Você está na página 1de 122

Celso Furtado

O mito
do desenvolvimento
econom1co
A o

Círculo do Livro
CíRCULO DO LIVRO S.A.
Caixa postal 7413
São Paulo, Brasil
Edição integral
Copyright Celso Furtado
Capa de Natanael Longo de Oliveira
Licença editorial para o Círculo do Livro
por cortesia da Editora Paz e Terra S.A.
É proibida a venda a quem não pertença ao Círculo
Composto pela Línoart Ltda.
Impres�o e encadernado em oficinas próprias
2 4 6 8 10 9 7 5 3
Hermano . . . tuya es la hacienda.
la casa el caballo y la pístola _
Mía es la voz antígua de la tierra.
Tu te quedas con todo
y me dejas desnudo y errante por el mundo . . .
mas yo te dejo mudo . . . ! mudo!
Y como vas a recoger el trigo
y alimentar el fuego
sí yo me llevo la canción?
León Felipe
Índice

Prefácio 9

I. Tendências estruturais do sistema capitalista na


fase de predomínio das grandes empresas 13
!. A profecia de colapso . . . . . . 13
2. A evolução estrutural do sistema capitalista 19
3. As grandes empresas nas novas relações cen-
tro-periferia 42
4. Opções dos países periféricos . . . . . . . . . . 59
5. O mito do desenvolvimento econômico 68
II. Subdesenvolvimento e dependência: as conexões
fundamentais 77
III. O modelo brasileiro de subdesenvolvimento 97
1. Desenvolvimento e modernização 97
2. O desempenho da economia brasileira 103
3. A nova estratégia 106
IV. Objetividade e ilusionismo em economia . . 113

1
Prefácio

Os ensaios que formam o presente volume foram escri­


tos. durante minha permanência., cotno professor visitante,
na Amerk;m Uníyetsiry ('Washington D C )1 no segundo se:
mestre de 1972, e na Universidade de ºdge d1,;rante.o
ano letivo 19 3-1974. último ensaio foi originariamente
escrito para o pnme1ro número do hebdomadário Opinião,
que circulou em outubro de 1972. O penúltímo foi escríto
originariamente em inglês e apresentado como conferência na
American Uníversity em outubro de 1972. Os primeiros dois
ensaios foram escritos em Cambridge: o primeiro é inédito,
se bem que retoma idéias esboçadas em trabalp.os anteriores1
particularmente em conferência pronunciada na Faculdade de
Economia da Universidade de Cambridge em março de 1974;
e o se undo foi ori ina · nte escrito em inglês e apresen�
tado no seminárío para docentes da Univers1 a e e am.
bridge, em novembro ae 197>. Este ultimo ensaio uode ser
considerado como o núcleo te;ó.tím....doJLckro.ais....e....con.stil:.ui
um novo esforço de apresentação mais siste.m.i!J_gi d?s idéias
lnic1alrnente sugerrdas em arth:i:.o ublícado no número 150
de El Trimestre c.o.nómíco (jtmho de 197l) S'!._ retomadas

l diversas oportunidades, inclusive no livro Análise d;


;:modela r rasi eiro 10, 1 ).
O primeiro ensaio constitui um esforço de captação de
aspectos fundamentais da evolução do capitalismo na_ fíl_se de
rápidas transformações constituída pelo último quarto de
século. O�e bajara-íri.t�r.e.ssado por....trahal!,ps
anteriores doh-��-1:1:!��--p_erce�-:�o que �is_t�m �!ferenças entre

9
?. VlS[,Q global da evol1:-3:çª9. . .té:<:{:'._nte do__si_s tema capitalista,
apreseni:ãdaiiesreséfl�aio_�-'--·--�-- -�Jg_t,i��-�- -�-�-�-�:-Iq�-i-ª"-� _ sug��@as
�m es.tJ-1.do.s_.es_critos.,..em "1967 e 19.68 e rec_en _ _t<;:,rnente repU­
blicados em A hegl?!ngnjados Estados UnidosetJsubde­
senvolvimento da América Latina (Rio·,---i'973). Os es tudos
·retinidos no último livro citado foram o resultado de obser­
vações feitas durante minha permanência na Uoiuersida.Qe
de Yale � 1964-1965, época em que se manifestavam ni­
tidamente tendências policêntricas na economia mundial com
a ru tura no mundo socialista e a brecha aberta or De Gaulle
na até então ng1 a tute a norte-americana. Os ens aios do
presente volume são o fruto de observações feitas principal­
mente a partir da Europa, no correr dos últimos cinco ou
sete anos, período em que as verdadeiras conseqüências do
segundo conflito mundial, no plano econômico, se manifes-
,, tam com plenitude, mediante a afirmação definitiva das
0 randes empresas no quádro de oligopólios internacionais, o

crescimento exp os1vo o merca o mance1ro mternac1ona , a


_ffiP1 a industnahzação de segmentos da periferia do sistema
._capitalis1a..JlQ__{l__tg"Jº de novo s1stem; de divisão internacio­
nal do trabalho. As tendências a uma crescente unificação �2_�
.sis.te1QLCJ;JJ1i.talis.ta....ap..�.rt�½.rn..._ªgçr.a com muit9_rnfilQL...cla.teza
do ue era o caso na metade do decênio dos 60.
L O meu interes se pelo enômeno a grande empresa,
como elemento estruturador do capitali smo na sua presente
fase evolutiva, devo-o em boa parte a um íntimo contacto
intelectual com doi s economistas já falecidos: Stephen Hymer
e Maurice Byé. Hymer, a quem devemos trabalhos sobre a
economia internacional cujo valor seminal é hoje universal­
mente conhecido, foi meu companheiro na Universidade de
Yale; e Byé, meu mes tre de havia muitos anos, chamou-me
a atenção, em 1966, para a capacidade de adaptação da gran­
de empresa no plano internacional. Em plano distinto, mas
não menos impor t ante, é minha dívida para como Raúl Pre­
bisch, cujas idéias sobre as relações centro-periferia consti­
tuem o ponto de partida de muitas das hipóteses aqui esbo­
çadas. Por último, desejo expressar meus agradecimentos a

10
Osvaldo Sunkel 1 que dirigiu minha atenção para novos as­
pectos das relações centro�periferia, e a �
com quem mantenho, há vários anos, um diálogo permanen­
te sobre o sistema capitalista e suas mernmorfoses.

Cambridge, junho de 1974.

11

ll,.
K
CAPfTULO I

Tendências estruturais do sistema capitalista


na fase de predomínio das grandes empresas

A profecia de colapso

Os mitos têm exercido uma inegável influência sobre a


mente dos homens que se empenham em compreender a rea­
lidade social. Do bon sauvage> com que sonhou Rousseau,
à idéia milenária do desaparecimento do Estado, em Marx,
do "princípio populacional" de Malthus à concepção walra,
siana do equiliôrio geral, os cientistas· sociais têm sempre
buscado apoio em 8lguni postlllad0 enraizadÕ num sistema
de valores que raramente chegam a explicitar. O mito con­
grega um conjunto de hipóteses que não podem ser testadas.
Contudo, essa não é uma dificuldade maior, pois o trabalho
analítico se realiza a um nível muito mais próximo à rea1ída­
de. A função principal do mito é orientar, num plano intui­
tivo, a construção daquilo que Schumpeter chamou de visão
do processo social, sem a qual o trabalho analítico não teria
qualquer sentido. h,.ssim, os mitos operam como faróis que
iluminam o campo de percepção do cientista social, permi­
tindo-lhe ter urna visão clara de certos problemas e nada vei;
_de outros ao mesmo tempo que lhe proporcionam conforto
�minações valorativas que realiza suí'­
1
gem ao seu espírito como um reflexo da realidade objetiya.
1 Não é meu propósito abordar aqui a epistemologia das ciências so­
ciais. Desde Dilthey sabemos que as ciências sociais "cresceram no
meio da prática da vida". (Cf. Wilhelm Dilthey, Introduction à l'étude
des sciences humaines, Paris, 1942, p. 34.) E Max Weber demonstrou
claramente como se complementam a "explicação compreensiva" e a

13
A líteratura sobre desenvolvimento econômico do últí­
mo quarto de século nos dá um exemplo meridiano desse
papel diretor dos mitos nas ciências sociais: pelo menos 90
_por cento do que aí encontramos se funda n-a )déia, que se
dá por evidente, segundo a qual o desenvolv�mentQ__eJ::..0_112!z!__i­ __
z-o,--Ll_f qual vem sendo praticado__pdOLRafaes auelidera_�affi
; revoluçao industríaI, pode ser universalizado. �ais pred;a­
mente: J2l.Ç.'!g..n_ds:..: se gue o slaí1dard de__ço4sumo da minoria
da humanidade, oue atualrnentç__ vive nos países altamente
industrializados, é ace�:?Jvel_}1s_grandes31assas...Qe 0_22YlaÇ-a.9
��_!fu?.ida expansão que f9!TJ1_?.1}LQ_ .<::hm:nft99..Ie_r_ç�_i_1::Q_M_�.�-ªº·
Essa idéia constitui 1 seguramente, uma prolongação do mito
do progresso, elemento essencial na ideologia diretora da
revolução burguesa, dentro da qual se criou a atuai sociedade
industriaL
Com o campo de visão da realidade delimitado por essa
idéia diretora, os economistas passaram a dedicar o melhor
de sua imaginação a conceber complexos esquemas do pro­
cesso de acumulação de capital no qual o impulso dinâmico
é dado pelo progresso tecnológico, enteléquia existente fora
de qualquer contexto social. Pouca ou nenhuma atenção foi
dada às conseqüências, no plano cultural, de rn�-;e�i�o
.�
· e capi!_�As grandes metrópoles P.10-
dernas com seu ar irrespirável, crescente criminalidade > de­
terioraçifo dos serviços púbiícos 1 fuga da juventude na anti­
cultura, surgiram como um pesadelo no sonho de progresso
linear em que se embalavam os teóricos do crescimento.
Menos atenção ainda se havia dado ao impacto no meio físico
de um sistema de decisões cujos objetivos últimos são satis­
fazer interesses privados. Daí a irritação, provocada entre
muitos economistas, pelo estudo The limits to growth, pre-

"compreensão explicativa" dos processos sociais. O mito introduz no


espírito um elemento discriminador que perturba o ato de compree:i­
são _, o qual consiste, segundo Weber, em "captar por interpretação o
sentido ou o conjunto significativo que se tem em vista". (Cf. Max
\Yl eber, Economie et société, Paris, 1971, t. I, p. 8.) Veja-se também
]. Freund, Les tbéories des sciences bumaines (Paris, 1973).

14
parado por um grupo interdisciplinar, no MIT para o
chamado Clube de Roma. 2
Não se necessita concordar com todos os aspectos me­
todológicos desse estudo, e menos ainda com suas conclu­
sões, para perceber a importância fundamental que tem.
Graças a ele foram trazidos para o primeiro plano da dis­

�.Q-�ª-�
cussão problemas cruciais que os economistas do desenvolvi­
...mento econômico trataram sempre de deixar na sombra.
1 �ela prim.eíra ,-cz dispoJJ10_s_d_e_JJ.HLÇQD:i!dV__ dados repre-
sentativos de aspectos fundament/Ú§ __5,l�_.,,�_?JH.!J1F?-.. __�__ .Qt.---�.lgp­
mas tendências gerais daquilo que se começa a chamar de
�tema econômico planetáno. __ M_ais ainda: dispomos de u�
conJunto de mtorrnações aue nos J2�D:nitem formular alcrµ­
rnas questões de fundo relacionadas com o futuro dos cha­
·ffiados países subdesenvolvidos.
Em verdade, a prática de construção de modeíos repre­
sentativos da estrutura e do funcionamento a curto prazo de
grandes conjuntos de atividade econômica não é de hoje.
Entre o tableau économique dos fisíocratas franceses e as
matrizes de Leontieff decorreram dois séculos, durante os
quais aigo se aprendeu sobre a interdependência das ativi­
dades econômicas. No último quarto de sécul� foram elabo­
rados complexos modelos de economias nacionais de dimen­
sões relativamente reduzidas mas amplamente abertas ao
mundo exterior, como a da Holanda, ou de amplas dimen­
sões e mais autocentradas, como a dos Estados Unidos. O co­
nhecimento analítico proporcionado por esses modelos per­
mitiu formular hipóteses sobre o comportamento a mais
longo prazo de certas variáveis, pãrticularmente da demanda
de produtos considerados de valor estratégico pelo governo
dos Estados Unidos. Esses estudos puseram em evidência o
fato de q,µ_e___a._ef:onmn_ia norte-americana _ter1de,_ a _ --�e_r _c_:te_sc_e_n­
-
�emente dependente de recursos nã()_��-��OVáVels P.r�4�zi4os
2 Cf, D. I-I. /1:feadows, Dennis L. f.ifeadows, Jorgen Randers, William
W. Behrens III, The limits to growth (Nova Y0rk, 1972), e para a
metodologia ]. VI. Forrester, World dynamics (Cambridge, Mass.,
1911).

15
no exterior do país. 3 Ê esta, seguramente, uma conclusão de
grande importância, que está na base da polítíca de crescente
abertura da economia dos Estados Unídos,-e de.x<eforçamen­
. to das grandes empresas caPazes de _Jlt.Qil?-.PYS:i�a_e.ii,l�ão
· de recursos naturais em escala planetária. As projeções a mfils
longo p·tazo feitas no quadro analítico_ q_ue · aCàbamos de re­
ierir se baseiam iITl12licitamente na idélâ de que a front�1ia
externa do sistema é ilimitada. O conceito de reservas dinâ­
micas, função do volume de mvestimentos programados e
de hipóteses sobre o progresso das técnicas, serve para tran­
qüilizar os espíritos mais indagadores. Como a política de
defesa dos recursos não-reprodutíveis cabe aos governos e
não às empresas que os exploram, e como as informações e
a capacidade para apreciá-las estão principalmente com as
empresas, o problema tende a ser perdido de vista.
A importância do estudo feito para o Clube de Roma
deriva exatamente do fato de que _nele foi abandoMda a hi-

3 Com base nos distintos estudos realizados nos anos recentes, o De­
partamento da Tnterior do governo dos Estado.s_.lJnidQLP..ublicoUeiiz
1972 uma série de projeçoes da demanda de produtos básicos pela
eéõ,;"ómia norte-americana até o fim do século, indicando o grau pro­
vável de dependência vis-à-vis de fontes externas. Segundo essas
projeções, dos treze principais minerais de que depende a economia
desse país para funcionar, todos com uma exceção (os fosfatos) deve­
rão ser abastecidos em mais de metade por fontes externas, antes do
fim do século. Em 1985, nove dos treze produtos já estarão nessa
situação, enquanto em 1970 apenas cinco dependiam principalmente
de fontes externas. Um produto como o-.E2.fz!_e, item tradicional nas
exportações norte-americanas e ainda em 1970 totalmente abastecido
por fontes internas, antes do fim do século será importado em mais
de 60 por cento. O enxofre, outro produto clássico das exportações
americanas, estará em idêntica situação. Contudo, o caso mais dramá­
tico é o do petróleo: havendo sido o mafor.. ..e.x.p.oitãdnL..mundzal; ··-os
Es.t__a.r/.os Unidos tendem alrans ormar-s:.e_e_m_u_m__dos mai_m-es _i_mpor�a­
dores�egun o o epartamento do Interior7 as importaçõe/ dináíCanas
·a.e petróleo, em 1985, muito provavelmente quadruplicarão as de 1970
e, no fim do século, serão oito vezes maiores. Esses cálculos, é verdade,
não tiveram em conta os efeitos do considerável aumento dos preços
relativos desse produto que ocorreria no último trimestre de 1973. Se
se tem em conta o aumento de preços, o valor proietado das importa­
ções de petróleo dos Estados Unidos alcançariam, em 1985, soma equi­
valente ao duplo do total das importações desse país em 1970.

16
; pótese de um sistema aberto no que concerne à fronteira
dos recursos naturais. Não se encontra a1 qualquer..pre"Ocupa�
ção com respeita à cresc_ems:�d.e,JL(adl11cía_dos p-aísesãità-m��I1-
te industrializados vis-à-vis dos recursos naturais dos dem�i,s
países, e muito menos com as conseq.üêncü1s__para_este.$_,,Plti::.
� do __:1�º __p���-�-Y?Eio pelos prim�iros de tais recursos. A
novidade está em que o sistema pôde ser fechado em escala
planetária, numa primeira apt()xi�aç:_ã() ,_ __no __qu_�·-_-iO�-��-rn_�-- aos
recursos não-renováveis. Um�-���-IechàdO·o-slstema,· os· auto­
··res do estudo se for��laram a seguinte questão: que aconte­
cerá se o desenvolvimento econômico, para o qual estão-�º-:..
do mobilizados todos os ovos da terra, chega efetivamente a

J
1 �oncretizar-se, isto é, se as atuais formas e victa--aos-p·ovos
ricos chegam efetiv�-��_a......univei::sali.zar-se.? A resposta a
essa pergunta é clara, sem ambigüidades: �e ai acontecesse,
a pressão sobre os recursQspão-renoxáveis e a poluição o
meio ambiente seriam de tal ordem (ou, alternativamente, o
�sto do controle da poluição seria rã�elevado) que o siste­
ma econômico mundial entraria necessariamente em colapso.
Antes de considerar que significado real cabe atribuir a
essa profecia, convém abordar um problema 1p.ais geral, que
o homem moderno tem tratado de eludir. Re}iro-me ao ca­
ráter predatório do processo de civilização, particularmente
da variante desse processo engendrada pela revolução indus­
trial. A evidência à qual não podemos escapar é que em nossa
civilização_ a criação de valor econômica provoca, na grai:i_de
maioria dos casos, processos irreversíveis de degradação do.
mundo físico. O economista l_irI_?._!_1ª__ o seu campo de observa­
ção a_ processos parciais, pretendendo igno_ra_ r:__,qu_ e�--�-s.s.es_pr.Õ�
CêSS�_s__ provocam crescentes modificações no mundo físico. 4

4 Um dos poucos economistas que se têm preocupado seriamente com


esse problema, o Prof. Georgescu-Roegen, nos diz: "Alguns economis­
tas se têm referido ao fato de que o homem não tem capacidade para
criar ou destruir matéria ou energia - verdade que decorre da pri­
meira lei da termodinâmica. Contudo, nenhum dentre eles parece
haver-se colocado a seguinte questão: 'em que então consiste um
processo econômico?'. Consideremos o processo econômico como
um todo e observemo-lo estritamente do ponto de vista físico. Vê-se

17
A maioria deles transforma energia livre ou disponível, sobre
a qual o homem tem perfeito comando, em energia não-dis­
ponível. Demais das conseqüências de natureza diretamente
econômica, como seja o encarecimento das fontes alternativas
de energia, esse processo provoca elevação da temperatura
média de certas áreas do planeta, cujas conseqüências a mais
longo prazo dificilmente poderiam ser exageradas '. �ud�
_ ingêDJJa....J:Qnsíste em imaginar que problemas dessa ordem
"serão solucionados �ec����Ii�.��pt�_J?.�l9 ....Pt.2gii�.?.9.:_�}�-���
__gíco, como se a atu·ãr aceleração do progresso tecnológico
não estivesse cop.tribuíndo ...pa.ta_agiã:Va'-IoS� Não se tt_ªfª-�ge
_especul�_r _ s� � e_or�c�17i_en_t_e_ a ciênc_i_a __ e a técnica_ .. c�p�-�-�ta_m: o
-
hOme-;n p _�.fo�����üciõUáL:_eS.te .. .oU:�-ã-q�eie:.�pr·o1;ren-ui.j:E_L3.d()- -Por
:q_º-�s- .1___::J.Y.i!_i_��-ç_�g_:__ Trata-se ap�º"-ª-�-----�-�-- --reconhecer qu�--·o · que
_ch_�_Dl?.lXE)_S...sk _çr_i_ ª_ç_ijQ __ _ d,(:!___v?lQ r ..t::_cg_r:i Ô_1!} IC() .. tel?"····coiij0":5=CJ.�.tra-
partída preces�-�� irreversívei; -�� -�-�-nd◊-fíSiéO,-··ê�fJs Coiise­
.q_üê!-i"das-··tra"tã"@_Q�-- d_e ign_ora_r. Convéffi Dão perde"i•"··cfo" vista
que na civilização industriãl -◊ futuro está em grande parte
condicionado por decisões que já foram tomadas no passado
e/ou que estão sendo tomadas no presente em função de um
curto horizonte temporal. Na medida em que avança a acumu­
lação de capital, maior é a interdependência entre o futuro
e o passado. Conseqüentemente, aumenta a inércia do siste­
ma e as correções de rumo tornam-se mais lentas ou exigem
maior esforço.

de imediato que se trata de um processo parcial, circunscrito por uma


fronteira através da qual matéria e energia são intercambiadas com o
resto do universo material. A resposta à questão em que consiste esse
processo é simples: ele nem produz nem consome matéria-energia;
limita-se a absorver e a rejeitar matéria-energia de forma contínua.
Podemos estar certos de que mesmo o mais ardoroso partidário da
tese segundo a qual os recv..rsos naturais nada têm que ver com a
criação de valor concordará finalmente em que existe alguma diferença
entre o que entra e o que sai do processo referido. . . Do ponto de
vista da termodinâmica, a matéria-energia entra no processo econômico
num estado de baixa entropia e sai dele num estado de alta entropia''.
Cf. Georgescu-Roegen, N., The entropy law and the economic pro­
blem; conferência pronunciada na Universidade de Alabama, 1970.
Veja-se também do mesmo autor The entropy law and the economic
process (Cambridge, Mass., 1971).

18
A evolução estrutural do sistema capitalista

As elucubrações sobre o destino de nossa civilização,


por fascinantes que ocasionalmente pareçam, são de redu­
zído impacto sobre o espírito do homem comum. A psicolo-
gia_ hum_�n?:___ f. t_a,l_ _ _qu_e cl_i_fj_c,i]p:i�_t\��-- p(?_demos n_{)i_---c?_ Dc:_�n_ trar
.;,õt muit?___te_fnP.'?___ �m problemas _q�e _superam___
__
�m hO_ríZôflte
t�gipc5ral i:é1ai:iVátn_ent_e E1:1rto. Meu objetivo é mais limitado
e p!'eciso e pode ser sintetizado em uma pergunta simples:
ue opções se apresentam aos países que -- sofreram a defor­
!!l�Q_.__ S:t.. -5.. -�deS:êri.V.õlviii:ieiito�:-_ ::em�""IâCe.._d;;·�presentes ten­
-
dências do sistema capitalista? De que ponto de vista o es­
tµQQã··-�qU.é ·· anfes···nos refedm6S -- ·poae·· ·ter uiilídaae·· nessa
---
exploração do tuti:íro·?
·---ue·sae· "IOgo, temos--que reconhecer o irrealismo do mo­
delo utilizado para projetar a economía mundial e, con­
seqüentemente, a irrelevância das condl.lsões cataclísmicas
apresentadas. Como admitir que um modelo baseado na ob­
servação do comportamento histórico das atuais e_con9r,n_ iáS
i_ndustrializadas e na presente estn1i11ra des.tas_ p..Q.S$LServir
j_lara projetar as tendências a longo prazo-- do processo de in-
dustrializ��q__ erp.___�s-�?�?.___pl_�_n�_rnpaF"Cõffi efeito: a estrutura
_domodelo-se f�nda na estrita observação do bloco de_e,s:2.nP·
mias que lideraram o processo de industrialização, que pu­
deram utilizãrOS·-·.re-CU!:s-os-·natiitãL�.,-ae··mais fácil ·acesso e que
lograram o controle de grande parte dos recursos não-reno­
váveis que se encontram nos países subdesenvolvidos. 5 Não

5 Os autores são explícitos sobre a metodologia adotada: "A base do


método", dizem, ªé o reconhecimento do fato que a estrutura de um
sistema - as múltiplas relações circulares, interconectadas, com inter­
valo de tempo, que existem entre seus componentes - é freqüente­
mente tão importante na determinação de seu comportamento quanto
o são os componentes índividuais eles mesmos" (Op. cit. p. 31). E
acrescentam mais adiante: " ...um elevado grau de agregação é
necessário neste ponto para fazer o modelo compreensível . .. Frontei-
, cionais não são t ·dar em t-0·1/a D�J.i.gy.al.d.ides--12a._distribiiiÇã_o�·d"E
alimentos -.r-ro-s---e---do--capital· ·estão -incluídas implicitamente nos
áãâos;7nas não são calculadas explicitamente nem mostradas na pro­
dução"_ (Op_ cit. P- 94)_

19
se trata aquí de simplificação metodológica, de primeira apro­
ximação a ser corrigida quando se disponha de informações
complementares. Trata-se simplesmente de uma estrutura
que reflete uma observação inadequada da realidade, portan­
to inservível para projetar qualquer tendência desta última.
A questão que vem imediatamente ao espírito é a se­
guinte: �ÍS12.2filºS de suficiente conhecimento da es.t..r.ututa-.da
economia mundial ( ou, simpl�smenr_e, da do conjunto das
economias capitahsta_s_) _ _ l?_a_r�J}tOjeta� tendêttcia.s ggnificativas
dã--Í- nesma a longo pt.120? Mesmo que não estejamos dispos-
f tos a dar uma ir!eSrrit;· resposta afirmativa a essa questão,
' não podemos deixar de reconhecer que existe ampla infor­
mação sobre o processo de industrialização em países de ·di­
versos graus de desenvolvimento econômico. Porque dis­
pomos dessa informação, já não é possível aceitar a tese,
esposada pelos autores do estudo, segundo a qual "na medi­
da em que o resto da economia mundial se desenvolve eco-
nomicamente, ela seguirá basicamente os padrões de consumo
/
Ldos Estados Unidos". 6 f,. aceitação dessa doutrina implica
em ignorar a especificidade do fenômeno do subdesenvolvi­
mento. A ela se deve a confusão entre economia subdesen­
volvida e "país jovem"; � a ela se deve a concepção do desen­
volvimento como uma seqüência de fases necessárias, r··-ia
Rostow.
_- - Captar a natureza do subdesenvolvimento não é ta­
/ refa fácil: muitas são as suas dimensões e as que são faciÍ­
mente visíveis nem sempre são as mais significativas. Mas se
/ algo sabemo�com_ segurança é que subdesen�olviment�
1 1em a ver com....a__idade.._<le uma suciedade_o.1L.de_um.__pJgs. E
também __sab�ro_Qs_q_u�__Q_pJ1târnegg para medi-lo é o _grmLde
1
�_cumulação de capital aplicado aos processos produtivos e _o
grau de acesso à panóplia de bens fma1s q11e car.act-e.r.i z. am ·o
·que se convencionou chamar de estilo de vida moderno":·
Mesmo para o observador superficial parece evidente que o
subdesenvolvimento está ligado a uma maior heterogenei-

