetor principal da internacionalização nessa área é o IED, de
florescimento recente: data dos anos 70, mas só deslanchou na segunda
metade da década de 80, diretamente ligado ao processo de liberali-
zação e desregulamentação. Em 1970, o IED no setor terciário repre-
sentava 25% do IED total nos países capitalistas avançados. Em 1980,
essa parcela atingia 37,7% e, em 1990, superava a metad,j ,lo total, com
50,1%. Entre 1981 e 1990, o total de lED no setor terciário aumentou 2
taxa anual de 14,9% (acelerando-se a partir de meados da década,
quando a taxa passou a 22,1%), enquanto a do setor mamúatureiro teve
um aumento anual de I0,3%, no mesmo periodo. Esse crescimento foi
especialmente espetacular nos serviços financeiros, seguros e serviços
imobiliários, bem como na grande distribuição concentrada.

Causas diferenciadas da internacionalização

Em certas atividades, como o transporte marítimo e a atividade


mercantil, a internacionalização é antiga. Limitando-nos às fases mais
recentes, a internacionalização das companhias de serviços acompa-
nhou, em muitos casos, a grande onda de multinacionalização das mul-
tinacionais industriais, nos anos 1965-1975. Foi o que ocorreu nas
empresas de serviços de auditoria, publicidade, consultoria de gestão
empresarial. A homogeneização da demanda, em tomo das normas de
"consumo" do capitalismo avançado, que são intensivas em serviços
mesmo quando se referem a bens, contribuiu, evidentemente, para esse
processo. Nesse aspecto, a internacionalização dos serviços tem a ver
também com os grupos industriais, ciosos de manter sua ascendência
sobre certas importantes atividades de serviços, complementares às
suas operações centrais.

185
A tese geralmente levantada para explicar a importância do TED em choque com o aumento brutal do desemprego, com a marginali-
nos sen-i ços concentra-se na natureza particular das prestações vendi- zacão do comércio e xterior em muitos países e com a repartição sem-
das, bem como no caráter intrinsecamente imperfeito dos mercados. O pr~ mais desigual do poder aquisitivo, atividades como as "indús~ias
papel desempenhado pelas relações de proximidade e contacto direto multimídias" são as únicas que oferecem possibilidades de expansao.
com os clientes, na comercialização dos serviços, confere ao IED uma Os grandes grupos privados não são mais os únicos que atuam em
posição privilegiada na conquista e ocupação dos mercados.
campos que, até recentemente, estavam fechados à valorização capi-
Tais elementos são inegáveis, e voltaremos a eles. Mas o flores- talista direta. Ao organizar sua desregulamentação e privatização por
cimento contemporâneo do IED nos seniços tem motivos ainda mais etapas, as grandes empresas públicas, bem como as nomenklaturas
poderosos. No caso ci.:ts grandes infra estruturas, que furam organi- 1burocracias privilegiauas l que as dirigem (na França, o pessoal for-
zadas, na maioria dos países. com base no seniço público, bem como mado nas "grandes escolas"), tiveram como objetivo incorporar-se ao
no setor financeiro. era necessário que o tnm'Írnento de Hberalizacão e movimento de internacionalização, como participantes em primeiro
desregulamentação estourasse o ferrolho das limitações das legisl~ções plano. A France Télécom é um perfeito exemplo disso.
nacionais. Os grandes grupos · americanos empenharam-se ativamente
Nos três pólos da Tríade, as indústrias de seniços suscetíveis de
para esse fim, especialmente constituindo um dos lobbies mais ativos
se internacionalizarem são, em geral, muito concentradas em nível na-
durante as negociações da Rodada Uruguai no GATI - a Coa/ition of
1 cional, mesmo quando não são setores organizados com base em mo-
Seroice Industries. Na Europa, o processo beneficiou-se de apoios de
nopólios públicos. Devido a isso, a internacionalizaçã~ pel~ IED
peso dentro da própria Comissão, e foi acelerado pela implementacão
apresentou, desde o início, as modalidades de rivalidade olig~pohsta e
do lVlercado Único e a negociação do tratado de Maastricht. -
de investimento cruzado. As fusões e aquisições assumiram, no
Visto sob o ângulo das necessidades do capital concentrado, o du- mmimento de mundialização dos seniços, a mesma importância que
plo mo,imento de desregulamentação e de privatização dos selVicos no setor manufatureiro. Analogamente, a concentração acompanhou,
públicos constitui uma exigência que as novas tecnologias (a teleinfor- no mesmo passo, a internacionalização (J.-P. Thuillier, 1993).
mática, as "infovias") vieram atender sob medida. Atualmente, é no
movimento de transferência, para a esfera mercantil, de atividades que
até então eram estritamente regulamentadas ou administradas pelo Os impasses do enfoque residual
Estado, que o mO\•i mento de mundialização do capital encontra suas
maiores oportunidades de investir. A desregulamentação dos seniços A análise da internacionalização dos serviços esbarra em con-

financeiros num primeiro tempo; depois, nos anos 80, o início da des- sideráveis problemas teóricos. Não pela "economia dos serviços" como tal,
regulamentação e privatização dos grandes seniços públicos (em par- que conta com bons especialistas e com pesquisadores originais (de Ban~t
ticular, os transportes aéreos, as telecomunicações e os grandes meios e Gadrey, J994), mas pela falta de um quadro teórico global, que permi-
de comunicação de massas) representam a única "nova fronteira" aber- tisse apreciar melhor O lugar hoje ocupado pelos serviços no movimento
ta para o IED, sobre a base das atuais relações entre os países e entre do capitalismo contemporâneo e de seu modo de acumulação, como um
as classes sociais. Enquanto o crescimento do setor manufatureiro ent.ra todo. A corrente teórica dominante em economia, que se formou, desde
fins do século XIX, por sucessivas contribuiçõe~, mas também exclusões
(a mainstream eco11omics, na terminologia de lú1gua inglesa), del~mitou o
1. O puxador dcsst;> loblJ}'Cri! -'I AmPrican [xprPss, cujo pmsidcnte do Conselho úc /\d- campo dos seniços pelo mais pobre dos métodos: de forma residual. As
ministraçá_o pe;i tarnh(ím o dici<• da d,·lega~Jo a111eric,111a, nas n(:goc1<1~ÔN- do Gt\ T 1
sohrP scrv,ç~. Ver r. r. Cl11innontc-, em/ e Monde Dip/om<1tir111e de- j,mf!iro d<> 199 1· ali\idades de seniços, quaisquer que sejam suas características ou o lugar
"Les servires. ultime., trontieres de /'c•:..pan,ion />O<Jr /e; nwltinatinnal,~;". que ocupam em relação à produção ou ao consumo doméstico, são agru-

/IJ(,
I H7
padas numa categoria "tampão·'. Todas elas são classificadas como per- material é acompanhada da venda de uma série de serviços comple-
tencentes ao setor "terciário". cujas fronteiras são simplesmente defini- mentares) e o papel assumido pelos investimentos imateriais (OCDE,
das por exclusão. Toda atividade que não puder ser classificada, nem 1992, capítulo 5). Esses fatores provocaram um aprofundamento da di-
no setor manufatureiro ou de construção civil, nem na agricultura ou visão do trabalho dentro do setor produtivo, com a formação de novas
na extração mineral, fica pertencendo ao terciário.
profissões. Levaram ao nascimento de novos ramos, bem como ao
Ao tratar da internacionalização dos serviços, constata-se a ex- aumento dos empregos de "colarinho branco" dentro das próprias com-
trema insuficiência desse enfoque. Na verdade, não há nenhuma coin- panhias industriais. Estão na origem, especialmente, do crescimento
cidência entre o IED nos serviços e o fED das companhias pertencentes dos novos serviços empresariais e de sua constituição em diversos ra-
ao setor de s e rviços. Todos os estudos sobre o IED nos serviços enfa- mos. No entanto, observa-se, de wn país para outro, graus muito dife-
tizam que quem faz esses investimentos são tanto multinacionais indus- rentes de desenvolvimento dessas novas "indústrias", ligados às práticas
triais, como companhias especializadas em serviços. Essa constatacão de intemalizacão das empresas (de Bandt e Petit, 1993). Os grandes
é válida para a maioria dos grandes países investidores, cujas estatísti- grupos alemães e japoneses conservam, na maioria das vezes, a capaci-
cas são suficientemente detalhadas para estabelecer o setor de origem dade de suprir suas funções internamente, e recorrem à compra de
das companhias que investem em serviços no exterior (especialmente serviços bem menos do que as _multinacionais anglo-saxônicas.
no ca,;o da França e da Alemanha).
A preocupação de manter o controle das complementaridades, en-
A contraposição entre o setor industrial e os se rviços está sendo, tre o produto e os serviços que o acompanham, está na origem de mui-
então, fortemente abalada, tanto pelos sen-iços "invadindo" o setor tas operações de internacionalização de serviços empreendidas por
manufatureiro, como pela indústria, cujas companhias, por sua ve z, multinacionais industriais. Na informática, por exemplo, os fabricantes
estão se diversificando no sentido dos serviços. Segundo F.F. Clair- de computadores desenvolveram sua atividade de fabricação jun-
monte e J. Cavanagh (1984), esses transnational integral conglomer- tamente com a atividade de prestação de serviços de informática. Os
ates seriam a própria encarnação do capitalismo moderno. Enquanto fabricantes de equipamentos de grande porte (IBM, Unysis, DEC, NEC,
não se dispõe de uma teoria que dê conta do lugar atual dos servicos Siemens, Fujitsu) figuraram, por muito tempo, em posição de destaque
na acumulação, vamos nos limitar a apresentar urna interpretação ini- entre os primeiros fornecedores de software a nível mundial, antes de
cial do interesse que os grupos industriais têm pelos serviços, a ponto serem alcançados por companhias especializadas. Na indústria de in-
de neles investirem, no exterior, de forma bastante vultosa. Dois ele- formática de modo mais geral, as empresas industriais desenvolveram
mentos parecem atuar simultaneamente: 1) o domínio que esses gru- uma grande vartedade de serviços estreitamente relacionados com os
pos querem manter sobre aspectos complementares dos quais de- materiais fornecidos. Era, para eles, um dos meios de preservar suas
pende parte da rentabilidade de suas operações; 2) o lugar que certos vantagens concorrenciais e suas posições no mercado.
serviços continuam ocupando, em relação ao movimento total de va-
lorização do capital. Encontramos a mesma preocupação nos grupos predominante-
mente industriais em que a função da informática está no cerne da
atividade de produção. Esses grupos desenvolvem, por conta própria,
A preocupação de manter o controle da cadeia de valor prestações de serviços de informática diretamente ligados a sua ativi-
dade industrial, seja internamente (Hitachi e Toyota, no Japão), seja ex-
Urna parte decerto importante da expansão do '·terciário" teve ternalizando a função (Rover no Reino Unido, Qeneral Electric e
origem na complexificação da produção (Stanback, 1979), a generali- McDonnell Douglas nos Estados Unidos), seja ainda adquirindo com-
zação dos chamados "produtos-sen.~ços" (onde a venda de um bem .panhias especializadas (a General Motors adquiriu a EDS em 1984).
188
189
~as grandes indústrias de transformação e de primeira transfor- Tabela 14
mação de matérias-primas de base, de que são bom exemplo a refi- Parte do comércio de algumas grandes :º'"'?panhias japonesas
efetuada por firma de seu proprio grupo
nação de petróleo e a petroquímica, os grupos industriais, muitas vezes,
criaram filiais especializadas em engenharia e montagem e na venda
~--- - --------! Vendas ( 0/o) 1
Compras(%)

l11díist1"ias p1..,sadas
de fábricas "prontas para ligar'' ("clefs en main" ou "tum key"). Eles
Mi1sub1shi Heavy Industries '>5 27
encorajam essas filiais a se internacionalizarem, como centros de lucros
.\:\it5ubishi Oil 25 35
específicos e, ao mesmo tempo, para sondarem os mercados corres-
pondentes às atividades próprias da matriz. .'vt1ts11bishi Metais 22 38
Mitsubishi Chemicals 2(, 41
A importância dos investimentos imateriais e a complexificação da Mitsubishi Aluminium 7r, 100
produção não são os únicos fatores que explicam a diversificação dos ,\1itsui Shi pbuilding 7S 18
IEDs dos grupos industriais no sentido dos sen,i ços. O domínio da Mitsui Petrochcmicals 65 50
cadeia de valor tem um papel principal. O porte dos grupos que se Hokkaido Colli<'ry 68 55
constituíram em certos ramos de serviços, o montante dos capitais Miisui ,v\etal t-·t ining 33 31
comprometidos e as formas diversificadas da internacionalização repre-
lndústri,is d e bens íinais
sentam uma potencial ameaça aos grupos industriais. A complemen- 20 IS
Mitsubishi 1:lectric 1
taridade entre indústria e sen,iços não tem nada de coexistência 7 11
Nippon Kogaku (Nikon)
pacífica. Isto vale, em particular, tanto para o comércio das matérias- 0,3 23
Kirin Beer
primas de base como para a grande distribuição. 5
Toshiba 15 1

Com efeito, as estatísticas mostram que as multinacionais indus- Sank i 1:lectric 9 4

tt iais são muito ativas nos investimentos externos no comércio (de Nippon Flour Milling 28
' 1
Laubier, 1984). É o caso, em particular, dos grupos alemães estru- l ~ yota Motors
turados em Konzem. É também o caso dos grupos japoneses. Estes 1onte: Johnson e1 ai. \19891, p. 164, a pa11ir de dados jàponeses.
se beneficiam dos serviços privilegiados que lhes são fornecidos
pelos grandes sogo sosha para suprimento de matérias-primas indus- sobretudo os hipermercados) representa uma ame_aça a~s seus
Próprios lucros. r\ parcela de lucro que uma companhia mdustnaJ ~~e
2
triais de base e para a comercialização de muitos produtos (ver Ta-
bela 14). Mas, nos setores mais modernos, as grandes companhias ·
perder quando grupos muito fortes, em s1tuaçao - d e "o ligopson10"
.
japonesas completam o controle sobre o trecho final da cadeia de (pequeno número de compradores para grande número de vende:
valor, por meio de investimentos próprios na fase de comerciali- dores) estão em condições de impor condições para se ter acesso a
zação. Os grandes grupos franceses envoMdos na exploração de dema~da final, é um parâmetro que afeta, de forma signifi~ativa, as
matérias-primas também desenvolveram seu próprio comércio inter- condições de valorização do capital. Mesmo que não tenham l~do Marx,
nacional (Pechiney World Trade no comércio de metais não-fer- 0 qual ressalta O aspecto de "falsos gastos" _ dos cu~'.os sofndos pela
rosos, Elf Trading no comércio de petróleo bruto, Usinor Sacilor no companhia no momento de realizar a mais-valia, os dmgentes dos g~a~-
comércio de aços planos e especiais). des grupos sabem que a menos-valia inconida a nível da comerc1ah-
Isto é fácil de explicar. Para as companhias industriais, a concen-
tração de grandes capitais no comércio atacadista (as "centrais de com-
2. Pode servir d e referência a cadeia de valor analis.-ida por M. E. Porter ( 198b
pras") e varejista (as lojas de departamentos, os supermercados e c.;tpítulo 1) e a importância do controle do escoamento.

190 191
- - -- - - -- - - - - - - - - - - - -- --- - - - - - - - - --
IED cJos grupos industriais em determinados serviços l O grande crescimento dos gastos de publicidade ao longo das últi-
mas décadas, bem como a constituição, nesse setor, d e grandes com-
• ~o caso dos [UA. as multinacionais pertencentes ao setor manu-
rawre,ro controlavam, em 1982, cerca de metade das íiliais operando no 1 panhias, expressando uma verdadeira potência financeira, exprimem o
exterior, no can~po de s~•rvi_ços. Isto aparece ainda mais daramente a partir lugar assumido pela concorrência oligopolista e pela diferenc iação de
1 dos d.idos setona,s: as lrl1a,s arnenc,mas no exterior, voltadJs ao comércio
ataca_dis•~· erar11 _co ntroladas, no essenci al (82% de seus .ativos) por com- 1
produtos, em particular no mercado de be ns de consumo final. O mer-
panh,as industn_,us. A mesma constatac,:Jo aplicava-se às companhias atuan- cado p ublicitário é tão concentrado do lado da demanda quanto da
1 t~is em set~res ltnanceir?!:, _(com exri>çào do sistema banc;1rio, que conti nua 1 oferta. Só os grandes grupos são "anunciantes" nas m ídias caras; ainda
con~o. at1 v'.dade espec1;iltzad a), de serviços imobi liários e dos serviços
prot,ss,on;us, ond<> .-ipcn,1s um terço dos <1tivu!> 110 exteri or dependiam do
1 controle de companhias pc~rtenc<)nles ao mesmo setor (UNCI NC, 1988).

. No raso do Reino Unido, o crur.amento de dados sobre o total de


l por cima, eles estão concentrados principa lmente nas indústrias de
consumo final de estrutura m ais oligopolista - produtos de higiene,
produtos agro-alimentares humanos e para animais domésticos, pro-
111vest1me~t?s externos uin~tos em 1987, por setor investidor e por setor
1 dutos para a casa e para o carro.3 Os grupos podem regular de três
mvesttdo, Jil mostra um distanc:iarnento signiíicativo. Embora o Reino Unido 1
seja _ond e p~imei~o º:orrcu a formação de grandes empresas de serviços e maneiras as suas relações com o setor publicitário. A primeira é rec or-
1 ~ua _,nt~rnac1onal17açao, urn terço do IED ern serviços é coisa das grandes 1 rer a companhias existentes, limitando-se a negociar, o melho r possível,
industrias. Por sua vez, as companhias alemãs de serviços mal controlam
seu contrato com a agência, que se encarrega da campanha e de com-
um terço ~o n1ontante de investimentos externos diretos em serviços; e tal
1 1tlQ1~l,mte e elevado, representando quase metade do montante total de in- 1 prar os espaços publicitários. A segunda consiste em aliar-se a outros
vest,ment? extNno alemão. Scgunuo o Centro das Nações Unidas sobre grupos numa "central de compra", que passa por cima das agências de
Compan~11a~ Transnacionais, o investimento internac ional japonês no setor
1 propaganda e negocia diretamente as compras de espaço. A terceira é
de cornerc,o apresenta as mesmas caracte rísticas: em 1 984 cerca de 1
metade das filiais no exterior operando nessa área eram cont;oladas por c riar sua própria filial, para não ter de ceder uma parte d o valor agre-
companhias industriais (l/NCTNC, 1988). gado a um setor externo ao grupo. Esse caso é mais raro do que os
outros dois, mas há dois exemplos importantes citados na lite ratura: o
zação finaJ deve ser reduzida tanto quanto possível, e que é preferivel
controlar diretamente o escoamento comercial. da Unilever, que criou a filiaJ Lintas, e o da Standard Oil, que criou a
companhia McCann Erikson.
A atividade dos grupos predominantemente industriais na inte rna-
cionalização financeira nãerbancária responde, igualmente, à preocu-
A multinacionalização de
pação de reduzir o risco de sofrer punções sensíveis nos fluxos de valor.
Aqui, as companhias predominantemente industriais procuram proteger-se atividades fortemente relacionais
ou dispor de m ercados cativos. A cobertura de seguro, indispensável para
o início de uma nova atividade nos setores de alto risco (especialmente a Quando nos voltamos para as companhias d e serviços propria-
indústria pesada), pode ser, às vezes, um obstáculo temível para O indus- mente ditas, a análise da mWldialização esbarra no caráter extrema-
trial, que procurará dominar essa limitação assumindo o controle de urna mente disparatado das atividades te rciárias, o que toma as gene-
companhia especializada, ou criando uma (Sauviat, 1989). Da mesma ralizações bem menos fáce is do que na indústria manufatureira. Não
forma, na indústria automobilística, os grandes grupos preferiram, muitas
vezes. criar suas próprias firmas de financiamento, para a organização
1. f;mbora as despesas de prop;ig;mda não sejam ressentidas pelos grandes grupos
de leasing e o utras modalidades de sustentação das vendas, em vez de como p;irtc dos " íalsos gastos" dil produção, <' scj;im até cl;issiíic.adas, por certos
recorrer ao setor bancário. Além disso, cada vez mais esses grupos vin- autores, como investimentos imateriais, n.10 é assim do ponto-de-vista da socied,idc.
(ssas despesas s.:io, na verdade, lllfl elemento constitutivo de um determinado modo
culam a venda de um cano novo à de um seguro de automóve~ bem de ;icumulaçào; íazem parlP. da "economia de desperdício" analisada pelas correntes
como a contratos de manutenção, assistência em caso de acidente etc. críticas da economia polític.a ;imeríc.ana.

192 193
é difícil identificar certos fatores análog os aos que marcam a
multina- oportu nidade s propor cionad as, nos último s dez anos, pelas
cionali zação dos grupos industriais: investimentos reativos sobre redes
mer- mundia lizadas de telecom unicaç ões e pela difusão da telemá tica,
cados oligopolistas; explor ação do movim ento no sentido da homo- mais
depres sa e com maior determ inação do que muitas das multin aciona
genei:zação das norma s de consum o, dentro dos países da Tríade is
e do setor manufa tureiro . A import ância atribuí da à central ização
países ou locais associa dos a estes; aquisiç ão de insumo s, particu e à
lar- gestão da inform ação, através da constit uição de bancos de dados
mente mão-de-obra, aos custos mais baratos. Mas a originalidade so-
da bre as caracte rísticas da cliente la e dos mercad os, incenti vou as
muJtinacionalização dos serviços está no fato de que o alo de produ- multi-
nacion ais de serviço s a adotar em rapida mente essas novas tecnolo
ção do sef\iço impõe, em grau mais ou menos coercitivo segund gias,
o as assim como as compa nhias do setor financeiro. Esse fato, e ainda
atividades, o contac to direto com o consum idor ou cliente e a proxim o
i- papel que hoje cumpr em as tecnolo gias de inform ação, a todos
dade com o mercad o intennPcfifirio ou final. os
níveis de ativida de das compa nhias, qualqu e r que seja o seu setor,
ex-
Os sef\,i ços nas empres as com forte intensidade de "massa cinzenta" plicam que as empre sas de consul toria mais dinâm icas e
são as ali\idades onde essa coerçã o é mais forte. É aí que "o sel'\1ço mais
se próspe ras, as que manife stam capaci dade para cumpr ir o papel
define menos como produto do que como processo interativo entre de in-
quem tergraç ão anterio rmente exercid o pelas compa nhias de auditoria,
oferece e quem procura, uma prestação personalizada ou sob medida sejam
, as firmas de inform ática (ver quadro ).
mais ou menos adapta da às exigências do cliente" (Sauvia~ 1989). A
com-
petilh1dade das companhias, bem como sua capacid ade de se interna A internacionalização nos serviços de informática
cio-
nalizarem, passam, assim, pela construção de uma imagem de marca, O campo dos serviços de inform,ítica P sistemas constitui-se de:
conden sando a qualidade e a diferenciação de prestações que uma • serviços fornecidos pelos "íahn,a ntPs.. de hardware, tais como
dada as
compa nhia pode ter como seu objetivo, bem como pela acumu lação atividades de manutenç:lo dos produtos. íornecimento de sistema
de s e de
dados sobre os clientes e mercad os potend ais. scl'\iços dh,crso~;
• si~crnas, e!>peCíficos ou gcnéri,o s, e programas. incluindo o sistema
Nessas atividades de serviços, a constru ção de uma reputa ção fun- opera,io nal, programas de texto, bases de d,1dos, forra~1entas de
desen-
damen ta-se em outros elem entos que não as verbas de pmpag anda. volvimento, aplrcativos e sua manutenção, sistemas de mterconexl\o
Na e de
gere11cid111ento de rede:. locdb;
atividade de consultoria, ela se apóia num capital de conhec imento
s, • serviços por encome ndd, tais como ,onsulto ria e assistêincia em
materializados na qualificação e no knoul-h ow do pessoa l, na iníom1át1ca, elabora ção de sistemas sob medida , engenh aria de sistema
elabo- s,
ração de concei tos e ferram entas específicas, bem como num arompa nhamen to direto ou remoto. gestão completa de aplicações
estilo de in-
"caseiro" de atuaçã o (Sauvia t, 1993). Nos serviços financeiros, o "capita fonn;íticc1 por conta dos clientes, treinamento, serviços em redes
l de valor
simbólico", originário da tradiçã o e da reputaç ão de serieda de agregado.
e dis- Entre as finnas de serviços de ínt0rmáticc1 e sistemas, nenhum grupo
crição, entra na constru ção da imagem social da compa nhia Um exem- supera 5% da produçã o mundic1I. Pouquíssimas empres."lS dPl.êm,
mais de
plo perfeito é o Uoyd's de Londres. 1% do mercad o de suas principais ;ire,,~ de nlividadP. As de;
m,11orc~ em-
presas totalizam apenas 11 % do mercado numdídl. O SC{or de
S-Oftware
Mas o sucess o da multin aciona lizaçã o das compa nhias de para microc omputa dores é o mais concen trado: alguma s compan_
h1as,
serviços empres ariais baseia- se sobretu do em sua capaci dade de como a Microsott, a Lotus, a Comput er Assoc1ate 0 11 a Borland, domina
acu- m
mular inform ações sobre a cliente la (real e potenc ial), a fim de o mercado mundial.
se- o campo de sistemas é fortemente domín,tdo pelas c>mpres<1s ;imen-
leciona r melhor a deman da e estar e m condiç ões de oferec er serviço canas. Há seis compan hias amencanc1!> entre <IS de, primeiras; a presenç
s a
aparen tement e person alizado s. O papel que tem o contro le da aponesd é mais mode:,ta, com apenas uma comp,111h1a no grupo
infor- 1 das de1.
mação , nd vantag em compe títiva das compa nhias de serviços empre primeiras, a fujitsu, que se beneficiou dc1 compra da ICI para cheg,u
- ª.:ssa
colocaç Jo, A NEC. quarto fabricante mundial de equipamentos, class1nc
sariais, explica que elas tenham procur ado tirar proveit o das a-
novas SI! cm 12g lugar entre a~ comp,m hias dr serviços
de inform,\tica. Tal como

194
195
no setor de hard1Vare, ,1 IBM mantém a liderança, com um 1,1turc1111ento
temente do setor industrial, verificam-se, tanto em umas como nas
(11,990 bilhôes de dólares) igual ,1 qudlro vezes o d.l [DS, que é <1 scgu11d.1
(2,840 bilhões dei dólarPs). Seis companhias européias (ReuHirs, C1p-Gem- outras, proporções essencialmente equivalentes nas despesas de P&D
i11i-Sogc.'li, Siernens, 811II e Grnpo Sema) classiíicarn-se c>ntre as 25 primeirc1s em relacão às vendas ou ao número de empregados. Thuillier sugere
do mundo. [las 1êim um fatur.1men10 que varia entre m0.tade, par,1 ,1 C 1p-
três ele~entos explicativos: "l) o fato de que, nos serviços, a ali\'idade
Gemini-Sogeti, e um qti.1rt o, parc1 o Grupo Sema, do ic1tura111 <'11111 do
número dois mundial, a [DS. de produção de conhecimento está estreitamente ligada à produção do
Outro e lemPnto d igno de notil: entre as de/. prirn<>iras do mundo, seis própáo serviço (caso dos serviços empresariais complexos); 2) que, no
co11st n1 írc1m seu sucesso de orige111 com base no desenvol v11 nento de ,ipli- caso dos serviços, parte importante da atividade de pesquisa corres-
caçc'>es militares.
ío11te: M. Calinat et ,,/. \1993). ponde a uma adaptação de tais serviços às condições sociais, culturais
ou regulamentares das economias de implantação, e deve portanto ser
realizada diretamente pelas filiais no exterior; 3) que, nessas atividades,
Aspectos específicos das relações internas a implantação no exterior é, muitas vezes, um meio de completar as
nas multinacionais de serviços próprias competências com as dos parceiros estrangeiros, o que pres-
supõe que estes mantenham o controle e executem sua ath'idade de
O caráter intensivo em mão-de-obra qualificada das atividades de P&D de forma autônoma."
serviços empresariais, bem como do setor financeiro em sentido amplo,
Por fim, no caso dos serviços, o intercâmbio intragrupo é bem
dá origem a um estilo peculiar de relações hierárquicas, dentro das
menor do que nas atividades industriais. Segundo Thuillier, as limi-
multinacionais que operam nessas atividades. Explorando os resultados
tações que incidem, de modo geral, sobre o intercâmbio internacional
dos levantamentos americanos relativos às multinacionais, J.P. Thuillier
de servicos explicam, em parte, esse fato, "embora a obrigatoriedade
(1993) mostrou que os indicadores que permitem caracterizar a ativi-
de estreita proximidade entre o prestador e seu cliente perca parcial-
dade das matrizes e suas filiais, bem como os vínculos entre elas, reve-
mente o seu significado, no caso de intercâmbio dentro de uma mesma
lam diferenças marcantes entre as multinacionais de serviços e as
organização". O baixo nível do intercâmbio intra-grupo é mais a ex-
industriais. No caso das multinacionais de serviços, "a hierarquia. fi-
pressão de uma organização interna diferente daquela das multinacio-
nanceira (o controle da matriz sobre sua filial) não se traduz - ou bem
nais industriais, pois "cada filial dispõe de bem mais autonomia na
pouco - em termos de hierarquia funcional, ou seja, de repartição de
condução de sua atividade no mercado".
competências".
Em primeiro lugar, nas multinacionais de serviços, o nível de quali-
ficação dos empregados, para o qual as respectivas remunerações são
O caráter oligopolista de muitas atividades
um indicador confiável, não é significativamente diferente, entre as ma-
Pela medida do valor de seus ativos no exterior, as companhias
trizes e suas filiais implantadas nos países da OCDE. Quando há um
que se multinacionalizaram nos serviços são pequenas. Até hoje, os úni-
diferencial, o que ocorre nas filiais localizadas em países em desen-
cos grupos de serviços que figuram entre os 100 primeiros do mundo,
volvimento, é bem menor do que o observado na indústria. Pode-se até
na lista da ONU (ver capítulo I O), são os cinco maiores sogo sosha
considerar que esse diferencial reflete simplesmente o fato de que as
japoneses.~ Mas a desregulamentação e a internacionalização que está
condições sociais que prevalecem em certas regiões permitem remu-
nerar o trabalho a um custo que não corresponde, nem à sua quali-
dade, nem à sua produção. 4. N;i cl;issiíicaçao mundial dos l>dncos, h,'1 numerosos bancos japoneses n~s primei-
Nas multinacionais de sen'iços, também a atividade de P&D é ros lugares; entre os maiores rerres011t;mtcs comerciais_do mundo, quatro sao Jªpo'.1e-
ses. A prim<-ira agênciil publicitáriil, a nivl'l m~ndial, ~ Jilp~nesa (a Dcntsu),_ :mboril
repartida, de forma es~cífica, entre as matrizes e suas filiais. Diferen- seja pouco conhecida, por est,ir ilind;i pouco mlernac1onali7ada. Os grupos Japoneses

7%
197
havendo nas telecomunicações logo vão levar os maiores operadores rior. antes de terem essa pretensão, as companhias precisam ter atin-
mundiais a subir nessa lista. gido uma certa dimensão em sua economia de origem. Os autores ob-
Em muitos serviços, especialmente os empresana1s, o caráter servam, a seguir, uma forte correlação entre o vulto dos investimentos
pouco capitalista permite o acesso ao mercado de companhias de e o grau de concentração de diferentes indústrias relacionadas com o
médio porte. Mais do que com o volume financeiro da empresa, sua setor de serviços. Por fim, as estratégias que consistem em acompanhar
"dimensão" está relacionada com a reputação, com a qualidade dos ou imitar os rivais (que são, ao mesmo tempo, concorrentes domésti-
serviços prestados a urna rede de clientes que são internacionalizados. cos e estrangeiros) seriam mensuráveis econometricamente. Em muitos
Isto não significa que não haja concentração em muitas dessas ativi- casos, as decisões de investimentos das multinacionais de serviços se-
dades, em termos de participação no mercado, como indicam os dados riam ditadas por reação oligopolista internacional, como examinamos
reunidos na Tabela 15. Muito menos significa que o segmento multina- no capítulo 5.
cionalizado de cada atividade deixe de estar totalmente submetido às Mesmo assim, as atividades de serviços continuam marcadas pelos
formas de concorrência/rivalidade características do oligopólio,, ou que aspectos específicos acima indicados, de modo que sua "industrialização"
as operações dos grupos deixem de comportar formas particularmente (melhor seria dizer sua submissão real à valorização capitalista, visando ao
eficazes de apropriação e centralização de valores e de excedentes.
Tabela 15
Muito pelo contrário.
Alguns exemplos de concentração mundial nas indústrias de serviços
Um estudo recente, realizado pelo Centro das Nações Unidas sobre
Número de Partic ipação no País de orig~m {entre 1Mré'n1c~,
Companhias Transnacionais, em seu último período em Nova York f-c'--'·o_rr_,1p.:..a_n_h_i_as_ _m_e_r_
c a_d_o_ mundia l (%) número dé empresas de cada país)
(UNCTNC, 1993), ilumina bem as relações entre a concentração de Mercado de resseguros { 1986)
oferta e a multinacionalização. Os testes econométricos incluídos nesse 4 30,1 Alemanha (1 ), Suíça (1), EUA (2)
estudo5 fornecem três resultados principais. O primeiro é que o porte 8 40,7 Alemarm (1), Suíça (1), EUA (4), Reino Unido (1),
Suécia (1)
das empresas afeta positivamente sua capacidade de investir no exte-
16 53,6 Alcmarm (5), StJÍÇ:l (1), [UA(S), Reino Unido(l),
Suécia (1 ), Japão (3)
têm tarnh&n grandes empreendimenLos de hotelaria internacional. Beneficiando-se de 32 70,6 Alenama (6), Suíça (2), EUA(1 l), Reino Unido{l),
urna moeda forte, os ddadãos japoneses deslocam-se, cada vez. mais massivamente, Suécia (1), Jap<'io (7), França (3), Itália ( 1)
ao exterior, encorajados pelo governo, que procura assim reduzir o elevado exce-
Serviços rlc informática ( 1988)
dente comercial. No entanto, assim como os fluxos de capital, os íluxos turísticos são
drenados p.:ira uma indústria japorwsa de viagens, iortemcnte integrada verticalmente 4 33,3 Fl JA (4)
(operadores de turismo, ..i.tividades de lazer, hotelaria). A política de compras massi- 8 S4,4 EUA (7), França (1)
vas, pelos grupos japoneses, d e grandes cadeias internacionais de hotéis, principal-
mente as de origem americana (Westin, Intercontinental) resultou no estabelecimento, Publicidade (1989)
em escala internacional, de um;i forma peculiar de extensão mundial do mercado in- 4 25,7 EUA (2), Japão (1), Remo Unido (1)
terno japonês (C. Sauviat, 1989). Siio os grupos japoneses que oierecern, em seus
8 43,9 EUA (4), JapJo (2), Reino Unido (3), Fr<1nça (1)
próprios hotéis, a uma clientela japonesa "cativa", os serviços de hotelaria e deres-
taur;intes, em toda parte p;ira onde essa clientel;i vá, seguindo a orientação dos opera- 16 60,7 EUA (1 O), .Japão (2), Reino Unido (3), f-rill)ç.a 11)
dores de turismo japoneses.
Serviços de consultoria e gestão estratégica (19891
5. Esse estudo identrnca, por meio de urna análise econométrica, os principais dctér-
minantes da rnultinacionali7aç.ão das empresas de serviços e avalia sua importância e
corno evoluem no tempo. Baseia-se nos oLjetivos declarados quando da criação de
filiais no exterior, numa população de 21 O multinacionais, subdivididas em 11 ativi-
dades de serviços (dando grande espaço aos serviços empresariais}. 1\ observação foi
l 4
6 _ _ _ _ _ : _ : : _ : 62,2
~__
53,7
_ _ _ _ _ _ _ : : _EUA
EUA (4)
: _ _(6)
__:_ _
íonte: Dados sobre mercados de ressegw os d.i UNCTAD (1989). Demais dados, de C. Sauviat
____,

(1990,, Instituto de Pesquisas Económicas e Sociais {IRES), Paris, a pM1ir de publi<:açõcs profissio-
feita em dois subperíodos, 1976-1980 e 1980-1986. nais e de empresas de consultoria.

