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O mito
do desenvolvimento
econom1co
A o
Círculo do Livro
CíRCULO DO LIVRO S.A.
Caixa postal 7413
São Paulo, Brasil
Edição integral
Copyright Celso Furtado
Capa de Natanael Longo de Oliveira
Licença editorial para o Círculo do Livro
por cortesia da Editora Paz e Terra S.A.
É proibida a venda a quem não pertença ao Círculo
Composto pela Línoart Ltda.
Impres�o e encadernado em oficinas próprias
2 4 6 8 10 9 7 5 3
Hermano . . . tuya es la hacienda.
la casa el caballo y la pístola _
Mía es la voz antígua de la tierra.
Tu te quedas con todo
y me dejas desnudo y errante por el mundo . . .
mas yo te dejo mudo . . . ! mudo!
Y como vas a recoger el trigo
y alimentar el fuego
sí yo me llevo la canción?
León Felipe
Índice
Prefácio 9
1
Prefácio
9
?. VlS[,Q global da evol1:-3:çª9. . .té:<:{:'._nte do__si_s tema capitalista,
apreseni:ãdaiiesreséfl�aio_�-'--·--�-- -�Jg_t,i��-�- -�-�-�-�:-Iq�-i-ª"-� _ sug��@as
�m es.tJ-1.do.s_.es_critos.,..em "1967 e 19.68 e rec_en _ _t<;:,rnente repU
blicados em A hegl?!ngnjados Estados UnidosetJsubde
senvolvimento da América Latina (Rio·,---i'973). Os es tudos
·retinidos no último livro citado foram o resultado de obser
vações feitas durante minha permanência na Uoiuersida.Qe
de Yale � 1964-1965, época em que se manifestavam ni
tidamente tendências policêntricas na economia mundial com
a ru tura no mundo socialista e a brecha aberta or De Gaulle
na até então ng1 a tute a norte-americana. Os ens aios do
presente volume são o fruto de observações feitas principal
mente a partir da Europa, no correr dos últimos cinco ou
sete anos, período em que as verdadeiras conseqüências do
segundo conflito mundial, no plano econômico, se manifes-
,, tam com plenitude, mediante a afirmação definitiva das
0 randes empresas no quádro de oligopólios internacionais, o
10
Osvaldo Sunkel 1 que dirigiu minha atenção para novos as
pectos das relações centro�periferia, e a �
com quem mantenho, há vários anos, um diálogo permanen
te sobre o sistema capitalista e suas mernmorfoses.
11
ll,.
K
CAPfTULO I
A profecia de colapso
13
A líteratura sobre desenvolvimento econômico do últí
mo quarto de século nos dá um exemplo meridiano desse
papel diretor dos mitos nas ciências sociais: pelo menos 90
_por cento do que aí encontramos se funda n-a )déia, que se
dá por evidente, segundo a qual o desenvolv�mentQ__eJ::..0_112!z!__i __
z-o,--Ll_f qual vem sendo praticado__pdOLRafaes auelidera_�affi
; revoluçao industríaI, pode ser universalizado. �ais pred;a
mente: J2l.Ç.'!g..n_ds:..: se gue o slaí1dard de__ço4sumo da minoria
da humanidade, oue atualrnentç__ vive nos países altamente
industrializados, é ace�:?Jvel_}1s_grandes31assas...Qe 0_22YlaÇ-a.9
��_!fu?.ida expansão que f9!TJ1_?.1}LQ_ .<::hm:nft99..Ie_r_ç�_i_1::Q_M_�.�-ªº·
Essa idéia constitui 1 seguramente, uma prolongação do mito
do progresso, elemento essencial na ideologia diretora da
revolução burguesa, dentro da qual se criou a atuai sociedade
industriaL
Com o campo de visão da realidade delimitado por essa
idéia diretora, os economistas passaram a dedicar o melhor
de sua imaginação a conceber complexos esquemas do pro
cesso de acumulação de capital no qual o impulso dinâmico
é dado pelo progresso tecnológico, enteléquia existente fora
de qualquer contexto social. Pouca ou nenhuma atenção foi
dada às conseqüências, no plano cultural, de rn�-;e�i�o
.�
· e capi!_�As grandes metrópoles P.10-
dernas com seu ar irrespirável, crescente criminalidade > de
terioraçifo dos serviços púbiícos 1 fuga da juventude na anti
cultura, surgiram como um pesadelo no sonho de progresso
linear em que se embalavam os teóricos do crescimento.
Menos atenção ainda se havia dado ao impacto no meio físico
de um sistema de decisões cujos objetivos últimos são satis
fazer interesses privados. Daí a irritação, provocada entre
muitos economistas, pelo estudo The limits to growth, pre-
14
parado por um grupo interdisciplinar, no MIT para o
chamado Clube de Roma. 2
Não se necessita concordar com todos os aspectos me
todológicos desse estudo, e menos ainda com suas conclu
sões, para perceber a importância fundamental que tem.
Graças a ele foram trazidos para o primeiro plano da dis
�.Q-�ª-�
cussão problemas cruciais que os economistas do desenvolvi
...mento econômico trataram sempre de deixar na sombra.
1 �ela prim.eíra ,-cz dispoJJ10_s_d_e_JJ.HLÇQD:i!dV__ dados repre-
sentativos de aspectos fundament/Ú§ __5,l�_.,,�_?JH.!J1F?-.. __�__ .Qt.---�.lgp
mas tendências gerais daquilo que se começa a chamar de
�tema econômico planetáno. __ M_ais ainda: dispomos de u�
conJunto de mtorrnações aue nos J2�D:nitem formular alcrµ
rnas questões de fundo relacionadas com o futuro dos cha
·ffiados países subdesenvolvidos.
Em verdade, a prática de construção de modeíos repre
sentativos da estrutura e do funcionamento a curto prazo de
grandes conjuntos de atividade econômica não é de hoje.
Entre o tableau économique dos fisíocratas franceses e as
matrizes de Leontieff decorreram dois séculos, durante os
quais aigo se aprendeu sobre a interdependência das ativi
dades econômicas. No último quarto de sécul� foram elabo
rados complexos modelos de economias nacionais de dimen
sões relativamente reduzidas mas amplamente abertas ao
mundo exterior, como a da Holanda, ou de amplas dimen
sões e mais autocentradas, como a dos Estados Unidos. O co
nhecimento analítico proporcionado por esses modelos per
mitiu formular hipóteses sobre o comportamento a mais
longo prazo de certas variáveis, pãrticularmente da demanda
de produtos considerados de valor estratégico pelo governo
dos Estados Unidos. Esses estudos puseram em evidência o
fato de q,µ_e___a._ef:onmn_ia norte-americana _ter1de,_ a _ --�e_r _c_:te_sc_e_n
-
�emente dependente de recursos nã()_��-��OVáVels P.r�4�zi4os
2 Cf, D. I-I. /1:feadows, Dennis L. f.ifeadows, Jorgen Randers, William
W. Behrens III, The limits to growth (Nova Y0rk, 1972), e para a
metodologia ]. VI. Forrester, World dynamics (Cambridge, Mass.,
1911).
15
no exterior do país. 3 Ê esta, seguramente, uma conclusão de
grande importância, que está na base da polítíca de crescente
abertura da economia dos Estados Unídos,-e de.x<eforçamen
. to das grandes empresas caPazes de _Jlt.Qil?-.PYS:i�a_e.ii,l�ão
· de recursos naturais em escala planetária. As projeções a mfils
longo p·tazo feitas no quadro analítico_ q_ue · aCàbamos de re
ierir se baseiam iITl12licitamente na idélâ de que a front�1ia
externa do sistema é ilimitada. O conceito de reservas dinâ
micas, função do volume de mvestimentos programados e
de hipóteses sobre o progresso das técnicas, serve para tran
qüilizar os espíritos mais indagadores. Como a política de
defesa dos recursos não-reprodutíveis cabe aos governos e
não às empresas que os exploram, e como as informações e
a capacidade para apreciá-las estão principalmente com as
empresas, o problema tende a ser perdido de vista.
A importância do estudo feito para o Clube de Roma
deriva exatamente do fato de que _nele foi abandoMda a hi-
3 Com base nos distintos estudos realizados nos anos recentes, o De
partamento da Tnterior do governo dos Estado.s_.lJnidQLP..ublicoUeiiz
1972 uma série de projeçoes da demanda de produtos básicos pela
eéõ,;"ómia norte-americana até o fim do século, indicando o grau pro
vável de dependência vis-à-vis de fontes externas. Segundo essas
projeções, dos treze principais minerais de que depende a economia
desse país para funcionar, todos com uma exceção (os fosfatos) deve
rão ser abastecidos em mais de metade por fontes externas, antes do
fim do século. Em 1985, nove dos treze produtos já estarão nessa
situação, enquanto em 1970 apenas cinco dependiam principalmente
de fontes externas. Um produto como o-.E2.fz!_e, item tradicional nas
exportações norte-americanas e ainda em 1970 totalmente abastecido
por fontes internas, antes do fim do século será importado em mais
de 60 por cento. O enxofre, outro produto clássico das exportações
americanas, estará em idêntica situação. Contudo, o caso mais dramá
tico é o do petróleo: havendo sido o mafor.. ..e.x.p.oitãdnL..mundzal; ··-os
Es.t__a.r/.os Unidos tendem alrans ormar-s:.e_e_m_u_m__dos mai_m-es _i_mpor�a
dores�egun o o epartamento do Interior7 as importaçõe/ dináíCanas
·a.e petróleo, em 1985, muito provavelmente quadruplicarão as de 1970
e, no fim do século, serão oito vezes maiores. Esses cálculos, é verdade,
não tiveram em conta os efeitos do considerável aumento dos preços
relativos desse produto que ocorreria no último trimestre de 1973. Se
se tem em conta o aumento de preços, o valor proietado das importa
ções de petróleo dos Estados Unidos alcançariam, em 1985, soma equi
valente ao duplo do total das importações desse país em 1970.
16
; pótese de um sistema aberto no que concerne à fronteira
dos recursos naturais. Não se encontra a1 qualquer..pre"Ocupa�
ção com respeita à cresc_ems:�d.e,JL(adl11cía_dos p-aísesãità-m��I1-
te industrializados vis-à-vis dos recursos naturais dos dem�i,s
países, e muito menos com as conseq.üêncü1s__para_este.$_,,Plti::.
� do __:1�º __p���-�-Y?Eio pelos prim�iros de tais recursos. A
novidade está em que o sistema pôde ser fechado em escala
planetária, numa primeira apt()xi�aç:_ã() ,_ __no __qu_�·-_-iO�-��-rn_�-- aos
recursos não-renováveis. Um�-���-IechàdO·o-slstema,· os· auto
··res do estudo se for��laram a seguinte questão: que aconte
cerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão-�º-:..
do mobilizados todos os ovos da terra, chega efetivamente a
J
1 �oncretizar-se, isto é, se as atuais formas e victa--aos-p·ovos
ricos chegam efetiv�-��_a......univei::sali.zar-se.? A resposta a
essa pergunta é clara, sem ambigüidades: �e ai acontecesse,
a pressão sobre os recursQspão-renoxáveis e a poluição o
meio ambiente seriam de tal ordem (ou, alternativamente, o
�sto do controle da poluição seria rã�elevado) que o siste
ma econômico mundial entraria necessariamente em colapso.
Antes de considerar que significado real cabe atribuir a
essa profecia, convém abordar um problema 1p.ais geral, que
o homem moderno tem tratado de eludir. Re}iro-me ao ca
ráter predatório do processo de civilização, particularmente
da variante desse processo engendrada pela revolução indus
trial. A evidência à qual não podemos escapar é que em nossa
civilização_ a criação de valor econômica provoca, na grai:i_de
maioria dos casos, processos irreversíveis de degradação do.
mundo físico. O economista l_irI_?._!_1ª__ o seu campo de observa
ção a_ processos parciais, pretendendo igno_ra_ r:__,qu_ e�--�-s.s.es_pr.Õ�
CêSS�_s__ provocam crescentes modificações no mundo físico. 4
17
A maioria deles transforma energia livre ou disponível, sobre
a qual o homem tem perfeito comando, em energia não-dis
ponível. Demais das conseqüências de natureza diretamente
econômica, como seja o encarecimento das fontes alternativas
de energia, esse processo provoca elevação da temperatura
média de certas áreas do planeta, cujas conseqüências a mais
longo prazo dificilmente poderiam ser exageradas '. �ud�
_ ingêDJJa....J:Qnsíste em imaginar que problemas dessa ordem
"serão solucionados �ec����Ii�.��pt�_J?.�l9 ....Pt.2gii�.?.9.:_�}�-���
__gíco, como se a atu·ãr aceleração do progresso tecnológico
não estivesse cop.tribuíndo ...pa.ta_agiã:Va'-IoS� Não se tt_ªfª-�ge
_especul�_r _ s� � e_or�c�17i_en_t_e_ a ciênc_i_a __ e a técnica_ .. c�p�-�-�ta_m: o
-
hOme-;n p _�.fo�����üciõUáL:_eS.te .. .oU:�-ã-q�eie:.�pr·o1;ren-ui.j:E_L3.d()- -Por
:q_º-�s- .1___::J.Y.i!_i_��-ç_�g_:__ Trata-se ap�º"-ª-�-----�-�-- --reconhecer qu�--·o · que
_ch_�_Dl?.lXE)_S...sk _çr_i_ ª_ç_ijQ __ _ d,(:!___v?lQ r ..t::_cg_r:i Ô_1!} IC() .. tel?"····coiij0":5=CJ.�.tra-
partída preces�-�� irreversívei; -�� -�-�-nd◊-fíSiéO,-··ê�fJs Coiise
.q_üê!-i"das-··tra"tã"@_Q�-- d_e ign_ora_r. Convéffi Dão perde"i•"··cfo" vista
que na civilização industriãl -◊ futuro está em grande parte
condicionado por decisões que já foram tomadas no passado
e/ou que estão sendo tomadas no presente em função de um
curto horizonte temporal. Na medida em que avança a acumu
lação de capital, maior é a interdependência entre o futuro
e o passado. Conseqüentemente, aumenta a inércia do siste
ma e as correções de rumo tornam-se mais lentas ou exigem
maior esforço.
18
A evolução estrutural do sistema capitalista
19
se trata aquí de simplificação metodológica, de primeira apro
ximação a ser corrigida quando se disponha de informações
complementares. Trata-se simplesmente de uma estrutura
que reflete uma observação inadequada da realidade, portan
to inservível para projetar qualquer tendência desta última.
A questão que vem imediatamente ao espírito é a se
guinte: �ÍS12.2filºS de suficiente conhecimento da es.t..r.ututa-.da
economia mundial ( ou, simpl�smenr_e, da do conjunto das
economias capitahsta_s_) _ _ l?_a_r�J}tOjeta� tendêttcia.s ggnificativas
dã--Í- nesma a longo pt.120? Mesmo que não estejamos dispos-
f tos a dar uma ir!eSrrit;· resposta afirmativa a essa questão,
' não podemos deixar de reconhecer que existe ampla infor
mação sobre o processo de industrialização em países de ·di
versos graus de desenvolvimento econômico. Porque dis
pomos dessa informação, já não é possível aceitar a tese,
esposada pelos autores do estudo, segundo a qual "na medi
da em que o resto da economia mundial se desenvolve eco-
nomicamente, ela seguirá basicamente os padrões de consumo
/
Ldos Estados Unidos". 6 f,. aceitação dessa doutrina implica
em ignorar a especificidade do fenômeno do subdesenvolvi
mento. A ela se deve a confusão entre economia subdesen
volvida e "país jovem"; � a ela se deve a concepção do desen
volvimento como uma seqüência de fases necessárias, r··-ia
Rostow.
_- - Captar a natureza do subdesenvolvimento não é ta
/ refa fácil: muitas são as suas dimensões e as que são faciÍ
mente visíveis nem sempre são as mais significativas. Mas se
/ algo sabemo�com_ segurança é que subdesen�olviment�
1 1em a ver com....a__idade.._<le uma suciedade_o.1L.de_um.__pJgs. E
também __sab�ro_Qs_q_u�__Q_pJ1târnegg para medi-lo é o _grmLde
1
�_cumulação de capital aplicado aos processos produtivos e _o
grau de acesso à panóplia de bens fma1s q11e car.act-e.r.i z. am ·o
·que se convencionou chamar de estilo de vida moderno":·
Mesmo para o observador superficial parece evidente que o
subdesenvolvimento está ligado a uma maior heterogenei-
20
d�?e t���-ol()_gi�-
_ �' -ª-- qual reflete a natu_re_ za das relações exter-
-
Ilis - âesse __tlp9___g_e-___ e_ÇOI}Omia.
-----Quando observamos de forma panorâmica a economia
mundial no correr do século XIX, particularmente na sua
segunda metade, percebemos que as enormes transformaçõ_e:s
ocorridas se ordenam em torno de dois proc_essos: <Ípr..imcir-d
diz respeito a uma considerável aceleração na"acumulação de
capital nos sistemas de produção, e 4e·gundo)a uma não
nienos considerável intensificação do comércio internacional.
Ambos os ·processos engendra�am aumentos substanciais da
produtividade do fator trabalho, dando origem a um fluxo
crescente de excedente que seria utilizado para intensificar
ainda mais a acumulação e para financiar a ampliação e di
versificação do consumo privado e público._ Ç�joi ªEE2..
priado esse excedente, e comp f.Qi...orientada ...sua..utilização,
const1tU1 o problema fundamental no estudo da evolução do
c'àplialís'illO-- industrial em sua fase de amad-urecimelltO.- D�� -
ranteufrlâ-prímeira fase, grand�.. E�-�t- -�..9c:i. _r_�_f�JJªq··- _�i�-�-��-�te
f01 canalizado pa_ra a )JJ.gl.aJe::.ú?-, ___t_raps_fopna_11:do�s_e __ J,or1dres
no'··centtomi�-�t�d�;-das finanças do ��ndO. cai,italista. Fi
Ilã-nc:ranao os investimentos infra-estrutura1s··em--i6do o mun
do em função dos interesses do comércio interdà.cional, a In
glaterra promoveu e consolidou a implantação de um sistema
de divisão internacional do trabalho que marcaria definiti
vamente a evolução do capitalismo industrial. Esse sistema
tendeu a concentrar geograficamente o processo de acumula
ção de capital, pelo simples fato de que, em razão das eco
nomias externas e das economias de escola de produção, as
atividades industriais - às quais correspondia o setor da de
manda em mais rápida expansão - tendem a aglomerar-se.
A reaç�o contra o projeto inglêsck econorn_i_a _mundi_al
log_o��J�_?; __§_(,':gür'. _A __�t_g_µnda fase da__ ev_()lução_ do._ç�t;f{�iuo
industrial está marcada por essa reaçãõ:···r·o··período de con�
�-Olidaç·ão. ·a- os· sistemas econ:o_�z�_os_ naczonarca_c;_s:_- p�i:�-�iJ.]Ue
formariam --OCfübêaas-ecoTiólTiiaS - aeSenvol�idas- no .-século
atual. A· fOrma-corrRY·-ocort�i e�ss·a--·romad�c-âé·--·coiiSC"íê!lda
r
21
téria que escapa a nosso interesse imediato. Basta assinalar
que, em toda parte, o êxito da_Ieação esteve ligado a uma
�lização das _decisões
_ eco_nê,_ �i_cas__b_e1!1____rna10r·-ooque
aquela quehãviã coiiliec:léfoõ ca_pltâlismoincÍu-;ttiãí7nglês
m
êm a·fase--cré-ZollS01í�.it9.-E� al�m-as-patt:e·s ··essa :tnãíor
��btida aÚ_avés da preemiriê_nci_a dó siStema
ba"ncino, o qual conheceria Tffiportaiite·-~evOfo ÇàO eStturural;
· em outras o Est_a.do_J1gc1oiiâl_ªS_ :;lJJTI!úJUt)ǧi;f#j_�i_ s ·_ampl_ �t-:Oª
_gjreção do processo____g�---..?-�Y:!Pl_ lJa_ç:�()-_7 Por toda· · p
· ar-te· e·ssa
orientação I�a--;iianças de cia;ses·-e g!}!_p_QS__ sodaiS-=--bur-
@!esia industrial, comercial e fina�?___ pre:_e_�i�!_á_ríos rurais,
burocracia estatal - em torno de _ul11____ " proj_etc,____pacional ",
com repercussões significativas na evolução l�- capitalismo
industrial. Ao passo que na fase inglesa o comércio interna
cional crescia mais rapidamente que a produção no centro do
sistema, a tendê ncia agora será em sentido inverso. 8 A evo
lução dos termos de intercâmbio tende a ser desfavorável à
periferia do sistema - isto é, aos países produtores de pro
dutos primários - e a acumulação contínua a concentrar-se
no centro, agora transformado num grupo de países em dis
tintos graus de industrialização. Por outro Iado...1 a nova forma
assumida pelo capitalismo - maior centralização de decisões
no plano nacional - facilita a._S9E:,�ntraçªo do poder ..eronâ::
mico e a emergência de grandes empresas. Os mercados in
ª
ternacionais tendem s_er_c.onttola.do.s..,p.OLg.tup.o.s_de_e_m1Ú.i�
_ sas, cartelizadas em graus diversos.
7 Sobre a especificidade da industrialização retardada, na Europa, par
ticularmente no que respeita aos aspectos institucionais, veja-se o
f trabalho clássico de A. Gersc_'2f.1Jkron, Econofi!i.ç__bgçkw.ardness ín
' hístorícal perspective (Cambridge, �-:-:-Wi.Z"J, principalmente pp.
5�50. Veja-se também B. Gille, "Banking and industrialization in Euro
pe 1870-1914", e B. Supple, "The State and the Industrial Revolution
1700-1914", em Tbe Industrial Revolution, dirigido por Carla M.
Chipolla, terceiro volume da The Pentana economic history of Europe
(Londres, 1973).
8 O período de mais rápido crescimento do comércio internacional, até
o presente, foi 1840-1870, isto é, a fase de apogeu do projeto inglês
de economia mundial, quando essa taxa alcançou a média anual de 13
por cento. Cf. A. H. Imlah, Economic elements ín the Pax Britannica
22
P o r que este e não aque l e país pass o u a l inha demarca
tória e entrou para o clube dos países desenvo lvidos, nessa
segunda fase crucial da evolução do capitalismo industrial
que se situa entre os anos 70 do sécul o passado e o primeiro
conflito mundial , é problema cuja resposta pertence mais à
história que à análise eco nômica .. Em nenhuma p§�_t�- --�s_§,a
assao-em ocorreu no quadro do laissez-faire: foi semI?re - _1'.)
resultado _de_�ôITtica delilietãa��.�D.t�. ---ç9nç�llisfa__�Q!Jl
�.rg!.. O _g��nteressa ãsSI.õãiar l qll_���.)�_r:ih _ ?. demarc_ató_-
-ria ten.de1.L.ª..-ª"p_rofJJ.r!d�r:.:s�, ___Ç9.1.110 a mdustri alização em cada
é.peca se molc:l-ª._�qi___fo_nçã_ q __çl_g_ gra_ _µ___çl� __a,ç_um_µhçi°fr.?___ ªJç_anç-ªdo
pelouaíse� que lideralJ? __.9�J?�Q�_�Ss?_1____ _(:) --�s�-�-1:5?___���f!-��Y.?..-
/ -��=
1 qu e rido para dar o s PE�r:n_ei� ()S p a�s?_s _ tend_e _ -�-- �r�s-�:�.
_ _ . - _c()
_ m._9
tê"mpô. Mais a _índa: tmia_ ·vez qué.. o····atraSO - relãd;Q- aléâil�a
�erro ponto,-�0-=.{2iQ·C�s;ode7ndustnalização sofre importantes
a-, modificações qualitativas. Já não se o rient;···e1e···pata·-:rormar
um siste�êõnõfüíco·üacto1fai"E-sim··para·· _ complé'tar o ·slste-
ma econômlCO·-- lriternãCiO-nar··A1g"uIT1àS __ fridlFú-i-i"8S surgem ifl-
tegradas a certas atividadeS exportadoras, e outras como com
plement o de atividades importadoras. De uma forma o u de
outra elas am li am o rau de integ r ação do s}stema econô
mico internaci o nal. Nas fases de crise deste ú tim o, pro cUrã:"••
'- se reduzir o conteúd o de impo rtaçõe� de cert as atividades
-industna1s, o que leva, oc�sí o nalmen_t�, ·-;:···instalaçãQ__:d.e. indUS,
J�����gn�do_r�s d_ _(}_ _ 5-_i�t:I?�---- eco�·ª!I_}_i�g ___J)_Q ____ r:1_í:v�.l. _nacional .
Dessa forma:--P o ��:�m __ Pi()Ç·�-��-?. rn_;erso, através de um esforço
-
para reduziF..â'-Instabilidade resultante da forma-·de- irlSérção
23
na economia internacional, vem a tomar forma um sistema
· industrial com um maior ou menor grau de integração.
Esse sistema industrial formado em torno de um merca
do previamente abastecido do exterior, vale dizer, engendra
do pelo processo de "�.1-1bs1i.r_1:1iç�o cI_e !_}?!po_rtftç(?es", é _e,specí
fico das economias subdesenvoi;ídai Ele ;pr��enta carJct�
rísticas próprias que devem ser tidis em conta em qualquer
tentativa de projeção do conjunto da economia mundial. Para
compreender o que há de próprio nesse novo tipo de indus
trialização, é necessário dar alguns passos atrás e refletir
sobre a situação daqueles subconjuntos econômicos que se
integraram no sistema capitalista internacional, na fase de
hegemonia inglesa, e permaneceram como exportadores de
produtos primários, na fase subseqüente de ampliação do
centro do sistema. Nessas economias os incrementas de pro
dutividade resultam fundamentalmente da expansão das ex
portações e não do processo de acumulação e dos avanços
tecnológicos que acompanhavam no centro do sistema essa
acumulação. Tratava-se de incorporar recursos produtivos
subutilizados ou recentemente adquiridos, como no· caso da
mão-de-obra imigrante, a um sistema produtivo que crescia
horizontalmente. Esses aumentos de produtividade decorrem
do que em economia, a partir de Ricardo, se chama de "van
tagens comparativas". A doutrina liberal, mediante a qual os
ingleses com tanta convicção justificaram o seu projeto de
divisão internacional do trabalho, fundava-se nessa lei das
vantagens comparativas.