6 Cf. The limits to growth, cil., p. 109.

20
d�?e t���-ol()_gi�-
_ �' -ª-- qual reflete a natu_re_ za das relações exter-
-
Ilis - âesse __tlp9___g_e-___ e_ÇOI}Omia.
-----Quando observamos de forma panorâmica a economia
mundial no correr do século XIX, particularmente na sua
segunda metade, percebemos que as enormes transformaçõ_e:s
ocorridas se ordenam em torno de dois proc_essos: <Ípr..imcir-d
diz respeito a uma considerável aceleração na"acumulação de
capital nos sistemas de produção, e 4e·gundo)a uma não
nienos considerável intensificação do comércio internacional.
Ambos os ·processos engendra�am aumentos substanciais da
produtividade do fator trabalho, dando origem a um fluxo
crescente de excedente que seria utilizado para intensificar
ainda mais a acumulação e para financiar a ampliação e di­
versificação do consumo privado e público._ Ç�joi ªEE2..­
priado esse excedente, e comp f.Qi...orientada ...sua..utilização,
const1tU1 o problema fundamental no estudo da evolução do
c'àplialís'illO-- industrial em sua fase de amad-urecimelltO.- D�� -
ranteufrlâ-prímeira fase, grand�.. E�-�t- -�..9c:i. _r_�_f�JJªq··- _�i�-�-��-�te
f01 canalizado pa_ra a )JJ.gl.aJe::.ú?-, ___t_raps_fopna_11:do�s_e __ J,or1dres
no'··centtomi�-�t�d�;-das finanças do ��ndO. cai,italista. Fi­
Ilã-nc:ranao os investimentos infra-estrutura1s··em--i6do o mun­
do em função dos interesses do comércio interdà.cional, a In­
glaterra promoveu e consolidou a implantação de um sistema
de divisão internacional do trabalho que marcaria definiti­
vamente a evolução do capitalismo industrial. Esse sistema
tendeu a concentrar geograficamente o processo de acumula­
ção de capital, pelo simples fato de que, em razão das eco­
nomias externas e das economias de escola de produção, as
atividades industriais - às quais correspondia o setor da de­
manda em mais rápida expansão - tendem a aglomerar-se.
A reaç�o contra o projeto inglêsck econorn_i_a _mundi_al
log_o��J�_?; __§_(,':gür'. _A __�t_g_µnda fase da__ ev_()lução_ do._ç�t;f{�iuo
industrial está marcada por essa reaçãõ:···r·o··período de con�
�-Olidaç·ão. ·a- os· sistemas econ:o_�z�_os_ naczonarca_c;_s:_- p�i:�-�iJ.]Ue
formariam --OCfübêaas-ecoTiólTiiaS - aeSenvol�idas- no .-século
atual. A· fOrma-corrRY·-ocort�i e�ss·a--·romad�c-âé·--·coiiSC"íê!lda
r

�onstitui capítulo fascinante da história moderna, mas é ma-

21
téria que escapa a nosso interesse imediato. Basta assinalar
que, em toda parte, o êxito da_Ieação esteve ligado a uma
�lização das _decisões
_ eco_nê,_ �i_cas__b_e1!1____rna10r·-ooque
aquela quehãviã coiiliec:léfoõ ca_pltâlismoincÍu-;ttiãí7nglês
m
êm a·fase--cré-ZollS01í�.it9.-E� al�m-as-patt:e·s ··essa :tnãíor
��btida aÚ_avés da preemiriê_nci_a dó siStema
ba"ncino, o qual conheceria Tffiportaiite·-~evOfo ÇàO eStturural;
· em outras o Est_a.do_J1gc1oiiâl_ªS_ :;lJJTI!úJUt)ǧi;f#j_�i_ s ·_ampl_ �t-:Oª
_gjreção do processo____g�---..?-�Y:!Pl_ lJa_ç:�()-_7 Por toda· · p
· ar-te· e·ssa
orientação I�a--;iianças de cia;ses·-e g!}!_p_QS__ sodaiS-=--bur-
@!esia industrial, comercial e fina�?___ pre:_e_�i�!_á_ríos rurais,
burocracia estatal - em torno de _ul11____ " proj_etc,____pacional ",
com repercussões significativas na evolução l�- capitalismo
industrial. Ao passo que na fase inglesa o comércio interna­
cional crescia mais rapidamente que a produção no centro do
sistema, a tendê ncia agora será em sentido inverso. 8 A evo­
lução dos termos de intercâmbio tende a ser desfavorável à
periferia do sistema - isto é, aos países produtores de pro­
dutos primários - e a acumulação contínua a concentrar-se
no centro, agora transformado num grupo de países em dis­
tintos graus de industrialização. Por outro Iado...1 a nova forma
assumida pelo capitalismo - maior centralização de decisões
no plano nacional - facilita a._S9E:,�ntraçªo do poder ..eronâ::
mico e a emergência de grandes empresas. Os mercados in­
ª
ternacionais tendem s_er_c.onttola.do.s..,p.OLg.tup.o.s_de_e_m1Ú.i�
_ sas, cartelizadas em graus diversos.
7 Sobre a especificidade da industrialização retardada, na Europa, par­
ticularmente no que respeita aos aspectos institucionais, veja-se o
f trabalho clássico de A. Gersc_'2f.1Jkron, Econofi!i.ç__bgçkw.ardness ín
' hístorícal perspective (Cambridge, �-:-:-Wi.Z"J, principalmente pp.
5�50. Veja-se também B. Gille, "Banking and industrialization in Euro­
pe 1870-1914", e B. Supple, "The State and the Industrial Revolution
1700-1914", em Tbe Industrial Revolution, dirigido por Carla M.
Chipolla, terceiro volume da The Pentana economic history of Europe
(Londres, 1973).
8 O período de mais rápido crescimento do comércio internacional, até
o presente, foi 1840-1870, isto é, a fase de apogeu do projeto inglês
de economia mundial, quando essa taxa alcançou a média anual de 13
por cento. Cf. A. H. Imlah, Economic elements ín the Pax Britannica

22
P o r que este e não aque l e país pass o u a l inha demarca­
tória e entrou para o clube dos países desenvo lvidos, nessa
segunda fase crucial da evolução do capitalismo industrial
que se situa entre os anos 70 do sécul o passado e o primeiro
conflito mundial , é problema cuja resposta pertence mais à
história que à análise eco nômica .. Em nenhuma p§�_t�- --�s_§,a
assao-em ocorreu no quadro do laissez-faire: foi semI?re - _1'.)
resultado _de_�ôITtica delilietãa��.�D.t�. ---ç9nç�llisfa__�Q!Jl
�.rg!.. O _g��nteressa ãsSI.õãiar l qll_���.)�_r:ih _ ?. demarc_ató_-
-ria ten.de1.L.ª..-ª"p_rofJJ.r!d�r:.:s�, ___Ç9.1.110 a mdustri alização em cada
é.peca se molc:l-ª._�qi___fo_nçã_ q __çl_g_ gra_ _µ___çl� __a,ç_um_µhçi°fr.?___ ªJç_anç-ªdo
pelouaíse� que lideralJ? __.9�J?�Q�_�Ss?_1____ _(:) --�s�-�-1:5?___���f!-��Y.?..-
/ -��=
1 qu e rido para dar o s PE�r:n_ei� ()S p a�s?_s _ tend_e _ -�-- �r�s-�:�.
_ _ . - _c()
_ m._9
tê"mpô. Mais a _índa: tmia_ ·vez qué.. o····atraSO - relãd;Q- aléâil�a
�erro ponto,-�0-=.{2iQ·C�s;ode7ndustnalização sofre importantes
a-, modificações qualitativas. Já não se o rient;···e1e···pata·-:rormar
um siste�êõnõfüíco·üacto1fai"E-sim··para·· _ complé'tar o ·slste-
ma econômlCO·-- lriternãCiO-nar··A1g"uIT1àS __ fridlFú-i-i"8S surgem ifl-
tegradas a certas atividadeS exportadoras, e outras como com­
plement o de atividades importadoras. De uma forma o u de
outra elas am li am o rau de integ r ação do s}stema econô­
mico internaci o nal. Nas fases de crise deste ú tim o, pro cUrã:"••
'- se reduzir o conteúd o de impo rtaçõe� de cert as atividades
-industna1s, o que leva, oc�sí o nalmen_t�, ·-;:···instalaçãQ__:d.e. indUS,
J�����gn�do_r�s d_ _(}_ _ 5-_i�t:I?�---- eco�·ª!I_}_i�g ___J)_Q ____ r:1_í:v�.l. _nacional .
Dessa forma:--P o ��:�m __ Pi()Ç·�-��-?. rn_;erso, através de um esforço
-
para reduziF..â'-Instabilidade resultante da forma-·de- irlSérção

(Cambridge, Mass., 1958), p. 190, e também A. G. Kenwood e A. L


Lougheed, Tbe growtb of tbe international economy 1820-1960 (Lon•
dres, 1971), p. 90. Contudo, até o fim do século, o comércio interna­
cional continua a crescer mais rapidamente que a produção no conjunto
da economia mundial. As mudanças estruturais, no sentido de maior
integração interna dos sistemas econômicos nacionais, que se vinham
manifestando nos dois últimos decênios do século, somente terão
reflexos no comportamento da economia internacional no correr do
século atual. Com efeito: a partir do primeiro decênio do século e até
1950, o comércio mundial de manufaturas crescerá menos rapidamente
que a produção destas. C/. A. Maizels, Industrial growth and worid
trade (Londres, 1963, pp. 139-40 e 388).

23
na economia internacional, vem a tomar forma um sistema
· industrial com um maior ou menor grau de integração.
Esse sistema industrial formado em torno de um merca­
do previamente abastecido do exterior, vale dizer, engendra­
do pelo processo de "�.1-1bs1i.r_1:1iç�o cI_e !_}?!po_rtftç(?es", é _e,specí­
fico das economias subdesenvoi;ídai Ele ;pr��enta carJct�­
rísticas próprias que devem ser tidis em conta em qualquer
tentativa de projeção do conjunto da economia mundial. Para
compreender o que há de próprio nesse novo tipo de indus­
trialização, é necessário dar alguns passos atrás e refletir
sobre a situação daqueles subconjuntos econômicos que se
integraram no sistema capitalista internacional, na fase de
hegemonia inglesa, e permaneceram como exportadores de
produtos primários, na fase subseqüente de ampliação do
centro do sistema. Nessas economias os incrementas de pro­
dutividade resultam fundamentalmente da expansão das ex­
portações e não do processo de acumulação e dos avanços
tecnológicos que acompanhavam no centro do sistema essa
acumulação. Tratava-se de incorporar recursos produtivos
subutilizados ou recentemente adquiridos, como no· caso da
mão-de-obra imigrante, a um sistema produtivo que crescia
horizontalmente. Esses aumentos de produtividade decorrem
do que em economia, a partir de Ricardo, se chama de "van­
tagens comparativas". A doutrina liberal, mediante a qual os
ingleses com tanta convicção justificaram o seu projeto de
divisão internacional do trabalho, fundava-se nessa lei das
vantagens comparativas.
Que países - com abundância de terras não-utilizadas
e a possibilidade de receber imigrantes (ou de utilizar mais
intensamente uma mão-de-obra integrada num sistema pré­
capitalista) - hajam optado pela linha de menor resistência
das vantagens comparativas não é para surpreender. Afinal
de contas a Inglaterra também estava optando pelas vanta­
gens comparativas quando reduzia a pouca coisa a sua agri­
cultura e se concentrava na indústria e mesmo na produção
de carvão, que em parte exportava. O que cria a diferença
fundamental e dá origem à linha divisória entre desenvõivr:--

24
mento e subdesenvolvimento é a orient ação dada à utilização
do excedente engendrRdo pelo incrnm� prodntlvidade.
A· átividade industrial tende a concentrar grande parte do
_excedente em poucas mãos e a conservá-lo sob o controle do
grupo social d1tetamente comprometido com o processo pro­
-.-dutivo. Por outro lado, como o ca ital invertido na mdú�a
-estã sen o constantemente renovado, a porta fica permanen-
temente aberta para a introdução de inovações. De�.�.?-JQ�.Q_ 1a ,
um sistema industrial tende a crescer por· suas próprias for­
ças, a menos _que __s�jª ..5-��-I?e_t1do a _ lfl��_fr;1_�ncia_ de...demaiidá
··ct�-gxpliêá-=se·, ·asSiffi, ·qüe··-ãci��ies países que procura-
-ram criar um sistema econômico nacional, na segunda fase
da evolução do capitalismo industrial, hajam protegido ati­
vidades agrícolas e outras, que não ofereciam "vantagens
comparativas". Mediante essa proteção eles asseg_uravan1____9"_e-
manda ao setor industrial, C()fµP.º1-��ndo_.amplam�n,t.e:_.ço_m__-ill_:
crementos de produtividade· neste setor o que perdiam ___pas
demais atividades " l?ES?.!�idw, ".
Nos países em que as vant agens comparativas assumem
a forma de especlalizaçiío_ruLe;,<p.QrJ,t,!í.9 de produtos primá_,
rios (particularmente os produtos agrícolas) o _excedent� __?_di_ -
- - cional assume a forma de um incremento. aas·· -imp·oitaÇões.
· COmo a especiali_zação não_ re�r nem _i_mplica modificações
.
. fios metodos prõallti-;os:e-�-..�_ çumu laçã9_::i�-- r_�aJi_ �_<1_ __<:9_m:__Jé:CUJ:'_- .
�os locais (abe�-_ ��ra de ~terras, estradas e _construções ru_rais_,
·.crescimeri�º=--ª����-b_anho, __ �tc. 9) o incremento da capaddade
· para importá!" Permanece disponível para ser utilizado na . .
aquisiçjio<leJ,ens de_ consumo. Desta forma, é pelo lado da ..
demanda de bens finais de consumo que esses países se inse_­
rem m ais profundamente na civilização industri.@J. Esse dado
é fundamental para compreender o sentido que neles toma­
rá, em fase subseqüente, o processo de industrialização. Não

9 Ali onde a modernização da infra-estrutura requeria importação de


equipamentos (caso das estradas de ferro) os investimentos tendiam a
ser consideráveis e demandavam cooperação externa. Contudo, a redu­
ção da capacidade para importar, decorrente do endividamento subse ➔

qüente, só se faria sentir a mais longo prazo.

25
é minha intenção abordar aqui, em detalhe, o problema da
especificidade dessa ingustrialização fundada na chamada
·
"substituição de importa�s";1° limitar-n��·�·�r;· �- cille
·
e1a·· tén.9.�------ª'····:i::_epr_qc!uz_ir �-m _miní;,tt_]Jra sisteill�ndustriais
�poiados em um processo muito mais amplo de acu�I3.ção
de capital. N� prática essa míni�_turiza_ção assume a.forma de
ipstalação_n_Q_p,aís��lIL.9 .��-§![Q_ ..Q�_uma... série...de__ .s.u h�.ü.diárias
.
_de empresas dos__ países cêntricos..,._o_que_reforç.a.a .t�nçl�ncia
para reprodução de padrões de con�Q..1}19__de_sncie.d-ª..Q�§. de
l?�O_Jna�€:V�J.�@�re-��édia. Daí resulta a �o­
nhe_çída síndroJQe_de_tendêncía à concentração da renda, tão
familiar a todos os 9ll_�---�studam a in_c:l�?..t�!�}_i-- zação ··ctos·--países
su9deseQ'lohúdos. - ·-
A rápida -�-n�_us _tr_ia_liz_�Çã_? da__ peri_f�ría d() n�u_11d?_ c_�_pita-
l_ista"�.s_Qb.·..�:dfi:�__Ç@_Q_·___ g_(;:_�lilJ)f.eSa·s ·aos paíse_�____ç:_��-�icO·s; qu� ·se
(?bserva a partir 42 ..��g_ . ll_l}.Q.Q____ÇQJ}.[J_itq____gg�_µ_g_i_�.L<: se acele�OU
no. _l!ltLmP ..d�D.ÜL.. .' '. L ª. .
9X!;��-ºncJ _e__ Jdma terceira fase na eVOlu:
ção do capitalismo industrial. Essa fase se iniciou com um
processo d�jÍ.iJ.�tªç_ão das economias nacionais que formam
o centro do sistema:-·na· .forffiulacâo - da - Carta dé -Havana e
--
;riação do _GAT·y -�·o·--·Kennedy Rou�d, passando pela formação
do Mercado Comum Europeu, forãffi dados passos conside-
ráveis no sentido de e_�trutur_ar l111l__ _ espaço econômico unifi-
cadQ_}lO centro do sistema caPitaÜst;. cj" illOVimento de ca­
pitais, dentro desse espaço···em·.. viáS-·âe unificação, alcançou
volume considerável (principalmente dos Estados Unidos pa­
ra a Europa ocidental, mas também, em fase mais recente 1
em sentido inverso), o que.permitiu que graq_q_��----�-ipp_-- re_sas__ se
implantassem em t�dos os subsistemas nacionais � --tà�b1"'ffi~
.-q.ue...as_e.s..t.r:uturas__oliggp.ólicas . ..viessem_a abr_i,lng�J: -º _<::.<?r:lÍ.11.� t·�
--
_desses subsistemas. A form__a.Sªº/ a_ __p_at_t_i_r___ _d_a _ __ s�g_:i:ir,i_da metàélé
dos anQ.�_6_ü�,_ -de . �Um--impor.tante�:m��cad◊- i'fltér�;c1011ar·de
çapitais constitui o coroamento desse Processo, p01s perffiltê
L. -�----- ··--�... - ,---,.,._._______
10 Veja-se, mais adiante, o ensaio Subdesenvolvimento e dependência:
as conexões fundamentais.

26
às grandes empresas liberar-se de muitas das limitações cria­
das pelos sistemas monetanos e fmanceiros nacionais. �i�--"-·
Desta forITla, os sistemas nacionais, que constituíram os
I?J.arcos delimitadÜres do processo de industrialização na fase
_?.nterior, foram perdendo índividliã]Taãde no ce�..t-�<?. __do siste­
ma capitalista, sem gue surgL��� -�!�E,l_91ente outro __��rco _p�ra
subflJÜu.í-los. T�ndeu a_ criar-se -uma situação de aliUIDa for­
ma similar à que prevaleciJ-"'IlaTpõEà·em·_--que_·_:a.. _ln_gla_t_�_tra··e"ra
SõZlnha o centr� do sistema capjtaliSta:-p�---�es·m�_ -�O-r1!1a_ gue
·o empresário ingl�-�;.. que financiava o s�� P�_�J_(fr()- [1_,i�Çj_ty, .. se
se�tia livre par? localizar-�_ �-1:1ª--�--t,�yid�d, e __ _�I11 qual_q_uer __ parte
-- _ _ _
do··_ffiundo, a }ilí_al "í_nternacional') de �tna é"iTiptes·à_--i1_11�rica­
n��-;u italim_��i=l.lJ.�.,-� ___d_i_r_ígida..._do . _L_U!C�mb_µrg():�·oi:i"' ��- Suíça
-
ta�bém se sente livre para iniciar ou ampliar s�as --ai:_iy_í_cla­
cleLneste ou "ª�ele país financiando-se da forma que lhe
convém, em funçãÜ-�fê-Sé�-s· ·ptói)rios objetivos de expan_são.
A diferef1:�-ª _ c_?Ill o_:_a_nt}g_ o__ fl1?4ef()--lng_lês __ e:_;_!-ª. _�__ Il}___ qµ�__ o__ em-
presário· il1di\li�hi�lJ.QL�.1Jbttit.µ_!Q_o__ .P�.1-ª--- grande ___q;p.pr_esa .
. ---·s;;·;��ontramos similitudes com � ;n�ig�-�;delo inglês,
cabe reconhecer que também são significativas as semelhan­
ças com o capitalismo da fase de consolidação dos sistemas
nacionais. Com efeito: foi no quadro deste '"iíltimo que a
grande empresa assumiu o papel de centro de decisão capaz
de influir em importantes setores de atividades econômicas.
A grande empresa requer um grau de coordenação das deci­
sões econômicas muito mais avançado do que aquele que cor­
responde aos mercados atomizados. . Essa maior coordenação
foi inicialmente alcançada medianté. a tutela do sistema--bâri­
cário ou diretamente de Órgãos do governo. •T"fvias na medida
em que as grandes empresâs foram adquirindo maturidade e

ll Uma apresentação sumária dos dados relacionados com esse p,·ocesso


encontra-se em Multinational corporations in world deve1opment, /'s;'a­
ções Unidas, 1973. Para uma bibliografia sistemática sobre a matéria
veja-se R. Vernon, Sovereignty at bay (1971), edição Penguin, 1973.
12 Exemplo clássico de tutela_._!!_x_erc_i4_q __ pe_(o_ siste;n_a �qn_c�rio_ (:__dtZ._cfo
pelã· industri"qfj__z_qç_{lp__ ale.miL .V.eJ.4_-_s_e __íJ.Q(§___ 7,__ fta--Pá_giná__· 2_;,___ e,_ pára Uma
ap'r'êfriifâÇâcf dos remanescentes dessa tutélà;-· A. Shonfiefd;- ri-fodern
capitalism (Londres, 1965), pp. 239-297.

27
se foram dotando de direções profissionais, tenderam a de�
senvolver regras de convivência que permitiam a troca do
mínimo de informações necessárias para assegurar uma certa
coordenação de decisões, ���a e,:yolldfio se$? ipidal111ente
ll.Q,Lfawlos JJnídos, onde a grande tiqueza ...de .experiência
permitiu explorar múltiplas possibilidades. A tendência à
.c�nce�nit;Çãõ-güe cri.Q.u_cm.LettoSJamoS.--5Ü:illlÇ.Qe_s-s;l�_yiri:iii�l
. monooólio provocou reações inversas d�__def��g___40 _ it1teresse
público com as leis anfür11st�jo_fi rn c!o-século"pàssadõ. Fe­
chada a porta ao monôiJófiO foi necessário desenvolv�r. for­
�as d�.-�-95?.!_ª�J?:�Ç�◊ ma_��-�utis. O oligopólio constitui o co�
roamento dessa eVofoÇãO: <::1_�--I?�;��-t:=_51ll_e um .E::��-Q.Q __ gfQPO:
de -�randes firm_:as cri_em bfirreir_ás à enxracfa d_e _()_utras em um
-
��t�!.,_ªe at1v1'fade econÔ�_i�� �t;;__ ªAffi}n{�_Írem: c.�Üju_n_t_amente -
Q!,preços de ce.r_;sis _produtos_�- _cons_ervan�o _cor1tudo_ autono-
l'"JI!Í_a ·-lfllânêcl;;·,· teC�o1ógicã'" C ad.míniStrãtlVa·: A admfofatra-
ção dos preços cria vantagem relativa para as···e-mpresas"·--que
1 mais "ínovari1'"taf1to em pr0éessos produtivos quanto na intro­
, dução de novos produtos dentro de determinado setor. À di­
/ ferença da concorrência tradicional de preços, que se traduz
J em redução dos lucros� debilitamento financeiro, fechamento
f de fábricas, ou, no caso de que se lmponha um monopolista,
}.-j elevação de preços e redução de demanda > o mundo dos oli-
1 gopólío.s se assemelha muito mais a uma corrida em que,
salvo acidente, t0dos alcançam o objetivo final, sendo maior
j a recompensa dos que chegam na frente. É um esporte ao
qual só têm acesso campeões, como as finais de Wirnbledon,
A forma oligopólica de coordenação de decisões, graças
a sua enorme flexibilidade, pôde ser transplantada para o es­
paço semi-unificado que se está constituindo no centro do
sistema capitalista. Favorecendo por todas as formas a inova­
ção; o oligopólio constitui poderoso instrumento de expansão
econômica. À liberdade de ação de que vêm gozando as fir.
mas oiigop6Iicas� e comércio de produtos manufaturados
entre os países cêntricos cresceu com extraordinária rapidez
f no corret dos dois últimos decênios. Pot outro lado) a enor­
f me capacidade financeira que essas firmas tendem a acumu�
!
28
'= J]ar leva�as a buscar a diversificação, dando origem ao con­
't/glomerado im:ernacionai, que é 2: forma mais avançada da
· , empresa moderna.
0

A primeira vista pode parecer que a grande empresa de-


riva s_tJa f�rinçipahnent�das�ÇQJ',9l!)jas de escala �EO­
qução . .kio.-Lapenas--<:,m-pme--v,:r.dade_.As_ç_ç_Qnomias de es­
cala são fundamentais na metalurgia1 n�.9uímica. básica, p3-
pel e outras indústrias a processe contínuo, �-.ta.mh.�
Opde a ma.o-de-obra é utilizada de forma intensiva e Q , tr�b.ª-·
.
lho �de ser or�.nizado em cadeia. Tudo isso reseonde
.
·apeõas }?�uma parte do en9�roce:-.sQ d_e_mncen�ão
�----��--'
da indústria moderna. A s;y· 0r"n "" forca deriva de que eíâ"';
..-1

�rabalha em mercados organizados, está em condições de \


administrar os preços e, portanto, de se assegurar autofinan- j
çÍamento e poder planejar suas atividªº§..aJonizo vrazg. Mas \
1
não há dúvida de que foram as indústrias do prímeiro tipo--
que constituíram o campo experimental no qual se d-esenvol�
veram as técnicas oligopólicas. Isso porque, onde as econo-.
roías de escala são ímportantes J as imobilizações de capital
são consideráveis, o que facilita a criação de barreiras à en­
trada de novos sócios no clube. Somente quacido essas bar•
reiras são sólidas é possível administrar preço$ e planejar a
longo prazo. Demais, nesse tipo de indús:trfa é muito mais
difícil manter ocultos os planos de expansão. Por último ) nas
indústrias que produzem produt◊s homogêneos, os custos de
produção são relativamente transparentes 1 na medida em que
as técnicas produtivas são conhecidas. Ê natural, portanto >
que hajam sido as empresas desse grupo as primeiras que se
organizaram internacionalmente como oligopólios, E foi a
evolução no país cêntrico da _emp�e�a oligo,póli_ca inte�Jl@Ç�q�
N
nal produtora dê-rnsumos 111dUSúfais "que -de� -orige;;;ai uma
das primeiras familias de. em_presas,, d1ve_f�IfiÇã:ctªs-:�COii- -dei�

H- Cf. C. Furtado, A he_gemoni-a dos Estados Unidos e o sJbdesenvol�


vimemo da América Latina (Rio, 1973), pp. 4}-51, e J. Fred Vleston,
"Comglamerate firms", em Economks of i:idustrial srructure, dirigido
por Basil S. Yamey (Londres, 197)), onde se encontva uma bibliogra­
fia seletiva sobre a matéria.