198
199
lucro),. bem como sua mullinacionalização, estão sujeitas a uma forte específicos" (a reputação, a imagem de marca, a experiência acumu-
tensão interna. desconhecida pelas companhias do setor manufatureiro. lada), que representam elementos de capital intangível, para uma com-
panhia de serviços mais do que para qualquer outra. Por isso elas
Como vimos, algumas das prestações de serviços pressupõem es-
estiveram entre as primeiras a experimentar algumas dessas "novas for-
treita colaboração com o usuário. Mas, mesmo quando o produto ofer-
mas de investimento" (ver capítulo 3), especialmente o franchising. Elas
tado é altamente padronizado e a atividade tende para o fordismo
também souberam valer-se de uma ampla gama de combinações de
(hotelaria. restaurantes, seguros etc.), sua comercialização continua
baseada num grau de personalização bem mais elevado do que para investimentos e de acordos de cooperação, de parceria etc.
os produtos do setor manufatureiro. Nas atividades terciárias mercantis, O investimento, por implantação direta ou, hoje na maioria das
mt:smu rurdistas, o provedor de serviços ainda deve fazer o cliente vezes, por aquisição/fusão, continua sendo a furma predominante, tanto
acreditar que ele é "único" e que o ''industrial" de serviços e seus em- de crescimento interno como de internacionalização nos setores
pregados estão lá para "servi-lo'·, a ele e mais ninguém. bancário, de seguros, da grande distribuição, de transporte rodoviário e
O estudo citado do Centro das Nações Unidas sobre Companhias aéreo, bem como em certas ativídades de consultoria, como a publici-
Transnacionais conclui que as opções de investimentos das multina- dade e a informática. Um processo análogo de aquisição e/ou fusão
cionais de se1viços são influenciadas principalmente pelas dimensões está ocorrendo agora nas telecomunicações (como examinaremos mais
do mercado de implantação. Aparentemente, as multinacionais ainda adiante). Mas, em todas essas atividéldes, não deixa de haver acordos
parecem adotar uma estratégia de tipo "multidoméstico". Seu objetivo de cooperação, que podem assumir a forma de c riação de filiais
consiste em ganhar, em cada país, uma parcela do mercado, perante comuns, de participações minoritárias ou de parceria.
os rivais oligopolistas locais ou estrangeiros. A ''distância cultural" exis- No transporte aéreo, o movimento de aquisição e/ou de fusão, pro-
tente entre o país investidor e o país de implantação tambér.1 afetaria, vocando maior concentração, foi relançado em escala mundial pela des-
de forma negativa, a decisão de investir, embora a influência desse fator regulamentação e privatização. Muitas companhias nacionais desapa-
tenha diminuído do primeiro para o segundo período de observação, o receram em conseqüência de fusões, e o processo ainda está longe de
que refle te a homogeneização, tanto das normas de consumo como terminar. Mas esse movimento foi acompanhado por formas complemen-
das condições de investimento de que as companhias se beneficiam. tares de alianças (direitos de acesso a certos sistemas de reserva eletrônica
bem como um efeito de aprendizagem de sua parte. implantados por algumas companhias aéreas, acordos comerciais para utili-
zação conjunta das redes, acordos de cooperação técnica etc.).
Combinações de IED e alianças Nos outros setores, o investimento direto retrocedeu para sua
forma tradicional (controle de 100% ou por maioria), para dar lugar a
Seria poré m um erro concluir daí que as operações das multina- fórmulas de cooperação internacional que variam em função das ca-
cionais de serviços só raramente se inserem numa perspectiva de ra- racterísticas específicas da atividade de serviços, dos mercados envolvi-
cionalização da produção, à escala internacional. Tal empenho de dos etc. É o caso, em particular, do setor de hotéis-restaurantes e
racionalização capitalista existe tanto quanto para as multinacionais do viagens (franquia, contratos de gestão etc.), .da locação de automóveis
setor manufatureiro, mas não pode assumir as mesmas formas. (acordos de parceria comercial com transportadoras, acordos de fran-
As multinacionais de serviços têm sido particularmente inventivas quia), do trabalho temporário (acordos de franquia) ou da consultoria
quanto às modalidades de seus investimentos externos. Elas compreen- financeira e fiscal (filiação de escritórios de auditoria franceses às redes
deram que as "novas formas de investimento" lhes permitiriam ampliar internacionais dos grandes escritórios anglo-saxões). Essas diversas for-
a variedade de modalidades de valorização de seus "ativos empresariais mas não são mutuamente e..xclusivas. Elas dependem de estratégias se-

200 201
toriais que decorrem , em parte. das características e resultados das Boa parte das atividades ligadas à indústria do turismo (hotéis e res-
atividades e dos tipos de prestaçõ es ligadas a elas, e em parte, de taurantes. clubes de férias) são intensivas em mão-de-o bra; é por isso
avaliações de custo-benefício feitas pelas companh ias, em certo estágio que as multinacionais do setor obtêm consideráveis vantagen s por sua
de seu desenvolvimento multinacional. localização em países que combine m atrações naturais com mão-de-
obra barata
A maioria das grandes cadeias de hotéis e de restaurantes fim-
As redes nos serviços
cionam como empresa s-rede, utilizand o o regime de franquia. A
adocão de formas contratu ais de relacion amento, mais flexíveis e
À parte as diferenças setoriais, as estratégias das companh ias e as
men~s onerosas do que a instalação de filiais controlad as majoritaria-
tendênci as atualmen te predomi nantes nos se1viços devem ser colo-
mente, permite às companhias valorizar mundialm ente seu know-ho w
cadas no contexto maior do movimen to no sentido da constituiç-10 de
específico, concentr ando esforços na normalização e padronização dos
"empresa s-rede", de que falamos no capítulo 4. Tem sido dada maior
produtos "personalizados" e no controle da '·qualidade" associad a a sua
atenção a esse processo nas companh ias industriais do que nas de
.imagem d e marca.6
se,viços.
o franqueador entra com suas vantagens específicas (nome e re-
As economi as de escala e de variedad e são elemento s que podem
putação, kno11rhow, volume financeiro e porte do grupo), bem co":'o
proporcionar às companh ias de serviços notá\'eis vantagen s concorre n- as vantagen s ligadas aos aspectos imprevistos da demanda . A gestao
ciais. Tais conceito s remetem aos efeitos clássicos de dimensõ es e de centralizada da franquia visa a assegurar, ao menor custo, o controle
"tamanh o crítico·•, à padronização dos produtos e à multiplicação/diver- da qualidad e da prestação , graças à codificaç ão, extremam ente deta-
sificação das prestaçõ es. ~las a natureza "multidoméstica" que os in-
lhada e padronizada, tanto dos serviços como dos procedimentos_ de
vestimentos precisam obrigatoriamente assumir significa que os efeitos
relatório e controle. As multinacionais deixam que os seus parceiros
de escala precisam ser alcançad os de forma diferente do que no setor
subaltern os, os beneficiários da franquia, suportem o peso de todos os
industrial. Um dos meios para isso é a organização segundo as modali-
investimentos locais e enfrente m os imprevistos das flutuaçõe s da de-
dades da empresa -rede. Segundo C. Sauviat (1989), ..antes mesmo que
manda. Elas remetem totalmen te aos franquea dos tudo o que diz res-
os sistemas mundializados de telecomu nicação e telemátic a viessem
peito aos numeros os problema s da administração cotidiana da força de
(lhes) proporcionar novo suporte, o estabelec imento ou aquisição de trabalho. Longe de estar em contradi ção com a exploraç ão das van-
uma rede internacional já constituía uma importan te fonte de vantagen s tagens de localização, essa forma permite alcancá-l as ao menor custo
específicas (...). A capacida de da companh ia de reduzir ou minimizar
e com o máximo de lucro.
os custos de transação ligados ao comércio exterior, ou à gestão do
contato direto em mercado s mundiais ainda parcialm ente fechados e
"imperfeitos" por natureza, é diretame nte condicio nada pelo controle A exploração de fontes de mão-de-obra qualificada
de uma rede internacional. Tal situação permite que a companh ia com-
A atividade de program ação é intensiva em mão~e-o bra. Certos
bine, ainda, as vantagens de localização e suas vantagens próprias".
países como a Índia, as Filipinas, a Jamaica ou Barbados, onde a mão-
No caso do turismo, as vantagens de localização são represen tadas
pela dotação em riquezas naturais (sol, mar, montanh a etc.), bem
como pelo valor do patrimôn io cultural e histórico de um país (ar- e,. [rn 1986, 9-1°1<> de todos os hot<"i<; pcrtcncCf1tes às dez maiores cadeiai. de hot~is
dos [stados Unidos (Holliday lnn, Ramada, Trusthouse Fort ctc.l operavam sob tran-
quitetura, museus etc.). São esses fatores, e também as multinacionais quia. Nesse m(-.;mo ano, tinham esw •!'=º regime dois terços dos pontos de venda
especializadas, que determin am a capacida de de o país atrair turistas. das ixincipa1s cadeias amencana s de tast-tood (UNCl NC, 1988, p . 418-420).

202 203
de-obra é abundante e barata, onde a proximidade linguística com os
países anglo-saxónicos facili ta a aprendizagem e a transmissão de \,jmento de aquisições e fusões acelerou-se notavelmente no começo
know-how, proporcionam um ambiente de produção que gera
dos anos 90 (Tabela 16).
economias de custo. Tal situação incentivou certas companhias de A convergência das tecno1og1as. de informática
. . e dde telecomuni-
, comuni-
origem americana ou britânica a deslocarem sua produçito para lá. 7 De - b mo a introducão das tecnologias hga as as .
caçoes. em co • , . e às fibras óticas, cnaram
quebra. os fusos horários da Índia permitem a plena utilização da potên- 'rt O comando numenco
cações por sate I e, a . t d um sistema verdadeiramente
cia de cálculo dos computadores americanos, ociosos durante a noite. as condições para o estabelec1men o t· e 'oi co~struído sob a forma
Por fim, há incentivos govemamenlêis favorecendo o desenvolvimento . U . eiro sistema desse ipo •' '
mundial. m pnm . . tais lntelsat e Eutelsat, nos
local da indústria de programação, autorizando as companhias estrangei- de grandes organismos mtergo~emamen ' esem enhar um papel
ras a implantar filiais que gozam de importantes benefícios fiscais, . os políticos e tecnocratas amda puderam d P . .
mesmo se controladas, em 100%, pelas matrizes; em contrapartida. as ~~a;rimeira tinha. As mult!n~c~onais da ~dúSl~~a : :n:~~:::•:u~t1~
companhias estrangeiras comprometem-se a reexportar a totalidade de ainda o conjunto das inslllutçoes financeiras Ja s . . t. cia
, t I s optaram por utilizar sua po en
sua produção. Algumas companhias aéreas deslocalizaram, em con- dessas evoluções. No ent:1° eaº: t tar as firmas privadas de
dições análogas, seu sistema de reserva informatizada. Igualmente, cer- decuplicada pela mun_diah~çao, .P::.:~::'::onsiste agora em gerir os
tos bancos e companhias de seguros americanos descentralizaram para senriços de telecomumcaçoes, CUJO l . abertura de todos os mer-
as Antilhas e Bahamas os seus sen,iços informatizados de caráter rot- ,. bel prazer e em consegUir a .
satehtes a seu · . .d s Os governos amencano
ineiro e altamente intensivos em mão-de-obra. As vantagens clássicas cactos nacionais ainda parc1almenle pd rotedg1 :g· ulamentacão nas comu-
buscadas pelas multinacionais, em termos de custos e preços, e ainda ., . , pontas-de-lanca a esr • .
e bntamco 1oram as _ · . . satélite internacional m-
a formação especializada de certos tipos de mão-de-obra, também - t 'lit A exploracao do pnmerro
nicaçoes por sa e e. . . Alpha Lyracom, que
podem ser obtidos sem que as companhias beneficiárias tenham de se . . ' d O coube à firma amencana .
teuamente pm,a . _ telefônicas internacionais
deslocalizar. A terceirização internacional pode proporcionar tais ob- h be ta nas comumcaçoes
aproveitou a brec a a r . . do oderoso lobby anglo-americano,
jetivos, especialmente com a ajuda da telemática, permitindo a trans- em novembro de 1991. O obJetivo ~ d mãos dadas com os
ferência de dados por intermédio de redes privadas. ·ernamenta1s andam e
onde os r~presen~anles gov m 1997-1998, em todo o caso antes do fim
grupos pnvados, e chegar, e T do que companhias
, , d I mentacão completa, penm m
A internacionalização das telecomunicações do seculo, a esregu a • . seus próprios satélites e,
privadas possam, por um lado, lançar e genr

Parte do que acabamos de analisar talvez logo venha a fazer parte Tabd;_i 16 ~
de uma "pré-história" da internacionalização dos serviços, pois são de Aquisições/fusões transnacionais nas telecomunicaçoes
outra magnitude as questões em jogo, desde que foram acionadas a Ano
,
N umero_ de
1 Valor
(milhões de dólares)
tranc;açoes:.__ _ _ _ _ __ -::
desregulamentação e a privatização dos grandes serviços públicos, no - - ----+-- ---;::5- 399
1985
começo da década de 90. fasas medidas abriram um novo campo, an-
198(, 7 132
teriormente quase fechado, à expansão do IEO nos sen'iços. Isto vale
1987 7 (,3
particularmente para os sen'iços de telecomunicações, onde o mo-
1988 11 117
1989 50 2.694
7. Em seu capitulo 15, "Por que os ric os íic.:i,n mais ricos e os pobres, mais pobres", 1990 ú ? _ _ _ _..L__ _ __ H,.539*
R. Reich (1990, p . 192 -195i d.í muitos exP1Tiplos de dcsloca lizaç.:io de t.:ireí,is i11íorm.:i - L _ __'.~.:::__-..-.--,-u-lt,\_n_te_.s_d_a venda de e mpr<'S,lS públicas privati7~das.
tiTe1d.:is pi!ra <:'ssc>s p,iíscs, pel.-is cornp.:inhias arn<..'.fic.:in;is.
• Sendo 9,9 bilhões de dó lMPS E'S r de l,\clos do financial I im(.>s.
1o n\e· UNCl NC,NNCT,\O ( 1993), p. 83, a par " l .

.204
por outro, investir na construc· d
vadas para as maiores multi -~º _e redes de telecomunicações pri- fins de 1990, da Telecom Argentina (em parceria com a STET) e da
nac1onais (Valladão 1993). Telmex no México (em associação com a americana Southwestern Bell
A privatização da British Telecom e ' - e o conglomerado mexicano Grupo Corso). Essa estratégia de aquisição
grupo privado sobre os escomb d a formaçao de outro grande
Wireless, deram extraord1· - . ~os o setor público, o grupo Cable & teria prosseguimento. O objetivo atual da France Télécom é atingir, até
nano impulso ao movim t d o ano 2000, 10% do seu faturamento no exterior (G. Blanché, P. Barbei
mentação internacional a al en o e desregula-
' o qu as grandes autarq . -b . e L. Benzoni, 1993).
a France Télécom não t· . was pu licas, como
, em mais esperanças de . r N
de abertura dos mercados o ru o , . res1s ir. um contexto
uma operadora de peso ~ ~ p pubhco francês apresenta-se como Multimídia, a "nova fronteira" para o IED nos serviços
. eu ,aturamento (115 b"lh- d
1991) classifica-a com . i oes e francos em
o quinta operadora d' 1
(Japão), AT&T (Estados U .d ) mun 'ª, atrás da NTT A potência e os recursos das novas ferramentas de informática, as-
ni os , Deutsche Bund (
British Telecom (Reino U .dO ) espost Alemanha) e sociados às possibilidades abertas pelas comunicações de comando
m · A France Téléc d d"
faturamento à P&D 0 om e rca 4% de seu numérico, estão a ponto de tomar a indústria de telecomunicações ca-
, que a coloca em
lugar no mundo atrás da AT& T , porcentagem, em segundo paz de oferecer, aos usuários finais que possam pagar por isso, serviços
Bell), mas em prun,. . 1 • (sucessora dos célebres laboratórios que proporcionarão a estes acesso simultâneo aos fluxos de dados in-
eITo ugar entre as em -
operadoras. A mudanca de estat 1 . ~resas que sao unicamente formatizados à sua escolha, ao som e à imagem. É a nova "revolução
- u o mtemac1onal em 1990
a France Télécom em pe . , . , , transformou da informática" anunciada para a segunda metade da década de 90: a
ssoa JUndica de direi! 0 , bl"
autonomia financeira. pu rco, dotada de da multimídia. As vias de trânsito hoje são as chamadas redes RNIS,
amanhã as redes de ondas longas ou "infO\fas".
A abertura à concorrência de .
d e dados, as radiocomunicaç - serv1cos como a t -
.- - comu açao global Entre as outras novidades anunciadas ou recém-colocadas no mer-
'lit oes e a ligacao de firma . d
sate es, por meio da tecnol . d . •. s pnva as aos cado, estão os programas de gerenciamento de redes locais de comu-
og1a e termmais de baix be
mente controlada pelos Est d U .
a os mdos vai · 'fi
ª a r1ura, atual- nicação, os programas de distribuição e os "comunicadores pessoais"
cada que não podem ' s1gm icar perdas de mer- sem fio, que irão integrar as funções de telefone móvel, fax, correio
ser compensadas - .
nalização. Para a France r ·1 • ' a nao ser pela mlemacio- eletrônico e computador. Esses "produtos-sistemas" baseiam-se na
e ecom a oportun1'd d d
perimentar'' . ' a e e começar a "ex- última geração das tecnologias de telecomunicação, ao passo que as
no campo mundializado e de
de seu pessoal a aceitar fi • preparar pelo menos parte redes locais de alta densidade de uso utilizam as fibras óticas ou as
ormas mais extremadas d . .
oferecida pelas privatizacões E e pnvatização, foi redes de comunicação sem fio ("celulares"). São a "nova fronteira" para
em particular na Argenti~a e : M~~pa do Leste e na América Latina, o IED em serviços e o terreno por excelência onde a quintessência do
exico.
oligopólio mundial encontra talvez o seu mais acabado campo de
Em pouco tempo, o grupo alcançou . . acordo.
tenor. Considerando . . _ presença significativa no ex-
suas parlic1paçoes de · 1
realizou ou controlou em 1991 capita ' a France Télécom A formação de vastas e complexas redes de alianças, que asso-
d f , , um faturamento externo de 3 5 b·1h- ciam, pela primeira vez, os grandes grupos de informática. os de ele-
e rancos, pouco menos de 3% d O f. ' I oes
d aturamento total do , t rô nica para consumo amplo e os principais produtores de
e comparação, o grau de inte . . - grupo. A litulo
8% do seu faturamento d mac1onal1zaçao da British Telecom é de semicondutores, é uma manifestação concreta do que está em jogo,
foi privado) é de 4 5% eAo o ~rupo espanhol Telefônica (que sempre economica e politicamente, na multimídia. Os pólos de alianças que se
' · proximadamente do· t
mento correspondem is erços desse fatura- constituíram em tomo da Apple (Apple-lBM-Sony-Toshiba-Motorola), da
ao controle, assumido pela France r eecom
·1 · em Microsoft (a chamada aliança MPC: Microsoft, Olivetli, Tandy, Victor, ln-
206
207
fel, Fujitsu e outras), da Hughes Aircrafl (a aliança Direct TV, da qual
faz parte a Thomson) e da AT&T/NEC, sem falar nas alianças tecidas
para promov er o CD-1 da Philips para o grande público (Philips-Sony-
Matsus hi ta-Ninte ndo-Ko dak e o utras), ilustram a comple xidade
e
variedade dessas alianças. Essas características estão relacion adas com
a natureza das tecnologias a serem dominadas, mas tam bém com
a
multipli cidade de operadores e investidores mais interessados: os gru-
pos de mídia e publicidade.

capítu lo 9

O comércio exteri?r ,.,


no quad ro da mundiahzaçao

m em regiões orrcJe já estejam


"As empresas se conc~ntra 'I ,ons onrle as e>.temali-
mpanh,a s ana o,,".,
implantadas co (' . . ões bem implantadas, r(!CUJ"-
dades sejam fort_es u~s:::J ~ra qualifica da, meios de.
sos em tecnologia, m ide haja boas per.;ped"!1s.
(mandam ento adequad os) e,o, tc,is prr>-condições 1nd1s-
p, ão preenc ,erem .
de mercado. ? r n __ uíses em desenuolv,mento
pensáveis, mwtas reg,oes e p teriam de !>11pemr enor-
não participa m desse processo, : /e "
mes obstáculos para terem acesso a e .
STJ Revue, nº 13, im•emo de 1993.

208
O papel da liberalização do comércio na mundialização é im-
portante, mas não é aquele celebrado pelos economistas neoclássicos. O
comércio liberado teve um papel integrador, à escala de c._ert~ partes do
sistema internacional, e precisamente nos pólos da Triade. Mas quando se
examina a economia mundial como wn todo, constata-se, ao contrário,
q ue a liberalização levou a uma notável acentuação de sua polarização,
bem como à crescente marginalização de muitos países. Por.putro lado,
onde o comércio liberado aparentemente teve efeito integrador, os ver-
dadeiros agentes do processo são sobretudo as multinacionais, às quais a
liberalização permitiu organizar como desejavam o traballio de suas filiais
e suas relações de terceirização. Na é(X)Ca das fronteiras nacionais parcial-
mente protegidas e dos mercados domésticos regulamentados (que é tam-
bém a época do apogeu da regulação fordista), o capital já gozava de
mobilidade, mas ainda estava, em certa medida, enquadrado, delimitado.
A liberalização, com a desregulamentação que a protege e ac~ntua seus
efeitos, devolveram ao capital uma liberdade de escolha quase total, no
momento em que as novas tecnologias ampliam as opções como em ne-
nhwna época anterior da história do capitalismo.
No capítulo 2, apresentamos as razões que militam em favor de
um quadro analítico que priorize a produção, em relação ao intercâm-
bio, e portanto centrado no movimento de valorização do capital em
s uas diferentes formas (capital industrial e capital financeiro). Estabele-
cer essa prioridade não significa que o estudo da internacionalização,
na época da mundialização, possa ficar limitado ao exame do IED, das
o perações das multinacionais e das formas de rivalidade oligopolista.
Depois de tratar dessas questões, é indispensável que a análise passe
da esfera da produção (entendida em acepção ampla) para a do inter-
câmbio. O destino reservado a certos países, em função dos fundamen-
tos e da evolução do sistema capitalista, pode ser lido com toda a
clareza no lugar que lhes é atribuído no comércio internacional.

2 17
São o IED e as estratégia
s de localização escolhida Gráfico 12
cionais que com and am par s pelas mu ltin a- O
te importantíssima dos flux des fluxos do com érc io mu ndi
os tran sfronteiras de s gra n al de me rca dor ias em 199 0
mercadorias e serviços. con i>m hilh ê "S lc d '}lares)
trib uin do fortemente para
do sistema de intercâmbio. mo del ar a estrutura
Isto não significa que o cap
atividade com erc ial ou na ital con centrado na
grande distribuição deixe
às ,-ezes importante. Mas sua de cum pri r um papel,
s operações são calcadas
dustrial, tanto quando procur nas do capital in-
a tom ar o lugar deste ( cas
ne cim en to ter cei ríz ad o das redes de for-
o estab ele cid as pel as
departamentos), com o qua cad ei as de loja s de
ndo afirma sua pretensão
car o pelos "se f\iç os .. de de fazer-l he pag ar
obtenção e transporte de
ou de com ercialização dos ma téri as-primas de bas e
produtos acabados. Embor
usurpação não sejam nad a essas tentativas de
a apreci adas pelos grupos
procuram, qua ndo podem ind ust riais, que então
, integrar tais atividades po
capítulo 8), elas não reflete r con ta própria (ve r
m um mo vim ent o pró prio
ao contrário do que irem do cap ital mercantil,
os verificar no tocante ao 27
capital financeiro.
i7
Fatores qu e mo de lam o sis
tem a de int erc âm bio
Reduzido à sua configuraç l'ara cad a grup o de pai =, o . d' a o mon tant e tota l de seu
ão mais elementar, o sist núm ero em n~n ~o m IC com érci o exterior,
intercâmbio pod e ser des ema mu ndi al de - ho re1·e re se ao com érci o entr
o quad nn e os pa1ses do grup
crito por me io do Gráfico · o.
12, que retomaremos ►ontc: Rela tóno 199'.? do Gat
várias vezes neste capítulo. t.
Sua organização é resulta A ma nei.ra com o se d eu, , I XVI enc ont ro das
binada dos Estados e dos nte da interação com - a par tir do secu o , O
principais agentes da eco
nom ono .
mias me rca ntis europeias ,. .á em tra nsi . .
são hoje os grupos indust ia capitalista, que ec ção rum o ao cap1ta l1smo,
riais e os grandes bancos , 1
, atu and . dad es que tinh am avança be .nh (po r
à pressão de um con jun o em resposta com soo e do m me nos nesse cam i o
to de oportunidades (de Ch i . . tar de
luc ro) e de obrigato- imp en Jap a·0 ) e sob ret udo
riedades: econômicas, pol
íticas e também tecnológi exemp~o.'. a - na ue haval e be m ma is , O '
cas. iam' tido trajetórias e form
com cwihzaçoes q as de organização
A liberalizaç ão do com érc • d des "pr é-c olo m-
io exterior, organizada pel soc ial rad ica lme nte diferen
e pel o NAFfA, nã o se deu o GATf, pel a CEE tes_ (po r exe ~p lo, as) s~
::/está ins crit a nas
nu m mu ndo constituído
po r entidades sobe- b .1an as" da Am éri ca e as sociedades afncanas
ranas que gozem de vantag . . '
ens comparativas distintas, • s eco nôm ica s intemac1o - As for ma s e a
eco nôm ico com par áve l e ma s nu m pat am ar re 'aç oe na1S con tem por ane as.
que tro que m entre si produt dur acã o da dom inação . 1 . 1 be m com o as
através de um com érc io os de diversos tipos, col oni al ou sem1co om a., car ac-

intersetorial. Muito pel o
con trá rio. O sis tem a teristicas de cada for maçao . ·ai mo me nto em qu e tal dom . .
mu ndi al era for tem ente so~1 ~o ma çao
hierarquizado, e con tinu a for am be m ma is divers . das do qu e, mu itas
nunca, em bor a de manei sen do, ma is do que ificadas e .va na
ra ligeiramente diferente com eço u, A capacidade mu ito variáv
na épo ca de heg em oni daq uel a que prevalecia ,·ezes se pensa. el de qu e der am provas
a exc lus iva dos EUA. Qu , ' os
and o se con sid era o d blo co no cha ma do "Te rce " nfr en-
sistema de inte rcâ mb io, não pai.ses agrupa os em iro Mu_ndo ' par a e
se deve nunca per der de t os pro ble ma s do des . ·ta1·sta "au to- cen tra do" ,
bém carrega as ma rca s da ,ist a que ele tam- env ol\,
1 nos
história, em particular do ar me nlo cap1 i
mo do s 1955-1975 , est á fre qüe nte li d .
com o se cons- ele me nto
tituiu o me rca do mu ndial
(a "econo mia-mu ndo" de
1. Wallenstein). 3:°º d
hga. Para ar um exe
me nte ga a a
mp lo: ind epe nde nte me
nte
s de
.
ong em an-
.
, das c1r cunstânc1as
212
2/J
políticas esp ecí fic as dos ano
s 50 e da aju da am eri can a, • a cre sce nte anu laca- o (pe lo me nos por enq uan to) da dis tin
wa n, po r sua história e pel a Co réi a e Tai- ção en-
as car act erí stic as de sua s t e o "do mé stic o" e o ..~st
ma çõe s sociais, est ava m inf res pec tivas for- rangeiro", com a con cor rên
~hias exe rce ndo -se com igu cia ent re com pa-
ini tam ent e ma is pre par ada al força, tan to nos me rca dos
o "de saf io do des env olv ime s par a enf ren tar "~temo_s~ de
nto " (ou sej a, sua ins erç ão cad a país com o nos me rcad " temos" em dec orr ênc ia dos
cap italista mu ndi al) do qu dir eta na ord em os ex · mvestimen-
e os Estados da África Ne tos estranger.ros e da 1·be , . .
gra, recé m-saídos 1 r alizaçã"o neg oci ada do comerc10 ext
da coloni zaç ão fra nce sa ou enor;
belga. • r fim dir eta me nte rel aci ona . . .
Num qua dro leg ado pel a his po da a ess a evo luç ão, a subst1t
tória, os asp ect os ma is des '
do par adi gm a de van tag ens • u~ç~~
sis tem a mu ndi al de int erc âm tac ado s do com parativ as, com "ga nho s com erc iai
. - s
bio ,,;ão o res ult ado im edi ato
de trê s sér ies par a todos os pa rtí·c·1pantes pel o de co nc orr iud a ou com
de fat ore s. Os pri me iro s for tem aci ona l, on de a com pet • pet 1ça o ln-
am exa mi nad os nos cap ítu itiv ida de de cad a qua l des d
diz em res pei to ao pro cesso los ant eri ore s; ign a gan ha ore s
de con cen tra ção e cen tra liza e per ded ore s.
nas eco nom ias capitalistas ção do cap ital
dom ina nte s, ao mo \lim ent An tes de ret om ar o ex am
tra tég ias atu ais do s gru pos o do IED e às es- e des ses div ers os ele me nto
s,_
mu dan ças científicas e tec
ind ust ria is. Os seg un do s
dec orr em das ces sár io nos int err oga nno s
sob re o sig. ili do da tax a de cre scu é ne-
nol ógi cas , sob o âng ulo de o ica nen to
os níveis de prcxtul.ividade, seu s efe ito s sob re do com érc io ext eri or, sup eri
sob re a org ani zaç ão e a loc or à dos PIBs.
du ção industrial, sob re a dem aJi zaç ão da pro-
and a de força de tra bal ho
de qua lifi caç ão) e sob re a (nível e tipos A taxa de crescimento do
dem and a de ins um os par a co mé rci o ex ter ior ,
pro dut os primários ou pro a pro duç ão, em
dut os inte rm edi ári os de ori su pe rio r à do PIB
ter cei ros \ão fatores polític gem industrial. Os
os. Ab ran gem , lim itan do- nos
o pap el do~ Estados dos à fas e rec ent e, De sde o fim do per íod o de
paí ses capitalistas ava nça dos rec ons titu içã o do sis tem a de
de blo cos "re gio nai s" de na con stit uiç ão . multilateral em me ado s in~ercâm-
tip o con tin ent al, bem com b10 da déc ada de 50, o com érc
ess es Est ado s ado tar am em o a pos içã o qu e ;i rPs Pnt and o
' io mu ndi al vem
rel açã o à dívida do Ter cei tax as de cre sci me nto sup • , d Pro dut o Int ern o
ro Mundo. Po r B: to do s paí ses par tic ipa eno res as o
fim, o lug ar dos paí ses do nte s. A div erg ênc ia ent re
Les te no com érc io int ern aci as du as cur vu :
de um a das mu itas con seq ona l não pas sa um pou co a partir da rec ess
üên cia s eco nôm ica s do des ate nuo u-s e ão de 1974-1975, ma rca ndo
soc ial a qu e o sis tem a bur ast re político e dos "trinta ano s gloriosos" e , o
ocr átic o de ori gem stalinista
lev ou os Estados o início do pen ado das ..cns • es rolongadas"
e nac ion alid ade s da ex-UR J Mazier et ai., 1993). p d
SS, da Eu rop a Oriental e da Mas, no dec orr er dos ano s
ex-Iugoslávia. ~~ cad a de 90, o com érc io 80 ~ ~ ~m eç o a
Em linhas gerais, os ele me ret om ou um cre sci me nto ma
nto s ma is ma rca nte s do atu d s PlBs me sm o se ess is rap1do do qu.~
mu ndi al de int erc âm bio são al sis tem a e cre sci me nto se de u "ao
os seg uin tes : :e s: o se ~ lED e, sob ret udo s_ sol ava nco s '
• um a nít ida ten dên cia à , os fluxos fin an~ e~ s global
for ma ção de zon as ma is as izados aum en-
com érc io em tom o dos trê den sas de tar am a tax ain da ma is ele vad as. A div erg eno a ent re as dua s
s pól os da Tri ade (fe nôm - nad a de "natural". Re pre sen ~
~~
"re gio nal iza ção " do com érc eno cha ma do de ta wn fen om na his ton a
io) ; nao tem . eno nov o
do capitalismo, cuj o sen tid
• um a ten dên cia igu alm ent o e cau sas é 1m .
po
rta nte com pre end er.
e forte à pol ari zaç ão do int No decorr er do longo per íod
nível mu ndi al, co m cre sce erc âm bio a o de floresci_mento de 186
nte ma rgi nal iza ção de tod com érc io int ern aci ona l não 0 a 1914 , ~
clu ído s da "re gio nal iza ção os os paí ses ex- cre sce u ma is rap ida me nte
" nos três pól os da Triade . do qu e o_s ti~ro-
; dut os int ern os dos paí ses . l t O per íod o qu e ass
• o ele vad o nível já alc anç f - do me rca do mu ndi
E foi, no e~ ~ o, . - is u a
ado pel a par te do com érc io al e ao imc10 da s1tuaçao ,
ret am ent e mo del ada pel o mu ndi al di- on naç ao qu e Pau l Valer}
IED: com érc io intracorporati q ual ific ou, Jogo no com eço do sec ulo , XX mo a "er a do mu nd o fi-
das filiais, ter cei riz açã o tran vo, exp ort açõ es , co
sfronteiras; nito". No cas o dos pa1, ses eur ( pou quí ssi ma s
- ) d
exc eço es , O[)
ope us com
214
115
- Estados Unidos d
. . ' e pane da América do Sul d -
e o Japao, o comerci o
,
competi lÍ\idade estrutural que surgiriam mais de wn século depois. A
mtemac1onaJ contribu ía pa d .
- ra a construc ão dos
nao se substituí a a estes como suporte• da a merca os miemos mas
' partir do começo do século XX, uma imperati va exigênci a de exportar
_
crescime nto da renda A o . - cumu1açao do capital e do afinna-se na Alemanh a, na indústria mecânic a pesada. Mas, nos outros
· rgaruzaçao do com' · ·
complet a separacã o entre . erc10 miemo, baseada na países capitalistas de certo porte, existem, quando muito, alguns setores
• a agncultu ra e a ind . tr
o campo, e sobretud o através d .. - us ,a, entre a cidade e e algumas empresa s que ressente m uma verdade ira necessid ade de
·r • e uma d1v1sao do t ra b aIho e de uma conquist ar escoame ntos externos. Em fins do século XIX, a expansã o
d IJerenCJação cada vez m .
a,s acentuad a dentro d o setor manufat ureiro
Jeva,·a a melhor sobr • . , imperiali sta dos EUA na América Latina foi feita em função de motivos
.. e o comercJO exterior Est ..
tivesse assegura do, con f.orme necessa• nu . . e perrn1ha que o país políticos (a doutrina Monroe) e da busca de matérias -primas industriais
um .
lar de recursos agrícolas ou . . ' supnme nto compJem en- \itais, mas não para garantir saídas externas imperativas.
mmera,s bem com d be
~u equipam entos, c uja importaç ão ~itav o e ns de capital
as, o
É só a partir do crash de 192!) e do começo da grande crise que
ntrno de industria lização. a, em certas economi
um conjunto de países industria is vêem na exportaç ão uma das manei-
. ras de compen sar a queda da demand a interna. Eles tentam "exporta r
. esse períodº• para a maioria
. Durante .
dos
.
• • .
paises capitalistas em vias o desemp rego" para os países vizinhos, ao mesmo tempo que erguem,
de mdustnalízacâo o co , . extenor a.inda • .
• . • ' merc,o
lógica de busca e imnn.-4~ - d e recursos comple caractenzado por uma cada qual, fortes barreiras protecion istas. A posição de Keynes é inte-
l"'-"""çao
esse processo é incenti vad o pelo mvestim .
ent . 1
ementares. Muitas vezes ,
• ressante. Ele é hostil à guerra comercia l, mas também não se mostra
.
CUJO Primeiro alvo foi o setor d é . . o m emacion al subjacente, favoráve l às soluções de livre comérci o preconiz adas, na época, por
e mat nas-prim as d e b ase. A principa l
preocupa ção econômi ca d J)OlellClas que vão
A •

. certos dirigente s american os. Lança um olhar critico à \ia do "desen-


. as
unperiaJ de colônias ou semic OI' . , conquJStando um espaço volvime nto para o exterior" que o Reino Unido vem seguind o há
oruas ( caso dos EUA) , ·
lar reservas de matérias-p . • . , e Justamente contro- décadas , colocan do seus rendime ntos no setor financeir o, em detri-
runas estratemc as CUJO. arque'lipo sera• o tról