Que países - com abundância de terras não-utilizadas
e a possibilidade de receber imigrantes (ou de utilizar mais
intensamente uma mão-de-obra integrada num sistema pré
capitalista) - hajam optado pela linha de menor resistência
das vantagens comparativas não é para surpreender. Afinal
de contas a Inglaterra também estava optando pelas vanta
gens comparativas quando reduzia a pouca coisa a sua agri
cultura e se concentrava na indústria e mesmo na produção
de carvão, que em parte exportava. O que cria a diferença
fundamental e dá origem à linha divisória entre desenvõivr:--
24
mento e subdesenvolvimento é a orient ação dada à utilização
do excedente engendrRdo pelo incrnm� prodntlvidade.
A· átividade industrial tende a concentrar grande parte do
_excedente em poucas mãos e a conservá-lo sob o controle do
grupo social d1tetamente comprometido com o processo pro
-.-dutivo. Por outro lado, como o ca ital invertido na mdú�a
-estã sen o constantemente renovado, a porta fica permanen-
temente aberta para a introdução de inovações. De�.�.?-JQ�.Q_ 1a ,
um sistema industrial tende a crescer por· suas próprias for
ças, a menos _que __s�jª ..5-��-I?e_t1do a _ lfl��_fr;1_�ncia_ de...demaiidá
··ct�-gxpliêá-=se·, ·asSiffi, ·qüe··-ãci��ies países que procura-
-ram criar um sistema econômico nacional, na segunda fase
da evolução do capitalismo industrial, hajam protegido ati
vidades agrícolas e outras, que não ofereciam "vantagens
comparativas". Mediante essa proteção eles asseg_uravan1____9"_e-
manda ao setor industrial, C()fµP.º1-��ndo_.amplam�n,t.e:_.ço_m__-ill_:
crementos de produtividade· neste setor o que perdiam ___pas
demais atividades " l?ES?.!�idw, ".
Nos países em que as vant agens comparativas assumem
a forma de especlalizaçiío_ruLe;,<p.QrJ,t,!í.9 de produtos primá_,
rios (particularmente os produtos agrícolas) o _excedent� __?_di_ -
- - cional assume a forma de um incremento. aas·· -imp·oitaÇões.
· COmo a especiali_zação não_ re�r nem _i_mplica modificações
.
. fios metodos prõallti-;os:e-�-..�_ çumu laçã9_::i�-- r_�aJi_ �_<1_ __<:9_m:__Jé:CUJ:'_- .
�os locais (abe�-_ ��ra de ~terras, estradas e _construções ru_rais_,
·.crescimeri�º=--ª����-b_anho, __ �tc. 9) o incremento da capaddade
· para importá!" Permanece disponível para ser utilizado na . .
aquisiçjio<leJ,ens de_ consumo. Desta forma, é pelo lado da ..
demanda de bens finais de consumo que esses países se inse_
rem m ais profundamente na civilização industri.@J. Esse dado
é fundamental para compreender o sentido que neles toma
rá, em fase subseqüente, o processo de industrialização. Não
25
é minha intenção abordar aqui, em detalhe, o problema da
especificidade dessa ingustrialização fundada na chamada
·
"substituição de importa�s";1° limitar-n��·�·�r;· �- cille
·
e1a·· tén.9.�------ª'····:i::_epr_qc!uz_ir �-m _miní;,tt_]Jra sisteill�ndustriais
�poiados em um processo muito mais amplo de acu�I3.ção
de capital. N� prática essa míni�_turiza_ção assume a.forma de
ipstalação_n_Q_p,aís��lIL.9 .��-§![Q_ ..Q�_uma... série...de__ .s.u h�.ü.diárias
.
_de empresas dos__ países cêntricos..,._o_que_reforç.a.a .t�nçl�ncia
para reprodução de padrões de con�Q..1}19__de_sncie.d-ª..Q�§. de
l?�O_Jna�€:V�J.�@�re-��édia. Daí resulta a �o
nhe_çída síndroJQe_de_tendêncía à concentração da renda, tão
familiar a todos os 9ll_�---�studam a in_c:l�?..t�!�}_i-- zação ··ctos·--países
su9deseQ'lohúdos. - ·-
A rápida -�-n�_us _tr_ia_liz_�Çã_? da__ peri_f�ría d() n�u_11d?_ c_�_pita-
l_ista"�.s_Qb.·..�:dfi:�__Ç@_Q_·___ g_(;:_�lilJ)f.eSa·s ·aos paíse_�____ç:_��-�icO·s; qu� ·se
(?bserva a partir 42 ..��g_ . ll_l}.Q.Q____ÇQJ}.[J_itq____gg�_µ_g_i_�.L<: se acele�OU
no. _l!ltLmP ..d�D.ÜL.. .' '. L ª. .
9X!;��-ºncJ _e__ Jdma terceira fase na eVOlu:
ção do capitalismo industrial. Essa fase se iniciou com um
processo d�jÍ.iJ.�tªç_ão das economias nacionais que formam
o centro do sistema:-·na· .forffiulacâo - da - Carta dé -Havana e
--
;riação do _GAT·y -�·o·--·Kennedy Rou�d, passando pela formação
do Mercado Comum Europeu, forãffi dados passos conside-
ráveis no sentido de e_�trutur_ar l111l__ _ espaço econômico unifi-
cadQ_}lO centro do sistema caPitaÜst;. cj" illOVimento de ca
pitais, dentro desse espaço···em·.. viáS-·âe unificação, alcançou
volume considerável (principalmente dos Estados Unidos pa
ra a Europa ocidental, mas também, em fase mais recente 1
em sentido inverso), o que.permitiu que graq_q_��----�-ipp_-- re_sas__ se
implantassem em t�dos os subsistemas nacionais � --tà�b1"'ffi~
.-q.ue...as_e.s..t.r:uturas__oliggp.ólicas . ..viessem_a abr_i,lng�J: -º _<::.<?r:lÍ.11.� t·�
--
_desses subsistemas. A form__a.Sªº/ a_ __p_at_t_i_r___ _d_a _ __ s�g_:i:ir,i_da metàélé
dos anQ.�_6_ü�,_ -de . �Um--impor.tante�:m��cad◊- i'fltér�;c1011ar·de
çapitais constitui o coroamento desse Processo, p01s perffiltê
L. -�----- ··--�... - ,---,.,._._______
10 Veja-se, mais adiante, o ensaio Subdesenvolvimento e dependência:
as conexões fundamentais.
26
às grandes empresas liberar-se de muitas das limitações cria
das pelos sistemas monetanos e fmanceiros nacionais. �i�--"-·
Desta forITla, os sistemas nacionais, que constituíram os
I?J.arcos delimitadÜres do processo de industrialização na fase
_?.nterior, foram perdendo índividliã]Taãde no ce�..t-�<?. __do siste
ma capitalista, sem gue surgL��� -�!�E,l_91ente outro __��rco _p�ra
subflJÜu.í-los. T�ndeu a_ criar-se -uma situação de aliUIDa for
ma similar à que prevaleciJ-"'IlaTpõEà·em·_--que_·_:a.. _ln_gla_t_�_tra··e"ra
SõZlnha o centr� do sistema capjtaliSta:-p�---�es·m�_ -�O-r1!1a_ gue
·o empresário ingl�-�;.. que financiava o s�� P�_�J_(fr()- [1_,i�Çj_ty, .. se
se�tia livre par? localizar-�_ �-1:1ª--�--t,�yid�d, e __ _�I11 qual_q_uer __ parte
-- _ _ _
do··_ffiundo, a }ilí_al "í_nternacional') de �tna é"iTiptes·à_--i1_11�rica
n��-;u italim_��i=l.lJ.�.,-� ___d_i_r_ígida..._do . _L_U!C�mb_µrg():�·oi:i"' ��- Suíça
-
ta�bém se sente livre para iniciar ou ampliar s�as --ai:_iy_í_cla
cleLneste ou "ª�ele país financiando-se da forma que lhe
convém, em funçãÜ-�fê-Sé�-s· ·ptói)rios objetivos de expan_são.
A diferef1:�-ª _ c_?Ill o_:_a_nt}g_ o__ fl1?4ef()--lng_lês __ e:_;_!-ª. _�__ Il}___ qµ�__ o__ em-
presário· il1di\li�hi�lJ.QL�.1Jbttit.µ_!Q_o__ .P�.1-ª--- grande ___q;p.pr_esa .
. ---·s;;·;��ontramos similitudes com � ;n�ig�-�;delo inglês,
cabe reconhecer que também são significativas as semelhan
ças com o capitalismo da fase de consolidação dos sistemas
nacionais. Com efeito: foi no quadro deste '"iíltimo que a
grande empresa assumiu o papel de centro de decisão capaz
de influir em importantes setores de atividades econômicas.
A grande empresa requer um grau de coordenação das deci
sões econômicas muito mais avançado do que aquele que cor
responde aos mercados atomizados. . Essa maior coordenação
foi inicialmente alcançada medianté. a tutela do sistema--bâri
cário ou diretamente de Órgãos do governo. •T"fvias na medida
em que as grandes empresâs foram adquirindo maturidade e
27
se foram dotando de direções profissionais, tenderam a de�
senvolver regras de convivência que permitiam a troca do
mínimo de informações necessárias para assegurar uma certa
coordenação de decisões, ���a e,:yolldfio se$? ipidal111ente
ll.Q,Lfawlos JJnídos, onde a grande tiqueza ...de .experiência
permitiu explorar múltiplas possibilidades. A tendência à
.c�nce�nit;Çãõ-güe cri.Q.u_cm.LettoSJamoS.--5Ü:illlÇ.Qe_s-s;l�_yiri:iii�l
. monooólio provocou reações inversas d�__def��g___40 _ it1teresse
público com as leis anfür11st�jo_fi rn c!o-século"pàssadõ. Fe
chada a porta ao monôiJófiO foi necessário desenvolv�r. for
�as d�.-�-95?.!_ª�J?:�Ç�◊ ma_��-�utis. O oligopólio constitui o co�
roamento dessa eVofoÇãO: <::1_�--I?�;��-t:=_51ll_e um .E::��-Q.Q __ gfQPO:
de -�randes firm_:as cri_em bfirreir_ás à enxracfa d_e _()_utras em um
-
��t�!.,_ªe at1v1'fade econÔ�_i�� �t;;__ ªAffi}n{�_Írem: c.�Üju_n_t_amente -
Q!,preços de ce.r_;sis _produtos_�- _cons_ervan�o _cor1tudo_ autono-
l'"JI!Í_a ·-lfllânêcl;;·,· teC�o1ógicã'" C ad.míniStrãtlVa·: A admfofatra-
ção dos preços cria vantagem relativa para as···e-mpresas"·--que
1 mais "ínovari1'"taf1to em pr0éessos produtivos quanto na intro
, dução de novos produtos dentro de determinado setor. À di
/ ferença da concorrência tradicional de preços, que se traduz
J em redução dos lucros� debilitamento financeiro, fechamento
f de fábricas, ou, no caso de que se lmponha um monopolista,
}.-j elevação de preços e redução de demanda > o mundo dos oli-
1 gopólío.s se assemelha muito mais a uma corrida em que,
salvo acidente, t0dos alcançam o objetivo final, sendo maior
j a recompensa dos que chegam na frente. É um esporte ao
qual só têm acesso campeões, como as finais de Wirnbledon,
A forma oligopólica de coordenação de decisões, graças
a sua enorme flexibilidade, pôde ser transplantada para o es
paço semi-unificado que se está constituindo no centro do
sistema capitalista. Favorecendo por todas as formas a inova
ção; o oligopólio constitui poderoso instrumento de expansão
econômica. À liberdade de ação de que vêm gozando as fir.
mas oiigop6Iicas� e comércio de produtos manufaturados
entre os países cêntricos cresceu com extraordinária rapidez
f no corret dos dois últimos decênios. Pot outro lado) a enor
f me capacidade financeira que essas firmas tendem a acumu�
!
28
'= J]ar leva�as a buscar a diversificação, dando origem ao con
't/glomerado im:ernacionai, que é 2: forma mais avançada da
· , empresa moderna.
0
29
to: na medida. em que a:s grandes empresas internacionais se
foram capacitando para adminisrrar os preços dos metais
□ão-ferrosos ,. tornou-se interessante para elas transformarem
se em grandes utilizadoras d-esses metais. Por outro lado,
para planejar a produção de cobre a longo prazo era neces
sário conhecer a evolução da economia do alumínio, por
exemplo. _ Daí a emer_gência de novas formas de oligopólio
visando_� ··c;'??1:, denar a_ economíâ-·i;-â·o·ae·"'wn .._pt()dú-tú _mas d<:
- um córiJY.füQ:_:cre:��P�Qd�itõi_-_;t-é _ c;�rút j)_õú.OJ!Jliâtit.¼ít�fa:
:txe;;1Plo _ claro dessa evolu;iãO_ ê__dado __ pelas ?_r�_n?es co_rnpa
i_ffifa&:·;1e"Petróleo:_ elas.. te]JS).�_1:;m·-a_·�lVCr_S_ifiCai-_se_ __ rio Caffipo
d<i _pe_tr()químic_a e da eno_r_me famdia-·êfe índústrias___ .9llf: daí
_
Piftc; m:}s"�_fom5�_m.-:·_p·rocur_�ià_in instalar-se nos setOr�s �on-
cqi�i[)_�i��-�2�-êã_�_v�º--f. �ii;iI.l_. �Xõn:úca.
Se observamos em conjunto as duas linhas de diversi
ficação, a vertical e a horizontal, vemos que uma empresa
que se expande nessas duas direções tende a ser levada a
controlar atividades econômicas na aparência totalmente des-
conectadas umas das outras. �i partir de certo momenf:g___ as
�ntagens da diversific�ção passam a ser estritamente de �a
·ráiet tmanceiro, pois o excesso ae·11qmctezae um sefõ"f pode
S
ser utilizado noutra;- ocasionalmente tn-<ffs-dirrãmYCi , Ora�
<esse tipo de coorderlação pode·-ser obtfclãa"Ftaves·ce---uist_i_tui
ÇOes 11_naõ�eir_a0or definiÇáO '"fTrníto"--·màiS ·nexívels. Esse
P�ocesso �volutívo -tende _, portanto:__ a levar a uma coordena
_ _
ção _ '_JíiiâDCeira, àtr_avés de instituições bancárias e semelha□-
_
tCS: e a uma éoordenação oHgopólica J no plano operadonaL 14
.31
condições de administrar recursos aplicados simultaneamen
te em diversos países. É natural, J?.Ortanto, que as antigas
transações internacionais, organizada;p�;Yr;terrrieaian�q�
� especulavam com estoques ou "jogavam" nas bolsas de mer
���orias, ven�senao progressivamente substitu,:�Spüt
�raf!s�.çQ��-�ntre_. .ernpresas ._p_ertencº1tes.._<!��� g_rllpo, --Eüjàs
·aü';;.{dades estão articulada_s_. 17 Na medida em q�e as ativida--
·-·-ae·s econômicas fora;·��fldO organizadas dentro dos países
cêntricos para permitir um planejamento das atividades das
empresas a mais longo prazo, impôs-se a necessidade de tam
bém planejar as transações internacionais mediante contratos
de suprimento a longo prazo, instalação de subsidiárias ou
outras formas de articulação.
Operando simultaneamente em vários países e realizan
do transações internacionais entre membros de um mesmo
grupo, as grandes empresas tenderam a desenvolver sofisti
cadas técnicas de administração de preços, que exigem na
prática uma grande disciplina dentro dos oligopólios. O
mesmo produto pode ser vendido a preços diversos em vários
países, independentemente dos custos locais de produção, e
os preços praticados nas transações internacionais dentro de
um mesmo grupo são fixados tendo em conta as diversidades
32
de políticas fiscais, os problemas cambiais, etc. Essas técnicas
são praticadas no quadro dos oligopPlios, portanto não de
vem desorganizar os mercados, nem impedir o crescimento
destes. O interesse particular que apresenta o seu estudo re
side em que elas permitem entrever a verdadeira significação
da grande empresa dentro da economia capitalista moderna. 18
e_· Q�Irnç2s.. . !!!.?.!.� característi_�_o do__ capitalisi:no _-11ª.-SJJ.a_fa sg___
! .�;:���0-�a atual está eil) _ 9u�.:��):_ -pie_S_�l§��-���-?.I? .
�-�tado , na:
/���:��:�;Et�!�Í�d����;��t:i:�0:e��E::�: ��:·
-
33
dído, não como declínio da atividade política, mas como
transformação das funções dos Estados e emergência de for
ma nova de organização política, cuJo·-petfír·aTDda--s·e-·-e;-;úi
-cteTí'DiiidO.-Naõ-se---iiêCe'SSí"ia' ··mú:i'ta··-p·êtSpkáCfa para perceber
CJ.ue, a partir do segundo conflito mundial, o sistema capita
lista operou com unidade de comando político, apoiado em
um sistema unificado de segurança. À existência dessa rela
tiva un�4_a dt:: de COil)?,r:ttjq_ político se deve a rápida reconstru
�ã() ·da; �c-;nomias da Europa ocide"ntafedo Japão,_ o p_roces-
-50- de ___ '_' descolonização", __ a organi_zaçã() _ do 1vierca_do Çomum
Europeu, a ação pêfsíStên·re"·ac;··ciTT v1saridõ-- á◊- desarma
Il1.��to_: :��_if áti;:-�;-grand_ es' �()Vlm�-�-t?_ s -d�:.:·c_apTt�-_ -:C]ue per
ini_tir;-m _às_ - _ gr�-?�-��--_e;;p-�e·sa·s·-- adqúir_ii_ a _p�eelll_iflê"n"éi_a _ inter-
n?�ion�f:_-a �-C_�iti�ã()___:d() _ __ pa_drã_ _o�9ól_�_r.. _ c_ ()�?___s_t1-'f;s�1tü"f0 · ão an- ·
tigopydraO-�uro: A dific�ldade par� entender esse processo
está em que o raciocínio analógico de muito pouco nos ajuda
neste caso. É perfeitamente claro que a tutela política ame
ricana foi um resultado "natural" do último conflito mun
dial.,Qµe o maior sacrifício humano e econômico nesse con
flito haja cabidoà União Soviética e que a destruição do
poder militar e político da Alemanha e Japão haja beneficia
-âi5osEsfãdõs TJiiidos dentro do ca11112� �apitalis_ta_ são.- dados
di�fo��:6fi�.:. 9�.�....9.�Y.����----�-��!_t_�-�--- ���º-- _t_ajs._O__ gue i�t.éressa
assinai.ir é que, estabelecid<!__� pr.eeminência _ __ p_Ofíti_ca america.
;;�CTTâfá�-se condições para que se dessem profundas mo
CfffíCaçoes esfrllfiifãis·-··n:6----sístema·---capítal�S_ta:- ·NâO se pode
--
·ãffrffiãj·"·que··es·ifáS -füOOiJí"c:ações hajam sido desejadas e muito
menos planejadas pelos centros políticos ou econômicos dos
Estados Unidos. A verdade é que delas resultou um cresci
mento econômico muito mais intenso e uma elevação de
níveis de vida relativamente muito maior, na Europa ociden
tal e no Japão. Aparentemente os americanos superestimaram
a vantagem relativa que já haviam obtido no campo econô
mico, ou superestimaram as ameaças de subversão social e "'a
capacidade da União Soviética para ampliar a sua esfera de
influência. Em todo caso, eles organizaram um sistema de
34
segurança abrangente 0o cc,_i:-1junto do m.Y}}_çl9___c::_a,p_it�.li§.!fL�-P.9r
�l
�-ssa forma exerceram ---;;;=;a e_t�!�.Y�--.,- �_l;t_��J�_ _ J'.9.Ht_ _i_�-�----- ����e _ ()_S
'Estados nacionais-que f_2rma-;n esse___ mundo. 19.• ,,,.
É possível que a tutela política norte-americana haja
sido facilmente aceita pelo fato de que, no plano econômico,
ela não se ligou a um projeto definido em termos de interes
ses nort e-americanos: foi apresentada como um instrumento \
f
de defesa da "civilização ocidental", o que, para fins pfff :)
cos se confundia em grand�_J11_e.dida__com..a..defesa__d_Q__ �isJ_ema r
c_apitalista . Criou-se, as�\�: �m_ a s�peres trutura política � 1
.- _ . -- . \
1'
. . alto, com a m)s;AJii�:piiricipiiI:.âe
nível ..muito __d!;'._S_Qfi�trJ,11(.9
rerre;; -;li onde os r_esíduos cl9.?.."'�P�.igg_�_ ,_g_�_tª _ gg�__J]_gs_i_cm_<'!.iS
pe��-í�tj�-�---�m criar barr.�í_r_a_s__ entre os___ paí_ se_s�·- A reconstrução
estrutural se operou a partir da economia internacional. N9 1
plano int erno _os-·E-Stidõs nacionais ainpTíâfãiri·-·a,.-Sua atuaç�õ
Rai:�L-��2���r,_�fr::::��-).Ilf�a�_es_tr_ut_ _u��-��-. �-ode_r�_iza_� ª-�--- institu·{_
çõ{'.�, jnJ_eg_ �_i_fic,a_r _ a__ c�pi t_aÍiz,?_Ç�q,-__ a[J_ Jp_H_ªr_. ·ªJ_Q_fÇi__Çlç __ _üiQª_Ib(}_,
�t_é_:_ J\1do is.s.o�C.outríbuiu, evidentemente, para reforçar a p-o-
ytlção das SE?_12�-��- ---�!!?_presas de�tr?___ _ de Cã:dã·.. pa-fS."- -Mas···for--a
19 O sistema de segurança global, que abrange o mundo capitalista,
comporta, evidentemente, distintos graus de autonomia nacional. A
França é o exemplo conspícuo de país que defende o direito à auto
nomia de sua defesa, no quadro global do sistema. Essa autonomia
deve ser entendida como o propósito de não assumir os riscos que im
plica o contl'ole pelos Estados Unidos das decisões fundamentais.
Assim, teoricamente, os Estados Unidos poderiam "sacrificar" uma
parte da Europa ocidental numa confrontação parcial com a União So
viética, a fim de preservar a integridade de seu território. A autonomia
francesa significa que essa margem de manobra se reduz para os Esta
dos Unidos, passando o território da França a gozar de proteção simi
lar à que os americanos reservam para o seu próprio território, sem
que essa situação possa ser modificada por decisão unilateral dos Esta
dos Unidos. [J_m sistema al�e_e:z_at_ _iv_o foi_ _in__{c_ia_l�n_e_n_t_e__c_once_b_ido_ _po_r De
Ga_t,tl{_e_ at_ravés da criação de uir1___dí:{J)ôj_iiz_v_o�c0í1Júiito (Estados Unidos,
Gi_iBr'éiãnh7re·-prã)"i(ãt?êf'f8/fi_S4!/ef .P.dg_s____ de_cis_õ_e__s__ m_qjs impqrtqnte s.
Esse dispositivo iiãO atrà_i�- os ar,!_ericaii,os e não dispensava o d<!senvol
ví»rento de··um poder atomzco mâependente em cada um dos três paí
ses. _A irrelevância da autonO"inTii /ràncesa, como instrumento de polí
ti_c_a íntern_a,cfo_nal, j[cot1;_ pate_;;t_e--__no conflito do Oriente Médio de fins
de 1,27_!_. A últi_m_a _�D__eCTãYdçãõ __ Atlântica, de 19 de íunho _de 1974,
Conf_irlnou___a _upi_cidade ..d.os_ sis_temas de defesa da Europa ocidental e
dos Estados Unidos. Cf. Le Monde de 21 de junho de 1974, p. 5.
35
0
~"ação no plano internacional, promovida pela superestruturi
1
política, que abriu a porta às transformações de fundo, tra
zendo as grandes empresas plira uma posição de poder vis-à
vis dos Estados nacionais,
A reunificação do centro _çlº-·-si����LP-�L capüali,g_a consti
-�tui.1J?�Ssivelm�i:i1�.!i,__[D-?J�jmP-9.rriµt�---�2r��-qi;!,�nci_�-c-d_9_� se
gundo conflito mun<lh1l Esse centro, se apresenta > hoje em
dÍa, como um conjunto de cerca de :SOO milhões de pessoas.
O seu quadro político consiste num regime de tutela; sob
controle americano, dentro do qual os Estados nacionais go�
zam j ainda que em graus diversos, de considerável autono
mia. Nada parece impedir que a estrutura superior de poder
evolua numa ou noutra direção, seja para reforçar ainda
mais a posição norte�americana seja para admitir uma certa
participação de outros Estados nacionais- zo Também não se
excluí a hipótese de que um determinado Estado nacional
procure aumentar a sua autonomia. O problema principal
que se coloca neste último caso é de refações com as grandes
empresas. Em primeiro lugar, as grandes e.rnpresas do pró
prio país, as quais já não poderão operar com a mesma fle
xibilidade dentro dos olígopóHos ínternadonais e5 muito pro
vaveimente1 perderão terreno para as suas rivais ou passar.ão1
\ parcíalmente, para o controle de uma subsidiária localizada
"em outro pais.
O produto bruto do centro do sistema capitalista s•üpe-
36
ra de muito, atualmente, 1,5 trílhão de dólares. O acesso a
esse imenso mercado, caracterízado por considerável homo
geneidade nos padrões de consumo, constitui o privilégio
supremo das grandes empresas. 2' Dentro desse vasto merca
do a chamada « economia internacional" constitui o setor em
mais rápida expansão e aquele em que as grandes empresas
gozam do máximo de liberdade de ação. Toda tentativa de
compattimentaçãc desse espaço da parte de qualquer Estado
nacional, mesmo os Estados Unidos 1 encontrará resistência
decidida das grandes empresas. Por outro lado 1 toda tentati
va de compartimentação reduzirá o ritmo da acumulação e da
expansão econômica, no conjunto do sistema e mais parti
cularmente no subsistema que haja tomado a iniciativa de
isolar-se. A menos que pretenda modificar o estilo de vida de
sua população e, de alguma forma, perder em grande parte
as vantagens que significa integrar o centro do sistema capi�
talista; qualquer país, independentemente de seu tamanho,
terá que conviver com as grandes empresas, dirigidas de
dentro ou de fora de suas fronteiras; respeitando a autono
mia de que necessitam para integrar oHgopóHos ínrer•
nacionais.