29
to: na medida. em que a:s grandes empresas internacionais se
foram capacitando para adminisrrar os preços dos metais
□ão-ferrosos ,. tornou-se interessante para elas transformarem­
se em grandes utilizadoras d-esses metais. Por outro lado,
para planejar a produção de cobre a longo prazo era neces­
sário conhecer a evolução da economia do alumínio, por
exemplo. _ Daí a emer_gência de novas formas de oligopólio
visando_� ··c;'??1:, denar a_ economíâ-·i;-â·o·ae·"'wn .._pt()dú-tú _mas d<:
- um córiJY.füQ:_:cre:��P�Qd�itõi_-_;t-é _ c;�rút j)_õú.OJ!Jliâtit.¼ít�fa:
:txe;;1Plo _ claro dessa evolu;iãO_ ê__dado __ pelas ?_r�_n?es co_rnpa­
i_ffifa&:·;1e"Petróleo:_ elas.. te]JS).�_1:;m·-a_·�lVCr_S_ifiCai-_se_ __ rio Caffipo
d<i _pe_tr()químic_a e da eno_r_me famdia-·êfe índústrias___ .9llf: daí
_
Piftc; m:}s"�_fom5�_m.-:·_p·rocur_�ià_in instalar-se nos setOr�s �on-
cqi�i[)_�i��-�2�-êã_�_v�º--f. �ii;iI.l_. �Xõn:úca.
Se observamos em conjunto as duas linhas de diversi­
ficação, a vertical e a horizontal, vemos que uma empresa
que se expande nessas duas direções tende a ser levada a
controlar atividades econômicas na aparência totalmente des-
conectadas umas das outras. �i partir de certo momenf:g___ as
�ntagens da diversific�ção passam a ser estritamente de �a­
·ráiet tmanceiro, pois o excesso ae·11qmctezae um sefõ"f pode
S
ser utilizado noutra;- ocasionalmente tn-<ffs-dirrãmYCi , Ora�
<esse tipo de coorderlação pode·-ser obtfclãa"Ftaves·ce---uist_i_tui­
ÇOes 11_naõ�eir_a0or definiÇáO '"fTrníto"--·màiS ·nexívels. Esse
P�ocesso �volutívo -tende _, portanto:__ a levar a uma coordena­
_ _
ção _ '_JíiiâDCeira, àtr_avés de instituições bancárias e semelha□-
_
tCS: e a uma éoordenação oHgopólica J no plano operadonaL 14

14 Evidentemente, lI coordenação financeira pode ser levada muito mais


longe do .que a olígopólica, Esül última somente tem sentido na medida
em que oferec-e vanfagens operacionais & permite retificar os planos de
produção e investimento de cada empresa com autonom-itz administra­
tiva. A coordenação fin,mcNra, ao permitir que um ramo de atividade
subsidie outro ou fimmcie sua expansão, pode ser, teoricamente, esten�
dida indé/inidamente; siluando,se a um 1tfvd de decisões extremamettte
geral, as deseconomias de escala são praticamente inexistentes, neste
caso. Estudos recentes reclizados nos Estados Unidos indicam que a
coordenação financeira é muito mais amplamc-11te praticada do qu:e ge­
ralmente se supõe. Sem assumir a forma institucional que tem na Ale.
manha, onde a exísténôa do A1..1fsic.hrsrat (conselho supervisor da em-
'i: •,,;;;:ú>fe& •W>W> ·'"· •• ,d.ill!iíi!!liw•-� -••=.L,1
li

,ê..s observações que vimos de fazer se baseiam na obs,er­


vação da estrutura econômka n.9J:J.e.:am.ericao.a.,._Muit.Q..mt.nos
jflformação dispomos sobre as formas aue estão assumindo.
os o1igopólios no espaço econômico, mais heterogêneos, em
·processêTe·lmifkaçâo no centro da economia capitalista. Sa­
bemos, sim, que os recursos finahceuos ostos ácfísog�!Ção
•as gran es empresás cresceram consideravelmente, que ..9s
sistemas bancários nacionais europeus passaram por um rá­
P1cto e drástico processo de reestruturação em base regional
e ue o sistema bancário norte-americano se expandiu inter­
nacionalmente de forma vertiginosa. am m s-a emos que
�Jm�ndes....emw:.�. .2Pe��m _ ínte_rnac��ênteafrivéS�ªê
�5!::_e �:��pa��12:,_gran'ª~�-- ��<!�da,.}5!_,,C�}'.!­
trole dos governos n�.5=1onai.§ dos respectivo� nafse�- b
A evofoçã�-�t�utural dos países cêntr��- -1:eria neces­
sariamente que repercutir nas relações econômicas internado�
nais. Neste terreno, mais que �m qualquer outro, a grande
empresa leva vantagem, 16 Com· efe.ito7 somente ela está em

presa) permite aos bancos atuar ostensivamente na orientação da cmpre­


_sa, o_eo.ftclar;.a.1Jten1o dor dir.etirriQ_s___e__QJ:_O_n�r_o_?e__ d,,e.__!J:Yr!.ª pequena.fração
do capital votantc,.<n�_o mais dc__ 5 por _c_e_r;to) transformaram os bancos
?iisESiãâorUnidos··e7n·âritY·os de co!ttrole do conju:-ito da atividade
êi::õfi"Ófn_icttJ/r:_:Ji'IJ1!.0Yl4nç�a.:que:_-cf_ificilmente pode ser exagerada. Assim,
eMtT§/1, conforme informações diVuliadas pelo Subcomité de Banco
e i\foeda do Congresso amen'cano, os bancos detinham em porta-fólio
577 bilhões de dólares de títulos emitidos por sociedades anônimas e
administravam fundos que contro1a1)am 336 bilhões de dólares adicio­
nais em títulos fina11ceiros dessa ordem.
f:.i Entre 1965 e 1972 o número de filiais de bancos ame_r,jç_4,r;_os._r7,_Q_.ett:__
trangeiro subiu de 303 para i-009;· Co"m YCS)3Cilõiioi-gyrm_de_s_ bancos
sediados em Nova York, a participaçl1.0 dos depósitos estrait'g'eiros subiu
•ie 8,5 por cento (dos dep6sitos nacionais) para 65,5 por cento, entre
'1960 e 1972. Veja-se Multinational corporatians wor I d dev·elopmeot,
"fr' 1 cJb..JbJ.2..;._Â,__f3J!f<.1Jiq,,<2-.:1Jt.eJ:MaoJ;JfLÓJ13:Zi]/�};,_çJrJC1:m
. f!fii�CS
_b __0:_A,_ _ _e__g_í/:_t_. f!zj_ .
· cênlricos . te,m sido i$_uolmeJ;_te considerável, particularmcnt_e. aa japo-
1!;;;;;:.:JJ.s-·opêYâ."Çõ!?S--Cxl"êrnas de uma grande empresa siío, via de regra,
dirigidas ostensivamente por uma subsidiária "internacional'' localizada
em um país de conveniência, ainda que o centro de decisões se mante­
nha no país de origem da empresa.
16 Preferimos designar simplesmente ''grande empresa" o que corren,
temente se vem chamando "corporação multinacional'1. Todt1 grande
empresa, na economia capitaliit,1' atuái, exdvJdos os serviços públicos,

.31
condições de administrar recursos aplicados simultaneamen­
te em diversos países. É natural, J?.Ortanto, que as antigas
transações internacionais, organizada;p�;Yr;terrrieaian�q�
� especulavam com estoques ou "jogavam" nas bolsas de mer­
���orias, ven�senao progressivamente substitu,:�Spüt
�raf!s�.çQ��-�ntre_. .ernpresas ._p_ertencº1tes.._<!��� g_rllpo, --Eüjàs­
·aü';;.{dades estão articulada_s_. 17 Na medida em q�e as ativida--
·-·-ae·s econômicas fora;·��fldO organizadas dentro dos países
cêntricos para permitir um planejamento das atividades das
empresas a mais longo prazo, impôs-se a necessidade de tam­
bém planejar as transações internacionais mediante contratos
de suprimento a longo prazo, instalação de subsidiárias ou
outras formas de articulação.
Operando simultaneamente em vários países e realizan­
do transações internacionais entre membros de um mesmo
grupo, as grandes empresas tenderam a desenvolver sofisti­
cadas técnicas de administração de preços, que exigem na
prática uma grande disciplina dentro dos oligopólios. O
mesmo produto pode ser vendido a preços diversos em vários
países, independentemente dos custos locais de produção, e
os preços praticados nas transações internacionais dentro de
um mesmo grupo são fixados tendo em conta as diversidades

é. "internacional", no sentido de que atua simultaneamente em vários


países, seía atr_avés de subsidiárias comerciais, seja por intermédio de
subsidiárias produtoras ou de participação em empresas produtoras. A
dimensão impõe a internacionalização, mesmo se a empresa tem o seu
capital controlado por um Estado nacional. Por outro lado, um'a em­
presa grande ou média que tenha reduzida atuação internacional, pelo
fato de atuar internamente no quadro de oligopólios, necessita seguir o
comportamento "internacional" do conjunto do oligopólio. Em síntese:
a diferença entre "nacional" e "internacional" tende a ser secundária,
importando fundamental.mente o peso relativo da empresa.
17 A ligação entre a natureza monopólica ou oligopólica das empresas e
os investimentos diretos no exterior, ou seja, o relacionamento entre a
economia internacional tal qual se apresenta hoje em dia e a evolução
estrutural da grande empresa deve-se ao trabalho pioneiro de Stephen
Hymer, cuja tese de doutorado no MIT ("The international operations
of national firms: a study of direct investment") data de 1960. Veja-se
também John H. Dunning (diretor), International investment (Lon­
dres, 1972), particularmente a introdução.

32
de políticas fiscais, os problemas cambiais, etc. Essas técnicas
são praticadas no quadro dos oligopPlios, portanto não de­
vem desorganizar os mercados, nem impedir o crescimento
destes. O interesse particular que apresenta o seu estudo re­
side em que elas permitem entrever a verdadeira significação
da grande empresa dentro da economia capitalista moderna. 18
e_· Q�Irnç2s.. . !!!.?.!.� característi_�_o do__ capitalisi:no _-11ª.-SJJ.a_fa sg___
! .�;:���0-�a atual está eil) _ 9u�.:��):_ -pie_S_�l§��-���-?.I? .
�-�tado , na:

/���:��:�;Et�!�Í�d����;��t:i:�0:e��E::�: ��:·
-

i ~nos, hoje em di��-- ·com �-- i�-te1:e_�_§_�-�:_C9foüVo_. _ _Na __rnedi _ �a em


��-!s economias ga_nharam e� estabili�ade, _a__�ÇãO"d() -E-�tª:­
do no plaiiO social pôcfe ampl1_�r-Sê,. __,Nf_as, como tanto __ a,,_e�t,:i-
bilid��-�---�---�'"-- �iF?��-?���ii;�_- ��:;�?�{i�---ª-�p_endem; funda-
méntalm_<;:�-��' - das tr_a_ri_saç_õe:s _i_nter_ _11a_donais, e estas estã_()_ s_o�
Õ -C0@01e das gr-âDdes emp_re_s�_�, -__as relações do_s _ E_st _.i_do�---�à-­
] ·ciOnai�.s.g!R-e.sÍ_as__)Jl_ti_m_�;_: t�.D�kiir:n_ @__ �-et_x�.1ªs_§es __ de f)C)��r.
i'Em primeiro lugar, a _grande e em_l?resa controla ___a___ iil?.Y��ã? �
ª- introdução de noVõ�_ :__procsSõs -�-Jl.OVOS proalú:os _· dent�?
Qas economías nacionais,.ce_r_tam_ente o_grindp_al .instrumento
_de expansão internaci��al. Em __ s_�&undo _!:3:g;ar:, _ el_a� são_ res-
129nsáve1s por_�grand��j)_a_r:te _ dâs·-_túúi�aÇõeS· ~mte!DaCionais _ __e_
detêm praticamer.i�e-- _ a· -i.rijÇ_Iª_ti.Y.@____1:i_�ss. .�-- t_�r_;-eno; em___!�_i:_ç�iro
�ligar, operam l;ternacionalmente sob orientaç�q_,._q1J_e escapa
�Dl_gtande parte à ação isolada__de. q�_a_lq1::1��- .&_<:lVerno, e, em
guar t�têm uma____gf?p_ç{�_JICiU_l��Z ·fora-·d()__ c:.o.}:�.t.r:.9.k.___ 9os_
bancos centrais e têm fácil ace;�Q ao mercado financeiro
mternac10nãf-:---· ·
,,__ O que dissemos no parágrafo anterior deve ser enten-

18 O super/aturamento e o subfaturamento são conhecidas técnicas uti­


lizadas pelas empresas que operam no comércio internacional. Contu­
do, os estudos sobre esta matéría são extremamente escassos. As pes­
quísas feitas por C. V. Vaitsos na Colômbia puseram em evidêncía que
os recursos transferidos ínternacionalmente por esses meios são muito
mais ímportantes do que antes se imaginava. Cf, Transfer of resources
and preservation of monopoly rents (Harvard University, 1970).

33
dído, não como declínio da atividade política, mas como
transformação das funções dos Estados e emergência de for­
ma nova de organização política, cuJo·-petfír·aTDda--s·e-·-e;-;úi
-cteTí'DiiidO.-Naõ-se---iiêCe'SSí"ia' ··mú:i'ta··-p·êtSpkáCfa para perceber
CJ.ue, a partir do segundo conflito mundial, o sistema capita­
lista operou com unidade de comando político, apoiado em
um sistema unificado de segurança. À existência dessa rela­
tiva un�4_a dt:: de COil)?,r:ttjq_ político se deve a rápida reconstru­
�ã() ·da; �c-;nomias da Europa ocide"ntafedo Japão,_ o p_roces-
-50- de ___ '_' descolonização", __ a organi_zaçã() _ do 1vierca_do Çomum
Europeu, a ação pêfsíStên·re"·ac;··ciTT v1saridõ-- á◊- desarma­
Il1.��to_: :��_if áti;:-�;-grand_ es' �()Vlm�-�-t?_ s -d�:.:·c_apTt�-_ -:C]ue per­
ini_tir;-m _às_ - _ gr�-?�-��--_e;;p-�e·sa·s·-- adqúir_ii_ a _p�eelll_iflê"n"éi_a _ inter-
n?�ion�f:_-a �-C_�iti�ã()___:d() _ __ pa_drã_ _o�9ól_�_r.. _ c_ ()�?___s_t1-'f;s�1tü"f0 · ão an- ·
tigopydraO-�uro: A dific�ldade par� entender esse processo
está em que o raciocínio analógico de muito pouco nos ajuda
neste caso. É perfeitamente claro que a tutela política ame­
ricana foi um resultado "natural" do último conflito mun­
dial.,Qµe o maior sacrifício humano e econômico nesse con­
flito haja cabidoà União Soviética e que a destruição do
poder militar e político da Alemanha e Japão haja beneficia­
-âi5osEsfãdõs TJiiidos dentro do ca11112� �apitalis_ta_ são.- dados
di�fo��:6fi�.:. 9�.�....9.�Y.����----�-��!_t_�-�--- ���º-- _t_ajs._O__ gue i�t.éressa
assinai.ir é que, estabelecid<!__� pr.eeminência _ __ p_Ofíti_ca america.
;;�CTTâfá�-se condições para que se dessem profundas mo­
CfffíCaçoes esfrllfiifãis·-··n:6----sístema·---capítal�S_ta:- ·NâO se pode
--
·ãffrffiãj·"·que··es·ifáS -füOOiJí"c:ações hajam sido desejadas e muito
menos planejadas pelos centros políticos ou econômicos dos
Estados Unidos. A verdade é que delas resultou um cresci­
mento econômico muito mais intenso e uma elevação de
níveis de vida relativamente muito maior, na Europa ociden­
tal e no Japão. Aparentemente os americanos superestimaram
a vantagem relativa que já haviam obtido no campo econô­
mico, ou superestimaram as ameaças de subversão social e "'a
capacidade da União Soviética para ampliar a sua esfera de
influência. Em todo caso, eles organizaram um sistema de

34
segurança abrangente 0o cc,_i:-1junto do m.Y}}_çl9___c::_a,p_it�.li§.!fL�-P.9r

�l
�-ssa forma exerceram ---;;;=;a e_t�!�.Y�--.,- �_l;t_��J�_ _ J'.9.Ht_ _i_�-�----- ����e _ ()_S
'Estados nacionais-que f_2rma-;n esse___ mundo. 19.• ,,,.
É possível que a tutela política norte-americana haja
sido facilmente aceita pelo fato de que, no plano econômico,
ela não se ligou a um projeto definido em termos de interes­
ses nort e-americanos: foi apresentada como um instrumento \
f
de defesa da "civilização ocidental", o que, para fins pfff :)
cos se confundia em grand�_J11_e.dida__com..a..defesa__d_Q__ �isJ_ema r
c_apitalista . Criou-se, as�\�: �m_ a s�peres trutura política � 1
.- _ . -- . \
1'
. . alto, com a m)s;AJii�:piiricipiiI:.âe
nível ..muito __d!;'._S_Qfi�trJ,11(.9
rerre;; -;li onde os r_esíduos cl9.?.."'�P�.igg_�_ ,_g_�_tª _ gg�__J]_gs_i_cm_<'!.iS
pe��-í�tj�-�---�m criar barr.�í_r_a_s__ entre os___ paí_ se_s�·- A reconstrução
estrutural se operou a partir da economia internacional. N9 1
plano int erno _os-·E-Stidõs nacionais ainpTíâfãiri·-·a,.-Sua atuaç�õ
Rai:�L-��2���r,_�fr::::��-).Ilf�a�_es_tr_ut_ _u��-��-. �-ode_r�_iza_� ª-�--- institu·{_
çõ{'.�, jnJ_eg_ �_i_fic,a_r _ a__ c�pi t_aÍiz,?_Ç�q,-__ a[J_ Jp_H_ªr_. ·ªJ_Q_fÇi__Çlç __ _üiQª_Ib(}_,
�t_é_:_ J\1do is.s.o�C.outríbuiu, evidentemente, para reforçar a p-o-
ytlção das SE?_12�-��- ---�!!?_presas de�tr?___ _ de Cã:dã·.. pa-fS."- -Mas···for--a
19 O sistema de segurança global, que abrange o mundo capitalista,
comporta, evidentemente, distintos graus de autonomia nacional. A
França é o exemplo conspícuo de país que defende o direito à auto­
nomia de sua defesa, no quadro global do sistema. Essa autonomia
deve ser entendida como o propósito de não assumir os riscos que im­
plica o contl'ole pelos Estados Unidos das decisões fundamentais.
Assim, teoricamente, os Estados Unidos poderiam "sacrificar" uma
parte da Europa ocidental numa confrontação parcial com a União So­
viética, a fim de preservar a integridade de seu território. A autonomia
francesa significa que essa margem de manobra se reduz para os Esta­
dos Unidos, passando o território da França a gozar de proteção simi­
lar à que os americanos reservam para o seu próprio território, sem
que essa situação possa ser modificada por decisão unilateral dos Esta­
dos Unidos. [J_m sistema al�e_e:z_at_ _iv_o foi_ _in__{c_ia_l�n_e_n_t_e__c_once_b_ido_ _po_r De
Ga_t,tl{_e_ at_ravés da criação de uir1___dí:{J)ôj_iiz_v_o�c0í1Júiito (Estados Unidos,
Gi_iBr'éiãnh7re·-prã)"i(ãt?êf'f8/fi_S4!/ef .P.dg_s____ de_cis_õ_e__s__ m_qjs impqrtqnte s.
Esse dispositivo iiãO atrà_i�- os ar,!_ericaii,os e não dispensava o d<!senvol­
ví»rento de··um poder atomzco mâependente em cada um dos três paí­
ses. _A irrelevância da autonO"inTii /ràncesa, como instrumento de polí­
ti_c_a íntern_a,cfo_nal, j[cot1;_ pate_;;t_e--__no conflito do Oriente Médio de fins
de 1,27_!_. A últi_m_a _�D__eCTãYdçãõ __ Atlântica, de 19 de íunho _de 1974,
Conf_irlnou___a _upi_cidade ..d.os_ sis_temas de defesa da Europa ocidental e
dos Estados Unidos. Cf. Le Monde de 21 de junho de 1974, p. 5.

35
0
~"ação no plano internacional, promovida pela superestruturi
1
política, que abriu a porta às transformações de fundo, tra
zendo as grandes empresas plira uma posição de poder vis-à
vis dos Estados nacionais,
A reunificação do centro _çlº-·-si����LP-�L capüali,g_a consti
-�tui.1J?�Ssivelm�i:i1�.!i,__[D-?J�jmP-9.rriµt�---�2r��-qi;!,�nci_�-c-d_9_� se­
gundo conflito mun<lh1l Esse centro, se apresenta > hoje em
dÍa, como um conjunto de cerca de :SOO milhões de pessoas.
O seu quadro político consiste num regime de tutela; sob
controle americano, dentro do qual os Estados nacionais go�
zam j ainda que em graus diversos, de considerável autono­
mia. Nada parece impedir que a estrutura superior de poder
evolua numa ou noutra direção, seja para reforçar ainda
mais a posição norte�americana seja para admitir uma certa
participação de outros Estados nacionais- zo Também não se
excluí a hipótese de que um determinado Estado nacional
procure aumentar a sua autonomia. O problema principal
que se coloca neste último caso é de refações com as grandes
empresas. Em primeiro lugar, as grandes e.rnpresas do pró­
prio país, as quais já não poderão operar com a mesma fle­
xibilidade dentro dos olígopóHos ínternadonais e5 muito pro­
vaveimente1 perderão terreno para as suas rivais ou passar.ão1
\ parcíalmente, para o controle de uma subsidiária localizada
"em outro pais.
O produto bruto do centro do sistema capitalista s•üpe-

21 As propostas americanas de 1972 visando a dijerenciar planos de


deâs2io - o que significaria inslituóonalizar- o que eslá den1onstrt1do
na prática, ou seja, que os demais países do mundo capitalista não dis•
põem de meios ejetivos para levar adiante por conta própria uma polí­
tica "planelária" siio uma indicação da tendi!ncia .evolr,1,tiva do siste­
ma no decénio aluai.. As duas maiores naçóes industriais, depois dos
Estados Unidos� pelo Jato mesmo de que estão localizadas nas frontei­
ras do sistema �· a Alemanha de um lado e o Japão de outro -,
poderiam influenciar a evolução politica desfe. Contudo, essas duas
na.ções são profundamente dependentes da for-ma evolutiva atual do
mundo capitalista para prosseguir com a extraordinária expansão eco­
nômica de que se estão beneficiando. No plano económico, essas duas
nações são as maiores beneficiárias de um sistema de defesa para o
qual contribuem com a mínima parte.

36
ra de muito, atualmente, 1,5 trílhão de dólares. O acesso a
esse imenso mercado, caracterízado por considerável homo­
geneidade nos padrões de consumo, constitui o privilégio
supremo das grandes empresas. 2' Dentro desse vasto merca­
do a chamada « economia internacional" constitui o setor em
mais rápida expansão e aquele em que as grandes empresas
gozam do máximo de liberdade de ação. Toda tentativa de
compattimentaçãc desse espaço da parte de qualquer Estado
nacional, mesmo os Estados Unidos 1 encontrará resistência
decidida das grandes empresas. Por outro lado 1 toda tentati­
va de compartimentação reduzirá o ritmo da acumulação e da
expansão econômica, no conjunto do sistema e mais parti­
cularmente no subsistema que haja tomado a iniciativa de
isolar-se. A menos que pretenda modificar o estilo de vida de
sua população e, de alguma forma, perder em grande parte
as vantagens que significa integrar o centro do sistema capi�
talista; qualquer país, independentemente de seu tamanho,
terá que conviver com as grandes empresas, dirigidas de
dentro ou de fora de suas fronteiras; respeitando a autono­
mia de que necessitam para integrar oHgopóHos ínrer•
nacionais.
No correr do úitimo quarto de século o produto bruto
do centro do sistema capitalista mais que triplicou e as rela­
ções comerciais entre as economias nacionais que formam

21 O produto per capita ào centro do sistema capitalista (os países de­


senvolvidos de economia de mercado, na linguagem das publicações das
Nações Unidas) foi estimado .veio Banco M:máial em 1964 dólares
para 1968; e o da população da periferia do sistema (chaw.,f)dos países
cm vias de desenvolvimento) de econovzia de merr:ado em 175 dólares.
Arrer:dondando para 2 OCO dólares no primeiro caso e para 200 no
segundo, e tendo em conta que a população do centro se aproximava
de 800 milhões> em 1970, enquanto a da periferia seria da ordem de
1,7 bilhão, conclui-se que o produto no centra seria da ordem de 1_.6
trilhão de dólares e o da periferia de 340 bilhões. Veja-se o comuni­
cado de imprensa do Banco ltfundial n.❖ 38, de setembro de 1971, e,
para os dados básicos de população> Kingsley Davis, ªPopulation po­
licyi wiU current programs .succeed?", Science, 10 de novembro de
1967, e Tomas Freijka, "The prospec!s for a stationary world popula•
lion", Scientífic Arnerican, março de 1973.