~· ' pe eo. mento do desenvo lvimento e do tecido social doméstic o. A política que
Durante vári
" . as decadas, a única excecão fi01. R . ele defende, de retomar a d emanda interna efetiva, é uma política para
oficma do mundo" ro· . . • · o emo Unido. Como
.
. , ' o pnme1ro pais onde
. a necessid ade de importar sair da crise, mas também de renovaçã o mediant e investim ento. Em
foi acompan hada pela 0 b . t .
ngatoned ade iguaJme
, , n e unperios a, de expor- 19-t0-19-14, não foram essas posições que prevalec eram, e sim as dos
tar. Fntre 1770 e 1870 fo1· o • .
' uruco pais capaz d .
e mundar o mercado ex- EUA, que estavam em posição de ditar as orientaçõ es das principai s
temo de produtos manufat ur d
bloquear a industriali2 •
a os e, com suas ex rtaçoes
q:>o
-
baratas de instituiçõ es econôm icas internaci onais. Redigira m-nas a partir de seus
açao em outros lugares F · '
. . o1 para se defende r dian- próprios interesses e dos preceito s de livre-com ércio, embora tenham
te dos produtos ingleses q
al emao - ue o america no AJexan d er Hamdton .
e 0 sido forçados a esperar várias décadas até soar plename nte "a hora do
Friedrich Llst I d . "
,. esenvolv eram suas teo mercado " e poderem execrar os ensinam entos de Keynes.
pohhca cosmopo lita" do libe ar nas contra a economi a
r JSmo fundado em Ad S .
tifiicam o protecio nismo às ind • tri am m1th. Eles jus- A elevada taxa de crescime nto das exportaç ões, no imediato pós-
d us as nascentes com so'lidos argumen tos
e econom ia industria l . d . guerra, teve inicialme nte o aspecto de um fenômen o de "atualização",
' m us1ve alguns que prenunc iam as teorias de
que vinha corrigir o protecio nismo dos anos 30. Entre os p.11íses indus-
•. trializad os, levou a um sistema de intercâm bio alicerça do, desde
1. Alex.:i.nder Hamihon (1757 18041 101 · ·
um dos pnme,ros
'UA, auror de um cc;lehre Re · t
" f)Or on
~ecretários do Co,nJ... . d os
Manuíactt cs ,- •ec1 . · nero meados da década de 60, na exploraç ão de economi as de escala, bem
,1l · '.r . rr rrch lisr O 789-1846) <'fa um
en1~() ex, 1<1do prrrneirarnenl<' na Fran a d
, epors nos Esudos Unidos. , onde se ·'ed' como no desenvo lvimento de especial izações refinadas, baseadas, cada
à polrtrGt d<' prorccioni smo à ind. . çn.tSC"enre
vez mais, na seguranç a de encontra r no exterior parte do mercado ne-
suas pos • usrrr-1 Sob I ! " ,cou
IÇOC'S, ver M. Humbm (1994). .. re a a1t1<1 ir ade de algumas de
cessãrio para escoar a produçã o.
216
217
A bifurcação dos anos 1970 portável. A solução de retomada de crescimen to através das expor-
t;\.ções esteve estreitam ente ligada ao fortalecim ento do capital
~a Segunda metade da década de . .
70, im_eneu-se o signo do que monetário concentra do (que examinare mos no capítulo 10). bem como
podena ter ha,1do de positivo na
superior à dos produtos int Ntaxa ~e cr~sc1mento das exportações à reafirmaçã o do domínio único da " auto-regul ação do mercado" .
. emas. os paises md lri ais, . '
al
r 12ação. a ascensão do JCT\ - us a busca de libe- Para os países cujos governos e classes dirigentes m ergulharam em
tr. •u.., e a expansão das •
·eram o efeito de PélSSar de operac;oes das multinacionais cheio na armadilha do endividam ento ex1emo, o preço foi alto. Como
uma economia de es.PCci~ ·:.r;.,="~ .
mtemacionaJ sempre, são as classes oprimidas que têm de suportá-lo em primeiro lugar.
rua,-,, ç • '
,~.. a •ormaçao de um .,.~ düi •
-r-<':AJ concorrencial onde
cado doméstico.. e '·men:ac::10 ext ., ' as erenças entre "mer-
emo ficam cada vez mais im .
O regime d
a economia intemaci
prec15as_ Polarização e marginalização:
sendo de um '·espaco d
-
• ~nal atual pode ser definido como
e concon-en aa div ili
o destino dos países devedores do Terceiro Mundo
"fi ers cado, mas em vias de
um icação", no quaJ a concorre• nc,a .
t ., se dá d .
en re companhias, que têm nece 'd d . ca a \'eZ mais diretamen te Vamos agora examinar mais de perto os traços principais da con-
pa ra se desenvolv erem A al ss1 a e impera ti va d e todo o espaço
· P avra-chave de . figuração atual do sistema internacio nal de intercâmb io. O gráfico 12
.
1emac1onal é "competiti vidade" N sse regime de economia in- ilustra o peso dos países capitalistas desenvolv idos no comércio total,
final, em particular as em . os mercados de bens de consumo mas também a parte resultante do comércio que é feito entre eles. Os
- ' presas, apesar da dif. . •
estao em siluacão de
-
• .
concorren c,a dir 1
erenc1açao de produtos
, países do Leste ocupam um espaço apenas marginal, situação que se
sucesso de uma empresa s· ·ri e a, quando não frontal. O agravou ainda mais depois de 1990, com poucas exceções (a Hungria
- igru ,ca cada vez .
sorçao de outras. Quando ' mais, a falência ou ab- e a República Tcheca). A subordina ção e marginaliz ação caracteriz am
esse processo se
rentes, chega necessari ament exerce entre países dife- igualmente a situação dos países em desenvolv imento. No Gráfico 12,
sentem tin · e um momento em _
a g1dos. Então os pol'ti que os pa,ses se essa situação pode ser lida tanto no desequihô rio dos fluxos Norte-Sul,
·1· • • cos e a. míd",a, invocando .
m1 ,tar, falam em "mobT a linguagem como na debilidade do chamado comércio "Sul-Sul", cuja participaç ão
" , izar as energias n . . "
guerra econômic a" na qual • . ac1ona15 e se referem à é bem inferior àquela entre os países desenvolvidos.
lí o pais estana co .
an podas de uma situação mprometid o. Estamos nos
para tod em que o comércio seri " ç O Gráfico 12 é apenas um ponto-de-partida. Não há mais um único
os os particin:.n tes" " ltaremos a fal a ,onte de ganho
d ,......, · vo Terceiro Mundo: devido a um processo de diferendaç ão interna, hoje e-
a competitiv idade e de suas b' ... ar, no fim deste capitulo
. am 1gu1dades profundas. , xistem vários (Coutrot e Husson, 1993). Há até quem fale na existência de
A bifurcação dos anos 70 - - um Quarto Mundo (Castells, 1993). A OCDE distingue hoje, sistemati-
volvim ento. Após a recessão d:ª~9;:i~ ;~r para os países em desen- camente, os "novos países industrializados" asiáticos, do conjunto dos ou-
acentuado às export - . , o recurso cada vez m .
. ais tros "países em desenvolvimento". É nesses países que se concentram os
açoes, para impulsion ar o
ocorreu nos países capital· t crescimen to, tal com o concorrentes efetivos ou potenciais dos países capitalistas avançados. Eles
curto , is as avançado s també
penado. nos países em d . ' m se deu, por um cristalizam contra si todas as fobias relativas à "concorrência desleal" e ao
esenvol\/lm ent 1
aspecto da resposta de 1,·v--e - . o. sto represento u outro dumping social. Mas eles são também candidatos potenciais a entrar na
·• -comerc10 à e · ~ .
produção que se tomara m nse. o, para exportar uma OCDE e nos outros clubes onde se reúnem os governos dos países ricos.
" • onumenta l e - -
petrodolar es", que os países t . ' nao so para re ciclar os Entre 1966 e 1987, a participaçã o dos novos países industrializados nas
• . cen ra1s do s· t
ou ate incentivaram, os países do T . is ema mundial ajudaram, exportações mundiais passou de 1,1 % para 5,5%, enquanto todos os ou-
dívida externa gigantesc a I erc~1~0 Mundo a acumular em uma tros países do "Sul" juntos (incluindo os países exportado res de pe-
, que ogo ma se tomar um f.ardo .msu- tróleo) viram sua participaç ão diminuir de 22,9% para 15,4%.
218
219
Foi a partir da recessão americana
tomadas para defender a . de 1980-1981 e das medidas
, perenidade dos dº pende de evoluções decididas de fora, e que resulta também de inves-
monetario, através de uma p l'ti d ren imentos do capital
, oi ca e laxaspo ·u, . timentos estrangeiros potencialmente de grande mobilidade, a "dotação
esses parses foram ·-o d " s1 \as de Juros reais que
" mea os para su rt ' fatorial" pretensamen te "natural" desses países pode desaparecer rapi-
goria, o peso da crise mundial O [. d po ar,_ cada qual em sua cate-
· · ar o do sernco d d' · damente. Foi, em particular, para caracterizar sua situação que Lf\1.
d e aJusle estrutural imposto 1 - a IVlda e os planos
s pe o FMI e pel B Mouhoud (1993) cunhou a expressão "desconexão forçada".
quadro de um conjunto de di . o anca Mundial deram o
me das, Impondo ao -
pagamento dos 1·uros da d' .da e a reo . 1 s -pa1ses de,·edores o Tudo com·erge para que esses países permaneçam prisioneiros de
rv,
econômica. O efcilo combinado lal . ~1en açao de sua política c>specializações tomadas obsoletas pela evolução dos conhecimen tos
vez mais unportanIe d essas medidas científicos e das tecnologias acumuladas pelos países avançados, espe-
mas O menos reconh ·d , .
eci º• ,01 acentuar a • . •
exportadores de produtos p . , . . concorrenc1a entre os países cialmente dentro dos grandes grupos. Como antigos países colonizados,
nmanos, impondo-Ih -
preço e depreciar ou quebra es \ender a qualquer herdeiros de aparelhos estatais criados pela potência tutelar, com elites
r os preços dos produtos de bas dirigentes formadas na escola do parasitismo e da corrupção, eles fi-
Os esforços feitos pelas empresas dos p , e.
. . cam praticament e sem meios de defesa diante dessas evoluções. A
d
ça os, acossadas pela con • . aises cap1taltslas avan-
, correnaa e pela •
fontes esse respeito, dois campos são hoje particularme nte importantes : a
altemati\'as e a reduzire cnse, a encontrarem
. m seu consum o de . biotecnologia e os novos materiais.
mas, IJveram uma incidência parti l energia e de matérias-pri-
pe lróleo. Menos de . cu armente espetacular no caso do Desde sua criação, em fins do século XVIII, as indústrias químicas,
, . quinze anos depois do . .
petroleo' (que na realid ad e, nao - primeiro "choque do cuja existência sempre foi baseada na atividade científica (a P&D),
, passou de .
sar a depreciação sofrida I , uma tentati\"a de compen- li\'eram como objetivo e como razão de ser, em relação ao movimento
pe o petroleo ao long d .
OPEP ,
esta complelame nle ultrapassada o e muitos anos) a de conjunto da produção capitalista, substituir as matérias-primas de

novo num mercado d , O mercado transfonnado de origem agrícola por matérias-pri mas produzidas industrialmente, por
. e compradores , e re .
reais, ao nível anterior a 1973 Q
O
~ çO recondUZJdo, em termos elas. A coisa começou com os corantes p ara a indústria têxtil, no
as outras , ·
bas e, o esforço das empres d· uanto
- matenas-primas de começo do século XIX. A partir dos anos 30, a petroquímica não parou
as os pa1ses do "C ..
de fornecer borracha sintética em substituição à borracha natural, ou fi-
custos de insumos io1· aliamente benefi . d en1ro ern reduzir seus
tecnológica. eia o pela evolução científica e bras sintéticas em lugar do algodão e do linho. Certas matérias-primas
naturais conseguiram recuperar participação no mercado; outras sim-
plesmente desapareceram, e seus produtores junto. No caso dos pro-
.
Algumas substituições de matérias- pnmas d dutos oleaginosos, o próprio "negócio" de um grande grupo industrial de
e base
q ue d estroem fluxos de co , . química aplicada, a Unilever, consiste em encontrar processos que lhe
merc10
permitam transformar urna grande variedade de plantas oleaginosas
· ·
Os paíse s CUJa mtegração ao intercâmb• . (araquídicos , soja, colza, coco etc.) em produtos industriais inter-
da dominação colonial . . 10 mundial deu-se na época mediários ou produtos de consumo final, para depois desencadear uma
ou sem1colomal abert
prcxiulos primários agricola . . a, como exportadores de concorrência desenfreada entre os países produtores.
d ' s ou mmera1s for .
os por esses desdobramento Es '_ am particularmente atingi-
, s. ses pa1ses sã A rernlução no domínio dos processos da vida, nascido com a
e lambem as vítimas prefere . . o os exPmplos típicos,
d ncra1s, da forma d dº . - biotecnologia contemporâ nea, aumentou consideravelmente as possi-
o trabalho enaltecida pela t . e ,v1sao internacional
. eona do comérci . t . bilidades desse tipo. A clonagem de coqueiros oleaginosas é um exem-
e deJX>1s neoclássica Um o m emacronal, ricardiana
. a vez que 1 plo disso: certas técnicas decorrentes da biotecnologia permitem hoje
o ugar que lhes foi atribuído de-
LZO aumentar o seu rendim ento e mecanizar a coleta. A Unilever foi um

221
dos agentes mais ativos desse desenvolvimento e a . .
ficiar dele Atualm ' pnme1ra a se bene- c usto de deslocalizações de segmentos das cadeias de produção, para
. . . ente, o produto de base que sofreu o contra oi e países com baLxos custos de mão-de-obra. Os teóricos da "nova divisão
ma.is forte dos desenvolvimentos da biotecnologia é o açúcar E! g p do trabalho" haviam fundamentado suas posições sobre a dupla
deu quase todo O d · e per-
merca o dos edulcorantes industriais (entre 75 a 80% hipótese de que os países do Terceiro MtIDdo possuiriam vantagens
d 0 consumo total de açú )
. car , em f.avor de substitutos produzidos ind comparativas duradouras, com base na mão-de-obra abundante e barata,
malmente, em especial us-
o xarope com alto teor de frutose obfd e de que as multinacionais promoveriam uma deslocalização bastante dura-
um processo enzimático a partir de amidos extraídos do m;lho lfo~ por doura dos segmentos intensivos em mão-de-obra, para esses países. Os e-
grande grupo alim - 1 um
agro- entar americano, a Com Products Corporation xemplos do setor têxtil e da eletrónica eram citados com freqüência.
que desenvolveu esse proc •
. essa, para aumentar suas possibilidades na
ongem. Mas esse grupo foi "d Os fatos vieram demonstrar que a primeira hipótese só se verificou
. • segui o por grupos açucareiros como o
mgles Tale and Lyle, apesar de engajado há mais de um , 1 ' na medida em que tais países se revelaram capazes de adquirir e utilizar
form · . . secu o na trans- técnicas e fonnas de organização do trabalho quase idênticas àquelas
. ~çao e comerc1abzação da cana-de-açúcar nas Antilhas brit' .
Nao e de admira ' arucas. vigentes nos países avançados. N~sse caso, os países de nível salarial
, r que a queda nos termos de intercâmbio sofrida pelos
pa1~es produtores de produtos primários tenha sido particulanne t baixo tomaram-se concorrentes diretos e perigosos. À falta disso, a ado-
notavel no que diz - . ne ção das tecnologias dos microprocessadores industriais permitiu repatriar,
, respe1 1o aos insumos agro-alimentares de bas (
capitulo sobre bº t e ver para os países avançados, indústrias que antes eram consideradas
a 'º ecnoIogia e o comércio, in OCDE, 1989b).
"maduras" ou muito intensivas em mão-de-obra (E.M. Mouhoud, 1993). As
. O m~smo. movimento está acontecendo no âmbito das matérias- o perações das multinacionais são caracterizadas pela elevada mobilidade
pnmas mmera1s e metalúrgicas. Aqui também a ini . ti dos investimentos, pela capacidade de redirecionar constantemente suas
indústli , · ' eia va vem das
as qu1m1cas ou aparentadas. A petroquímica e , . atividades e, no que diz respeito aos países do Terceiro Mundo, pela total
ofereceram à indústria da construça· . ·1 . . os_ termoplashcos
. fl , o ctvt matena1s mais baratos e de ausência de enraizamento em dado pais ou de compromisso com o
uso mais extvel Para os , d
. . - . paises pro utores e exportadores de cobre mesmo. São características que explicam os nwnerosos retrocessos sofri-
~:a substi~1ça<? equivale à perda de sua fonte de rendimentos e lev~ dos, nos últimos vinte anos, pelos países em desenvolvimento ''ricos em
a e,~conexao. A ~edida que as companhias que operam no ,cam mão-de-obra". Correntes de exportação desapareceram tão depressa como
dos . novos matenais" oferecem, às indústrias consumidoras de fe!: haviam surgido; supostas "vantagens comparativas" evaporaram. O IED
f~d'.do e de aço, substitutos sob forma de ligas não-ferro d mostrou a que ponto prevalecia sobre o comércio.
tena1s co
tadores :;pos 1 , b
.: mmeno de ferro que sofrem o mesmo dest1·no A
sas e e ma-
_os_ ~ ase de resinas plásticas, são os países expor-

responsab11id
. a d e nao
• pode ser abstratamente atribuída "à c1·e·nc1· ·
t,
As muitas formas de atuação das multinacionais
mca" mas d a e ec- no sistema de intercâmbio
, , a um eterminado quadro de relações sociais e de relações
entre pa.ises o qual longe d . d
d d •.- '. e aJu ar os países golpeados pelo perigo
e , ~sconexao a genr uma transição já difícil, exige deles que p Os poucos estudos já empreendidos sobre as relações entre o in-
a d1v1da e lhes · - aguem vestimento direto e o comércio exterior têm ve_rsado essencialmente so-
impoe a recessão forçada pelo "ajuste estrutural".
bre o caráter substitutivo ou complementar do IED em relação às
O problema da "desconexão forcada" não 1
cante às - - se co oca apenas no to- exportações, procurando responder à pergunta: o IED cria ou destrói o
e~rtaç°:s de matérias-primas de base. Pode resultar i uai- intercâmbio? São, em geral, trabalhos pouco conclusivos; mais pre-
mente de desmvestimentos decididos pelos grandes gru g •
de mudan t , . pos, em funcao cisamente, eles convergem para a idéia de que o IED destrói certos
1
ças ecno og1cas, que venham alterar as condições técnicas e-de tipos de intercãmbio (as exportações de produtos acabados a partir do
222
223
país de ori ge m da co
mp an hia qu e se int ern
tempo, cria ou tro s flux aci on aliz a) e, ao me sm
os. cuj a variedade exa o
min are mo s a seguir.
É inegável a dim en sã o
do IEO, substituindo-se
Centro das Nações Un às exportações. O
idas sobre Co mp an hia
qu e, no ca so do s pri nc s Tra nsn acionais estimava
ipa is países de ori ge m
razão en tre as vendas da s mu ltin ac ion ais , a
a pa rtir das filiais e as
da ord em de 6 para 4. exp ort açõ es che go u a ser
Desde então, a libe ral iza ,..;
im pu lso às exportações, ção co me rci al de u um a,
mas co m um a inf lex ão C')
du tos int erm ed iár ios . Qu nít ida a fav or dos pro - ci.
.,.,,
an do se e,xamina a situ
açã o geográfica das ven-
i... ~
das das filiais Japonesas
, verifica-se qu e é un ica . o ~ "'
o..

exp ort açõ es das filiais


Unidos, on de o IEO res
são criadoras de fluxos
de
me nte na Ásia qu e as
co mé rci o. Nos Estados
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po nd e aos imp era tivo s
list a e ao me do de res da co nc orr ên cia olig op o- •li .§
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ven did a no me rca do loc
am big üid ad es do Me rca
su rgê nc ia do pro tec ion
al. É igu alm en te o cas
do Único e da co ns tru
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Europa, em bo ra as .!
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co mé rci o internacional.
As mu ltin ac ion ais oc up
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am um es pa ço do mi na
nte no co mé rci o .a ~
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I!

8, avaliações moderadas u
tinacionais estavam env est ima vam qu e as mu l- ·2 ~ -o"'"' ~ e
olvidas em pe lo menos
40% do co ; t ~ ~ -g
produtos manufaturados
trial transfronteiras, be m
da OCDE. O desenvolvim
en to da
mé rci o total de
inte gração indus- "
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.. .. ..
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co mo o crescimento do k! 0.. 8. 8. .?;


su pri me nto de pro du tos s fluxos transnacionais
de '41 ....
)(
.....X .... o
)(

intermediários próprios E à
tamente conduziram ess
timativas mais recentes
e montante a um rúvel
às empresas-rede, cer-
be m mais elevado. As es-
8 • □• ~
u
z::)
foram publicadas pela
Report /995, do qu al reprod ONU no Wo rld lnvestme ~

A Ta be la 17 ap res en
uzimos um a ilustração
ta as div ers as for ma s
(Figura 2).
nt
..
e
o

qu e est ão en vo lvid as as de in ter câ mb io em


mu ltin ac ion ais . Essa tab
bio de tip o int er e int ela cru za o int erc âm -
ra- se to, ial co m o co mé
ind ep en de nte s e aq ue rci o en tre co mp an hia s
le efe tua do de ntr o do
es pa ço pró pri o int em ali
-
214
215
zado dos grupos transnacionais Enco
os quatro casos Como d . ntramos multinacionais em lodos Os cálculos que permitem uma análise mais sistemática desse
· gran es empresas elas
sua própria economia tanto d tr d , exportam, a partir de h•nômeno são aqueles efetuados por F.S. Hipple (1990) com base nas
. ' en ° o setor como no , • .
setonal, enquanto suas til' . , comerc10 mter- t";latisticas de comércio exterior americano. Eles mostram que, em
. 11ais ,azem O mesm ,
implantadas. Elas contam com m . º. nos pa1Ses onde estão 1988, nada menos que 99% do comércio exterior dos EUA envolvia a
menta de produtos inlermed·, . ;1tas redes J~temacionais de supri- participação de uma multinacional americana ou estrangeira, como
integração industrial trans J~osl. or ~m, as diversas modalidades de p,1rte da transação. Só as mullinacion~is americanas (matrizes mais
nac1ona antenonnente .
a um importante comércio "' t . exammadas dão lugar filiais) respondiam por 80% das exportações e quase 50% das impor-
m racorporativo" ou "' tr ,
filiais ou destas com a m t . N m agrupo ', e ntre as lações dos Estados Unidos.
- a nz. os casos em que modalid d .
graçao na origem ainda - d a es de mte- No que diz respeito ao comércio int.ragrupo (isto é, os fluxos or-
nao ce e ram a vez à " f.
timento" examinadas no 'tul s novas ormas de inves- ganizados dentro do espaço próprio "inte malizado" da multinacional),
Mas, na maioria das vez cap_1 o ~• trata-se de comércio intersetorial.
es, o mtercambio "intra . , cios três países sobre os quais ha~a dados disponíveis em meados da
de modalidades de int • . corporativo" e resultante década de 1980 (EUA, Reino Unido e-_Japão), os fluxos de tipo intracor-
'
,orçar a .rmport' · egraçao industrial transnacional, que vêm re-
anc1a do comércio de tipo intra-setorial. porativo representavam, na época, cerça de um terço do intercâmbio
do setor manufatureiro. Os dados mais recentes mostram que a por-
·r
O r,erentes Tabela 17 centagem baixou ligeiramente para os EUA, mas aumentou sensivel-
formas de intercàmb.0 d ..
' e que participam as multinacionais mente para o Japão. Em 1991 , 38% das exportações e 40% das
Intercâmbio entre importações japonesas foram intercâmbios "intragrupo".
companhias ind<:>p(mdentc,>s Intercâmbio 1
f;:::~~~~~~~~~-+---~ín~t~ra~c~o~repo~ ra~t1~·v~o'...__ __ No caso americano, essa diminuição dos fluxos intracorporativos

!comércio
1 ~xp?rtações das matrizes e das
j Ilhais para companhias
1 m~lependentes, a partir do país de
llnterc.lmbio intersetorial Sul-Non1, 1
efetuado_ num contexto intra- . 1
deve-se essencialmente à queda no montante das importações cativas
efetuadas pelos grupos estrangeiros, especialmente os japoneses. O nível
on1sem da multinacional e dos I c:orpora~vo em função de 1
1intersetorial 1 muito elevado dessas importações, em meados da década de 80, acar-
p,uses de implantação das filiais. u1teg!~çao ,:crtical internacional
1 (matcnaS-pnmas de base pecr.O 1 1
!'Jota: Parte do in tercambio pro~utos .igrícolas e procÍutos eo, 1 retou reações defensivas pelos EUA. Estas assumiram, em particular, a
1 l rr_it<~~torial Norte Norte e parte semi-acabados). forma de criação das chamadas normas de "conteúdo local", a nível dos
1~,gnrhcativa do comércio Norte-
!Sul do mesmo tipo depcnd d li mais importantes Estados da federação, desprezando as regras cuja in-
1g
randes· firmas comerciais
' e e
trodução nos dispositivos do GATI, na década de 70, fora imposta pelos
1 espcciali~adas Ccomo no campo
dos cereais) ou generalistas (por 1 EUA aos países em desenvolvimento. No caso, essas normas não inco-
1
. ex., os soga sosna).
modaram muito os grupos japoneses. Quando muito, acarretaram uma
1b<portaçôes das matrizes e das 1
1(ll1a1s <como no comércio !ntercâmbio de produtos aceleração da instalação de redes de suprimento de proximidade, seja
1intersetorial) mtennediários, de equipamentos e pela deslocalização de alguns de seus fornecedores de origem, através
1 de c?rnpone~tes entre as filiais da~ 1
j l lnterc:ân!~io resultante de rela ões multn~ac1ona!s (incluindo aq_uelas 1 do IED, seja pela criação de relações locais de terceirização.
1 Com . . de tercernz.=tçào intern.=tc.ional ç !1º pais de ~>ngem), em iunçào de
intra-~~~ial 1emrc a nh1'.1triz ou suas fil iais e rnK-gração mternacional Esse tipo de intercâmbio é acompanhado por fluxos cada vez mais
. 1c_omp.=tn ,as independentes horizontal ou vertical. '
importantes de suprimentos no exterior, recentemente estudados pela
1 !IOrnec1rnento de produtos
mtermerliários e de !ntercâmbio rel;itivo às entregas OCDE. "Há suprimento internacional (ou estrangeiro) quando uma em-
1 1 equipamentos, compra rle 1111_racorporativas de produtos
1 1componentes) aca~"'??5, entre íili.=tis e matriz <' presa compra, de wna empresa independente situada em outro país dos
dàs hl1a!s ~Ire si, visando a 2
'subsistemas', componentes ou matérias-primas transformadas." Os
1 comerc1.=tl1 7ação em diferentes
mercados.
Fonte: ~. Chesnais.
2. ST/ Revue, inverno de 1993, p. 19.
226
227
fluxos correspondentes, taJ como aqueles resultantes do intercâmbio
entre filiais no contexto de integração transfronteiras, "são importantes,
pois pressupõem o intercâmbio de produtos intermediários, e em con-
seqüência relações permanentes, sob uma ou outra forma, entre em-
presas manufatureiras implantadas em países diferentes. Refletem,
portanto, um grau de integração econômica internacional que, em geral,
estende-se muito além da simples relação comercial entre companhias
N
C\
C\
,-
~-' lfTTT- B
e
"'
-o

"'
E

1-
"'
-e
independentes". A Tabela 18 il{!stra o crescimento dos suprimentos in-
ternacionais de produtos intwmediários. °'
co
C\
1 ' ;
"'a.
C)
a

Nos países avançados, o que preaomina são os intercâmbios dire-


tos entre filiais, atualmente bem mais vultosos do que o comércio com
as matrizes. Isto reflete o processo de integração produtiva, em cada
um dos três pólos da Triade. Já nos países em desenvolvimento, pre-
dominam os fluxos provenientes da matriz e do país de origem desta,
para as füiais. Isto é conseqüência direta da liberalização do comércio 1
exterior. As conseqüências são bem conhecidas: aumento das impor- L
tações e déficit comercial dos pafses em desenvolvimento, redução dos
suprimentos locais, acarretando o fechamento de empresas e elevação
do desemprego, e enfraquecimento do setor industrial, onde houvera
algum desenvolvimento industrializante. A Figura 3 dá indicações signi-
ficativas sobre as divergências nas tendências do comércio intracorpo-
rativo, nos países avançados e nos países em desenvolvimento
dependentes.

Tabela 18
Suprimento de produtos intermediários em seis países da OCDE:
relação de suprimento internacional/nacional
(em porcentagem)
Início da
. década de 1970 Meados/iinal da Meados da
França década de 1970
década de 1980
21
Alemanha 25 38
n. d.
21
Reino Unido 34
16
Canadá 32 37
34 37
EUA 50
7
Japão
5
8
13 ...o
6 7
íonte: OCDE (1993).

228
2Z9
A formação de "blocos'' regionais elas randes companhias de eletrônica.
cos (General Motors e Ford) e P g. t 'dade do intercâmbio entre
, demonstram a m ens1 .
Na década de 80, o rápido crescimento do comércio mundial Fornece numeras que dr na categoria de mtra-
, que se enqua am
baseou-se, em grande parte, na intensificação dos intercâmbios intra. o México e os EUA, numeras Em 1989 42% das impor•
tiva ao mesmo tempo. '
regionais, particularmente na Europa e no Sudeste Asiático. Espera-se ~etorial e intracorpora . ri1· . americanas implantadas no
. foram feitas por , ia1s
que esse processo tenha prosseguimento na década de 90, em função tacões mexicanas . m . tracorporativas. Quanto às ex•
. d 90% destas importaçoes
da ampliação da CEE e de sua crescente transformação em zona de México, sen o . s 05 percentuais correspondentes são, respecti•
. .
livre comércio, da constituição do NAFIA, e também à medida que os portações mexICana , ·nctustriais americanos, o tratado
países do Sudeste Asiático fortalecerem os vínculos entre si e redu- vamente, 27% e 97%. Para os grupos i. tegracão industrial e fluxos de
zirem o caráter fortemente extrovertido de sua acwnulação. do NAITA vem apenas consagrar uma m . -,
. , rios haviam .constitwdo.
O vigor dos intercâmbios intra-regionais, superior ao dos fluxos en- intercâmbio que eles prop , · intra-regional
F Sa h wald ilumina o comercJ0
tre os pólos principais, é sem dúvida o fenômeno que mais atraiu a A Tabela 19, devida a . e e . ,'la, de•,e-se ter em mente que "a
• los Ao examma- '
atenção dos comentaristas e que mais lhes pareceu "contraditório" com de dois diferentes angu . . al t tal do comércio de uma zona
. • b·o
1 intra-reg1on no o
uma "verdadeira" mundialização. A formação de conjuntos ou "blocos" parcela do mtercam _ ao passo que a parcela
• d de integraçao dessa zona, •
regionais (a chamada "regionalização", embora o fenômeno se refira a varia em funçao o grau . 1d d também da evoluçao do
. • b. total mundia epen e ,
totalidades continentais) foi apontada, por certos autores, como impor- desse mtercam io no . 1 - do total" No caso dos paises
tante ameaça a tudo o que o GAIT deveria representar. m relação à evo ucao · al
comércio dessa zona e . . •• de seu intercâmbio intrazon
d umento da partic1paçao
A ''regionalização" é o resultado combinado das estratégias de in- asiáticos, o gran e ª . t do intercâmbio entre eles e d 0
tegração dos processos de produção - cujos efeitos sobre o comércio no total mundial resulta do cresc~enoo mo vale para a Europa, mas
rtacões totais. mes
exterior acabamos de examinar - e de processos propriamente políti- aumento de suas expo • d América do Norte, que nos
. - • bem inferior. No caso ª
cos. Em seu estudo de 1992, o Centro das Nações Unidas sobre Com- com uma dinanuca • penas os EUA e o Canadá• o retrocesso . das expor•
.
panhias Transnacionais propunha uma distinção entre os processos de anos . 80. abrangia a reflete as grand es dificuldades encontradas
tra regionais , para un-
integração regional por imp_ulso político, tendo como arquétipo o Mer- taçoes m o- acordo de livre . , . entre esses dois paises.
plementar comercio
cado Comum Europeu e a CEE, e aqueles em que o impulso seria
proveniente do IED. O estuqo inclui nessa categoria o começo de in- Tabela 19
tegração de certos países do Sudeste Asiático, onde foi inicialmente Intercâmbios inter-regi~n~is ércio mundial)
(em 0
. t ercâmbio total da zona e em 'º o com. _ _ __ _ _-,
¾o d o m
determinante o papel dos grupos japoneses, e sobretudo o NAFTA.
Não se pode subestimar o papel desempenhado pelas multinacio-
nais européias e extra-européias na negociação do tratado de Roma e
1 Zon;is
1F.xportaçoes

- 1986
intra-regionais
no total da 7ona

1991
Exportações intra-r~ionais
no total mun<l1ál

1979 1 1989
depois do de Maastricht, e sobretudo na criação de vínculos de inter- 39, 1 33,0 4,6 5,3
iéric.a do Norte
dependência de tipo industrial cada vez mais coercitivos. Esse papel
toma menos cortante do que poderia parecer a contraposição sugerida
1::~ érica Latina
l:11 ropa Ocidental
1
14,0
68,4
16,0
72,4
1, 1
28,8
0,5
31, 1
pelo Centro das Nações Unidas no tocante às vias de integração. ..
53,J 22,4 4,3 1,5
~u~opa Central e ex.URSS
Mas, efetivamente, o papel dos grandes grupos foi ainda mais determi- 37,0 46,7 6,J 10,0
1As1a
nante no caso do NAFTA. O Centro apresenta um impressionante con- África 5,9 6,6 0,3 0,2
junto de dados sobre a decomposição dos processos produtivos e a 7,7 5, 1 0,4 0,3
1Oriente._:I.V:.:\.: .:ed=-io
' _ __
deslocalização de operações para o México, pelos grupos a utomobilísti- ronte: Gi\l 1 1990. 19<JJ
230
231
- O "impe rativo da co mp etitiv
idade" ializados par a ten tar justific
i; tir acão com o fazem os
ar sua u ,z - '3 Est ados
Unidos em rela ção aos intr
Esses desenvolvimentos, um ent os do GATT.
com o um todo, tiveram o Grá fico 13
um nível mu ito elevado o efeito de alçar a ,
ind ica dor mais exato do gra . - o da balanç a com ercial
u de interdependên- Ava1,aça de um pais Z,
cia produti\'a e comercial seg und o a nacionalid d mp resas
entre países, que é o índice ade e s uas e
setorial". Co mo mostra o de com érc io ''intra-
Gráfico 14, no ~aso dos 1:xportações X
índice situa-se entre 75% paí ses da CEE, esse
e 80%: no caso dos EUA,
em vin te anos. atin gin do aum ent ou 30 pon tos
praticamente o mPsmo 1mport.1çocs M
europeus. A única exceçã val or que nos países
o é o Japão, JX>r um a sér
quais, o baixo grau de pen ie de raz ões, entre as
etração no país do lED de
fora.
Os estudos sobre investime
nto dire to tam bém levara
interessante trabalho de m, depois de um
O. Julius (1990), a um a
balanças comerciais, com nov a apr esentação das
base na nac ion alid ade dos
vez do qua dro geopolític
o usual (Gráfico 13). No
ativ os produtivos, em .-- -- - 8
de cada país que ele a5segu ent ant o, exige-se ainda
re o equilíbrio de suas con
da balança comercial está tas externas. O saklo
entre os indicadores "funda
quais os "mercados finance mentais" a par tir dos
iros·• exercem sua tirania
sobre as moedas.
Para fica rmo s só nos pai
ses da OCDE, os govern -
são por tan to ob rig ad os os desses países hpo rtaç oes X . (~• •·
_pai
's Z """u ndo a naci onal idad
-,- <· de suas cmv resa s:
a fin gir qu e co ntr ola m X' • X + A + B + G _ C. 11, .
dom ínio , ind epe nde nte me int erc âm bio s cu jo ond e. ,
X - Exp orta ções 11ad1don
nte dos com por tam ent os
dos me rca dos de . ·
z. .
a1s do pais ,,..r.vios inten)OS dos país es
câm bio , está em grande ., - v~n d"~ d.>< 111m < ~1'" " lf A< do
nd<' P-'" ' L "',-;
. do ,. zm:iara terc eiro
ele ,mp lant ~à0 -
parte nas mã os das mu ··1· · =tra n.,.. 1ras
jeit o que eles con ceb em ltin aci ona is. O ún ico li Exj><>rtações d as 11 ,a,s ~ - . ,,- do Is ra" 1 s pats es.
7 às filiais e-;11angelras ,mp 1.
para ten tar desatar esse 1 _ v~ndas das cmp ,~a~ nact
0na is zpa anta das n o pats 7 .
"guerra econômica•· em nó é apelar par a a '- • própr·,as filiais no exte rior .
qu e seu país estaria env
C = Exportaçou da, e111prMas do país .
a sua~
. 1 13d as no paÍ$ z p.ira
olv ido, ao passo que, 11 = Expo rt •,.,.o· -
.., " das filiais <'Strangeoras ,mp an o muno.lo 1000.
na ma ior ia dos casos, o paí
s, em tod a a sua história, _,_
a rel ações de inte rde pen nun ca est eve pre so lmportaçoes - , ,, do pais L S"" U"" " a nac1 alid ade de suas emp ,esa s:
·•
.
on
dên cia ind ust rial e com erc , -o
M = •" ' + E + f o . 1, ond
a pol íticas de com pet itiv ial Ati ram-se ent ão e: • _
ida de inte rna cio nal e de M = lmp ort a<;ô ~ trad ic1o . · a·s do pais Z
. . . don i . z prQ\ ,Cnl
mundo todo. exc c\o "" pais z.
atr atib ilid ade de seu . do _,_ '
ter ritó rio para as mu ltin
aci ona is estrangeiras, cuj
1 = Com pra< das
. ""ª"., 1·1· .pais
estr an= . .
KIIP S
tada s no pais
apressar, par a com pen sar a che gad a pr ocu ram f : ven das loca is uas 1 131
~
oras imp1an 7.
a deslocalização acelerada 1) = Importações cio pais 7 prov ~- de . prófJfias foliais no ex1erior.
em que estão em - 1 = ln,p orta çôe i d,1s iiloai~ e,ue nles 1sut~ as no pai< 7 prov cnie n\('S cio mun
penhadas suas pró pria s estr ange iras ,mp an a do todo .
empresas industriais.
.
As pol ític as de com pet itiv () h.ila nço com erci al s~u ndo a naci ooa lida de da<, emf l{es as ~r~ ;

po r seu ba ixo gra u de tran


ida de e de alrçttividade são
caracterizadas n· s X'. M' =(X + A+ 8 + e;• - C-1 11-( /\,\.+ E + r • O 1)
sparência. Tan to po r seu . . _ -'· · C
esp írit o que as rege, ela con teú do com o pel o 1o nte: T. Hat zich rono glou
, doe u
men to de trab alho da º"' tSa<> ué ..-nci '
·a lecn<>logia e Indú stria
s ferem os pre cei tos de <la OCU E.
de cla ram ad eri r os paí,;es li"T e-c omércío ao qu al
da OCDE. Sua imp lem ent
mu itas \·ezes, rec orr er açã o pr essupõe,
a me ios qu e se com pro . b t Ih política em torn o
me ter am ,mport~nci.1 dos instru111ento~ • ·d· • intc mac ion ais,
a ban ir, no 1un ,c?5 1al com o um todao, ª ª ª
} A
qua dro do GATT ou de out
ros ins tru me nto s inte rna cio " Rod ada Uru gua i e de qul ' trat am os ant c-
cis o ma qu iar essas polític nai s. Ent ão, é pre- d o <.Onlcxlo 11~t~mau0t ·ai
as, ou mo bili zar centenas .
rior m.ent e, explica m por a nnh tica comerei tomou-se• hoJe um elrm cnt o cons11tu-
de advogados espe- . , 1 pa11que
11\·0 ind1 spen s;1v
_ d.--
,.nha e me••~ n'O', qua is se pod e recorrer no qua d ro de um a
e na ~ ..