No correr do úitimo quarto de século o produto bruto
do centro do sistema capitalista mais que triplicou e as rela
ções comerciais entre as economias nacionais que formam
37
esse conjunto cresceram com velocidade ainda maior. 22 Esse
crescimento se fez em grande parte no sentido de uma maior
homogeneização, declinando relativamente nos Estados Uni
dos e aumentando co;11 excepcional intensidade a renda per
capíta daqueles países em que esta e_ra relativamente baixa,
como o Japão e a Itália. Mas, se é verdade que o crescimen
to nos Estados Unidos foi relativamente lento, também o é
que foram as grandes empresas americanas as que mais se
expandiram no plano internacional. 23 Essa expansão, na maio
ria dos casos, não assumiu a forma de incremento das tran
sações comerciais dos Estados Unidos com os países em que
operam as subsidiárias de suas grandes empresas. As em
presas americanas eram as que melhor estavam preparadas
38
para explorar as novas possibilidades criadas pelas reformas
estruturais ocorridas no sistema capitalista nesse período,
seja em razão do maior poder financeiro de que gozavam,
seja à causa do avanço tecnológico que haviam ganho em
rcampos fundamentais. Mas, ao evoluir o centro do sistema
capitalista no sentido de uma maior homogeneização, as con�
'seqUêiiêlãS na ec6nomfa "norte-am_�ricana.. ·n_ão se fize�!lIIl ___(::S�-
pê��f� mai� rápido_ -�-r- �s_cí111ento da pr�_9_li_!_��i��-�� fo�� "dôS
-��os___�?i?�-pto\:_9ec:_ 9.Y.:e. Vína___d�sl_9i ca_çadido ã9 da__ balança _comer-
de importaçõe�
.. êíál ��se __ _l)ª��'. .. que __t nd _ll....� S_<';_r__ nv
p;;;�nielltes- (!g_L-9.P_i;;�-_._. Pa_ç_õt:s_ __jn cllJ S_ _ tri_a i_s. Sendo º dólar 1
uma moeda "reserva", o resultado foi o endividamento a /
curto prazo dos Estados Unidos numa escala que até então {
houvera parecido inconcebível. Essa situação provocou_ duas!
conseqüências importantes, de natureza diversa. 4-_·ptlmeira)
consistiu na formação de urna massa de liquidez que-facílita:
\..ria--ºiipi_do_ __dg:_$_�p_yql_ yJ_@_�PJQ_�l�ii_
_ t·(:���i_}fDinceiro inte!!l�-
de expansão das vendas de subsidiárias instaladas no exterior. Assim,
entre 1957 e 1965 as exportações americanas aumentaram apenas em
4,2 bilhões de dólares, ao passo que as vendas de subsidiárias de firmas
americanas no exterior aumentaram em 24 bilhões; os dados relativos
à Alemanha são 8,4 e 1,4 bilhões de dólares e os relativos ao Japão
5,2 e 0,6 bilhões. Parece claro que os custos substancialmente mais
baixos do Japão e da Alemanha (salários muito mais baixos e rápida
modernização do equipamento industrial no após-guerra) permitiram,
nesses dois países, que as firmas se expandissem internacionalmente
usando o caminho convencional da exportação; ademais, em face da
unificação do mercado do sistema capitalista, as firmas de países com
mercado local menor teriam maiores possibilidades de obter economias
de escala através da exportação. Nos Estados Unidos, onde o me;--cado
local pe;--mitiu às firmas manufatureiras maximizar as economias de
escala, a descentralização geográfica da produção, em base internacio
nal, se apresentou mais cedo como via de expansão privilegiada. Dados
mais recentes indicam que tanto as firmas alemãs como as japonesas
estão tendendo para o modelo de expansão internacional americano.
Contudo, em 1971 a produção internacional japonesa (subsidiárias em
todos os ramos) alcançou 9 bilhões de dólares, enquanto as exporta
ções desse país passavam de 24 bilhões; os dados relativos à Alemanha
foram 14,6 e 39,0 bilhões, e relativos aos Estados Unidos 172,0 e 43,5
bilhões. C/. Nações Unidas, cit., quadro 19, e S. Hymer e R. Rowthom.
"Multinational corporations and international oligopoly: the non-ame
rican challenge", in C. P. Kindleberger (diretor), The international
corporation (The MIT Press, 1970).
39
ícional,ampliando assillL.Q arau de liberdade de ação das
\ ·grãildeS empr�s_ as . .A(s�gunQ�i o tecOrihecimento de que o
11 �ístema morle_tá}j.Q_jfilITq�çlQ__nal____ª_tL.I�L��-�- --�~�s-��:9:- -�_() _ __Q.óJgr. e
/ _rião no ouro. O fato de que a emissão d_e _dólar - _ seja _P,ri_vi�égio
/ do governo dQ:LE.�ti:.tdos UnidoSCO.ô'$fi_í:ü'fpt()V,it1rrefü" _ t�_V�I��
I que esse país- exerce com excl�_ s_ ivi_ d-�.J�- � ·r-Utelà do_ ��nju�tÜ
[dQSist�trli'l.cap_ítalista. ·:r; po_ssf_\_'_�L_q1:1�_ _ .<:��ª- _t_ut�}�_,_ n?_-- fu_rurg, _
; ..�iPiú!lhi�Ia-__ç·Q.i!i?�tros·:_pa_í_ses,_ substit�},�� - o:��- __() __d61_ã_r _ _?�_ r
_
j uma_ mc:,e�a _de conta __ ·��uciollàdã_po_ r__ U!11 co_�f�_ntÜ cl _ i_ -_ -b_ancqS··-
1 cent_iãl�-- Poder emitir moeda de cu��o f?rç_a_d()___ in_t_ernaci_o.qal,
' �entementcda 1>róprra süuáção de bala11ç�-d�p;ga- ·
:'f!lentos, é êivi��gi.<?�-f�g_L _ Compreende-se, portanto, que os
affiericanos se empenham em não abandoná-lo. O regime de
paridades cambiais fixas, prolongado por tanto tempo, se fun-
!_ dava na hipótese otimista de que o diferencial de produtivi
dade, entre os Estados Unidos e as demais economias indus
trializadas, se manteria. Fora dessa hipót_ese, ele somente
seria operaciona l num mundo em que as relqções econômicas
internacionais crescessem lentamente ou sé a!)oiassem em ati
vidades em que as vantagens comparativas se fundassem em
fenômenos naturais., O abandono.da convertibilidade. do dó:.
,,_��E..,�g"!,, our,?_.:=:'"9a__H0id�=z.. .d.? s_ paridades ç_am,bi_ �_is entre as e_�i_ _n�
7_ _çle��s moe _ _das_ . si,g�If/.�-�--g ��---º- _g_Qlm;__ .:>�,,_ _ri;_ �_r,i_sJ_q_r_rn211-. -�- !TI.
- _ ç�_gt_ [.Q
/ de .. già:\üQi�êA - t:i.)f�t(:rp c:I�__ ()_ E!'D.?..��;._;.eJti.t�_'._ _
a f
'-----.... Fizemos referência ao fato de que as subsidiárias das
grandes empresas norte-americanas, que operam nos demais
países do centro capitalista, têm crescido com intensidade
maior que suas matrizes. 24 Aproveitando-se de condições fa
voráveis que oferecem esses países e outras ainda mais van
tajosas que encontram na periferia do sistema capitalista,
40
essas St.!bs�iá,ti,;J_s_..se . e..Yp.andem.xª_pj.2,�giente e te11;_9/�!�r-�_._5�}�-�
J�laçõe5, _ a5,�01_1?-��-r_1;�s___ cs.�'"-ª�1JJ�Jr§pole. Por outro lido, __ ?u-
rante o longo peiíodo -das paridad�s fixas, __ e'rJJ. presas de outros
7!âises"'1Il'Cfi:Eff�_ª!,������,,g�a- proaUtivíciãê!é ú�-�-SJ<3:___f.ªpiçh�m�D:-
te,· paruC@(DJPiúP ó'.Jap_ão e a Alemanha Fe_deral/ü)lpl_?_Qta-
- ·ram-se solidamente no mercado norte-americano. Criou-st\
aSsliI-�, �ma situação estrutural pela _qual as importações ten
-
_dem a creSCer mais fortementé-Q�e as export·ã·çoes;--Q�qü-e·
não pode deixar de ter -- �- §?-�.rru;;;§_Q_�-�-Jl�K'ªÜY.?.? _·no níveriff.:
-
terno de emR.ITg:9_:_ Enfrentar essa situação C01..;;·~;imp1;;-s--·n; e�
didas cambiais significa elevar periodicamente os preços das
importações indispensáveis e abrir a porta à degradação dos
termos de intercâmbio. Dessa forma"' o êxito considerável das
empresas norte-americanas no exterior tem a sua contrapar
tida de problemas para outros setores da economia dos Es-
tados Unidos. Com efeito, ...e.ste..-país___apres.enta lillLÇQ_�fi5iet1-
te de desempr�gQ.....1:r1:uíto._superio.r__ ao__.q.ue....._s.e....:ohs.er...v.a.....no5_
_&iniis_p_ai.$_e5:__d_o ceni:ro da economia cª-Ritfilbt<;'l_ 25 e toda ten-
rãtivaf)ãia"·redüzi":to ptoVOcà outras perturbações. Na medida
em que as tendências referidas se agravam e prolongam, vai
surgindo .uma__á1:':.�__-ª�Jriçç_ão entre as grandes empresas f:
outros se�� s9..ç_ieda.de.-11or.te.:amerk�. l1-ª-·--_--:f:tJ.lifícil es�-
-
.-.c1ܪL.s�o..b_t:�_l":L��..Y_pl�lJ,�Ç:ã_O;:de:VW--tü:OEêS.sP... ·tãQ" -�Qll!Pkx:o. _.com� --
-
-�' f!l_�s nã()�---Sé:_:f10.d�.(!�{���ir�_?:-_��Pé�.��:�A�:-:q���:.;1�- -têflh?�..
-
_iip.por.rrui�(!S:=cons.e___qliêríCfãS n·;-- �struturação Pol_í_tic_a do mun�
do-:-<:ilPitaliSta....Sé:.. o·:.:prece:s�?::cte:.:fr�cçãó---:se_--aifâVR.;.-ê"_ po::.s,íveT
Q.�,Llprj_a. uri:1� -�endência,,__;;L,Q.i{�_re_nd.:ix...rn2:_is_ claramente o sis
-
tema :Ie�..·;:·;t�1; polírica do· Illlli1do caj)i'r"aÍiSi:a-·âos--inú�"re"SSeS
inais específicos do Estado nacional norte-amerkano_. A pre
sente crise polí_tica _ polarizada no cas���f� -�ela
�
qual o poder leg1slat1vo procura recupera'c-parte das atnbm_
ções constitucionais que lhe foram subtraídas pelo poder exe�
cutívo no correr dos últimos anos, pode constituir o prelúdio
de i rpportantes reajustamentos no plano político-ínstitucio-
25 A taxa de desemprego nos Estados Unidos tem flutuado, nos últimos
vinte anos, entre 3 e 6 por cento e nos países da Europa ocidental
entre menos de 0,5 e 3 por cento, excluída a Grã-Bretanha.
41
nal. 26 O reforçamento do poder legislativo implicará, muito
--prOVavelmente, uma maior mobilização dos interesses que
conflitam com as grandes empresas, ao mesmo tempo que po
derá reduzir a capacidade do governo dos Estados Unidos
para exercer a tutela internacional. Nesta hipótese, é perfei
tamente possível gue o sistema de tutela se reestruture em
bases mais "internacionais". 27
42
r
i lugar, ampliou-se consideravelmente o fosso que t�---�-�J2_�rava
,l o_ centro da periferia do sist:m�,___o_ _que_ em, __g_�_?1:1.sl�__ p_arte é
si;;Pres-cons�q�ên_��a __da ml:it1Sificaçã_ o do -crescimento no
centro. 2g-E��.rer_��irÓ lugar,. as r.elaç�s comerç:jgi_$� �!11I�--P_§_��-
- _es__�ê I1-
sesc'ê�t_ricos e periférícos, mais _aín4_?___ç!Q_:qµg_,e:p_t__r:�--PªÍ� .
_
1�,T:�2:?�:- __-t!���1Sf am se en
r!J?.?t - .P.r.�gr._ii�fram t e em __ ?P�t�_ Ç{S;s ln-
· · ·
\ _ternas da·s grande·s·· empre·sas. 30
r·�NãõhaVendo conhedd�- ;· fase de formação de um_ siste-
fi ma econômico nacional dotado de_ rel�_trva áUtonomi�--=- fase
1que permitiu integrar _as estrUtufa-s internas e homogeneizai
]�_ tecnologia -, as�-���Onomias pe�J.l�n_ças_s.011b�_c:erri· um· Pto�
,···1 cesso de agravaç%_o_das__disparidades--internas __à__medida .. q_ ue se
_!Industrializam guiadas pela substítuição de importacões. Já
�-fizemos referência a esse fato,. cons�Üê;�ia i'.rieIUiáVd --�_?�
tentativa de reprodução em um país pobre as ormas de
-
vida de países q�_e J_ � -�k�a_n�a_r_am-- -�-�TYê_í_(íijti_i�õ- 'IT1-ãTS:··ãrt;�:-d�
·;:curnuiãçãõ-·d•e.,capitáL Orâ; esse· tipO -de indu;_g_��liza_ _ç§,9_,___gue
�-�r!9.ª9.Lª-l}!_�E.!?res tropeça _v�-- �-()T�-:t .SJ.��-t- ���_l9_�---c;9_�s_ _id _�_iá
-
�níad.os pela falta de capitaís, pela- dificuldade de acesso
à,_ tecn9_log_ia, _ pela __pe_qu_ene_z_ _?.?. m_�r_c_��-º interno_,_ r�a_líza-_se
at�-;};;�;;te --C◊rfi.J_X_tf"J() _ _fcfí�_ifi�----�apide�:__ irª_ças__à_ c�_Qp�rai_�o
dos olig9pólios interfü1_ciona_is. l]_�iliz_amlo J-�C- IJ_Q.i_p_gia amorti
:?.�tl�_,,-�?J.g_�!!l-�1:5_yeze_ � _e4ii�-�-�en ws··tã"�ri�--J.á _ :�:�ort}�.fü�g_s/. e
--
, �0bj_l_izando ..capi.ial local, --as g_r,arides_ �I1)Pr_ es_�-;- estão em co_D-
d}ç_õe_ s _ _de insr_al�r ___in?ústrias na ��lüt pà-�!�___QQ_��-·p_@_ts�s____çlg __pe-
Qf_ú_fa,·par·1:1cu1ª1.!21-�!f��:
_ -�����e.S:?0.§_!P.S.��-�- i�- -� -��. _í_µ_v��graíl:., _:p�r�
si.�J.!!!.�_1.?:_t,�----�-om atividades -�� importação. -
43
--�<;L_91te a índus��-����açã<?,_...,9�-�~_atu_almente se
: reali��E.?__.Q�_rif<:Ef!l ___sçb_q __con_t_roí� __d_�s _ grand�-�--·empf�S:is �
• E!�J,�lL'!-lla!h1!tíYJ1m"'nuuilstinto..-da.industrialização que,
; _em etapa anterior, conhecera:f!L21L.P?J�§ __Ç�flt_rI�()_� -��L �!1.4?.
mais, da que nestes prossegue nq pre_s�n,re. O dinamismo
. econômico no ·centro do ilité"ffi-;d���-r� do fluxo de novos
produtos e da elevação do3 salários reais que permite a ex
: pansão do consumo de massa. 31 .fm contraste, '-: capitaJismt:
: eeriférico engend_ra º--�i_m�tisrno c�ft�·_ranE·req��tí?�.rffi�'rie-n�·
:_
' �S.2!1C�ntraÇâ◊--d;í__I'efl_�-Jün ..d<! qu� as'"_ mi_norias_ possam.
rt;_P!'��l.tr�� Jqr_n1_a�-- çle__�?B�lJ-�Q ÇoE; __p�íses cê11tricos. Esse
. POilto é fundaillenrai Para o conhecimento da estrutúra global
do sistema capitalista. _.Enquanto_ n_o __ c_api_talismo _cêntric() a_
'. _acwn.�f1ital avanç.2.�, no correr do -�1-�Í fl:O s-é9::!õ; .
,_çom inegável 2estabilidade na repartiç_ão d� re!}.Qa,_Juncio_nal
-�a(3' ;.:,r,_,t)o capitiiTiSffio · p-erfféric◊·- a industriali;_ç'-ao
-�-·
---~-""""""°"' _,,_ • •·~•~'- ••�"'""'"''"•• •"' •-•-•-••• ••-'
,'vem provocando crescente. concentração,
----- ..
-;, ---�-�"-·-· ,.
45
Que se pode dizer sobre as tendências evolutivas das re
lações entre o centro e a perfferia a partir do quadro estrutu
ral que vimos de esboçar? .!:izemos referência ao fato 5L�_gy_�_
uma das características desse quadro e a crescente internaliza
_ção ientro _das_ grandes e_fiiP1"ê"sa_s_{m� _ ffãD�aÇC,é�corÍ1 t;_�ciàis
entre _pãises.�_-Tiairibérri.,_õb�erv_amO� qU_e __gi�nde· Dáriê ..das ati
-
vi(lacleSlildUSi;I;iS. �;··· periferr;~ ·su·rgiâ iiiteifad; com fluxos
N
com uma renda média de- 1 600 dólares, o que é suficiente para permi
ifr a i<Jstalação de um moderno sistema industrial; um país com 10
milhões de habitantes, mesmo que tr:nha. uma renda per capita 50 por
cento mais elev,;da (situação aproximada do Chile em 1970), ainda que
adote uma polüíca igualmente drástica de concentração da renda, não
disporá de mais de 1,5 milhão de pessoas com renda média de 1600
dôfrtres, o que seria insuficiente para fundar um sistema industrial
capaz de operar a um nível adequado de eficiência.
-46
• • ·--M-•*mffl'l.
_
47
remunerar o capital. Por esta forma a empresa consegue pra
ticamente isolar-se do sistema cambial do país da subsidiá
ria. Como a empresa está interessada em expandir-se, ela terá
que praticar uma política de preços, tanto no mercado in
terno como no externo, capaz de fomentar a venda do pro
duto. Contudo, em cada plano de produção ela terá qi,e dis
tribuir sua capacidade produtiva entre os dois mercados, ten
do em conta que, a partir de certo nível, a receita em moeda
local deve sofrer o deságio da transferência cambial. Supo
nhamos que a empresa limite as suas vendas no mercado
interno ao necessário para cobrir os gastos em moeda local
e que compense as importações de insumos com vendas de
peças diretas à matriz. Neste caso 1 o lucro bruto corresponde
às vendas no mercado internacional. Comparando esse lucro
com o capital invertido na subsidiária, a empresa obtém a
taxa de rentabílídade sem passar pelo sistema monetário do
país da subsidiária. Se a mesma empresa realiza operações
dessa natureza com várias subsidiárias é natural que indague
que fatores respondem pelas diferenças de rentabilidade
entre estas últimas. Admitindo-se que a tecnologia seja apro
ximadamente a mesma, os principais fatores causantes das
diferenças de rentabilidade serão: a escala de produção, as
economias externas locais, o custo dos insumos que não po
dem ser importados e dos impostos locais, em termos de pro
duto final. Os três primeiros fatores estão estreitamente liga
dos à dimensão do mercado interno. Desta forma, se admiti
mos que o nível dos impostos é o mesmo, a rentabilidade re
lativa passa a depender da dimensão relativa do mercado in
terno e do custo da mão-de-obra em termos de produção
final. Ora, o efeito positivo da dimensão do mercado local
tende a um ponto de saturação, o qual varia de indústria para
indústria. Na medida_e.m.._.que,._p<.LtJL.�rminada indústria,
esse ponto ds:..::;/;.r.uração_é_al.çgnçado ,__ o fatõr-Iundamental
passa a ser o custo da m..§,2:-.de_ -obra em termos-- de - Piõâuto
·-
final vendido no merc�do internacional.
Se observamos o quadro que vimos de esboçar de outro
ângulo, vemos que a grande empresa, ao o..rg�� sís� _ -
48
!.
49
,�tos locais, e dos problemas sociais que se__�Q��-�-���-�-�--9-1:1.3::f.l�.,
do a massa_i.e.JLabalhad.o.r.es._spç_ü!lm.<::n te __ �esi_n �_ egradq-- �_ s_ _ tes_c�
. àJém ·de ��rtos H.mites+-U�s._ p_e.ta.t-.qQ� a 'U-tílíZaÇã� d_a mão
_de32brn_dix�rnm.�nte na periferia tend?. --ª- -��� --ª-- solução pre.f.e�
rida pelas grandes empresª�·-- Por outro - - lado, - essa solução
tende a reforçar a posição dessas empresas vis-à-vis dos Esta-
dos nacionais. Em síntese: ��§___ �onfigurau_do_uma....situaç_?D _
que ermita à grande empresa utili��:r-:.. .t�_çnkf_ L,__ <:;__ capitais do
c eptro_ e__ _mao.�- e::9_ r_é,Í_··7_e_·_c ~ �"iit-;Tf_�-��f;· periferia, a·urrientalld_O.
co�!d;sg��mente-__9___ ?·�_µ_:_-p9d e_ _r_,Çg__ __rp_ar1 obra, <:)___ que reforça a
tendên��a já _ �I_1 _ o- rfl_ 1�_ _p__t_�_ referi1�---�-- _"__ iJ?_�{::_r11acionalização"
_ _teri_
d;;atrVidãd"eS eC◊nÔ�icas d�ntro do ·siStem� C_ apitalista.
- -
----- IHSS"er:rii:úffifüé'fiOr'ineTI"t"e-·gue São as atividades econômi
cas internacionais as que mais rapidamente cresceram, no úl
timo quarto de século, no centro do sistema capitalista. Ora,
as relações, que se estão estabelecendo entre o centro e a pe�
riferia no quadro das grandes empresas, estão dando origem
a um novo tipo de atividade internacional que pode vir a
constituir o segmento em mais rápida expansão do conjunto
do sistema. Cabe indagar se é adequado continuar a chamar
essas atividades de "internacionais". Quando o economista
pensa em termos de comércio internacional, tem em vista
transações entre unidades econômicas integradas em distintas
economias nacionais. O problema é menos de imobilidade de
fatores, como deixam entender as formulações dos primeiros
economistas que teorizaram sobre essa matéria, do que de
existência de sistemas relativamente autônomos de custos e
preços. Em outras palavras: _a_p.at.ti.LdQ.. momer,tt_o__que__ s_e__p _Ofo-
tula�1istêncía de_ UI?} _ __ _�_i$t�m?. ___e�o�_ÔIJ:l_!c_()__ll_acio�al,_ ___(:{�ntro
do___ gJ.rnl9.�.J�_�çy_ _r�_Q_s:�NQ.dutiv_os_ po_ s_sU_ef!J _ _ ún-i" "custo de opor-
tm:üd�d_e,,, dado pelo melhor uso que deles se pode fazer, a
opçªo__ _ en·t;�_ _--p�od��-ii" parã· o mercado interno o bem A, ou
p_rq_clu_z_ir_ll_ l11.� outro bem__ P.?�ª. o___ mercado.. externo e importar o
bem A, de;e· ter uma solução ótima. É evidente que, se se
trata de rríúltip1as opções·;··estendendo-se em períodos de tem
po diversos, com repercussões retroativas umas sobre as ou
tras, o problema nunca poderá ser adequadamente equacio-
50
nado e muito menos sua solução obtida. Mas isso é diferente
de dizer que a teoria está "errada".
Ora, a partir do _mom�JJ..t,9 em. q_ue.. a.. c:a,tegoria --�'-�i?t�_ma
e_ co�o nacional__"... nã() __ pg9e ser tid� em conta, o teorema
nãopoderá ser fo�m�i�do. Voltemos ao e::::Cmplo da fábrica
� de ri:lágúi.riàs"''âê·-costura que se instala num país da periferia
e remunera o seu capital com parte da própria produção que
exporta. Neste caso não existe uma contrapartida de importa
ções, mas isso não invalida a teoria das vantagens comparati
vas. As importações, no caso, estão substituídas pelo fluxo
de capital e tecnologia que marca a presença no país da gran
de empresa dirigida do exterior. Tudo se passa como se o
país períférico, que dispõe de um stock de mão-de-obra, ti
vesse de optar entre: a) usar parte dessa mão-de-obra para
produzir o bem x destinado ao mercado externo, e poder
assim pagar as máquinas de costura importadas, ou, b) com
parte dessa mão-de-obra remunerar capital e técnica do exte
rior, que se instalam no país e, em combinação com outro
contingente de mão-de-obra, produzir aquelas mesmas má
quinas de costura para o mercado interno. Esse raciocínio
Çse �ia_c_orreto_ _s e_ _ __ ~o.. m.at, çQ___ çl_�.}�_ferên�í� .. ��p_q:9____çlo qual as_.A; ..
i cisões são tom _ ,19.a_s. �sti_ .v.es_s_� �0ilSúi:�-ídq_pe�()...'S_i�t�i:n?...ec_?n _?-
: illlCónaciQ_Q..if -E�·outras p;lavras: caso a c;ngr�ênda dás
decisões fosse estabelecida internamente, figurando o preço
dos recursos externos como simples parâmetro do problema.
Ora, a realidade parece ser totalmente distinta: decisões
..s.ã o tomadas pela grande empresa, para a qual o custo a
... mão_:.de.:.oPra de um país periférico, em termos de um artigo·
9_1:1e ela_ _produz nesse paíS e comer_ - ciaHZa
--� no ---- �x.t�riqr,__é _uill
-_�imples_d.i\�Q,
A grande empresa que exporta capital e técnica dos Es
tados Unidos para o México e instala neste país uma fábrica
cuja produção se destina ao mercado americano - havendo
nos Estados Unidos considerável desemprego (o custo social
da mão-de-obra é zero) - toma decisões a partir de um
marco que supera a economia norte-americana considerada
em sentido estrito. A grande empresa que desvia recursos fi-
51
nanceiros de um país periférico, porque os salários neste co
meçam a subir 1 para invertê-los em outro em que a mão-de
obra é mais barata, também está tomando decisões a partir
de um marco mais amplo. O problema não se limita ,. entre
tanto, ao âmbito estreitO das opçõe-s no uso de recursos es
cassos concebidos abstratamente. A verdade é que a grande
empresa: tem como diretrlz máximâ:-e>rpandh'='s'E:-�-pãncrssu
ela t'ende a ocupar posições nas distintas áreas do sistema
capitalist.:L :N Os países do centro do sistema constituem, de
muito, as áreas mais importantes, razão pela qual o esforço
tecnológico está principalmente orientado para atuar nesses
países. Os planos de produção nos pa1ses periféricos estão
condicionados por essa oríenração tecno16gica e os mercados
internos desses países são moldados à conveniêr:da da ação
global da empresa,
Seria equivocado deduzir das observações acima que as
,,_grandes empresas atuam fora de qualquer marco de referên
cia, o que implicaria negar J senão racionaiidade, pelo menos
eficiência ao comportamento delas. lv:Ias parece fora de dtív'.t.
da que esse comportamento� muito freqüentemente, tra:ns-
f cende de qualquer marco correspondente a um Sístema eco
nômico nacional. Mais ainda: nos países perifé_rkos, a cres- �
cente ação dessas empresas tende a criar estrutura_s econômi
cas com resneíto ãS�,�rmet;-t _��- podeRens;.;:·
:_ a ..partir
do conceito de sistema económ[ê� n?.çiQD�L___Q marco d�
52
t
i}' grande§� emp.t��JL�!!_4e a ser�S:--ª..��ve?___tJ:t::;is-n,..çQJ)j_µnULdp
r __
& ,.�í�tepa capitalista, marco es�,�---qg� englobrt�.-�ajy_�so --�çg_-
gôn;ico de grande hetero�neidade, cuj3:___�:?ior _.9_�-�S?f:ri_n,.yj� -�
r: _dade deriva do_fosso_ exist_ente erltre.o..c_entro e _ a _ �rife:ria:
--Nesse mundo de-gr;�Je compÍeridad�, chci;--Je tronteírâs -
nacionais ? com grande variedade de sistemas monetários e
fiscais, onde pululam querelas políticas locaís que ocasional�
mente se prolongam em guerras - tudo isso sob uma tutela
frouxa e pouco ínstitucionalizada -, as grandes empresas
não podem pretender mais do que alcançar simações subóti�
mas. Não obstante os ímensos recursos que dedicam à obten
ção de informações e os sofisticados meios que utilizam para
elaborar essas ínformações, construir complexos modelos > sí
mular cenários J etc., na prática devem contentar-se com re
grt1s simples; o excepcional êxito de algumas é atribuído
pelos cronistas da profissão à intuíção de "homens extraordi
nários"', repetindo"se assJm uma velha legenda da história
política.