37
esse conjunto cresceram com velocidade ainda maior. 22 Esse
crescimento se fez em grande parte no sentido de uma maior
homogeneização, declinando relativamente nos Estados Uni­
dos e aumentando co;11 excepcional intensidade a renda per
capíta daqueles países em que esta e_ra relativamente baixa,
como o Japão e a Itália. Mas, se é verdade que o crescimen­
to nos Estados Unidos foi relativamente lento, também o é
que foram as grandes empresas americanas as que mais se
expandiram no plano internacional. 23 Essa expansão, na maio­
ria dos casos, não assumiu a forma de incremento das tran­
sações comerciais dos Estados Unidos com os países em que
operam as subsidiárias de suas grandes empresas. As em­
presas americanas eram as que melhor estavam preparadas

22 O Produto Interno Bruto dos países do centro aesceu no após-guer­


ra (dados relativos a 1950-1969) com uma taxa anual de 4,7 por cento;
no decénio dos 60, fase de màis rápida integração do sistema, a taxa
foi de 5,4 por cento; a taxa de crescimento per capita é, no primeiro
caso, de 3,5, e, no segundo, de 4,3. O crescimento das exportações foí
ainda mais intenso: 816 por cento anual no após-guerra (1958-1970) e
10,1 nos anos 60; o comércio entre os países céntricos conheceu uma
laxa de crescimento ainda mais alta, pois a sua participação no total
do comércio exterior desses países passou de 64 por cento, em 1948,
para 77 por cento em 1970. Para os dados básicos veja-se CEPAL,
Estudio Económico de América Latina, 1971, vol. I, quadro 2.
23 O número de subsidiárias de firmas americanas no exteríor aumen­
tou, entre 1950 e 1966, de 7 f_li _pa_ra 23_282 e a _proporção des�as fi­
liais em outros paísesCéiiD7éoS Si1biu" de 62,8 f;ara 65 -f;or Únto. �A
---··expahSãiJ dds--gftlfldéf"firmás àniéicmttis "foi aindá mais inte"nsa. Se 'bem
a informação seja insuficiente, sabe-se que a expansão das firmas japo­
nesas e alemãs foi ainda mais 1ápida, mas partindo de uma base consi­
deravelmente inferio,. Um dado comparativo pode ser obtido através
do valor contábil dos investimentos diretos: entre 1960 e 1971 os das
firmas americanas passaram de ]3 para 86 bilhões de dólares e os das
finnas japonesas de 300 milhões para 4,5 bilhões; em 1971 os investi­
mentos das firmas alemãs haviam alcançado 7,3 bilhões. Cf. Nações
Unidas, Multinacional corporations in world development, cit., p. 8 e
quadro 8. Uma idéia mais precisa do crescimento relativo do segmento
internacional das economias nacionais céntricas nos é dada por R.
Rowtho,n e 5. Hyme;, em Inrernational big business 1957-1967 (Cam­
bridge University Press, 1971), pp. 61-74. Os dados aí ap,esentados
indicam que, no que respeita ao setor manufatureiro, o crescimento
"internacional'' das economias alemã e japonesa se fez essencialmente
através de expansão das exportações, ao passo que, nos EstadDS Unídos
e em menor escala no Reino Unido, esse crescimento assumiu a forma

38
para explorar as novas possibilidades criadas pelas reformas
estruturais ocorridas no sistema capitalista nesse período,
seja em razão do maior poder financeiro de que gozavam,
seja à causa do avanço tecnológico que haviam ganho em
rcampos fundamentais. Mas, ao evoluir o centro do sistema
capitalista no sentido de uma maior homogeneização, as con�
'seqUêiiêlãS na ec6nomfa "norte-am_�ricana.. ·n_ão se fize�!lIIl ___(::S�-
pê��f� mai� rápido_ -�-r- �s_cí111ento da pr�_9_li_!_��i��-�� fo�� "dôS
-��os___�?i?�-pto\:_9ec:_ 9.Y.:e. Vína___d�sl_9i ca_çadido ã9 da__ balança _comer-
de importaçõe�
.. êíál ��se __ _l)ª��'. .. que __t nd _ll....� S_<';_r__ nv
p;;;�nielltes- (!g_L-9.P_i;;�-_._. Pa_ç_õt:s_ __jn cllJ S_ _ tri_a i_s. Sendo º dólar 1
uma moeda "reserva", o resultado foi o endividamento a /
curto prazo dos Estados Unidos numa escala que até então {
houvera parecido inconcebível. Essa situação provocou_ duas!
conseqüências importantes, de natureza diversa. 4-_·ptlmeira)
consistiu na formação de urna massa de liquidez que-facílita:
\..ria--ºiipi_do_ __dg:_$_�p_yql_ yJ_@_�PJQ_�l�ii_
_ t·(:���i_}fDinceiro inte!!l�-
de expansão das vendas de subsidiárias instaladas no exterior. Assim,
entre 1957 e 1965 as exportações americanas aumentaram apenas em
4,2 bilhões de dólares, ao passo que as vendas de subsidiárias de firmas
americanas no exterior aumentaram em 24 bilhões; os dados relativos
à Alemanha são 8,4 e 1,4 bilhões de dólares e os relativos ao Japão
5,2 e 0,6 bilhões. Parece claro que os custos substancialmente mais
baixos do Japão e da Alemanha (salários muito mais baixos e rápida
modernização do equipamento industrial no após-guerra) permitiram,
nesses dois países, que as firmas se expandissem internacionalmente
usando o caminho convencional da exportação; ademais, em face da
unificação do mercado do sistema capitalista, as firmas de países com
mercado local menor teriam maiores possibilidades de obter economias
de escala através da exportação. Nos Estados Unidos, onde o me;--cado
local pe;--mitiu às firmas manufatureiras maximizar as economias de
escala, a descentralização geográfica da produção, em base internacio­
nal, se apresentou mais cedo como via de expansão privilegiada. Dados
mais recentes indicam que tanto as firmas alemãs como as japonesas
estão tendendo para o modelo de expansão internacional americano.
Contudo, em 1971 a produção internacional japonesa (subsidiárias em
todos os ramos) alcançou 9 bilhões de dólares, enquanto as exporta­
ções desse país passavam de 24 bilhões; os dados relativos à Alemanha
foram 14,6 e 39,0 bilhões, e relativos aos Estados Unidos 172,0 e 43,5
bilhões. C/. Nações Unidas, cit., quadro 19, e S. Hymer e R. Rowthom.
"Multinational corporations and international oligopoly: the non-ame­
rican challenge", in C. P. Kindleberger (diretor), The international
corporation (The MIT Press, 1970).

39
ícional,ampliando assillL.Q arau de liberdade de ação das
\ ·grãildeS empr�s_ as . .A(s�gunQ�i o tecOrihecimento de que o
11 �ístema morle_tá}j.Q_jfilITq�çlQ__nal____ª_tL.I�L��-�- --�~�s-��:9:- -�_() _ __Q.óJgr. e
/ _rião no ouro. O fato de que a emissão d_e _dólar - _ seja _P,ri_vi�égio
/ do governo dQ:LE.�ti:.tdos UnidoSCO.ô'$fi_í:ü'fpt()V,it1rrefü" _ t�_V�I��
I que esse país- exerce com excl�_ s_ ivi_ d-�.J�- � ·r-Utelà do_ ��nju�tÜ
[dQSist�trli'l.cap_ítalista. ·:r; po_ssf_\_'_�L_q1:1�_ _ .<:��ª- _t_ut�}�_,_ n?_-- fu_rurg, _
; ..�iPiú!lhi�Ia-__ç·Q.i!i?�tros·:_pa_í_ses,_ substit�},�� - o:��- __() __d61_ã_r _ _?�_ r
_
j uma_ mc:,e�a _de conta __ ·��uciollàdã_po_ r__ U!11 co_�f�_ntÜ cl _ i_ -_ -b_ancqS··-
1 cent_iãl�-- Poder emitir moeda de cu��o f?rç_a_d()___ in_t_ernaci_o.qal,
' �entementcda 1>róprra süuáção de bala11ç�-d�p;ga- ·
:'f!lentos, é êivi��gi.<?�-f�g_L _ Compreende-se, portanto, que os
affiericanos se empenham em não abandoná-lo. O regime de
paridades cambiais fixas, prolongado por tanto tempo, se fun-
!_ dava na hipótese otimista de que o diferencial de produtivi­
dade, entre os Estados Unidos e as demais economias indus­
trializadas, se manteria. Fora dessa hipót_ese, ele somente
seria operaciona l num mundo em que as relqções econômicas
internacionais crescessem lentamente ou sé a!)oiassem em ati­
vidades em que as vantagens comparativas se fundassem em
fenômenos naturais., O abandono.da convertibilidade. do dó:.
,,_��E..,�g"!,, our,?_.:=:'"9a__H0id�=z.. .d.? s_ paridades ç_am,bi_ �_is entre as e_�i_ _n�
7_ _çle��s moe _ _das_ . si,g�If/.�-�--g ��---º- _g_Qlm;__ .:>�,,_ _ri;_ �_r,i_sJ_q_r_rn211-. -�- !TI.
- _ ç�_gt_ [.Q
/ de .. già:\üQi�êA - t:i.)f�t(:rp c:I�__ ()_ E!'D.?..��;._;.eJti.t�_'._ _
a f
'-----.... Fizemos referência ao fato de que as subsidiárias das
grandes empresas norte-americanas, que operam nos demais
países do centro capitalista, têm crescido com intensidade
maior que suas matrizes. 24 Aproveitando-se de condições fa­
voráveis que oferecem esses países e outras ainda mais van­
tajosas que encontram na periferia do sistema capitalista,

24 Já fizemos referência ao fato de que os investimentos diretos ameri­


canos no exterior quase triplicaram seu valor contábil, entre 1960 e
1971, ao passo que a taxa de crescimento do PIB americano no após­
guerra (1950-1969) foi de 3,6 por cento anual e a de crescimento do
setor industrial de 4,1. Pode-se estimar que a expansão da produção das
finnas americanas no exterior é pelo menos três vezes maior que a do
conjunto das firmas que operam dentro dos Estados Unidos. Para os
dados sobre o PIB americano veja-se CEPAL, cit., quadro 3.

40
essas St.!bs�iá,ti,;J_s_..se . e..Yp.andem.xª_pj.2,�giente e te11;_9/�!�r-�_._5�}�-�
J�laçõe5, _ a5,�01_1?-��-r_1;�s___ cs.�'"-ª�1JJ�Jr§pole. Por outro lido, __ ?u-
rante o longo peiíodo -das paridad�s fixas, __ e'rJJ. presas de outros
7!âises"'1Il'Cfi:Eff�_ª!,������,,g�a- proaUtivíciãê!é ú�-�-SJ<3:___f.ªpiçh�m�D:-
te,· paruC@(DJPiúP ó'.Jap_ão e a Alemanha Fe_deral/ü)lpl_?_Qta-
- ·ram-se solidamente no mercado norte-americano. Criou-st\
aSsliI-�, �ma situação estrutural pela _qual as importações ten­
-
_dem a creSCer mais fortementé-Q�e as export·ã·çoes;--Q�qü-e· ­
não pode deixar de ter -- �- §?-�.rru;;;§_Q_�-�-Jl�K'ªÜY.?.? _·no níveriff.:
-
terno de emR.ITg:9_:_ Enfrentar essa situação C01..;;·~;imp1;;-s--·n; e�­
didas cambiais significa elevar periodicamente os preços das
importações indispensáveis e abrir a porta à degradação dos
termos de intercâmbio. Dessa forma"' o êxito considerável das
empresas norte-americanas no exterior tem a sua contrapar­
tida de problemas para outros setores da economia dos Es-
tados Unidos. Com efeito, ...e.ste..-país___apres.enta lillLÇQ_�fi5iet1-
te de desempr�gQ.....1:r1:uíto._superio.r__ ao__.q.ue....._s.e....:ohs.er...v.a.....no5_
_&iniis_p_ai.$_e5:__d_o ceni:ro da economia cª-Ritfilbt<;'l_ 25 e toda ten-
rãtivaf)ãia"·redüzi":to ptoVOcà outras perturbações. Na medida
em que as tendências referidas se agravam e prolongam, vai
surgindo .uma__á1:':.�__-ª�Jriçç_ão entre as grandes empresas f:
outros se�� s9..ç_ieda.de.-11or.te.:amerk�. l1-ª-·--_--:f:tJ.lifícil es�-­
-
.-.c1ܪL.s�o..b_t:�_l":L��..Y_pl�lJ,�Ç:ã_O;:de:VW--tü:OEêS.sP... ·tãQ" -�Qll!Pkx:o. _.com� --
-
-�' f!l_�s nã()�---Sé:_:f10.d�.(!�{���ir�_?:-_��Pé�.��:�A�:-:q���:.;1�- -têflh?�..
-
_iip.por.rrui�(!S:=cons.e___qliêríCfãS n·;-- �struturação Pol_í_tic_a do mun�
do-:-<:ilPitaliSta....Sé:.. o·:.:prece:s�?::cte:.:fr�cçãó---:se_--aifâVR.;.-ê"_ po::.s,íveT
Q.�,Llprj_a. uri:1� -�endência,,__;;L,Q.i{�_re_nd.:ix...rn2:_is_ claramente o sis­
-
tema :Ie�..·;:·;t�1; polírica do· Illlli1do caj)i'r"aÍiSi:a-·âos--inú�"re"SSeS
inais específicos do Estado nacional norte-amerkano_. A pre­
sente crise polí_tica _ polarizada no cas���f� -�ela

qual o poder leg1slat1vo procura recupera'c-parte das atnbm­_
ções constitucionais que lhe foram subtraídas pelo poder exe�
cutívo no correr dos últimos anos, pode constituir o prelúdio
de i rpportantes reajustamentos no plano político-ínstitucio-
25 A taxa de desemprego nos Estados Unidos tem flutuado, nos últimos
vinte anos, entre 3 e 6 por cento e nos países da Europa ocidental
entre menos de 0,5 e 3 por cento, excluída a Grã-Bretanha.

41
nal. 26 O reforçamento do poder legislativo implicará, muito
--prOVavelmente, uma maior mobilização dos interesses que
conflitam com as grandes empresas, ao mesmo tempo que po­
derá reduzir a capacidade do governo dos Estados Unidos
para exercer a tutela internacional. Nesta hipótese, é perfei­
tamente possível gue o sistema de tutela se reestruture em
bases mais "internacionais". 27

As g_ra!J-4.f.J ._ empresas íMS novas relqç Q(? _çt;ntro-periferia


�--- -- ·-·-·~ ··-~"'-• ·'"·"" · ·· ... ........ --··- ···· ----·· .
As modificações estruturais ocorridas no centro, a que
fizemos referência, devem ser tidas em conta em qualquer
tentativa de identificação das tendências evolutivas atuais do
conjunto do sistema capitalista. Em primeiro lugar, é neces­
sário ter em conta gue o p_.ç9ç�sso de unificação abriu o ca­
minho a uma çonsider.á:v..eLint.eJJ..s.iJi.ç.açã_o_,.Jo crescímerrtÕ··· no
Próprio centro. Com efeito:.,)t..P�?:{!Cl .média de crescí�entÕ do
bloco de países que formam o centro mais"que duplicou, no
. correr do último quarto de século, com respeito à taxa .hi_ s-
-tófícà dE: cre·sc·íilleiúO ·deSSéS""ineS"rii'ôS i_íS§5:· 2s· Ein s�g�ndo
___p
26 O aspecto mais importante dessa crise está ligado à não-execução,
durante a primeira administração de Nixon, de partes da lei orçamen­
tária. Sob o pretexto de evitar aumento da pressão inflacionária, o
presidente não pôs em execução planos de gastos no campo da assis­
tência social e do controle da poluição, o que acarretou considerável
desgaste político de membros do Congresso.
27 A "internacionalização" da tutela, a exemplo da pratícada pelo Fun­
do Monetário Internacional sobre os governos latino-americanos du­
rante muitos anos, ten_de -� .�s!u.mir a_ forn_za. tfe explicitação de um
código de "normas de bOtn cO'raportamento" a·sei seguido pelas grandes
irrifjr"esils· e pelos Estados, sob a supervisão de órgãos "internacionais".
No estudo das Nações Unidas que citamos anteriormente se faz refe­
rência, '}àr exemplo, à conveniência de estabelecer "um conjunto de
instituições e mecanismos destinados a guiar as corporações inter11acio­
nais no exercício do poder. . "Ver p. 2.
28 Já fizemos referência ao fato de que essa taxa, no período 1950-1969,
foi de 3,5 por cento per capita; as taxas históricas são as seguintes:
França (1845-1950), 1,4; Alemanha (1865-1952), 1,5; Grã-Bretanha
(1865-1950), 1,3; Estados Unidos (1875-1952), 2,0; Japão (1885-1952),
2,6. Cf. S. Kuznets, Economic growth (Yale University Press, 1959),
pp. 20-1.

42
r
i lugar, ampliou-se consideravelmente o fosso que t�---�-�J2_�rava
,l o_ centro da periferia do sist:m�,___o_ _que_ em, __g_�_?1:1.sl�__ p_arte é
si;;Pres-cons�q�ên_��a __da ml:it1Sificaçã_ o do -crescimento no
centro. 2g-E��.rer_��irÓ lugar,. as r.elaç�s comerç:jgi_$� �!11I�--P_§_��-
- _es__�ê I1-
sesc'ê�t_ricos e periférícos, mais _aín4_?___ç!Q_:qµg_,e:p_t__r:�--PªÍ� .
_
1�,T:�2:?�:- __-t!���1Sf am se en
r!J?.?t - .P.r.�gr._ii�fram t e em __ ?P�t�_ Ç{S;s ln-
· · ·
\ _ternas da·s grande·s·· empre·sas. 30
r·�NãõhaVendo conhedd�- ;· fase de formação de um_ siste-
fi ma econômico nacional dotado de_ rel�_trva áUtonomi�--=- fase
1que permitiu integrar _as estrUtufa-s internas e homogeneizai
]�_ tecnologia -, as�-���Onomias pe�J.l�n_ças_s.011b�_c:erri· um· Pto�
,···1 cesso de agravaç%_o_das__disparidades--internas __à__medida .. q_ ue se
_!Industrializam guiadas pela substítuição de importacões. Já
�-fizemos referência a esse fato,. cons�Üê;�ia i'.rieIUiáVd --�_?�
tentativa de reprodução em um país pobre as ormas de
-
vida de países q�_e J_ � -�k�a_n�a_r_am-- -�-�TYê_í_(íijti_i�õ- 'IT1-ãTS:··ãrt;�:-d�
·;:curnuiãçãõ-·d•e.,capitáL Orâ; esse· tipO -de indu;_g_��liza_ _ç§,9_,___gue
�-�r!9.ª9.Lª-l}!_�E.!?res tropeça _v�-- �-()T�-:t .SJ.��-t- ���_l9_�---c;9_�s_ _id _�_iá­
-
�níad.os pela falta de capitaís, pela- dificuldade de acesso
à,_ tecn9_log_ia, _ pela __pe_qu_ene_z_ _?.?. m_�r_c_��-º interno_,_ r�a_líza-_se
at�-;};;�;;te --C◊rfi.J_X_tf"J() _ _fcfí�_ifi�----�apide�:__ irª_ças__à_ c�_Qp�rai_�o
dos olig9pólios interfü1_ciona_is. l]_�iliz_amlo J-�C- IJ_Q.i_p_gia amorti­
:?.�tl�_,,-�?J.g_�!!l-�1:5_yeze_ � _e4ii�-�-�en ws··tã"�ri�--J.á _ :�:�ort}�.fü�g_s/. e
--
, �0bj_l_izando ..capi.ial local, --as g_r,arides_ �I1)Pr_ es_�-;- estão em co_D-
d}ç_õe_ s _ _de insr_al�r ___in?ústrias na ��lüt pà-�!�___QQ_��-·p_@_ts�s____çlg __pe-
Qf_ú_fa,·par·1:1cu1ª1.!21-�!f��:
_ -�����e.S:?0.§_!P.S.��-�- i�- -� -��. _í_µ_v��graíl:., _:p�r�
si.�J.!!!.�_1.?:_t,�----�-om atividades -�� importação. -

29 A taxa de crescimento da renda per capita foi de 3,5 no centro e


de 2,5 na periferia, no período 1950-1969. Cf. CEPAL, cit., quadro 2.
Ainda que a taxa de crescimento da renda per capita fosse idêntica, o
fosso estaria permanentemente aumentando: um incremento de 3,5 por
cento em uma renda de 200 dólares corresponde a 7 dólares e numa
de 2 000 a 70 dólares.
30 Exceto para os Estados Unidos, inexiste informação precisa sobre
esse ponto. Na medida em que declina a importância relativa dos pro­
dutos agrícolas e aumenta a das matérias-primas minerais e, ainda mais,
a dos produtos manufaturados nas exportações dos países periféricos,
estas tendem a deslocar-se dos "mercados internacionais" para o âmbito
interno de grandes empresas.

43
--�<;L_91te a índus��-����açã<?,_...,9�-�~_atu_almente se
: reali��E.?__.Q�_rif<:Ef!l ___sçb_q __con_t_roí� __d_�s _ grand�-�--·empf�S:is �
• E!�J,�lL'!-lla!h1!tíYJ1m"'nuuilstinto..-da.industrialização que,
; _em etapa anterior, conhecera:f!L21L.P?J�§ __Ç�flt_rI�()_� -��L �!1.4?.
mais, da que nestes prossegue nq pre_s�n,re. O dinamismo
. econômico no ·centro do ilité"ffi-;d���-r� do fluxo de novos
produtos e da elevação do3 salários reais que permite a ex­
: pansão do consumo de massa. 31 .fm contraste, '-: capitaJismt:
: eeriférico engend_ra º--�i_m�tisrno c�ft�·_ranE·req��tí?�.rffi�'rie-n�·
:_
' �S.2!1C�ntraÇâ◊--d;í__I'efl_�-Jün ..d<! qu� as'"_ mi_norias_ possam.
rt;_P!'��l.tr�� Jqr_n1_a�-- çle__�?B�lJ-�Q ÇoE; __p�íses cê11tricos. Esse
. POilto é fundaillenrai Para o conhecimento da estrutúra global
do sistema capitalista. _.Enquanto_ n_o __ c_api_talismo _cêntric() a_
'. _acwn.�f1ital avanç.2.�, no correr do -�1-�Í fl:O s-é9::!õ; .
,_çom inegável 2estabilidade na repartiç_ão d� re!}.Qa,_Juncio_nal
-�a(3' ;.:,r,_,t)o capitiiTiSffio · p-erfféric◊·- a industriali;_ç'-ao
-�-·
---~-""""""°"' _,,_ • •·~•~'- ••�"'""'"''"•• •"' •-•-•-••• ••-'
,'vem provocando crescente. concentração,
----- ..
-;, ---�-�"-·-· ,.

L A evolução do sistema capitalista, no último quarto de


século, caracterizou-se por um processo de homogeneização
e íntegrnção do centro, um distanciamento crescente entre o
centro e a periferia e uma am_pliação considerável do fosso
qne 1 dentro da periferia, separa uma minoria prívilegiada e

31 Cf. C. Furtado, NSubdesenvolvimento e depéndéncia: as conexões


juudamentais", cit., e também Análise do "modelo" brasileiro (Rio.
1973).
31 As estatísticas disponíveis com respeito ao processo de industrializa­
ção dos Estados Untdos, da França, da Grã-Bretanha e da Alemanha
põem em evidência a estabilidade tanto funcional como social da dis­
tribuição da rendo., no correr do último século, tidos em crmtd os
efeitos da ação do Es!ado no plano social e o incremento da participa••
ção de Estado no produto. Ademais, as informfi{Ões indiretas levam a
crer que no pf!rfodo anterior, isto é, nos primórdios da industrializaç-;J.01
mais provavelmente houve concentração do que desconcentração da
renda. Cabe, portanto, admitir que, se d renda dos países pf!ri/éricos
é hoje muito mais concentrada do que a dos países dntricos, ela tam­
bém é muito mais concentrada do que foi a renda desses mesM'loi países
cm qualquer eslágio anterior de seu processo de industrialhaçífo. Para
os dados relativos à distribuição da renda nos países cêntricos veja-se
]. í'viarchal e J, Lecail!on, La répartítion du reve:iu national, vols I e
II (Paris, 1958).
as grandes massas da po:i)ul.ação. Esses_ proce_ssos não são in�
dependentes uns dos outros: de;_,.em ·ser Considet'ados dentro­
dê·~urn mesmÔ qua-dio é\rolutivo. 0 í!i.te,g_raçfü=: _do ce��!_�J2_�r­
rriti1:d.ji:tJe:�_i_ficar__ sua taxa de__cresciffi-_C'.ntij_--e�o"Uômíco, o que
i
responde, ··en)'gi:ifiâé-·parte, pelá aiiif)liaçâo do fosso ·que o
separa da periferia. Por outro lado, a intensidade do -cresciw
�ülw.!O _nQ.._ctn_:ro. _c?ÍJdicÍÕ!lâ"
_ .-�â"_"ôiiê"11iâÇâô"'"dâ""i"ridi:i_S�@'1ZãÇã"O
na pecifêri;,-·poii\1 s_ ffiI.õO-iiãt p·tTvíiégrãaãSdiSià- últiITl·a- pr·ow
'"
-��?;�Ot1t17:í�_(J d�·:P(f___de_::�15!� do centro. E�--2.:-1.��fp·a. Jf"
J8früs"_: "'qüatlfü :·1n�í_s_ fritC-�so· _for_ o _fluxo de D-JVº�- f)t()dutos no
Cêlltto· (esse_ flú_Xo·•�--funÇã_o ·àesêéflte·da _r�tldã. �é�i;)-:��ís
·;:. _i- plda ·seti a �r;�e11ttsção_ da"te!i"dã-·Il�ij:lêi}feri·�-._----
A. intensiflê<lÇE.fO·--dO-·cres�amentO, no ce�tro} decorre da
ação de vários fatores J sendo um dos mais importantes as
economias de escala de produção permitidas pela crescente
homogeneização e unificação dos antigos mercados nacionais.
Cqmo. :a industríalização, que se realiza concomitantemente
� perife_tl.2:L.�p_óit1.:;ie-AA<L$_Qh$.tit_uiçãQ.a��í�DP.�1:t�ções·;�no-qu·a�
ctro·-·aê-p�q_��-�-!!!�rs:i!dQ:7;. _ -� ..fültUJ)tl__q1if�__Q$ __qt:'.;?!}.Íye�-ª�
ptociüU�dade terÍdam a aumentar- e a_ de_�co_ntin_uldade _est_��
t�ârdeiüiõ-ao·�Si"steffiã':caprtagsút·_a-_affi,Piia;-_s�- """c;;_b,�- �ir,_e:s­
centar __5!tle i _()- ��esc_ente controle da ativid_ll�e e_CGllô1Uícâ' D.o
ce_iifrõ _ peli s _gra"i-iQ_e_s e�pr�s_aS, e a o;fe�ta,çãO __ �o pfOgre_Ss?
"téCüico: p~ara·_?�ffrõdüÇão" ehi 'inasSa J q;-ars:
áiDd_:; difícil)
no quã.dro do capitalismo, a criação ta:r,4.í_a_ de sis.temas.econôc.
lniêõs· fiiciónâiS, EVidentemente a situação varia na periferia,
entté-paísesi em função da população, da disponibilidade de
recursos naturais, do nfvel de renda anteriormente alcànça�
do; do dinamismo das exportações tradicionais) da capacida­
de externa de endividamento, etc. Em países de grande po­
pulação, a símples concentração da renda pode permitir a
formação de um mercado sufídentemente amplo e -diver­
sificado. 33

JJ Com efeito: um país com 100 milhões de habitantes -t uma renda


per capita de 400 dólares (situaçJo aproxirnada do Brasil em 1970)
pode, concentrando 40 por cento do produto em mãos de 10 por cento
da população, a'otarwse de um mercado de 10 milhões de consumidores

45
Que se pode dizer sobre as tendências evolutivas das re­
lações entre o centro e a perfferia a partir do quadro estrutu­
ral que vimos de esboçar? .!:izemos referência ao fato 5L�_gy_�_
uma das características desse quadro e a crescente internaliza­
_ção ientro _das_ grandes e_fiiP1"ê"sa_s_{m� _ ffãD�aÇC,é�corÍ1 t;_�ciàis
entre _pãises.�_-Tiairibérri.,_õb�erv_amO� qU_e __gi�nde· Dáriê ..das ati­
-
vi(lacleSlildUSi;I;iS. �;··· periferr;~ ·su·rgiâ iiiteifad; com fluxos
N

de··impqtt"ação, Dessa forma, uma mesmi e·mpresa cõiitrofa


· �DídadéSft1düSt·riais em um país cêntrico (ou em mais de
um) 1 em vários países periféricos e as transações comerciaís
entre essas distintas unidades produtivas, A situação é simi­
lar à de uma empresa que se integra verticalmente dentro de
um país: opera :.una mína de carvào, uma sideturg:a 1 uma
fábrica de tubos, etc. Existe, entretanto., uma diferença im�
portame decorrente do fato de que1 no prímeiro caso, as
distlntas unidades produtivas esrão inseridas em sistemas
monetários diversos: surge, portanto > o problema __9ç_J:.Iª-D.$­
formar uma moe�:?. �!!1 outr.?t,_ ,9_,_q�� -req1:1er::_�n,c9Ú,t.rªX.,.Q�!tra
-
e:I?P,re_�.1_ . g�g- r�.fl.U:Z.(;;. JJJUftQpt:r.<1.�9 ..e;ggiya_iente em �ent}ºçj,n--·
veisO_:_ o� pr9y,oç_ar esta operação dentro ·da' mesma empresa
ou_ .9�-;�-�-A�..1!1.�fi-�2 .. g�upçi .. Tradicionalmente essas operações
de compensação são feitas pelos bancos. Contudo, dada a si­
tt:ação errática cambial e monetária de muitos países perifé­
rícos, um.a grande empresa que opera internacionalmente
pode preferir cdar da mesma os fluxos compensatórios, esta­
be:lecendo <.1m sistema de preços interno que permha planejar
suas atividades a mais longo prazo.
Tomemos um caso que não é típico, mas que descobre o
f,,_!ndo do problema. Imaginemos um.a empresa petrolífera
operando na Venezuela de antes das complicações fiscais

com uma renda média de- 1 600 dólares, o que é suficiente para permi­
ifr a i<Jstalação de um moderno sistema industrial; um país com 10
milhões de habitantes, mesmo que tr:nha. uma renda per capita 50 por
cento mais elev,;da (situação aproximada do Chile em 1970), ainda que
adote uma polüíca igualmente drástica de concentração da renda, não
disporá de mais de 1,5 milhão de pessoas com renda média de 1600
dôfrtres, o que seria insuficiente para fundar um sistema industrial
capaz de operar a um nível adequado de eficiência.