233
Não se deve con fun dir
o iníc io de desmanl elame
denciário, ou seja, das nto do Estado previ- Gr.íÍÍC<) 14
conquistas democráticas
de legislação trabalhista de tip o social em matéria Índ i ces .
d<' mt Nc ,,m . 1, 1or1<>'
. . hio int r,, .-,etnn,1
> º" 1iro d u to s
, saúde, assistência soc
desaparec imento, nos paí ial e en sin o pú blic o, com o
ses da OCDE, da int en:
das relações econômica en ção estatal no cam po
s internacionais e na sus
das co mpanhias, me dia ten taç ão à competitividade
nte instrumentos de pol
tecno lógica. O nível atu ític a ind ustrial e sobretudo
almente alcançado pe los
riais (Gráfico 1-l) signifi intercâmbios intra-seto-
ca que o terreno sobre
co rrência internacional o qual se desenrola a con
abrange, atualmente, o -
de ori ge m das com pa me rca do interno dos países
nh ias con co rrentes. Sen
competiti\,idade não po do assim, as políticas
dem lim ita r-se a simple de
portações. Elas inc lue m s medidas de ap oio às ex-
uma série de instrumento
lado de cá das fronteiras s que são aplicados '"'do
'' (a fam osa agenda bey
gociação no GATT foi ond the borders cuja ne-
pleiteada pelos EUA). Ess
perdedores e ganhadore a conco rrê nci a co mporta
s. Pressupõe urna ruptur
lados qu e fundamenta a radical com os postu-
m a teoria do minante
em bo ra be m poucos eco do comérci o internacio
no mis tas dig am isso pu nal,
blic am en te.
So me nte o Re ino Un ido
é ex ce çã o no toc an te
fer ida à co mp eti tivi da de à pri ori da de co n-
ind ust ria l. Ali , a retirada
se ao pla no ind ust ria l do Estado est en deu-
e tecno lóg ico , co m efe
ind us tria l e so cia l. itos destr uti vos no tec ido
Esse "ca so à p art e"
tale cim en to das, po siç de ve se r lig ad o ao for -
õe s do cap ita l fin an cei
Londres, no qu ad ro do ro bri tân ico e da Cit y de
for tal ec im en to mu nd ial
gão s bancários e fin an das po siç õe s do s ór-
ce iros em rel açã o ao
dé cad a de 80. O Re ino ca pit ali sm o ind us tria l,
Un ido pa rec e estar-se na
·•va ntagem co mp ara tiva ori en tan do pa ra um a
" baseada na po siç ão
fin an cei ra de Lo nd res co nq uis tad a pe la pra ça
e em suas ind úst ria s
pe las finanças, ma s é de ser viços. Op tou, po is,
um a escolha qu e po qu
pode m se penn itir, m íssimos países capitalista
es mo no int eri or da OC s
DE.
Em praticamente todos
os outros países da OC
garam qu e era imp era DE, os gO\·em os jul -
tivo contrabalançar o alto
grau de abertura para
o
polític;1 cik az de compe>
titividade. Serid hor n que
d-\d<', an.\logd à dos l:UA tod os os paí ses tÍH5S<'lll
, de r1s wda r 1J;Jra imp lem um a capac i-
juristdS cspccialiLados em ent ar a politic<l de wm pct
m,111ej ar inst rum ent os 1ur it1v id.1tk-,
monwa<.lo su,1 hdb1hdad< ídicos inte rna cio nai s. F.stc
> cm reco m.' f a um va.c;to s t&n de-
sitórk"ls tesp ec1 alm mte o leq ue de 1nr o1das pro teci
,mt ,du mp mg e d1wrsas outr oni stas tt,m-
quai~ têm com pro vad o su;i <IS charn,1das "c,a hag uard
utilirfdde, ranto na con sol ;i,;"), dS
te<.nológicos particulares, ida çao de pot rnc ,ais industr
com o par<'\ ilJudar ~o res iais<'
industriilis em dificuld;1d
cs.
Z34
exterior, qu e se seg uiu
ao no táv el (e em ce rto
reb aix am en to da s ba rre s ca so s, qu as e co mp let
ira s tarifárias, mo bil iza o)
cri an do , um a gra nd e nd o, e se ne ce ssá rio até
va rie da de de ins tru me
pe titi vid ad e de su as em nto s pa ra me lho rar a
pre sas , tan to na s ex po co m-
ca do int ern o, já tot alm rta çõ es co mo no me r-
en te esc an ca rad o à con
corrêrK.:ia est ran ge ira .
As exigên<.·; 1s dec orr
ent es deSSd obn gaç clo
rlito co m aqul'fa<; co rre po
~n de ntc s aos obj eti vos dem até ent rar em con -
[~. 1do pre \ 1denn,1no, de d<>smantclamcnto do
em
Isto é ma is válido ;11nda qu e mu ito s pó:11ses est ão ior1emer11e em pen had
no toc ant e à bas e atu al os.
tna l resulramc> le car de compe11tiv1dade ,nd
act ens t1c as esp ecí tic ,1s us-
por ane as. Essa compet da s tec no log ias con rem
it,vt<fade dL>corre do -
111\estimentos imateria mo ma nte e da qu ali dad
is, lx>m com o da organi e do s
capacidade> de coo per zaçclo das em pre sas e
;ir, pel o me no s tan to de sua
mu ito s países da OC DE qu ant o do nível sal aria
, ess a con tra diç àO ev1 l. Em
pú blic o em tod os os nív denc1a-se no r.:iso do
eis ed il pesc1ui~ púb lic ens ino
qUC'rem red uzi r dra sti a: de um lad o, os govern
ram ent r os gas tos e ení
nai s qu e têm po uc a sim raq uec N po siç ões tns titu os
p;i ua pel o neo lib era lism ao-
a:. ad \er tên oa s, espec1 o; de out ro. mu ltip lic am
.:ilmt>nte provt>nientes -se
tais me did as ter ão cm do s me ,~ ind ust nai s,
bre ve, efeitos negati\iOS de qu e
pri nci pal íat or qu e eíe sob re a com pet itiv ida de.
ti vam ent e vem est abe O
S<'\c>ros ao ní\.el do s inv lec er lim ite s cad d ve7
est tm ent os pú bli cos nec ma is
menSÕes est ruturais de ess ári os par d ma nte r as
dif icu lda de em íin anc compe1itividade, é a cn ~ fiscal do s Estado
di- capítulo 10
,ar os gdSlos prP par ató s e sua
Essa cn sc 11sc,1I ó re~ no s a mé dio e lon go
ultado pr. uo .
ma s tam bém da d1m1nu da qu eda das rec eit as írsca1s, de\ .id o a recess
m o vi m en to p ro p n. o .
,
bal ll'a ção íin,mcPira. Som
bta do :. tom are m em pré
içJo da taxaçt\o sob re
o cap
a-!.e a isso ., dim inu içã ita l, em fun ção da glo-
o dil5 poss1b1hdades de
ão,
o
da mo eda nac ion al aos
stim os. sem qu e sei a "co
loc ado em dú vid a" o val
os d a mundialização fina
sen cad ear , taqlJ<>s con
olhos do s "merc<1dos
tra ess a mo eda no s me
íindncerros", o qu e ina
or
de-
ncei ra
rca do s de c-âmbio
No Jap ão , na Al em an ha
, na França, e ho je tam
ala intervencionista e pro bé m no s EUA (co m a
tecionista do go ve rno Oi
eli tes políticas, de mo do nto n), os governos e as
gera~ ab stê m- se de ata "Po r ser em os 9u '! . tam os bil hõ es e bil hõ
lib era lis mo, qu e a qu alq ca r fro nta lm en te o ne o- es de
ue r mo me nto po de rá dó lar es de cap1ca1s moqu
vi; ;:: siw m, a cn da dia
, de um
ser -lhes útil políticamente, , e d
tan to no pla no int ern o
co m em su as re laç õe s pw s pa ra ou tr O, os me rca os r,_,u ...• an cei ros tornaram-se,
ma tic am en te" no sen tid mú tua s. Mas atu am "pr
ag- ao me sm o tempo,_ p oi' . ·uiz e jún do eco no mt. a
o de de fen de r ou ref orç ,e!~
mu nd ial , o qu e na o da • Jd er preocupanLe, da da sua
industrial, da qu al de pe ar su a co mp eti li\ ida de ua eon im<mtos e po
nd e su a so be ran ia pro pe nso o a enx ergdarr. os ac stnc
.
" líticas
O res ult ad o de lod os ess atr av és da s len tes e orman tes do me do e da e ob,ça . "
.
es de sen vo lvi me nto s é
pa rec im en to de tod as sim ple sm en te o de sa- .
Fm an na . 1 r,·m es 30 de set em bro de
as co nd içõ es sub jac en • 1994.
neoliberal do co mé rci tes à teo ria ne oc lás sic a ou
o internacional, e em
um a divisão inlem ac ion pa rtic uJa r da idé ia de qu e
al do trabalho, car act eri
da ras e ba sta nte divers zad a por especializ.açõe
as en tre os pa íse s, gar s
pa rtic ipa nte s saí sse m ga antiria qu e tod os os pa
nh an do no int erc âm bio íse s
Qogo de so ma positiva)
.
23 6
A esfera financeira representa o posto avançado do movimento
de mundialização do capital, onde as operações atingem o mais alto
grau de mobilidade, onde é mais gritante a defasagem entre as priori-
dades dos operadores e as necessidades mundiais. O investimento ex-
terno direto do setor financeiro representou a principal cidadela do lED
durante a década de 80. No entanto, é fundamentando-se no movimen-
to da globalização financeira, que certos autores julgam poder anunciar
o "fim da geografia" (R. O' Brien, 1992). Outras tantas razões tomam im-
possível o impasse sobre as dimensões monetárias e financeiras da
mundialização.
Mas a análise das operações e opções dos grupos empenhados na
m undialização da indústria e dos serviços exigiria, de qualquer forma,
uma incursão na esfera financeira. A capacidade intrínseca do capital
monetário de delinear wn movimento de valorização "autônomo", com
características muito específicas, foi alçada pela globalização financeira
a um grau sem precedentes na história do capitalismo. As instituições
financeiras, bem como os "mercados financeiros" (cujos operadores
são mais fáceis de identificar do que faz supor essa expressão tão vaga),
erguem-se hoje como força independente todo-poderosa perante os
Estados (que os deixaram adquirir essa posição, quando não os
ajudaram), perante as empresas de menores dimensões e perante as
classes e grupos sociais despossuídos, que arcam com o peso das
"exigências dos mercados" (financeiros).
Em compensação, no caso dos grandes grupos do setor de manu-
faturas ou serviços, a estreita imbricação entre as dimensões produtivas
e financeiras da mundialização do capital é parte integrante de seu fun-
cionamento cotidiano. Desde o começo da década de 80, a imbricação
e ntre as dimensões produtiva e financeira da mundialização tem-se
manifestado sob novas formas. Exprimiu-se, inicialmente, pelos novos e
variados meios que as instituições financeiras e as casas especializadas

239
-
colocaram à disposicão d
__ _ - os grupos, para suas operações internacionais valorizaçâ:> do capital, que deve gerar lucros como em qualquer outro
de aqmsiçoes e fusões. A "desintermediação" financeira permitiu que ,;etor. O problema, de ordem macroeconômica e também de ordem
nd
os gr~ e~ grupos colocassem títulos diretamente nos mercados fi- 1•tico-social, é que, de"ido às características próprias da moeda, tais lu-
nan~e1ros internacionais. Por fim, desde o início dos anos 90, a imbri- cros formam-se sucessivamente a transferências provenientes da esfera
caçao ,:steve marcada pelo notável aumento da importância das da produção, onde são criados o valor e os rendimentos fundamentais
operaçoes puramente financeiras dos grupos industriais. Trataremos (salários e lucros).
desses aspectos no capítulo seguinte.
A autonomia do setor financeiro nunca pode ser senão uma
autonomia relativa. Os capitais que se valorizam na esfera financeira
As finanças concebidas como indústria nasceram - e continuam nascendo - no setor produtivo. Eles
começam por tomar a forma, seja de lucros (lucros não reinvestidos
É no campo monetário e financeiro, talvez mais do que em na produção e não c onsumidos, parcela dos lucros cedida ao capital
qualquer outro, que foi maior a responsabilidade dos de empréstimo, sob forma de juros) ; salários ou rendimentos de cam-
governos, a
começar ~~los do Reino Unido e dos EUA, na criação das condições poneses ou artesãos, os quais depois foram objeto de retenções por
que permiliam ao capital concentrado atuar praticamente a seu bel- via fiscal, ou sofreram a forma de agiotagem moderna dos "créditos
p~er: com poucos controles ou freios. Foram necessários mais de ao consumidor".;. por fim, depois de quarenta anos, salários diferidos
do1_s seculos, desde o escândalo de Law até as medidas estabelecidas guardados nos fundos privados de aposentadoria, mas cuja nature za
apos a grande onda de falências bancárias dos anos 30 par · se modifica ao entrarem na esfera financeira, tomando-se massas em
. , a cnar um
con1u~to de regras enquadrando, tanto quanto possível, a atividade fi- busca da rentabilidade máxima. A esfera financeira alimenta-se da ri-
nanceira· e arti ui q ueza criada pelo investimento e pela mobilização de uma força de
, m P _ c ar, estabelecendo estrito controle sobre a criacão
d_e moeda de credito pelos bancos. Para acabar com elas, foram s~fi- trabalho de múltiplos níve is de qualificação. Ela mesma não cria nada.
c1entes uns vinte anos. Representa a arena onde se joga um jogo de soma zero: o que alguém
Um dos elementos exp1·1ca1·IVos, bem salientado por J. Régnier, ganha dentro do circuito fechado do sistema financ eiro, outro perde.
Usando uma expressão de P. Salama e J. Valier (1991): "o 'milagre da
numa interessante reflexão sobre a desregulamentação fmanceira
multiplicação dos pães' não passa de miragem".
decorre ~o surgimento, nos Estados Unidos do pós-g~erra, de um~
co~c.epçao das finanças como "indústria" (classificada, para fins es-
t~h:tlcos, no_ setor terciário). Essa concepção foi depois adotada pela O campo mais avançado da mundialização
C1t} _e culminou nas transformações do "big-bang" de 1985-1986.
Qualificar
. _ as finanças de "indústria" significa que "o c omerc10
- · de Sob o ângulo da integração dos mercados nacionais dentro de
dinheiro e valores é encarado como atividade transnacional ob· t mercados mundiais, que dominam os primeiros, quando não os subs-
de com r - I ' Je 0
pe içao, no Pano mundial, entre agentes que procuram ex- tituem completamente, em parte alguma o processo de mundiali-
p~orar_ da _melhor forma suas próprias vantagens comparativas. Elas zação é mais acentuado do que na esfera financeira. Em certos
nao sao diretamente encaradas como meio de melhorar O proc segmentos dos mercados financeiros, há quase completa integração
de aloc - d esso
açao e recursos no interior da economia britânica e sim _ d o s mercados domésticos, que há apenas dez ou doze anos ainda
tal como uma indústria de exportação - de explorar 'um certo estavam fechados para fora (tendo o início da abertura variado de
know-how, a fim de extrair uma parte da renda mundial" (R - · um país a outro) . É o caso do mercado de câmbio (o Forex) e do
1988 S egmer,
, p. 2-53). Em suma, a esfera financeira é um dos campos de mercado de obrigações privadas, onde as empresas, tanto as não
240
241
ban cári as com o as ban cári as. apli
cam seus títulos a curt o praz o (pa-
péis com erci ais) e tom am emp rést
imo s de praz o mai s longo. Em ou-
tros segm ento s, a inte rnac iona liza
ção é resu ltad o da estr eita inte r-
con exã o entr e os mer cad os nac iona
is, nasc ida da libe raliz ação dos
mov ime ntos de capi tais e da desr
egu lam enta ção. É este o caso , em
gran de part e, dos mer cad os de obri
gaçõ es púb lica s dos prin cipa is
país es da OC-DE, ou dos ''me rcad os
fina ncei ros eme rgen tes" ; uma par-
cela , mui tas veze s elev ada, dos bôn
us do Tes ouro adju dica dos está
nas mão s de inve stid ores estr ang
eiro s, que pod em liqu idar sua s
posi ções , a qua lque r mom ento , nos
mer cad os secu ndá rios (os mer -
cad os de obri gaçõ es): em cert as sem
ana s, essa parc ela pod e ser de
mai s de 40% , no caso da Fran ça o u "· d .. dado s n3o-c:h~ponh:eis
dos EUA; no caso do México, che - ado tre reside ntes e não-u><;iclentes
• Com pras" ' ~endas de titulos. por atac
gou a atin gir 90% , em cert os mom
ento s. É tam bém o caso dos mer - r onte: Banc o de Compc,,s,1ções .• ~ 62º l<apport annu d, 15 de junho
lntem ,1oon a ,s. <ie 199"-
cad os bol sist as, que ent rara m
tard iam ent e num pro ces so de l e de tran saçõ
mun dial izaç ão (som ente por volt a 0 cres cim e.nt ~ fe~o men al : :rv es, que aco m-
de 1985 -198 6). Entr etan to, nos últi- = com as "ino vaçõ es financei-
mos ano s, os gran des inve stid ores
fina ncei ros (fun dos e com pan hias
pan hou a mun d1al izaç ao, tem
ras" , poss ibili tada s pela eli~ inaç ão
ª t ões e con trole s
de segu ros) detê m, em suas cart eira das regu lam en ;~it os da aber tura
s de inve stim ento s, açõ es emi tida s acio nais ante rior men te exis tent es, qua
sob re o con junt o das praç as bols istas n . nto com os . ·ro
, incl usiv e aqu elas dos "me rcad os 1 o tal O volu me de tran saçõ es refle
eme rgen tes" , ao mes mo tem po que inte mac 1on a com · . te, em pnm e,
, em mui tas praç as, o mon tant e lilud e assu mid a pela s ca d e,as
. de ope racõ es long as e im-
das açõ es emi tida s por firm as estr luga r, a amp ·
f , ·1 pirâ mid e de créd itos , .
ange iras é sup erio r ao das açõ es bric adas , e pela com plex a e rag1(b e deb1tos que
emi tida s por resi den tes no país . A liga m os prin cipa is ope rado res fund os de pen são, fund os
inte graç ão fina ncei ra inte rnac iona l anc os,
foi aco mpa nha da, com efei tos pelo
men os igua lme nte imp orta ntes, mút uos, inst ituiç ões espe cial izad as).
pela abe rtur a dos dife rent es tipo s de
mer cad os (me rcad os de cãm bio,
de créd itos , de açõ es e obri gaçõ es)
e foi favo reci da pela cria ção de A hipertrofia da esfera financeira
mui tos nov os prod utos fina ncei ros.

Em 1992 , os fina ncia men tos inte Um a das que stõe s imp orta ntes que m con siste em aval iar
rnac iona is líqu idos (cré dito s se co1oca . .
ban cári os, euro -ath ·os, obri gaçõ es a rela ção exis tent e entr e essa explosao . d ovim ento s fina ncei ros m-
inte rnac iona is) regi stra dos junt o ao _ ~s 11? d at·1vida des prod uti-
BIS (Ban k for lnte mat iona l Settleme tem acio nais e o movm~e . t de mun d1abz acao as
nts - Ban co de Com pen saçõ es n_o
tern acio nais ) alca nçav am 4,9.J trilhões In- • esci men to das ativ idad es
de dóla res, con tra 1,23 trilh ão de vas. A acen tuad a dive rgen c,a entr e a
t ~ de c r e f l e x o dec
dóla res em 1982. A Tab ela 20 dá indi . .d d prod utiv as forn ece um r erto
caçõ es sob re a inte rnac iona liza ção fina ncei ras e a das ativi
. d au
es ª . • rmo s da

dinâ mic a
das tran saçõ es com açõ es e obri gaçõ
es. Os outr os segm ento s do mer - mui to imp erfe ito, o grfi de auto nom ia ou, se qu1se
. s Pod e-se med ir a amp litud '
cad o regi stra ram evo luçõ es anál ogas , • dos mer cad os mance1r o . e dess a di-
. Ainda por cim a, a aber tura tom ou prop na . nto do inte rcâm bio com erci.al, o
as fronteiras cad a vez men os esta nqu verg ênci a com para ndo ~ cres c1m e dos
es, com "inte rcon exõ es" asse gu- ões nos mer cad os de cãm -
ra.d as pelo s nov os inve stim ento s fina fluxos de im•e stim ento dire to e o das
ncei ros e pela prog ress iva "de- tran saç t
sesp ecia liza ção" dos ban cos e insti . (f bela 21) Os mer cad os de cam ~ b'
io - o o segm en o d 0 mer cad o
sa
tuiç ões fina ncei ras. b10 a .
fina ncei ro glob al que regt.stro u o mai or cres cim ento , pois ao long o da
242
2-U
l c1belt1 21 acim a, com porta trans fe rê ncias efetivas d e
rique za par~ a esfe ~ fi.
Com paraç ão entre o cresc imen to (de 1980 a 1988 nanc eira. A segu nda, da qual falar emos mais
) adian te, dlZ respe1~0. a
d os fluxos comerciais , finan ceiro s, de investimen
to exter no diret o, proc essos d e cresc un· e to de ativos cujo "valo r" é larga ment e fictíc
e o c rescim ento do PIB nacio nal dos paises da n
OCD E pode ndo desm oron ar tão ou mais rapíd amen . io,
.
(coeficiente multi plica dor) te do que s~ consl!tu1u.
1 Pl~l ad~i te" 71 ~o~~~iai~ ~, Tra~:
~~!d~ ~ 0
1- ~~ute°ó -1 Emb ora seja atua lmen te impo ssível quan tifica
· ti
esses d 01s pos de meca nism os na c riacã
. o dos
r proporc1onal ~ent :
ativos fmance1ro s, e
~ - ~<; - -1 -=- --=_-1 - a,s--=-_-,
2
de cimb io _I nece ssári o te ntar distingui-los no plano analítico.
rontc-· ( S.-,1.,t, IJ'l?II ,
3,'i=
_I Cr.Mi co 14a
,1 p,inir cl<•,t~ch~ do G•\11 , Rb, ()('()l .
Cresc imen to do capital fixo e dos. ativos finan
ceiro s (1980-1992 )
(percentual de crescimento anual real)
déca da de 80 o volume de transações multiplico
u-se por dez. 1 A funçã o
principal dos merc ados de câmbio deveria ser. <>.~1..
em princípio, facilitar os
acert os do intercâmbio comercial. Ora, estima-se "'
que o mont ante das tran-
saçõ es vincu ladas ao com é rcio inte rnaci onal \ 2,bx
de merc ador ias repre -
senta ria apen as 3% do mont ante das transações
diárias nos merc ados de
câmbio, que em 1992 (por ocas ião do último levan
tame nto realizado pelo
BSI) já ultrapassav am 1 trilhão de dólares
por dia ( 1,5 trilhão em 1995).
Londres é a praça mais importante, que realizava,
e m 1992, 30% das lran· ~ormaçâo /\livo<.
saçõ es de câmbio, seguida por Nova Yorl< (cerc
a de 20%). bruta de firMn< <•trOS
e apitill fixo acumulMlo~
Outr a mane ira de apre ende r a hipertrofia da esfer privado,
a financeira e sua
"auto nomi a'· relativa é com para r as taxas de naOC Df
c rescime nto dos ativos fi-
nanc eiros com as do inves timen to real, o u do fonte: l)ados w OCDE
PIB. Entre 1980 e 1992,
o cresc imen to dos ativos finan ceiro s acum
ulado s foi mais de duas
veze s e meia mais rápid o do que o da form ação
de capital lixo (Gráfico Gráfico 14b
14a), de forma que, em 1992, os ati\'os acum Projecão de crescimento dos ativos finan
ulado s eram o dobr o do ceiros (1992-2000 )
que o PNB acum ulad o de todo s os países da • (em bilhõ es de dólar es)
OCDE juntos, e treze veze s
mais do que suas e xpor taçõe s tota is; no ano
2000 , esses múlt iplos Situ,1ção Pro1c.,çao para
pode m cheg ar, respe ctivam ente, a 3 e a 17 cm 1(}<)2 o ano 2000
(Gráfico 14b). Por detrá s
dos dado s apres entad os sinteticam e nte por rotai úe atrvos
esses gráficos, estão duas íin,111< í'í ro<, SJ<;,.:t81 lx SM.8 12 lx
série s de meca nism os de natureza distinta.
A prim eira, que defin imos acuin ulaúo ~

1 O, m,:,,ca dos d<• câmb io ÍOl'ma111 u q11ce rnro


"(.'C.Onom,a rntcrn arional de ~pccu laçao ", qu<• se
C",pccuLtç.'io pode !-<-r dciini da como uma Op<"fd
do qlK' H. Bourg umat ( l 'J'>·O cham a de
~talw leccu em succss ivss l'tafMS. A
Produ to bruto na
ár.,ad a OCUI -
1 lb,770 2x 27,60 0 3X

alc-rn do luno que pode gl'far. H. Hourguinal rcferc-


çao que nào l<•m ll('flhurna iinalrd adc
i--.1lcJor, l 'J39, onde se traia de opera ções "ndO virxul
•5e a urna d<•finrçJo de• auloria de
ada~ a algumc1 vant,1gNn relativa
[xp()rt,1çocs da
OCDE 1 2,646 l)x 1 4,328

ao uso do bem, a qualquer tr,msíormaç -io ou


<l a lguma tr,msforéncic1 de um 111(.>r
0111ro". Tais opcra çúes, d1l Bourg uinat, cado a
"i,uem int('f\ ir loma<:as de posiç.:to motivad,1s,
1umlarrn::'fltalrnente, r<•la expec tati va de uma ahcra íõnte: o~clos d,1 OCI>[ ; pwjeç. ,o de McKin
ç-io de preço do ari vo." scy (1994>
Mais uma vez, os termos "autonomia", "autonomização" e tc. de- os dois extremos" (livro 111, capítulo XXIV). "O lucro dos banqueiros não
vem ser utilizados com muito cuidado. É verdade que parte elevadís- passa de uma retenção sobre a mais-valia" (Ibid., capítulo XXlll), e a
sima das transações financeiras verifica-se no circuito fechado formado capacidade do capital gerador de juros de fazer valer suas exigências
pelas relações financeiras especializadas. Mas isso não quer dizer que na partilha da mais-valia vai depender do grau de centralização e de
não existam vínculos muito fortes, e sobretudo de grande alcance concentração atingido pelo capital monetário.
econômico e social, entre a esfera de produção e circulação e a das fi- A globalização financeira elevou essa capacidade ao grau mais alto
nanças. A esfera financeira nutre-se da riqueza criada pelo inveslim~ulu e que já leve. A '·retenção sobre a mais-valia" tem a forma imeillala c.le
mobilização de uma força de trabalho de múltiplas qualificações. Uma uma punção sobre os lucros industriais. Mas as empresas, principal-
parte, hoje elevada, dessa riqueza é captada ou canalizada em proveito da mente as grandes. têm meios de transferir o peso dessa punção sobre
esfera financeira, e transferida para esta Somente depois de ocorrer essa os assalariados. Todo mundo pode reconhecer a situação que conhe-
transferência é que podem te r lugar, dentro do circuito fechado da esfera cemos desde 1983-1984. A acumulação de um capital monetário con-
financeira, vários processos de valorização, em boa parte fictícios, que in- centrado também o leva a querer multiplicar as oportunidades de obter
flam ainda mais o montante nominal dos ativos financeiros. lucros puramente financeiros.
O autor que, a partir dos fatos observados na década de 1860-1870 A partir do momento em que os bancos e as outras instituições fi-
mais claramente percebeu a capacidade do capital monetário concen~ nanceiras não se satisfazem mais com suas funções, importantes mas
trado de viver às custas da esfera de criação de riqueza, foi Marx. Ele subalternas, de intermediação financeira e de criação de crédito a serviço
con~tata .ª formação de "uma massa organizada e c oncentrada de capi- do investimento,3 elas vão necessariamente abrir a transformação da es-
tal-dmherro que, ao contrário da produção real, está colocada sob con- fera financeira em campo de oolorização específico para operações de
trole dos banqueiros" (livro lll, capítulo XXV). Essa massa permite que 4
novo tipo, suscetíveis de proporcionar mais-valia e lucros financeiros.
esse capital deb(f• de ser simples elo da valoriz.açãu do capital na pro- O segundo grande mecanismo de ln:1.11:.ferêucia de riqueza para a es-
dução industrial, para se constituir em força independente e ninho de fera financeira, já identificada por Marx mas cuja importância é infini-
acumulação de lucros financeiros. A referência aos bancos é conjuntural. tamente maior hoje, é o serviço da dívida pública. Em seu mais recente
No começo do século XX, Hilferding pôde ampliar essa problemática no relatório anual, a UNCTAD ressalta que, em decorrência da securitização da
senti~o de uma interpenetração entre o capital bancário e o capital in- dívida pública e da negociação desses títulos nos mercados de obrigações,
dus~al, da qual uma das formas contemporâneas são os grandes gru- "os rendimentos provenientes de juros, que haviam sido quase eliminados
pos. Atualmente, os maiores ninhos de acumulação de lucros financeiros durante as 'décadas de anos dourados'(.-) começaram a aumentar rapida-
são os grandes fundos (fundos de pensão e fundos mútuos). mente. Apareceu assim urna nova classe rentista. que mie da detenção de
Independentemente de seus aspectos de agiotagem, como capital
que rende juros, o capital monetário concentrado representa "a forma mais 3. Pode-se lembrar aqui a posiçao de Schumpeter: ··o crédito é essencialmente
alfonada, mais fetichizada da relação capitalista", a forma D-D' (isto é, criador de poder de compra, em vista de sua concessão ao empresário,(...} ele carac-
aquela em que um capital D se fecunda e gera D', sem passar por um teriza o método pelo qudl se executa a evolução económica na economia nacional
aberta (. ..). 1\ concessão de 1al crédito íunciona corno uma ordem à economia na-
investimento produtivo). Essa é a fonna de "o dinheiro que gera mais di- cional de se sul,meter ,ios desígnios do empresflrio, como uma nomeaçao sobre os
nhe~ro, um valor que valoriz.a a si mesmo, sem nenhum processo [de pro- bens de que ellcJ pr~'.(·is,i, c,01110 iideiLrn 11b~:., iu d<IS ío, ças produtivas." Mas, urna vez
obtidos os frutos do investimento e reembolsado o crédito, é preciso que ele seja apa-
duçao e de comercialização de mercadorias] que sirva de mediação entre gado das contas do banqueiro ( Théorie de l'évo/ution économique, cap. 3).
4. O termo "lucro financeiro·· é aqui t'lnprcgado no sentido que tem nos mercados
das bolsas, de ·•revenda de um alivo íinanceiro a um preço sup()rior ao seu preço de
2. Ver capítulo seguinte.
compra."

246
247
ativos da dívida pública (···)'' (U NCTAD 1995 "produtos de rivados", o segmento de mercado mais importante por seu
p 19-l) B ti
arquétipo do rentista é o • ' : . e vamente, o
~"--· . , . . que capta seus rendimento s por via fiscal volume, o mais imprevisíve l em seus movimentos e o mais devastador
ta1x Ja o identifica. ao apontar q
- . . . ue •.a acumulaçao
. do capital da dÍ\ida· em seus e feitos econômicos .
publica s ignifica simplesmen te o desem·olvim ento de uma classe d
Cinqüenta anos depois da criação, na conferê ncia de Bretton
credores do Estado, que estão autorizados a tirar . e
tas quantias d . • para si mesmos, cer- \.Voods, do sistema monetário que proporcion ou o c rescime nto
ke . ' o m~ntanfe de unposfos" (livro III, capítulo XXX). Na linha econômico do pós-guerra. e 23 anos depois da dissolução desse
do~11es1~a. ~ambém se pode ressaltar, como J.P. Fitoussi. que "os c re- sis tema. por decisão unilateral dos EUA, a compreensã o da situação
es nao ~ivem de sua própria atividade, e sim da dos de\·edores a tual pressupõe voltar aos \·erdadeiros ··elementos fundamenta is" em
Quanto maior o poder d os cre<1o res, mais a atividade
é onerada por· matéria monetária. É precis o e nte nder o que significam a trans for-
: :to~ e~evados, qu_e a tomam mais lenta. Assim, todo agente, toma ndo mação das moedas e m ativos fina nceiros e a ausência de uma moeda
prest1mos ou nao, participa da sustentacão dos credores pois
que funcione com o moeda internaciona l. no ple no sentido do termo.
preços de \'enda dos produtos incluem uma -parcela maior o' os
que caberá a eles·• (Jggs , u menor, A moeda não é apenas um instrumento-veículo. A existência de
uma dime nsão Norte-Sul ' ~- l 4~). Esse, pr~esso tem, evidente mente, uma moeda capaz de garantir uma ancoragem efetiva para as tran-
d . as e lambe m miemo aos próprios países
a ~?E. o que constitui uma das característic as novas do período que sações internaciona is, como um todo. é indispensável para garantir às
relações econômicas o máximo de estabilidade que o sistema capita-
;e m,:ªº~ no co~~ço da década de 80. Como obseiva friamente o
~~• os_ t1tulos p~b-licos representam a espinha dorsal dos mercados de lista permite, e para facilitar a coesão das relações sociais internas. Até
o :gaçoes mund1a1S. Seu volume de transações supera. de longe o de 1914, o ouro foi uma moeda internacion al no pleno sentido do termo,
qu quer outro segmento dos mercados financeiros isto é, •·o equi\·alente geral'" que concentrava as fw1ções de padrão de
_'
mercados de ci.mbio·• (FMI, 199--1, p. 3--l). ' com exceçao dos referência, de meio de pagamento e de instrumento de enlesoura-
me nto. Os meios de pagame nto emitidos durante <1 Primeira Gue rra
Mundial, bem como a dívida acumulada pelos principais Estados beli-
Cinqüent a anos depois de Bretton Woods gerantes para financiar os combates. acarretaram a c rise do padrão-
ouro, antes que a c rise de 1929 viesse enterrá-lo definitivame nte.
tabel~~erru bada do sistema mone tário inte rnacional que havia sido es- O sistema de Bretton Woods foi baseado na convicção de que era
'aJ ido ao fim ~a Segunda Guerra Mundial está no âmago de tod necessário restabelecer, da fom1a mais completa possível. a existência de
a • ta de regulacao
por etapas não
• ultenor.
· A morte desse sistema em 1971 1 ª uma moeda internaciona l com todos os seus atributos. O sistema adotado
• , evou.
inlemacio~a l das :me~te ao desaparecim ento de qualquer ancorage m conferia ao dólar um papel central, ao lado do ouro e, por assim dizer.
de c· bº oe as, como também à transformaç ão do mercado representan do a este. O dólar estava atrelado ao ouro por uma taxa de
. am ia em um espaço onde moed as e ali.vos fina nceiros est - . conversão fixa, negociada inte macionabnente. Por sua vez. as taxas de
d1ssoluvelm ente imbricados. ao m-
câmbio de todas as outras moedas e ram determinada s lendo o dólar
Hoje em dia, todas as moedas. inclusive o dólar (e mesmo como referê ncia. Essas taxas eram fixas, podendo ser alteradas somente
Estados Unidos não sofressem as conseq··. . em função de desvalorizaç ões ou valorizações decididas pelos Estados.
, uenc1as como todos os que os
outros
pa1ses),
- voltaram a se confundir entre os a t",vos fimance1ros,
• O sistema de Bretton \Voods refletia a hegemonia absoluta dos
cuja valori-
zaçao resulta de sua circulação (\·enda e compra
de e , r t d
, orna a e concessao- EUA na concorrênc ia inte rcapitalista, bem como a necessidad e de
d. mpres imo) e das variações de seu valor relativo. Essa circulacão preencher as enormes necessidade s, he rdadas da crise de 1929 e da
a-se nos mercados de câmb·10. que -
sao. ao lado dos mercados -de Segunda Guerra t\lundial. para financiamen to da acumulação . O atrela-
2411
L-19
mento do dólar ao ouro, mesm o que indire to .. que o sistema
. ' penn,t ia, bem ou mal Sem freios, graças ao desmo ronam ento das barreiras
que este alicercasse um sistem fi entos de liquidez
• a mance1ro e m onetár i o m
_
.
temacionaJ, de Bretton Woods erguera provisoriamente. os instrum
que comJX>rtava a existê . d e autond pública deram
nc,a ades est t . d
a ais, otadas de instru- criados pelo governo americ ano para financ iar a divida
mentos que lhes possibil"t Desde meados da
i avam contro lar a criacã0 d - . inicio à econo mia do endividamento (a debt econo my).
rar a relativa subord ina . d . . . . - e crédllo e assegu- rísticas estru-
- . çao as mstitwçoes financ ei ras e do capita .
l de década de 1970, ela se tomou parte integrante das caracte
emprest1mo às neces sidade d . . de muitos outros países,
. s o ln\'est imento indust rial 5 Em turais da econo mia americana, primei ro, e depois
199-t, com nte acumu lado da
o distan ciame nto de \"árias d - d entre os quais a Franç a Nos Estados Unidos, o monta
efica as, podem os obser var que esse famílias (crédi to
períod o de subord inacão foi,· dí,..ida pública, da dívida das empresas e da dívida das
• ao rm das contas muito b reve. Tennin ou
, 1970 e já atingia
em meado s dos anos 1960
· com as prime iras. g ran d es especulações ao consumidor, leasing etc.) era 1,9 trilhão de dólares em
- americana também
contra a libra esterli na
·
A r,
ormaç ao do merca do d e eurodo-lares, que -t trilhões em 1978. ~las a economia de endivi damen to
elo no nascimento
exami narem os poster io rment e, e, uma etap - alimen tou o norescimento dos euromercados, primei ro
tuição da forca do capita l , . a impor tante na recons ti- dos todo-poderosos mercados financeiros de hoje.
• monet ano Reflete tamb , a degrad ação da
rentab ilidade do capita l .· em
compr ometi do na produ - be como o fato
de que os EUA- deix·am d e ter uma pos, . -
• d
çao, m O alcan ce da formação dos euro mercados
outros países e ao m . çao m ustrial incont estável pelos
, esmo tempo . deixam de . de endivi da-
.
cump nr o papel que lhes Os eurom ercad os intern aciona lizaram a econo mia
tinha sido atribuí do em Bretto n Woods . Sua forma ção é o
men to, verda deiro cânce r da econo mia mund ial.
ocesso que colo-
O fim do gold excha nge standa rd decret ado urulate . prime iro passo, sem dúvida o mais decisi vo, de um pr
, ralmen te pelos hoje o sistem a mundi al
EUA em agosto de 1971 , cou, prim eiro os países do Tercei ro Mund o, e
• e produ to dessas cond· -
O princip al fator intern o de exc 1usrva . ,çoes como um todo. como tal, à mercê do capita l rentista.
, resJX>ns bºtid
explosão da divida federal con1ug . a • ade dos EUA, foi a Como sabemos, Keynes fechou sua Teoria geral precon
izando a "eu-
, ada a um défi •t
de pagamentos. A criacã o d ic1 cresce nte na balanç a tanásia" do capital rentist a Numa passagem import ante
que se procur ou
• esenfr eada de meios m tá .
. one nos para finan- bem mais baixa
aar a emissão de bônus d T insust t' 1 enterrar, ele se posiciona a favor de "uma taxa de juros
o esouro tomou aria que o uso dos
da parida de dólar- ouro A partir d en ave a manut enção do que a que tem reinado até hoje ( ...). Isto não signific
e 1965, o duplo déficit do orçam ento que o retom o que
e dos pagam entos exte. . bens de capital não custaria quase nada, mas somen te
mos, agravado pelo fin iação devida ao desgaste
Vietnã, traduziu-se por emisso· d e d alares , anc1amento da guerra do se obteria teria de cobrir, quando muito, a deprec
es cuja - erar os riscos,
pleiteada imedia tamen te 1 • , conve rsao ao ouro era e obsolescência, e uma certa marge m destinada a remun
pe os outros paises As (...). Tal estado de
estavam se esvaziando A . , . reservas de Fort Knox bem como o exercí cio de habilidade e julgam ento
. •mJX)ss1vel conve rsão do d 'Jares em ouro, à coisas seria perfeitamente compatível com certo grau
de individualismo.
, •, s o
parida de decidi da em Breu de renda e, com
on vvoods ou próxim a a esta, eviden ciava Mas não deixaria de implicar a eutanásia de quem \-ive
todas as contra dicões d ld
o go excha nge stand a d ista, de tiJX) cumulati\'O, de
- que haviam sido b.so, a eutanásia do poder opressivo do capital
analisadas por liberai s com J Rueff, consultor de r.De, G U
o . au e, e por críti- explor ar o valor conferido ao capital por sua escassez·•.
cos que rehind ica\·am a análi marxis .
rio, assis-
se ta da moeda . 6 Não se praticou a "eutanásia" do capital rentista; pelo contrá
opressivo, mais
tiu-se ao seu renascimento e ao crescimento de seu pcxler
.. ismo. Este fato é,
5. Num lr\TO ,obre pohtica monet.iiri;i S u do que em nenhu m outro mome nto da história do capital
demons trou os lunites
drssc controle- e ilnal,~ou il falsa aparên~ ia ~:runl, ~!' ( 19731 evidentemen te, uma das conseqüências da longa fase
de crescimento do
nova,nc rue s d~ h .. s pol,i,c.:1s mon<>lárias.
6. Ver o sucess o, mas també m
-· ' 8 run 011, 1973e 1986. pós-guerra. A partir do começ o da década de 1970,

251
as con trad içõe s da acu mul ação trad
uzir am- se, entr e outr os aspe ctos , T,1\:,ela 22
num a que da da rent abil idad e do
pen den tem ente da rece nte cen tral
mon etár io, os capitais industriais saír
capi tal inve stid o na indú stria . Inde
izaç ão e con cen traç ão do cap ital
- Cres cim ento dos eu ro~ do s (em b"lh~ d oar
- -- - -
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Dim en"" º

~ s _ e_
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~ [ u ro lóta r~ Pm
º,•~n~satO
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am em bus ca de form as de valori- 1 l)rut, 1 •<Jll" <1 b t ~
rnonet<1nil dos
zaçã o pura men te financeiras. A form
ante rior , ofer eceu -lhe s poss ibili dad
ação dos euro mer cado s, na d éca da
-- - - -~ - \ - ~ o 7 t ;/
LUA (t\\2)
_ . _86_1 _ _ I
es sem prec ede ntes . J')73 1 ~L,

~tas fora m cert os gove rnos , bem iden


tificado-; que perm itira m que o
1974

1975
}<)S 1 220
25~
1 7l>
78
1 908
1.02 3 l
capi tal mon etár io con cent rado com 1 485 1 320
eças se a se livrar dos entr aves das
le- 1976 1 S'JS
1 80 1 1 .164 1
gisla ções naci onai s e a e-'-pandir-se
sem mai s ter de se sub met er a med
\ , e, 1.28 7
das de cont role e enq uad ram ento i-
da c riaç ão de créd ito. As con heci das
má'Õ mas da teoria banc ária clás sica
. las com o "crédito s gera m dep ósit os•· ::~ 1 ,:;~ , I ;:: \ :: 1 ~:: : 1
ou '"o c rédi to alim enta o créd ito" .
pod er dos banq ueir os de cria rem mei
e\id enc ia,a m, ao mes mo tem po,
o 10&> 1 1.m 7
i~. \ :: \
~:~
os mon etár ios e a nece ssid ade de 1 1.1% 1
que os ban cos cent rais os cont rola 5sem
. A cons titui ção obri gató ria de re-
'ien·as, e m nível dete rmin ado pelo Ban
tabe lecid o; a obri gaçã o de desc onta
co Centra~ às veze s lega lme nte es- :::~ 1
2.18 6
li ; ::~ li :: li ~::~ li
r os títulos e miti dos além de um cert 19!\4 2771
pata mar ; bem com o med idas de con o 75 2.56 ]
trole sobr e o cãm bio e o mm ime nto 1985 2.84 6 1 1 .480
de capi tais, cons titui am os prin cipa 72 1 2.80A
is inst rum ento s da cha mad a politica 1
mon etár ia. Não se trata de enfeitá-la ~::~
retro spec tiva men te, nem de atribufr- 1 :-.~~~ 1 :-.:~~ I ::
lhe pod eres que nun ca te,·e . !\les mo 1'188 (1nar ~o)
\ :·.:: ~
assi m. é falo que a inte rven ção dos 4.56 1 2.22 7 1
ban cos cent rais foi enfr aque cida (e _J
dep ois esva ziad a de toda subs tânc ia) 11-axil- . º " ') 1
m(-cha 1 • 206 _ 1 _20 ,3 'J,1
~ ...:. ...- ---
pelo esta bele cim ento de 11m mer cad
o priv ado inle rban cári o, que esca pav -
1onll"~ ,\1org an . li F,na noal
-
M,1rk
- . R<' ,ort oí-
1t,e
- -
Prc~í dPnl
G11,1ranty 1,11,t , 1'\,ore ets e f((,no m,c /
tota lme nte a essa s regras. o nde não a ,
ha,i a mai s nen hum a rese n•a obri- t9R'l> e L<"-i ddt 99m
gatória, e ond e pod ia hav er uma "mil . • liza • de suas
agro sa" mul tipli caçã o do créd ito. esta vam entã o se enc ammhan .
do para a inte mac 1on
.
a çao
. . d d ode rem ped ir emp rest ado e
Os euro mer cado s enco ntra ram na City ati\1 da es, am bos mui to sat1 sfe1tos e P
tura de acol hida , que contintK>u send
de Londres sua prim eira estru-
emp rest ar, ao a b ngo
. do con trol e d as auto n·da des mon etár ias de seu
inte rnac iona is fora m mun dial izad as.
o a principa~ mes mo qua ndo as base
s , timi das med idas de cont roIe d os mo" úne ntos de capitais,
Seu nasc ime nto é, mui tas \·eze s, pais. Algumas
lam enta cão Q) e de Joh nso n,
atribuído a wna iniciativa da URSS, dese sob a pres idên cia de ~en ned y (a
josa de colo car suas divisas ex1er- t~~g_u os eur~ mer cad os com o mer
-
nas ao abri go de med idas de reta liaç
ão ame rica nas. Seg und o H. Bou rgui nal aca b aram de con ven ce-l os a con s t wr
cad o privado que esca pav a a elas Mic hale t, 1976).
essa expl icaç ão é, qua ndo mui to, aned (C.-A
ótic a; o verd adei ro pon to-d e-pa rtida
dos euro mer cado s parece ter sirto
dad o, na épo ca, pelo com port ame nto O cre sci m e nto exp o ne nci al dos e uro
dos uan cos britânicos. Cad a vez mai m e rcad os
s inco mod ado s com a que da da
esterlina, eles com eçar am a trab alha libra
r em dóla res, cham ado s de ··eu rodó d dos euro dóla res mov ime ntav a
res" por sere m originários de ope raçõ la- apro xim ada-
es de débi to'cr édit o de con tas gere n- Em 1~52: o mer c~l oes· em 1960,
men te 2 b1lhoes de do ar , em valo res líqu idos , aind a não
ciad as fora do pais que os emi tia, os
ElJA Essas cont as foram inic ialm ente ·1h - dep ois às vésp eras
as das multinacionais ame rica nas. e
logo dos banc os nort e-am eric ano s, que ultra pass ava 4,5 b1 oes ., Pou co mai s de doz.e ano s '
da alta no preç o do petr oleo em 19 73 esse mon tant e atin gia 160 bilh ões
,
253
de dólares. A partir de 1973, a massa movimentada dobra a cada três e m primeiro lugar, um mercado interbancório. Originalmente, abrangia
anos, até 1981, depois segue-se wn período de estagnação, até retomar cerca de 200 bancos. A partir de 1973, passa a contar com vários mi-
o crescimento, sob o impulso da liberalização monetária e financeira lhares de participantes, mas continua dominado pelo oligopólio de uns
dos governos neoliberais. Bourguinat lembra, com propriedade, que, se cinqüenta dos maiores bancos dos países da Tríade.
os eurodólares participaram em mais de um terço da reciclagem dos O crescimento exponencial do volume do euromercado levou os
"pelrodólares", também é verdade que seu crescimento fulminante teve especialistas a estimarem, desde a década de 60, que este era carac-
uma "mãozinha" das instituições, em duas ocasiões importantes. A terizado por um multiplicador de criação de crédito. Um dos primeiros
primeira foi a supressão, em 1974, das regulamentações e impostos (em a publicar trabalhos nesse sentido, M. Friedman, perguntava-se, em
particular, o imposto de correção das taxas de juros) que, até então, iso- 1969, se na verdade os eurodólares não nasceriam, pura e simples-
lavam um pouco os EUA e sobretudo freavam a arbilragem bancária entre mente, "da caneta dos contadores" dos bancos (antes da invasão dos
o mercado interno do dólar e os eurome:c.ados. A segunda é o aumento computadores!). Com efeito, entre 1964 e 1968, o tamanho do mercado
do número de praças que constituem o mercado privado de liquidez dos de eurodólares aumentou em 35 bilhões de dólares, ao passo que, no
fundos. Estas não se limitam mais à City de Londres e a Toronto. Alimen- mesmo período, os déficits acumulados dos EUA, que vinham alimentá-
tadas por fundos do petroleo, e mais tarde pelos lucros da produção e lo com recursos novos, aumentaram apenas para 9 bilhões de dólares.
comercialização mundialii.adas de drogas (os "narcodólares"), as praças A diferença está relacionada à existência de um multiplicador de
off shore (literahnente, "longe do litoral", enfatizando sua extratenitoriali- criação de crédito, baseado nas longas e imbricadas cadeias de ope-
dade perantre o controle dos bancos centrais) adquirem um papel cada rações, bem como na pirâmide de créditos e dívidas que ia sendo mon-
vez maior. São as praças de Hong Kong, Bahrein, Cingapura, e também as tada, graças ao caráter interbancário do mercado e à ausência de
Bahamas, as ilhas Caiman e outros paraísos fiscais da antiga área da libra reserva obrigatória e de mecanismos de controle.
esterlina e da área do dólar.