A idéia, esposada por alguns estudiosos da evolução
· atual do capita.Hsmo, segundo a qual as economias cêx1tricas
tendem a urna integração crescente ao nível nacional, median
te a planificação ináict!tiva ou à cartelízação e interpenetração
dos grandes grupos com os órgãos do Estado, tem um ele
mento de verdade mas deixa de lado o essencial da evolução
do capítalismo no último quarto de século. 3s :É fora de dú-
nida ue, .nos últimos três decênios, as econ.qrniàs ça.pitaliaas
n us na 1za as vem o e o de.s.oordenação
- interna muito su erior ao que antes se considerava compatí
vel com uma economia e merca ...o._ ....ssa"coor_enaçm�d_e
�ção kevnesiana, constitui essencia]ment�_-!d.ITHLQJ..n.q:u.fa:
ta de tipo sociat_graças a ela, os custos humanos e sociais de
ó�O�ê.cmrunias_c.apJ!ftl1s�tas foram considerâ\�i:nentÇ__
i-eduzidos. Tarnb�!?:1, é proyª-Yer�-=�t6IT6ôtderiãçã?.
llafa repercutido de forma positiva nas taxas de crescimento
�referentes a prazos tned1os e longos. Mâs isso é apenas U!na
��V::<daexisre,enffefa�ô;..d.e gll_e -��-ç�9 _
.i:ias_ta;,.:::as de crescimento está1igada às economias de escab. 1
~• ••,.-w••~•--•~• -'--•· • - • •·•• ·-•••�•"
'""""-
.53
a_.o J_nt�_1:so _i_ry_�r-��°-:?io tecnológico e _ao 1:11:ovimento de caJ?i
tais que acompànharam o proCesso de integração das ecO!lo
IDias•--cêbtfiêãi;'," Sem o esfo-rço--simultâneo ·de· maiot·coordena-
ção if:itéth_ft, �_()_ __úí�-e�_ -nac_i()��l_) __a expansão-"intéinj�i()riarSõl3__ a
-�gi_��- -�-�s __ gr_ a_r1de� �I11_ pr_esa_s_ t_�r�a,___ip_��!,o, __pJ:9_y_�ye_lment�, pro_�
v_o�ad()__j}�i�i.�:f��()Qê:ã}S-;__:_fPãjqr __ cg_qç�_nt_ r_a_ç_ão._ __ geog1Jfj_<:_?__-J?-.
a__fiYi�-ª�-��?E!_Ô_.m}�-� --<:1-_J�Q§ftyelmen te, __i_��_ç§_�s __ !1{)_ pl:;it1,? Po
lít_�<_:g __qllc _ quiçá
_ -
- Viessem a retardar o processo de integração
cêntrica. E sabido";· 1:ioY··ex:"i�mplo;··qüê o·lcifré'"díriáfuísirió do
setor externo dá origem a tensões internas 36 que seriam parti
cularmente graves se essas economias não houvessem desen
volvido técnicas tão sofísticadas de coordenação ao nível in
terno. Dessa forma, também se pode afirmar que esse avanço
da coordenação, ao nível interno, acelerou a integração no
nível internacional. Em sínte�;_a....ação--d.GS--Estado_s....n2-_çlo.-.
; I}_�o_centro__do ..sistema'"".ampliou.�se...e _lJl clet_e� _r,nip_ad_�-� -d.ire-
1ções para assegurar .. a_. _e__ s_tabilidade_ _.int.erna_, ___ sem___a __ qual - _ __ as
_
J frícçoes no in er
plano t f1.��i9P:§.L.�� fj_?m inevü§y�j_�_ _JP...?�_por
/ outro lado, modrfico_u_:.�� ...qvalitatívamente, - __a_ fí_111___ çle __a_çlgpJar
, .�e à �ação d_as__ gra119�-�- �-�:1.I? �-�-�-��---<:.?.!!.L.1��E�1ª�---<;-�__ g_ngS)p Ó-
líos, quêteffi--ã"IrilCíativa --no _plano tecnológico e são o veida- .. ..
eirêiefeiiierifo motor rio.plano internacíoriaT.
ct.
-·--------· --------------relações
As complexas '•----------------- que existem entre os governos
dos países cêntricos, isoladamente ou em subgrupos (os "dez
mais ricos", a Comunidade Econômica Européia, etc.), entre
esses governos e as grandes empresas ( estas em casos parti
culares atuando coordenadamente), entre eles e as institui
ções internacionais (estas quase sempre sob o controle do go
verno americano), finalmente entre eles e o próprio governo
americano, cuja posição hegernônica em pontos particulares
é muitas vezes contestada; essa r ede de relações dificilmente
pode ser percebida com clareza. Não somente porque faltam
estudos monográficos sobre muitos de seus aspectos funda
mentais; mas príncipalmente porque ela está em processo de
estruturação. A experiência tem demonstrado que a margem
de manobra de que gozam os Estados, para atuar no plano
econômico ) é relativamente estreita. Se uma economia sofre
54
uma deslocação ) as pressões externas para que o respectivo
governo adote certas medidas podem ser consideráveis. Essas
pressões são exercidas por outros governos ) por instituições
internacionais e diretamente pelas grandes empresas. Cabe
referir que estas últimas dispõem de uma massa de recursos
líquidos bem superior ao conjunto das reservas dos bancos
centrais. 37 A situação do governo dos Estados Unidos é cer
tamente-especial, encre munas razões el_ oJato _de que_ erni_te
a moe a que C()nstitui a base (lo sistelTla monetário lmerna
c10naC-CõDtUéfo·-a"e�periência def972 pôs em evidêliCia --que
-'"o governo desse·--pals não se'" pode lanÇãr·-·numa--- pOHúê"â ···ae
r
--�i5len< ·em1:ffegc5�•-•âescuranâo:se<1ãS--·repercuss6es--··tia "hãiançã
ae-·- piigameiít"O-s·.···se· o eridivldai:rie"rifo exter·no a curto pfaZO
: d_ e_ __ç�rta cota c�ítiq) _ ª? _gran_de_s _ em_·p_téSáS··p-6dem --exéi�
.2-ª�-s,_ t
c_(:T - u1WLpressão_ ?Obre o __ d(J_l�_r,_ ca_p_�z__ 4e _()?_rlgar _o go_verno
am�.r.i�ano a t�I-'"ÇJ.U_e_::;;;i_C_õlh,ê:r:·J_ ii't�-é'" aeSVâiõriZ;r ·a "mo�da ou
n=;�da"r o rumo da política inter��-�--- ·- --- ·-------- ·
- · ·-
. Q u�Íq� ;;· �;p·���-iá-Çãü···soste a evolução, nos próximos
anos, da rede de relações que forma a nova superestrutura
do sistema capitalista em processo de unificação tem valor
estritamente exploratório. J)uas.Jiu.b.a.s___ gerais._par.ecem....defi-
nír-se:_por _u m lado o proce_sso de integração tende a reforçar
áS _ gr_ar1_des em_pre_sa_ s )___ por outro a necessidade __ de __ ?S_?_�gu_�_�r
estabilidade, a nível interno de cada subsistéma ·nãdôna1; re-
quer_ __cr_escente ehoêllci"a···e·--sof.i,�ü_ç-ªç_ãQ·�n-a:_·___·aÇa"o--_·aos:_--_ESt_ados.
A sltl{;Ção corrente hoje em dia é de aliança entre grandes
empresas com os governos respectivos para obter vantagens
internas e externas. Mas também se observa a ação conjunta
de empresas originárias de países distintos visando a fazer
presSão sobre os governos, inclusive o próprio. A experiên
cia tem demonstrado que o controle do capital de uma gran
de empresa por um governo não afeta necessariamente de
forma substancial seu comportamento nessa matéria. As em-
55
presas, por maiores que seíam, são organizações relativamen
te simples no que respeita aos seus objetivos, Sendo alrnmen�
te burocratizadas, elas possuem grande coerência interna, o
que facilita e requer a clareza de objetivos. O Estado, numa
sociedade de classes e onde grupos concorrentes competem e
quase sémpxe se dividem de alguma forma o poder, constitui
uma instituição muito mais complexa, de objetivos menos
definidos e cambiantes ) portanto menos linear em sua evo
lução, Não há dúvídB. de que as grandes empresas enfeixam ,
um considerável poder no plano social, pois controlam as
formas de invenção mais poderosas, que são aquelas funda
das na técnica e no controle do aparelhe de_ produção. J\,1as
quando a sociedade, ou segmentos desrn, reage à asfíxia cria
da pelo uso desse poder, as ondas que se levantam reper
cutem nas estruturas do Estado, de onde ocasionalmente
pattem iniciativas corretivas. Pode-se admitir a hipótese de
que a própria expansão internacional das grandes empresas
favoreça a liberação do Estado da tutela que elas hoje exer
cem nos seus respectivos pafses. Em outras palavras: na ru_e
di(i(t__ e_rµ_ que__ §_e_ apói_e _internad()_nalm�nt� pa_ra ampliãtêhreu
poder; a_ grande· eá:i_:presa possivel_mente · efü:O _
f1ltã:tâ · _ITfá_is _ di
fiéU[dâ·cte"_D-ãra ·a�Urii.íf..Q ma_ndO'. éõbi:fr-ie--coni o m·ãiitõ _ âo
"iÕle:resSe�·n��:i���i_,,_- de�t_ro "dô-'próp_�io _P�fs, Hav,eria _uma
p�:_�ií�({ã!)í�çâà dOS "ES,tados, ll?ªS "\1mà _repres·entativiaa<1e
rri_ai.s �-f�tiya dos distintos__aspectos da -soc_iedade civil caP,;açi
tal'Ía o poder po1fríco · para exercer o· papel diretor da vida
socJ.it_ q!:1.f}�..fa_�...c.ªçl·a vez_m_ais necessário, Se .1 evolução Se
realiza nessa direção, é de admitir que surjam tensões entre
Estados nacionais e grandes empresas, ou grupos de grandes
empresas� tensões essas que passarão a ser irnportantt fator
n.as transformações do sistema em seu conjunto: elas pôderão
agravar-se e .abrir brechas capazes de acarretar mutações qua
litativas rcol"ientadoras de todo o processo evolutivo; mas
também poderão provocar reações no plano da superestru
tura tutelar) levando a uma malor institudonaiização desta e
à constituição de órgãos dotados de poder coercitivo, cujo
objetivo seria preservar a integridade do sistema,
O que se disse r:.o parágrafo anterior são simples conjec
turas sugeridas pela observação de certas tendêndas da evo
lução estrutural do sistema capitalista. Não pretendem signifiw
56
.car -�llle_ as_ J� ta_�___d_!:_:�Jª�S.��-- -�t:.Y.��L�_ t_�!:1�-�-g-ª_0. -�--�-�J�_q__ !_��.99s___q!-,le
i�_s_�-------��F.�4qL ...i�rniP..rn�ú��ifl}\ÍJ�4-�,-------�-ª-�------�tr:91.... �JirrL __qm
. Estado responsável pela estabilidade de uma sociedade de
Classes, será o simples administ��;to.E --ª�----VFP..t?9t�§er?§!{� _ _gUe··
,permearia toda a_ yi�a �oci_a_l_._ --� _pos_?_íve_l__ guc; 9:s _clgs_��s .. trã-
. balhadoras venhilfl.) · á"i:C:'r-Uffi. Peso crescente na orientação de
um Es�_'.?:do--·que___de_ve, _entçlld_e_r-�se C'O_m o __ sistema.. de __grgndes.r
empresas _a partir _d_�_-_p_osições __<.le - Jg_rça. Nesta hipótese, seria
de admiút·-�� e��l�Ç�o-· �f�; �Jas�es rrabalhaàoras se faça
no sentido de crescente identificação com as sociedades na
cionais a que pertencem, ou melhor, com um projeto de
desenvolvímemo socíal que pode ser monitorado a partir do
Estado de cujos centros de decisão partídpam, 3s Não signi
fica isso necessariamente que tendam para um nacionalismo,
e sim que suas preocupações tenderiam a focalizar-se no pla
no da ação política. sobre o qual terão crescente infl-;Jênda,
Paralelamente,, o peso cr�scente _dos_ gntp()S_ d_i:rigen._tes das
grandes empré�a,,_Classe-caPltáüii�i::Pão···poderá ·d�-��-r-_-de
_inf��!:-�-� �-�·������o,_q,1,,te ...esça rem _dQ_. m,gr:ido, no s��ti'dõ'do
d1pass_e,nz,e:�L- dQ.�çfrp n�_c;,J_onaL __O ser,1t_i_r-se membr_o_-dé -
uffiâ" -" clásse internacional" ue~to·e· tcã!ictêrfStTêà- dõS ·qúa
dros superiores da burocracía das grandes empresas 1 ten êría
-�--Ser uma ·a � �!gª--� _generaTí�ã9,?.
- - __d,_�5-____ �_P2?9-it.� ·--�-�P-�ff◊!-és da
classe capiraiista. A distância entre a atitude ídeológÍca des
sf!S camadas e a classe dos pequenos capitaiisrns ainda não
presos na rede de subcontratistas das grandes empresas ten�
deria -a ampliar-se. A pequena empresa local, antes apresenta-
57
da como anacronismo de alto custo sodal, passa a ser defen
dida como parte de uma paisagem cultural ameaçada. Er-.rre
o poujadisrao e a defesa da qualidade da vida existe uma
importante evolução com repercussão na refação de forças
entre as classes sociais.
O papei da superestruti.lrn tutelar do sistema capitalisu
não se Emita a promover a ideologia da integração e a, oca
sionalmente, arbitrar em conflitos regionaís. Essa superestru
"'
�-1::!Fª tenLumahlstória, �::1.�--���� ess_en_cialment·�-(i'g�tfa·--y_Jéf{: '"
m_itação das fronteiras do siste�_;1· JYódi�se adl11lilf, ncilano
da conjectura, que as econO"riúãs c.aPitJü'stas cém:ricas ;empre
t·enderiam, em_ u_rna.. fose _de_s_u_a.1i�si:Qrí?<,_ a u_TT_1-p_iócess6 de
"inI�gy�_ç·a()·:-Ma·s· �ão há dúvida de que a rapidez com que
-- ·1Ifff!l_Ç_�-Ciúaf't"õ�çle·:,.iéCüI�i e a
forma que �SSU!j)�u _ est_ão diret_an:ii::_ri_t_e Hg<t_{i_os _ à exis-
tê11C1â"dê-""úITl -giu·po de-·p�í��;- -�ã����Pi_q1J�$JAS_}___co�siderados
coiuo ·:ameaçrx· extetTüi · e·· lrite-rna para o sistema capirnlista
pelos gr�P()_s_ (1irigCiiteS_âé"ste·.·A rápida- e··eritusíáSticà""aceíra¼
ção- pelôS ··gr'Jl)OS. ciPli:ãHSras dirigentes, na Alemanha e no
Japão, da liderança none-amerícana não seria fácil de expli
car sem o clima psicológico criado pela "guerra fria", A mo
bilização pskoiógica foi essencial para deHmitar a fronteíra,
mas a ,consolidação desta requereu negociar com o adversário
um conjunto de regras de comportamento. Cabe à superes
trutura tutelar a função de velar pela im<.:gridade das fronw
teirns e de entender-se com o adversário em qualquer mo
mento em que problemas de solução pendente ou novos
ameaçam escapar ao controle mútuo. Na medida em que se
acordou um sistema básico de comunicação e gue os interes�
ses fundamentais dos dois lados foram mutuamente reconhe�
ddos, criaram-se possíbilidades para relações económicas mu
tuamente vantajosas. Que ess::ts possibilidades hajam sido
exploradas rapidamente pelas grandes empresas constitui
clara indicação da extraordínária capacidade dessas organiza
ções para atuar no plano internacional. b esse um fato de
considerável importância 1 pois vem revelar a capacidade que
têm as grandes empresas de adaptar�se a distintas formas de
58
organização social Trata-se de simples indicação de virtuali
dade, pois o comportamento das grandes empresas é tudo
menos ideologicamente neutro. A ação recente da ITT no ;;
ChíJ.;;._esr.á aí �ara dernonstrar que muitas delas �ií.;-;:.eiütãffi�
ém uma confrontação em que o elemento ideológico está
presente, a praticar atos de verdadeiro banditismo interna�
cionáL Conn.:ido ., outras experiências, como a da Guiné i re
velam que elas também se estão preparando para defender
os seus lmeresses sem dar demasiada atenção a ouerelas
ideológicas locaís. Parece cerro que uma mutação social num
país importante do centro do sísi:ema capitalista, implicando
em retirar .às grandes empresas o controle da tecnologia e
da orientação das formas de consumo t não poderia ocorrer
sem provocar grande re.ação. N1as tudo leva a crer que as
i
.. grandes emprcsáS; em fac� de_· uma ""S tu"ação de difíd] r�er�
� -�lbífü�·aae� se adapt_aria:m, pois numa burocracia sempre t�nde_ ""
-� ··or�_iãiiçs:x.�º-_jp�t__I�to d_e soor_�yJ_v�Qcí?i:·ãiridi ·que··1s-s,O ���--
-g71eira ampurnço�; ;�po�Úmte� ao n'ível dos dT�Ig��-�i� �-�;��--
s1onais.
59
aos países periféricos em mais avançado processo de indus
trialização, é a considerável dificuldade de coordenação de
suas economias no plano mterno, em razão da forma comq_
se estão articulando com a economia internacional no ro
as grandes empresas. Se dificuldades de coordenacão int�r_-
na existem nos pa1ses centncos, conforme observamos,___ o
prol5lema assume muito maior complexidade _ !1ª....J2_eyif';_ria.
��"re� situação clássica do pequeno país onde o
civel dos gastos...P.úb1ícos e a situação da 5ãlanÇa�ai.�:-_paga
rrrenws--tefleterrcás·"ctecisões··-tõmâdas·p()r_ _uri-iâ"-"g"tãll(I�. -�rnpre
saexpotfa'dóià-· de recursos naturais. A situação é distinta"
r ri-ias nem por lSSO rnais-'êômoda naqueles países em que as
1 principais ativid_a1es )ndustria_ is ligadas ao mercado mte_r110 _
\ sao··contiõla(lãS""por grandes·empresas com prõTetos-ptóP"rios
. d�- expansão internacional;' ··do�-�:g_�-�Ii -·-po���:::-_ �?Dhe_ci'iri,érifo
têffi·os governos doS-p"aíSes-·em: gue ela_s atuam:· r:·ssa·ctebilí
. dãae·-aoEstaCiõ��C;�; -instrume�tÜ--de-dlteçaoe~·coordenação
das atividades econômicas, em função de algo que se possa
definir como o interesse da coletividade local, passa a ser
um fator significativo no processo evolutivo. .Impotente em
coisas fundamentais, o Estado tem, contudc 1 g�-
"sabilidades .!?:�'L�.uns.ttução_e_-o.p.eraçã_Q___d.e....��J:yjçQ::;__ 1:>�?.Íç9._ s_,: pa
ga �_?}-"ltiã""de uma ordem jurídic?-3:,___p,g_jmp.o.sição.. de ...disc::ipJ_ina
à-; massas gª_b_�ühador-as-;· O crescimento do aparelho estatal
é inevitável, e a necessidade de aperfeiçoamento de seus qua
dros superiores passa a ser uma exigência das grandes em
presas que investem no país.
Assim, a crescente inserção das economias periféricas
no campo de ação internacional das grandes empresas está
contribuindo para a moderni:zaçã_ _ o__d_os__ J;:_�!.ª9_Q�.J_Qçªis, os
quais tenderam a ganhã"i-COllsTdé-�á�el autonomia como or
ganizações burocráticas. �s:n_clg__ PQLJ.Jm..lado..impotentes e por
outro necessárias-e.-eficien.tes essas burocracias tend.em a
_ _ 01.je:�"iª-ção das
·niUEiPilC;·;·-Í�iciat_ i_ v_a�--�ID-._()ireções divers,1_5-. A,
itiVi_1fl_de_s ___ (:'.�?fl?micas
_ ) impondo a cÓnceri _tr.1ç�o _ -�fl_ renda e
. �acaf!et�_tldo __ a:_co·�.tênc.iª..3i]O};P1ã�---.SU:üúúíti_as de consumo
com a miséria de grandes massas, é origem de tensões sociais
60
4ue rep_�_r�llten1___ n_�_cessariamente no plano político. O Estado,
Íncapaz par·ã---ffiõdificar a referida orientação, se exaure na
luta contra os seus efeitos. As frustrações políticas levam à
instabilidade institucional e ao controle do Estado pelas for
ças armadas, o que contribui para reforçar mais ainda o seu
�caráter burocrático. Em síntese: o crescente controle "inter-
nacional" das ali vidades econê>I�_jlCâ"S_- ·::ílúS:, ___p_a_í_s_es___ p.erfféffros
acarreta uma p:;�;oce·--au_tO_fl_Omi�� d;-··�parelho burocrático es
tatal. Freqüent���ntê·--·e·s·s-e - a- patêlh;; é contro1"ãdõ-defófa
ão-país, mas por toda parte ele está sujeito a ser empolgado
f/ por grupos surgidos do processo político interno, o qual va-
i ria de lugar para lugar e, com as circunstâncias, dentro de
um país, mas em toda parte está marcado pelo sentimento
de impotência que resulta da dependência em que se encon
tram as atividades econômicas funda'mentais de centros de
-decisão externos ao país.
A relativa autonomia das burocracias que controlam os
Estados na periferia reflete ) em certa medida, o sentido das
modificações ocorridas na superestrutura política do conjun
to do sistema. A destruição das formas tradicionais de co
lonialismo deve ser enteMldacõfuo parte do process◊-- de
êiêmuiçrro-das barrettãs-rrrsüto-donai:s-·-qtre--·- <xwnpaffürieiita
va�ndo ç_wirnlista. Na_ mediª_2:"'�I_l?___g_l:1� a econ<?�·í_�:��In
ternacional passou a ser principalmente controlada pelas
grandes empresas, a acao direta dos Estaâos·--ao--ce·ritrO sobre
aS--ãdminíStrações dos países da perife-;ra"--tOiiiOú�:úi"- deifrieceS
sãfia, sendo correnteme"ri"te"·deriUricfodi.-�c.omo..,discriminató.ria
a fã"Vor de empresas de certa fl_�c _iona_li?_a_�e_. É bem sabido
que esse processo se vem rea1íiarld0 -- de· forma muito irregu
lar: em alguns casos popu lações "expatriadas" constituem
forte grupo de pressão, exigindo a presença direta ou indi
reta da antiga metrópole, o que dá lugar a formas apenas
disfarçadas de colonialismo; outras vezes grupos dirigentes,
ameaçados de perder o controle do sistema de poder local,
apelam para o apoio político externo. Mas, de maneira geral,
a intervenção direta dos governos dos países cêntricos nos
países da periferia tendeu a ser excepcionaL pondo-se à parte
61
as intervenções norte-americanas ligadas à "defesa" das fron
teiras do sistema.
Dentro desse quadro estrutural,·-ª�., bu_r9��a_c_iJ_s _ que di
rigem a maioria dos países pe_ríféricos avançaram considefa
velmente num pr_ocesso _de a�.a,�ilújfo::ação com os "in
teresses nacionais" respectivos. Se bem que, em casos
particulares, esses interesses se confundam com os do peque
no grupo que controla o aparelho do Estado, via de regra
a concepção de interesse nacional é mais ampla e visa à me
lhoria das condições de vida de um grupo importante da po
pulação, quase sempre constituído pelas pessoas integradas
no setor "moderno" da economia.
Um dos setores em que os Estados periféricos podem
exercer sua autonomia, em face das grandes empresas, é o
da defesa dos recursos naturais nãe-renováveis do respectivo
país. A expansão do sistema, no centro, depende, cada vez
mais, de acesso às fontes desses recursos localizadas na pe
riferia. Fizemos referência à situação dos Estados Unidos,
gue é, desse ponto de vista, um país privilegiado. A demanda
de recursos naturais não cresce paralelamente com a renda
per capíta: a partir de certo nível de renda ela tende a esta
bilizar-se. Por exemplo: o consumo de cobre por habitante
triplicou nos Estados Unidos entre 1900 e 1940, mas perma
neceu estável entre este último ano e 1970; o consumo de
aço por habitante desse mesmo país cresceu mais de três
vezes entre 1900 e 1950, mas permaneceu estável entre este
último ano e 1970. 39 Por outro lado, o consumo de metais
pela indústria pode ser maior ou menor, independentemente
de nível de renda, em função da natureza das exportações do
país. Contudo, se se tem em conta gue o nível de renda mé
dia do conjunto da população do centro do sistema, excluí
dos os Estados Unidos, é inferior à metade do deste país,
faz-se evidente que a demanda de metais continuará a crescer
no centro ainda por muitos anos de forma bem mais intensa
que a população. Se a isso se acrescenta que as reservas de
62
mais fácil exploração, dos países cêntricos (conforme vimos
no caso dos Estados Unidos), se estão esgotando, é fácil com
preender a crescente "dependência" desses países vis-à-vis
dos recursos não-renováveis da periferia. Essa dependência
continuará aumentando mesmo que se estabilize o consumo
dos referidos recursos no centro, o que de nenhuma maneira
é provável que aconteça em futuro previsível.