-46
• • ·--M-•*mffl'l.
_

ntuaís. Essa empresa: produzia para o mercado ínterno uma


certa quantidade de petróleo, cujos preços podiam ser mais ··.{
ou menos manipulados de forma a permitir que ela obtivesse
a quantidade de moeda local necessária para cobrir todos os
seus dispêndios locais. Oma parte da produção seria expor•
tada para cobrir os insumos importados, inclusive a deprecia-
ção do capital. Q�to da orodução (de longe__a.,211,aifltJ?�fte)
seria exportadá e -C◊ftespolldêria ao lucro Hguido d'?.,-çfil?ital
--�s.tido. NessLSl..Lü;;!ǧQ_extrema a empresa·,poae�ignorar __ a,
existência de taxas de câmbio: se os cus·ws·e111-mõêCfi"fõêal
aumemam, J!illlhénLiillll\enta:o .preço do�etróleec.que .ela
�ende localmente. Consideremos agora o -cas'a -m-aiS real de
uma indústria de ffiáqulnas de costura, cujo produto é total 4

mente vendido no m.c:rc-ado interno. A receita das vendas,


depois de cobertos os gastos locais, é levada ao Banco Cen-
ual para ser transformada em divisas, a fim de pagar os in-
sumos importados e remunerar o capital. Se o Banco Central
cria dífículdades na remessa de dividendos, a empresa poderá
ser tentada a elevar arbitrariamente os custos dos insumos
importados: materiais especiais, patentes, assistência técnka,
etc. Suponhamos que casos como este se muhípliquem 1 sur-
gindo empresas nessa situação de todos os lados,; aumentaria
a pressão sobre a balança de pagamentos e depreciar-se-ia
persistentemente o câmbio de forma mais acentuada do que
se estaria elevando o nível interno dos preços" C.-0mo o capi-
tal está contabilizado em dólares, a rentabilidade somente
poderia ser mantida se os preços de venda da empresa cres-
cessem relativamente, o que tenderia a frear a atividade in-
dustrial. Imaginemos, alternativamente, um outro cenário
para nossa indústria de máquinas de costura. Suponhamos
que o industríal obtenha internamente uma receita suficiente
para cobrir os seus custos em moeda local, inclusive ímpostos
e gastos financeiros locais; que em seguida exporte peças de
máquinas para a matriz ou outras subsidiárias de fonna a
compensar os insumos que importa; e com o resto da capa-
cidade produtiva desenvolva uma linha de produção para o
mercado internacional, obtendo uma receita em divisas para

47
remunerar o capital. Por esta forma a empresa consegue pra­
ticamente isolar-se do sistema cambial do país da subsidiá­
ria. Como a empresa está interessada em expandir-se, ela terá
que praticar uma política de preços, tanto no mercado in­
terno como no externo, capaz de fomentar a venda do pro­
duto. Contudo, em cada plano de produção ela terá qi,e dis­
tribuir sua capacidade produtiva entre os dois mercados, ten­
do em conta que, a partir de certo nível, a receita em moeda
local deve sofrer o deságio da transferência cambial. Supo­
nhamos que a empresa limite as suas vendas no mercado
interno ao necessário para cobrir os gastos em moeda local
e que compense as importações de insumos com vendas de
peças diretas à matriz. Neste caso 1 o lucro bruto corresponde
às vendas no mercado internacional. Comparando esse lucro
com o capital invertido na subsidiária, a empresa obtém a
taxa de rentabílídade sem passar pelo sistema monetário do
país da subsidiária. Se a mesma empresa realiza operações
dessa natureza com várias subsidiárias é natural que indague
que fatores respondem pelas diferenças de rentabilidade
entre estas últimas. Admitindo-se que a tecnologia seja apro­
ximadamente a mesma, os principais fatores causantes das
diferenças de rentabilidade serão: a escala de produção, as
economias externas locais, o custo dos insumos que não po­
dem ser importados e dos impostos locais, em termos de pro­
duto final. Os três primeiros fatores estão estreitamente liga­
dos à dimensão do mercado interno. Desta forma, se admiti­
mos que o nível dos impostos é o mesmo, a rentabilidade re­
lativa passa a depender da dimensão relativa do mercado in­
terno e do custo da mão-de-obra em termos de produção
final. Ora, o efeito positivo da dimensão do mercado local
tende a um ponto de saturação, o qual varia de indústria para
indústria. Na medida_e.m.._.que,._p<.LtJL.�rminada indústria,
esse ponto ds:..::;/;.r.uração_é_al.çgnçado ,__ o fatõr-Iundamental
passa a ser o custo da m..§,2:-.de_ -obra em termos-- de - Piõâuto
·-
final vendido no merc�do internacional.
Se observamos o quadro que vimos de esboçar de outro
ângulo, vemos que a grande empresa, ao o..rg�� sís� _ -

48
!.

··.m_a_J2_rodutivo que se_estende do centro à perifeüa_,_ _c_QJJ..S,egµe _ ,


na realidade,_ i_ncor_porax__jL,��-çÇ?J18f.f1Í a__A,o. _ _ç�_11qg ·_ qs _ __ ,ri::cursos
_d� mã=o�de-obfa7¼a::�-;:-:·ci�--R�f!fiú<!:�-Ǻ_r11_- efeito: uma g�r,��d�
empr,esa que oríenra~··s·e�sinvestimentos ara a perife-iía'êstã-
"<f-- erricün 1ções e aumentar_ sua capacídade __çgg1p�!.h�.?--�raças
'fuUiiZãçãõ•âe-üITii·mao·.:ae-obra mais barata, em termos do
produto que lança nos mercados._ A situação é similar 2:'daS
empresas que utilizam imigrantes temporários, pagando a
estes salários muito mais baixos do que os que prevalecem
no país. Imaginemos uma empresa americana que se situasse
próxima da fronteira com o México, mas em território dos
Estados Unidos, e utilizasse mão-de-obra mexicana paga em
moeda mexicana ao nível dos salários do México; esses tra­
balhadores continuariam a residir no México (atravessando a
fronteira diariamente) e a realizar os seus gastos nesse país.
Imaginemos, demais, que essa empresa exportasse para o
México mercadorias no valor exato dos gastos que realizasse
em pesos mexicanos. A legislação social que prevalece hoje
em dia em praticamente todo o mundo impede esse tipo de
"exploração" da mão-de-obra. Mas se considera como normal
que a mesma fábrica americana se instale do lado mexicano
da fronteira, utilize mão-de-obra local ao nível de salários
local e venda a sua produção nos Estados Unidos. Uma fór­
mula intermediária, que vem sendo amplamente praticada,
consiste em atrair os imigrantes temporários e pagar a estes
salários superiores aos que prevalecem nos países de origem
mas inferiores aos salários que seriam pagos a trabalhadores
originários do país cêntrico. Em vários países da Europa Oci­
dental a mão-de-obra estrangeira, considerada como "tempo­
rária", aproxima-se de 10 por cento da força de trabalho,
alcançando, no caso da Suíça, um terço da mão-de-obra não­
especializada.
Não existe e5,!imativa do volume ? _ :2_:nãq_�_9e-obra J2fil'1!lit
utili�_ada diretamente nos países perífé�_icos pel0_s gra�_? S�-- �r:n­
_
presas na produção manufatureira (Jue estas destinain · ao
_mercado mternaciop-ª_l. Mas, em raZão dÜs custos crescentes
Qa mão-de-obra ímiorante tempor_�na, soDpressãõâ�����_?i-

49
,�tos locais, e dos problemas sociais que se__�Q��-�-���-�-�--9-1:1.3::f.l�.,
do a massa_i.e.JLabalhad.o.r.es._spç_ü!lm.<::n te __ �esi_n �_ egradq-- �_ s_ _ tes_c�
. àJém ·de ��rtos H.mites+-U�s._ p_e.ta.t-.qQ� a 'U-tílíZaÇã� d_a mão­
_de32brn_dix�rnm.�nte na periferia tend?. --ª- -��� --ª-- solução pre.f.e�
rida pelas grandes empresª�·-- Por outro - - lado, - essa solução
tende a reforçar a posição dessas empresas vis-à-vis dos Esta-
dos nacionais. Em síntese: ��§___ �onfigurau_do_uma....situaç_?D _
que ermita à grande empresa utili��:r-:.. .t�_çnkf_ L,__ <:;__ capitais do
c eptro_ e__ _mao.�- e::9_ r_é,Í_··7_e_·_c ~ �"iit-;Tf_�-��f;· periferia, a·urrientalld_O.
co�!d;sg��mente-__9___ ?·�_µ_:_-p9d e_ _r_,Çg__ __rp_ar1 obra, <:)___ que reforça a
tendên��a já _ �I_1 _ o- rfl_ 1�_ _p__t_�_ referi1�---�-- _"__ iJ?_�{::_r11acionalização"
_ _teri_
d;;atrVidãd"eS eC◊nÔ�icas d�ntro do ·siStem� C_ apitalista.
- -
----- IHSS"er:rii:úffifüé'fiOr'ineTI"t"e-·gue São as atividades econômi­
cas internacionais as que mais rapidamente cresceram, no úl­
timo quarto de século, no centro do sistema capitalista. Ora,
as relações, que se estão estabelecendo entre o centro e a pe�
riferia no quadro das grandes empresas, estão dando origem
a um novo tipo de atividade internacional que pode vir a
constituir o segmento em mais rápida expansão do conjunto
do sistema. Cabe indagar se é adequado continuar a chamar
essas atividades de "internacionais". Quando o economista
pensa em termos de comércio internacional, tem em vista
transações entre unidades econômicas integradas em distintas
economias nacionais. O problema é menos de imobilidade de
fatores, como deixam entender as formulações dos primeiros
economistas que teorizaram sobre essa matéria, do que de
existência de sistemas relativamente autônomos de custos e
preços. Em outras palavras: _a_p.at.ti.LdQ.. momer,tt_o__que__ s_e__p _Ofo-
tula�1istêncía de_ UI?} _ __ _�_i$t�m?. ___e�o�_ÔIJ:l_!c_()__ll_acio�al,_ ___(:{�ntro
do___ gJ.rnl9.�.J�_�çy_ _r�_Q_s:�NQ.dutiv_os_ po_ s_sU_ef!J _ _ ún-i" "custo de opor-
tm:üd�d_e,,, dado pelo melhor uso que deles se pode fazer, a
opçªo__ _ en·t;�_ _--p�od��-ii" parã· o mercado interno o bem A, ou
p_rq_clu_z_ir_ll_ l11.� outro bem__ P.?�ª. o___ mercado.. externo e importar o
bem A, de;e· ter uma solução ótima. É evidente que, se se
trata de rríúltip1as opções·;··estendendo-se em períodos de tem­
po diversos, com repercussões retroativas umas sobre as ou­
tras, o problema nunca poderá ser adequadamente equacio-

50
nado e muito menos sua solução obtida. Mas isso é diferente
de dizer que a teoria está "errada".
Ora, a partir do _mom�JJ..t,9 em. q_ue.. a.. c:a,tegoria --�'-�i?t�_ma
e_ co�o nacional__"... nã() __ pg9e ser tid� em conta, o teorema
nãopoderá ser fo�m�i�do. Voltemos ao e::::Cmplo da fábrica
� de ri:lágúi.riàs"''âê·-costura que se instala num país da periferia
e remunera o seu capital com parte da própria produção que
exporta. Neste caso não existe uma contrapartida de importa­
ções, mas isso não invalida a teoria das vantagens comparati­
vas. As importações, no caso, estão substituídas pelo fluxo
de capital e tecnologia que marca a presença no país da gran­
de empresa dirigida do exterior. Tudo se passa como se o
país períférico, que dispõe de um stock de mão-de-obra, ti­
vesse de optar entre: a) usar parte dessa mão-de-obra para
produzir o bem x destinado ao mercado externo, e poder
assim pagar as máquinas de costura importadas, ou, b) com
parte dessa mão-de-obra remunerar capital e técnica do exte­
rior, que se instalam no país e, em combinação com outro
contingente de mão-de-obra, produzir aquelas mesmas má­
quinas de costura para o mercado interno. Esse raciocínio
Çse �ia_c_orreto_ _s e_ _ __ ~o.. m.at, çQ___ çl_�.}�_ferên�í� .. ��p_q:9____çlo qual as_.A; ..
i cisões são tom _ ,19.a_s. �sti_ .v.es_s_� �0ilSúi:�-ídq_pe�()...'S_i�t�i:n?...ec_?n _?-
: illlCónaciQ_Q..if -E�·outras p;lavras: caso a c;ngr�ênda dás
decisões fosse estabelecida internamente, figurando o preço
dos recursos externos como simples parâmetro do problema.
Ora, a realidade parece ser totalmente distinta: decisões
..s.ã o tomadas pela grande empresa, para a qual o custo a
... mão_:.de.:.oPra de um país periférico, em termos de um artigo·
9_1:1e ela_ _produz nesse paíS e comer_ - ciaHZa
--� no ---- �x.t�riqr,__é _uill
-_�imples_d.i\�Q,
A grande empresa que exporta capital e técnica dos Es­
tados Unidos para o México e instala neste país uma fábrica
cuja produção se destina ao mercado americano - havendo
nos Estados Unidos considerável desemprego (o custo social
da mão-de-obra é zero) - toma decisões a partir de um
marco que supera a economia norte-americana considerada
em sentido estrito. A grande empresa que desvia recursos fi-

51
nanceiros de um país periférico, porque os salários neste co­
meçam a subir 1 para invertê-los em outro em que a mão-de­
obra é mais barata, também está tomando decisões a partir
de um marco mais amplo. O problema não se limita ,. entre­
tanto, ao âmbito estreitO das opçõe-s no uso de recursos es­
cassos concebidos abstratamente. A verdade é que a grande
empresa: tem como diretrlz máximâ:-e>rpandh'='s'E:-�-pãncrssu
ela t'ende a ocupar posições nas distintas áreas do sistema
capitalist.:L :N Os países do centro do sistema constituem, de
muito, as áreas mais importantes, razão pela qual o esforço
tecnológico está principalmente orientado para atuar nesses
países. Os planos de produção nos pa1ses periféricos estão
condicionados por essa oríenração tecno16gica e os mercados
internos desses países são moldados à conveniêr:da da ação
global da empresa,
Seria equivocado deduzir das observações acima que as
,,_grandes empresas atuam fora de qualquer marco de referên­
cia, o que implicaria negar J senão racionaiidade, pelo menos
eficiência ao comportamento delas. lv:Ias parece fora de dtív'.t.
da que esse comportamento� muito freqüentemente, tra:ns-
f cende de qualquer marco correspondente a um Sístema eco­
nômico nacional. Mais ainda: nos países perifé_rkos, a cres- �
cente ação dessas empresas tende a criar estrutura_s econômi­
cas com resneíto ãS�,�rmet;-t _��- podeRens;.;:·
:_ a ..partir
do conceito de sistema económ[ê� n?.çiQD�L___Q marco d�

14 A rigor, a expansão d:15 grandes empresas não se restringe à área do


sistema capitalista; as relações econômicas entre o sistema capitalista e
as economias socialistaJ continuam a ser essencialmente de natureza
comercial., sem que isto impeça que tais transações se realizem cada vez
mais por in1em-1édi.o das gnmdes empresas; ademais, acordos de coope�
ração industrial estão sendo assinados em número crescente (cerca de
seiscentos até 1973) entre governos de países socialistas e grandes em­
presas do numdo capitalista. Esses acordos muito ratamente envolvem
participação no capital das empresas (pequenas participaçÕ!:S já são
adn1itidas rui Roménia e na Hungria e, há mais tempo, na Iugoslávia)
e geralme11te estão ligados à criação de um fluxo de exportações para
os pais.es capitalistas a cargo das grandes empresas Vcja-se Cmnissão
Econômica das Nações Unidas para a Europa, "Analytic:1l report on
industrial co-operation among ECE co'untries" (1973).

52
t
i}' grande§� emp.t��JL�!!_4e a ser�S:--ª..��ve?___tJ:t::;is-n,..çQJ)j_µnULdp

r __
& ,.�í�tepa capitalista, marco es�,�---qg� englobrt�.-�ajy_�so --�çg_-
gôn;ico de grande hetero�neidade, cuj3:___�:?ior _.9_�-�S?f:ri_n,.yj� -�
r: _dade deriva do_fosso_ exist_ente erltre.o..c_entro e _ a _ �rife:ria:
--Nesse mundo de-gr;�Je compÍeridad�, chci;--Je tronteírâs -
nacionais ? com grande variedade de sistemas monetários e
fiscais, onde pululam querelas políticas locaís que ocasional�
mente se prolongam em guerras - tudo isso sob uma tutela
frouxa e pouco ínstitucionalizada -, as grandes empresas
não podem pretender mais do que alcançar simações subóti�
mas. Não obstante os ímensos recursos que dedicam à obten­
ção de informações e os sofisticados meios que utilizam para
elaborar essas ínformações, construir complexos modelos > sí­
mular cenários J etc., na prática devem contentar-se com re­
grt1s simples; o excepcional êxito de algumas é atribuído
pelos cronistas da profissão à intuíção de "homens extraordi­
nários"', repetindo"se assJm uma velha legenda da história
política.
A idéia, esposada por alguns estudiosos da evolução
· atual do capita.Hsmo, segundo a qual as economias cêx1tricas
tendem a urna integração crescente ao nível nacional, median­
te a planificação ináict!tiva ou à cartelízação e interpenetração
dos grandes grupos com os órgãos do Estado, tem um ele­
mento de verdade mas deixa de lado o essencial da evolução
do capítalismo no último quarto de século. 3s :É fora de dú-
nida ue, .nos últimos três decênios, as econ.qrniàs ça.pitaliaas
n us na 1za as vem o e o de.s.oordenação
- interna muito su erior ao que antes se considerava compatí­
vel com uma economia e merca ...o._ ....ssa"coor_enaçm�d_e
�ção kevnesiana, constitui essencia]ment�_-!d.ITHLQJ..n.q:u.fa:­
ta de tipo sociat_graças a ela, os custos humanos e sociais de
ó�O�ê.cmrunias_c.apJ!ftl1s�tas foram considerâ\�i:nentÇ__
i-eduzidos. Tarnb�!?:1, é proyª-Yer�-=�t6IT6ôtderiãçã?.
llafa repercutido de forma positiva nas taxas de crescimento
�referentes a prazos tned1os e longos. Mâs isso é apenas U!na
��V::<daexisre,enffefa�ô;..d.e gll_e -��-ç�9 _
.i:ias_ta;,.:::as de crescimento está1igada às economias de escab. 1
~• ••,.-w••~•--•~• -'--•· • - • •·•• ·-•••�•"
'""""-

35 Essa tdéia está brilhantemente exposta e defendida no livro de A


Shonfield, 1'>1odern capitalism, dt.

.53
a_.o J_nt�_1:so _i_ry_�r-��°-:?io tecnológico e _ao 1:11:ovimento de caJ?i­
tais que acompànharam o proCesso de integração das ecO!lo­
IDias•--cêbtfiêãi;'," Sem o esfo-rço--simultâneo ·de· maiot·coordena-
ção if:itéth_ft, �_()_ __úí�-e�_ -nac_i()��l_) __a expansão-"intéinj�i()riarSõl3__ a
-�gi_��- -�-�s __ gr_ a_r1de� �I11_ pr_esa_s_ t_�r�a,___ip_��!,o, __pJ:9_y_�ye_lment�, pro_�
v_o�ad()__j}�i�i.�:f��()Qê:ã}S-;__:_fPãjqr __ cg_qç�_nt_ r_a_ç_ão._ __ geog1Jfj_<:_?__-J?-.
a__fiYi�-ª�-��?E!_Ô_.m}�-� --<:1-_J�Q§ftyelmen te, __i_��_ç§_�s __ !1{)_ pl:;it1,? Po­
lít_�<_:g __qllc _ quiçá
_ -
- Viessem a retardar o processo de integração
cêntrica. E sabido";· 1:ioY··ex:"i�mplo;··qüê o·lcifré'"díriáfuísirió do
setor externo dá origem a tensões internas 36 que seriam parti­
cularmente graves se essas economias não houvessem desen­
volvido técnicas tão sofísticadas de coordenação ao nível in­
terno. Dessa forma, também se pode afirmar que esse avanço
da coordenação, ao nível interno, acelerou a integração no
nível internacional. Em sínte�;_a....ação--d.GS--Estado_s....n2-_çlo.-.
; I}_�o_centro__do ..sistema'"".ampliou.�se...e _lJl clet_e� _r,nip_ad_�-� -d.ire-
1ções para assegurar .. a_. _e__ s_tabilidade_ _.int.erna_, ___ sem___a __ qual - _ __ as
_
J frícçoes no in er
plano t f1.��i9P:§.L.�� fj_?m inevü§y�j_�_ _JP...?�_por
/ outro lado, modrfico_u_:.�� ...qvalitatívamente, - __a_ fí_111___ çle __a_çlgpJar­
, .�e à �ação d_as__ gra119�-�- �-�:1.I? �-�-�-��---<:.?.!!.L.1��E�1ª�---<;-�__ g_ngS)p Ó-
líos, quêteffi--ã"IrilCíativa --no _plano tecnológico e são o veida- .. ..
eirêiefeiiierifo motor rio.plano internacíoriaT.
ct.

-·--------· --------------relações
As complexas '•----------------- que existem entre os governos
dos países cêntricos, isoladamente ou em subgrupos (os "dez
mais ricos", a Comunidade Econômica Européia, etc.), entre
esses governos e as grandes empresas ( estas em casos parti­
culares atuando coordenadamente), entre eles e as institui­
ções internacionais (estas quase sempre sob o controle do go­
verno americano), finalmente entre eles e o próprio governo
americano, cuja posição hegernônica em pontos particulares
é muitas vezes contestada; essa r ede de relações dificilmente
pode ser percebida com clareza. Não somente porque faltam
estudos monográficos sobre muitos de seus aspectos funda­
mentais; mas príncipalmente porque ela está em processo de
estruturação. A experiência tem demonstrado que a margem
de manobra de que gozam os Estados, para atuar no plano
econômico ) é relativamente estreita. Se uma economia sofre

36 Cj. N. Kaldor, "Problems and prospects for reform", The Banker,


setembro, 1973.

54
uma deslocação ) as pressões externas para que o respectivo
governo adote certas medidas podem ser consideráveis. Essas
pressões são exercidas por outros governos ) por instituições
internacionais e diretamente pelas grandes empresas. Cabe
referir que estas últimas dispõem de uma massa de recursos
líquidos bem superior ao conjunto das reservas dos bancos
centrais. 37 A situação do governo dos Estados Unidos é cer­
tamente-especial, encre munas razões el_ oJato _de que_ erni_te
a moe a que C()nstitui a base (lo sistelTla monetário lmerna­
c10naC-CõDtUéfo·-a"e�periência def972 pôs em evidêliCia --que
-'"o governo desse·--pals não se'" pode lanÇãr·-·numa--- pOHúê"â ···ae
r
--�i5len< ·em1:ffegc5�•-•âescuranâo:se<1ãS--·repercuss6es--··tia "hãiançã
ae-·- piigameiít"O-s·.···se· o eridivldai:rie"rifo exter·no a curto pfaZO
: d_ e_ __ç�rta cota c�ítiq) _ ª? _gran_de_s _ em_·p_téSáS··p-6dem --exéi�­
.2-ª�-s,_ t
c_(:T - u1WLpressão_ ?Obre o __ d(J_l�_r,_ ca_p_�z__ 4e _()?_rlgar _o go_verno
am�.r.i�ano a t�I-'"ÇJ.U_e_::;;;i_C_õlh,ê:r:·J_ ii't�-é'" aeSVâiõriZ;r ·a "mo�da ou
n=;�da"r o rumo da política inter��-�--- ·- --- ·-------- ·
- · ·-
. Q u�Íq� ;;· �;p·���-iá-Çãü···soste a evolução, nos próximos
anos, da rede de relações que forma a nova superestrutura
do sistema capitalista em processo de unificação tem valor
estritamente exploratório. J)uas.Jiu.b.a.s___ gerais._par.ecem....defi-
nír-se:_por _u m lado o proce_sso de integração tende a reforçar
áS _ gr_ar1_des em_pre_sa_ s )___ por outro a necessidade __ de __ ?S_?_�gu_�_�r
estabilidade, a nível interno de cada subsistéma ·nãdôna1; re-
quer_ __cr_escente ehoêllci"a···e·--sof.i,�ü_ç-ªç_ãQ·�n-a:_·___·aÇa"o--_·aos:_--_ESt_ados.
A sltl{;Ção corrente hoje em dia é de aliança entre grandes
empresas com os governos respectivos para obter vantagens
internas e externas. Mas também se observa a ação conjunta
de empresas originárias de países distintos visando a fazer
presSão sobre os governos, inclusive o próprio. A experiên­
cia tem demonstrado que o controle do capital de uma gran­
de empresa por um governo não afeta necessariamente de
forma substancial seu comportamento nessa matéria. As em-

37 As reservas líquidas de que dispõem as grandes empresas no plano


internacional, incluídos ativos que podem ser liquidados a curto prazo,
são da ordem de 250 bilhões de dólares, superando de muito a totalí•
dade das reservas do conjunto de bancos centrais do sistema capitalista.
Cf. Comissão de Finanças do Senado dos Estados Unidos, Implications
of multinational firms for world trade and investment and for United
States trade and labor (Washington, D.C, 1973).