É grande a responsabilidade dos governos, a começar pelos dos EUA A natureza dos empréstimos de capital
e do Reino Unido, na formação desse imenso mercado privado. Bourguinat ao Terceiro Mundo
dá urna medida disso, ao ressaltar que "o crescimento dos' mercados fi.
nanceiros transnacionais começou a ser feito, de certa forma, pelos ban- Essa constatação levou a questionar a natureza dos capitais em-
cos, a partir da formação de um vasto mercado 'externo' dos meios de prestados aos países mais endividados do Terceiro Mundo, bem como
financiamento, constituído 'paralelamente' aos mercados nacionais. Estes, a legitimidade dos pagamentos a que esses países são obrigados. No
em vez de se comunicarem diretamente entre si, tomaram-se cada vez século XIX, quando os poupadores privados dos países mais ricos subs-
mais interdependerlles, através dos euromercados." E como martelada fi. creviam títulos de dívida pública emitidos por Estados estrangeiros, po-
nal: "em suma, o ewomen::ado surge como uma espécie de enorme mer- dia-se considerar que urna "riqueza" estava sendo transferida. No caso
cado extra-alfandegário (como uma loja duty free), e 'por atacado', dos euromercados, créditos foram criados como que por encanto, den-
acarretando, por 'via indireta, uma forte integração financeira internacional" tro de uma rede fechada de bancos ligados entre si pelo emaranhado
(Bourguinat, 1992, pp. 57 e 79, sublinhado no original). de suas posições devedoras e credoras, e oferecidos aos países em de-
senvolvimento. Não houve nenhuma transferência de poupança qu:
O euromercado é um mercado por atacado, no sentido de que só
tenha provocado algum "sacrifício" dos concessores de empréstimo. '
trata de somas elevadas, das quais parte importante assumiu, até a crise
mexicana de 1982, a forma de empréstimos conjuntos feitos pelos ban-
cos internacionais aos países em desenvolvimento. O euromercado é, 7. Ver nosso ;irtigo no número especial da revista Tiers Monde, 1984.

254 255
Pelo contrário, ao proporcionarem o reerguimento da economia dos colocação à venda de setores inteiros da economia, como na Argentina,
países da OCDE. mediante as exportações ao Terceiro Mundo, os con- são conseqüências diretas do endividamento e dos meios empregados
vidativos créditos oferecidos criaram investimento, emprego e renda. para garantir o pagamento dos juros.
Do ângulo keynesiano, a partir do momento que a poupança é resul- l\·farx já começara a caracterizar socialmente as conseqüências da
tado e não causa do investimento, esses créditos também ajudaram a formação da "massa organizada e concentrada de capital monetário,
formar poupança no "Centro" do sistema mundial. posta sob controle dos bancos". Um dos aspectos que ele ressalta re-
fere-se ao comportamento de agiotagem desse capital monetário con-
Para os países em desenvoh~mento, os créditos tinham valor de
centrado, em suas relações com outras categorias de tomadores de
capital (ou poderiam tê-lo, se não houvesse m sido desviados para com-
empréstimos, que pão os capitalistas industriais. "O que distingue o capi-
pras de armamentos e outros gastos parasitários). Para os bancos, a
tal gerador de juros, como elemento essencial do modo de produção capi-
montagem dos empréstimos concedidos estava diretamente ligada ao
talista, do capital de agiotagem, não é, de formo alguma, a natureza ou o
funcionamento do multiplicador. Tratava-se de c omponentes de um
caráter desse capital em si. É simplesmente que as condições em que ele
balanço complexo, feito de muitas contas a pagar e a receber; de uma
opera mudaram e, portanto, a figura do tomador de empréstimo que en-
criação convencional, para não dizer fictícia, de liquidez, destinada a
frenta o que empresta dinheiro também se modificou completamente."
garantir a entrada de lucros bancários. A verdade é que, quando em
(livro III, capítulo XXXVI). Neste fim do ~éculo XX, as relações das princi-
1982 estourou a crise da dívida do Terceiro !\,fundo, com a incapacidade
pais instituições financeiras mundiais com os países e classes sociais mais
do México de cumprir os pagamentos, não houve nenhuma crise
despossuídos decorrem dessa caracteriz.ação.
bancária; quando muito, para certos bancos de certos países, houve
prejuízos que levaram a uma queda nos lucros e, no caso dos bancos
privados, nos dividendos e na cotação de suas ações nas Bolsas. Dívida pública, liberalização e mundialização

Assistimos então, entre 1982 e 1984, à constituição de "comitê s A segunda etapa, na implementação da mundialização financeira,
de credores"; à elaboração de planos de reescalonamento das dívi- começa pouco antes do estouro da dívida do Terceiro Mundo, em 1979-
das; à criação de um mercado secundário da dívida estatal, onde os 1980. Segue-se à chegada de Paul Volcker à chefia do Federal Reserve,
bancos mais expostos podiam limitar seus riscos, vendendo seus mas inclui igualmente as medidas tomadas, paralelamente, pelo go-
títulos difíceis de cobrar para firmas especializadas na "caça ao país verno conservador britânico chefiado por Margaret Thatcher, num país
em desenvolvimento devedor"; por fim, para ficarmos no essencial, T,ü~la 22a
à presc rição de uma parte do capital produtivo nacional das nacões Ativos disponíveis dos fundos de pensão,
devedoras, sob a forma de aquisição de empresas públicas pri~ati- nos principais países da OCDE com sistemas privados de aposentadoria
zadas, para permitir a conversão da dívida em títulos de propriedade (em bilhões de dól;ires)
entregues aos credores. No total, houve uma espetacular inversão de , ~ lassiiic;iç;io 1 País 1980 1988 1990 19 91 1992 1~
fluxos. Entre 1980 e 1983, houve primeiro uma diminuição brutal das 1
EUA 66 7,7 l 1.919,2 2. 25 7,3 3.0 70,9 3.3 34 ,3 13.571 ,4
entradas líquidas de créditos privados para os países em desen-
volvimento, que passaram de 26 a 1,6 bilhão de dólares. Depois, a
1 2
3
'"'"º Unido
Jap<10
1
151 ,3
24,3
483,9 1 S83,6 1 642,9
134.1 158,8 18 2,3
I"'º·'
191 ,9
(,9S, 7 1

partir de 1984, o fluxo simplesmente passou a correr em sentido con- 4 1 Ca,~d, 41,3 131, 3 171 ,R Hl8,4 191 ,7 1
trário, tornando-se uma transferência líquida de 25 bilhões de 1 5 1 Alemanha 17,2 1 41,(, 5 5,2 5 8 ,6 1 62,6 ~J,S
dólares aos bancos credores (Dembinski, 1989). A "dolarização" das Total 1 903,8 2.710,1 J.2 2 6,7 -t:1_4 3, 1 4.38 8,4 j 4.320 ,6 1

economias devedoras (Salama e Valier, 1989 e 1991 ), bem como a f onte: F.\11 (1 9 95, p. 166)

256 257
que tem duas características importantes, do ponto de vista do assunto americano, estima-se que, em 1990, 36% dos se us ativos (isto é. cerc a
que estamos tratando. O Reino Unido abriga a City, que é a mais antiga de 1,36 trilhão de dólares, sobre um total de ativos que alcançava, na
praça financeira do mundo, e ainda a segunda, se não por seu volume época, 3.78 trilhões) estavam sob a forma de obrigações públicas e pri-
(Tóquio é mais importante), pela variedade e sofisticacão de seus ins- vadas (numa razão, em linhas gerais, de 2 para 1); nessa época, tinham
trumentos de colocação. E o Reino Unido é também 0 - país de origem essa mesma forma 47% dos ativos dos fundos japoneses (cerca de 150
dos maiores fundos de pensão privados do mundo, depois dos EUA. bilhões) e igual percentual dos fundos canadenses (cerca de 100 bi-
As medidas decididas, conjuntamente, pelos governos americano e lhões). No que diz respeito aos fundos mútuos (cujo montante total de
britânico deram à luz o sistema contemporâneo de finanças, liberali- ativos é cerca de 40% inferior), o Gráfico 14c indica o lugar ocupado,
zadas e mundializadas. Neste sistema, as instituições dominantes não em suas carteiras, pelas obrigações.
são mais os bancos, e sim os mercados financeiros e as organizações A organização de mercados financeiros, escancarados para fora e
financeiras que neles atuam. Pelo contrário, os bancos passaram a so- largamente abertos aos investidores institucionais, permitiu que os govem01>
frer, na esfera financeira, a concorrência dessas formas recentes de cen- procedessem à securitização (titularização) dos ali\1os da dívida pública, isto
tralização e concentração capitalistas - os fundos de pensão e os é. ao financiamento dos déficits orçamentários mediante aplicação de
fundos mútuos - , ao lado das quais até os maiores bancos parecem bônus do Tesouro e outros ativos da dh,ida, nos mercados financeiros. Os
anões. As medidas tornadas a partir de 1979 acabaram com O controle interesses capitalistas, especialmente os de caráter rentista, saíram ga-
dos movimentos de capitais em relação ao exterior (entradas e saídas), nhando em todas as instâncias. Beneficiaram-se de mudanças no regime
ou seja, liberalizaram, melhor dizendo, escancararam os sistemas fi. !isca~ inspiradas pela "revolução conservador~", bem como das oportuni-
nanceiros nacionais. Essas me didas também abrangeram as primeiras dades de evasão oferecidas pela liberalização dos fluxos financeiros, ao
fases de um vasto movimento (que ainda está por ser concluído) de des- mesmo tempo que enriqueciam detendo títulos públicos de curto prazo,
regulamentação monetária e financeira, cuja primeira conseqüência foi no quadro dos fundos mútuos de investimento ou SICAVs. Quanto mais
acarretar, desde o começo da década de 80, a rápida expansão dos mer- se aprofundaram os déficits orçamentários, mais awnentou a parte dos
cados de obrigações, interconectados internacionalmente. orçamentos reservada para o serviço da dívida pública , mais forte se
tomou sua pressão sobre os governos.
A formação dos mercados de obrigações atende às necessidades,
Gráfico 14c
ou seive aos interesses de dois grupos de atores principais. o primeiro Estrutura dos ativos líquidos dos fundos mútuos nos EUA (1980 e 1992)
é o dos governos dos países industrializados. A instalacão de um mer- (em bilhões ele dólares)
cado de obrigações, e ainda de quebra bastante aberto -aos investidores 2,0 75
financeiros estrangeiros, permitiu-lhes proceder à securitização dos o 19ao

ativos da dívida pública, isto é, ao financiamento dos déticits orcamen- ~ 1992


tários mediante a aplicação, nos mercados financeiros, de bô~us do
Tesouro e outros ativos da dívida. O segw1do grupo de fortes atores
cujos interesses foram satisfeitos pelas reformas constitutivas da
mundialização financeira e pela adoção de financiamento dos déficits
orçamentários dos países da OCDE através da aplicação de ativos no
segmento de obrigações dos mercados financeiros, foram os grandes íu11dos <'ffi Obrigaçoes
fundos de pensão e os fundos mútuos de investimento. No tocante aos mercados
monetários
fundos de pensão, os de maior presença no mercado de obrigações
ron te- ,'v~arch~ncl E' Mérieu>. ( 199 (,)
2S8
759
U primeiro governo a tirar proveito do afrouxamento das restriçõers fundos, para as praças onde reina a "liberdade de empreendimento"
fiscais e orçamentárias foi, naturalmente, o dos EUA, cujos déficits ex- em matéria financeira. A busca de lucros financeiros ditará então o
plodem sob a presidência de Reagan e dopam a economia americana du- caminho a seguir, quaisquer que sejam as conseqüências econômicas
rante cerca de oito anos. Mas, para garantir a drenagem, para o mercado e sociais últimas.
financeiro americano, de parte elevada da liquidez mundial, as autoridades A mundialização avançou de maneira ainda mais rápida e desen-
americanas decidiram aplicar mais um conjunto de medidas, ao fim dos freada, pelo fato de os grandes operadores se beneficiarem de uma
anos 80. Tais medidas comportaram, cm particular, uma elevação pas- espécie de garantia de impunidade. Em 1984, o presidente do Federal Re-
sageira, mas muito significativa, da taxa de câmbio do dólar (quase 250 serve. P. Volcker, declarou, a propósito da suspensão de pagamentos pelo
ienes na primeira metade da década de 80, ao passo que o nível atual banco Continental Illinois, que este era importante demais (isto é, tinha
oscila em tomo de 100 ienes) e a instauração de um regime de taxas de um lugar demasiadamente central na cadeia de créditos e débitos) para
juros reais positivas. Esse regime iria se prolongar, embora as taxas, então se deixar que fosse à falência Nascia a política do too big to fail. Ela se
muito elevadas (entre 12% e 8%, em termos reais, de 1980 a 1984), venham confinnou quando da suspensão de pagamentos pelo Hanover Manufac-
caindo progressivamente, à medida que o regime de financiamento das turer, depois por ocasião do mini-estouro semi-fraudulento das caixas de
demandas públicas e privadas de liquidez, através dos mercados de obri- poupança americanas. Ditou a conduta das autoridades financeiras quando
gações. estende-se a outros países; que todos os grandes países recorrem
do verdadeiro estouro na Bolsa de Wall Street, em outubro de 1987, do
aos mercados financeiros pra financiar seus déficits; e que se afmnam. em Estado japonês em relação aos bancos e empresas de crédito imobiliário,
nível mlllldia~ mecanismos que têm como eixo as necessidades do novo ou ainda do Estado francês em relação ao Credit Lyonnais.
árbitro histórico do capital financeiro, predominantemente rentista.

Com o estancamento dos fluxos de crédito para o Terceiro Mundo, Desregulamentação e desintermediação
são os países da OCDE, a começar pelos EUA, que se tomam os principais
tomadores de empréstimos. Os empréstimos conjuntos da década de 70 Convém distinguir três elementos constitutivos no estabelecimento
deram lugar aos procedimentos de mercado, tendo como modalidade es- da mundialização financeira: a desregulamentação ou liberalização
SP-ncial a adjudicação de bônus do Tesouro. E.tá (:Omeçando a era da
monetária e financeira, a desintermediação e a abertura dos mercados
"mercadorização dos fmanciamentos" (Régnier, 1988).
financeiros nacionais. De falo, existe uma interação e um profundo en-
Esse novo enfoque de mundialização não decorre, com certeza, de trelacamento entre esses três processos. O conceito de "globalização
algum plano calculado, e sim propaga-se por efeito de contágio. Todo finan-ceira" abrange tanto o desmantelamento das barreiras internas an-
Estado que não pretenda denunciar essas práticas, nem colocar sob teriores entre diferentes funções fmanceiras e as novas interdependên-
acusação a política dos EUA, mas que também queira colocar seus cias entre os segmentos do mercado, como a interpenetração dos
bônus do Tesouro, é obrigado a se alinhar às práticas americanas. Foi mercados monetários e financeiros nacionais e sua integração em mer-
o que fez a França em 1984-1985 (ver mais adiante). O mesmo vale cados mundializados, ou subordinação a estes.
para a desregulamentação. Todo Estado que não esteja disposto a abrir Uma das conseqüências mais importantes da liberalização e da
um confronto direto com os ninhos de capital monetário concentrado desregulamentação foi a quase completa perda de controle pelos ban-
de seu país (bancos, grandes companhias de seguros) é obrigado a cos centrais, a começar pelo Federal Reserve americano, sobre a de-
acompanhar, ou até a antecipar-se aos demais. Com efeito, a terminação do nível das taxas de juros. As taxas a médio e longo prazo
manutenção de controles e restrições maiores do que se pratica em são estabelecidas exclusivamente pelos operadores mais poderosos,
outras praças financeiras só pode dar em desviar os operadores, e seus que comandam as tendências dos mercados financeiros (os fundos de

260 261
investimento, e em particular os fundos de pensão). As taxas diárias con- vado as grandes empresas a abandonar os bancos, passando a buscar
tinuam sendo, em princípio, apanágio das autoridades monetárias, mas estas fundos de curto prazo no mercado comercial de papéis, e de pois recur-
têm cada \:ez menos liberdade de movimentos diante dos agentes privados.8 sos de longo prazo no mercado financeiro. Visto-que essas operações re-
A desregulamentação financeira voltou-se, em seguida, para a abolição querem a emissão de títulos de crédito, vários autores preferem referir-se
das regulamentações e controles no tocante à fixação dos preços dos ao processo de utitularização" ou "securitização" (em inglês, securilisation).
serviços bancários. Essas primeiras inovações financeiras logo a fetaram Régnier oferece urna explicação bem mais convincente, quando diz que
profundamente todo o mercado internacional de capitais. Com taxas de "a titularização", isto é, a expansão das técnicas de financiamento medi-
juros muito mais m óveis e as próprias taxas de c âmbio e xtremamente ante emissão de títulos, "foi favorecida nos EUA, e também na França, pelo
voláteis, o sistema começou a secretar toda uma série d e novos instru- florescimento dos bônus do Tesouro e obrigações d o Estado para finan-
mentos , cuja razão de ser parece dever-se à necessidade de gerenciar ciar os déficits orçamentários" (1988, p. 8). Na França, em 1987, quase 60%
essa dupla instabilidade. São os "novos produtos" e os barbarismos de do mercado de títulos de créditos negociáveis, mercado nascido das re-
seus nomes: os instrumentos de emissão (RUFS: Reoolang Underwriting Fa- formas financeiras de 1984 e 1985, correspondia à colocação de bônus ne-
gociáveis do Tesouro. As grandes empresas indubitavelmente ganharam
dlities; NIFS: !Vote lssuance Faa7ities), os instrumentos de opções múltiplas
com esse novo mercado. No mesmo ano, graças às notas de caixa, aos
(M)FS: .'vfultiple Option Fadlities), os contratos de fixação de taxas de juros
certificados de depósito ou ao MATIF, elas tiravam quase 70% de seus re-
(FRA: Fixed Rates Agreements), as opções, os futuros, os swaps etc.
cursos diretamente no mercado. Mas este era e continua sendo domi-
De fato, como observa oportunamente H. Bourguinat as inovacões
nado pelo Tesouro, como iremos constatar mais adiante, ao examinarmos
financeiras e os " novos produtos" tive ram três voca~ões sim~lta-
neamente. Eles abrangem as dime nsões da globalização financeira a abertura do mercado francês.
como um todo: "Permitir gerenciar a instabilidade das taxas de juros e A desintermediaçáo diz respeito também aos mercados de pou-
do câmbio, mas, muito mais do que isso, passar de um segmento do pança ou fundos de reserva de particulares que gozam de bons rendi-
mercado (interno) para outro (taxa variável-taxa fixa; mercado à vista- mentos. Devido aos mesmos diferenciais de taxas de juros, os clientes
mercado a prazo etc.), e também passar cada vez mais facilmente de com eçaram a transferir seus fundos das contas de poupança, ou
uma moeda para o utra. O mmimento de d esregulamentação e as ino- mesmo de sua apólice de seguro, para fundos que oferecem maior
va ções convergiram para dar garantias aos o peradores contra a in- rentabilidade. Em 1977, a Merril Lynch, uma das principais corretoras
certeza, e também para lhes permitir fabricarem a divisa que quiserem, americanas, criou sua famosa conta de gerenciamento de caixa para
e portanto terem, d e saída, a ótica multidivisas implicada justamente particulares, o cash management account ou CMA. Ligando uma conta
pela globalização do mercado" (H. Bourguinat, 1992, p. 92). de títulos com um. cartão de crédito, o CMA permitia conferir aos fun-
No mais amplo sentido do termo, "a desintermediação é o processo dos investidos nos mercados de capitais a mesma liquidez daqueles de-
pelo qual os usuários de serviços financeiros satisfazem suas necessidades positados nas contas correntes ou contas de poupança tradicionais.
por fora das instituições e redes tradicionais" (Bertrand e Noyelle, 1990). Pouco depois, veio a permissão, pelas autoridades monetárias america-
Esses autores atribuem tal desenvolvimento ao fato de que o aumento nas, para que os bancos eliminassem a barreira entre contas a prazo e
dos custos administrativos e o crescente diferencial entre as taxas de juros à vista As inovações fmanceiras multiplicaram-se, por exemplo com a
cobradas do cliente e as taxas ganhas nas contas de poupança teriam le- criação do Automatic Transfer Service (transferência imediata das contas
à vista para as contas a prazo) e dos Share Draft (consórcios), e depois
se propagaram na Europa e no Japão. A partir de 1984, a França assistiu
8. A decis_ã~ ~os bancos iran~eses de elevar ,;1 taxa de base bancária mm), por iora de a um aumento explosivo dos SICAV, clubes de investimento e outras
ciualquer 1111clilt1va nesse sentido r,elo Banco da França, é um;i boa expressiio desse
processo \Vf>r artigo de 1:. Lcser- no jornal te Monde de 1/9/94) . modalidades de investimentos mutualizados, para particulares, com sig-

262 263
nificativo deslocam ento das formas de poupança tradicionai s para fun- Tabela 23
dos de rentabilid ade mais elevada. Estrutura da balança de pagamentos d~a~ - -- --
- - --- - - --- - - 199 2 1
Parti( ,p,1çJo na h.1lança glohal 19110 1 198(, 1
A abertura dos mercad os naciona is
\Ílu l\OS c•111 ° ol .---l--_-. 'I' J
1 l)c ,,to
f-- - - - - - - - - - - - rr=::c
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1 Oéhito Cr(>d
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Dí•bllo Crt'<~

Tr,ms.,ç ()('S com'1,le<. 'i6, - c;c,.2 , 1,S 3 1,1 I


O termo "abertura" designa dois processos : aquele relativo às bar- 1
}'). 1 41 , 2 64,')
Capitais de lonio pr,,zow 1-1,6 17,7 63,3 1
reiras internas, anteriorm ente estanques . entre diferentes especiali- b2, l 59,í
1 i1w1..;1ime11to em Glrteira 8,0 7,9 34,S
zações bancárias ou financ eiras. e aquele relati,·o às barreiras que
Cap11aIs d e c urto pr ilLO~ 1
separam os merc ados nacionais dos mercados externos. Abertura sig- J 1
nifica ainda o fim do~ ' segmento s e especializ ações anterio res. Com se lo• ha11c :11io - - _4--1_1.!_1 __b_
_ ,o_l __ 1
2,7_-,-__,<J _
1
1
Ll~ 7
1

- - - - - - - ..
·
1 1 1
efeito, tra ia-se de processos indissolúv eis. \\o \ ·1111cnlo S d e CA(ll131S 26 5 2-,. 1 88' 11 89
_e_m "_ ,o_ l B_ _ __ _ __.,__ 1 ➔_,3
do_P_ , 13,8 ~~ L...::..: 2
:-
1

Na França, a mais importante medida de abertura interna foi a da lei • v aria~·~ corr('ntcs . tNSl:.t
de 1984, abolindo a separação entre os créditos e empréstim os de longo f onte: 8,lnqu<· de ~rdn<:e, Oirection de la balance dcs patCtnl'llts, .
prazo e os créditos de curto prazo. No Reino Unido, o famoso "big bang" ~
destaca que os rendimentos dos títulos franceses têm estado entre os
de 1986 leve o mesmo sentido, permitindo confundir certas funções dos
mais elevados no mercado frances, • particular no segmento de o bn- .
contrapart istas (jobbers) e dos corretores (brokers) e autorizand o os não- em , , .
- " 9) Entre 1987 e 1992, a parcela dos títulos publicos
gaçoes ( 1993, P· · •
residentes a serem co-partic ipantes das emissões estrangeiras. Nos países . dos investidores financeiros estrangeiros oscilou entre 25%
onde o Legislath-o ainda é forte, como nos EUA, o questionam ento das nas c arteuas
1988 e 1991) e 65% (1990 e 1992). Em fins de 1992' os _nao-re - sidentes
.,
separaçõe s estabeleci das durante a grande crise encontra maiores ob- (
detinham cerca de um terço d os títulos da dívida pública .
negoc1avel.
stáculos. r,..1esmo assim, certas barreiras essenciais, inclusive até aquela, de , financiada por di'visas estrangeiras. Foram os
caráter central, do Glass Steagall Act (1933). que separa os bancos comer- Sua compra nem sequer e . . . têm ilido aos
ciais dos bancos de investimentos, especializ.actos na colocação de valores
bancos franceses que criaram os meios de liquidez que ~
. . s embolsare m as taxas de juros ofereetdas pelo
investidore s estrangeiro
mobiliários, estão sendo ,isadas pelo moviment o de abertura De qualquer
modo, o processo de desregula mentação e de '"mercadorização'', como Estado francês.
um todo, esvaziou essas barreiras em boa parte de seu conteúdo.
Existem mô.ltiplos instrumen tos de abertura em relação ao exterior. a
O s mercados financei ros "emergentes"
liberalização dos flttxos de câmbio, a abertura do mercado de créditos (se-
curitização) aos operadore s estrangeiros, a abertura da Bolsa às empresas . - dos chamados mercados fina nceiros "emergen-
A mcorpora çao d d, da
estrangeira s etc. A Tabela 23 permite captar a amplitude dos efeitos de tes" diretamen te às redes de fimanças, a partir do começo a eca.
abertura do sistema financeiro francês. O montante de compras de títulos de 90, representa a etapa mais recente da mundial~ ação ~nanc~11a.
franceses de curto prazo, por capitais estrangeiros em busca de lucros fi- Deve-se distinguir esses m e rcados das praças_finance~ras_ mais a~:~::
nanceiros (os investidore s de carteira) já é superior às exportaçõ es de bens c omo Hong Kong e Cingapura , nascidas como. proieçao da ~ ~
e serviços. Isto significa que as políticas macroeco nômicas dos governos o quadro da antiga zona da libra esterhna, que contrtbu1r am
Lon d res. n
iranceses têm como primeiro objetivo tomar "atrativa" a detenção dos títu- ara a ex'Pansão e internacio nalização dos merca d os d e euro-divisas
. ,
P . ue fazem parte do ahcerce
los franceses e evitar que tais títulos sejam revendidos logo depois de com- durante a rase que analisamo s acuna, e q .
prados. Trata-se de títulos priYados e, sobretudo , públicos. D. Plihon institucion al da mundializ ação financeira . Pode tratar-se aqlll de mer-

264 265
cado s finan ceiro s realm ente novos, com o em excluir do balanço os créditos duvidosos ou
dentr o em bre,·e na Ch' certo s , , . sem grand e futuro, e em
' .. pa1ses da Asta e , colocá-los junto a toma dores de empréstimos
ma. ,.,,as em outro
, ~ ~asas'. trata- se, na verda de,
de merc ados finan ceiro s que e~st finais (fundos de pens ão,
pecúlios, particulares etc.) sob form a de ativos
quas e um sécu lo (com o na ~ e~ ha vana renováveis e , por con-
s deca das, ou mesm o há sequ ência, a taxas variáveis, foi bem adian
1929 e da Segu nda Guer ra ' l gd~alntm~), mas te disso. Ela não diz mais
que, depo is da crise de resp eito apen as aos créd itos conc e dido
conte xto de um regim e d ,, un I ate o fim d 8 . s aos paíse s em dese n-
e contr ole estrit o do os anos ·
O, \'lveram no
-
,·ohim ento. mas a todo tipo de crédi tos hipot
ecários ou créditos a taxas
e, é claro, sem securitizaça·o da d' .d ,
t\1 a publi.ca. s mo,1 ment os de capit ais renegociáveis. A exclu são dos créditos ruins
do balan ço dos banc os -
os mais comp rome tidos na suste ntaçã o das
Os EUA, o FMI e seus aliados e re re grand es oper açõe s imo-
uniYersidades amer icana s r P senta ntes locais . biliárias que deram errad o em 1991-1992 -
con orme , form ados nas te\'e talvez tanta influência
coriseguiram em m~-" - f a cren
ça e as recei.tas neoliberais. quan to a dhid a dos paíse s em desen volvi
me nto, no cresc imen to do
sistas e es . ·a1n ru,.."a arcad • • a. a abert u ra d e pequ enos merc ados bol- mont ante dos créditos "liquidados" por meio
pec1 tente a adoc· ao da secun·tiza· . d a d1v1d
çao , . a pu' bli desse artificio.
· Mas a prátic a do "fora -de-b alanç o.. , que deixa
1amen1e com a corisu·t uiçao . . d e merc ados ca, 1un- as oper açõe s sem
interconectados com os merc ados dos , do é · contr ole nenh um e que intro duz uma total
m stíco s de obrig açõe s, falta de trans parên cia na
mexi cana most ro be .. • ~es do centr o do sistem a. A crise ativid ade banc ária. vai muito mais longe ainda
u . São class ificad os fora
jada, sem dúvid a de m fo
as consequenc1as d
. r· de balan ço todos os c ompr omis sos que não
, , rma mais prudente, essa mas
po ttíca Esta será mane -
não s dec orrem de financia-
atras , pois, do ponto -de-v ista d . ment o (!und ing), por não "tere m as carac teríst
e pens em voltar icas objet ivas das ope-
nanceiro de caracterísUcas . os inter esses espec ífico s doa capit al fi- raçõ es finan ceira s prop riam ente ditas ". Trata
amer icano s ou britâni -se das oper açõe s de
rentí s~, repre senta dos pelos grand es fundos risco , cujo domí nio deco rre da "utili zação de
pelos estud os lo- co~, ~ ques toes em jogo são colossais. São racio cínio s estat ístico s e
ang saxorucos sobre os fundo d definidas financeiros'' (J . Ré gnier, 1988, p. 99). Perte ncem
. a essa categ oria e são
pelos relatórios de grupo s d ui . . s e pens ao (Davis, 1994) ou, conta biliza dos fora de balan ço muit os dos
. e cons tona pnva dos sobre derivativos, isto é, crédi tos
financeira (McKinsev !99-1) . . . que já enco ntrar am comp rado r, mas que seus
J•
. .
, como consi stind o em a mundialização d e tento res vend em por
fltLxo regular de rendi me , g tir a nte c ipa ç ão ( a c ham ada oper ação "
n.os, aran , no futuro, um a term o" ) no mer cado
privados dos paíse s adian t d parap os apose ntad . d "secu ndári o'', que hoje já é o dobr o do prim
os assoc ia os aos fundos eiro (o "verd adeir o") a
fechar as contas, pois os mercªaosdo.s ..ºr enqu anto,
estam
emer gente s" só asseos ainda longe de quas e todos os títulos e efeitos.9
de aprox imad amen te 151\L d . . Os pesq uisad ores têm grand e dificu ldade para
'TU os capitais mundiais guram a coloc ação carac teriz ar as ope-
cação que mant enha alto grau de liquidez (FM~ b
l~)~ uscam uma apli- raçõe s d esse tipo, espe cialm ente aque las no
"mer cado secun dário " e
sobre ativos de alto risco. Com o bom enten
dedo r, H. Bour guina t em-
preg a o term o ·'con ceitu ai" (noti onne [) para
referir-se a seu mont ante
"f ora-de-balanço", de riva tivos e ca pita l fictício em dólar es: "mai s d e 10 trilhões de dólar es
conc eitua is" (1994, p. 4).
R Guttm ann ( 1994) , por sua vez. c onsid era que
é difícil evitar o em-
époc a~e em dia, a pirâm ide de créditos e prego de um conc eito que só perte nce a Marx
débitos que se formou na , o de capit al fictício. Es-
, os merc ados das eurom oeda s não desa sas oper açõe s são trans açõe s que dize
traria. Mas sua configuracão . . ~ resp eito a c rédit os e
. • e seu mont ante toma parec eu, mwto pelo con- repre senta ções diver sas de um capit al públi co
ram- se totalm t ou priva do, que se trans-
c~s, devid o ao desen volvi ment o acele rado do
"fora-de-balanc=•~ ecopa-
VIIIlO S, no come ço tratava-se de
urna d as nume rosas medi d • t. orno
para atenu ar os efeitos da insolvência do Méxi 9. /\ prátic:rl do "Íori1- dP-bala11i,o " d <-scm o1veu
do -s11 partic ularm ente n as opcra çó<>S so-
veda res do Terceiro Mundo Ma as ornad as bn> <li\'is,1s: 77°0 d as ativid ades iora de l,alan
ço d os l,ancO"- france ses di7em rc<,peilo a
. • co e
s essa oper açao s outro s grand es de- o peraço os rotu1a<las em moed a estrrlnge1ra (Pliho
bancária, que consistia em n, 1993).