A utilização das reservas de recursos naturais como um
instrumento de poder pelos Estados periféricos requer uma
articulação entre países que, de nenhuma forma, é tarefa
fácil. Mas que essa articulação se esteja realizando, CQJJ)__e.ri
dente �fro no caso do petról_eQ _ , constitui indicação da so
liSticação considerá-\;·e19·�1;···�;tão alcançando as burocracias
que controlam esses Estados. É verdade que as grandes em
presas nem sempre serão hostis a essa política, pois tratando
se de produtos de demanda inelástica a elevação dos preços
não poderá deixar de ter repercussão favorável em seu fatu
ramento, o que quase sempre significa elevação dos lucros. 4D
Evidentemente a situação será diferente se os países perifé
ricos visarem a um controle total da produção e comerciali
zação desses produtos. Mas, mesmo assim, o avanço que têm
as grandes empresas, no que respeita à capacidade de orga
nização e à tecnologia, assegura-lhes a possibilidade de con
tinuar negociando de posição de força por muito tempo.
Ocorre, entretanto, que os recursos não-renováveis mais
importantes, cujos preços podem ser efetivamente controla
dos pelos países periféricos - sempre que estes logrem arti
cular-se de forma eficaz -, estão muito desigualmente dis
tribuídos. O caso recente do petróleo pôs em evidência as
consideráveis transferências de recursos que podem ocorrer
dentro da própria periferia como conseqüência desse tipo de
40 O ocorrido com as companhias petrolíferas ,·ecentemente constitui
claro exemplo dessa situação. No primeiro trimestre de 1974, com res
peito a igual período do ano anterior, os lucros líquidos da Exxon
aumentaram em 40 por cento, os da Mobil Oil em 65, os da Texaco
em 120, os da Occidental Petroleum em 520; por outro lado os luaos
de 1973 já haviam aumentado em média 50 por cento com respeilo ao
ano anterior. Veja-se Le Monde de 29 de maio de 1974, p. 38.
63
polídcn. Os beneHcíos reais para certos p.afses são ünportan
tes 1 mas esses países abrigam uma pequena minoria da popu•
fação que vive na periferia. Grande pane dos novos recursos
financeiros de que dispõem terão quase necessariamente que
ser invertidcs no centro do sistema. Ocorre, assim, uma trans
ferência de ativos que tnmsformará parte da população dos
países beneficiários em rentistas, sem qne a estrururn da eco
nomia capitalista se modifique de fonm1 sensível. Também é
possível que os paises beneficiários coloqoem à disposição
de outros países periféricos parte dos recursos referidos.
lvfas, se tais recursos são utilizados pata reforçar o processo
de desenvolvimento tal qual esre se realiza atualmente -
por exemplo 1 pa:ra criar ínfra•estrutura e indústrias básicas
geradoras de economias externas para as grandes empresas
�·- 1 as relações entre o centro e a. periferia não se modHica
rão de forma sensíveL
A poHtica de elevação dos preços relativos dos _produ
tos não facilmente substituíveis, 41 que exportam os países pe
riféricos, constitui seguramente um marco na evolução desses
países mas, conforme indícamos, não significa mudança de
rumo no processo evolutivo do conjunto do sistema: capíta
Hsta. Não se exdul a hipótese de que a posição internacional
das grandes empresas seja refo rç ada, encarregando-se elas de:
absorver grande parte dos novos recursos Hquidos encami
nhados para o mercado financeiro internacional. Uma peque•
,;..iA capacidade de u:n cartel organizado pvr um grupo de países para
elevar os preços de exportação de mn produw e assim Hwdificar a
repartição da renda em escala mundial é tanto maior qz...an!o 1n(ÚS rí
J;.ida é a demanda do produto a curto py,:r,;;o e mais di/kil sua substi.
tuição a médio prazo. A situação do- petYóleo a esse respeito é ex
trcma:ncn!C /avoráoei. A sitv.11.çâo dos metais r:íío-/énosos se aproxima
dela_, -particularmente se puderem ser considerados em conjunto. No
caso dos produtos agricolas tropicais a posstbilidadí! de substitttiçdo é
maior, particularmente entre 11s camadas de população de nível de
re"lda mais baixo. Contudo, essa margem de substituição tend(' a esgo
tar-se e a paYtir desse ponto a demanda adquire considerável rigidez.
J\1o caso dos produtos agrícolas de clima temperado a margem de subs
!ituição é ainda maior, pois a médio prazo a sua produção pode ser
aum"entada nos países cênlricos, caso os preços persistam acima de
ctrtos níveis.
na parte da população periférica, localizada em uns poucos
países, terá acesso às formas mais avançadas de consumo, e
algans Estados poderão ascender a um papel hegemónico em
certas subáreas. Conwdo 1 as modificações no coniunto da
periferia serão povco perceptíveis.
f\1as é possível que a experiência adquirida no setor dos
recursos não-re,,_11ováveis venha � :5et utilizada na defesa do
valor real do trabalho, que exploram nos países periféricos
as grandes empresas. Conforme foi assinalado antes J a rápida
ex��ª�Aa eco_no_mi3-_ inr,emacíonal -·- setor 1E-�i� ·cr1narn1çp
do sistema _-c·ãpfril_í_Sfa ::.:._ - �en_d<:__a foDdãf�Se'na _ utilização das
g'ia'nêfeS iCSer�·as de ffião:de-obra-·b;;�ta-- - - - existem- na pe'i:i
fêffri: "itpreSentam-se aqúr-dois_prõhiéffi��: o ru· aproptfação
dos ffü'i◊-S cJ_� __e�pansão econôm_ic_a _ _e o da_ oriéri"í:"àção_ géral
dô�pr2éesso de .. acumulação._ Dada. a grande disparidade de
níveis de vida, que se observa atualmente dentro da perifería 1
as grandes empresás estão em posição de força para conser
var os salários ao mais b.aixo níveL 42 Toda pressão no sentido
de elevá-los poderá ser contida com um desvio dos investi
mentos para oun-as áreas que ofereçam condições maís favo
nlveis. A grande empresa que produz produtos manufatura•
dcis, na- pe_fiferia� pai�--0 _mê_rc0<:fõ__-(lõ�Çe'Dtro, t_em úma margem
de 111aflobra tanto-illdi;:;·q��;,_t_; �ais baix�s __s_ã� cs.._salári_os
q�ê. EsSi:í"'ffiãtgem·rhe-Per"rnTt;:;;ra -expandir o ·mercado
_a cur_to_ praz_o� séja au1��ri.i"�r. _sJJ·a·_--Çapa"Ckl_a_dé_: d_e fiu-tofinan
�i;·mei:'1t·Õ: Eill. q�alq�e; dcs dois casos > maior a margem,
�Sf�f' a parte do valor adicionado que permanece: fora do
país periférico em que se locaHza a indústria. Tudo se _passa
como se o trabalho fosse um recurso gue se exporta} sendo
a taxa de salário o preço de exportação. Se o conjunto dos
42 Afcsmo f(lg_ando salários algo acima du "preço de oferta'' local da
mão·de-obr(l, as grandes empresas obt&m, na periferia, uma força de
tr(lbalho considcravelmenle mr:is b:1r!lta do que nos países cêntricos.
Eslima-se, por exemplo, que os salários pagos pelas grandes empresas
no sudeste da Âsia, para tarefas semelhantes, correspcndcm a um sexto
dos pagos na Alemanha e a um décimo dos pagos nos Estodos Unidos.
Com r.espeito à América Latina (excluída a Argentina) o diferenciai
tlet:e ser semelhante.
65
países periféricos decidissem subitamente dobrar, em termos
de moeda lnternacionat o preço de exportação da força de
trabalho, o resultado seria similar ao que ocorre quando au�
mentam os preços de um produto de exportação que goza de
uma demanda inelástica no centro. Em realidade essa ele1 a
ção tem tido lugar em situações especiais: assim, os operários
da lndústría do cobre, no Chils::, já haviam conseg'.údo anos
atrás elevar consideravelmente o seu salário com respeito ao
"preço de oferta '1 da mão-•d-e-obra nesse país. Essa elevação
poderia ter sído levach1 i11,;lis. longe, mas o governo chileno
preferiu utfüzar o método do imposto direto para ampliar
a margem do valor adícionado dessa indústria gue era retido
no país. Se se trata de indústria manufatureha com múlti�
pfas linhas de produç,âo, cujos preços de exportação podem
ser fadltnente manJpulados 1 a viã fiscal torna-se de utilização
mais difícil. Com efeito: como coübecer a re:1tabilidade da
filial de urna grande empresa .instalada num país do sudeste
asiático se os preços de todos os insumos utilizados são ad.
minístrados pd.a matriz, assim como os preços dos produtos
exportados?
É difícil conjccturnr sobre uma elevação geral dos sa
.1Jrios reais nas �!�i�:?.:.�-�2P?Et�:!_?!�?.. 5.!9�!��� . -�:i-if_éri
cos, Como a taxa de salário varia rg�.ÜQ.J:JJ_trç..paí_��.?.. perífé
-rkos I as conseqüên_�i�-�----��r:i_�p__ P}��i_q_�:3_s _ R�. _p_q,í_?_ "para país,
pa�ticularmen_té- S_c ·a elevaç_�o _foss_e _ _f�_i_ta no sen_tj9Q_ de uma
maior. lgualiz_aç3_õ�-l"íifo se pode perder de vista que à uma
tecnologia similar podem corresponder díversos níveis de
produtividade física da mão-de-obra em função do nível gerai
de desenvolvlmenro do país. A unificação das raxas de salá
rios, nas atividades exportadoras industriais dos países peri
féricos, tenderia, portanto, a benefícíar aqueles com maior
avanço relativo industrial. O..pr-0hlem.r1._.écettamer1�e_ muito
mals complexo que a eievação do preço de um produto ho
rnÕgêiiêo-que-gõZâ:-·de-dérrlarida inelásrica no_ centro,�\1as.-.�-
oor ê•sse iâfüfuJJQ_q��-'. �f_:l?-_al_�--S:�9.c?_.-QJ.l___ mais __ tarde,_ .9s___ p���_es
perlf��q.ue--avança_r J?.�r_a ..?Pt_qp_�i-�r_-S(! _df!_ _uma_ parce
la maior do fruto da própria_ fc,rça de trabalho. Seis.grandes
66
_crnnresas continuam a pagar na perifería salários corre�..eon
dent�.��9- "'Kec o. de ..qfo_.n.a" daJçrrç,1_ <;le,~ tr�J=:.�tb?, o próprio
orocesso de ind_u5-tria,Hzação d_os.. países _2eríféricÜ_S-C_Orlt_ii'E,Uf"
--��E���-�.t·3·r � -f�-�sõ·_q�-e�QSsep�;;· d� ��-�i!�--��j��-!��-�-
A política de elevação da taxa de saládo real a �.:DQS:
n:fer_ i
. mos nos parág�9fos anteriores.. __ter:a_-cg_:110 conseqüên
ciâ. . direta a criado de um diferencial de salfrlõSe"Dtfe o
Se_tó·r·-nga·�rOI _C�port_aÇ-ão e o resiO"'dà econo_mia Daí
r"eS;;ltaria a forrílilçãO "de urna nova camad::) sôcial, seLõ.8m:.e:
·
grnda _nas for�a•s,..,,.rriõ<lernas" (le consumo. Como o grac: de
;c·ü-��i�- ção al�-;�çad<-t na economia n�; permite generalizar
essa taxa de salário, o fundo do problema do subdesenvolvi
mento :1ão se modificaria. _1?_$}:?c. ·ªl_ç_�n_Ç?T __Ç!',S_�JJm.d_g_Á.�J}§LD.�:
cessário que os recur_��-..!:�Jidos. .. no, paí_s __ p1:r.if4úc9. R::1.4�_ss_�!P,
ser __µüffZáctõS""-eíií"�tn pr_o,c_esso CUD?-_ulativo yisando_,a__ mod_if.i·
e.ar B" e�-��;���;•""J;-·~s;·��-�-;-- �0�1ômiC◊--n; se�-tid�'" de - �;m�
çIT;ç�ntê])õffi9iin�.!�-�ç��-.- 'A questão Ulifrnâ esl.á� na oríCD--
tação do processo de acumulação e essa orientação continua
ria na mão das grandes empresas. 1\ssumü:- essa orientação,
vale dizer estabelecer prioridades em função de objetivos so
1
67
() mito do desenvolvimento económico
68
gam quando a população tem a possibilidade de emigrar: de
uma maneira gemi, eles se esgotam dentro das fronteiras de
cada país. O que interessa assinalar é que esse tipo de pres
são sobre os recursos pode provocar calamidades em áreas
delimitadas, como atualmente ocorre no Sahel africano, mas
em pouco afeta o funcionamento do conjunto do sistema.
O segundo tipo de pressão sobre os recursos é ca"Jsado
pelos efe!tos diretos e indiret_Qs da�e;jev_?çfto ..do._n_f::1el_je con•
sum_o 4,as populaçíJes e es�_á_ {;S_treitam_eme_ ll_gado à orientação
gei4rdo�Pr��;;o de--d��e�v�lYi�ento. Ü fato de que a renda
se ffiãf!te:"r1há -- considerave-Imente concentrada nos países de
mais alto nível de vida agrava a pressão sobre os recursos,
que gera, necessariamente, o processo de crescimento econô
mico. 4? Também se pode afirmar que a crescente concentra�
ção da renda no centro do sisi:ema 1 isto é > a ampliação do
fosso que separa .a periferia desse centro, constituí fator adi
donal de aumento da pressão sobre os recursos não-repro
dutíveis. Com efeito: se fosse mais bem distribuído no con
junto cio_sls..tema..capi_t_�_IjA$.t.�j _Ao cres�_imen_to depe-nderiã menos
-da introdução de novos prod�t�s · filla"íS"-e mais da difusão do
US◊·-ae -prodü"t�_�j*·· co_�t)ecidos, O que sí2pifícaria u�__ }!)_ais
bãrxo· cõtiicleflre <lJ:.di�.P-i.frlJ<:�Q� b capitalização tende a se'r7
tª-f:!r9_ fil.�t�_)I?ten�a. quant_o mais o cr��-Ci��l2.t9..�il:çfa__--orien- i
tad_o_Q�ra a intr?_duçã_o__ 4e novos__ p_r()�u_to�_ finais, vale dizer,
a�· _
par� o_ e"u�ü,_rl_ame�to:: Vidã·-�·ill"de-_ben_s fl ifl(O.rp()taâos, ao
patt·i'�ôfl:i<f dãS-J,eSsOa"s" "iE ·aa "'colCdvida�e ..;s DeS-ta- fozma ) a_,
_
simple� ··cOncentràÇãõ- geõgiá"fiCã"- da_ ,;e;;da, em benefício dos
69
países que gozam do mais alto nível de consumo, engendra
uma maior pressão sobre os recursos não-reprodutíveís.
Se o primeiro tipo de pressão sobre os recursos é loca
lizado e cria o seu próprio freio, o segundo é cumulativo e
exerce pressão sobre o conjunto do sistema. As projeções
alarmistas do estudo The limits to growth se referem essen
cialmente a este seguucJu tipo de pressão. As relações entre
a acumulação de capital e a pressão sobre os recursos 1 que
estão na base das projeções, se fundam em observações em
píricas e podem ser aceitas como uma primeira aproximação
lVálida. Q qne não se pode aceitar é a hipótese, também _fun
��;:r�:ª�
damental nessas projeções, se�.:::��:Lº·-ª· qual os atuais..1::_�drões
de consumo dos P'"ãísesriCOS--tendem a generalizar-se em esca
J�tpiãnétát�Esta h_ipót_�s-� _e_s_�_á_srr1��:ÇQ_fú.f?�-i{ão _ direta Cóm
Lª.-��-�-entaçao -d_�s�1�\1;lvimento q��- se ·real1_:.!_:��-��l- -
; mente no conJunto do sistema, da qual resulta a exclusão �as
·granclesITI�-quevivenl nos 12.iliç�$.-.p�r.ffe_ric.o.s__d_q_��:Fe�;�_ses
··criadas por esse desen�;nto_. Q_ra__, _ �?g__gsª-Jxtn1en-�_i-.��sses
�xauwos-·qt;e formam a m·;;;;... J_in]Qg[_áfiçL_eDJ.�:.r�(�l a ..._i;x-
pansao.
__,, A população do mundo capitalista está formada hoje
em dia por aproximadamente 2,5 bilhões de indivíduos. 46
Desse total, cerca de 800 milhões vivem no centro do siste
ma e 1,7 bilhão em sua periferia. As tendências evolutivas
desses dois conjuntos populacionais estão definidas em suas
linhas fundamentais e não existe evidência de que venham
a modificar-se, no correr dos próximos decênios, como de
corrência de pressão sobre os recursos, do primeiro ou do
segundo tipo referidos. Sendo assim, e se se exclui a hipótese
de um fluxo migratório substancial da periferia para o cen
tro, é de admitir que a população do conjunto de países cên
tricos alcance, dentro de um século, 1,2 bilhão de habitantes.
A opinião de que essa massa demográfica tende a estabilízar
se nos próximos decênios é aceita pela maioria dos estudio
sos da matéria. O quadro formado pelo segundo subconjun-
70
to demográfico é muito mais complexo em sua dinâmica. A
pressão sobre os recursos, do primeiro tipo, desempenha nes
te caso papel fundamental. Contudo, se se tem em conta a
atual estrutura de idade dessa população, da qual cerca da
metade se encontra atualmente abaixo da idade de procria
ção, parece fora de dúvida que as taxas de natalidade se
manterão elevadas por algumas gerações. É essa uma das
conseqüências da orientação do desenvolvimento que, ao
concentrar a renda em benefício dos países ricos e das mino
rias ricas nos países pobres, reduz o efeito da elevação do
nível de renda na taxa de natalidade, com respeito ao con
junto do sistema. Pode-se admitir como provável que, no
correr do próximo século, a população da periferia dobre
cada 33 anos, o que significa que ela passaria de 1,7 para
13 ,6 bilhões. Sendo assim, a população dos países cêntricos
se multiplicaria por 1,5 e a dos países periféricos por 8, do
que resulta que a população do conjunto passaria de 2,5 para
14,8 bilhões, ou seja, se multiplicaria por 5,9.
No que diz respeito à pressão sobre __ os___ :çecurso_s do... s_e-
g�ndo tip(),_}sto é,- a pressão cumulativa capaz de gerar ten
sões no conjunto do sistema, interessa menos a divisão entre
centro e periferia que a divisão entre aqueles 'que se benefi
ciam do processo de acumulação de capital e aqueles cuja
condição de vida somente é afetada por esse processo de
forma marginal ou indireta. Ou _ ��ja: é mais importante o
fosso que a atual orientação_ _sf:<?:__ q�_ .�-erivol_yi,rnento .cria dentro
'clo"s pa1ses pen�én�ó�·_d o gue o outro fosso-que existe entre
este_s_.e__Q____c_eíitro .. do .sistema. As informações relativas à dis-
tribuição da renda nos países periféricos põem em evidência
que a parcela da população que reproduz as formas de con
sumo dos países cêntricos é reduzida. Ademais, ..essa--parc:cla
não par��ç:'. _ el�y_a.r.cse.�m-signifi.cati.va. com a industria
lização.:. Ó ·fundo do problema é simples:.__o~··n,iys:l_��---E�-�d - a
da população dos paíse_�_ç_ên..t.i::i.co.s ___(_ e.r:o....m�_Qi_ª"·· _çer_ca _ _<:{e dez
v��es mais elevado·� o da população dos países pet�féricos.
Pôttãnto,a-Jnín·ô-ifa gue nestes países reproduz as formas
de vida dos países cêntricos deve dispor de uma renda cerca
71
de dez vezes maior que a renda per capita do próprio país.
Mais precisamente: a parcela máxima da população do país
periférico em questão que pode ter acesso às formas de vida
dos países cêntricos é 10 por cento. Nesta situação limite, o
resto da população (90 por cento) não poderia sobreviver,
pois sua renda seria zero. No caso típico da presente situação
na periferia, entre um terço e a metade da renda é apropria�
da pela minoria que reproduz os padrões de vida dos países
cêntricos e a outra parte (entre metade e dois terços) se re
parte de forma mais ou menos desigual com a massa da po
pulação; nesse caso, a minoria privilegiada não pode ir muito
além de 5 por cento da população do país.
Os 5 por cento de privilegiados da periferia correspon
dem presentemente a cerca de 85 milhões de pessoas; des
tarte, o conjunto da população que exerce efetiva pressão
sobre os recursos alcança 885 milhões. No quadro das pro
jeções que fizemos, esse subconjunto populacional alcançaria,
dentro de um século, 1 880 milhões. Desta forma, enquanto
a população do mundo capitalista aumentaria 5,9 vezes, a do
conjunto populacional que efetivamente exerce pressão sobre
os recursos aumentaria 2,1 vezes. Se a população que exerce
forte pressão sobre os recursos dobra e, ademais, a renda
média dessa população também deverá dobrar antes que o
ponto de relativa saturação na utilização dos recursos não
renováveis seja alcançado, temos que admitir que essa pres
são muito provavelmente crescerá cerca de quatro vezes no
correr do próximo século. Cabe acrescentar que essa pressão
quatro vezes maior se realiza sobre uma base de recursos
substancialmente menor. Contudo, seria irrealista_...im _ ag_inar
qu_(!_ y_m ritmo de crescimê:nto dessa -�-�m�; _ pr�ss�o _sobre
os __!��Ursõs n�2.-1�0.ovave1s,__ç.9gg1tt11_: a_Igo fora- dâ cap·acidade
de co�trore-ci9 homem, mesmo �'a 'hlP6têSe__ de que_ a tecno
Jo.gii::contTD.�e:_? S�(_()ii�nt·ada_· efl:l sua _concepç_ão_ e utilização
por empres_as _p_i=I;adas. ES-ta_ afifmação não implica desconhe-
cer qué .é___eSsa- uma pressão considerável, cabendo assinalar
que parte àescente dela se exercerá sobre os recursos atual
mente focàlfa:àdos na periferia do sistema.
72
Outro dado importante a assinalar é o crescente peso
da minoria privilegiada dos países periféricos no conjunto
da população que desfruta de alto nível de vida no sistema
capitalista . ��-11:c.:l <?_ menos de __ 1g__ P.9T ..�_t_::1:1!.9,...3:_���lmen_t_<;:,__ �____ p_ar-
ticip�ção dessa D.1ínoria teiideria a superar um terço, na pro-
:
j_eçã�-- qu"e-1íze 111o·s·:--qra, se s:___ tem··em__ :�onra_·:·<:iü�:-�o�_::�staqos
&1·peffféid3-ffiuíto pt0\�·ave1mente eSràr· . ao-··e·rr;- cóndiçã0- de
. �"i;· r ()f)riar-se - cfe u · rr ;_ a - --parCe fa rn ai
_ or. -- reTidi:-�d,q_·_:ç.9rrJ.iinJq_ dó
dâ'_ .
·s1s·ten.:;a, m·ediante a valol'ízaçã-ó-..d◊S rec�tSó� não-reprodutí
rn:�:��_ae::obi-a
·y_�i_i(_�.. (]_a__ que exportam, a hipótese que fQrmu-
L1IT105-____de _ esta_b.U_iz_a_çã◊-, ·ao __ nível _de_ _5_ pq_r__ __ ceqt_o, do grupo
pri;Tlegiado deve ser___ C()I]SideE<t.1_a � º11:19. ___ llll1 __Il_1ínimo. Se a
;;�Ih0ra nos termos--·de intercâ�biõ- ·per-�l"te· g�-e os 5 por
cento se elevem a 10, a minoria privilegiada da periferia
superaria, em número, a população do centro do sistema.
Esta tendência também operaria no sentido de reduzir a
pressão sobre os recursos, pois a ampliação do número dos
que têm acesso aos altos níveis de consumo significa que o
crescimento se está realizando no sentido de uma maior di
fusão dos padrões de consumo já conhecidos.
O aumento relativo do número de privijegiados nos
paíseS ptriféi{cos iifio ''i"mp·ede, --entretanto, ·que se -mantenha
e apr0iüç;Je-- ◊--fosS- o que exr"st·e en"Ere..,eTéiS·e··a grande maioria
êEi"Poptlla-�-ão···_ ae seus__ r��p�ú_i"Vo_s jJ_aís·es. Com déito: se ob
servamos�º síStema Cáf)itáliStã-em· ;eu conjunto vemos que a
tendência evolutiva predominante é no sentido de excluir
- nove pessc,ã�(�·rrr: dez-dos·princip•iüs··benefíd-◊-s_:_·do -a_ei:;e·nv�lVi
:
me_g_ç9.; -e· s� · obs'ervamos em particular o conjunto dos países
p;�iférícos constatamos que aí a tendência é no sentido de
excluir dezenove pessoas em vinte. Essa massa crescente, em
termos absolutos e relativos, de excluídos, que se concentra
nos países periféricos, constitui por si mesma um fator de
peso na evolução do sistema. Não se pode ignorar a possi
bilidade de que ocorram ) em determinados países e mesmo
de forma generalizada, mutações nos sistemas de poder po
lítico, sob a pressão dessas massas, com modificações de
fundo na orientação geral do processo de desenvolvimento.
73
Quaisquer que sejam as novas relações que se constituam
entre os Estados dos países periféricos e as grandes empre
sas, a nova orientação do desenvolvimento teria que ser num
sentido muito mais igualitário, favorecendo as formas cole
tivas de consumo e reduzindo o desperdício provocado pela
extrema diversificação dos atuais padrões de consumo priva
do dos grupos privilegiados. Nesta hipótese, a pressão sobre
os recursos muito provavelmente se reduziria.
O horizonte de possibilidades evolutivas que se abre.
aos países penfêfiCO·s-é;-·s-e·m-·1ug)1rá-âú\íiâa';·--ãní'pfo. Num ex
tremo, perfila-se "â"'htPótese··de--·perSfatê"nda das tendências,
que prevaleceram no último quarto de século, à intensa con
centração da renda em benefício de reduzida minoria; no
centro está o reforçamento das burocracias que controlam os
Estados na periferia - tendência que se vem manifestando
no período recente -, o que leva a uma melhora persistente
nos termos de intercâmbio e a uma ampliação da minoria
privilegiada em detrimento do centro do sistema; no outro
extremo surge a possibilidade de modificações políticas de
fundo, sob a pressão das crescentes massas excluídas dos
frutos do desenvolvimento, o que tende a acarretar mudanças
substantivas na orientação do processo de desenvolvimento.