55
presas, por maiores que seíam, são organizações relativamen­
te simples no que respeita aos seus objetivos, Sendo alrnmen�
te burocratizadas, elas possuem grande coerência interna, o
que facilita e requer a clareza de objetivos. O Estado, numa
sociedade de classes e onde grupos concorrentes competem e
quase sémpxe se dividem de alguma forma o poder, constitui
uma instituição muito mais complexa, de objetivos menos
definidos e cambiantes ) portanto menos linear em sua evo­
lução, Não há dúvídB. de que as grandes empresas enfeixam ,
um considerável poder no plano social, pois controlam as
formas de invenção mais poderosas, que são aquelas funda­
das na técnica e no controle do aparelhe de_ produção. J\,1as
quando a sociedade, ou segmentos desrn, reage à asfíxia cria­
da pelo uso desse poder, as ondas que se levantam reper­
cutem nas estruturas do Estado, de onde ocasionalmente
pattem iniciativas corretivas. Pode-se admitir a hipótese de
que a própria expansão internacional das grandes empresas
favoreça a liberação do Estado da tutela que elas hoje exer­
cem nos seus respectivos pafses. Em outras palavras: na ru_e­
di(i(t__ e_rµ_ que__ §_e_ apói_e _internad()_nalm�nt� pa_ra ampliãtêhreu
poder; a_ grande· eá:i_:presa possivel_mente · efü:O _
f1ltã:tâ · _ITfá_is _ di­
fiéU[dâ·cte"_D-ãra ·a�Urii.íf..Q ma_ndO'. éõbi:fr-ie--coni o m·ãiitõ _ âo
"iÕle:resSe�·n��:i���i_,,_- de�t_ro "dô-'próp_�io _P�fs, Hav,eria _uma
p�:_�ií�({ã!)í�çâà dOS "ES,tados, ll?ªS "\1mà _repres·entativiaa<1e
rri_ai.s �-f�tiya dos distintos__aspectos da -soc_iedade civil caP,;açi­
tal'Ía o poder po1fríco · para exercer o· papel diretor da vida
socJ.it_ q!:1.f}�..fa_�...c.ªçl·a vez_m_ais necessário, Se .1 evolução Se
realiza nessa direção, é de admitir que surjam tensões entre
Estados nacionais e grandes empresas, ou grupos de grandes
empresas� tensões essas que passarão a ser irnportantt fator
n.as transformações do sistema em seu conjunto: elas pôderão
agravar-se e .abrir brechas capazes de acarretar mutações qua­
litativas rcol"ientadoras de todo o processo evolutivo; mas
também poderão provocar reações no plano da superestru­
tura tutelar) levando a uma malor institudonaiização desta e
à constituição de órgãos dotados de poder coercitivo, cujo
objetivo seria preservar a integridade do sistema,
O que se disse r:.o parágrafo anterior são simples conjec­
turas sugeridas pela observação de certas tendêndas da evo­
lução estrutural do sistema capitalista. Não pretendem signifiw

56
.car -�llle_ as_ J� ta_�___d_!:_:�Jª�S.��-- -�t:.Y.��L�_ t_�!:1�-�-g-ª_0. -�--�-�J�_q__ !_��.99s___q!-,le
i�_s_�-------��F.�4qL ...i�rniP..rn�ú��ifl}\ÍJ�4-�,-------�-ª-�------�tr:91.... �JirrL __qm
. Estado responsável pela estabilidade de uma sociedade de
Classes, será o simples administ��;to.E --ª�----VFP..t?9t�§er?§!{� _ _gUe··
,permearia toda a_ yi�a �oci_a_l_._ --� _pos_?_íve_l__ guc; 9:s _clgs_��s .. trã-
. balhadoras venhilfl.) · á"i:C:'r-Uffi. Peso crescente na orientação de
um Es�_'.?:do--·que___de_ve, _entçlld_e_r-�se C'O_m o __ sistema.. de __grgndes.r
empresas _a partir _d_�_-_p_osições __<.le - Jg_rça. Nesta hipótese, seria
de admiút·-�� e��l�Ç�o-· �f�; �Jas�es rrabalhaàoras se faça
no sentido de crescente identificação com as sociedades na­
cionais a que pertencem, ou melhor, com um projeto de
desenvolvímemo socíal que pode ser monitorado a partir do
Estado de cujos centros de decisão partídpam, 3s Não signi­
fica isso necessariamente que tendam para um nacionalismo,
e sim que suas preocupações tenderiam a focalizar-se no pla­
no da ação política. sobre o qual terão crescente infl-;Jênda,
Paralelamente,, o peso cr�scente _dos_ gntp()S_ d_i:rigen._tes das
grandes empré�a,,_Classe-caPltáüii�i::Pão···poderá ·d�-��-r-_-de
_inf��!:-�-� �-�·������o,_q,1,,te ...esça rem _dQ_. m,gr:ido, no s��ti'dõ'do
d1pass_e,nz,e:�L- dQ.�çfrp n�_c;,J_onaL __O ser,1t_i_r-se membr_o_-dé -
uffiâ" -" clásse internacional" ue~to·e· tcã!ictêrfStTêà- dõS ·qúa­
dros superiores da burocracía das grandes empresas 1 ten êría
-�--Ser uma ·a � �!gª--� _generaTí�ã9,?.
- - __d,_�5-____ �_P2?9-it.� ·--�-�P-�ff◊!-és da
classe capiraiista. A distância entre a atitude ídeológÍca des­
sf!S camadas e a classe dos pequenos capitaiisrns ainda não
presos na rede de subcontratistas das grandes empresas ten�
deria -a ampliar-se. A pequena empresa local, antes apresenta-

JS A idéia de um revigortJ.mento do fr:iterns.ciona1ismo da classe operfi.


ria, como resposta ao internacionalismo das grandes empyesas, me pa­
rece ter pouco fundamento na realidade. 11 perfeitamente possível que
os grandes sindicaws operários dos países céntricos en.frentem5 median•
te ação articulada> manobras de gnmdes empresas visando a compensa_;,
a baixa d,1 produção em um p,1is (onde há uma greve) com o aumento
da produção err: out70. Enl/etanto seria difícil imagmar qt.té os operá­
rios de um país possan-; mobili:wr-se para reduzir o nível de emprego
no pr6prio país, em beneficio da expansão do emprego em out-ro. Tanto
mais CJ.Ue os países cujos operários deveriam sacrificar-se por solid(lrie­
dade internacional são exatamente aqueles r:m que o nível de vida é
mais baixo

57
da como anacronismo de alto custo sodal, passa a ser defen­
dida como parte de uma paisagem cultural ameaçada. Er-.rre
o poujadisrao e a defesa da qualidade da vida existe uma
importante evolução com repercussão na refação de forças
entre as classes sociais.
O papei da superestruti.lrn tutelar do sistema capitalisu
não se Emita a promover a ideologia da integração e a, oca­
sionalmente, arbitrar em conflitos regionaís. Essa superestru­
"'
�-1::!Fª tenLumahlstória, �::1.�--���� ess_en_cialment·�-(i'g�tfa·--y_Jéf{: '"
m_itação das fronteiras do siste�_;1· JYódi�se adl11lilf, ncilano
da conjectura, que as econO"riúãs c.aPitJü'stas cém:ricas ;empre
t·enderiam, em_ u_rna.. fose _de_s_u_a.1i�si:Qrí?<,_ a u_TT_1-p_iócess6 de
"inI�gy�_ç·a()·:-Ma·s· �ão há dúvida de que a rapidez com que
-- ·1Ifff!l_Ç_�-Ciúaf't"õ�çle·:,.iéCüI�i e a
forma que �SSU!j)�u _ est_ão diret_an:ii::_ri_t_e Hg<t_{i_os _ à exis-
tê11C1â"dê-""úITl -giu·po de-·p�í��;- -�ã����Pi_q1J�$JAS_}___co�siderados
coiuo ·:ameaçrx· extetTüi · e·· lrite-rna para o sistema capirnlista
pelos gr�P()_s_ (1irigCiiteS_âé"ste·.·A rápida- e··eritusíáSticà""aceíra¼
ção- pelôS ··gr'Jl)OS. ciPli:ãHSras dirigentes, na Alemanha e no
Japão, da liderança none-amerícana não seria fácil de expli­
car sem o clima psicológico criado pela "guerra fria", A mo­
bilização pskoiógica foi essencial para deHmitar a fronteíra,
mas a ,consolidação desta requereu negociar com o adversário
um conjunto de regras de comportamento. Cabe à superes­
trutura tutelar a função de velar pela im<.:gridade das fronw
teirns e de entender-se com o adversário em qualquer mo­
mento em que problemas de solução pendente ou novos
ameaçam escapar ao controle mútuo. Na medida em que se
acordou um sistema básico de comunicação e gue os interes�
ses fundamentais dos dois lados foram mutuamente reconhe�
ddos, criaram-se possíbilidades para relações económicas mu­
tuamente vantajosas. Que ess::ts possibilidades hajam sido
exploradas rapidamente pelas grandes empresas constitui
clara indicação da extraordínária capacidade dessas organiza­
ções para atuar no plano internacional. b esse um fato de
considerável importância 1 pois vem revelar a capacidade que
têm as grandes empresas de adaptar�se a distintas formas de

58
organização social Trata-se de simples indicação de virtuali­
dade, pois o comportamento das grandes empresas é tudo
menos ideologicamente neutro. A ação recente da ITT no ;;
ChíJ.;;._esr.á aí �ara dernonstrar que muitas delas �ií.;-;:.eiütãffi�
ém uma confrontação em que o elemento ideológico está
presente, a praticar atos de verdadeiro banditismo interna�
cionáL Conn.:ido ., outras experiências, como a da Guiné i re­
velam que elas também se estão preparando para defender
os seus lmeresses sem dar demasiada atenção a ouerelas
ideológicas locaís. Parece cerro que uma mutação social num
país importante do centro do sísi:ema capitalista, implicando
em retirar .às grandes empresas o controle da tecnologia e
da orientação das formas de consumo t não poderia ocorrer
sem provocar grande re.ação. N1as tudo leva a crer que as
i
.. grandes emprcsáS; em fac� de_· uma ""S tu"ação de difíd] r�er�
� -�lbífü�·aae� se adapt_aria:m, pois numa burocracia sempre t�nde_ ""
-� ··or�_iãiiçs:x.�º-_jp�t__I�to d_e soor_�yJ_v�Qcí?i:·ãiridi ·que··1s-s,O ���--
-g71eira ampurnço�; ;�po�Úmte� ao n'ível dos dT�Ig��-�i� �-�;��--
s1onais.

Opções dos países periféricos

As novas form_as _q_ue --�-�-��-- ª- §-��v:nip92....Q ..��ptt_?Fs_1_no___ nos


\ pa_íses P>fJ(i_r_içQ? Diô�:$ã�i- inq�p_e;p9epres__d.a evoluçã_;; glob�l
do -�}�!_�_Ifl_9_" Contudo 1 parece inegável oue· a oe_tiferia ___terá
c·r�scent�Íl'_l1pOr_t�ncia nessa __ev()�:içãçi t _não _só porCí�.e�s-_pâíS"é"s
cêotric_Q§ ;�;_ão _cà{ja v�Z�J?'.ú�(i:__dei,ê_n_d�ite_s··d0�c_uf_SQ$_- J)_a_tu�
rais __ :1ão"_r_e_Rr9.d_u�íveis/ por_ d!' fornecidos:__ ma_s tam_bém por­
que as grandes �_mp,r�_sa.s ..:ençomrarão .na .exploraçãQ _de/sua
"�--- . -------------- ..
I
mãQ:Q.e_:_obr.9."�?-�_?_E_�-�rr:i....�9-� _p_1}m;.lp0fa ..pontos_ c:l� �po_lçi pa_r�
-fitmar-s� �2-S:OI]j_':l!_lt_:? __çl.9_ .?J�t�!J1D:-- !vlas, se é difícil especular
sobre tendências com respeito ao centro, ainda mais o é no
que se refere à periferia, cujas estrumras sociais e quadro ins�
titudonal forãm pouco estudados, ou foram vistos sob :a luz
distorcedora das analogias com outros processos históricos.
O dado mais importante a assinalar 1 no que concerne

59
aos países periféricos em mais avançado processo de indus­
trialização, é a considerável dificuldade de coordenação de
suas economias no plano mterno, em razão da forma comq_
se estão articulando com a economia internacional no ro
as grandes empresas. Se dificuldades de coordenacão int�r_-
na existem nos pa1ses centncos, conforme observamos,___ o
prol5lema assume muito maior complexidade _ !1ª....J2_eyif';_ria.
��"re� situação clássica do pequeno país onde o
civel dos gastos...P.úb1ícos e a situação da 5ãlanÇa�ai.�:-_paga­
rrrenws--tefleterrcás·"ctecisões··-tõmâdas·p()r_ _uri-iâ"-"g"tãll(I�. -�rnpre­
saexpotfa'dóià-· de recursos naturais. A situação é distinta"
r ri-ias nem por lSSO rnais-'êômoda naqueles países em que as
1 principais ativid_a1es )ndustria_ is ligadas ao mercado mte_r110 _
\ sao··contiõla(lãS""por grandes·empresas com prõTetos-ptóP"rios
. d�- expansão internacional;' ··do�-�:g_�-�Ii -·-po���:::-_ �?Dhe_ci'iri,érifo
têffi·os governos doS-p"aíSes-·em: gue ela_s atuam:· r:·ssa·ctebilí­
. dãae·-aoEstaCiõ��C;�; -instrume�tÜ--de-dlteçaoe~·coordenação
das atividades econômicas, em função de algo que se possa
definir como o interesse da coletividade local, passa a ser
um fator significativo no processo evolutivo. .Impotente em
coisas fundamentais, o Estado tem, contudc 1 g�-
"sabilidades .!?:�'L�.uns.ttução_e_-o.p.eraçã_Q___d.e....��J:yjçQ::;__ 1:>�?.Íç9._ s_,: pa
ga �_?}-"ltiã""de uma ordem jurídic?-3:,___p,g_jmp.o.sição.. de ...disc::ipJ_ina
à-; massas gª_b_�ühador-as-;· O crescimento do aparelho estatal
é inevitável, e a necessidade de aperfeiçoamento de seus qua­
dros superiores passa a ser uma exigência das grandes em­
presas que investem no país.
Assim, a crescente inserção das economias periféricas
no campo de ação internacional das grandes empresas está
contribuindo para a moderni:zaçã_ _ o__d_os__ J;:_�!.ª9_Q�.J_Qçªis, os
quais tenderam a ganhã"i-COllsTdé-�á�el autonomia como or­
ganizações burocráticas. �s:n_clg__ PQLJ.Jm..lado..impotentes e por
outro necessárias-e.-eficien.tes essas burocracias tend.em a
_ _ 01.je:�"iª-ção das
·niUEiPilC;·;·-Í�iciat_ i_ v_a�--�ID-._()ireções divers,1_5-. A,
itiVi_1fl_de_s ___ (:'.�?fl?micas
_ ) impondo a cÓnceri _tr.1ç�o _ -�fl_ renda e
. �acaf!et�_tldo __ a:_co·�.tênc.iª..3i]O};P1ã�---.SU:üúúíti_as de consumo
com a miséria de grandes massas, é origem de tensões sociais

60
4ue rep_�_r�llten1___ n_�_cessariamente no plano político. O Estado,
Íncapaz par·ã---ffiõdificar a referida orientação, se exaure na
luta contra os seus efeitos. As frustrações políticas levam à
instabilidade institucional e ao controle do Estado pelas for­
ças armadas, o que contribui para reforçar mais ainda o seu
�caráter burocrático. Em síntese: o crescente controle "inter-
nacional" das ali vidades econê>I�_jlCâ"S_- ·::ílúS:, ___p_a_í_s_es___ p.erfféffros
acarreta uma p:;�;oce·--au_tO_fl_Omi�� d;-··�parelho burocrático es­
tatal. Freqüent���ntê·--·e·s·s-e - a- patêlh;; é contro1"ãdõ-defófa
ão-país, mas por toda parte ele está sujeito a ser empolgado
f/ por grupos surgidos do processo político interno, o qual va-
i ria de lugar para lugar e, com as circunstâncias, dentro de
um país, mas em toda parte está marcado pelo sentimento
de impotência que resulta da dependência em que se encon­
tram as atividades econômicas funda'mentais de centros de
-decisão externos ao país.
A relativa autonomia das burocracias que controlam os
Estados na periferia reflete ) em certa medida, o sentido das
modificações ocorridas na superestrutura política do conjun­
to do sistema. A destruição das formas tradicionais de co­
lonialismo deve ser enteMldacõfuo parte do process◊-- de
êiêmuiçrro-das barrettãs-rrrsüto-donai:s-·-qtre--·- <xwnpaffürieiita­
va�ndo ç_wirnlista. Na_ mediª_2:"'�I_l?___g_l:1� a econ<?�·í_�:��In­
ternacional passou a ser principalmente controlada pelas
grandes empresas, a acao direta dos Estaâos·--ao--ce·ritrO sobre
aS--ãdminíStrações dos países da perife-;ra"--tOiiiOú�:úi"- deifrieceS­
sãfia, sendo correnteme"ri"te"·deriUricfodi.-�c.omo..,discriminató.ria
a fã"Vor de empresas de certa fl_�c _iona_li?_a_�e_. É bem sabido
que esse processo se vem rea1íiarld0 -- de· forma muito irregu­
lar: em alguns casos popu lações "expatriadas" constituem
forte grupo de pressão, exigindo a presença direta ou indi­
reta da antiga metrópole, o que dá lugar a formas apenas
disfarçadas de colonialismo; outras vezes grupos dirigentes,
ameaçados de perder o controle do sistema de poder local,
apelam para o apoio político externo. Mas, de maneira geral,
a intervenção direta dos governos dos países cêntricos nos
países da periferia tendeu a ser excepcionaL pondo-se à parte

61
as intervenções norte-americanas ligadas à "defesa" das fron­
teiras do sistema.
Dentro desse quadro estrutural,·-ª�., bu_r9��a_c_iJ_s _ que di­
rigem a maioria dos países pe_ríféricos avançaram considefa­
velmente num pr_ocesso _de a�.a,�ilújfo::ação com os "in­
teresses nacionais" respectivos. Se bem que, em casos
particulares, esses interesses se confundam com os do peque­
no grupo que controla o aparelho do Estado, via de regra
a concepção de interesse nacional é mais ampla e visa à me­
lhoria das condições de vida de um grupo importante da po­
pulação, quase sempre constituído pelas pessoas integradas
no setor "moderno" da economia.
Um dos setores em que os Estados periféricos podem
exercer sua autonomia, em face das grandes empresas, é o
da defesa dos recursos naturais nãe-renováveis do respectivo
país. A expansão do sistema, no centro, depende, cada vez
mais, de acesso às fontes desses recursos localizadas na pe­
riferia. Fizemos referência à situação dos Estados Unidos,
gue é, desse ponto de vista, um país privilegiado. A demanda
de recursos naturais não cresce paralelamente com a renda
per capíta: a partir de certo nível de renda ela tende a esta­
bilizar-se. Por exemplo: o consumo de cobre por habitante
triplicou nos Estados Unidos entre 1900 e 1940, mas perma­
neceu estável entre este último ano e 1970; o consumo de
aço por habitante desse mesmo país cresceu mais de três
vezes entre 1900 e 1950, mas permaneceu estável entre este
último ano e 1970. 39 Por outro lado, o consumo de metais
pela indústria pode ser maior ou menor, independentemente
de nível de renda, em função da natureza das exportações do
país. Contudo, se se tem em conta gue o nível de renda mé­
dia do conjunto da população do centro do sistema, excluí­
dos os Estados Unidos, é inferior à metade do deste país,
faz-se evidente que a demanda de metais continuará a crescer
no centro ainda por muitos anos de forma bem mais intensa
que a população. Se a isso se acrescenta que as reservas de

39 Ve;am-se os gráficos 29 e 30 de The limits to growth, cit,

62
mais fácil exploração, dos países cêntricos (conforme vimos
no caso dos Estados Unidos), se estão esgotando, é fácil com­
preender a crescente "dependência" desses países vis-à-vis
dos recursos não-renováveis da periferia. Essa dependência
continuará aumentando mesmo que se estabilize o consumo
dos referidos recursos no centro, o que de nenhuma maneira
é provável que aconteça em futuro previsível.
A utilização das reservas de recursos naturais como um
instrumento de poder pelos Estados periféricos requer uma
articulação entre países que, de nenhuma forma, é tarefa
fácil. Mas que essa articulação se esteja realizando, CQJJ)__e.ri­
dente �fro no caso do petról_eQ _ , constitui indicação da so­
liSticação considerá-\;·e19·�1;···�;tão alcançando as burocracias
que controlam esses Estados. É verdade que as grandes em­
presas nem sempre serão hostis a essa política, pois tratando­
se de produtos de demanda inelástica a elevação dos preços
não poderá deixar de ter repercussão favorável em seu fatu­
ramento, o que quase sempre significa elevação dos lucros. 4D
Evidentemente a situação será diferente se os países perifé­
ricos visarem a um controle total da produção e comerciali­
zação desses produtos. Mas, mesmo assim, o avanço que têm
as grandes empresas, no que respeita à capacidade de orga­
nização e à tecnologia, assegura-lhes a possibilidade de con­
tinuar negociando de posição de força por muito tempo.
Ocorre, entretanto, que os recursos não-renováveis mais
importantes, cujos preços podem ser efetivamente controla­
dos pelos países periféricos - sempre que estes logrem arti­
cular-se de forma eficaz -, estão muito desigualmente dis­
tribuídos. O caso recente do petróleo pôs em evidência as
consideráveis transferências de recursos que podem ocorrer
dentro da própria periferia como conseqüência desse tipo de
40 O ocorrido com as companhias petrolíferas ,·ecentemente constitui
claro exemplo dessa situação. No primeiro trimestre de 1974, com res­
peito a igual período do ano anterior, os lucros líquidos da Exxon
aumentaram em 40 por cento, os da Mobil Oil em 65, os da Texaco
em 120, os da Occidental Petroleum em 520; por outro lado os luaos
de 1973 já haviam aumentado em média 50 por cento com respeilo ao
ano anterior. Veja-se Le Monde de 29 de maio de 1974, p. 38.

63
polídcn. Os beneHcíos reais para certos p.afses são ünportan­
tes 1 mas esses países abrigam uma pequena minoria da popu•
fação que vive na periferia. Grande pane dos novos recursos
financeiros de que dispõem terão quase necessariamente que
ser invertidcs no centro do sistema. Ocorre, assim, uma trans­
ferência de ativos que tnmsformará parte da população dos
países beneficiários em rentistas, sem qne a estrururn da eco­
nomia capitalista se modifique de fonm1 sensível. Também é
possível que os paises beneficiários coloqoem à disposição
de outros países periféricos parte dos recursos referidos.
lvfas, se tais recursos são utilizados pata reforçar o processo
de desenvolvimento tal qual esre se realiza atualmente -
por exemplo 1 pa:ra criar ínfra•estrutura e indústrias básicas
geradoras de economias externas para as grandes empresas
�·- 1 as relações entre o centro e a. periferia não se modHica­
rão de forma sensíveL
A poHtica de elevação dos preços relativos dos _produ­
tos não facilmente substituíveis, 41 que exportam os países pe­
riféricos, constitui seguramente um marco na evolução desses
países mas, conforme indícamos, não significa mudança de
rumo no processo evolutivo do conjunto do sistema: capíta­
Hsta. Não se exdul a hipótese de que a posição internacional
das grandes empresas seja refo rç ada, encarregando-se elas de:
absorver grande parte dos novos recursos Hquidos encami­
nhados para o mercado financeiro internacional. Uma peque•
,;..iA capacidade de u:n cartel organizado pvr um grupo de países para
elevar os preços de exportação de mn produw e assim Hwdificar a
repartição da renda em escala mundial é tanto maior qz...an!o 1n(ÚS rí­
J;.ida é a demanda do produto a curto py,:r,;;o e mais di/kil sua substi.
tuição a médio prazo. A situação do- petYóleo a esse respeito é ex­
trcma:ncn!C /avoráoei. A sitv.11.çâo dos metais r:íío-/énosos se aproxima
dela_, -particularmente se puderem ser considerados em conjunto. No
caso dos produtos agricolas tropicais a posstbilidadí! de substitttiçdo é
maior, particularmente entre 11s camadas de população de nível de
re"lda mais baixo. Contudo, essa margem de substituição tend(' a esgo­
tar-se e a paYtir desse ponto a demanda adquire considerável rigidez.
J\1o caso dos produtos agrícolas de clima temperado a margem de subs­
!ituição é ainda maior, pois a médio prazo a sua produção pode ser
aum"entada nos países cênlricos, caso os preços persistam acima de
ctrtos níveis.
na parte da população periférica, localizada em uns poucos
países, terá acesso às formas mais avançadas de consumo, e
algans Estados poderão ascender a um papel hegemónico em
certas subáreas. Conwdo 1 as modificações no coniunto da
periferia serão povco perceptíveis.
f\1as é possível que a experiência adquirida no setor dos
recursos não-re,,_11ováveis venha � :5et utilizada na defesa do
valor real do trabalho, que exploram nos países periféricos
as grandes empresas. Conforme foi assinalado antes J a rápida
ex��ª�Aa eco_no_mi3-_ inr,emacíonal -·- setor 1E-�i� ·cr1narn1çp
do sistema _-c·ãpfril_í_Sfa ::.:._ - �en_d<:__a foDdãf�Se'na _ utilização das
g'ia'nêfeS iCSer�·as de ffião:de-obra-·b;;�ta-- - - - existem- na pe'i:i­
fêffri: "itpreSentam-se aqúr-dois_prõhiéffi��: o ru· aproptfação
dos ffü'i◊-S cJ_� __e�pansão econôm_ic_a _ _e o da_ oriéri"í:"àção_ géral
dô�pr2éesso de .. acumulação._ Dada. a grande disparidade de
níveis de vida, que se observa atualmente dentro da perifería 1
as grandes empresás estão em posição de força para conser­
var os salários ao mais b.aixo níveL 42 Toda pressão no sentido
de elevá-los poderá ser contida com um desvio dos investi­
mentos para oun-as áreas que ofereçam condições maís favo­
nlveis. A grande empresa que produz produtos manufatura•
dcis, na- pe_fiferia� pai�--0 _mê_rc0<:fõ__-(lõ�Çe'Dtro, t_em úma margem
de 111aflobra tanto-illdi;:;·q��;,_t_; �ais baix�s __s_ã� cs.._salári_os
q�ê. EsSi:í"'ffiãtgem·rhe-Per"rnTt;:;;ra -expandir o ·mercado
_a cur_to_ praz_o� séja au1��ri.i"�r. _sJJ·a·_--Çapa"Ckl_a_dé_: d_e fiu-tofinan­
�i;·mei:'1t·Õ: Eill. q�alq�e; dcs dois casos > maior a margem,
�Sf�f' a parte do valor adicionado que permanece: fora do
país periférico em que se locaHza a indústria. Tudo se _passa
como se o trabalho fosse um recurso gue se exporta} sendo
a taxa de salário o preço de exportação. Se o conjunto dos
42 Afcsmo f(lg_ando salários algo acima du "preço de oferta'' local da
mão·de-obr(l, as grandes empresas obt&m, na periferia, uma força de
tr(lbalho considcravelmenle mr:is b:1r!lta do que nos países cêntricos.
Eslima-se, por exemplo, que os salários pagos pelas grandes empresas
no sudeste da Âsia, para tarefas semelhantes, correspcndcm a um sexto
dos pagos na Alemanha e a um décimo dos pagos nos Estodos Unidos.
Com r.espeito à América Latina (excluída a Argentina) o diferenciai
tlet:e ser semelhante.