266 267
formam em mercadorias sui generis. São objeto de operações de com- .
harmoniosas imaginadas por w a lras. e sim insti-
as formas abstratas e I s financeiros
pra e venda, nas quais podem ser embolsados lucros puramente fi-
tuiçõcs habilitadas por seus mandantes a r:;erem u~,~ num mund o
nanceiros, em boa parte ou totalmente parasitários.
Na época em que Marx escreveu. essas representaç ões de um
(pudicamen te ~hamados_ defi ·:r:::í:ae :ee
mº:O~:i:tiv amente cons-
transformad o a
onde a regulaçao finance1ra o1
capital público ou privado ainda eram pouco numerosas: limitavam-se ciente. É então absolutamen te natural que ele~ tenham O mais grave,
10
aos títulos dos empréstimo s tomados pelo Estado e às ações. Nas pági- especulação em fonte de lucro, buscada por s1 m:smda. des meios
nas que traiam do que ele chama de capital fictício. Marx estudou, com . . d o, com o aprno os gran a
~
é ue esses fundos estão adqumn
inegá\·ef fascínio. a maneira como as instituições financeiras (f>nlre as q . • e tam bém de John l\1ajor. e gente como e le no G7,
muJacao
de comun1c;ic;;io
quais a Bolsa) são capazes de fazer com que um crédito ou um título legitimidade social análoga à dos capitais voltados para a acu -
se desdobre para viver muitas vidas (livro III. capítulo XXIX e XX). Uma industrial.
ação representa uma fração de um capilaJ que está imobilizado na pro- . pelo capilaJ monetário que se -\aloriza d de
A tomada de consaenoa,
dução. No entanto, para quem a detém, a ação em si funciona como ..,,_, ·a forca numa configuraçao e mer-
·se
1'o~/\ para,;itária de sua e"1raorwuan .
'·capital". No caso de um particular, esse "capital" lhe proporciona urn ' d salto durante a cn
' ....
cados desregulame ntados e descontrolados, eu um d realmente se
rendimento; ele pode senir-se das suas ações como colateral. ou pode fi . . eira em que os opera ores
\·endê-las. O valor desse ~capilaJ" é regulado pelo andamento das ações do SI\IE de 1992. Essa 01 a pnrn . r - los parar. quando esfü-essem en-
. · m podia 1aze-
na Bolsa, onde a saúde da empresa representada pelo título é apenas um deram conta de que nmgue •. . . do os peritos do serviço
. em certa direcão. No relatono acima c11a ' .
pal'âmetro entre muitos outros. No caso de empresas ou bancos, seus pa- ga1ados • t do indica, representam sobretudo a s1
de pesquisa do Fl\·11 (que, ao que u . speculacão per-
cotes de ações e outros c réditos são contabilizad os no ativo de seus .
) obsenam que '·a distinção entre a rbitragem e e
baJanços, e podem senir de garantia para criar novos créditos. mesmosclaramente. quando a mruona . . dos participantes se convenceram - ._
deu-se
Os atualmente chamados '·novos produtos financeiros " decorre m, • . o ou não - de que iriam acontecer grandes mudanças nas ~
em muitos casos, desse processo rlP fonnação de mercados de car áh::r com raza . . dt::)) podiam prc\'cr em qual senhdo · -
d d das taxas de cambio, e que
exclusivame nte financeiro. Por exemplo, um mesmo crédito pode dar a es ·am essas mudancas"• (Fl\11, 1993• p. 22)· Nascia a era das pre\~
ocorren
lugar a transações - e portanto a ganhos ou perdas financeiros - so-
"auto-realizáveis" (H. Bourguinat, 199-1).
bre uórios mercados: primeiro como crédito principal e depois como
A capacidade de provocar danos do capital monetário, imensa e
"derivado " desse crédito. O número e complexida de dessas cadeias de
. nifestou-se desde então, sob formas que
transações "derirndas". bem como seu a ltíssimo volume conceituai, re- cada vez mais deliberada, ma be,d . dos e'Ynerts e da maioria
• ITca A nova sa ona ~,,
fletem a irracionalida de e a anarquia de urna esfera financeira que fun- exigem urna leitura po i I . . "mercados" (leia-se o capi-
ciona, cada vez mais, em circuito fec hado, mas que impõe sua marca dos jornalistas econômicos ensma que os . ero de opera-
a todas as operações de investimento . . . ntrado nas mãos de pequeno num da crise do
tal-monetan o conce . .. · aJ"
d ,
S) "sm·at,·zam'. aos go\emos. Ora' qual sera o sm
ore • terior? Que os
1993 1
A era das crises monetárias "auto-realizáve is" S~tE em julho de , _" n:o ~!~rd:~:s ~:c;::se;p :ando . todas as
mercados acostuma~a m se t , de câmbio absolutame nte 0exíveis,
Mas o mais grave é outra coisa. As crises do SME em setembro de ssibilidades oferecidas por axas a área
po - é intoJerá\·eJ que continue ha\'endo um
1992 e em julho de 1993, tal como a crise decom:nte da ele\ação das e que para elf>c; e ntao, · l ente e\·entual-
dc taxas de câmbio regulada, mesmo que pareiam •
taxas de juros de longo p razo nos EUA, no começo de 199--1, iluminaram
com crescente intensidade a imensa capacidade que os "mercados fi-
nanceiros" têm de puramente causarem danos. Esses mercados não são 1O. \'era deiimçao de H. Bourgumal, nota 1 <:,'lp1tulo 1O.

269
mente suscetív el de servir de modelo mais geral. E qual seria o
da crise de 1994'.' Que nada deve perturb ar o nível das taxas de
"sinal ..
juros
l cos e c asas e
d títulos A especu lacão imobiliá ria e a euforia do cres-
· -
cimento dos lucros financei ros e bolsista s, tomado s co~o ~- todo le-
.
tão a engolir capitais cons1derave1s ness_a_s
calculad as em tennos reais, ou seja, a " libra de carne" que o varam as firmas em ques
capital
finance iro, como Shylock , • se acostum ou a tirar, qualqu er que . . o·es Trata-se com freqüên cia, dos mesmo s grupos que p~1c1-
seja aqu1s1c • • , · bo
• d"retam ente ou por créditos consen tidos, do ficllc10 ,mo
o custo em termos de desemp rego e miséria, -e quaisqu er que param, 1 om -
sejam • d s grupos
.. , . •
as conseq üências para o ··cresci mento mundia l"'. 11 b1liano que acabou em 1990-19 9 l com a quebra em sene o
' , .
Para termina r. convém indicar a amplitu de e o significa do <lo graves dificuld ades para vários sistema s bancan os
lEO imobiliá rios e com
específ ico do setor financei ro. naciona is.

O I ED do setor financeiro

O IED do setor finance iro é conseq üência direta do movime nto


de
liberaliz ação e desregu lamenta ção, pois este permite que os principa
is
operado res se instalem nos principa is mercad os financei ros do
mundo.
Esse investim ento represe ntava nos anos 1980, conform e os países,
en-
tre 15% e 30% do total de investim ento externo . Na CEE, onde,
na pers-
pectiva de unificaç ão européi a, foram sendo progres si\amen te Tabela 24
levan-
tadas as barreira s que se opunha m à atividad e dos bancos ou das .
lnves t 1men
tos d"1retos do setor financei ro (bancos , títulos, seguros )
com- .
panhias de seguros estrang eiras em territóri o naciona l, esse de e para o exterior
investi-
mento corresp onde à busca da internac ionaliza ção bancári a clássica
à extensã o das redes de sucursa is. No setor de seguros , a internac
e
. - _ _ - - - - - - - _-- - .-- ~8,--- :- 1985 l 1<}90 1~

io- 1
nalizaçã o no interior da CEE deu-se conjunt amente com um importa
1França (estoques ern bilhõC'S de iranco.;) ri 1 1 1 147 1

l
20
l
nte 16 125
movime nto de aquisiçõ es e fusões, que ainda está longe de concluí ll par.:ioe.'IH >Jior \ 12 20 63 75
do. l 2) provcriier1tc do exterior 1 \
Prevale cem aqui as modalid ades clássica s, anterior mente estudad
rivalida de oligopo lista, reativan do em certo setor o movime nto
centraç ão do capital a nível transfro nteiras.
as, de
de con- li:~,::::-º:::;::; bilhõ~ de dóla,5)'
1
:: 1 ~:
1
:: li ':: :
2 l pro\'crne ntP do extCfior 11
O lED propria mente triádico do setor finance iro não se benefic 1
iou
de um movime nto análogo de redução de barreira s. Nos Estados 1 R<-ino Unido (csloqL1CS em bilhões de libr,1s\'
Uni- 5,9 \ 9,0 \ 15,6 \ 12,5 1
dos e no Japão, a atividad e de bancos estrang eiros em territóri 1 J p,ua o exterior
o na-
cional ainda é forteme nte regulam entada e extrema mente restrita.
O
12 provenic ntedo<'x terior 18
• S,O 1
19 5
' l ' 19 9

IED ficou então limitado às praças financei ras. em particul ar No\·a


Tóquio e Hong Kong, permitin do a implant ação ou ampliaç ão dos
York,
1Jap;iu2 (esto<1ue em hilhÕ<..., de dólares)'
0,8 1 10,9 65,3
l 70,3
11 para o <>xterior
ban- . 6
22._p~ic ntc do t•xtcrror 0,1 0,2 0,7 1•

sA tlu"os anuab ac11mulMlos.


• Shylock e o avar,•1110 agl()ta da p1,ça de Sh,1kcspc are, O m ercador 1 [stoques O 05 uonll': 1985 • 31 cl<• março de 1986.
de \ 'en,•zrl (159bl 2. Ano fiscal ('ncena-~, , ª 31 de março do ano seg F . ._.tculado a partir dos dados da
[lc <'tl1prcc;t,W d dinheiro a Antonio, ~eu rivill, com a c.ondiçil<> de qu<•
~assc em três mesc-; c;eria · multado" Pm um.\ libra dC' sua Glfllf'. (N.
1
~e est<> 11,10 pa- fonte: J. de L,1ubier {199-U. a panir da., scgu,ntes
b.ilança d(, pagamculo s Banque.,.
'°:."f'S -
·'~. r ranu .. .[U-\·. ··" '"·evo1 rcª'.'.~·nc
-~'"
r n-~,·-~·,·
u, ••=··
Remo Unido Ceo-
.
l 1 E. 1 e Boudwr. " I e<; rnarch<½ 1111,,nt iei-~ contre la croissanr <'", Le . . 1 r...··c
Ira 1 ~Ul1st1ca vu r e. .. P,nk 13ook· lapão: "\1111sié.-.o d•~ íina11~as.
Monde. 25/7/94 •

270 271
capítulo 11

Os grupos industriais, agentes ativos


da mundialização financeira
Para os grandes grupos do setor de manufaturas ou serviços, a
estreita imbricação entre as dimensões produtiva e financeira da mundiali-
zação do capital representa hoje um elemento inerente ao seu funciona-
mento cotidiano. Corno explicamos no capítulo 3, os grupos industriais
são, propriamente, grupos financeiros de predominância industrial Em cer-
tos casos, já têm esse caráter há muito tempo. Mesmo quando essa car-
acterística é mais recente, a globalização financeira pressionou os
grupos a acentuar, de maneira qualitativa, seu caráter de centros fi-
nanceiros. Os grupos começaram a diversificar-se em direção às fi-
nanças. Tomaram-se operadores importantíssimos em certos segmentos
dos mercados financeiros, especialmente os mercados de câmbio. Em
certos casos, o mercado financeiro inte rno de grupo comporta a existência
de um ou mais bancos de grupo; em outros, é a própria direção finance ira
da hdding que organiza e controla essas transações como um todo.
No tocante ao grande grupo industrial, já deve ser banida a idéia
de que haveria uma separação estanque entre as operações direta ou
indiretamente ligadas à valorização do capital na produção, de um lado,
e de outro lado as operações dirigidas à obtenção de lucros de tipo
puramente financeiro. No entanto, permanece a distinção essencial, que
separa o capital produtivo, engajado num movimento de valorização do
capital onde é central a maximização da produtividade do trabalho, e o
capital-dinheiro, remunerado pelos juros, aos quais se somam atual-
mente todo tipo de lucros financ eiros ligados ao movimento "autô-
nomo" do capital monetário.
Tal distinção é decisiva para analisar o níve~ o ritmo e a orientação
da acumulação, e portanto para tentar discernir o crescimento. Mas
também é muito importante para captar a situação interna dos grandes
grupos industriais. A financeirização cada vez mais acentuada desses
grupos confere-lhes um duplo caráter. Por um lado, eles estão se tor-
nando organizações cujos interesses identificam-se sempre mais com

275
alemães. Entre esses trabalhos, destacam-se os estudos do BIS, do MIT
os das instituiçõ es estritame nte financeiras, não apenas por seu comum
e da equipe de ~1.E. Porter (1992) na Harvard Business School.
apego à ordem capitalista. mas pela natureza ..financeir a-rentis ta" de
Tais estudos demonst ram que a natureza e os efeitos das vincu-
~arte_ de seus rendimen tos. Por outro. continua m sendo locais de valo-
lações entre os grupos industriais e a esfera financeir a sobre a compe-
nzaç~o ~o capital produtivo , sob forma industrial. É por isso que nelas
titividade da indústria depende m tanto do espaço que o mercado
ª. wstmçao essencial entre capital produti\'O e capital monetár io é viven-
financeir o ocupa atualmen te, como das características dos bancos ou do
ciada c~mo fonte de tensões e conflitos cada vez mais frequentes, ras-
hteraltne nte, as diversas diretorias e com ·te·s · · Iracao,
de ad m1rus • papel do Estado no financiam ento da indústria. Eles observam, com in-
gando.
. .
1
discutíve l admiraçã o, a situação japonesa, onde a interpene tração entre
rhvididos entre os defensores dns "profissõ es" industria is, <.h: um l~do,
e os "financei ros", do outro. a indústria, o sistema bancário e o capital mercanti l são regulados pelo
falo de pertence rem aos mesmos keiretsu. Enquant o a globalização fi-
nanceira, pelo viés da suprema cia dos mercado s, está levando a um pro-
As várias formas de interpe netração
gressivo alinhame nto de todos os sistemas ao modelo american o, esses
entre indústria e finanças
estudos concluem que as modalida des american as de interpene tração,
caracterizadas pela detenção, muito "oportun ista", de grandes pacotes
O fato de os grupos industria is serem, mais do que nunca elemen-
tos constituti vos do capital financeir o. não significa que seu ;elaciona - de ações por instituiçõ es financeiras ( em particula r os fundos de pen-
são), estão entre as mais antagônicas às necessidades do capital produ-
mento com os bancos seja fácil. Os grupos industria is. de um lado e
tivo e às condiçõe s de vida dos assalariados (voltamo s a falar sobre isto
as in~tituições financeir as e grandes bancos, de outro, m antêm en tre' si
mais adiante). Essas instituições buscam rendimen tos financeir os que
rela~oes de cooperaç ã0rconfli to. mas também vínculos de inlerpene -
sejam. ao mesmo tempo. elevados e com liquidez a curto prazo. Colo-
tr~çao_ recíp~~cos, cuja fonna e meios variam de um país a outro. A
cam-se exclusiva mente numa lógica de investime ntos de carteira Seus
pnme1ra anahse de Hilferdin g (1910) concluía que a interpene tração
( ele falava cm "fusão") se daria sol, d batuta dos bancos. Embota a critérios são oc; cio capital monetár io mais parasitário, cujas exigências
fazem recair com força sobre as companh ias industriais, arbitrando. de
cost~Lação e a intuição mais ampla estivesse m corretas, essa avaliação
facto, os conflitos internos nas diretorias, em favor dos "financei ros".
precisa deu lugar a muitas confusõe s. EJa eslava fundame ntada, ao
mes':°o tempo, numa generaliz ação da situação alemã, numa subesti-
Um mercado financeiro privado internacionalizado
ma~ao da força dos grupos industria is como ninhos de acumula cão do
capital, e continha erros na teoria da moeda, como apontado po; s. de
Brunhotr (1973, p. 97 e seguintes). Um dos aspectos característicos dos grupos industriais multinac io-
nais é a i nternalização de um amplo conjunto de fluxos financeiros, que
Na verdade. a interpene tração recíproca entre indústria e financas
acabam constituin do um mercado fmanceir o interno de grupo, tão inter-
assumiu configura ções muito variáveis entre um país e outro. Por m~ilo
nacional izado quanto o próprio grupo. O autor de um dos principai s
tempo. isto ~esperto u interesse bem maior dos historiad or es do que
compênd ios american os sobre gestão fmanceir a internaci onal sublinha
dos economi stas, especial mente daqueles pertence ntes a escolas não-
·aponesa e, em menor que, "do ponto de \ista da gestão financeir a. uma das características
marxisla s. filas, ultimame nte, a concorrê ncia 1
. peculiares da companh ia multinac ional, em contrapo sição a um con-
medida, a concorrê ncia alemã levaram os economi stas am en·canas
. . jw,to de empresas nacionais envolvidas num conjunto de transaçÕf><; in-
mais c1osos da realidade (falando claro, os não-neoclássicos) a se in-
depende ntes entre si, reside em sua capacida de de deslocar fundos e
terr~gare ~ sobre a possível \'inculaçã o enlre as formas de interpene-
lucros entre suas filiais, mediante mecanis mos internos de l ransferen -
traçao ex1slen_tes nesses países. em compara ção àquelas vigentes nos
cia" (Shapiro , 1992, p. 13). Tais mecanis mos incluem a ÍlXação de
EUA, e a maior competi tividade industria l dos grupos japonese s e
277
276
preços de transferência para todos os bens e serviços intercambiados A ascensão das direções financeiras
no interior do grupo, os empréstimos internos intracorporativos a an-
tecipação ou adiamento dos pagamentos interfiliais e os m~os de
Quando se abre o segundo período, por volta de 1985-1986, a ex-
repartição dos resultados de exercício, entre as filiais e a matriz.
periência anteriormente acumulada contribuiu para fazer dos grupos indus•
~~ dos resultados desses fluxos consiste em dar lugar, dentro do triais agentes mais determinantes, na globalização financeira, do que
exerc1ao e a cada momento, à existência de ativos líquidos de certa im- habitualmente se reconhece. Por serem multinacionais há muito tempo,
~rt~cia, que ainda podem ser aumentados, por curtos J')f'ríodos, pela eles estavam bem preparados para tirar proveito das medidas de desregu-
d1re çao finance ira central, mobilizando parte do capital circulante das lamentação, desintermediação e abertura que examinamos no capítulo 10.
filiais e também tomando empréstimos externos. É essa liquidez que hoje O contexto da globalização financeira modificou a "vantagem específica"
pode ser mobilizada com vistas a operações nos mercados de câmbio. das companhias. As operações financeiras dos grupos dão-se num quadro
desregulamentado, no qual a diversificação para a esfera financeira
.. Convém distinguir dois períodos na exploração, pelos grupos, de suas começou a ser, ao mesmo tempo, atrativa e bastante fácil. Essas operações
·-va.nt~e~ ~e caráter financeiro resultantes da intemalização", mesmo se privilegiam a aprendizagem de finanças anterior e a riqueza e densidade
essa d1stinçao não foi tão nítida na realidade do dia-a-dia. No primeiro
das redes de relações. A globalização financeira abrange ainda a emergên-
período, que vai até 1985, aproximadamente, a posse de moeda nacional
cia de um tipo novo - totalmente mundializado - de mercado de câm-
ainda era um atributo primordial, embora decrescente, da soberania dos
bio, onde o que se toma decisivo é o próprio montante da massa de
governos dos países desenvolvidos. C.-A Michalet podia, legitimamente
capitais centralizada, que pode servir como "força de ataque".
enfatizar principalmente a maneira como as companhias multinaciona~
tiravam "proveito das vantagens de um espaço financeiro contínuo, para Compreende-se, então, que ao longo da década de 8 () tenha se
explorar ou minimizar as incertezas nascidas das adversidades nacionais" acentuado a centralização das atividades financeiras, ao nível decisório
(1985, P- 1 18). As operações principais já diziam respeito às moedas. Os mais elevado, enquanto as operações de produção e de comerciali-
grandes grupos exploravam, quando não provocavam, mudanças na pari- zação gozavam de maior autonomia. A firma de consultoria Mac Kinsey
dade. S. de Brunhoff (1973, p. 123) já pôde esh1dar o papel das tesourarias efetuou um estudo abrangendo 325 grupos multinacionais. Um resumo
dos grupos por ocasião da crise do dólar de 1971, que precedeu O fim do desse estudo, tomado público pelos autores, mostra que a c rescente
sistema de Bretton Woods. Na mesma época, um· relatório do Senado importância das atividades financeiras refletiu-se em mudanças signifi-
americano procurou responder à acusação de que as multinacionais te- cativas na organização dos grupos. A direção financeira, inicialmente
riam participado dos ataques especulativos contra determinadas moedas. confinada a uma simples função administrativa, de intermediária entre
Conclui que, embora seja impossível aceitar essa acusação em bloco, 0 as necessidades das filiais e dos bancos, tomou-se determinante na
montante das somas suscetíveis de serem acionadas é tão alto, que basta otimização do cash-flow a médio prazo. Mesmo quando não atingiram
que um pequeno número de grandes grupos tenham comportamento o estágio de constituírem um banco próprio, os grupos adotam uma
especulativo, para desencadear uma crise. Detalha que, em 1969, quando visão "global" das atividades financeiras: dois terços deles têm uma di-
das ~an~es ?fensivas contra a · libra esterlina, os ativos de curto prazo das visão financeira onde as decisões são centralizadas, contra 20% que
multinacionais americanas. detidos essencialmente por suas filiais no ex- centralizam a função de compras e 15%, ·a função de distribuição
terior, representavam cerca de 40% do total de ativos aplicados nos mer- logística (Duchesne e ~iry-Deloison, 1992).
ca dos. Na época, bastaria que 1% do total de ativos se comportasse de O estudo considera, no entanto, que o grande êxito é o dos grupos
maneira agressiva, para detonar uma crise financeira de primeira grandeza que conseguiram dar um salto qualitativo e criar bancos de empresa.
(US Senate, 1973, p. 539). As vantagens proporcionadas por tais bancos seriam de "natureza estru-

278
17 9
ção, não ficam
lura!", pois os banco s de empr esa "não estão preso
s às prátic as com folga. Do ponto-de-\'ista de seu grau de fmanc eiriza
de 70, e de forma
bancá rias regul amen tares" (ibid., p. 30). nada a dever a ninguém! Desde mead os da décad a
de gestã o e va-
Esse ponto -de-v ista foi confi rmado pela comu nidad
e financeira. acele rada na de 1980, a motiv ação de suas estrat égias
ial em geral, e
~um dos prime iros estud os sobre as inova ções financ eiras, 0
BIS emi- loriza cão dos atirns situa-se ao nível do sistem a mund
No caso francês,
tiu a opini ão de que, entre os fatore s que teriam impul
siona do a oferta no pr~ce sso de globa lizaçã o financ eira em particular.
por esse camin ho.
de novos produ tos financeiros, deve- se incluir o aume
nto da conco r- eles foram encor ajado s pelo Estad o a em·er edare m
naliza dos e às
ri>ncía, result ante da chega da (da "entra da em opera
cão" no sentid o Isto fica perfe itame nte claro no tocan te aos grupo s nacio
suas atividades
da econo mia indus trial) de dois novos tipos de em;re
e~de dores fi. empr esas públicas, que foram convi dados a aume ntar
merca dos interna-
nance iros: as comp anhia s esf)f'r-i;ifivtdas em serviç
os financ eiros e as nos merc ados financeiros. na Franç a e tamb ém nos
grand es empr esas indus triais . O relató rio obser va
que '·boa parte cionais. O caso da Thom son é exem plar.
, um progr ama e sua maior
desta s ado!a ram. c~mo eixo de sua estrat égia de grupo A relaçã o entre a mund ializa ção do capita l produ th·o
do não global. De sentid os. A globali-
de ex-pansao agres sivo num conte xto nacio nal, quan financ eiriza ção dá-se , evide nteme nte, em ambo s os
eira) pela alta ad- s da Tríade, dos
re~t~, ess: enfoq ue foi trazid o (para a esfera financ zação financ eira acele rou a expan são, para os paíse
da que elas foram viés dos novos
miru~tra~ao das empr esas não financ eiras, à medi grupo s que entra ram tardia mente nesse proce sso, pelo
p. 183). Só pode- e casas espe-
se d1vers1ficando para a esfera financeira (BIS, 1986, e variad os instru mento s que as institu ições financ eiras
de Basiléia Suíca suas opera ções in·
mos nos comp adece r dos respe itávei s banqu eiros cializ adas coloc aram à dispo sição dos grupo s para
desse s nov~tos ~~ conta m-se , em
os quais , visive lment e, não aprec iam a irrupç ão terna ciona is de aquis ições e fusõe s. Entre estes
conse qüências da ônus como de
mund o acarp etado das finanç as. Mas era uma das partic ular, os empréstim os conju ntos, tanto de eurob
BIS permi tiu, tal ancad as" como
transf orma ção das finan ças em "indú stria" , que O obrig ações intern acion ais, e tamb ém as opera ções "alav
como Iodas as outra s grand es institu ições financ eiras. tronsactions).
as LBO (leveraged buy-outs) e as HLT (highly-leueroged
nto de banco s
tal Os eurob ônus sim obrigações emitidas por um conju
"Engt!nharia finan ceira" e mundialização do capi assoc iados, num pais diferente daque le da moed a que
lhes serve de su-
daque le da moed a
(1980) ilumi- porte, e subscritas principalmente em países diferentes
Quinz e anos a trás, a tese de douto rado de O. Paslré ações emitidas por
a expan são da em que estão rotulados. Por sua vez, as euro- ações são
~ou, de. forma impor tante, a vincu lação existe nte e ntre o seu merca do na-
, já bem adian- um grupo industria~ em outros merca dos que não
mtem ac1on alizaç ão das grand es empresas ameri canas la teria surgido
, em espec ial a ciona~ por uma assoc iação de banco s e corretoras. A fórmu
tada,_ e a evolu ção de suas forma s de o rgani zação u S milhõ es de títu-
por um centr o fi. em 1976, quand o a Alcan (Aluminium Cana dá) emiti
adoça o da organ izaçã o como holding, coma ndada e não no Canadá.
eiro. Segun do los, coloc ados principalmente nos EUA e na Europa,
nanc: ir~ e condu zindo uma estratégia de caráte r financ nte de fundos ne-
afetam a estrut ur Amba s as fórmulas podem sel\ir para coleta r o monta
Paslre. as causa s das transf ormaç ões radica is que a iados també m
fi . "
comp anhia s não estav am só nos EUA; era a inlem a- cessá rios a fusõe s/aqu isiçõe s de vulto. Os banco s assoc
~anc: 1ra dessa s dos financeiros es-
(subl inhad o pelo podem ajuda r um grupo a emitir títulos em merca
c10na llzaçã o que desem penha va "pape l domin ante aquel e que elabo rou
autorf na evolu ção da estrut ura desse s grupo s ... trangeiros. O primeiro deles é o merca do ameri cano,
lógica vale tam- as "inov ações financeiras" de que devem os falar agora.
, Por extens.iín. P<.sa obser vação de ordem m etodo (LBO) e as highly -
bém para a evolu ção dos grupo s que entra ram mais tardia mente no As cham adas opera ções de leueroged buy-outs
grupo s france ses. /everoged tronsoctions (HLT) permi tem a comp
ra de empr esas alavan-
proce sso de mund ializa ção, como por exem plo os
m a uma oferta
Mas estes, na maior ia das vezes , "recu perar am O
temp o perdid o". e cando o endi\ idam ento. Muitas \·ezes, elas se segue
Z81
L80
públi ca de comp ra. Seus objet ivos são, muita d operacões LBO. Não é conh ecida a parcela
s vezes, predo mina nte- valor corre spon e a • exata
ment e financeiros. Para garan tir o serviç o da de aquis ições/ fusões envol vendo comprador Essa parce la
dívida, o comp rador conta, es externos. .
seja com o cash- flow futuro dos ativos que erma nece u reduz ida, com certeza, d ad o que os grupos estrangeuo s
adqu ire, seja com sua re-
venda parci al em unidades separadas, depo
adquirido. O prime iro caso de LBO remo nta
um cong lome rado da Flórid a, a Houdaille lndus
is de desm ontar o grupo
a 1979, com a comp ra de
p
são obrigados a
como de um comi e
, -
. .
l~l ~fi:-:
istência de fundos própr ios elevados, bem
:a::o s muito bem cotados. Nas revistas espe-
. ados nome s canadenses ou b ntamc ·• · Já o
try, pela firma de títulos cializadas, so sao menc1on os.
de Nova York Kohlberg-Kravis & Roberls, por
350 milhõ es de dólar es, finan ciado em 48,4
um preço da ordem de
de fundo s própr ios e 306
movi ment o de conc entra ção/r eestr utur ação
t
.
tem recom do,
signi ficati va, a esse segm en o tão espe cial do mer ca o.
d d

e
f rma
da :i,:
por endiv idam ento sobre título s emiti dos para . te Beatrice Foocls ou
os restantes 271 milhõ es. Nabisco, lá estão nome s de grupos como o
g1gan
Uma das maio res operações LBO já registradas a antiga empresa de rádio-eletrônica RCA.
foi a do grupo agro-ali-
ment ar Nabisco, em 1989, que alcan çou 25 bilhõe
s de dólares. Tabela 25 .
.
Em1ss-oes d e bôn us de alta renta bilida de e alto risco
Os recursos que criam a "alavancagem" no
mom ento de lançar a
- ~ (~"m~oe~d~as;_po
~ d~res
1 ~~
oferta públic a de compra, seja "amigável" ou ?")'.. _ _ _ ~;',
'"'hostil", são de dois tipos.
r - - --,- - 1
Há os recursos reunidos pelo comit ê de bancos come
rciais que asseguram 1 I N ' mero de
1 A 8
Valor das 1 Valor !ota
1 Rela-t 0 l
Porcentag_em I
I de emissoes
o empr éstim o interm ediár io princ ipal, e que
dívida "senior" (de primeira classe). Depois, há
representa m a cham ada
os recursos resultantes do 1
Ano
1
u
emi~<;Õt!S · -
em1ss oes
de alta
1rerubiidade*
l dos
em,
bonus
ºf1dos• 1

A/
l l"gada
1
aquisí5ões/
fusoes
sa
j
--1977
-- , - - -
financiamento, por instituições especializadas, banco 61 1 .040,2 0
s de investimentos ou 1 26.31 4,2 1 3,95% 1
casas de títulos, de uma dívida de segunda classe
dívida dá lugar à emissão de "moedas podre s"
, de risco elevado. E.ssa
(os célebres junk bonds),
1
~::: l :: 1
~
:
~:::~ 1
2 1 557 2
25:83 1:º
7,32%
5,4:l%
títulos desclassificados e de alto risco, acompanha
dos de alta rentabilidade. 1 1960 4~ 1 1.429,3 1
r . 907 2
.3u . '
1 3,87% 1
1 1
O surgimento desses bônus data de 1986 e teve 34 1 40 .783 ' 8 1 3,77%
prosseguimento, em ritmo 1981 1 1.536, 3
elevado, de 1987 a 1989. Na verdade, o efeito
do crash de Wall Street em
1 19 82 52 2.691 ,5 4 7 .2 08,9 5,70%
1 1
1987, depreciando o preço das ações, foi acele 1 95 7 765 2 1 38..372 ,9 20,24% 5,5
rar as operações baseadas 1 198 3
na alavancagem da dívida. Por isso ocorreu 1 1 ~.23~,9 1 82.49 1,S 22,7
transações fraudulentas que as autoridades termi
(à margem das numerosas
naram por sancionar) um l 1984
1
131
1 8 0 4 76 9
18,47%
19,49%
1
3&,2 \
boom fictíci o no m ercad o de junk bonds, que ~::: l ::~ ::·.:: ~·.: \ , s~-º5~ .3 55,6
queb rou em 1989, con- 21,3l % 1
tribuindo para o inicio da recessão de 1990-91. 1 1987 1 190 1 30.s22 .2 1 126.13 4,3 1 24,20 % 67,8
l
É nesse perío do que a revenda parci al ou lotai das
comp anhia s
1 1988
1989
l H,0
130
l 1
31 095 2
.
28.753 ,2
, 1 07
142.7 9 '
1 J 4.79 1, 1 23,07 %
20,1 4% 1
65,4
65.4 1
que const ituíam os grupos comp rados tomo
raiders. Micha el Milke n, o guru finan ceiro
u-se o alvo princ ipal dos
do banc o de inves timen to
1 1990
1991 1
10
48
1.397, 0 109
.
284

1 9.967, 0 1 207.30 0,9 1
4
1
1.28%
l 64,4 l
Drexel Bumh am, foi o céreb ro de muitíssimas 1 4 ,81% 9,6 1
aquisições, enqu anto seu 1992 l 317 605 7 12 ,52% 1 12,4
empr egad or, o banco Drexel Bumh am, contr 24 5 1 39.755 .2 1 . . . 1
olava quase 50% do mer- 1l 2
1 57 1(,3,7 3 13.897 ,8 18,2 1% 1
cado dessa categ oria de títulos (num mom ento
altam ente rentá vel). En- 1
1993
l otai
1
34 1
2.081 ~ . 2 79,8 l 1 .907 .800,6 [ ~ l
9:..:.º/4:.,:.._ L-

tre 1983 e 1989. 21 % de todos os títulos emiti - - .....J


dos por firma s dos EUA
eram " moed as podre s"; a porce ntage m baixo • em milhões de dólares. . . de rll ,. The Ncw York ReviE>W oi Books. vol.
u após as falências de Fo nlP: R. E. Alcaly, "l 'á~c d'or <X."> ém1ssions
1990- 1991 , mas conti nua send o elevada (ver paco , e •
Tabela 25). Um terço do Xll. 11·, 10, n,,>iO 1994.

28] 283
Diversificação em finanças e bancos de - .
grup o uer
uma "prof issao C UJO exerc1C10 req fi eleva da com petên cia, {que \
• ce·1ro" (L Batsc h 1993. p.
Existem certa s opera ções para as quais os banc ganh a ao se apoia r nu m . bom volum e ' man · '
t incentivo à finan ceiri zaçao _
os conti nuam send o
parceiros ine,itáveis dos grupo s industriais. É 8 1). Estam os, po rtant o' diant e de umli,ore _ da econ omia de endiv ida·
o caso, por exem plo. das
grand es emis sões de eurob ônus . em que se dos grupos. O utro .mcent·1,•o e' a amp acao •
impõ e a prese nça de um do final com suas multl . . d crédi tos
ment o para o merc a plas form as e
banc o come rcial internac ional de primeira linha , . te. Por que os grup os não iriam
. É o caso, sobre tudo. das hipot ecári os, c rédit os ao consum1d~r- e
opera ções de aquisição e fusão transfronteiras. de qual quer forma. pre-
em particular nos EUA, . nta próp ria os credi tas que.
onde é indispensável a ajuda de um banc o de geren ciar por co _ d
in\'estimento. Por ocasi ão . mod o a dom inare m a sua
de oper açõe s desse tipo cond uzida s por grupo cisam cnar para esco ar sua prod ucao ·
, e
s franceses nos Estados Uni- mpo se apro priar em eles
dos, por exem plo, a intervenção de banc os de inter ação com a pro d uçao -
_e,
ao mesm o 1e ·
. de deixá-los aos banc os?
investimento antigos. como mesm os dos lucro s finan ceno s, em vez
o Lazare Frere s e o Paribas, propo rcion a a
seus clien tes e assoc iados
seniç os jurídicos e financeiros base ados num , d de 80 assistiu•se à cons tituiç ão dos ban-
know -how acum ulado há Fo1· as s·m
,
que na d eca
, a ,
déca das e o conhecim e nto das "inov ações finan se1· a - d firmas finan ceira s em banc os,
ceiras" mais ,anta josas . cos de grupo , pela trans form açao e i
. i·zad as seja pelo meto ,
junto com o acess o a fontes de capital específicas . , tinha m firmas espec 1a i , do
. quan do os grup os Iª . . - /fusõ es (Oha na, 199 l). A
!'vias quan do se sai de situa ções desse tipo cláss ico em caso s d e ~r génc ia·. as 26 aqm5 ,çoes
e se entra no camp o das
opera ções de meno r enve rgadu ra ou de know lista desse s banc os esta na Tabe la .
-how meno s especializado,
existem atual ment e fortes motivos que incentivam undo K. Ohan a, o grup o Th. ,n n foi o que deu
os grupos industriais a Na Franç a, seg
avan çarem na área tradicional dos bancos. São . •d des banc árias . Esse
motivos seme lhant es aos mais atenç ão ao d esen vol' /l·men to de suas a 1" 1 d
que menc ionam os no capítulo 8, para explicar . , . cada um para pree nche r uma funcã o di-
a razão de ser do IEO dos grup o poss m vano s banc os, •
grupos industriais em certo s seIViços. rvta.s são, . d aixa obte ncão de lucro s.
sobre tudo, cons eqüê ncia feren te: nece ssida des de fman c1am ento, ~
c ' d
direta dos proce ssos de desre gulam entaç ão e
desin term ediaç ão que exa• Assim. exist em dms
. ba para o geren ciam ento e ca-ixa do grupo:
ncos .
mina mos no capítulo anterior. Essas atividades
fazem parte do movi ment o a Soeié te de Banq ue
To (S81 ) enad a em l972, e O Thom son
de financeirização dos grupos industriais, como om~ on 1~ para geren ciar o contr ato Al-
um todo. Créd it Jntem ation al (fCI), cnad o em
• . Ar'b ·a Saud ita no valor de
Indiscutivelmente, as grand es empr esas vêem
os jwos sobre os em• Khateb, relativo a vend a d e a rmam entods a. a 1 '
prést imos e as coberturas de "negativos", que r. .lh- de franc os. Ao lado dess es OIS banc os o Thom son-B randt
são obrigadas a pedir aos 3..> b, oes , , •
bancos, de forma bem difer ente do que as punç . 1 (fBI) asseg ura o essen c1·a1 dos empr éstim os nece ssan os
ões sobre os lucros que lntem ation a
sofre m nas mãos da distribuição conc entra da euro bônu s (em 1992, o TBI d e tém três quar tos dos fluxos
O crédito é indispensável do grupo , em b"nu s) Fund ado em 1982, com
ao funci onam ento da empr esa no dia•a•dia; corre ntes d esses e m P réstim os em euro O
em muito s casos, não seria ·
possível fazer im·estimentos sem toma r empr éstim . - d O ovem o para conto rnar a regu lame ntaçã o revog ada em
os. Mesmo assim , desd e auton zaça o g . di . '
a
que a form ação do merc ado de títulos de crédi
to (a ''securitização") abriu 1987, que proibia finan ciam ento em VISas parti r do território franc ês,
e rrnitiu ao grup o
às grand es comp anhia s a possibilidade de se - . ·d·ca ment e uma firma holan desa, o qu
li\Tarem, pelo meno s parci al- o TBI e. 1un J , pe
- bô us Por lim outro banc o. o
ment e, de sua depe ndê ncia do crédito bancá fonte sobr e os n · '
rio, elas agarraram a opor• esca par às ~~en çoes na em 1986. atua no merc ado de câmb io, nos
tunidade. Era uma ques tão de auton omia e pleni BATIF. adqw ndo pelo grup o
tude na gestão, além do - d
custo de obten ção de fundos. ele. A integ racao e um banc o pode atend er a dois
merc ados a praz0 . O rimei ro é dotar o grup o de um
A emis são de títulos no merc ado de crédi tos, objetivos (L Batsc h, 1993• P· 81 ). p .
pelos grup os que te- ciar seu caixa , financ iar sua expa n sâo e organi-
nham o patam ar finan ceiro necessário, não instr umen to para gere n ·a1m te O crédi to hipo tecár io). O
é uma ativid ade neutr a. É zar o c rédit o aos clien tes (espec1 en
184
]85
e· - Tabeld 26 a um grau mais elev ado
r1açao ou aqui sição de banc os Não é certo que o segu ndo obje tivo refil
_os, _desde 1980
(grup os indu stria is ou majoritarkelos grup f,nan ceiro s) de íman ceiri zaçã o de wn gruJX l indw
.trial. Uma das conc lusõ es do es-
, mente nao-
o na Fran ça é que "o banc o
!Grupo
de e , dºt --
rAno - tudo de K. Oha na sobr e os banc os de grup
1 . 15fatab . ento M.re. , o
.. elecim de in,-e- ,a- - - - -
ente no interior do grupo,
g çao
de grup o, que ante s era integ rado verti calm
<;drnt-Cob ,iin cicre
1 oc ,er,:, r,ndn
IM CridÇ<io 1989 j ntem ente tem sido integ rado
com o servi ço auxiliar às outra s filiais, rece
I Ah líOirs
1BSN
j Schn<>idcr ª,
1.~1Of ldnge
nquc IAqu1<.ir~o
,... '
198º
3
1