Esta terceira possibilidade, combinada com a melhora persis
tente nos termos do intercâmbio, corresponde ao mínimo de
pressão sobre os recursos, assim como a persistência das ten
dências atuais à concentração da renda engendra o máximo
de pressão.
_j_Lç__Qo..d:1.1sJo__ ger.al.. qu
. _e .s_urg<:: .. d�ss_�s considerações _é _qu<;
_ �ge,r_ li çãor no.__çonüH1.�2. . 99_..s_t�_�_t ma.. . __rnp.ü.a- ,..
a hip.9,g�?�.. ...9.e;.. g a za
-li�-tã, das formas de ç_QD.$_t;t_m.Q___gµ_�__pr(!y_�_l�_c{!_m __atual rri�nte nos
países cên t_�i�gf)__ .Jl_�fo._t.em .. _gªJ>Ü!l�!}.. �-º- . :���frQ_ _
çfo.�.. _ pq�_Si_ ]?_i_I_i_ªi-
des ev_olu.üvas a p _ esse_ s_ist_ t;I1},1_ . E é essa a razão f�n-
_ ar�11,tes _cl_
-a;;:;ntal p�J;-q�;T �;;-; ;�p��;�,.·�·;t;dísmica, num horizonte
previsível, carece de fundamento. O interesse principal do
modelo que leva a essa ruptura catadísmica está em que ele
proporciona uma demonstração cabal de que o estilo de vida
criado pelo capitalismo industrial sempre será o privilégio
74
de uma minoria. O_ c_�s_t_o,_ _f:!_� __ t_�rrnq_s__ de _ ��f>re_9aç�() _ _ . qq
111undofísico, des�e" �stil� de é
vida de-tal iorrna elev;d�
q�e___ !o1a te_ nta��Y�.. de ge11eralizá-lo lev�_ria inexoravelmente
?e
�g___s:o1ap�_() __ tod_ a__ur,rrn ___,jyi_liz_açiq, _p9ncfo_ em risco as· ·pos:
s�_�iffd;deS de __s���e_vivênç:ia _ da esp_és}e -�llmar,ia. Temos as-
--·;ún:,,a prova definitiva de que _() _d,ese_ _rzy_gL;im_e.nLÕ.__ __e_c_on . ômico
_
� a i_d�i,l __de_ g_u_e_ _ ?_S po_vo_s pob��S-Po<lem algum dia desfru-
tiLdi$�Jm:fili$__-di_yj_Qg_" _QQ§___gt,i.rni_:=; p _ 9_11_o_r_r)c_os � é _sí1nples-
r--m�v_t_�_ju�ªlizáveL.;$abemos agQ�_ �t..d.�_ __fç,rrna i_r_r�futável quê7
f �s�_ço_nomias__da,..períferia ..nunca . .serão. dese.11:_v_p}_virl,q_s,... 11.9. sen- __ l
1
tido de sünilar�Jji_§ gcqnQm_i_@:=;_ __q��Jqgpªrn () at;�J �e� - t_ r?"-�?-- '
sis_ tema c _a p_it-;Íís_ta._ Ma_ s como __pe_ ga�. ql]e___�?s_ a idéf;i:_: tem sido
cl�g���d� pa
�rilid�cle rn mobi]izar ospov�s-J; periferia e
levá-los a aceitar enorffieS s�-crífícios_, para legitimar a des
truição de .. foqnas_ _ de_-C_ú_lt_ur_a arcaicas, .para explicar e fazer
com__ preender _a ne_c_e_s_�idade de destruir o meio físi�()1.. . _para
jus.t_ifÍê_ar-·:riW-ª_§_d_�
_ depen_dênci_a que reforçam o �ªXª!�_i.. pre
datórío do sistema produtivo? Cabe, portanto, afirmar que
a·-:rdéía:ae·_-:des·envolViriii.11to econô_mico é um simples mito.
Graçª�-"ª .s:la _tem sido possí_vel __ cle:_ _ sv_ ia_r: 9:_s --�te_ n_ çõ_e�-- 99:_ _ t_a�e:_fa
b,í_�k�.9:�)d_entifica_ção das _ nece�s_i4is1�i_ _-_f_uridãffiê-Ilt_à.is <li ·co_
ktiv)J�deedaspossibilidades que abre aohomem o avanço
da._çitr.!çj_a_L.P?f?. _co_11c12:11tníJ?.� _em 'óbfet1vos---abStratos como
$âO os i_npe_{ti_m_ent_Q§,____ª�----t;�p9.,:_t_a_çQ_é5·_::i··:o·_·c_;_"i_5_ç_z171-.e_n,tQ._ A""lm-
portância principal do modelo de The limits to growth é
haver contribuído, ainda que não haja sido o seu propós ito 1
para destruir esse mito, seguramente um dos pilares da dou
trina que serve de cobertura à dominação dos povos dos
países periféricos dentro da nova estrutura do sistema capi
talista.
75
CAPfTULO II
Subdesenvolvimento e dependência:
as conexões fundamentais
77
A nossa Q!.Q6tese_ central é a seguinte: ..Q_Q.Çnto de ori
gem do subdesenvolvimento são os aumentos sle.__p.t9_duJiyjçf_a_
de do :_t_t.;;'!_Palh9 _ __ç!}g�udta_d_Qi>. _pela simPl�i r_�a_lqcaç$_() .4�__r�,
curs<:,s· �_is�_n4()_ a _obt_e_r _vantagens _c_o_mparativas i::státicas ·no
comércío--in!effl(l-Ç;Q�a}. O progresso técnico - tanto sob a
fOrma de adoção d�- �;étodos produtivos mafs eficientes coma
sob a forma de introdução de novos produ!os destinado�
ao consumo - e a correspondente aceleração no processo
de acumulação (ocorridos principalmente na Inglaterra du
rante o século antes referido) permitiram que em. outras
áreas crescesse significativamente a produtividade do traba�
Jho, como fruto da especialização geográfica, Este último
tipo de íncremento de produtividade pode ter lugar sem
modificações maiores nas técnicas de produção, como ocor.
reu nas regiões especializadas em agricultura tropicat ou
mediante importantes avanços técnícos no quadto de ' en" 1
78
eficientes penetr11v2:m rapidimente, e levou outros a espe
cializar-se em atividades cm gue essa forma de progresso
técnico era insignificante 1 ou a buscar a via d� alienação das
reservas de recursos naturais não�reprodutfveis. A_ "lei das
vantagens c0_1npgr_ativas", tão bem Hustr::.dz por Rlc:ardo
cOiU o caso·do· cO!Uéi-Cio anglo-lusitano" proporcionava uma
j_ustificação sólida da espeda1ização imernad_ona1 1 mas dei�
Xava na sombra tanto 2 exYtefüit"djS!Jfrhlâ·cre·-;:--iã.�dH�São- do
prõQtCsso nas técnicas cre-prOJ:;Ção---Cô!UO-- O .
"J:lov� excedente cnado na.J;;erifería nã6 ·se Co·n:.:_ ec:c:1,...:::v.:a_·c:co•·=m·.: o
j)!õê-ess·o. ·a:e··1�r����-_s!� ·c;Pi�;I�-E���--"e;c-e·de�:re-- êr_� ·or1_n·ct �
_ .
pa1mente destinadc a fü1aftç__1 à L-ª.._Qjf_usãq, .?.� __ pt_rffe�ia,_ dos
novos nadrões d_í;_Ç.OJ.1_S..tU1JQ..qt.1e�ç�tfL'{'.l\1], .. ?_L1fgincl,o .119 __centro
do sistema _e�onô_míco l_nur1d_í_a_1 e:1] fon_na_çã_o. Portanto, ;:)$
~rr e1ações entre 'i)à"ísC-s. cên-:rí��S e perifé�icos: no quadro do
}sístema global surgido cia divisão internacio.1al do t::abalhoy
\for2:m., desde o começo 1 bea:. mais cornplexas do que se de�
lrreende da análise econômica convencional.
Aspecto funda.men_rn..L que se pretendeu ignorar, é o
fato de que os países períféricos foram rapidamente trans�
formad()_S _em impf?1_·tadore,sde--no�,os de_ Consumo, frutO
J;---p;õC-eSS◊--de "aCUríii.i13ção e d·o progresso técnic'o que tinha
1ui9'r-no-· -ceriffo ·do SiSfef11a. A adocão de novos uadrões de
cQfil�Sê'rliE:x'treffiamente irJ�il-ªE. t. daQ_q_g_;�-..?.. e:_�ce�
dente era aproori-ado P()t urna ff;ino_ria res_ trit0, cujo tamanho
relativo dependía da êStfü_tura agrária, da abuDdáncia relaM
tiva de terras e de rõãô:de�í.)bra, da irnp�;tànda relativa de
nacionais e estrang:iros no controle do cc1_nérci-o e das fi
nanças _, do grau de autonomfa da burocracia estatfll, e fatos
símilares. Em todo caso, os frutos dos aun1entos de 12:rodu M
tj;vidade reverl!fillLr.:_n:i_.b_enefício.,.. .de.."JJill4\.,,_pequ_ena mi�orfa_�
ratiOpe[�al a renda disponível pana co;;:w.ffio __ _J;;,.gt,�po
ml_vilegiado cresce;_1 de forrr:a substanc!,ª-L Convém acreScen- -
t2:r qt:e tanto o processo de realocação de recursos 2.;od_u-
. tÍVO; como a formação de ç_apit_aLsw.�-..<.t ·este�s.;-ügã�--i_ (;b�r
tura de novas terrns J construção de estradas sccundárias 1
· edificação rural, etc.) eram exigentes em J��I:!5?..�_,
79
importados: o coeficiente de importações dos investimentos
ligados às exportações em expansão era baixo. Exceção im
portante, constituiu-a a construção da infra-estrutura ferro-
Viária, a qual foffil1iDc.:_iiç{i�_c[Q�::��i.foi{9t�= e _ _ a��-t1-�.\�.. ___ par_<:_1_� 1-�
men_t e a _fo_rma de "enclave" produtor de excedente q;_-;e· não
s� iri!�g�?-���- �s:_()_º-º-1P.Í_ª---J_q<:,?l. De tudo isso resultou que a
-
Ill?rgem da. . cap.a- cídade pata_jmpor�r, disponível para cobrir
-
compras de bens de consumo no exterior, foi considerável.
As elites_ )qca_is es_tiv_�_ram, assim, habilitadas para seguir de
perto os padrões de consuÍno do centro, a ponto de perdefém
contacto com as fontes culturais dos respectivos países.
A existência de uma classe dirigente com padrões de
consumo similares aos de países onde o nível de acumula
ção de capital era muito mais alto, e impregnada de uma
cultura cujo elemento motor é o progresso técnico, trans
formou-se, assim, em fator básico na evolução dos países
periféricos.
O fato que y_�_1 !:l?_s_4e__ _r�f_e�i_r_ _ _� e n_ ão seria -��fí_ci_ _l -�o_m-
prová]Õ-CO�---_i;i_4�nci_� __ }�ist- ?fí_ _�? ... � ___ _p_õ�-- a __ _ cl_à_ro-- que;__ I1º
es't"Ucto··ao-·subde�en;o1v1mento, nãó tem· fuI)dáD1en'ro··a;;tePor
� "'âiiálise·
_ -·ao···· nrve_r_ciã_:··_ _pr_o9�çã():�:-·ª�i _;{iii.4.Q _·:i'fii );�g�_ijªo_:·p1�-�?-
0S""Pr◊-6Te-ffià�·- ·d:a· e1rcu1ação_, - :?nf()r_�e 2ersistente _t_r,adiçao ·_cl?
pen�à?'Ie�i� ·. :ri'iii�ht_�··p_iia:� _cãPiái::::_;: ��; t_ t1_r_e_�a d?. -
-
�-u·Eae_�e_ n
;°-r vím:e;;t�;�-- �-- P�_rt_ir de �ua�-- __?r�g�i]-�-- -_h}s_�§rjca_s '.,l _i_nQiipe_ n-
- -
S}v�i:-f()�;_Üzar si_ m_t1lta_n_�a_I?en te:·_ �___proc�ss_ 9__ d?. p_ro.dução __ _ (rea-
I_(}Ǫçã_q__çle rec_u_r-s:ós :Aando:�:O"rigem_ :;-_:µm __ e_xceden_t_e__ 0d�ç_i.9na l
_e__ for_m_a de apropríação desse excedente) e o processo da
circulação (_utilização do excedente ligada à··•a'ª{)ça9: -·_qe _flO_y_os
padrões de co�sumo copiados de países em qu� � -·�Í��i ·de
3éúffiUlação é m� _ ·ã�is __ __a_lt_o)_ _,_ ___ §S_- _ """éJúa'(S_:::�_C_Orijü'iiEiil)
_ T-�<J:···- ·rn - �en te ,
{�fl_g_�-6�-��-1!1.__ .� @e i:i _cl � l1(: ':l_ __�-�Et1.à(_ q� ___ �-�-t�-������}?_� �� · do
. pe _ _ _i _ _ - _ _ _ _ e _ _
/l pro�-�-�-�? _ 9�----��p_E9dução das estruturas sociais corresp?§cfen
f_ refJ Certo, o conhecimento da matriz institucional que de-
termina as rel ações internas de produção é a chave para
compreender a forma de apropriação do excedente adicional
gerado pelo comércio exterior; contudo ) a forma de utili
zação desse excedente, a qual condiciona a reprodução da
80
}formação social, reflete em grande medida o processo de
/ dominação cultural que se manifesta ao nível das relações
(, externas de circulação.
Chamaremos de 1)Zodernização a esse pr()��J?.Q_de aq9_çio
de padrões de consumo sofisticados (priv�dos e públicos)
Setn:_�:-_S_orrespondente processo de acumul_aç�_? __ -.C:ª?rfaJ e a�. . _
pt;greSs�Üs- métodos produtivos. QuaiiiO _ màfa amplo o
-
"fifü)____SO-
{J!Q1p? do processó-cte~·niOdetiílZàÇ-ã◊----(ê..."iSSo" __ i"ric:1üi
mente as formas de consumo ·cfoTs:···m·as�Dimbé'ffl as militareS)
•m.. r -
a-s···l!ii:ensa tende --�ns:er-a--pressão·---no-senttdo•-âe•··�-üiipl:i"ar-·o
excedente, o _que __pod_e__ ser alcancado mediante expansaó·--aas
ex.e_ort_�ç_ õe� _,__ -_Õ�-_i,?r_ I?_e io �-� .ª.lJil1ent_ ? __ 9a "taxa de explora-·-
-io ,,-- _ -
và"i�- dlZer-· aa proporÇãó" '"dü -- exéédente no rqª:µ'to __
iíqllido. Visto o prOblema e outro ângulo: p◊-Stó··que·--·à··p"i.:es
São no sentido de adotar novos padrões de consumo se
mantém alta - ela está condicionada pelo avanço da técnica
e da acumulação, e a correspondente diversificação do con
sumo, que se estão operando nos países cêntricos -, as
relações internas de produção tendem a assumir a forma que
permite maximizar o excedente. Daí que apareçam crescent�
p3..essões, ao nível da balaga_de__p.agam.entos, quando o país
atinge o ponto de rendimento decrescente na '·'agricultura tra
dicional de exportação e/ou enfrenta deterioração nos termos
do intercâmbio.
A importância do processo de modernização, na mode
lação das economias subdesenvolvidas, só vem à luz plena
mente em fase mais avançada quando os respectivos países
embarcam no processo de industrialização; mais precisamen
te, quando se empenham em produzir para o mercado interno
aquilo que vinham importando. �Y!LI_P_�_Í.�-�L}?.:9§.�_!tias,,_qu_e
.se instalam _nos país..e.s subdesenvolvidos concorrem com �
_ produção artesanal e se destinam a prodm;_ir _._hens___simp.les
destinados à massa da população. Essas indústrias quase não
possuem vínculos entre elas mesm;s, razao pela quar�rião
chegam a construir o-·nu-c1e·o--ae·"i:im_g�-�����X�9: - �·syfiat�
fase mais avançada, quando se objetiva produzir uma__(:?::11�.�
t_el_ açã.o de b��S-Consg_midos pelos gruJ?Os ...�_ociais m_<2_��l:DiZa -
-
81
dos, que o problema se coloca. Com efeito: a tecnologia ln
C<?!P-ºraçhl_ªg--�·-equipamef}_ t_o s i_!1:]_p_Q_rtad9.�_gª9 - ?� r_ el_ ;1�ic,_na corri
_Õ nível de __.?.í;ÚFQ�_I_§:Ç��·-:4�_:_�iPlt�Lª1s:§ _ çado·__p�1) .l?_if�----�- .sim
_ n
com o perfil da demanda ( o graude diyexsiticaç1o elo con
i1,.1..m�.::Set�l'=-trff>de:r:ni. :z:ãÉfé=cii.::;êcX;Jade-. Dessa orientacão
do progresso técnico, e da conseqüente falta de cone;ão
entre �te e o grau de acumulação previamente alcançado, ·
resulta
l
__���c1hc1dad_� _ d _? ----�-ub?escnv_olvimento na _fase cte·
Pena indu_g_rl§.ITiàÇilO-: AO ímf)Of a adoção de métodos pro
dütivos com alta deOS!dade de capital, a referida orientação
cria as condições para que os salários reais se mantenham
próximos ao nível de subsistência, ou seja, para que a taxa
de exploração aumente com a produtividade do trabalho.
O comportamento dos grupos que se apropriam do
excedente, condicionado que é pela situação de dependência
cultural em que se encontram, tende a agravar as desigual
dades sociais, em função do avanço na acumulação. Assim, a
reprodução das formas sociais, que identificamos coITl�
desenvolv1mento:·_ ~·e·st�r 11ga<[a�-��-·�_l -:_--f?�.f!l�S__ ª�-�--�().�Ú?.?_r t_��-�-!1t_ ?
-
condicionaçl<,u:,ela dependêní:i< . Abordemos o prnblema de
outro ângulo: nas economias subdesenvolvidas, o fator bá
sico que governa a distribuição da renda, e, portanto, os
preços relativos e a taxa de salário real no setor em que se
realiza a acumulação e penetra a técnica moderna, parece
ser a pressão gerada pelo processo de modernização, isto é,
pelo esforço que realizam os grupos que se apropriam do
excedente para reproduzir as formas de consumo, em perma
nente mutação, dos países cêntricos. Essa pressão dá origem·
à rápida diversificação do consumo e determina a orientação
da tecnologia adotada. Ela, mais do que a existência de uma
oferta elástica de mão-de-obra, determina o diferencial entre
o salário industrial e o salário no setor de subsistência.
Certo, o grau de organização dos distintos setores da classe
trabalhadora constitui fator importante e responde pelas dis
paridades setoriais desse diferencial. Em síntese: dado o
nível de organização dos distintos setores da classe traba
lhadora, a dimensão relativa do excedente apropriado pelos
82
grupos privilegiados reflete a pressão gerada pelo processo
de modernização.
A industrializ
e _ �o de u?; p_aís perif_é__ri_ c()___ te_11_de: _a _ tomar
aç
_JU.Qrma d manufãtúrã- loca1 daqueles bins d� -����!:1!T1q ___q1:-1_�
eram previamente importados, como é bem sabido de todos
os estudiosos do chamado p�_ {)C:(:'.SSO _Qe _s_ubstitllíÇ�ro·~ae·-1m
f?Ortações. Ora, a composição de uma cesta de bens de con
sumo determina, dentro de limites estreitos, os métodos
produtivos a serem adotados, e, em última instância, a in
tensids.de relativa do capital e do trabalho utilizados no sis
tema de produção. Assim, se é a produção de bens de uso
popular que aumenta, recursos relativamente mais abundan
tes (terra, trabalho não-especialízado) tendem a ser mais
utilizados e recursos relativamente escassos ( trabalho espe
cializado, divisas estrangeiras, capital) menos utilizados do
que seria o caso se fosse a produção de bens altamente so
fisticados, consumidos pelos grupos ricos, a que aumentasse.
Expandir o consumo dos ricos ___ e _i_s_to __ ta11:ib�rn ___é___verdade
para· os países cêntricos - de �;;�j�-ã ·iéf;i ·~;ig�-ifica Íntro
cf�Zir novos procturos···iíá""Cesta de·"bériS de· consumo, o que
r�üe":r"--·aedICàr relarivailiente mais recursos a "pesquisa e
deS"en_\;olvJD,1._ento", ao passo ... que aumenta_r o "·consumo das
mJ!§sas__ �!g!J_i.fiça____ci_íf�ri_Q_ii:-__ _o uso de produtos já conhecidos,
�ç-�j_ª_ produção muito provavelmente está na fase de rendi-
mentos cres_centes. Existe uma estrej_ta_ _ ...c::or_r_elação _ __entre o
8_rau de diversificação de uma cesta de_ b�ns de consumo, de
um Iàdü, 1:·:9J}i�:êlâa _ d0tàÇ'ão dé cãpTt-;:i -por--pessoa- empre
-g�da_ ·e ?_:_ç_o:!I}ple,x_ic;lade da tecnologia, de outro. Mais alto o
nível da renda per capita de um país, mais diversificada a
cesta de bens de consumo a que tem acesso o cidadão médio
desse país, e mais elevada a quantidade de capital por tra
balhador no mesmo. A hipótese implícita no que dissemos
anteriormente significa que as mesmas correlações existem
com respeito a setores de uma sociedade com diferentes ní
veis de renda.
O processo de transplantação de padrões de consumo,
a que deu origem o sistema de divisão internacional do trn-
83
-
balho imposto pelos países que lideram a revolução indus
trial, modelou subsistemas econômicos em que o progresso
técnico foi inicialmente assimilado ao nível da demanda
de bens de consumo, isto é, mediante a absorção de um
.luxo de novos produtos que eram importados antes de
serem localmente produzidos. A dependência, que é a si
tuação particular dos países cujos padrões deconsumo foriffi""
-
inodelados do exterior, pOOe -éxfaiír mesmo na ausência de
í�vestimentos éstrãiigeitós-·díretOs. - COm éfe:íto: esre"-úFl:imo
-
tipo de· inveSúffielltõ -TOl fât◊-- ◊U inexistiu durante toda a
primeira fase de expansão do sistema capitalista. O que im
porta não é o controle do sist.ema-de prodnção �local _p_or
grupos estrangeiros e sim a utilizacão dad.uq_Qe_lli_J2art�_Qp
excedente que circula pelo comércio int.crna.cional Na fa_s e_
de industrialização, o controle da produção por firmas es
trangeiras, conforme veremos, fac1ilta e ag_2fu�aa:-_a···aer,en
dêncía, mas.......uão constitui a caus�_Q_�termi.n?.DJ�----.d�s,t_i;L_ A
propriedade pública dos bens de produção tampouco seria
s11ficiente p�a erradicar o fenômef:,?___9a dependência, -��---- ?
país em guest"a◊-'"Sema1'fféiU'€ffiPÕsição _de satélite cultural
_dos países cêntricos do sistema __ capitalist?__, e _ �e_ enc_- Cmtra
_11uma fase de ;cumulação de capital muito i-�i�;i·;;·I·-·a1can-
- --- .. ·
çadaJX)!'--e·stes- ·u1timos·:-····----
Pode-se ir ainda··-lnais longe e formular a hipótese de
que· um tipo semelhante de colonização culturalvem-ik§.�_tp_
penhando importante papel na transformaçao da natureza
das relações de classe nos países capitalistas cêntricos. A
idéia, formulada por Marx, segundo a qual um processo
crescentemente agudo de luta de classes, no quadro da eco
nomia capitalista, operaria como fator decisivo na criação de
uma nova sociedade, essa idéia para ser válida requer, como
condição sine qua non� que as classes pertinentes estejam
em condições de gerar visões independentes do mundo. Em
outras palavras: a existência de uma ideologia dominante
{que, segundo Marx, seria a ideologia da classe dominante em
ascensão) não deveria significar a perda total de autonomia
cultural pelas outras classes, ou seja, a colonização ideológica
84
destas. Marx, no seu 18 Brumário, quando atribui papel
importante aos paysans parcellaires - nos quais se teria
apoiado Luís Bonaparte -, afirma claramente que eles não
haviam tomado consciência de si mesmos como classe; con
tudo, constituíam uma classe, no sentido de que podiam
servir de fator decisivo nas lutas pelo poder, porque "opu
nham o seu gênero de vida, os seus interesses e sua cultura e'\
aos das outras classes sociais" ._J:rt4e as condições objetivas J
ara a existência de uma classe, portanto, estaria a sua auto- \
nomia cultura . ra s aíses ca italistas cêntricos, essa
� · cultura efere à c as.��,
foi consideravelmente erodida O acesso da massa trabalha
dora a formas de consumo antes privativas das classes que
se apropriam do excedente criou para aquela um horizonte
de expectativas que condicionaria o seu comportamento no
sentido de ver, na confrontação de classes, mais do que um
antagonismo irredutível, uma série de operações táticas em
que os interesses comuns não devem ser perdidos de vista.
Nos países periféricos, o processo de colonização cultiJ:--
ral radica originalmente na ação convergente das classes di
rigentes locais, interessadas em manter uma e,levada taxa
de exploração, e dos grupos que, a partir do cenl!"o do siste
ma, controlam a economia internacional e cujo principal in
teresse é criar e ampliar mercados para o fluxo de novos
produtos engendrados pela revolução industrial. Uma vez
estabelecida esta conexão, estava aberto o caminho para a
introdução de todas as formas de "intercâmbio desigual",
que historicamente caracterizam as relações entre o centro
e a periferia do sistema capitalista. Mas isolar -�-�S?_S __formas
de intercâmbío _ {2_1_,.1_.Jratá-las-como __.uma_ const=qüência _<:{o__ p2:o
C�$_s9. de --�cumulação, sem _ te_r __ eIT.} � ?nt_ a a forma como_ o ex
-
cedente é utílizaclo na__p�_ilf�_iãSo_�_9_L,;pp_�_ct9__ 9g___�91()�t��SI9 .,.J
c;:,rti-1ral, édeixacde:Jâdo aspectos essenciais do problema.