65
países periféricos decidissem subitamente dobrar, em termos
de moeda lnternacionat o preço de exportação da força de
trabalho, o resultado seria similar ao que ocorre quando au�
mentam os preços de um produto de exportação que goza de
uma demanda inelástica no centro. Em realidade essa ele1 a­
ção tem tido lugar em situações especiais: assim, os operários
da lndústría do cobre, no Chils::, já haviam conseg'.údo anos
atrás elevar consideravelmente o seu salário com respeito ao
"preço de oferta '1 da mão-•d-e-obra nesse país. Essa elevação
poderia ter sído levach1 i11,;lis. longe, mas o governo chileno
preferiu utfüzar o método do imposto direto para ampliar
a margem do valor adícionado dessa indústria gue era retido
no país. Se se trata de indústria manufatureha com múlti�
pfas linhas de produç,âo, cujos preços de exportação podem
ser fadltnente manJpulados 1 a viã fiscal torna-se de utilização
mais difícil. Com efeito: como coübecer a re:1tabilidade da
filial de urna grande empresa .instalada num país do sudeste
asiático se os preços de todos os insumos utilizados são ad.
minístrados pd.a matriz, assim como os preços dos produtos
exportados?
É difícil conjccturnr sobre uma elevação geral dos sa­
.1Jrios reais nas �!�i�:?.:.�-�2P?Et�:!_?!�?.. 5.!9�!��� . -�:i-if_éri­
cos, Como a taxa de salário varia rg�.ÜQ.J:JJ_trç..paí_��.?.. perífé­
-rkos I as conseqüên_�i�-�----��r:i_�p__ P}��i_q_�:3_s _ R�. _p_q,í_?_ "para país,
pa�ticularmen_té- S_c ·a elevaç_�o _foss_e _ _f�_i_ta no sen_tj9Q_ de uma
maior. lgualiz_aç3_õ�-l"íifo se pode perder de vista que à uma
tecnologia similar podem corresponder díversos níveis de
produtividade física da mão-de-obra em função do nível gerai
de desenvolvlmenro do país. A unificação das raxas de salá­
rios, nas atividades exportadoras industriais dos países peri­
féricos, tenderia, portanto, a benefícíar aqueles com maior
avanço relativo industrial. O..pr-0hlem.r1._.écettamer1�e_ muito
mals complexo que a eievação do preço de um produto ho­
rnÕgêiiêo-que-gõZâ:-·de-dérrlarida inelásrica no_ centro,�\1as.-.�-
oor ê•sse iâfüfuJJQ_q��-'. �f_:l?-_al_�--S:�9.c?_.-QJ.l___ mais __ tarde,_ .9s___ p���_es
perlf��q.ue--avança_r J?.�r_a ..?Pt_qp_�i-�r_-S(! _df!_ _uma_ parce­
la maior do fruto da própria_ fc,rça de trabalho. Seis.grandes

66
_crnnresas continuam a pagar na perifería salários corre�..eon­
dent�.��9- "'Kec o. de ..qfo_.n.a" daJçrrç,1_ <;le,~ tr�J=:.�tb?, o próprio
orocesso de ind_u5-tria,Hzação d_os.. países _2eríféricÜ_S-C_Orlt_ii'E,Uf"
--��E���-�.t·3·r � -f�-�sõ·_q�-e�QSsep�;;· d� ��-�i!�--��j��-!��-�-
A política de elevação da taxa de saládo real a �.:DQS:
n:fer_ i
. mos nos parág�9fos anteriores.. __ter:a_-cg_:110 conseqüên­
ciâ. . direta a criado de um diferencial de salfrlõSe"Dtfe o
Se_tó·r·-nga·�rOI _C�port_aÇ-ão e o resiO"'dà econo_mia Daí
r"eS;;ltaria a forrílilçãO "de urna nova camad::) sôcial, seLõ.8m:.e:
·
grnda _nas for�a•s,..,,.rriõ<lernas" (le consumo. Como o grac: de
;c·ü-��i�- ção al�-;�çad<-t na economia n�; permite generalizar
essa taxa de salário, o fundo do problema do subdesenvolvi­
mento :1ão se modificaria. _1?_$}:?c. ·ªl_ç_�n_Ç?T __Ç!',S_�JJm.d_g_Á.�J}§LD.�:
cessário que os recur_��-..!:�Jidos. .. no, paí_s __ p1:r.if4úc9. R::1.4�_ss_�!P,
ser __µüffZáctõS""-eíií"�tn pr_o,c_esso CUD?-_ulativo yisando_,a__ mod_if.i·
e.ar B" e�-��;���;•""J;-·~s;·��-�-;-- �0�1ômiC◊--n; se�-tid�'" de - �;m�
çIT;ç�ntê])õffi9iin�.!�-�ç��-.- 'A questão Ulifrnâ esl.á� na oríCD--
tação do processo de acumulação e essa orientação continua­
ria na mão das grandes empresas. 1\ssumü:- essa orientação,
vale dizer estabelecer prioridades em função de objetivos so­
1

ciais coerentes e compatíveis com o esforço de., acumulação 1


seria a única forma de liberar a economia da meda das gra:n­
des empresas. Esse -caminho não é fácil e é natural que as
burocracias que controlm.Tl os Estados no mundo perHérico
se sintam pouco at;:aídas por de. Contudo, as tensões sociais
crescentes que engendram as awais tendências est!"uturais do
sistema poderão forçar muitas dessas burocracias a .adotar
camlnhos imprevistos, indusive o d-e uma preocupação de­
tiva com os interesses sociais e busca de formas de convivên­
cia com as grandes empresas que compatíveis com uma
orientação interna do processo de desenvolvimento. 43

43 li acc:itaçlio pelas grandes empPesas, micialmente pelas européias e


japonesas e mais recentemente pelas americanas, das r.on1U1s restritivas
impost.a5 pelo código de irl!Jestimento,; estrangeiros dos países do grupo
andino é exemplo claro da rapidez com qw:: podem adaplar-se a novas
situações essas empresas. Aparentemed:: a adapt.ação é mais fácil se as
restrições dizem rcs;u:i10 à. propriedade dos bem de produçdo e mais

67
() mito do desenvolvimento económico

Se deixamos de lado as conjecturas e nos limitamos a


observar o quadro estrutural presente do sistema capitalista,
vemos que o processo de .acumula5;ão t!_':W�.<'.'...-1:L_ªn?J)li_ar o fosso
�J::f.JJJJl cêntr._Q }_ .e)JL.Çfl::?��E!_té_ homogeJJejza_ç_ão__, �-- uma cons-
telação de econo_tnias___ perif�r_ic�s,___ cujas _}_i_spar1dades conti-
.if�
--
ijüii-�i ãii:à0í_f_�§��; __çO_Qi J:Ó::---�q. --�ii$_Çg;Di.ÊJiigs;JIJ.QpÍ:ti .. d as_
g��_t:Jdes- �.f0l?re�_�s,kJ}i1_.QJjc;:1_�_açâo do pr_o_cesso de acumulaç_ão,
-
·_i:'r�-��L'.·� � �, · n�-- _ ��nt_rg,_ P.9!__ uffiâ___t�J1-
_ �ffl.ÇJ? )����m �g�nelZ,_�Çã_o···
-
�os padrões _d_e ___c��_s1_1�.?....C.., _1?.�-�--5=-�2!?:��ias periférlC��-' __por
�mâístanªCíaffiCDto das formas de vida de uma minória orivi­
·-q�
: !�ifaihL½QfU_ respe.frQ:J:: 61a_0�� J??P�Jaçã�� ..E;;··-or1ê;;;ação
- do procesSO -ae ·acumulação é, po·r si suficiente para
que a pressão sobre os recursos não-reprodutfveis seja subs­
rnndaimente inferior à gue está na base das projeções .alar.
mistas a que fizemos .antes referência.
Cabe distinguir doí�_ tinos. de_yressão __:,obre Q5 r<;;cursos.
A primeira está ligada à jdéia de freio J'.'Q._�_lthusiano:- .refere-se
à.disponJbilidade de_ t_en:a atável a ser_ utilizada no contexto
d.a. t<gticn!rnttLd��--S4.b?i���-�}ÇÍ_? '. Nos .-2?-i�í;;;LeIT.l_ ql.)e o _padrão
d�_y.kla..d.eJJ.ma41rand_e__fldXJ.�....Qil·p�puJªçjjQ__se. ..apfQiima do
nh:eLdi;__ fHJ.b�i?tênc_ü1_,___l)____d_i_sp�n�_bí_li_cjade de .t�rras aráveis (ou
a.. po.ssiJ:ú}idade de intensi.fi. S.?t_o s_�u _cl]ltivo mediante peque­
no___j!\:l_!J)�PJ�L:<fi... �t stos -·de produção em termos_ de mão-de"
i

9.hra ..não-especialízada) é fator decisivo na determinação da


tax_a de_ crescimento demográfico, Não há dúvida de que o
ac.e.sJtQ às terras-pod�'>eLdifig_ült§.9.2._ por fatores iqgi_tudonais
e que a oferta local de aJimetf _tos oode ser reduzida p.ela. ..am­
p]iação de cu_'.turas d�?G-t-taçao, Nos dois casos aumenta
a pressão sobre os recursos, se existe uma densa população
rural dependente da agricultura de subsistência. Os efeitos
desse tipo de pressão sobre os recursos somente se propa.

difícil se interíerev::: na orientação do desenvo!vimento, isto é, na defi­


nição dos produtos e r;;êtodos prodvtivos. Em sinte-se.· a grande em­
presa está disposta a abandonar a propriedade dos bens de produção_.
mas não o controle da tecnologia

68
gam quando a população tem a possibilidade de emigrar: de
uma maneira gemi, eles se esgotam dentro das fronteiras de
cada país. O que interessa assinalar é que esse tipo de pres­
são sobre os recursos pode provocar calamidades em áreas
delimitadas, como atualmente ocorre no Sahel africano, mas
em pouco afeta o funcionamento do conjunto do sistema.
O segundo tipo de pressão sobre os recursos é ca"Jsado
pelos efe!tos diretos e indiret_Qs da�e;jev_?çfto ..do._n_f::1el_je con•
sum_o 4,as populaçíJes e es�_á_ {;S_treitam_eme_ ll_gado à orientação
gei4rdo�Pr��;;o de--d��e�v�lYi�ento. Ü fato de que a renda
se ffiãf!te:"r1há -- considerave-Imente concentrada nos países de
mais alto nível de vida agrava a pressão sobre os recursos,
que gera, necessariamente, o processo de crescimento econô­
mico. 4? Também se pode afirmar que a crescente concentra�
ção da renda no centro do sisi:ema 1 isto é > a ampliação do
fosso que separa .a periferia desse centro, constituí fator adi­
donal de aumento da pressão sobre os recursos não-repro­
dutíveis. Com efeito: se fosse mais bem distribuído no con­
junto cio_sls..tema..capi_t_�_IjA$.t.�j _Ao cres�_imen_to depe-nderiã menos
-da introdução de novos prod�t�s · filla"íS"-e mais da difusão do
US◊·-ae -prodü"t�_�j*·· co_�t)ecidos, O que sí2pifícaria u�__ }!)_ais
bãrxo· cõtiicleflre <lJ:.di�.P-i.frlJ<:�Q� b capitalização tende a se'r7
tª-f:!r9_ fil.�t�_)I?ten�a. quant_o mais o cr��-Ci��l2.t9..�il:çfa__--orien- i
tad_o_Q�ra a intr?_duçã_o__ 4e novos__ p_r()�u_to�_ finais, vale dizer,
a�· _
par� o_ e"u�ü,_rl_ame�to:: Vidã·-�·ill"de-_ben_s fl ifl(O.rp()taâos, ao
patt·i'�ôfl:i<f dãS-J,eSsOa"s" "iE ·aa "'colCdvida�e ..;s DeS-ta- fozma ) a_,
_
simple� ··cOncentràÇãõ- geõgiá"fiCã"- da_ ,;e;;da, em benefício dos

·ª Se o grau de concentração da renda se mantém e a renàa média estâ


em expansão, isso significa que os novos recursos criados estáa si:ndo
distribuídos com o mesmo grau de desig_u.aldade que os recursos já
existentes. Uma pessoa que fá dis.põe de uma renda dez 1,-u,es rnperior
à média estará recebendo rect1rsos novos f!JH quantidade dez vezes su­
perior à média. Se esses r,1cursos fossf!m distribuídos entre dez p.essoas,
um mesmo bem multiplicado por da poderia absMva o in,;remento
de rend,:1: no caso de os recursos estarem concentrados na mão de uma
só pessoã, quiçá sejam r-u:ccss!rrios. bens diferen!:?s, o que-, na prá•
iica, se consegue em grande parte mtuz1114!0 a vida dos bem jd exis­
tentes.
15 Cf. C. Furtado, Subdesenvoh'!mento e dependência. ât

69
países que gozam do mais alto nível de consumo, engendra
uma maior pressão sobre os recursos não-reprodutíveís.
Se o primeiro tipo de pressão sobre os recursos é loca­
lizado e cria o seu próprio freio, o segundo é cumulativo e
exerce pressão sobre o conjunto do sistema. As projeções
alarmistas do estudo The limits to growth se referem essen­
cialmente a este seguucJu tipo de pressão. As relações entre
a acumulação de capital e a pressão sobre os recursos 1 que
estão na base das projeções, se fundam em observações em­
píricas e podem ser aceitas como uma primeira aproximação
lVálida. Q qne não se pode aceitar é a hipótese, também _fun­

��;:r�:ª�
damental nessas projeções, se�.:::��:Lº·-ª· qual os atuais..1::_�drões
de consumo dos P'"ãísesriCOS--tendem a generalizar-se em esca­
J�tpiãnétát�Esta h_ipót_�s-� _e_s_�_á_srr1��:ÇQ_fú.f?�-i{ão _ direta Cóm
Lª.-��-�-entaçao -d_�s�1�\1;lvimento q��- se ·real1_:.!_:��-��l- -
; mente no conJunto do sistema, da qual resulta a exclusão �as
·granclesITI�-quevivenl nos 12.iliç�$.-.p�r.ffe_ric.o.s__d_q_��:Fe�;�_ses
··criadas por esse desen�;nto_. Q_ra__, _ �?g__gsª-Jxtn1en-�_i-.��sses
�xauwos-·qt;e formam a m·;;;;... J_in]Qg[_áfiçL_eDJ.�:.r�(�l a ..._i;x-
pansao.
__,, A população do mundo capitalista está formada hoje
em dia por aproximadamente 2,5 bilhões de indivíduos. 46
Desse total, cerca de 800 milhões vivem no centro do siste­
ma e 1,7 bilhão em sua periferia. As tendências evolutivas
desses dois conjuntos populacionais estão definidas em suas
linhas fundamentais e não existe evidência de que venham
a modificar-se, no correr dos próximos decênios, como de­
corrência de pressão sobre os recursos, do primeiro ou do
segundo tipo referidos. Sendo assim, e se se exclui a hipótese
de um fluxo migratório substancial da periferia para o cen­
tro, é de admitir que a população do conjunto de países cên­
tricos alcance, dentro de um século, 1,2 bilhão de habitantes.
A opinião de que essa massa demográfica tende a estabilízar­
se nos próximos decênios é aceita pela maioria dos estudio­
sos da matéria. O quadro formado pelo segundo subconjun-

46 Veja-se a nota 21.

70
to demográfico é muito mais complexo em sua dinâmica. A
pressão sobre os recursos, do primeiro tipo, desempenha nes­
te caso papel fundamental. Contudo, se se tem em conta a
atual estrutura de idade dessa população, da qual cerca da
metade se encontra atualmente abaixo da idade de procria­
ção, parece fora de dúvida que as taxas de natalidade se
manterão elevadas por algumas gerações. É essa uma das
conseqüências da orientação do desenvolvimento que, ao
concentrar a renda em benefício dos países ricos e das mino­
rias ricas nos países pobres, reduz o efeito da elevação do
nível de renda na taxa de natalidade, com respeito ao con­
junto do sistema. Pode-se admitir como provável que, no
correr do próximo século, a população da periferia dobre
cada 33 anos, o que significa que ela passaria de 1,7 para
13 ,6 bilhões. Sendo assim, a população dos países cêntricos
se multiplicaria por 1,5 e a dos países periféricos por 8, do
que resulta que a população do conjunto passaria de 2,5 para
14,8 bilhões, ou seja, se multiplicaria por 5,9.
No que diz respeito à pressão sobre __ os___ :çecurso_s do... s_e-
g�ndo tip(),_}sto é,- a pressão cumulativa capaz de gerar ten­
sões no conjunto do sistema, interessa menos a divisão entre
centro e periferia que a divisão entre aqueles 'que se benefi­
ciam do processo de acumulação de capital e aqueles cuja
condição de vida somente é afetada por esse processo de
forma marginal ou indireta. Ou _ ��ja: é mais importante o
fosso que a atual orientação_ _sf:<?:__ q�_ .�-erivol_yi,rnento .cria dentro
'clo"s pa1ses pen�én�ó�·_d o gue o outro fosso-que existe entre
este_s_.e__Q____c_eíitro .. do .sistema. As informações relativas à dis-
tribuição da renda nos países periféricos põem em evidência
que a parcela da população que reproduz as formas de con­
sumo dos países cêntricos é reduzida. Ademais, ..essa--parc:cla
não par��ç:'. _ el�y_a.r.cse.�m-signifi.cati.va. com a industria­
lização.:. Ó ·fundo do problema é simples:.__o~··n,iys:l_��---E�-�d - a
da população dos paíse_�_ç_ên..t.i::i.co.s ___(_ e.r:o....m�_Qi_ª"·· _çer_ca _ _<:{e dez
v��es mais elevado·� o da população dos países pet�féricos.
Pôttãnto,a-Jnín·ô-ifa gue nestes países reproduz as formas
de vida dos países cêntricos deve dispor de uma renda cerca

71
de dez vezes maior que a renda per capita do próprio país.
Mais precisamente: a parcela máxima da população do país
periférico em questão que pode ter acesso às formas de vida
dos países cêntricos é 10 por cento. Nesta situação limite, o
resto da população (90 por cento) não poderia sobreviver,
pois sua renda seria zero. No caso típico da presente situação
na periferia, entre um terço e a metade da renda é apropria�
da pela minoria que reproduz os padrões de vida dos países
cêntricos e a outra parte (entre metade e dois terços) se re­
parte de forma mais ou menos desigual com a massa da po­
pulação; nesse caso, a minoria privilegiada não pode ir muito
além de 5 por cento da população do país.
Os 5 por cento de privilegiados da periferia correspon­
dem presentemente a cerca de 85 milhões de pessoas; des­
tarte, o conjunto da população que exerce efetiva pressão
sobre os recursos alcança 885 milhões. No quadro das pro­
jeções que fizemos, esse subconjunto populacional alcançaria,
dentro de um século, 1 880 milhões. Desta forma, enquanto
a população do mundo capitalista aumentaria 5,9 vezes, a do
conjunto populacional que efetivamente exerce pressão sobre
os recursos aumentaria 2,1 vezes. Se a população que exerce
forte pressão sobre os recursos dobra e, ademais, a renda
média dessa população também deverá dobrar antes que o
ponto de relativa saturação na utilização dos recursos não­
renováveis seja alcançado, temos que admitir que essa pres­
são muito provavelmente crescerá cerca de quatro vezes no
correr do próximo século. Cabe acrescentar que essa pressão
quatro vezes maior se realiza sobre uma base de recursos
substancialmente menor. Contudo, seria irrealista_...im _ ag_inar
qu_(!_ y_m ritmo de crescimê:nto dessa -�-�m�; _ pr�ss�o _sobre
os __!��Ursõs n�2.-1�0.ovave1s,__ç.9gg1tt11_: a_Igo fora- dâ cap·acidade
de co�trore-ci9 homem, mesmo �'a 'hlP6têSe__ de que_ a tecno­
Jo.gii::contTD.�e:_? S�(_()ii�nt·ada_· efl:l sua _concepç_ão_ e utilização
por empres_as _p_i=I;adas. ES-ta_ afifmação não implica desconhe-
cer qué .é___eSsa- uma pressão considerável, cabendo assinalar
que parte àescente dela se exercerá sobre os recursos atual­
mente focàlfa:àdos na periferia do sistema.

72
Outro dado importante a assinalar é o crescente peso
da minoria privilegiada dos países periféricos no conjunto
da população que desfruta de alto nível de vida no sistema
capitalista . ��-11:c.:l <?_ menos de __ 1g__ P.9T ..�_t_::1:1!.9,...3:_���lmen_t_<;:,__ �____ p_ar-
ticip�ção dessa D.1ínoria teiideria a superar um terço, na pro-
:
j_eçã�-- qu"e-1íze 111o·s·:--qra, se s:___ tem··em__ :�onra_·:·<:iü�:-�o�_::�staqos
&1·peffféid3-ffiuíto pt0\�·ave1mente eSràr· . ao-··e·rr;- cóndiçã0- de
. �"i;· r ()f)riar-se - cfe u · rr ;_ a - --parCe fa rn ai
_ or. -- reTidi:-�d,q_·_:ç.9rrJ.iinJq_ dó
dâ'_ .
·s1s·ten.:;a, m·ediante a valol'ízaçã-ó-..d◊S rec�tSó� não-reprodutí­
rn:�:��_ae::obi-a
·y_�i_i(_�.. (]_a__ que exportam, a hipótese que fQrmu-
L1IT105-____de _ esta_b.U_iz_a_çã◊-, ·ao __ nível _de_ _5_ pq_r__ __ ceqt_o, do grupo
pri;Tlegiado deve ser___ C()I]SideE<t.1_a � º11:19. ___ llll1 __Il_1ínimo. Se a
;;�Ih0ra nos termos--·de intercâ�biõ- ·per-�l"te· g�-e os 5 por
cento se elevem a 10, a minoria privilegiada da periferia
superaria, em número, a população do centro do sistema.
Esta tendência também operaria no sentido de reduzir a
pressão sobre os recursos, pois a ampliação do número dos
que têm acesso aos altos níveis de consumo significa que o
crescimento se está realizando no sentido de uma maior di­
fusão dos padrões de consumo já conhecidos.
O aumento relativo do número de privijegiados nos
paíseS ptriféi{cos iifio ''i"mp·ede, --entretanto, ·que se -mantenha
e apr0iüç;Je-- ◊--fosS- o que exr"st·e en"Ere..,eTéiS·e··a grande maioria
êEi"Poptlla-�-ão···_ ae seus__ r��p�ú_i"Vo_s jJ_aís·es. Com déito: se ob­
servamos�º síStema Cáf)itáliStã-em· ;eu conjunto vemos que a
tendência evolutiva predominante é no sentido de excluir
- nove pessc,ã�(�·rrr: dez-dos·princip•iüs··benefíd-◊-s_:_·do -a_ei:;e·nv�lVi­
:
me_g_ç9.; -e· s� · obs'ervamos em particular o conjunto dos países
p;�iférícos constatamos que aí a tendência é no sentido de
excluir dezenove pessoas em vinte. Essa massa crescente, em
termos absolutos e relativos, de excluídos, que se concentra
nos países periféricos, constitui por si mesma um fator de
peso na evolução do sistema. Não se pode ignorar a possi­
bilidade de que ocorram ) em determinados países e mesmo
de forma generalizada, mutações nos sistemas de poder po­
lítico, sob a pressão dessas massas, com modificações de
fundo na orientação geral do processo de desenvolvimento.

73
Quaisquer que sejam as novas relações que se constituam
entre os Estados dos países periféricos e as grandes empre­
sas, a nova orientação do desenvolvimento teria que ser num
sentido muito mais igualitário, favorecendo as formas cole­
tivas de consumo e reduzindo o desperdício provocado pela
extrema diversificação dos atuais padrões de consumo priva­
do dos grupos privilegiados. Nesta hipótese, a pressão sobre
os recursos muito provavelmente se reduziria.
O horizonte de possibilidades evolutivas que se abre.
aos países penfêfiCO·s-é;-·s-e·m-·1ug)1rá-âú\íiâa';·--ãní'pfo. Num ex­
tremo, perfila-se "â"'htPótese··de--·perSfatê"nda das tendências,
que prevaleceram no último quarto de século, à intensa con­
centração da renda em benefício de reduzida minoria; no
centro está o reforçamento das burocracias que controlam os
Estados na periferia - tendência que se vem manifestando
no período recente -, o que leva a uma melhora persistente
nos termos de intercâmbio e a uma ampliação da minoria
privilegiada em detrimento do centro do sistema; no outro
extremo surge a possibilidade de modificações políticas de
fundo, sob a pressão das crescentes massas excluídas dos
frutos do desenvolvimento, o que tende a acarretar mudanças
substantivas na orientação do processo de desenvolvimento.
Esta terceira possibilidade, combinada com a melhora persis­
tente nos termos do intercâmbio, corresponde ao mínimo de
pressão sobre os recursos, assim como a persistência das ten­
dências atuais à concentração da renda engendra o máximo
de pressão.
_j_Lç__Qo..d:1.1sJo__ ger.al.. qu
. _e .s_urg<:: .. d�ss_�s considerações _é _qu<;
_ �ge,r_ li çãor no.__çonüH1.�2. . 99_..s_t�_�_t ma.. . __rnp.ü.a- ,..
a hip.9,g�?�.. ...9.e;.. g a za
-li�-tã, das formas de ç_QD.$_t;t_m.Q___gµ_�__pr(!y_�_l�_c{!_m __atual rri�nte nos
países cên t_�i�gf)__ .Jl_�fo._t.em .. _gªJ>Ü!l�!}.. �-º- . :���frQ_ _
çfo.�.. _ pq�_Si_ ]?_i_I_i_ªi-
des ev_olu.üvas a p _ esse_ s_ist_ t;I1},1_ . E é essa a razão f�n-
_ ar�11,tes _cl_
-a;;:;ntal p�J;-q�;T �;;-; ;�p��;�,.·�·;t;dísmica, num horizonte
previsível, carece de fundamento. O interesse principal do
modelo que leva a essa ruptura catadísmica está em que ele
proporciona uma demonstração cabal de que o estilo de vida
criado pelo capitalismo industrial sempre será o privilégio

74
de uma minoria. O_ c_�s_t_o,_ _f:!_� __ t_�rrnq_s__ de _ ��f>re_9aç�() _ _ . qq
111undofísico, des�e" �stil� de é
vida de-tal iorrna elev;d�
q�e___ !o1a te_ nta��Y�.. de ge11eralizá-lo lev�_ria inexoravelmente
?e
�g___s:o1ap�_() __ tod_ a__ur,rrn ___,jyi_liz_açiq, _p9ncfo_ em risco as· ·pos:
s�_�iffd;deS de __s���e_vivênç:ia _ da esp_és}e -�llmar,ia. Temos as-
--·;ún:,,a prova definitiva de que _() _d,ese_ _rzy_gL;im_e.nLÕ.__ __e_c_on . ômico
_
� a i_d�i,l __de_ g_u_e_ _ ?_S po_vo_s pob��S-Po<lem algum dia desfru-
tiLdi$�Jm:fili$__-di_yj_Qg_" _QQ§___gt,i.rni_:=; p _ 9_11_o_r_r)c_os � é _sí1nples-
r--m�v_t_�_ju�ªlizáveL.;$abemos agQ�_ �t..d.�_ __fç,rrna i_r_r�futável quê7
f �s�_ço_nomias__da,..períferia ..nunca . .serão. dese.11:_v_p}_virl,q_s,... 11.9. sen- __ l
1
tido de sünilar�Jji_§ gcqnQm_i_@:=;_ __q��Jqgpªrn () at;�J �e� - t_ r?"-�?-- '
sis_ tema c _a p_it-;Íís_ta._ Ma_ s como __pe_ ga�. ql]e___�?s_ a idéf;i:_: tem sido
cl�g���d� pa
�rilid�cle rn mobi]izar ospov�s-J; periferia e
levá-los a aceitar enorffieS s�-crífícios_, para legitimar a des­
truição de .. foqnas_ _ de_-C_ú_lt_ur_a arcaicas, .para explicar e fazer
com__ preender _a ne_c_e_s_�idade de destruir o meio físi�()1.. . _para
jus.t_ifÍê_ar-·:riW-ª_§_d_�
_ depen_dênci_a que reforçam o �ªXª!�_i.. pre­
datórío do sistema produtivo? Cabe, portanto, afirmar que
a·-:rdéía:ae·_-:des·envolViriii.11to econô_mico é um simples mito.
Graçª�-"ª .s:la _tem sido possí_vel __ cle:_ _ sv_ ia_r: 9:_s --�te_ n_ çõ_e�-- 99:_ _ t_a�e:_fa
b,í_�k�.9:�)d_entifica_ção das _ nece�s_i4is1�i_ _-_f_uridãffiê-Ilt_à.is <li ·co_­
ktiv)J�deedaspossibilidades que abre aohomem o avanço
da._çitr.!çj_a_L.P?f?. _co_11c12:11tníJ?.� _em 'óbfet1vos---abStratos como
$âO os i_npe_{ti_m_ent_Q§,____ª�----t;�p9.,:_t_a_çQ_é5·_::i··:o·_·c_;_"i_5_ç_z171-.e_n,tQ._ A""lm-
portância principal do modelo de The limits to growth é
haver contribuído, ainda que não haja sido o seu propós ito 1
para destruir esse mito, seguramente um dos pilares da dou­
trina que serve de cobertura à dominação dos povos dos
países periféricos dentro da nova estrutura do sistema capi­
talista.