1 horiz onta lmen te ao grup o, toma ndo- se, em


si, uma ativi dade estra tégic a
1BA /í / Aqu,~1~ 0 , 1 987 icad o em 1991. As pesq uisas
l lhornson 1 A . · j e um cent ro de lucro". Esse estu do foi publ
1 qu,s,ção, 1984 C. Serfali, suge rem que os
que fizem os depo is disso, junta men te com
1
1 • _ 1TC, 1
L Ore;i l j R,eger,
•_ 1Criaç ' 1984
,10
efeit os com bina dos da mult inac iona lizaç
ão dos grup os e da globali-
I Rrgis tro b<1ncário 1987 zaçã o das taxa s de câm bio,
1Rc-na11ft ISocié<. f. .. , zaçã o financeira , em parti cular a fman ceiri
L f e manc,ere et Fonci ere
1 I
Registro bancárro, 1983 1
A cara cteri zaçã o da atividade
a drg<' 1rransb ;inqu
e 1 ..
1989
conf irma m amp lame nte essa conc lusã o.
ro de lucro em si vale in-
fp · h. 1Aqu,s,ção, 1
finan ceira com o ativi dade estra tégic a e cent
ec rney . e
I Crédi t Ch"1rn,qu
· 1
l 1982
iriu um banc o, e sim con-
1
Lyon. des Eaux H 1 . . 1
18 y< rogen,que clusive quan do o grup o não criou nem adqu
. . 1RC>gistro bancá rio, 1987 açõe s à' direç ão financeira
1 ouygues
I
ISoc1été de B
anqu e Prrve<• . . 1
/ tinua conf iand o a resp onsa bilid ade das oper
I . 1Aqu,s,ç,ío, 1989
C;iiss , des aux d e Trésorenc .. da holding.
·
Jacob Su<.hard 1 Aqu1s1ç<io, 1989
1Créd11 Frdnçais lntern~1· q 1011. A . .
/ Arjil S. A. Banque Arjif qu,s,çao, 1987
câm bio
1Nav1gation ) Via Banqu<> 1
Cri;ição 1987 ' G rupos industria is e especulação de
1
IMixt e
1
)Georges V
Is .. é
OC:iêt dr Banq ue et r;.
1Via Fin.inces
I
11984
.
Cn,iç ão, 1986 A parte maio r e, de longe, mais rent ávd dess
ras acon tece nos mer cado s de câm bio.
as ativi dade s financei-
Com vimo s, foi lá que a
o
) Crédit fonci er lillois
IAquisiç,io, 1986 eiro; é lá que sua capa cida de
apre ndiz agem dos grup os com eçou prim

l í m. Agache
Société du Louv re
1Pelegc S. A.
· Facet
1
Banque. du Louvr e
AvenuC' Banque
Criaç Jo, 1987
Criaç ão, 1987
Criaç ao, 1988
de mob iliza r rapid ame nte mas sas vultosas
pos mais um tipo de "van tage m espe cífic
de liqui dez conf ere aos gru-
a".
nte, mas tem sido extre -
1 1.eomptoir français des O flore scim ento dess es merc ados é rece
mdustriels du plasti c te, o volu me de trans açõe s
'- Aquisição, 19Bl mam ente rápid o (ver Gráfico 15). Atua lmen
r onte: Baseado em K· Ohana. 1991 por dia Esse volu me deco rre
alca nça cerc a de 1,3 trilhão de dóla res
s, bem com o as com panh ias
. . do fato de que os banc os e casa s de título
segu n~o é fazer dos servi ços finan ceiro s grup os industriais, alter am a
-~m eixo de d1ve rsüicação do financeiras espe ciali zada s, e tamb ém os
grup o mdUstrial. A criaç ão do Banq ue ando com pras e vend as de
em 1987, foi expr essã o de uma d"1vers1.ficacArj1 pelo grup o Hachelte-Matra ' com posiç ão de sua carte ira de divisas, efetu
- declarad o, do qual deriv a a
com o uma "ind ústri a" com o qual quer outr a A
.ao na esfe ra finan ceira , vista moe das, vária s veze s por dia. O obje tivo
. exto de taxa s flutuantes, é
Th
e o Créd 't L . . apro xuna ção entr e a supo sta legit imid ade do merc ado num cont
oms on CSF Fina nce e prod utos , ou efetu ar arbi-
na Allus Fina nce, em jane iro dar cobe rtura a oper açõe s conc retas sobr
de 1990, deco rreu de idên tic 1 ~nn ais gran de grup o inter nacio nal
nr.,.,. o ~~vu nent o de dive rsificação. Dad os p u- trage ns sobr e a carte ira de divisas que todo
blicados pela Euror.,n.A, ey na ed1cao es . 1 .
pec1 a de Junh o de 1994 indic am prec isa poss uir nece ssari ame nte.
que esse proc esso 1·á esta . be.m adan tad capa z de traça r a fron-
f • na - o nos Esta dos Unidos, em Mas, hoje em dia, nenh um espe ciali sta seria
unça o ua extre mad a desre guJame ntaç ao e desintennec1·1aça. o. pura e simp les. A financeiri-
teira e ntre a arbit rage m e a espe cula ção
286 287
Trans _ . • ~~firo 1S dois principais centros financeiros do planeta Em Londres. •13% e em
~ diánas médias nos mercados de câmbio· Nova York, 40% das lrnnsações eram realizadas pelos dez maiores ban•
evoluçao a partir de l 986, em bilhões de dólan!S .
cos. São eles também que inten-êm, por seu depa.r tamento fiduciário,

. ..
o,...
l!J ,'"°,
em nome e a pedido de seus clientes.
No entanto, o falo mais marcanle destes últimos anos é a ascensão
dos investidores lnstitucionais. reunindo principalmente os fundos de
pensão (quase 4 trilhões de dólares de alivos financeiros em 1991). as
companhias de seguros ( 1.9 trilhão de dólares), os chamados rmtual
fwuls, fundos mú1uos de investimentos (quase 2,5 trilhões de dólares).
O montanle desses fundos é tão alio que, embora possa parecer
pequeoa a parcela lnvcslida em liluios e oulros alivos financeiros. os
nuxos financeiros desencadeados por esses inveslidores institucionais
lêm considerável efeilo desestabilizador nos mercados {de câmbio e de
títul os). Em 199 1, os fundos de pensão e os fundos mótuos detinham
uma cartelra de tflulos estrangeiros, respectivamente, de 125 bilhões e
Fonce: F. Chesn.us e e. Seffatl tl994)· t'bbot-acjg
pelo!I ª ~ a p,utir cb.c rdatdtk,J lríenak do
8ts. Ceutr•J 8.1.nl,; Survey oi fotclt."' Éx :hl. de 90 bill1ões de dólares. Mas esses montantes representavam apenas
. ..,. ' ng,, Ma<l<.. l\ctlvily.
4,691> e 6,6% do total de seus ativos ... Prevê-se que, em meados desta
.zaçao das la.,as de câmbio iez d os ••mercados finance·ros" 1
1mt!diata de considerá\'eis lu . r. · a alavanca década, os lilulos estrangeiros atingirão cerca de 12% de seus ativos.
c ros ,manceJros i.pur05 " '-1 .
monlante de recursos nnan . , ,,· u1tas vezes, 0 Os hedlJe hmds ocupam uma posição parlicular, que teve destaque
ceir0$ de que di>poe"m ,.._
luições financeiras os , d d os vancos. as insll- nas crises dos mercados de câmbio, no verão de 1992 e no de 1993.
, ,un os e pensão . , d
industriais é superio , • pma os e larnbém os 8nJpos Apesar do nome, essas companhias {das quais a mais conhecida pubU•
r as rece11as orçamenlárias d Es
daqueles dos países desenvolvidos e s • ~s lados, Inclusive camente é aquela pertencenle a George Soros) dedicam-se à especu•
reservas de divisas em poder da ' • obreludo mhdamenle superior às
bilhões de dólares que a 8a maioria dos bancos cenlrals. Os 300 Tal..-la 2i
nque de France e O B d ba • Investimentos estr~, ngeiros dos fundos de pensáo
compromt! leram un es nk, Juntos, e fundos de invest imenl o coletivo (tipo SICAV)
(SME) • para lentar preservar o Sislema Monetário E
nao lem lido muilo peso <li I d uropeu em alguns p..,íses industrializados, em 1991
mobiliiados por aqueles que ~s;ão ªd":,idl~s montantes que podem ser f u ndo< de inve-i;;time.n10 fundos d• pen,.io
paridade. para embols ' . • . os a provocar mudanças de
ar 8an,aos alt1ssunos. 1 Po11ocl.t investida PMLl..~3 ll\'l'!,C

Total de a1i,'OS t"'ln 11lulos r 1 Ol,11 d~ al1"'0S cm1l1ulos e


!bóihóes de ouum ,uivos lb,11"""' de ouuos. advos
Llm estudo do departamenlo de i dõl;u·ed no CXlf.!fiOf
lernacional (FMI) estra h pesqu sa do Fundo Monelário ln- dóliltet,) no ~tc.-rio,
(%)
(%l
'
perfeitamenfe claros sobre
n amente pouco citado 1
· omece elcmenlos - ~

. como os operndores inte , ai f r-aU\..l 396.5 4, J


2:rram sua atuacâo duranre . maaon s condu- )4,9
. a cme do mercado de cá bl Alcmanl\d 174,G
de 1992. Esse esludo co 1• . m o, no verão óSS,O 7,0
n cm, em pnmelro lug d • • J,,pão j4;J,-I
do~ intí'r\'enientes. O m·n 1l d 1 . ar. uma efiruçao exata 39,Z sc~o,o 20.0

' •
ero e es e bastante reduz.id . 30 5
cos (e um punhado de corre1oras de u·1 1 o.
u os) manejam o me
a O ban-
d d
IReino Unido
CUA
'ºº·"
1.3-16,7 1 6,ú i.ns.o 4,b
c ..mb,o das princlp;iis d' . . E: rca o e
,visas. ssa ,:1Jta concentração repete-se nos

ilJB 189
lação utilizando uma alavanca poderosa, lucrando sobre os fracos con- Em Hilferding, o termo "capital financeiro" tem sentido sensivel-
troles regulamentares a que estão submetidas. fmbora, na época, "só" dis- mente diferente. Designa a forma de capital que nasce, a partir da
pusessem de IO bilhões de dólares de capital, foram essas companhias terceira década do século XIX, da estreita interconexão (ele chega a
que estiveram na origem dos ataques contra as moedas do SME, em 1992 falar em "fusão") entre os grandes bancos e a grande indústria, cuja
e 1993. Elas atearam fogo ao pavio, antes de entrarem em campo os forma especificamente alemã é apresentada por Hilferding como se
"batalhões principais", formados pelos investidores institucionais, e depois fosse comum a todas as potências capitalistas. No plano político, essa
as tesourarias dos grupos industriais. Com efeito, o estudo do FMI men- estreita interconexão tem efeitos relevantes, em termos de concen-
ciona as multinacionais entre os atores principais, sublinhando que "as tração de poder, nacional e internacionalmente. Na esfera econômica,
operações de câmbio dos caixas dos grupos são vistas !por eles), cada vez suas conseqüências são medidas em termos de aumento do poder de
mais, como centros de lucros" (FMI, 1993, p. S). Tal como qualquer outra monopólio, já resultante do processo de concentração e centralização
autoridade monetária, o FMJ não consegue quantificar O montante dos re- industriais. A problemática do capital financeiro, em Hilferding, é mais
cursos envolvidos, e não procura ter os meios para fazê-lo. Num mercado fácil de captar do que a do ciclo "encurtado" do capital-dinheiro, em
completamente desregulado, não se publica mais do que o necessário à Marx, e o conceito de capital fictício aí incluído. Também é mais fácil
sustentação da cotação das ações na Bolsa construir pontes entre a problemática de Hilferding e muitos estudos
A financeirização dos grupos tende necessariamente a modificar 0 não-marxistas sobre os trustes e os grandes grupos ou sobre a influên-
seu comportamento como um todo e a acelerar o questionamento de cia do capital financeiro na política interna e externa dos grandes
sua vocação industrial. Por enquanto, o resgate a pagar é O aumento Estados.
no número de "acidentes" de mercado, cujos exemplos mais desta- A explosão de transações financeiras, que está ocorrendo desde o
cados foram os da companhia alemã Metallgesellschaft ( 1,4 bilhão de começo da década de 80, decorre da problemática que examinamos
dólares de prejuízo); do grupo japonês Koshima Oil (1 ,5 bilhão), da anteriormente, cujos alicerces foram colocados por Marx, quando se
Procter and Gamble (l02 milhões), sem esquecer as decepções da estava num nível completamente diferente do desenvoMmento das fi-
Thomson com a Allus Finance... nanças e das pretensões de autonomização do capital financeiro. Mas
também as formas atuais da interconexão entre as finanças concen-
tradas e a grande indústria (ou seja, o campo em que Hilferding deu
Os dois sentidos do termo "capital financeiro" sua contribuição) devem ser submetidas a uma análise crítica renovada,
e a "corporate governance" de modo a dar prosseguimento ao estudo do capital financeiro, no
segundo sentido do termo. Os anos 80 também assistiram ao apare-
Quando Marx fala em "capitalista financeiro", está se referindo aos cimento, em primeiro plano, de formas de centralização do capital
banqueiros de negócios e outros "senhores das finanças ", que vivem monetário de instituições financeiras, às vezes de origem bem antiga,
de operações feitas no cenário da esfera financeira, definida como mas que até então haviam permanecido em situação subalterna aos
aquela Oá citada) em que "ternos ~o•, dinheiro que gera dinheiro, um grandes bancos e grandes grupos. São os fundos de pensão, isto é, o.,
valo~ que valoriza a si mesmo, sem nenhum processo [de produção J grandes fundos de aposentadoria anglo-sa,ções e japoneses; os fundos
seMndo de mediação entre os dois extremos" (livro III, capítulo XXIV). mútuos, isto é, fundos comuns de aplicação e gestão de carteiras de
As operações próprias à esfera financeira dão origem a camadas da títulos; bem como as companhias de seguros mais orientadas para os
burguesia de caráter essencialmente rentista, no preciso sentido sistemas de seguro de vida e de aposentadoria complementar. A for-
econômico de que os rendimentos de que usufruem provêm de trans- macáo e crescimento dessas instituições levou a mudanças importan·
ferências a partir da esfera de produção e circulação. tes,- que estão longe de concluídas, nas formas de relações e nas

290 291
- hamada .. reengenharia", rebaixamento do
modalidades de ent,elaçamenlo entre ns finanças e a grande indústria. seguida ,, operaçoes d~ c • . fel prccaried,1de no trabalho.
Essas instituições financeiras não bancárias comandam massas fi. nlvel salarial e instauraçao da mrus com~ a . • . mesmos
r d • ,alorizar seus atn<>S lndustna,s. pelos
nanceiras Ião elevadas, que, perto delas, as dos grandes bancos são O objeli\'O dos un os e , . todo Os «estores dos
pequenas, quando não "nan,c.is". u nnanceuos comot umbém o· máximo
critérios que os seus a vos

de mo-
maior rentabilidade, ,nas am .
São ~""• operadores financeiros, de tipo qualilalivamenle novo, íundos buscam ~. • econhecem nenhuma obrigação além
t fue lêm sido, rle /ooge, os principais beneficiários da "globalização fi. :Uiclad:/r!::~~e~\ses::: ;.mdos; as conseqúé~as ~e sua~opc-
nanceira". Nem por isso eles se desínleressam da indústria. Parte sig• essa ula - e o túvel de emprego "nao sao pro ema
rações sobre a acum çao ba a indústria,
nlficaliva de seus gigantescos aUvos financeiros está sob a íorma de deles" A íorma alemã de interconexão enlré os ncos e . pod ria
pacotes de ações. Estes são de maior ou menor vulto, mas sempre sufi- · ,éllpo do capital financeiro, ·e
que Hllferdi11g tomam como 11rq1 . • da relação
ciente... para dilar a política económica e ru; estratégias de investimento . o a melhor forma possl\'el de orgaruzaçao
dos qnipos industriais em questão. É o problema novo da chamada aparecer ho1e com d . dus'Iria· e o tempo quando
· l-d' h · concen1ra o e a 10 '
"corpora/e gooemmce", de que se rala cada vez mais nn Imprensa 1<ntre o capita m c,ro lo andamento das empresas,
• b3n que se Interessavam pe
económica. Esse termo é geralmente evocado unicamente sob o ângulo eram so os cos pé . de Idade do Ouro (Aglletta. t99S)
seria visto como uma es c1e
da nova instabilidade à qual es1óo sujeitas certas camadas capitalistas
ou tecnocr.ilícas, que an1cs esla\l'am confortavelmcn1e acomodadas:.
Mas estão em jogo questões bem mais fundamentais para uma apre-
ciação do rumo do capitalismo.

As questões ma.is lrnponantes dizem respeito à oriPntac;ão das de-


cisões de im<estlmento, bem corno à intensidade da exploração dos as-
salariados e às formas que esta assume: demissões massivas em

Cr.íficu 15a
Crt-scimcnto dos ,,tivos fin.1nceiros nos EUA,
por tipo de investimento (1980-1994)
◄,S,O

O 1980
■ ,m
), 116
□,, .. ,...

roote: Match.ilnd e M~leux, 1996.

192
capítulo 12

Mundia lização, regulação


e depres são longa

"Por que rodos os sinais entraram no verm<>lho ao


mesmo tempo: a atmosfera, as florest.as, as águas? O
choque entre o sistPma tecno-financ eiro mundial e v
ecossistema mundial abala todo o planera. Diante de:.1·
série de p<'rigos globais, o ''mercado mundial". apresem
wdo como o gmr,d<' administrad or dos assuntos hun1a-
nos, é tâo inoperaflle como perante a crise social
planetúria. •·
J. Chesneau x, "Dix questions sur la mond1alisatio n". Le
\Jomlr• Dip!umatique . 1993
..

O que afina l cons tatam os é uma situa ção


palavras de R. Petrella (1994), "a mund ializa
em que, na~
ção da econ omia de mer-
lizada, está 'liber ando ' o
cado , privatizada, desre gulam entad a e libera
uiçõe s que havia m perm i-
capit alism o das regras, proce dime ntos e instit
socia l' - o Estado pre,i -
tido, à escala nacio nal, cons truir o 'cont rato
rmos nesse últim o aspecto,
denc iário ou Welfare Sta te". Antes de entra
nômi cas dessa "liber ação "
vamo s tenta r avaliar as impli caçõe s macr oeco
a intern acion alizaç ão do
do capital, tanto do ângulo das relaçôes entre
teoria da regulação (R.
capit al e os níveis de crise recon hecid os pela
ão do mom ento atual da
Boyer, 1986), como forne cend o uma interp retaç
da de 90.
conju ntura mundial, nos prime iros anos da déca

Inte rnacionalização, regulação e crises


breve, da regul ação
A fase de bom funci onam ento, afina l muito
da recon struç ão após a
fordis ta situa-se, grosso modo , desd e o fim
a de Bretton Woods. Cor-
Segunda Guerra Mundial, até a morte do sistem
que predo mina a internacio-
responde à fase, igualmente muito curta, em
teriza-se por um regim e
naliza ção multi domé stica . Esse perío do carac
pivôs o sistema de pari-
internacional relativamente estável, tendo como
lo fordista de produ ção
dades fixas entre as moedas e a difusão do mode
período é marc ado por flu-
e cons umo de massas, a partir dos EUA Esse
o dos desequihbrios nas-
tuações cíclicas fracas, correspondentes ao acert
ustes passageiros entre a
cidos da acumulação, bastante benignos: desaj
terapêutica keynesiana pode
capacidade de produ ção e a dema nda, que a
ment o de internacionali-
reme diar facilmente. No que diz respeito ao movi
no essencial, eles ajuda m
zação, os flmcos de IED já são significativos. !\'las,
o que acom odam confor-
a difun dir as norm as fordistas. ao mesm o temp
o de capit al cujo quad ro
tavelmente, de forma passageira, uma acum ulaçã
o nacio nal O IED assume
essencial conti nua send o a econ omia do Estad
destina-se priori tariam ente
a forma de "filiais intermediárias", cuja oferta

2 'J7
ao merc ado inter no dos paíse s de acolh ida, . . . do Estad o nacio nal. diant e
com algu ma expo rtaçã o ruba da das form as tradic1ona1s da econ omia
comp leme ntar para a área tradi ciona l de comé . 1·
mos países. Durante essa fase. as relaç ões políti
rcio exter ior dess es mes- da mun d1a 1zaça-o do capital. _ d
cas entre as class es so- No entan to, a mtem ac1o
. · aliza çao o capi·tal pare ce ter dese mpe-
ciais e o grau de efetiva sobe rania que os gove n ... .d de em que os meca nism os
rnos poss uem asseg uram nhad o um pape l impo . rtant e na mcapac1 a
o respe ito das mult inaci onais a certa s conv , - em vigor'' demo nstraram , "de re,·er ter os en-
ençõ es e form as de re- assoc iados a regu laçao
lacio name nto corre spon dente s à relaç ão salar , . " Uma das carac teríst icas mar-
ial '-COrdista", bem com o
sua colab oraçã o visan do a certo s objetivos cade amen tos con1. unturai·s desfavoravelS .• .
de política econ ômic a na- , . d" , reces são de 1974-1975 foi
ciona l (o equi!Jôrio <l;i balan ça come rcial , por cante s do peno do ,me ta tame nte poste nor a . a' do inves time nto
exem plo). . d lED mull o supe nor
A fase segu inte assis te ao com eço da "crise uma taxa de cresc imen to o hi s busc avam uma saída para a
do própr io siste ma de domé stico , pois . ndes com pan a
regulação", crise defin ida por Boyer com o desig as gra . satur acão da dem anda de
nand o as situa ções em
que "os meca nism os assoc iados à regu lação q ueda de renta bilid ade do capit al, para a t - o d-os traba lhado res, na
em vigor revel am-s e inca- bens de cons umo durav , • para a conte s aça
paze s de rever ter os enca deam ento s conju ntura e1s e - Ao com ecar em a disso ciar
is desfavoráveis, mesm o deslo caliz ação acele rada de suas oper açoe s.
que, pelo meno s inicia lmen te, o regim e de . de orige m os grup os
acum ulaçã o seja viável" . d
(1986, p. 54, subli nhad o no original). Referindo- seu próp rio desti no aqu e\e de sua deconda orrua ,
se à situa ção que se cris- econ omia do Estad o na-
taliza por volta de 1978-1979, quan do do segu contr ibuem para enfra quec er ~ q~a ~~o so
ndo choq ue do petró leo, da acum ulaçã o segu ndo
. ai e
Boyer enum era (sem estab elece r nenh uma c1on , não para resta urar o ,crrcu di
o \ll
hiera rquia ou seqü ênci a .
as moda lidad d gulaç ão ,or s ta.
temp oral entre eles) vários gran des fatores, cujo es a re . iização do capital, no pro-
jogo comb inad o acab ou O pape l dese mpen hado pela inte~ aodo na ecan
derru band o os elem entos constitutivos da regul ismo s assoc iados à
ação fordista: rigidez das
estru turas industriais oligopotistas, no plano cesso de desre gu\am en tação cumulativa . . d
os m
.,.,,...r
deter mina ções da relaç ão salarial fordista; crise
nacional; crise de todas as .
regulação fordista, adqw·re impo rtâno a am a m""'"' , quan do se \eva em
fiscal do Estad o e ques - . ,.;...;o
. aiizacão do capital man e....., ' ao mesm o título do que
tiona ment o da ampl itude assum ida pelos gasto conta a intemac1on
s públicos; deter ioraç ão . .- , mo expre ssoes • dlS.tin.tas mas interligadas,
,
das relaç ões constitutivas da estab ilidad e do a do capital produtivo, isto e, co - d
regim e inter nacio nal. . , . ºtal de todas as instituições
de um movimento uruco de Jibert açao o cap1
Os regul acion istas aind a não dera m muit a "re ulavam" suas opera çoes. - Umi temo -nos a um
aten ção aos efeit os que enqu adrav am e .
da inter nacio naliz ação do capit al sobr e a g - sobre a macr oeco nomi a mund ial
crise do mod o de regu- u·1as reper cusso es
lação fordista. É verd ade que R. Boye r obse exem plo apen as, c , h . . dívida priva da do Tercetro .
C.-A. Michalet (1985) e G. de Bem is (1983
rva, de pass agem , que tiveram um e f e1•to que perd ura ate. oie.. tam ª te com o merc ado d e
) defe ndem a hipó tese de Mundo. Som ente d epoIS · ue foi ro11ada, JlID en
uma "con tradi ção entre as regu lame ntaçõ q - t tal em relaç ão ao enqu adra-
es, que perm anec em na- eurodólares, uma liber dade de açao q~as ~ q:e
ciona is, e as forças que oper am à escal a o siste ma banc ário inter-
plane tária" (p. 67). Mas os
argu ment os coloc ados por l\1ichalet para suste ment a do c rédito pelos banc os centr ais, e ,
ntar a idéia de que a • . . países em desen vo Mme nto a contr aírem 1unto
crise mund ial seria algo mais , e algo difer ente, nacio nal pôde mcen hvar os . d 1975 uma enor me dívida privada. O
do que a soma tória de a esse mesm o sistema, a partir e . '.
crise s nacionais, tiveram pouc a reper cussã o,
na époc a, entre os regu- d r qualitativa, a .mcapao·dade desse s países
lacionistas. 1 Ainda hoje, pouc os traba lhos regul en dividam ento agravou, e .onn a . u·do de sua
acion istas "orto doxo s"
de se contr apor em aos fator es que, de resto• iam no sen
tenta ram explo rar a hipó tese de que a raiz da . .
crise do siste ma de regu- "desc onex ão" do siste ma mtem aoon al de inter câmb io come rcial
lação deve ria ser busc ada, de mod o abso
lutam ente centr al, na der-
- br Multin;iciona1s (IRM), lausa nnc, 1985 .
do Instituto de Pcsqw sa e lníormaçao so e ;is opolis
1. A expos içJo m;iis dculhad,1 dit\ poqçõ cs de m •·modo de rcgulaçao rnon ta nrivado", internacionalizado,
C \. \ltch.:ilet sohre a uisc 110 mrnlo \.1ichalet cs~ç a_u ,--
de regulação cst:i num trabalho pouco d1vulg,1do· s limite s e contra thçoe s.
/ es m11/,,n;111onales li!ce J /,1 cme rnostr.1ndo imed1atarnente seu

298 299
A dest ruiç ão das relaç ões bana s desu mana s e inadm inistr áveis , ele
cond ena milhõ es de as-
que gara ntia m estabiJida de e cres cim ento salariados e joven s ao dese mpre go estru tural,
isto é, à marginalização,
mesm o movi ment o, ele
passa ndo facilm ente à deca dênc ia social. No
Segu ndo a nossa co . profis siona is e sociais, a
mpre ensao da acum ulacã •
o fo"'tlis
,, "
t" (q11e n,'to acentua, dentr o de cada país. as difere nças
• en.dentem ent · 1 ,
e ' ecida s (as que R. Reich
, e, igua a de um reguJ acion isla "
ortod oxo '), três séries ponto de conv idar as cama das m ais fa,·or
de forma s institu ciona is pare cem ter sido . toma rem "atitu de separa-
partíc ula t ..
rmen e essenciais" cham a de " mani pulad ores de símb olos") a
ern sua capac idade de assegurar, durante 25 anos (a . • 1993). fm segun do lugar, o
prox.1 1nada mente de tista•·. como bem observa o mesm o autor (
1950 a 1975) , a estab ilidad e e e . histó ria, confi ou comp le-
XJ)ansao da acum ulaçã o capitalista. sistem a, pela prime ira vez em to da a sua
a e das finanças, nas con-
Os prime iros são os que perm ·r tame nte aos merc ados o desti no da moed
cimen to, uma das conse q • .Ias ma1S '. iram genr, no senti do do crcs- nos capítulos I O e 11.
uenc centr ais d 1 • diçõe s e com as cons equê ncias que analis amos
. 1 • a acum u açao c;ipila - ipais países capitalistas adi-
hsta: ter feito do trnba
'
lh
o assa anad o a forma ai.,.so1ulame nte • Os gover nos e as elites que dirige m os princ
.· 1 pre- tomasse uma força hoje
domi nante de inserç ão soc1 a e de acesso à re n ª· le o come co da d A • antad os deLxaram que o capit al-din heiro se
•1 nidad e "dian te do cres-
déca da de 1970 ' 0 s1s ema soub e gerar po . d . quas e incon troláv el, que se ergue em lotai impu
ão salar ial ' d' , _r mero os elem entos cons- sua capa cidade de inter-
titutivos da relaç
'º" rsta, um mvcl de e mpre go assalariado cime nto mund ial". Por fim, os Estados viram
sufici entem ente alto e s 11 fi1cIen . , e os funda mentos de
temen te bem p vençã o reduz ida a bem pouc o, pela crise flScal
ago para preencher as -los quas e incap azes de
cond ições de estab ilidad e soei·a1 e, ao mesm o te . suas instituições solap ados a ponto de tomá
necessários à produ ção de massa isto é para asse e· mpo, cnar os traço s
,. impo r qualq uer coisa ao capita l priva do.
- ' gurar o fecha ment o
macr oeconômi co'') Os segund os sao os que criara - a à libera lização e à
.
_. . m, a mve l mone tário Essa situação está indissoluv elme nte ligad
e financ eiro um ambi ente mone lano mtem acion al t . 1 respe ito à prime ira dime n-
• es ave. E<.te era ba- mund ializa ção do capita l, inclus ive no que diz
seado em taxas de câmb io filXas entre moed as sob efeitos das mudanças tec-
• eranas em seu mer- são, relativa à tecno logia e ao empr ego. Os
cado intern o, mas eslav a m arcad o tamb ém por i n . . de posto s de traba lho,
. ifi . ns • urçoe s e m eca- nológ icas recen tes, em tenno s de destr uição
nismo s que criav am um grau s1 icath'O de subo rdin - d não pode m ser dissociados
, . (G
gn açao as finanças muito acim a dos novo s empregos que cria,
as necessidad es da indús tna onen c 1993) Mas . . capit al recup erou, graças à
·. ' . - o maJs impo rtante da quase lota! mobi lidad e de ação que o
era a exist ência de Estados dotad os -~e . e à liber dade de esta-
fortes para impo r ao cap·t 1 • . • ~n~htu1çoes sufic iente m ente liber aliza ção do com ércio inter nacio nal
pm ado d1spo s1çoe s de todo r . . rio coope rativo e de de-
ento
•a
e d. . d 1po e d1sc1pli- belec imen to e de remessa de luc ros. O "cená
nar o seu funci onam • rspon o de recur s 1 .. , últim o capít ulo) conc lui
. os que hes perm Itram, mocr acia salar ial", com o qual B. Coria t (1990
tanto supri r as defici ência s seton a· d . muda nças do siste ma
lalece r a dema nda. is o mves bmen to priva do, como for- seu livro sobre a autom ação e as profu ndas
se m aterializar, no quadro
fordista, talvez tivesse algum a possi bilida de de
. . . . forte ident ificaç ão entre
Essas três séries de relacões e fi de uma mobi lidad e limita da do capital e de uma
uídas , pelo men : . orma s mstituc1ona1s foram todas,
se não destr , acompanhadas por uma
icada s. ~tual ment e, em as comp anhia s e .">Uas econ omias de origem
primeiro lugar, o modo de p;:d ~:~ :::~ danif os nacionais. No conte,.10
nante m ostra a luz do dia, de capa cidad e de incen tivo e contr ole pelos Estad
forma cotid iana sua incap 'd ad.e de gerir a exist - . d possibilidades de realização
, ac1
. . · enc1a o traba lho as- da mund ializa ção que vimos analisando, as
salari ado como forma predomina nte de mser cão • idas: o conju nto dos me-
. . • sacra1 e de acesso à dessa persp ectiva ficaram singu larme nte reduz
renda . Depo is de ter dest 'd _ ves" atua no senti do do
nu o o camp esma to e boa canis mos que " libera m o capita l dos seus entra
. parte dos artesaos
urbanos, dese rtilica do regiões .m 1eiras, , - . .
apela do para o exercito mdus- criad or de duali smo acen-
. . . cená rio libera l, na m aior parte das vezes
lnal de reserva dos traba lh d lista".
a ores imigr antes, criad o conce ntrac ões ur- tuado ou, na melh os das hipóteses, "assistencia
/{)() 3()1
A hipótese de encadeamento cumulativo prego estrutural; agravamento das desigualdades na distribuição de
de efeito depressivo profundo renda, com o reaparecimento de rendimentos rentistas obtidos com
aplicações financeiras (UNCTAD, 1995, p. 194); marginalização de
_A conjuntura particular da década de 90 já começou a suscitar a re- regiões inteiras do globo em relação ao sistema de comércio interna-
tlexao de alguns economistas. Num trabalho de título significativo, "Os ris- cional e, entre as grandes potências triádicas, uma concorrência inter-
cos de uma estagnação econômica global", W. Cline (1994) observa que nacional cada vez mais intensa, gerando, com freqüência, conflitos
~um modelo de tipo Solow, o começo de melhoria da produtividade iden~ comerciais bastante graves, especialmente entre os EUA e o Japão.
~cada nas estatísticas deveria desembocar numa retomada do cres- Paralelamente, a economia mundial passou por vários sobressal-
:tme~t~. Ora, ~mo mostra o Gráfico 15b, não foi o que aconteceu. Pelo tos ou choques monetários e financeiros, cuja configuração foi com-
o~tráno, os_ pai.ses da OCDE conheceram, no começo da década. a ter- plexa e variada e cuja freqüência parece ter-se acelerado. São os
ceira recessao em quinze anos, seguida de uma conjuntura partjcular- "acidentes financeiros disparatados e recorrentes", nascidos da globali-
ment~ plana, marcada por índices de crescimento de, no máximo, 2% para zacão fmanceira e "colocando problemas graves, por suas incidências
o con1unto da OCDE, fora o setor financeiro. gl~bais sobre a economia mundial", às quais M. Aglietta já dedicou
Na_ v~rdade, 0 exame dos principais indicadores econômicos atenção (1995, p. 70).
mostra_ md1ces muito fracos de crescimento do PIB, ate' e m pruses
- como A nosso ver, esses elementos não podem ser considerados como
0 simples somatória de fatos isolados. Exigem ser abordados como um
Japao.' que durante muitos anos serviram de "locomotiva" para a
econ~rru_a dos países da OCDE, e não se espera melhoria desses índices todo, partindo da hipótese de que "formam um ·sistema". De nossa
:aqw ate_ o fim do século (OCDE, 1995); desinflação acelerada, próxima parte, pensamos que todos eles remetem às modificações nas relações
a ~etlaçao, especialmente para os produtos primários (Gráfico 15c), dos entre capital e trabalho - levando a formas de relação salarial sensivel-
qua15 depende a renda dos países em desenvolvimento; elevado desem- Gráfico 15c
Evolução dos preços de commodities, inclusive petróleo
Gráfico 156 (1985 = 10 0)
Crescimento industriaJ (percentual anual)

O índice g« .i ele preços doo EUA ♦ c.ocnmoditii!'s~lnduindo prtóleo


O R..I
~onte: W. R. Cline, 1994. ~onte: W. R. Cline, 199 4.

]02 30 3
mente diferentes das que prevaleceram entre 1950 e 1975 - bem como
às mudallças nas relações entre o capital produtivo de valor e o capllal
financeiro. que se deram no conte:1.10 da "mundialização do capllal"
anaNsada neste li\·To.

A conjuntura mundial dos anos 90 apresenta, pois, as caractensti


c.u de uma depressão econômica longa (no sentido de J. Schumpeter,
cm seu trabalho clássico sobre os ciclos econômicos). Para P. Sweezy
(1995), nesta década as tendências são claramente eslagnacionlstas,
como nos anos 30. Mesmo que a relomada~ tantas vezes anunciada,
viesse a se concretizar. ê provável que não seria mais do que parle de
uma ondulação, sobre o fundo dessa depressão longa. Se considerar-
mos os elementos decorrentes da análise que apresentamos, pode-se
sustentar a hipótese de que as formas assumidas pela mund.iaUzação
dos grupos industrirus (capilulos 3, 4 e 5), dos grandes grupos de dis-
tribuição (comércio atacadísla e varejista) e do capilal monetário
(capítulos 10 e 11) exercem, de modo estrutural, um efeito depressivo
sobre a acumulação. Esse efeito é global, embora seu Impacto sobre
os países e os conjuntos "regJonals" (isto é, continentais) permaneça
diferenciado, de modo que o caráter mundial da depressão não com-
portou uma sincronização das conjunturas dos três pólos da Triade (an-
tes pelo contrário). As relações mais imporointes são apresentada, no
Gráfico 16.

No cerne dos encadeamentos cwnulalivos. enconlramos a CM·


junção entre as conseqüências própdas das mudanças lecnológicas re•
centes (M.F. Durand et oi., 1992. e C. Freeman e L Soete, 199~) e as
da mundialização, nas três dimensões acima mencionadas.

Conseqüências da mobilidade do capital produtivo

A destruição de postos de ~balho. mullo superior à criação de


novos empregos, não é só uma espécie de fatalidade atribuída "à lec-
nologia" em si mesma. Ela resulta, pelo menos em igual medida, da
mobilidade de ação quase total que o capital industrial recuperou, para
inw,tir e desinvestir à vontade, "em casa" ou no eslrangelro, bem como
da liberal11.ação do comêrclo internacional. O <?feito desses fatores, por
sua vei, é acentuado. de forma crescente, pela mudança de pro-

JClS
priedade do capital industrial. Mesmo em grupos onde foi restabelecida mercado mundializado, pelos métodos de "diferenciação de produtos",
a rentabilidade do capital, constata-se, por parte dos novos proprietários reforcando muito os gastos de propaganda, sofrem de grande ,,ulne-
do capital (fundos de investimento, fundos de pensão. companhias de rabi!Ídad e, de forma que os efeitos de criação de emprego do
seguros) uma fortíssima pressão para reduzir ainda mais os custos paradigma das '"economias de variedade" são cronicamente inferiores
"eliminando gorduras de pessoal" e automatizando em velocidad~ a seu potencial. Para muitas pequenas companhias, o único caminho
máxima. É aí que se situa o ponto de partida de um encadeamento de sobrevivência (se lhes for oferecido) é a "adesão" a uma "empresa-
cumulativo e realimentador, cujos efeitos são depois agravados ainda rede" tipo Benetton, ou seja, sua transformação em "terceiras".
mais pelas operações do capital monetário.