----- Ê interessante obser�ar que o processo de colonização
cultural teve lugar mesmo em regiões em que condições par
ticulares permitiram que os salários locais subissem consi
deravelmente, ou se fixassem a níveis similares aos dos países
85
cêntricos. Foi esta il situação dos grandes espaços vazios das
zonas remperadas, que se povoaram princ:pahnente com imi
gração de origem européia em fins do século passado. A
produção agropecuária para a exportação deséttvolveu�se,
nessas regiões, em concorrência con1 produção similar de
países cênrrkos, então empenhados no processo de industria
lização. A abundância e 2: qualidade dos recursos naturais
permitiram que se criasse um substancial excedente por
pessoa empregada 1 mesmo que a ta:xa de salário tivesse que
ser suficientemente elevada para atraü imigrantes das regiões
menos prósperas da Europa. A forma de apropriação interna
desse excedente e o r::úmero relativo da minoria privilegíadá
variaram conforme as condições histórkas prevalecentes em
cada área. Conrndo 1 na medida em que esse excedente fol
utilizado para financiar a adoção de formas de consumo
engendradas pela industrialização no exterior, ocorreu um
processo de modernização similar ao que antes descrevemos,
A situ2ção de dependêm:Jn existe, nestes casos, na ausência
das formas so<:iaís que estamos habituados á ligar ao subde
senvolvimento, Ela radica fundamentalmente na persistente
disparidade entre o nível do cons::mo (indusive, eventual
mente > parte do consumo da classe trabalhadora) e a acumu�
lação de capital no aparelho produtivo _, porquanto a eleva
ção de produtividade, que dá origem ao excedente, resulta
da utilização e>.:.:ensiva de rec::rsos naturais no quadro de
vantagens comparativas intern<,cionais, A abundância de re
cursos minerais e de fontes de energia 1 entre outros fatores,
permitiu que econon:iias desse tipo tivessem uma precoce
industrialização, ainda que essenciálmente sob o controle de
firmas estrangeiras, É este o caso do Canadá, cuja economia
integta o centro do sistema capítaHsta, não obstante a exrre
ma debilidade dos centros internos de decisão. Na Argentina,
condições hístóricas distintas fizeram gue o processo de in
dustrialização se atrasasse e assumisse a forma de "substi"
tuição\ isto é, de resposta à críse do setor exportador. Em
razão do declfo.io da produtividade, causado pela crise do
setor exportador ) o esforço de capitalização requerido pela
86
industrialização teve que ser considerável. A experiência tem
demonstrado que as economias que se encontram nessa si
tuaç.ão tendem a :alternar sérias crises de balança de paga
mentos com períodos de relativa. estagnação. Como a pressàQ\
no sentido de acompanhar a r�ção dns�es._d;;
�mo no cenfüI s1:t:,uanI@�"�1.trge�n.dência à �n-
centração da reQ,Q!_s_gJn-.1:efle�'"-gas -C:S.trlE!-1�-�_s,cjg�_as ,1
quais tendem a assemelhar-se à5 dosJ?-�js_�s tipicamente sub-
disenvoI�. . onto põe,.em
·e�idêiidâ-élue o fenômeno j,f:-
que: chamamos dependência é rn:;us gera o q�� e- ;
sênvofvimento. Toda PÇQ□omia subdesen_volvida é necessaria� 1
ffi�ç!�penÇ,ente_,.JJ�}����n\;o1vimento é �o
da situacao··ae deµe�d�nçia. lvlas nem sempre a dependência L
criou as formações sÜêiais sem as quais é difkrí caracterizar,
���.
subdes�Qfil!LSL de_�Qb:,ÜJJ�tt��nte '.
c�_b,:cl,"no._q.uadr0__d-ª-d��d_�. 1'-fas o mesmo não [
se pode dizer do processo inverso, se a IléCêSSidade de acom- ·
panbaf_.. os padrões de corisumo d-os paises cêntricos se ana
aUüiãcreSceme alierrnção _4� _ pa_rt�-- _(19: exç�_de_nte_ etn ffiáOs
de -�r_upos _ext�'rfl�_-- �?�.t�rOI�d��e-� do __- a_Éa-relhO_ µrOd;::;:�_h;o,
O fenômeno da - dCpCriGfênêia "S�nlã"nltêStã: fDiciaiffiem�'
--•-<-
c_f �e:�:1!·r��r;;;ªt����r:s� i
�;b:���",'e �u::���;t���íd:u
/ irü:iu"Strias ·dé elevada densidflde de capital, produzindo paril
p�� .·
87
de produção, ou seja, pelo fato de que a tecnologia que
estava sendo absorvida era "inadequada"_ Pretende-se, assim,
ignorar o fato de que os bens que estão sendo consumidos
não podem ser produzidos senão com essa tecnologia, e que
às classes dirigentes que assimilaram as formas de consumo
dos países cêntricos não se apresenta o problema de optar
entre essa constelação de bens e uma outra qualquer. Na
medida em que os padrões de consumo das classes que se
apropriam do excedente devam acompanhar a rápida evo
lução nas formas de vida, que está ocorrendo no centro do
sistema, qualquer tentativa visando a "adaptar" a tecno
logia será de escassa significação.
Em síntese; miniaturizar, em um país periférico, o sis
/f-tema industrial dos países cêntrícos contemporâneos, onde
f a acumulação de capital alcançou níveis muito mais altos,
significa introduzir no aparelho produtivo uma profunda
descontinuidade causada pela coexistência de dois oívd s
---tecnológicos. Este problema não estava presente na fase ante
rior à '' substítuição de importações", simplesmente porque
a diversificação do consumo da minoria modernizada podia
ser financiada com o excedente gerado pelas vantagens com
parativas do comércio exterior. Na fase de industrialização
·tutiva, a extrema dis aridade entre os mve1s e o grau
�_:.-- sf_e__ ·versifica ão do consumo da minoria modernizada e da
massa da popnlaçã◊- deverá incor orar- a o apa
·relho produtivo._ hamado "<lese uilíbrio ao
_nível das fatores" deve ser considerado como inerente à eco
nomia subdesenvolvida que se industrializa. Ademais, se se
tem em conta que a situação de dependência está sendo per
manentemente reforçada, mediante a introdução de novos-
produtos (cuja produção requer o uso de técnicas cada vez
mais sofisticadas e dotações crescentes de capital), torna-se
evidente que o av recesso de industriali�
pende de aumento da taxa de ex oração, isto é, de uma
crescente concentração da renda. Em tais con 1çoes, o cres
cimento econômi 1-
�dade das classes que se apropriam
88
í'
\ a ma10na da população a aceitar crescentes desigualdades
L.socia1s.
\...--- A industrialização, nas condições de dependência, de
uma economia periférica requer intensa absorção de pro
gresso técnico sob a forma de novos produtos e das técnicas
requeridas para produzi-los. E na medida em que avança essa
industrialização, o progress"'o técnico deixa de ser o problema
de adquirir no estrangeiro este ou aquele equipamento e
passa a ser uma questão de ter ou não acesso ao fluxo de
@ovação que está brotando nas economias do centro. Quan
to mais se avança nesse processo maiores são as facilidades
que encontram as grandes empresas dos países cêntricos para
substituir, na periferia, mediante a criação de subsidiárias,
as empresas locais que hajam iniciado o processo de indus
trialização. Caberia mesmo indagar se a demanda altamente
diversificada dos..gtlJRQ§_ modernizados seria jamais sati_§_feita,
com produção local, caso o fluxo de inovações técnicas de
·:vesse ser pago a preçósd:emercado. Esse fluxo é criad-; ou
:controlado por êmpresas ue consideram ser muitii��ffi� S,_
vantajoso expan ir-se em escala internacional do_gi,ealienar
"es5ê-êxlfifórâínano 111 s�-��-��:�t_():_-:_a_ejJo-cfet. Tratar-se-ia não
··somente de entregar O ·coni.roíe- das inovações .,de uso ime
diato, mas também de assegurar uma opção sobre as futuras.
Ademais, o preço da tecnologia teria que ser elevado, para
a empresa local que se limitasse a adquiri-la no mercado, ao
passo que, para a grande empresa que a controla e vem
utilizando no centro, essa tecnologia está praticamente amor
tizada. A este fato se deve que a grande empresa possa, mais
facilmente, contornar os obstáculos de pequenez de mercado,
· falta de economias externas e outros que caracterizam as
economias periféricas. Assim, a cooperação das grandes em
presas de atuação internacional passou a ser solicitada pelos
países periféricos, como a forma mais fácil de contornar os
obstáculos que se apresentam a uma industrialização retar
dada que pretende colocar-se em nível técnico similar ao que
prevalece atualmente nos países cêntricos.
O dito no parágrafo anterior evidencia que, à medida
89
-
�JJ_q.ne avança �Q. nrocesso de industrialização na periferia,
� fo
mais estreito _ tende - a_ __�_e_r o- controle 9_() -- par,ef :, _ _pt(}êit1fivo,
-
ãf''t�_Ç�TI?iQ9;.'.jj_Qj�_ __"_"gr�p Qi_�_ êS_frài1g�·i_r·Õ_s: -E�- �Õ�seq-üêl1cia 2 1
-��J�i�.?-�_-__
· no; _e__ _ porque __têm nou_cos __vú1cU_l_O;> com ()_u_rras_ .a.d�_i_;j:ides
{�d-��trlafs·: - �i�a;e:_;i��--cr)i�:;ç_�!}g"ffi\;_s __ f;:?S� si�ua-
ção particular se traduz na curva tfpic� de crescimento
t1p·o_ -d�_- íiiltfüfl�:::::JlR1d'o.. ..c.resCimelltõ--fr;icial - e .:téndêridi?. ·;.o
nivelamento.
É durante ���cão de jmportacões'; t_._<;1
q_u:al se iíga às tensões da balança de nagame:1.tos, que tem
início a formação de_ um sistema industriaL i\'fas, peJo fato
de oue o consumo dá miD-0�-i-ü-�iTIOdé'iiiíZO:d.a é altamente dl
versÍfic2do, as :indústrias que formam esse sistema ::endem
a enfrentar problemas de deseconomias de escala, que ) se
8.0 nível da empresa podem encontrar soluçãqpar<::íat__na
ffeoteção e nos �t::bsidms_..ao--Di4çl_§.Q�Ü,Ü __*�-g:_ _ ªd.11.zt:m� e_p1
elevados custos, Já fizemos referênda ao fato de que essa
SíiiiãCãõWore·ce----ü---pe11étração das grandes e:r.1presas com
sede nos oaíSés ___Çêijfr1Cos. o que�voi:__5_1.;µlado _ c_or:;nibUTJ,)'ai�
�f�y�t p_s_"_cus.tos..de ..operação,.do___ sj_sJr;m_{l__ h1dust_rial _err. termos
Qg__.9,i ;; !,��--���-�_t_��[lg_ç_!I.@.?:
. .. Esse quadro, que em alguns países
latino�amerkanos se apresentou sob a forma de redução nas
taxas de cresdmento ) de forres crises de balança de paga
mentos e/ou ;:-ápido endividamento externo , J�m ....
. sido des..
crito. particularmente em oublicacões das Nações Unidas_,
�Qmo o resultado ds ,; erGPJ&tao ' da processo de "substitui•
1
91
ram-se esquemas de integração sub-regional sob a forma de
zonas de livre comércio, uniões aduaneiras, etc. Tais esque
mas permitiram, em alguns casos, dar maior alcance ao
processo de "substituição de importações", mas em nada
modificaram os dados fundamentais do problema, que têm
as suas raízes na situação de dependência anteriormente
descrita. 1
O crescente controle externo dos sistemas de produção
dos países periféricos abre para estes últimos nova fase
evolutiva. Assim, o aumento dos custo_� _eIU __divísas__estran
geiras da produção ngaa·a··-ao ·ptôptló·--�erc- ado inte;��---Ctia
_· fe·i"=i Sõ"es idicionais nas balanças de pagamentos dos respectivos
,Pàíses, as quais levam, em alguns casos, ao bloqueio_ do pro
cêsso 'de industrialização, ou criam condições que favorecem
a busca de soluções alternativas através de "correções" com
pensatórias. À extraordinária flexibilidade das grandes em
presas de atuação internacional deve-se que tais problemas
venham encontrando solução com um mínimo de modifica:
ções nas estruturas sociais tradicionais. Com efeito: graças
às transações internas que realizam as grandes empresas no
plano internacional, os países periféricos se vão capacitando
para pagar com mão-de-obra barata os seus crescentes custos
92
de produção em moeda estrangeira._ As,..IJQ:s@.s formas de
. �conomia subdesenvolvida, que crescem à base de ex orta
ções de··-tra ·n a redutos industriais
manufaturados por empresas f'Sttangeiras e destinados a mer
cados externos apenas começam a definir o seu perfil. Mas,
1 se se tem em conta ue a propor ão do excedente_ ·
\ -· o extei-10r e considerável nodo indica aue a taxa de explo
jração tenda a d€:CHilaú)�:ffi ô{iúas·· p·alàvras: se as condições
geriis Jigádí35-- à- situação- de dependência persIStem nada su
gere que a industrialização orientada para o exterior contri
bua para reduzir a taxa de exploracão, tanto mais que.., a
própria razão de ser desse tipo de industrialização na peri
feriãe a existência de trabalho barato.
Podemos agora tentar destacar o que dá permanência
ao subdesenvolvimento, ou seja, como a estrutura que per
mite identificá-lo reproduziu-se no tempo. A d1v1sao mter
nacion_a,1 __i:Í.Q _tr_fibalho, imposta pelos países que lideraram·· a
·ReVOI1ção Industrial, deu origem a um excedente, o qual
permitiu às classes dirigentes de outros países (periféricos
ao sistema) - nos quais não havia industrialização - ter
..?cesso a padrões diversificados de consumo engendrados pelo
intenso progresso técnico e acumulação de capital ço_ncen
;rados no centro do sistema. Em conseqüência, os países
--· periféricos puderam elevar a taxa de exploração sem que
houvesse redução na taxa de salário real e independentemente
da assimilação de novas técnicas produtivas. Desta forma,
surgiu nos países periféricos um..2..e_rfil de demanda caracte
rizado por marcada descontinuidade�-·pãr-rfr·- -do--··momento
êin ·qüe··o setór exportador entrou na fase de rendimentos
decrescentes, a industrialização orientou-se para a (( substi
tuição de impoÍ-tação". Devendo miniaturizar sistemas indus�
triais em um processo muito mais avançado de acumulação
e devendo acompanhar a rápida diversificação da panópfia
de bens de consumo dos países de mais alto nível de renda,
o.s países periféricos foram levados a ter que aumentar a
taxa de exploração, ou seía, a concentrar cada vez mais a
renda. Por outro lado, o custo crescente da tecnologia, con-
93
juntamente: com a 2.celeração do progresso técnico 1 facilitou
ã- pel1etração das grandes- empresas de ação internacionàl---o
que intensificou ainda mais a difusão dos novos padrões-de
consumo surgidos no centro do sistema e levou a DJ(tfo_r
estreitamento dos vínculos de dependência.
Os pontos essenciais do processo são os seguintes: a
matriz institudonal pr<::existeme, orienrn.da p.;ira a concen�
tração da riq11.eza e da renda; as co:1.dições históricas ligaàas
à emergência do sistema de divisão internacional do trabalho,
as quais estimularam o comércio cm função dos .interesses
das economias que lideravam a Revolução Industrial; o au�
mento da taxa de exploração nos países periféricos e o �so
do excedente íldícionai pelos gt'1pos dirigentes locais, do que
resultou a ruptt:ra t1s1ltural que se manifesta .através do pro
cesso de modernização; _§., ..orientaç;tlo do proc:esso de ind:q_;;
trialização em funcão dos interesses da minoria modernizada,
que criou condições para que a taxà de salário real per_lüa
necesse pr��.ubsistêng�; o custo crescente da
tecnologia requerida para acompanhar, mediante produção
local, os padrões de consumo dos países céntri:::tJS; o que por
seu lado facilitou a penetração das g:andes empresas de ação
internacional; a necessidade de fazer face aos custos cres
centes em moeda estrangeira da produção destinada ao mer
cado interno > abrindo o caminho a exportação de mão-de-obra
barata sob o disfarce de produtos manufaturados,
O subdese:1Volvimento tem suas raízes numa conexão
recÍ�·a sur ida--;;m certas condições histórícas > entre�
cesso interno de exploração e o processo externo de epen
dência. Quanto mais intenso o influxo de novos padrões de
con;mmo mais concentraàa terá que ser a renda. Portanto )
,se aumenta a dependência externa:, também terá que auü-i:'en
tar a taxa interna de exploração. rvíais ainda: a elevaçao êta
taxa de crescimento tende a acarretar agravaç.ão tanto da
dependência externa como da exploração interna, Assim 1
tro:as mais altas de crescimento, Ionae de reduzir o subde
senvolvimento. tendem a .agravá:.10 1 no semido de que ten
dem a aumentar as desigua_ldades soc1a1s.
94
Em conclusão: o subàesenvolvimento deve ser enten
_dído como um professo, vale dizet, COnlO mrr-ronftiõto"·-de:
fõtÇ�se·m--l�jef-iÇãcr-f-·drp:;rzesdê reproduzir-se no tempÔ. i
Pót-·Seu intetrr:.édlo, o capitalismo rem conseguido difun
air:se·em amplas áreas do mur1do sem"'compromet_er ··ru;-ê�S-��-lJ·
'I
TÜfas sociais preexistentes nÚsas área$-. O se-u p2pel -na
construção do t.�resen·te s1sterr:i·~cap1talíh:T::i· üfüüúiâl -_!ein -Sido
ª-��
fifru:rameJ;:tn.L.e_�s�.. d.m?inTsmO- "c"õritTDüa- conSide�:ivel: novas
f◊�-�;; de _eco_�_()toi_as__ s��ªe;en�:?1�1&1·s_· p1enamen_te_ ·irQ:-1stria-
1IZadas �;ou:· Orfe�tâ_d8:S__ "P�ra - à_ e�P.9t�?:).�Q___ !?-�_11:_ufa_t1:1ras
�St_ã�___apenaS :emergiti?o.J�j(lesn{o possível que ele s·êjf1 ine�
re"n"te :ao·· SiStEinã "cãpi'ta1ísta; isto ê/ que nao possa haver
-� c;_pitahsmo sem as relações ass1métricas entre subsístemâs
,,_
economKos e as formas de exploração social que estão na
! bãse do subdesenvolvtmento. Mas não temos a pretensin]:e
pÕcterckmonstrar esta última hipótese.
1-.. --.�,-----·-·~-,-
95
CAPfTULO III
Desenvolvimento e modernização
97
crescendo e se dffur.:díndo desde o seu surgimento. Assim
sendo, é totalmente enganoso construir um modelo de uma
economia subdesenvolvida como um sistema fechado, Isolar
uma economia subdesenvolvida do contexto geral do sistema
capitalista em expansão é pôt de lado, desde o início, o pro
blema fundamental da ni1tureza das relações externas ·de tal
economia.
Vamos definir o progresso técnico como a introdução
de novos processos produtivos capazes de aumentar a efí
dência na utilização de recursos escassos e./ou a introdução
de novos produtos capazes de ser incorporados à cesta de
bens e serviços de consumo. E vamos supor que desenvolvi
mento econômico implica na dífusão do uso de produtos já
conhecidos eíou na introdução de novos produtos 8 cesta
dos bens de consumo.
Pelo fato o acesso a novos produtos ser ) com raras
exceções, Íírnitado, pelo menos durante uma fase inicial, a
urna mlnoria formada por pessoas de -altas tendas 1 o desen�
volvimento baseado prindpalmente na introdução de novos
produtos corresponde a um processo de concentração de ren
da. E pelo fato de a difusão significar acesso de um maior
número de pessoas ao uso de produtos conbecidos, o desen,
voivhnento baseado principalmente na difusão corresponde
a um padrão de distríbuição mais lguafüária da renda.
Além disso� uma condição necessária em qualquer pro
cesso de desenvolvimento econômico é a acumulação de ca.
pital, tão importante para a difusão de produtos -conhecidos
quanto para a introdução de outros novos. Nlàs há razões
para se acreditar que a introdução de novos produtos, no
conjunto de bens de consumo, requer uma acumufação rela
tivamente maior de capital do guc a difusão de produtos
conhecidos. Por exemplo: a introdução de um novo modelo
de automóvel de uma certa categoria requer maís investi•
mentes (inclusive pesquisa e desenvolvimento) por unidade
do que o aumento da produção do modelo correspondente
que já vinha sendo produzido. Há um outro modo de enfocar
98
este problema; quanto mais diversificada a cesta de bens de
consumo, maior terá de ser a renda das pessoas que conso..
mem esses bens e maior a soma de capital exigída par.a satis�
fazer as necessidades dessa pessoa. O cidadão amerküno
médio recebia, em 1970, urna renda de aproximadamente
4 000 dólares por ano, e a esse nível de renda correspondia
determinada cesta de bens de consumo. Esse conjunto de
bens tornou�se possível graças a um processo de acumulação
de capital que se elevava a cerca de 12 000 dólares por habi
tante do pais. O cidadão brasileiro recebia em média urna
renda de aproximadamente 400 dólares por ano e o capital
acumulado no Brasil atingia a soma de cerca de 1 000 dólares
por habitante. Desse modo, o conjunto de bens de consumo
ao qual o brasíleho médio tem acesso tinha que ser muito
menos divetsificàdo do que o que prevalecia nos Estados
Unidos.
O aumento da renda de uma comunidade pode resultar
de pelo menos três processos diferentes: a) o desenvolvi
mento econômico: isto é 1 acumulação do capital e adoção de
processos produtivos mais eficientes; b) a exploração de re
cursos naturais não-renováveis; e -e) a realocação de recursos
visando a uma especialização num sistema de divisão ínter
nacional do trabalho. O aumente da renda implíca em diver
síficação do consumo, introdução de novos produtos, etc
Assim, esse aumento pode ocorrer numa comunidade sem
desenvolvimento econômico, isto é, sem acumulação de ca
pítal e introdução de processos produtivos mais eficientes.
Ele pode representar simplesmente um incremento devido
aos itens b e/ou e, acima mencionado·s. Chamemos moder
nização a este processo de adoção de novos padrões de con
sumo_" correspondente a níveis mais elevados de renda, na
ausência de desenvolvimento econômico.
Os países hoje conhecidos como subdesenvolvidos são
aqueles onde ocorreu um processo de modetniz2ção: novos
padrões de consumo (introdução de novos produtos) foram
adotados como resuitado de uma elevação da renda gerada
l,pelo tipo de mudanças mencionadas nos itens b e e acima,
l,
99
No Brasil, durante um longo período, os aumentos da renda
(produtividade econômica) foram basicamente o resultado
de uma simples realocação de recursos visando à maximiza�
ção de vantagens comparativas estáticas no comércio exterior.
A passagem da agrkultura de subsistência para a agricultura
comercial não pressupõe necessariamente uma mudança da
agricultura tradicional para a moderna. Quando gerada pelo
comércio exterio!, porém tal passagem acarreta um cresci�
1
100
o setor do mercado que está realmente em expansão, e a
verdadeira industríalíz.ação somente se.rá possível se orien�
tada para ele. Dados os diferentes comportamentos das duas
cestas de bens de consumo, a primeira em expansão lenta e
sem a introdução de novos bens, e a segunda crescendo rapi
damente principalmente através da inclusão de novos pro•
dutos, os dois setores industriais somente em grau muito
pequeno competem pelos mesmos mercados e podem manter
padrões diferentes de organização e mercadologia (ma1ke
ting). Mas, uma vez que o setor que produz para a minoria
rica se adianta em relação ao outro 1 as necessidades em capiM
tal e tecnologia moderna tendem a crescer rapidamente. Em
conseqüência, a criação de novos empregos por unidade de
investímento declina. Ademais, as indústrias, cojo mercado
é a massa da população, estão destinadas a sofrer transfor
mações importantes em decorrência do processo de indus
trialização baseado no segundo tipo de bens de consumo (os
destinados à minoria privilegiada). Economias de escala e
externas podem também beneficiar a massa da população,
e produtos como plásticos e fibras podem ser incorporados
ao consumo popular. Em conseqüência da integração pto
gressíva do sistema industrial, tende a aumentár a adoção
de processos de utilização intensiva do capital nas indústrias
que inicialmente se df'.senvolveram em competição com ati
vidades artesanais locais. O progresso técnico deixa de ser
uma questão de compra de um certo tipo de equipamento,
e passa a depender do acesso às inovações que surgem em
grande quantidade nos países ricos. Nesta fase, as filiais de
corporações multinacionais facilmente superam as firmas lo
cais, particularmente ruis indústrias voltadas para o mercado
diversificado. Mais precisamente, esta cesta diversificada de
bens de consumo nunca seria produzida localmente se o
fluxo de inovações técnicas tivesse que ser pago a preços
de mercado. Apesar do fato de, pa.ra uma grande empresa
de atuação internacional, operando num país subdesenvol
vido, o custo de oportunidade de tal afluxo de inovações ser
praticamente zero, tal empresa nunca abriria mão delas em
101
favor das firmas locais independentes, a não ser por um
preço muito elevado.
A industrialização das economias onde se inicia um
processo de modernização tende a enfrentar uma dupla difi�
culdade: se as indústrias locais continuam produzindo a
primeira cesta de bens (indústrias com efeitos fracos de enca
deamento) e a segunda tem que ser importada, o país nunca
alcançará o ponto necessário para formar um sistema indus
trial; e se as indústrias locais voltam-se para a produção da
segunda cesta de bens, podem ocorrer rendimentos decres
centes, em razão do tamanho reduzido do mercado local.
Alguns países com grandes dimensões demográficas e um se
tor exportador altamente rentável conseguiram superar estes
obstáculos: este foi o caso do Brasil. Isto não significa que
o capitalismo industrial pode operar no Brasil segundo as
regras que prevalecem numa economia desenvolvida. Nesta,
a expansão da produção significa aumento paralelo do custo
da força de trabalho, isto é, do valor acrescentado pelo tra
balho no processo de produção. E porquanto a procura é
gerada principalmente por pagamentos ao trabalho, a expan
são da procura tende a seguir o crescimento da produção.
Nas economias subdesenvolvidas, o valor acrescenrndo pelo
trabalho tende a declinar em termos relativos, durante as
fases de expansão. Os aumentos da produtividade criados
por economias internas ou externas tendem a beneficiar ex
clusivamente os proprietários de capital e, dada a estrutura
dos mercados, nada os pressionará a transferir os frutos do
aumento da produtividade aos consumidores, a minoria mo
dernizada. Por outro lado aumentar a taxa salarial levaria
a um crescimento dos custos sem alargar o mercado, uma
vez que os trabalhadores estão vinculados a uma cesta de
bens diferente. O fato é que o sistema opera espontanea
mente, beneficiando uma minoria pequena demais, os pro
prietários de capital. Como deveria o processo de concentra
ção de renda, inerente ao sistema, ser dirigido a fim de criar
um elo entre o incremento da produtividade nas indústrias
produtoras dos bens do segundo grupo (diversificado) e os
102
consumidores que têm acesso a esses bens? Na terceira parte
deste ensaio examinaremos o tipo particular de solução ado~
tado pelo Brasil.
103
sua capacidade produtiva; por outro lado, há razões par:a
acreditar que a economia tem sido íncapaz de gerar o tipo
de procura requerido para obter a utílízação adequada da
capacidade produtiva.