Atualmente, os efeitos de destruição/reestruturação do emprego, que Comportamento dos principais componentes


acompanharam cada uma das grandes ondas de mudança tecnológica da demanda efetiva
desde a revolução industrial da primeira metade do século XIX, ficaram
muito reduzidos. A mobilidade do capital, juntamente com o movimento o resultado disso tudo mede-se em postos de trabalho destruídos,
de liberalização e desregulamentação, levaram a melhor sobre o quadro muito superiores aos novos empregos. Seguem-se uma série de efeitos
sóci~político do Estado nacional, no quaJ podiam se realizar, outrora, os sobre as grandes variáveis macroeconômicas: o investimento, o con-
famosos "efeitos de compensação", esperados. por ocasião de mudanca sumo doméstico, as receitas e despesas públicas. A amplitude desses
técnica, por todos os economistas desde David Ricardo no início do sécuÍo efeitos é acrescida pelas interações de tipo cumulativo que se estabele-
XIX (C. Freeman e L Soete, 1994). Antes, o combate ao desemprego podia cem, com o efeito agravante da esfera monetária e financeira
ser beneficiado por medidas de proteção alfandegária e comportar medi-
A influência da mundialização do capital sobre o consumo
das legislativas de efeito relativamente restritivo para as companhias, limi-
doméstico efetua-se por dois canais principais. O primeiro canal é a
tando sua mobilidade internacional. Hoje em dia, nada funciona assim.
queda dos rendimentos do trabalho assalariado. O montante da des-
Pelo contrário, a mobilidade do capital pemlite que as empresas obriguem
truição de empregos, nitidamente superior à criação de novos, conju-
os países a alinharem suas legislações trabalhistas e de protecão social
gado com fortes pressões no sentido de rebaixamento salarial, que
àquelas do Estado onde forem mais favoráveis a elas (isto é, o~de a pro-
pesam sobre os e mpregos que sobraram ou sobre os novos (sendo que
teção for mais fraca). Essa mobilidade tende necessariamente a limitar a
a significativa ampliação do leque de salários, em número crescente de
eficácia de medidas como a redução do tempo de trabalho, se não pu-
países, não compensa a tendência de conjunto) exerce marcante in-
derem ser impostas às empresas por toda parte - ou, pelo menos, nos
fluência depressiva sobre a conjuntura. Essa influência é acentuada por
principais países - onde estas sejam suscetíveis de se localizarem
um crescimento da tendência à poupança, nas camadas de rendimen-
O IED não é sinônimo de criação de novas capacidades. É à força tos médios (e mesmo baixos), em função das incertezas diante do fu-
de aquisições/fusões transfronteiras que os grandes grupos procuram turo. Os países onde o desemprego é elevado e a "cultura" do trabalho
ganhar parcelas de mercado. A integração seletiva de locais de produção informal ainda pouco desenvolvida, são os primeiros a serem atingidos
e de relações de terceirização, situadas em vários países, aumenta sua pela queda no consumo doméstico. A influência depressiva propaga-se
capacidade de proporcionarem economias de escala e de envergadura depois internacionalmente, de forma a afetar a conjuntura mundial
A liberalização do comércio dá uma primazia importante às companhias como tal. O segundo canal é o da redistribuição da renda nacional em
que jogam a carta da homogeneização da oferta e da ''variedade pa- favor dos rendimentos rentistas, que se desenvolveu, segundo os
dronizada". As pequenas companhias que oferecem produtos diferen- países, a partir do começo ou de meados da década de 80. Essa redis-
ciados, mas que não são capazes de defendê-los, no quadro de um tribuição resulta da ascensão dos mercados e aplicações financeiras.

106 307
fla leva a uma polarização da oferta para os altos rendimentos, que vão tagens (subsídios, isenções fiscais. revogação de direitos trabalhistas).
moldando progressivamente os seus traços e orientando parte das A tudo isso junta-se ainda o poderoso efeito de atração, sobre os capi-
despesas de P&D. Atuam igualmente, com muita força. os efeitos já es- tais potencialmente disporúveis para investimento de operações e para
tudados por Keynes. em termos de enfraquecimento da propensão de aplicações financeiras , oferecido por rendimentos mais altos e, salvo
consumo marginal, à medida que os rendimentos se elevam. acidentes, mais fáceis do que o investimento na produção. O resultado
total é um investimento de média ou fraca dinâmica, altamente seletivo
O aspecto seguinte diz respeito às despesas públicas, que a no plano espacial do qual seria pouco realista esperar que venha a desem-
mundialização vem rebaixar por \"árias mecanismos. o primeiro é penhar papel de locomotiva numa retomada cíclica mundial sustentada
aquele quase '·automático'·, resultante da queda na arrecadacão de im-
Os mecanismos acima descritos têm caráter cumulativo. Só o inves-
po~tos (diretos e indiretos), em função, primeiro, do desemp~ego e de-
timento privado possui, pelo menos em princípio, a capacidade de contra-
~ois, da estagnação do consumo. Junta-se a isso a tendência, mais
balançar os encadeamentos de caráter depressivo, tanto em função dos
intensa em certos países do que em outros, mas de alcance geral. à
recursos financeiros que só ele possui, como no plano da legitimidade so-
redução dos impostos sobre o capital e sobre os rendimentos resul-
cial que monopoliza Mas o investimento, ou mais exatamente o capital,
tantes de aplicações financeiras. Por fim, quando os governos compen-
não enxerga além do mercado, isto é , na maioria dos casos, da rentabili-
sa1?1 a queda da receita fiscal com um aumento da dívida pública. a
dade a curto prazo. Por sua vez, as instituições que durante mais de qua-
açao das taxas de juros positivas, no sentido de aumentar o peso
renta anos corrigiram a avaliação e oril"..ntação dos mercados, ou seja. os
orçamentário do serviço da dívida, também se exerce no sentido da
Estados, foram incapacitados de agir. Não somente perderam boa parte de
chamada '•crise fiscal dos Estados" (O'Connor, 1973). O resultado é
seu poder de contrabalançar a depressão, mas, ainda mais, tudo os em-
uma situação na qual diminui a capacidade de intervencâo dos
purra a implementarem políticas que irão agravá-la ainda mais.
Estados para sustentar a demanda, ao mesmo tempo que O s;u papel
se enfraquece, em decorrência da liberalização do comércio exterior
e da mobilidade do capital. bem como em função dos ataques que Ru mo a abalos financeiros seguidos?
s~fre~r.. d~s arautos do liberalismo. Acima de um certo patamar 0á
atingido ha tempos, na grande maioria dos países da OCDE), a crise Para terminar, voltemos mais uma vez às finanças e aos abalos
fiscal do Estado, conjugada aos efeitos das políticas neoliberais, acar- financeiros, cujo ritmo parece ter se intensificado neste último ano.
ret~ a ~edução de emprego no serviço público e a aceleração das pri- Falando de sua própria atividade, um banqueiro belga explicou, numa
vatizaçoes e desregulamentações. entrevista ao jornal le .Honde de 11 de abril de 1995: ''O problema de
Falta examinar o investimento. A mundialização do capital contribuiu fundo é que não se cria riqueza a partir do nada e que é preciso haver
consideravelmente para restabelecer a rentabilidade dos im~slimentos, e- poupança para investir !para sermos exatos, é preciso haver previsões
xercendo forte pressão para o rebaixamento, tanto dos salários, como dos favoráveis de parte das companhias detentoras de poupança que
preços de muitas matérias-primas. Ela influi no comportamento do investi- aceitem se investir}. É muito agradável quando se cria uma bolha fi-
?1ento,_~u-acen~a suas características, da seguinte fonna: forte propensão nanceira, é riqueza a partir do zero". A esfera financeira alimenta-se da
as aqU1s1çoes/fusoes; prioridade dos investimentos de reestruturacáo e ra- riqueza criada pelo investimento e pela mobilização de uma força de
cionalização; e, sobretudo, fortíssima seletilidade na localizacáo ; escolha trabalho de múltiplos nh·eis de qualificação. Ela não cria nada por si
dos locais de produção. Aqui, a propensão própria às co~panhias, no própria. Representa a própria arena onde se joga um jogo de soma zero:
qua~o da mundialização, é acentuada pela concorrência entre regiões e o que alguém ganha. dentro do circuito fechado do sistema financeiro,
locais, bem como pela corrida entre estes, oferecendo todo tipo de van- outro perde. Quando a esfera financeira deixa de ser alimentada por

308 309
fluxos substanciais, cuja origem encontra-se exclusivamente na esfera deslizamento de parte de seus depósitos para a poupança institucional.
da produção (ver capítulo 10), as tensões dentro do circuito fechado se Os bancos sofreram uma tesourada, e reagiram atirando-se, por sua
intensificam, e com elas a aproximação de crises financeiras. Devido a vez, às "inovações financeiras" de risco "sistêmico" crescente, em par-
isso, o sistema financeiro hipertrofiado tem uma sensibilidade extrema, ticular à diversificação em atividades não financeiras, nas quais os ban-
quase patológica, às modificações de conjW1tura, por mínimas que se- cos carecem de experiência (caso do Crédit Lyonnais), ou no
jam, pois é essa conjuntura que condiciona o volume de transações a financiamento à especulação imobiliária (caso dos maiores bancos
partir do qual formam-se os lucros financeiros. japoneses). Tiveram fracassos espetaculares. M. Agliella ( 1995) conclui
uma análise detalhada das relações entre esses processos e a gravidade
Um estudo francês sobre os mercados de derivativos - feito
da recessão, no começo da década de 90, dizendo que "não resta
quando da quebra do banco Barings de Londres - demonstrou, de
dúvida de que as limitações sofridas pelos bancos acentuaram a re-
forma muito esclarecedora, que, inicialmente, essas operações "desen-
cessão financeira. A recessão foi tão mais severa quanto pronunciada
volveram-se, em parte, a favor de ·bolhas especulativas' ou, em tcxlo o
a fragilidade dos bancos. Os dois aspectos reforçam-se um ao outro,
caso, de configurações de mercado particularmente favoráveis, em que
numa causalidade circular, à qual nenhum dos dois é exógeno" (p. 69).
certos posicionamentos por conta própria revelaram-se particularmente
A volta a uma conjuntura internacional muito baixa, se não abertamente
lucrativos". A partir de 1994, pelo contrário, o rápido crescimento das
recessiva, pode então prenunciar falências e outros graves abalos fu-
operações sobre derivativos deu-se como "paliativo à forte contração do
turos no sistema financeiro, cujos efeitos, por sua vez, irão abalar a ativi-
volume de atividades". Ora, para serem isentas de risco, as operações
dade de produção e intercâmbio.
sobre derivativos, especialmente sobre opções ou futuros, devem limi-
tar-se a aproveitar düerenças bastante pequenas entre as cotações de
compra e de venda, lendo o cuidado de se garantirem por meio de O exemplo da crise bancária mexicana de 1995
operações de montante equivalente, o que pressupõe certas despesas.
Portanto, a rentabilidade desse enfoque depende estreitamente do mon- A esse respeito, a crise mexicana ilustra plenamente a capacidade
tante de transações tratadas. Quando esse montante diminui, em função de uma crise financeira - que anteriormente só depois de vários me-
do estado geral da economia, mais c rescem as pressões para substituir ses, talvez um ano, teria efeitos sobre a produção, o nível de emprego,
a intermediação nos mercados financeiros, por uma sucessão de posi- a renda e o comércio - arrasar. em poucas semanas, a esfera da
cionamentos hábeis sobre a evolução em curso. "Essa tentação é ainda economia criadora de valor e de riqueza. As dimensões da crise mexi-
mais forte para os estabelecimentoscujo único ofício são as atividades cana já foram mencionadas, tanto no prefácio como no capítulo 1; não
de mercado. (Estreitando-se a base de rendimentos, jogar com recursos voltaremos ao tema. Em compensação, queremos insistir em como o
próprios para assegurar a longevidade da casa pcxle funcionar como es- sistema bancário superdimensionado, que havia sido incentivado a
tratégia)". tomar posições de alto risco nos mercados financeiros liberalizados e
a oferecer créditos "à moda ianque", seniiu para propagar o contágio
Depois da desintem1ediação e da liberalização financeira da década
e acelerou a repercussão das tendências recessivas. Foram múltiplos os
de 80, o perigo ronda, pouco ou muito, todos os bancos. O lugar dos gran-
canais pelos quais a crise do peso mexicano e do sistema financeiro
des bancos comerciais no sistema financeiro, e conseqüentemente o mon-
transformou-se ern crise bancária e arrasou toda a economia.
tante de seus lucros, foram questionados, ao mesmo tempo, pela perda
de parte de seu papel no financiamento da produção (devido, por exem- Os bancos tinham de cumprir compromissos em dólar, cujo valor
plo, às possibilidades oferecidas aos grandes grupos, de terem acesso di- aumentou brutalmente. Ao mesmo tempo, tiveram de arcar com vultosos
reto aos mercados financeiros, para colocar suas obrigações) e pelo saques pelas companhias, que também precisavam de toda sua

11 () 311
liquidez, e de particulares das classes abastadas, que participaram da tangíveis, pareceu materializar essa predisposição. Depois, os países em
especulação contra o peso. atuando "racionalmente" para salvaguardar desenvolvimento foram convidados a dar prosseguimento a esse es-
suas fortunas. A seguir, a fortíssima elevação das taxas de juros, que se fo rço, aproveitando os créditos oferecidos nos eurome~cados. A
tomara necessária para sustentar o peso, tomou muito onerosas, para hipótese de um ·'fordismo periférico", com ampla extensao das re-
não dizer proibitivas, as condições de refinanciamento das posições dos lações de produção capitalistas, parecia defensável.
bancos. Por sua vez, os bancos agiram da mesma forma em relação a As transformações tecnológicas, econômicas e políticas dos últi-
lodos os seus clientes devedores. Aumentaram o preço de seus c réditos, mos anos foram ocasião de um giro radical. Atualmente, o desen-
em proporções que arrebentaram ou destruíram a solvência dos vol,.,imento, entendido como extensão e •'transplante" do modo de
tomadores de empréstimos, levando muitas companhias à falência, mas desenvolvimento fordista e de seus prolongamentos, não representa
ao mesmo tempo aumentando o montante de créditos dm-idosos em mais uma perspectiva para todos os continentes e países do mundo.
poder dos banqueiros. Paralelamente, a queda brutal no valor dos ativos Por um )ado, esse desenvolvimento não é mais desejado pelos que
em suas carteiras de títulos, em particular a dos empréstimos feitos pelo eram outrora seus agentes externos; por outro, sabe-se que ele se
Estado, reduziu a capitalização dos bancos abaixo do piso mínimo de choca a limites ecológicos incontornáveis, na medida em que sempre
8%, imposto pela regulamentação internacional. levando "naturalmente" foi concebido como extensão mundial dos modos de produção e con-
as agências de avaliação a diminuírem a classificação dos bancos mexi- sumo estabelecidos nos países avançados.
canos, o que tomou ainda mais difícil seu acesso ao mercado de capitais
Após O formidável salto de produtividade do trabalho na indústria,
e, conseqüentemente, aumentou ainda mais seus riscos de insolvência.
que acompanhou a difusão das tecnologias de_ inf~rrnática, do_ es~a-
belecimento de novas formas toyotistas de orgamzaçao da produçao in-
A dimensão mais fun dame ntal da dustrial e da intensificação da concorrência entre as companhias e os
''crise do modo de desenvolvime nto" países da Triade, estes passaram a se interessar unicamente por, re-
lações seletivas. que abrangem apenas um número limitado_ de pa1ses
Não pretendemos fazer uma análise exaustiva do andamento da do Terceiro Mundo. Certos países ainda podem ser requendos como
economia mundial nesta década. Queremos apenas apresentar elemen- fontes de matérias-primas (na verdade, cada vez menos, ver capítulo
tos de interpretação que sustentem a hipótese de uma ligação entre a 8). Outros são procurados, sobretudo pelo capital comercial conc_e~-
depressão longa da década de 90 e a mundialização do capital. Mas é trado, como bases de terceirização deslocalizada a custos salana1s
preciso ampliar mais o enfoque para chegar à dimensão talvez mais muito baixos (ver fim do capítulo 5). Mais uns poucos países, por flm,
fundamental da "crise do modo de desenvolvimento". Durante várias são atrativos devido a seu enorme mercado interno potencial (por e-
décadas, prevaleceu a idéia de que o modelo ocidental de desen- xemplo, a China). Mas, fora esses casos, as companhias da Tríade pre-
volvimento (capitalista) poderia ser generalizado para todos os países e cisam de mercados e, sobretudo, não precisam de concorrentes
regiões do planeta. Havia "etapas de desenvolvimento", degraus de uma industriais cte primeira linha: já lhes bastam a Coréia e Taiwan! Foi as-
escada que todo país podia galgar. 2 Durante os anos 1955-1975, um fluxo sim que houve estancamento do IED para muitíssimos países, e que o
bastante forte de investimentos diretos nos países do Terceiro Mundo, tema da administração da pobreza foi· assumindo espaço cada vez
acompanhados de outras formas de ajuda. nunca desinteressadas mas maior nos relatórios do Banco Mundial, enquanto o tema do desen-
volvimento foi colocado em surdina.
2. W. W. Rostow ioi, por muito tem1xi, o teórico mais conhc(.ido dessa abord;igcm, o desenvolvimento de toda parte do globo é tanto menos dese-
ª'"''
com um livro célebre, 1\s eslapas do imento, com o subtítulo revdador de Mani-
jado, na medida em que ele não é possível como extensão dos modos
festo nào-c-omvnista.

313
312
de produção e consumo atuais dos países avançado s. Com efeito, sabe- de renda e modos de vida já conquistados, essas saídas teorizam, ex-
se, há pelo menos uns dez anos, que, sob os ângulos decisivos do con- plicita ou implicitamente. e independ entemen te das posições políticas
sumo de energia, das emissões na atmosfera, da poluição das águas, defendidas por seus autores, a divisão definitiva do mundo entre os que
dos ritmos de exploraç ão de muitos recursos naturais não renováveis poderão continua r utilizand o os recursos como sempre flZ~rarn, _e
- ou só reno,·áve is muito lentame nte - etc-., o modo de desen- aqueles aos quais O "modo de desenmlvimento" não reservana ~~
mhimen to sobre o qual os países da OCDE construíram seu alto nível do que o direito de assistir. graças às imagens projetadas pela m1d1a
de vida não pode ser generaliz ado à escala planetária. l\,1esmo levando mundializada. como estariam passando os bem-de-vida
em conta certas mudança s de consumo que ,ieram depois das duas R. Boycr lembra, com razão. que as relações sociais c~pitalist_a s
"crises do pelróleo" e o surgimen to de novas tecnologias, a extensão , deram prova. nestes cento e cinqüent a anos. e sobretud o no ~eculo X.X,
para todo o planeta, das formas de produção , de consumo , de lrans- de consider á,·el plasticid ade (p. 70). e que os que anunciar am sua
porte (por automóvel indi\idual) associad as ao capitalis mo avancad o é "crise final" tiveram de acertar contas depois. A lição vale também, é
incompa tível com as possibili dades e limitaçõ es tecnológ icas· atual- claro, para quem anunciar , como este livro tende a fazer. que a so·
mente pre\isíveis. Os fundame ntos do modo de desenvoh,imento do ciedade mundial irá mergulh ando. aos poucos, na barbárie. Em termos
capitalis mo monopol ista contemp orâneo - a propried ade privada, o "estritam ente teóricos" (na expressã o usada por Boyer, ao falar d~
mercado , o lucro, o consumo exacerba do pelo aguilhão da publicida de, ••crise final do modo de produção.,), nada permite afirmar que o capi-
mas também constant emente buscado como base de retomad a da talismo não será capaz de instaurar um modo de desenvol vimento ba-
atividade industriaJ (inclusive pelos partidos "de esquerda " e pelos sin- seado em formas de consum o e num modo de vida totalmen te
clicatos), o produthi smo a qualquer custo. sem atenção aos recursos diferente s daqueles que desenvo lveu ao longo de sua história (e no
naturais e à repartição do trabalho e da renda - estabele cem os seus século XX em particular). Sabe-se que a coisa seria tecnolog icamente
limites sociais, políticos e geográficos. factível mas poderia sê-lo social e politicamente, estando tais formas
tão lig~das à propried ade privada e a uma forma peculiar de individua-
lismo? Em todo O caso, por enquanto , a tendênci a aparente mente pre-
Há saída da crise sem
dominan te é a de que o sistema tenda a se fechar sobre si mesmo, a
um novo modo de desenvolvimento? se instalar no "dualism o", e que seus dirigentes, acompan hados por
uma parcela significativa da populaçã o, se empenh em em cons_trui~, ao
l\lesmo se os países da OCDE consegu issem se entende r para mesmo tempo, fortaleza s para conter os '·bárbaro s" na penfena, e
regulá-la sobre novas bases, que não as da economi a do Estado na- arame farpado em volta de seus guetos internos.
cional, o modo de desenvolvimento, cuja estabilid ade e certa expansão
foram assegura das, durante bre,·e período, pela regulaçã o fordista,
poderá aplicar-se, quando muito, a uma pequena minoria da humani- A econom ia mundial estaria inacabada?
dade: a dos países da OCDE, eventual mente ampliada para alguns dos
novos países industrializados asiáticos e um punhado de países ex-so- os problem as que levantam os acim~ colocam a _questão da_ fi-
cialistas da Europa Central, mais alguns países ou regiões do resto do nalizacã o da "econom ia mundial ". Em seu Capitalis mo mundwl ,
mundo (ver mapa no capítulo 1). Esta constataç ão tem o efeito de colocar MichaÍe t escreve que "a econom ia mundial , como realidad e em-
em perspectiva os problemas dos países ricos e a maioria das saídas que pírica, não está acabada . Ainda está cm vias de tot~lização··. (19~5,
se oferecem a eles. Concebidas, quase sempre, em termos de aumento p. 302). E. ainda mais precisam ente, que "a econom ia mund1~l nao
da produli\i dade e da competiti,idade externa, e de preservação dos nh·e1s é um processo acabado . A realidad e atual ( ...) den~ ser qualificada

31-l 315

J
como realidad e em forrnacà o. As cond· -
planetária integral do mod ,d • içoes para uma extensão priação. mas também em criação de mais-valia" (ibid.), seria um pouco
mundiali zacão total de tod:
e ~roduçao capi talista. sobre a base da como ficar esperando Godot
a\·ancada
-
s d s as orrnas do capital, estão decerto mais
o que em 1914 infinilam e t . 1 Já que a sociedade mundial não chegou ao "fim da história", a
dos historiad ores d . . n e mais <o que no século X\l configura ção da economi a mundial vai necessariamente evolur. Mas, no
a economi a-mundo m • d
modelo de refer . . . . as am a estamos longe do sentido em que Michalet usava a expressão em 1985. nossa resposta é
R cnc1a do hno II Ido Capüa/ de Marx l" (ibid p 3 16) .
eencontr amos aqui o problema . ., . que a economi a mundial está constituída, não segundo o "esquema de
propósito das duas maneiras de intc:::;:~ 1~~am_ os no capítulo 2, a referênci a do lino li". por mais prestigioso que seja, e sim segundo m o-
a cxpressãu '·realidade ' - .. r es ciclos do capital. ~las
bé dalidades que estão mais próximas do confPúrlo metodoló gico das dis-
em ,ormacao" pod t
como significan do que o cap·t 1· • . e am m ser interpretada cussões sobre o capital financeiro. nos 30 primeiros anos do século XX?
J a ismo mundial poderi t
racão que • . a er outra configu- Isto nos permite resumir nossas conclusões principais.
• nao a que possui hoje. E isso que não nos comence .
Ao longo de nossa análise. cons tatamos, em primeiro lugar, que a
O m odelo de referênci a mencion ado é r . internaci onalizaçã o do capital produli\·o continuo u sendo um processo
outras coisas) para es tai I u dizado por tirar..: (entre
>e ecer que para que
,
. 1.
o capita industria l bastante circunscr ito geograficamente e que esse capital está hoje sub-
chegasse a deitar raízes definitiv
metido a um conjunto de forças (entre as quais as suas próprias
pliada e acumula cão por long a~odente e 1~udess~ ter reproduç ão am-

0 pen o. sena preciso que os 1res
_
• •
ciclos proezas tecnológicas) que o levam a se reestrutu rar redirecionandí>-se
do capital tivessem s·d bo .
1 0 su rdmados as ne ·d d para suas bases de origem (capítulo s 2, 5 e 8). As únicas exceções
dutivo (produtiv o de valor e d . . cess1 a es do capital pro-
e ma1s-vaha) A partir des
. se ~ornento , o quase certas são os novos países industrializados asiáticos. Vimos, em
capital-d inheiro (ou capital monetár io) e o.
tal comercia l) cap1tal-m ercadona (ou capi- segundo lugar. que o princípio metodoló gico fundame ntal da primazia
. mesmo que "apareça m da produção sobre a circulaçã o (ao qual Michalet corretamente se re-
capital industria l com com suas funções ao lado do
. o suporte de setores de n • . fere) não se traduzia em quaisque r circunstâ ncias em IEO. Como
não representam. ~egundo ~larx ..ma· d egoc1os específic os",
is ~ '.ut:: m~dos de existênci a das
sugere o exemplo do Japão, 1.:ujas companh ias mantêm até hoje forte
diferentes formas funcionais . .
voh·e. altemada mc t que o ca~1tahsmo mdustrial extrai e de- preferência pela exportação, esse princípio pode exprimir- se também
n e. na e~fera da c1rculacão od d . • . sob forma de competitividade estrutura l (ver capítulo 5), cujos funda-
promO\id os à indepen d. . e desenvo hidos• à • m os . e existenc,a

enc,a
. . • pa 11e. unicame nte em m entos também estão em ruptura com o paradigm a neoclássico como
função das nec
rJ\TO li. cap. 1). essidade s da d1v1sao social do trabalho '' (O Ca ·, I
PI a. um todo, inclusive a teoria do comércio internacional. Observamos, em
terceiro lugar. que ficou dificil atribuir um sinal de igualdad e entre o
O fato de que a unificacão dos três cidos d 0 . IED (mesmo circunscito estritame nte ao setor industria l) e a criação
diferentes de um ciclo - . • , . capital. como momentos de valor e de mais-,·alia. Nos capítulos 3 e -t, vimos que, no quadro
uruco, sob a egide do capital roei UIJ\'O. .
presentado (e u· P lenha re- dos grupos multinac ionais, foram impleme ntados numeros os m ecanis-
con nue represent ando em te " .
uma condi • • ' rmos eSlrilamente teóricos") mos decorrentes da apropria ção e da recentra lização da mais-val ia.
çao para as relaçoes de prod - cap1ta11 . .
uçao stas deitarem raízes
num =íc: (i . ·a1m
ente a Inglaterra, e de is • Atualmen te, estes estão estreitamente integrados aos mecanis mos de
,.,....., Ul.lCJ
verdadeiro processo de acumul - teve po em todos os pai.Ses onde um
· • criação de mais-valia. tomando dificil traçar.co m nitidez a fronteira en-
acao lugar) -
sente uma perspectiva real· t • . • , nao s1gmfica que repre- tre a produçã o e a pura apropria ção parasitár ia de valor.
do .,.,,,.ulo •vv Es is a na -~•tuaçao do capitalismo murn..lidl no fim
""''- ,v\. perar pelo ··ac ba
' a menta da economi a mundial", sob a
,arma de extensão do 'tal
3. Os p, incipdi~ l<'óricos 111,irxistas d,1 Segund;i <' dil Terc<'ira lntefl1<1( ional que l"--
de existência do capil;p1 produtivo ou capital industria~ "único modo tuddr.im, no Jl<•nodo 191 0-11130, o< ilp1l<1I fin,mceiro e .is cardc.:lffiSlicds "pcir.1~i1Anas" do
em que iua função não consiste só em apro- cap11.1h<.1no ior.tm, em e<fK'< ial. H1l1<•HJ1ng, Ro~ 1u,ernhur~o, Bul..h.1r111. ler1in <• 1rotski.
316
31 7
Por fim, no que diz respe1·I0 a • .
questao central d o moVJmen .
.
capital em suas três form lo do lar. Mas eles ainda julgam possível dirigir-se aos que decidem, inclusive
as, apresenta mos u •
tendem a sugerir o C" , 1 . m con1unto de dados que aos agentes e beneficiár ios principais da mundializ ação. Um desses tra-
,epuscu o do ciclo .fi d
capital industrial Pudem um ica o sob dominacão do balhos é o relatório do Grupo de Lisboa, intitulado, em francês, limites
· os constatar várias • ,
do capital comercial em sua r . expressoes da capacidad e à la concurre11ce. Os cenários relati vos ao futuro de um "mundo
s ,ormas m ais con •-
'
colocar como dual do capital . d . cenuadas, seja de se global" que parecem mais pro,·á,·eis, para os membros desse grupo,
m USbial (ver fim d ,

impor a este puncões sobr,e a . . o capitulo 5), seja de são os que chamam de "cada um por si'', transição, na hipótese mais
ma1s-,·alia através d
-
do escoamen to ou sei·a d 0 . , e um controle eficaz otimista, para o cenário de ..paz triádica•· e, na hipótese pessimista,
acesso ao mercado ( ,
'
do capital monetário e' b
,
. capitulo 8). No caso para o cenário do apartheid global. O cenário do "cada um por si .. já
, em ma1s do que is T
so. rata-se aí da reafir- e<.tA f'm ação, e será provavelm ente o cenário dominante dos próxi-
mação, pelo capital moneta' n·0 d
, e sua autonom · t l
.
mdustrial, e do surgiment o d . - ta ota perante o capi tal mos vinte anos. Nesse cenário, vê-se •·cada companhi a, cidade, região,
e uma s1tuacao ond -
, .
propno dessa fração do cap·t 1 - e e o movimen to país e grupo social atrelar-se à defesa e à promoção de suas próprias
1 a que tende a i
.
raçoes do capitalism o contem . mpor sua marca às ope- \antagens comparati vas e posição já adquirida" ( 1993, p. 11 0). A com -
poraneo, como um todo petitividad e e a produtivid ade são erigidas em dogma absoluto, nos
Estamos então bem longe do mode • ..
bora estejam os em plena d. . _lo de referencia do livro II, em- países onde o podem ser. Nos o utros lugares, é lula pela sobrevivên cia
• mun ializacao do c ·1 1 o·JVersos autores em estado bruto. Diante dessa situação, o Grupo de Lisboa clama por
academic os (por exempJ Bo . • api a·
o, urgumat e Re· h) · um novo contrato social, um contrato global em quatro partes. Entre
na defesa da idéia de . . ic Juntaram-se a Michalet
mversao ntetodológi · , as instituições cuja criação preconiza , há uma "mesa redonda" que
de partir da economia mund· 1 . ca, isto e, da necessida de
k1as ia para analisar as . reúna os mil maiores bancos e empresas, que teria entre suas tarefas
" essa economia mund1·a1 economJas nacionais
carrega mais · 5
. 1 . a marca da financeiriz ação a de escolher "as grandes obras do século XXI".
extremada , da dominacã o do
agiota~em , e de um ~ , capita rentista, para não dizer capital de R. Reich publicou , há uns dois anos , uma análise sobre a
umero cada \·ez maior d -
nadas pelas redes mafiosas d 0 e operaçoes gangre- ..economia mundializa da·•. Trata-se, sob vários aspectos, de um li\TO
, que a marca de cap,·1a1 onentado •
o desenvolv imento das fio . para sério, com um diagnóstic o severo, especialm ente no que diz respeito
. rças produtivas . Só s d
no u este As1atico é que
., .
amda prevalece por po .
' uco que se1a a ló · d "
conforme a lei e os profetas ". . , g1ca o acumular, acumular!
5. Olr.ervcrnos apenrtS a av<1h.:ição te,u por R. Bameu e J. Lll\cUugh, em Global Ort',;ms
k uJ.-\ preparaç;\o incluiu <>tltr e vistas com altos ex<'<'utivos do, grandes gruposl, sobre o~
hmnms e mulh<'rCS com quC'lll falaram. "FJicontra mos dirigentes que pos~uem ampl,1
Qual a saída? viSdo e i;omprcei1s;io dos probk>tl1as globais que aietam ~us m ercddos. Su,1 capac1-
da<J<.> de pensar d!' forma ·global' nos nnpressiono u, hem mai~ dcsenvolvid " do qu<• 11,"1
Nossa análise não é a única a co . mil1oria dos alto<, iuncion~rios de go, <'!'nos nacionais. Mas ef<'ç parecem não se preocu-
dentro do sistema mund·a1 d nclu1r no sentido da desconex ão, par muito com as conscqtiências soci,11s e políric..is do que os seus gn.,pos procl11zem, ou
1 , e o crescente duali . . rio que eles r..i,em. Os impactos ncgati,os combinados das ,11iv1dc1des d e ~s grupo'> ~o-
Es lados nacionais submetid • 1·be . - smo no mtenor dos br<' o rno-c;ido de lfal>illho, o meio c1mbímtc, a eduuç.Jo ou a vida ia mihc1r ,;ao co11,1
' os
A partir de bases teóricas d·i
1
.
ª
ralizacao e · d
a esregulam entação." dNados como <'lcmentos iora cio Sf'\1 controle, <' que portanto não sJo de Wd
1 erente.s, mas utilizand · t competência ( ...). As id(•,;i sobre como se pod(>r1a implement.-:ir a transiç,10 para uma or.
dados que nós outros trnb Ih o par e dos mesmos
d<111 pó,, 11<1,ion<1I, que se aprt-'!-ent,1 corno únic., alternativa .'I desord<'ln ,1nárq11i,il P ;i
, a os lh:!semboc aram num diagnóstic o simi-
dcu ul.M<la d,1<; nações. têm 1x11ica charK<• dC' ,1par(.'(.er .'l hv das ~las de r(.'Ulliao das d11e-
tona .. dos grupo!'. As 9uco<;1oes que int<'ressam ilo<. dmgentes dos grupo-. C' as re~ronsab,li-
4. Re1er11no-no s, P.tn fklrt ic::ul'r il dades 4uc cs1c10 dispostos d assumir Selo gloiJ,iis, m,is ao me~mo rempo l1gad.. ~ a um
M onoe , n· ", os 11wneroso,
,plomaliq11e nos· Crl1i1n~ .
lttioo d d
. ' " s (' 11 111 o p uu liudos por L~ C.<fJÍr,fo prm indano; os dirigC'ntes lf'l11 o~ o lhos voh,1dos parc1 o mercado
11111ndiali.Lado,
v~ c111co ou ~e" íln 1 ~
h1 . d, · . ' os, n,mo ao n 111 n<'to esnnr,· ,1 ma, grande milioria do,; homens P mulheres 4u<• povoam o mundo p<'rmanecem in-
<' a rnund1;iliLação n;i sóie "M..i . XY11
,,. ~ º so- ..i
' nt<'re e 1011 ll 9931.
v1s1,eis par,1 e>lcs." (19<l4 , p. 18 f> 21
J IH
319
ao aum ento de dual ismo nos EUA No
país que é a maio r potê ncia da das cont ra
econ omi a mun dial. apa re nte men te apen O dese mpr ego, às quai s o capi tal pod e atua lmen
as um quin to da popu laçã o te fugir,
sairia ganh ando com o proc esso de mun graç as à sua mob ilida de.
dialização. EstE> um quin to está A supe racã o do mod o de prod ução capi _ _ ,
enga jado no cam inho do sepa ratis mo, talista tam bém nao pode ra
da "s eces são" fiscal, soci al. se dar prol on~a ndo e mel hora ndo o mod
política. '"No enta nto" . cons ider a Reich. o de dese nvol vime nto fordist~-
"sem o apoi o dess e um quin to Já relac iona mos as razõ es para tanto,
dos mais fa\·orecidos. será quas e impo mas o "socialismo real", des~ru•-
ssível junt ar os recu rsos para dor de hom ens, dest ruid or de espe ranç
mud ar as cois as" (1993, p. 237). É a eles. as e razõ es de lutar e dest nnd or
entã o, que se dirige o último da natu reza, forn eceu tam bém a mais
capí tulo do seu li\To, para tent ar conv encê
-los de que eles "têm a res• que se cheg a por essa via. No enta nto,
crue l cari catu ra dos ~esultad~s _ª
pons abil idad e de mel hora r o bem -est sob formas qu: sera ~1~ es~10
ar de seus conc idad ãos, inde- inventar, integ rand o todas as lições da
pend ente men te de qual quer vant agem histó ria deste seculo, e difi~•l v~r
pess oal" (ib;d., p. 286). No fundo, com o a hum anid ade pode ria pres cind
Reich não acredita muito nisso. mas. com ir de med idas de expr op~ açao
o professor em Har\'ard e futuro do capi tal. Pod e ser, evid ente men te,
ministro de Clinton. não podi a concluir de que mais uma vez :ste ;am os
outra maneira 6 best iman do a flexi bilid ade do mod o dom inan te e a capa cida de dos
sU
Este li\To foi escr ito na espe ranç a de que que O gove rnam . Pod e ser que os acon
os que pou co pod em se tecim ent~ s não nos d eem
' -
razao,
man ifest ar em temp os norm ais, aque les mas, para tom ar alguns objetivos evid ente
a que m os go\· emo s pede m s, du\<idamos que os Estados
que se "ada ptem... poss am enco ntra r aqui do G7 resta bele çam , em brev e, seu
elem ento s de reflexão. É e\i• cont role sobr e os mer cado s fi-
dent e que não é um li\To otimista. A nanc eiro s e os subm etam a uma regu laçã
força reco nqui stad a pelo capita- o estrita, ou que proc lame m
lismo revela o imp asse histórico a que 0
canc elam ento da dívid a do Terc eiro e do Qua rto Mundo, ou que as
a hum anid ade foi leva da pelo
curs o segu ido pela história política e emp resa s da amp la maio ria dos país es
soci al do sécu lo XX, depo is de da OCDE acei tem, por simp les
cinq üent a anos de triunfo do "soc ialis mo efeito de pers uasã o intel ectu al, adot ar
real". Não cabe , aqui , proc urar a sem ana de 35 ou de 30 hora~,
uma inter pret ação . Tam bém foge aos limit ou aind a que seja m levantados os fund
es dest e livro dize r em qual os nece ssár ios para rev: rte r radt ·
sent ido e por quai s meio s se pode ria calm ente mov imen to de ·•guetização"
tenta r supe rar o imp asse e sair O das cida des oper árias cons ·
da arm adil ha esbo çada nos cená rios tnúd as na déca da de 60. É entã o para
do Gru po de Lisb oa. Isto só a disc ussã o "dos de baixo" e de
pode rá resu ltar de uma elab oraç ão cole todo s aque les que com eles se identific
fü·a, que, com o no pass ado, de- am, que este livro espe ra ter
verá apoi ar-se nas expe riên cias do mov cont ribu ído.
ime nto soci al com o tal. Não
send o otimista. a anál ise que apre sent
amo s suge re que as form as as-
sum idas pela mun diali zaçã o, espe cialm
ente a forç a e a auto nom ia con-
quis tada s pelo capital mon etári o, deix am
pouc a mar gem de man obra
para solu ções refo rmis tas: tanto para as
reto mad as de atividade através
da dem anda e alguns salp icos de med idas
sociais, com o para as med i·

6. N;i v0c.fad1•, 11'\ rn<-s1fü1 p.¾~ina (p.


2116 Reich ol™-•rv.i t.imbl1n que "Wm
havcrA outros ,1co11tN. 11nc,1tcx qur ter,10 intluê dúvtd.i
nc ia sourC' l>st.:i trajc'lória (dualismo P g11e-
t0<,l Um dele!'o, e 11.to o m<'lior, '>Cf.i a mcap
acid.:ule cios mampul.:idorcs de srmbol<is dr
prot~ Prem a si próp rio~. de pr0lc'j1.<'fem su,,s se
famílias e seus b<'fls c.ontr,1 os ,1taq11es ele
uma popul.içilO cad;i \Cl milt!. d""esp<-rad
,1. O~ ex{-rc1to!. de v,gilanll'S, os sistem;is d1•
,1lannc uhril-mode111os I' a multiplic:;ic,ao de
prestdios nJo podN ão dar-lhes mais que
uma tranquilid,,de d<' espmto rel,11iva."

JW
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