Não me referi ao nível da demanda efetiva, mas ao tipo
de demanda. Na realidade, estamos muito longe da hipótese
keynesiana de insuficiência dg de-manda efetiva. Durante o
período considerado 1 a economía brasileira operou sob forte
pressão do excesso de demanda monetária, com uma alta
taxa de inflação� tanto em períodos de rápiào crescimento
. corno nos de relativa estagnação.
f "'·
11inha hipótese básica é que o sistema não tem sído
capaz de produzir espontaneamente o perHI de demanda
capaz de assegurar uma taxa estável de crescimento, e que o
crescimento a longo prazo depende de ações exógenas do
governo. Deve-se levar em conta também o fato de que
durante o período em discussão as indústrias que produzem
para a minoria modernizada tornaram-se cada vez mais con
troladas por empresas dirigidas do centro do sistema capi�
talista.
'�, .,Um ráoido crescimento industrial, nas condições par
/1:fculares ho[e vigentes no BrasíC implica numa intensa absor
ção de progresso técnico sob a forma de novos produtos e
de novos processos requeridos para produzi-los. O custo de
oportunidade de tal progresso técnico está num nível mínimo
quando podem reproduzir o que elas criam e amortizam nos
países responsáveis pelo financiamento de pesquísas e desen
volvimento, � está num nível máximo quando elas têm que
lntroduzir nova pesquisa e desenvolvimento. Conseqüente
mente, a expansão industrial se desenvolve através de um
entrosamento das indústrias locais com os sistemas indus
triais dominantes, dos quais emerge o fluxo de nova tecno
logia. Por um lado, as referidas grandes empresas apegam�se
aos seus projetos já comprovados nas matrizes, como o me
lhor caminho para maximizar crescimento e lucros; por outro
i
lado, minorias modernizadas procuram manter-se atualizadas
em relação à última palavra em padrões de consumo, ao
104
dernier cri lançado na metrópole, Contudo, se bem que esses
dois grupos têm interesses convergentes; o sistemá não está
estruturalmente capacitado para gerar o tipo de demanda
requerido para assegurar sua expansão,
As ondas sucessivas de expansão industrial no Brasil
durante o período de após�guerra não podem ser explicadas
se não se tem em mente o papel autônomo dest!J.-npenhado
pelo governo, tanto subsidiando investimento como amplian
do a demanda, O quadro geral foi o processo de substituição
de importações. Criando novos empregos, este processo am
pliou o mercado para bens de consumo popular, mas, dadas
as pequenas proporções do mercado para bens de consumo
durável, a produção local destes foi acompanhada de ten
dência ao aumento de seus preços relativos, com efeitos ne•
gativos sobre a procura. Este efeito negativo foi combatido
até meados dos anos 50 por ações do governo visando a
reduzír os preços dos equipamentos importados, por meio
de rnxas diferenciais de câmbio, e objetivando também subsi
diar investimentos industríais (partkularmente em indústrias
que produziam sucedâneos de bens importados), principal
mente através de empréstimos com taxas de juros negativas,
Parte dos recursos utilizados para executar esrn política ori
ginavfVie de uma melhoria nos termos do intercâmbio que
ocorreu nesse período. A redução pela metade do custo real
do capi.tal fixo ajudou as indústrias produtoras de bens de
consumo durável a conseguir lucros, mesmo tendo de operar
com urna larga margem de capacidade ociosa. Na segunda
metade dos anos 50, quando os termos do intercimbio se
deterioraram, o governo se lançou numa política de endivi•
damento externo que tornou possível o prosseguimento dos
subsídios. Ao mesmo tempo, o governo engajou�se numa po�
lírica de grandes obras públicas: a construção de Brasília e
de urna rede nacional de rodovias, inclusive estradas pionei
ras, como a Belém-Brasília_ Mais recentemente, como vere�
mos� tomanun-se medidas com efeitos diretos sobre a dlstri
buíção da renda, a fim de produzir a qualidade ou perfil de
demanda que melhor se ajusta ans planos de expansão das
105
grandes empresas de atuação internacional e às expectativas
da minoria modernizada.
A nova estratégia
106
As firmas controladas por capitalistas locais também
têm um papel nesse sistema. As indústrias que produzem
para a massa da população enfrentam o problema do cresci
mento lento da procura, porque a taxa de salário real do
trabalhador não-qualificado está em declínio ou estagnada.
Entretanto, os mercados para estas indústrias se ampliam ho
rizontalmente, graças ao crescimento demográfico e à trans
ferência de pessoas anteriormente ocupadas em atividades
ligadas à subsistência para o setor que paga o salário mínimo,
garantido pela legislação social. Como esta cesta de bens de
consumo não inclui a introdução de novos produtos, o con
trole do progresso técnico não é importante como fonte de
poder de mercado. Em conseqüência, neste setor as grandes
empresas não têm as mesmas vantagens ao competir com
os capitalistas locais.
Considerando o sistema industrial como um todo, per
cebemos que as grandes empresas controlam as atividades
que se baseiam principalmente no progresso técnico (as ativi
dades nas quais o fluxo de novos produtos é mais intenso),
a saber, a produção de bens de consumo duráveis e equipa
mentos em geral. O Estado tem uma importa,nte participação
nas indústrias produtoras de bens intermediários, e os capi
talistas locais controlam uma boa parte das indústrias pro
dutoras de bens de consumo não-duráveis. Outrossim, as
firmas locais operam, sob contratos, como linha auxiliar de
produção para as grandes empresas de atuação internacional
e para as empresas estatais 1 acrescentando flexibilidade ao
sistema. Certo 1 as referidas grandes empresas estão passando
por um processo de integração vertical, em certos setores,
absorvendo firmas nacionais, e também estão se expandindo
em importantes setores de bens de consumo não-duráveis.
A indústria de gêneros alimentícios sob o controle dessas
grandes empresas está produzindo para os grupos de renda
superior, introduzindo a miríade de produtos que lotam os
supermercados dos países ricos. Todavia, as linhas básicas
do sistema são aquelas apresentadas acima, e podemos dizer
que os três subsetores desempenham papéis até certo ponto
107
complementares. Entretanto, é importante enfatizar que o
dinamismo do sistema repousa sobre a intensidade de trans
missão do progresso técnico, na forma em que este é visua
lizado pelas grandes empresas controladas do centro. Em
outras palavras, quando o custo de oportunidade do pro
gresso técnico é praticamente zero para as subsidiárias dessas
empresas a taxa de crescimento do sistema industrial tende
ao máximo.
Dadas as características da economia brasileira, forma
da por um mercado altamente diversificado mas de propor
ções reduzidas, e outro mercado relativamente grande mas
com baixo grau de diversificação, as indústrias de bens de
consumo duráveis se beneficiam muito mais das economias
de escala do que as indústrias de bens de consumo anterior
mente existentes. Conseqüentemente, quanto mais concen
trada é a distribuição da renda, maior é o efeito positivo para
a taxa de crescimento do PIB. Desse modo, a mesma quan
tidade de dinheiro, quando consumida por pessoas ricas,
contribui mais para uma aceleração da taxa de crescimento
do PIB do que quando consumida por pessoas pobres. Su
ponhamos que os bens de consumo cuía demanda está em
rápida expansão sejam os automóveis; é bem provável que
a construção da infra-estrutura não acompanhe o crescimento
da frota de automóveis e a eficiência no uso dos veículos
tenda a declinar. Isto significa mais consumo de combustí
vel e maior número de reparos por quilômetro, como uma
conseqüência dos engarrafamentos de tráfego, etc. Tudo isso
também contribuirá para um aumento da taxa de expansão
do PIB. Podemos levar este raciocínio mais longe. A concen
tração de renda cria a possibilidade de maior discriminação
de preços. De fato, alguns detalhes acrescentados a certos
carros (novos modelos) permitem a ocorrência do sobrepreço
e a quase-renda assim criada para o produtor também con
tribuirá para o incremento do PIB. Em resumo: o desper
dício de recursos, mediante o consumo supérfluo de uma
minoria rica, contribui para a inflação da taxa de crescimento
108
do PIB - e também pode "inflar" o prestígio dos gover
nantes.
Outro fator que precisa ser levado em consideração é
a taxa de afluxo de capital estrangeiro. Se o perfíl da de
manda se ajusta às necessidades das grandes empresas 1 as
possibilidades de mobilizar recursos financeiros no exterior
serão obviamente maiores. Na realidade, as coisas não são
tão simples, porque as perspectivas da balança de pagamen
tos dependem de outros fatores ligados à capacidade de
exportação prevista. Entretanto 1 não se alterando os demais
fatores, se a taxa prevista de lucro das grandes empresas é
mais alta ) a entrada de capital estrangeiro será maior ) so
mando-se às poupanças locais e dando flexibilidade à econo
mia, ao menos a curto prazo.
Resumindo: determinado perfíl de demanda, que cor
responde a uma crescente concentração na distribuição da
renda e a um crescente distanciamento entre os níveis de
consumo da maioria rica e da massa da população, gera uma
composição de investimentos que tende a maximizar a trans
ferência de progresso técnico através das grandes empresas,
e a fazer crescer o afluxo de recursos estrangeiros. Assim,
a política que visa produzir aquele perfíl de.demanda ten
derá também a maximizar a expansão do PIB.
Dentro deste quadro geral, o gov.gno_b.rasileiro tem
procurado atingi_r____quatro objetivos -básicos: a) fomentar e
dif1gir-'O processo de concentração de renda (processo este
irierente às economias capitalistas subdesenvolvidas em geral)
para beneficiar os consumidores de bens duráveis ) isto é, a
minoria da população com padrões de consumo semelhantes
aos dos países cêntricos; b) assegurar um certo nível de
transferência de pessoas do setor de subsistência para os se
t9_res beneficiados pelo salário mínimo legalmente garantido;
c) cõrilrolar·· o --dífê·te/1�\�1 ·erifre ó _:s_�l_ári9- _mínimo garantido
por lei e o nível de renda no setor- de Subsistência; durante
seis anos cons�<:-�!.f�9_s,_ _ 9_ governo -logrou reduzir o nível do
salário rrifoímÕ real e compatibilizar a transferência de pes
soas do setor de subsistência com um processo intenso de
109
(- concentração de renda; e d) subsidiar a exportação de bens
manufaturados a fim de reduzir a pressão sobre os setores
produtores de bens de consumo não-duráveis, cuja procura
cresce lentamente, em razão da concentração de renda, e
também para melhorar a posição da balança de pagamentos.
Os objetivos mencionados nos itens b e c são variá
veis sociais instrumentais requeridas para manejar as tensões
sociais, originadas do processo de concentração de renda,
particularmente quando o salário real médio esteve decli
nando. A criação de novos empregos é um meio de reduzir
a carga da população já ocupada; sendo grande o número
de dependentes por família o número de pessoas remune
radas em cada família pode aumentar, o que torna a redução
da taxa salarial mais fácil de ser aceita. Ademais, esta polí
tica permite reduzir o custo do trabalho para as grandes
empresas, sem diminuir seus mercados respectivos.
A parte mais complexa dessa política se refere ao pro
cesso de estímulo e orientação da concentração de renda.
Para obter o resultado desejado, o governo brasileiro tem
usado vários instrumentos, especialmente as políticas credi
tícia, fiscal e de renda.
O primeiro surto de procura de bens de consumo du
ráveis originou-se de uma rápida expansão do crédito aos
consumidores, beneficiando a classe média alta. A inflação
resultante reduziu a renda real da massa da população, libe
rando recursos para uma política de investimentos públicos
e, ao mesmo tempo, ajudando a reduzir os custos de produ
ção das empresas privadas. O aumento da taxa de lucro das
empresas produtoras de bens de consumo duráveis foi muito
rápido, criando um impulso para a expansão dos investimen
tos privados. Se considerarmos o fato de que as empresas
produtoras de bens de consumo duráveis vinham operando
com urna larga margem de capacidade produtiva ociosa, e
de que essas empresas obtêm substanciais economias de es
cala durante a expansão, podemos facilmente entender o
surto de crescimento ocorrido.
O nível de lucro extremamente elevado e o boom dos
110
:· investimentos, particularmente no setor industrial, que pro
duz para a minoria privilegiada, abriram as portas para uma
política de distribuição de renda favorecendo grupos supe
riores da escala salarial, uma vez que a oferta de quadros
profissionais era relativamente inelástica. Esta situação, coin
cidindo com um declínio do salário mínimo, engendrou uma
extrema concentração da renda não derivada da propriedade.
Uma tendência similar pode ser observada dentro do setor
público.
No entanto, foi através da política fiscal que o governo
perseguiu o objetivo mais ambicioso de tornar permanentes
as novas estruturas. Variados e generosos "incentivos fiscais"
foram concedidos visando à criação de um grupo considerável
de pessoas beneficiárias de rendas mobiliárias dentro da
classe média. Na realidade, cada contribuinte do imposto de
renda (aproximadamente 5 por cento das famílias) foi indu
zido a formar uma carteira de investimentos, como alterna
tiva ao pagamento de parte do imposto devido. Os pobres,
com uma pesada carga de impostos indiretos, estão excluídos
desses privilégios. O objetivo aparente do governo ao adotar
essas medidas é ligar o poder aquisitivo da alta classe média
ao fluxo mais dinâmico de renda: o fluxo de lucros. Sob
este ponto de vista particular màs importante pode-se dizer
que_ o Brasil está engendra 1_1cfo_y_II?-___ 17-<:)y9__JÍP-º.--c:I�___çª2Lt?E?'.!!1_0,
extremamente depe!1den-te da apropriação e utilização dos
lucros para gé:ar ··-cer·Eo--"i:íp·o··--cte··-ga.'StOS-_---_ae. consuriio. Isto
somente pode ser obtido através de uma ação decisiva por
parte do Estado para forçar as empresas a abrirem seu capi
tal (o que é particularffiente difícil no caso das empresas
controladas no centro) e a adotarem uma política adequa
da de distribuição de dividendos. Outra alternativa seria a
acumulação de uma dívida pública crescente nas mãos da
alta classe média, cujo fluxo de juros teria que ser alimentado
com recursos provenientes de um imposto sobre os lucros
daquelas empresas. Nunca uma economia capitalista foi tão
dependente do Estado para articular a demanda com a oferta.
A característica mais significativa do modelo brasileiro
111
é a sua tendência estrutural para excluir a massa da popu
lação dos benefícios da acumulação e do progresso técnico.
Assim, a durabilidade do sistema baseia-se grandemente na
capacidade dos grupos dirigentes em suprimir todas as for
mas de oposição que seu caráter anti-social tende a estimular.
112
CAPÍTULO IV
113
na nos livros de texto, a resultante da interação de duas for
ças, a procura e a oferta, dotadas de existência objetiva,
Seria o caso, por exemplo, se a oferta de feijão dependesse
apenas da precipitação pluvíométrica e a sua procura das
_pecessidades fisiológicas de um grupo definido de pessoas.
Mas a verdade é que a oferta de feijão está condicionada
por uma série de fatores sociais com uma dimensão histórica,
os quais vão desde a manipulação do crédito para financiar
estoques até o uso de pressões para importar ou exportar o
� produto ) sem falar no controle dos meios de transporte 1 no
grau de monopólio dos mercados, etc. Da mesma maneira,
a demanda resulta da interac,.-io de uma séríe de forças sociais,
que vão da distribuição da renda até a possibilidade que
tenham as pessoas de sobreviver produzindo para a própria
subsistência. Quando apHca o método analítico a esse fenô�
meno (o preço do feijão), o economista diz: constantes todos
os demais fatores, se aumenta a oferta do feijão, o preço
deste tende a diminuir. Ora, o aumento da oferta também
modifica outros fatores, como o grau de endividamento para
estocagem, a pressão para exportar, etc. A ídéia de que tudo
o mais permanece constante, que -é essencial para o uso do
aparelho at1alítico maternático (graças a esse recurso meto�
dológico� múltiplas relações entre pares de variáveis podem
ser tratadas simultaneamente na forma de um sistema de
equações diferenciais parciais)., essa idéia leva a modificar
em sua própria natureza o fenômeno econômico. Se a oferta
começa a aumentar. os -compradores podem antecipar au�
mentos maiores, baixando os preços muito mais do que seria
de prever inicialmente. Assim, a própria estrutura do siste
ma pode modificar�se, como decorrência da ação de um fator.
É que toda decisão <."Conômica é parte de um conjunto de
decisões com importantes projeções no tempo. Essas decisões
encontram sua coerência í1ltima num projeto que introduz
um sentido unificador na ação do agente. Isolar urna decisão
do conjunto dotado de sentido, que é o proieto do agente,
considetá-fa fora do tempo e em seguida adicioná-la :a deci
sões pertencentes a outros projetos; como se se tratasse de
114
elementos homogêneos, é algo fundamentalmente distinto
do que em ciência natural se conside;:a como legítima apli
cação do método analítico,
Quando se percebe essa diferença epistemológica 1 com
preende-se sem dificuldade que em economia o conhecimen�
to dentifico; isto é 1 a possibfüds:de de verificar o que se
sabe e de utilizar o conhecimento para prever (e-, portanto,
para agir com maior eficácia), não pode ser alcançado dentro
do quadro metodológico em que vem atuando a chamada
"economia positiva )) .
Essa conclusão se impõe de forma ainda mais clarn com
respeito à análise macroeconômica, a qual pretende explic<eu
o comportamer..to de um sistema econômico nacional. Neste
caso, as definições dos conceitos e categorias básicas da fü.1.á
Hse estão diretamente influenciadas pe1a visão inicial que
tem o economista do pro.feto implícito na vída social. Est2
, se apresenta como um processo, ou seja, como um conjunto
, de fenômenos em ínteração que ádqulrem sentido (são inte
ligíveis globalmente) quando observados diariamente, Essa
percepção global do processo social é principalmente obtida
mediante observação dos agentes que controlam os principais
, centros de decísão, ou seja, gue exercem poder.- A existência
, de um Estado facilíta a identíficação das estruturas centrais
de poder. Da mesma forma .a concemr:aÇ"ilo do poder econô�
mico (grandes empresas) e da manipulação da informação
(grandes cadeias de jornais e estações de rádio) facilitam a
identificação de estruturas colaterais de poder. É em torno
, das decisões emanadas àos centros principais de poder que
se ordena o amplo processo da vida social. �em o mais
ingênuo jovem economista doutrinado em Chkago acredita
hoje em dia no mito da "sobcrnnia n do consumidor como
princípio ordenador da vída económica. Demais, admitída a
hipótese da "'soberania" do consumidor J em que basear a
introdução do postulado da homogeneidade, isto é 1 como
somar as preferências de um milionário com as de um pobre
que passa fome?
As hípóteses globais,, que emprestam um sentido à vida
115
social, são o ponto de partida de todo economista que define
categoria de análise macroeconômica. E essas hipóteses glo
bais são formuladas a partir da observação do comportamen
to dos agentes que controlam os centros principais do poder:
não interessa saber se aqueles que o exercem derivam sua
autoridade do consenso das maiorias ou da simples repres
são; se o consenso <las maiorias resulta da manipulação da
informação ou da interação de forças sociais que se contro
lam mutuamente. No caso_,, apenas interessa assin��q:µ_e___o.s
que mandam falam em nome da coletividade.Quaisquer que
sE:jarrr-·áçífiõtíVãÇões-·--dó·- qu-e-·IegisJa····sobre-itnpostos, do que
decide onde localizar uma estrada e do que arbitra entre a
construção de um hóspital e a de um quartel, as decisões
tomadas sobre esses assuntos condicionam a vida coletiva.
(b certo que o estudioso da vida social poderá considerar
1
muitas dessas decisões equivocadas, isto é, incapazes de pro
duzir os resultados esperados pelos agentes que as tomaram;
ou inadequadas, vale dizer, em desacordo com os autênticos
interesses sociais. Em um e outro caso, o estudioso estará
comparando meios com fins, o que põe a claro o fato de que
ele é consciente da existência de um conjunto coerente de
valores, sem o que não lhe seria possível entender (empres
tar sentido) à vida social. Que o estudioso prefira os seus
próprios valores aos dos agentes que controlam o poder, não
altera o fundo da questão: é observando o comportamento
dos agentes que controlam os centros de decisão e dos que
estão em condições de contrapor-se e modificar os resulta
dos buscados por aqueles que ele parte para captar o sentido
do conjunto do processo social.
Coloquemos esse problema num plano mais concreto.
Os economistas falam correntemente de inversão ou investi
mentos como de algo que não comporta maiores ambigüi
dades. «Em toda política de desenvolvimento, qualquer que
seja o sistema, um alto nível de investimento sempre será
essencial." É essa uma afirmação totalmente equivocada.
Investimento é o processo pelo qual se aumenta a capacidade
produtiva mediante certo custo social. Suponhamos que o
116
objetivo seja produzir mais bem-estar social e que na defi
nição de bem-estar se concorde em dar a mais alta prioridaàe
à melhoria da dieta infantil, a fim de obter melhores con
dições eugênicas para o conjunto da população. Esse objetivo
pode ser muito mais rapidamente alcançado reduzindo o con
sumo supérfluo das minorias privilegiadas (modificando a
distribuição do bem-estar) do que aumentando o investimeu
f1o. � _o economista, existe algo comum__��rnQ.Q._atn_de..
/ ínvestimen__c, t : a_ sub_!�ão-(Ie· recursos ao _consumo, ou <1
/ ttaÜSfetência·-c1o·ato de consumo de hoje para o futuro. "So
-
. bre este ponto estamos t()�()S ª-� --:·ãcora?·_·'.'::_- �4Ifi"2"""0""PfO"fes·s?.r
-
��:_·_ economia ... _Q�a,____essa afirm�5�_0 se ___ baSeia num_a_ falácia
g.titante: a idéia. _ _ de que o consumo e uma massa homogé-
·nea. QliaI1Cfo __ ffie f)úVo de uma segunda garrafa de vinho,
SU5fraio 50 cruzeiros ao consumo, os quais podem ser utili
zados para investimento; quando um trabalhador manual é
obrigado a reduzir a sua ração de pão, pode estar compri
mindo o nível de calorias que absorve abaixo do que ne
cessita para cobrir o desgaste do dia de trabalho, o que a
longo prazo pode reduzir o número total de dias que tra
balhará em sua vida. O economista mede o valor do pão
economizado, digamos 2,5 cruzeiros, e dirá: a ·,poupança ex
rt aída de vinte trabalhadores equivale à segunda garrafa de
vinho de que se privou o Sr. Furtado. Se o consumo não é
uma massa homogênea, tampouco poderá sê-lo a poupanç;:1,
que se define como "recursos subtraídos ao consumo pre
sente". E se a poupança não é homogênea, como poderá sê-1o
a inversão? Como medir_ COJ11 _,l __ rp_��!11_;:l__ régua a inversão
financiada com a redução do r>ão dos trn.bªlhad-9.:r_es e a outra
-
__,_fi�an_c_i ª-c]�__çgrp_
_ ·-ª· ,.m _inhª___ptiv.?_Ç..ãQ__.d_e____u.rna_ga rrafa--d; vin FC ?
Passemos à outra vaca sagrada dos eco�;-;mista-;--õ7_J·ro
duto Interno Bruto (PIB). Esse concei t o ambíguo, amál
gama considerável de definições mais ou menos arbirrárias 1
transformou-se em algo tão real para o homem da rua como
o foi o mistério da Santíssima Trindade para os camponeses
da Idade Média na Europa. Mais ambíguo ainda é o conceito
de taxa de crescimento do PIB.
117
Por que ignorar, na medíção do PIB, o custo para a
coletividade da destruição dos recursos naturais não-renová
veis, e o dos solos e florestas (dificilmente renováveis)? Por
que ignorar a poluição das águas e e destruição total dos
peixes nos rios em que as usinas despejam os seus resíduos?
Se o aumento da taxa de crescimento do PIB é acompanhado
de b$iixa do salário real e esse salário está nu nível de sub
sistência fisiológica, é de admitir que estará havendo um
desgaste humano. As estatísticas de mortaiídade infantil e
expectativa de vida podem ou não traduzir o fenômeno; pois
sendo médias nacionais e sociais anulam os sofrímem:os de
uns com os privilégios de outros.
Em tiro país como o Brasil, basta concentrar a renda
( aumentar o consumo supérfluo em termos relativos) para
elevar a taxa de crescimento do PIB. Isto porque, dado o
baixo nível médio de renda, somente uma minoria tem
acesso aos bens d..:::ráveis de consumo e são as indüstrias de
bens duráveis as que mais se beneficiam de economias de
escala. Assim 1 dada uma certa taxa de investimento ) se a
procura de automóveis cresce mais que a de tecidos (supon
do�se que os gastos inidais nos dais tipos de bens sejam
idênticos); a taxa de crescimento será maior. Em síntese:
quanto mais se concentra a renda, mais privilégios se criam,
maior é o consumo supérfluo } maior será á taxa de cresci
mento do PIB. Desta forma a contabilidade nadonal pode
transformarhse num labirinto de espelhos ) no quai um hábil
r,)lusíonista pode obter os efeitos mais deslumbrantes.
j, Não se trat:1� evidentemente, de negar todo valor a
esses conceitos ) nem de abandoná�los se não podemos subs�
tituí-los por outros melhores. Trata"se de conhecer-lhes a
exara significação. A objetividade em ciências sociais vai
f{_ sendo obtida na medida em que se explicitam os fins e se
identificam nos meios (nos métodos e instrumento tde traba�
lho) o que nestes é decorrência necessária dos referidos fins,
Como esse esforço no sentido de explicação de fins e
de identificação do condicionamento dos métodos de traba
lho pelos valores implícitos na escolha dos problemas é res-
118
ponsabílídade direta do dentista social I pode-se a.firmar que
o avanço das cíências sociaís também depende do papel que
na sociedade se atribuem e exercem os que estudam os pro-
.:+ blemas sociais. O progresso dessas ciências não é indepen
dente do avanço do homem em sua capacidade de autocrítica
e auto-afirmação. Não é de surpreender portanto que essas
dêncías se degradem quando declinam o exercício da auto
crítica e a ,::onsciênda de responsa:Jilidade social.
119
O AUTOR E SUA OBRA
121
to e estagnação n a América Latí-na (1966), "Teoria,,,e polítiça
, ,}},, do desenvolvimento econômico" (1967), "Um projeto,para
o Brasil" (1968), "O mito dt desenvolvimento econômico"
(1974) e "Prefácio à nova economia política" (1976).
Com esses trabalhos, Celso Furtado consolidou-se de
finitivamente como pensador econômico e cientista social,
captando os valores da realidade brasileira e procurando es
tabelecer os po.râmetros que dimensionam a participação do
Estado como elemento regulador da vida econômica.
122