75
CAPfTULO II

Subdesenvolvimento e dependência:
as conexões fundamentais

Uma observação mesmo superficial da história moderna


põe em evidência que formações socia_�_s_ _ a_s_s_Í_I)a_l�d�_s J2.QI__gt�n-
de heterogeneidade t_ecnológicGl_, __lpi��ª�:fo:�.:,.çl_�S, �gl]�-ldades na
-
produt1v1dade do trab"alho entre. -áreas rurais e urb�;;as, ugia
pro_porç�()_ .I:�!_a_t_í\7_��- ·estáVel -d� ___ pqp,ula_çao vivendo ao
- i_Ilte -
níVe1··ae_ S�_b5-i�1:ê_nC ia, cresc�nte su_�_erppf�gq__ urbano, isto é >
as cEamadaS 'écOilüffiias subdesenvolvidas, estão intimamente
Iigactas·-·à·--fOfffia·--como o capitalismo industrial cresceu e se
difundiu desde os seus começos. A Revolução Industrial -
a acelefaçãõ-hõ processo de acumulação de capital e o au­
mento na produtividade do trabalho ocorridos entre os anos
70 do século X\TIIIe __os__a.nos___l_Q_d.Q_S_é�.ulo..X:IX - teve
lugar no seio de uma economia comercial em rápida expan­
são, na qual a atividade de mais alta rentabilidade muito pro­
vavelmente era o comércio exterior. O efeito combinado do
incremento de produtivid;ae·-·nos··-transportes - redução dos
fretes a longa distância - e da inserção no comércio de um
fluxo de novos produtos originários da indústria deu origem
a um com}Jlexo sistema de divisão internacional do trabalho,
o qual acarretada importantes modificações na utilização dos
recursos em escala mundial. �Para ··------------.compreender
--------�--------------------·-··o que cha-
r-
/ mamos hoje em dia de sub_çlesenvQly_ irp.�_ �to, faz��e--ne"ceSs�_r_i(J
i identificar os tipos particulares de estruturas sócio�e-�ot19mi-­
\ c���-�i_d_as..naquelas_.,án.�;1�__gp4_�_ o novo sistema �lê -Ji;i_são
\ internacional ??... �-r�b�l-�_o ___ pen:nitiu _que _ cresc�s-�-�-- o produto
:, l�eçlg11te. simples rearranjos no uso da força de tra­
- . balbo disponível.

77
A nossa Q!.Q6tese_ central é a seguinte: ..Q_Q.Çnto de ori­
gem do subdesenvolvimento são os aumentos sle.__p.t9_duJiyjçf_a_­
de do :_t_t.;;'!_Palh9 _ __ç!}g�udta_d_Qi>. _pela simPl�i r_�a_lqcaç$_() .4�__r�,
curs<:,s· �_is�_n4()_ a _obt_e_r _vantagens _c_o_mparativas i::státicas ·no
comércío--in!effl(l-Ç;Q�a}. O progresso técnico - tanto sob a
fOrma de adoção d�- �;étodos produtivos mafs eficientes coma
sob a forma de introdução de novos produ!os destinado�
ao consumo - e a correspondente aceleração no processo
de acumulação (ocorridos principalmente na Inglaterra du­
rante o século antes referido) permitiram que em. outras
áreas crescesse significativamente a produtividade do traba�
Jho, como fruto da especialização geográfica, Este último
tipo de íncremento de produtividade pode ter lugar sem
modificações maiores nas técnicas de produção, como ocor.
reu nas regiões especializadas em agricultura tropicat ou
mediante importantes avanços técnícos no quadto de ' en" 1

claves 1', como foi o caso daquelas regiões que se especiali­


zaram na exportação de matérias-primas minerais. A in§__ç;r_.
l
l ção de uma agricultura num sistema mais amplo d�- dív.lsão
. �~•• ______,.,.......... --.···•�--------,........ -, ..... ,

I "soc5aroõ··tr��ff)õ�;-·ou _sej_a 1 tra:nsformação __ d_e · �ma agricul­


/ rü_rã�aê•-stibS"fste•nc - 1a,_---em·--ag!'_Jêüfiur:a__ co_merciaI, não significa
n��i��Iiii �����-:±bal1don;r os �êtodos tradíc!onais de pr�-
/ __ . __
I �.1:15:3�:. NTas, se ess_rct:r�nsrormaçao se faz a traves do comeroo
{ exterior 1 OS"lr:iê:rê'intntos- de produtividade econômica podem
l sef'Cõiisícfe-rãVéi:t··o.::"rto"� O excedente adídonal, assim criado,
'Põae-per"mariêCer no exterior em sua quase totalidade, o que
constituía a situação tfpica das economias coloniais. Nqs
casos _em que esse excedente foi pardalm_ente apropriado do
interior, seu prinçip_ar_·_deStlll·�-- �onsistio _ eíl1 finançi_ar _ ;;ma
rápida diversificação dos hábitos de consumo das classes
dirigente_s, _med,iante a ___i mportação _de rn:)Vos artigos. Este
uso particuíar do excedente ad.idona.l deu origem às for­
rúaçõ'2_s s_ociais_ at_ualmente identificadas como economias sub­
d_eseny9Jyí_da.s.
Desta fotma, o capitalismo industrial levou certos países
( os que lideram o processo de industrialízação) a especiali­
zar-se naquelas atividades em que métodos produtivos mais

78
eficientes penetr11v2:m rapidimente, e levou outros a espe­
cializar-se em atividades cm gue essa forma de progresso
técnico era insignificante 1 ou a buscar a via d� alienação das
reservas de recursos naturais não�reprodutfveis. A_ "lei das
vantagens c0_1npgr_ativas", tão bem Hustr::.dz por Rlc:ardo
cOiU o caso·do· cO!Uéi-Cio anglo-lusitano" proporcionava uma
j_ustificação sólida da espeda1ização imernad_ona1 1 mas dei�
Xava na sombra tanto 2 exYtefüit"djS!Jfrhlâ·cre·-;:--iã.�dH�São- do
prõQtCsso nas técnicas cre-prOJ:;Ção---Cô!UO-- O .
"J:lov� excedente cnado na.J;;erifería nã6 ·se Co·n:.:_ ec:c:1,...:::v.:a_·c:co•·=m·.: o
j)!õê-ess·o. ·a:e··1�r����-_s!� ·c;Pi�;I�-E���--"e;c-e·de�:re-- êr_� ·or1_n·ct �
_ .
pa1mente destinadc a fü1aftç__1 à L-ª.._Qjf_usãq, .?.� __ pt_rffe�ia,_ dos
novos nadrões d_í;_Ç.OJ.1_S..tU1JQ..qt.1e�ç�tfL'{'.l\1], .. ?_L1fgincl,o .119 __centro
do sistema _e�onô_míco l_nur1d_í_a_1 e:1] fon_na_çã_o. Portanto, ;:)$
~rr e1ações entre 'i)à"ísC-s. cên-:rí��S e perifé�icos: no quadro do
}sístema global surgido cia divisão internacio.1al do t::abalhoy
\for2:m., desde o começo 1 bea:. mais cornplexas do que se de�
lrreende da análise econômica convencional.
Aspecto funda.men_rn..L que se pretendeu ignorar, é o
fato de que os países períféricos foram rapidamente trans�
formad()_S _em impf?1_·tadore,sde--no�,os de_ Consumo, frutO
J;---p;õC-eSS◊--de "aCUríii.i13ção e d·o progresso técnic'o que tinha
1ui9'r-no-· -ceriffo ·do SiSfef11a. A adocão de novos uadrões de
cQfil�Sê'rliE:x'treffiamente irJ�il-ªE. t. daQ_q_g_;�-..?.. e:_�ce�
dente era aproori-ado P()t urna ff;ino_ria res_ trit0, cujo tamanho
relativo dependía da êStfü_tura agrária, da abuDdáncia relaM
tiva de terras e de rõãô:de�í.)bra, da irnp�;tànda relativa de
nacionais e estrang:iros no controle do cc1_nérci-o e das fi­
nanças _, do grau de autonomfa da burocracia estatfll, e fatos
símilares. Em todo caso, os frutos dos aun1entos de 12:rodu M­
tj;vidade reverl!fillLr.:_n:i_.b_enefício.,.. .de.."JJill4\.,,_pequ_ena mi�orfa_�
ratiOpe[�al a renda disponível pana co;;:w.ffio __ _J;;,.gt,�po
ml_vilegiado cresce;_1 de forrr:a substanc!,ª-L Convém acreScen- -
t2:r qt:e tanto o processo de realocação de recursos 2.;od_u-
. tÍVO; como a formação de ç_apit_aLsw.�-..<.t ·este�s.;-ügã�--i_ (;b�r­
tura de novas terrns J construção de estradas sccundárias 1
· edificação rural, etc.) eram exigentes em J��I:!5?..�_,

79
importados: o coeficiente de importações dos investimentos
ligados às exportações em expansão era baixo. Exceção im­
portante, constituiu-a a construção da infra-estrutura ferro-
Viária, a qual foffil1iDc.:_iiç{i�_c[Q�::��i.foi{9t�= e _ _ a��-t1-�.\�.. ___ par_<:_1_� 1-�
men_t e a _fo_rma de "enclave" produtor de excedente q;_-;e· não
s� iri!�g�?-���- �s:_()_º-º-1P.Í_ª---J_q<:,?l. De tudo isso resultou que a
-
Ill?rgem da. . cap.a- cídade pata_jmpor�r, disponível para cobrir
-
compras de bens de consumo no exterior, foi considerável.
As elites_ )qca_is es_tiv_�_ram, assim, habilitadas para seguir de
perto os padrões de consuÍno do centro, a ponto de perdefém
contacto com as fontes culturais dos respectivos países.
A existência de uma classe dirigente com padrões de
consumo similares aos de países onde o nível de acumula­
ção de capital era muito mais alto, e impregnada de uma
cultura cujo elemento motor é o progresso técnico, trans­
formou-se, assim, em fator básico na evolução dos países
periféricos.
O fato que y_�_1 !:l?_s_4e__ _r�f_e�i_r_ _ _� e n_ ão seria -��fí_ci_ _l -�o_m-
prová]Õ-CO�---_i;i_4�nci_� __ }�ist- ?fí_ _�? ... � ___ _p_õ�-- a __ _ cl_à_ro-- que;__ I1º
es't"Ucto··ao-·subde�en;o1v1mento, nãó tem· fuI)dáD1en'ro··a;;tePor
� "'âiiálise·
_ -·ao···· nrve_r_ciã_:··_ _pr_o9�çã():�:-·ª�i _;{iii.4.Q _·:i'fii );�g�_ijªo_:·p1�-�?-
0S""Pr◊-6Te-ffià�·- ·d:a· e1rcu1ação_, - :?nf()r_�e 2ersistente _t_r,adiçao ·_cl?
pen�à?'Ie�i� ·. :ri'iii�ht_�··p_iia:� _cãPiái::::_;: ��; t_ t1_r_e_�a d?. -
-
�-u·Eae_�e_ n­
;°-r vím:e;;t�;�-- �-- P�_rt_ir de �ua�-- __?r�g�i]-�-- -_h}s_�§rjca_s '.,l _i_nQiipe_ n-
- -
S}v�i:-f()�;_Üzar si_ m_t1lta_n_�a_I?en te:·_ �___proc�ss_ 9__ d?. p_ro.dução __ _ (rea-
I_(}Ǫçã_q__çle rec_u_r-s:ós :Aando:�:O"rigem_ :;-_:µm __ e_xceden_t_e__ 0d�ç_i.9na l
_e__ for_m_a de apropríação desse excedente) e o processo da
circulação (_utilização do excedente ligada à··•a'ª{)ça9: -·_qe _flO_y_os
padrões de co�sumo copiados de países em qu� � -·�Í��i ·de
3éúffiUlação é m� _ ·ã�is __ __a_lt_o)_ _,_ ___ §S_- _ """éJúa'(S_:::�_C_Orijü'iiEiil)
_ T-�<J:···- ·rn - �en te ,
{�fl_g_�-6�-��-1!1.__ .� @e i:i _cl � l1(: ':l_ __�-�Et1.à(_ q� ___ �-�-t�-������}?_� �� · do
. pe _ _ _i _ _ - _ _ _ _ e _ _
/l pro�-�-�-�? _ 9�----��p_E9dução das estruturas sociais corresp?§cfen­
f_ refJ Certo, o conhecimento da matriz institucional que de-
termina as rel ações internas de produção é a chave para
compreender a forma de apropriação do excedente adicional
gerado pelo comércio exterior; contudo ) a forma de utili­
zação desse excedente, a qual condiciona a reprodução da

80
}formação social, reflete em grande medida o processo de
/ dominação cultural que se manifesta ao nível das relações
(, externas de circulação.
Chamaremos de 1)Zodernização a esse pr()��J?.Q_de aq9_çio
de padrões de consumo sofisticados (priv�dos e públicos)
Setn:_�:-_S_orrespondente processo de acumul_aç�_? __ -.C:ª?rfaJ e a�. . _
pt;greSs�Üs- métodos produtivos. QuaiiiO _ màfa amplo o
-
"fifü)____SO-
{J!Q1p? do processó-cte~·niOdetiílZàÇ-ã◊----(ê..."iSSo" __ i"ric:1üi
mente as formas de consumo ·cfoTs:···m·as�Dimbé'ffl as militareS)
•m.. r -
a-s···l!ii:ensa tende --�ns:er-a--pressão·---no-senttdo•-âe•··�-üiipl:i"ar-·o
excedente, o _que __pod_e__ ser alcancado mediante expansaó·--aas
ex.e_ort_�ç_ õe� _,__ -_Õ�-_i,?r_ I?_e io �-� .ª.lJil1ent_ ? __ 9a "taxa de explora-·-
-io ,,-- _ -
và"i�- dlZer-· aa proporÇãó" '"dü -- exéédente no rqª:µ'to __
iíqllido. Visto o prOblema e outro ângulo: p◊-Stó··que·--·à··p"i.:es­
São no sentido de adotar novos padrões de consumo se
mantém alta - ela está condicionada pelo avanço da técnica
e da acumulação, e a correspondente diversificação do con­
sumo, que se estão operando nos países cêntricos -, as
relações internas de produção tendem a assumir a forma que
permite maximizar o excedente. Daí que apareçam crescent�
p3..essões, ao nível da balaga_de__p.agam.entos, quando o país
atinge o ponto de rendimento decrescente na '·'agricultura tra­
dicional de exportação e/ou enfrenta deterioração nos termos
do intercâmbio.
A importância do processo de modernização, na mode­
lação das economias subdesenvolvidas, só vem à luz plena­
mente em fase mais avançada quando os respectivos países
embarcam no processo de industrialização; mais precisamen­
te, quando se empenham em produzir para o mercado interno
aquilo que vinham importando. �Y!LI_P_�_Í.�-�L}?.:9§.�_!tias,,_qu_e
.se instalam _nos país..e.s subdesenvolvidos concorrem com �
_ produção artesanal e se destinam a prodm;_ir _._hens___simp.les
destinados à massa da população. Essas indústrias quase não
possuem vínculos entre elas mesm;s, razao pela quar�rião
chegam a construir o-·nu-c1e·o--ae·"i:im_g�-�����X�9: - �·syfiat�
fase mais avançada, quando se objetiva produzir uma__(:?::11�.�
t_el_ açã.o de b��S-Consg_midos pelos gruJ?Os ...�_ociais m_<2_��l:DiZa -
-

81
dos, que o problema se coloca. Com efeito: a tecnologia ln­
C<?!P-ºraçhl_ªg--�·-equipamef}_ t_o s i_!1:]_p_Q_rtad9.�_gª9 - ?� r_ el_ ;1�ic,_na corri
_Õ nível de __.?.í;ÚFQ�_I_§:Ç��·-:4�_:_�iPlt�Lª1s:§ _ çado·__p�1) .l?_if�----�- .sim
_ n
com o perfil da demanda ( o graude diyexsiticaç1o elo con­
i1,.1..m�.::Set�l'=-trff>de:r:ni. :z:ãÉfé=cii.::;êcX;Jade-. Dessa orientacão
do progresso técnico, e da conseqüente falta de cone;ão
entre �te e o grau de acumulação previamente alcançado, ·
resulta
l
__���c1hc1dad_� _ d _? ----�-ub?escnv_olvimento na _fase cte·
Pena indu_g_rl§.ITiàÇilO-: AO ímf)Of a adoção de métodos pro­
dütivos com alta deOS!dade de capital, a referida orientação
cria as condições para que os salários reais se mantenham
próximos ao nível de subsistência, ou seja, para que a taxa
de exploração aumente com a produtividade do trabalho.
O comportamento dos grupos que se apropriam do
excedente, condicionado que é pela situação de dependência
cultural em que se encontram, tende a agravar as desigual­
dades sociais, em função do avanço na acumulação. Assim, a
reprodução das formas sociais, que identificamos coITl�
desenvolv1mento:·_ ~·e·st�r 11ga<[a�-��-·�_l -:_--f?�.f!l�S__ ª�-�--�().�Ú?.?_r t_��-�-!1t_ ?
-
condicionaçl<,u:,ela dependêní:i< . Abordemos o prnblema de
outro ângulo: nas economias subdesenvolvidas, o fator bá­
sico que governa a distribuição da renda, e, portanto, os
preços relativos e a taxa de salário real no setor em que se
realiza a acumulação e penetra a técnica moderna, parece
ser a pressão gerada pelo processo de modernização, isto é,
pelo esforço que realizam os grupos que se apropriam do
excedente para reproduzir as formas de consumo, em perma­
nente mutação, dos países cêntricos. Essa pressão dá origem·
à rápida diversificação do consumo e determina a orientação
da tecnologia adotada. Ela, mais do que a existência de uma
oferta elástica de mão-de-obra, determina o diferencial entre
o salário industrial e o salário no setor de subsistência.
Certo, o grau de organização dos distintos setores da classe
trabalhadora constitui fator importante e responde pelas dis­
paridades setoriais desse diferencial. Em síntese: dado o
nível de organização dos distintos setores da classe traba­
lhadora, a dimensão relativa do excedente apropriado pelos

82
grupos privilegiados reflete a pressão gerada pelo processo
de modernização.
A industrializ
e _ �o de u?; p_aís perif_é__ri_ c()___ te_11_de: _a _ tomar

_JU.Qrma d manufãtúrã- loca1 daqueles bins d� -����!:1!T1q ___q1:-1_�
eram previamente importados, como é bem sabido de todos
os estudiosos do chamado p�_ {)C:(:'.SSO _Qe _s_ubstitllíÇ�ro·~ae·-1m­
f?Ortações. Ora, a composição de uma cesta de bens de con­
sumo determina, dentro de limites estreitos, os métodos
produtivos a serem adotados, e, em última instância, a in­
tensids.de relativa do capital e do trabalho utilizados no sis­
tema de produção. Assim, se é a produção de bens de uso
popular que aumenta, recursos relativamente mais abundan­
tes (terra, trabalho não-especialízado) tendem a ser mais
utilizados e recursos relativamente escassos ( trabalho espe­
cializado, divisas estrangeiras, capital) menos utilizados do
que seria o caso se fosse a produção de bens altamente so­
fisticados, consumidos pelos grupos ricos, a que aumentasse.
Expandir o consumo dos ricos ___ e _i_s_to __ ta11:ib�rn ___é___verdade
para· os países cêntricos - de �;;�j�-ã ·iéf;i ·~;ig�-ifica Íntro­
cf�Zir novos procturos···iíá""Cesta de·"bériS de· consumo, o que
r�üe":r"--·aedICàr relarivailiente mais recursos a "pesquisa e
deS"en_\;olvJD,1._ento", ao passo ... que aumenta_r o "·consumo das
mJ!§sas__ �!g!J_i.fiça____ci_íf�ri_Q_ii:-__ _o uso de produtos já conhecidos,
�ç-�j_ª_ produção muito provavelmente está na fase de rendi-
mentos cres_centes. Existe uma estrej_ta_ _ ...c::or_r_elação _ __entre o
8_rau de diversificação de uma cesta de_ b�ns de consumo, de
um Iàdü, 1:·:9J}i�:êlâa _ d0tàÇ'ão dé cãpTt-;:i -por--pessoa- empre­
-g�da_ ·e ?_:_ç_o:!I}ple,x_ic;lade da tecnologia, de outro. Mais alto o
nível da renda per capita de um país, mais diversificada a
cesta de bens de consumo a que tem acesso o cidadão médio
desse país, e mais elevada a quantidade de capital por tra­
balhador no mesmo. A hipótese implícita no que dissemos
anteriormente significa que as mesmas correlações existem
com respeito a setores de uma sociedade com diferentes ní­
veis de renda.
O processo de transplantação de padrões de consumo,
a que deu origem o sistema de divisão internacional do trn-

83
-
balho imposto pelos países que lideram a revolução indus­
trial, modelou subsistemas econômicos em que o progresso
técnico foi inicialmente assimilado ao nível da demanda
de bens de consumo, isto é, mediante a absorção de um
.luxo de novos produtos que eram importados antes de
serem localmente produzidos. A dependência, que é a si­
tuação particular dos países cujos padrões deconsumo foriffi""
-
inodelados do exterior, pOOe -éxfaiír mesmo na ausência de
í�vestimentos éstrãiigeitós-·díretOs. - COm éfe:íto: esre"-úFl:imo
-
tipo de· inveSúffielltõ -TOl fât◊-- ◊U inexistiu durante toda a
primeira fase de expansão do sistema capitalista. O que im­
porta não é o controle do sist.ema-de prodnção �local _p_or
grupos estrangeiros e sim a utilizacão dad.uq_Qe_lli_J2art�_Qp
excedente que circula pelo comércio int.crna.cional Na fa_s e_
de industrialização, o controle da produção por firmas es­
trangeiras, conforme veremos, fac1ilta e ag_2fu�aa:-_a···aer,en­
dêncía, mas.......uão constitui a caus�_Q_�termi.n?.DJ�----.d�s,t_i;L_ A
propriedade pública dos bens de produção tampouco seria
s11ficiente p�a erradicar o fenômef:,?___9a dependência, -��---- ?
país em guest"a◊-'"Sema1'fféiU'€ffiPÕsição _de satélite cultural
_dos países cêntricos do sistema __ capitalist?__, e _ �e_ enc_- Cmtra
_11uma fase de ;cumulação de capital muito i-�i�;i·;;·I·-·a1can-
- --- .. ·
çadaJX)!'--e·stes- ·u1timos·:-····----
Pode-se ir ainda··-lnais longe e formular a hipótese de
que· um tipo semelhante de colonização culturalvem-ik§.�_tp_­
penhando importante papel na transformaçao da natureza
das relações de classe nos países capitalistas cêntricos. A
idéia, formulada por Marx, segundo a qual um processo
crescentemente agudo de luta de classes, no quadro da eco­
nomia capitalista, operaria como fator decisivo na criação de
uma nova sociedade, essa idéia para ser válida requer, como
condição sine qua non� que as classes pertinentes estejam
em condições de gerar visões independentes do mundo. Em
outras palavras: a existência de uma ideologia dominante
{que, segundo Marx, seria a ideologia da classe dominante em
ascensão) não deveria significar a perda total de autonomia
cultural pelas outras classes, ou seja, a colonização ideológica

84
destas. Marx, no seu 18 Brumário, quando atribui papel
importante aos paysans parcellaires - nos quais se teria
apoiado Luís Bonaparte -, afirma claramente que eles não
haviam tomado consciência de si mesmos como classe; con­
tudo, constituíam uma classe, no sentido de que podiam
servir de fator decisivo nas lutas pelo poder, porque "opu­
nham o seu gênero de vida, os seus interesses e sua cultura e'\
aos das outras classes sociais" ._J:rt4e as condições objetivas J
ara a existência de uma classe, portanto, estaria a sua auto- \
nomia cultura . ra s aíses ca italistas cêntricos, essa
� · cultura efere à c as.��,
foi consideravelmente erodida O acesso da massa trabalha­
dora a formas de consumo antes privativas das classes que
se apropriam do excedente criou para aquela um horizonte
de expectativas que condicionaria o seu comportamento no
sentido de ver, na confrontação de classes, mais do que um
antagonismo irredutível, uma série de operações táticas em
que os interesses comuns não devem ser perdidos de vista.
Nos países periféricos, o processo de colonização cultiJ:--­
ral radica originalmente na ação convergente das classes di­
rigentes locais, interessadas em manter uma e,levada taxa
de exploração, e dos grupos que, a partir do cenl!"o do siste­
ma, controlam a economia internacional e cujo principal in­
teresse é criar e ampliar mercados para o fluxo de novos
produtos engendrados pela revolução industrial. Uma vez
estabelecida esta conexão, estava aberto o caminho para a
introdução de todas as formas de "intercâmbio desigual",
que historicamente caracterizam as relações entre o centro
e a periferia do sistema capitalista. Mas isolar -�-�S?_S __formas
de intercâmbío _ {2_1_,.1_.Jratá-las-como __.uma_ const=qüência _<:{o__ p2:o­
C�$_s9. de --�cumulação, sem _ te_r __ eIT.} � ?nt_ a a forma como_ o ex­
-
cedente é utílizaclo na__p�_ilf�_iãSo_�_9_L,;pp_�_ct9__ 9g___�91()�t��SI9 .,.J
c;:,rti-1ral, édeixacde:Jâdo aspectos essenciais do problema.
----- Ê interessante obser�ar que o processo de colonização
cultural teve lugar mesmo em regiões em que condições par­
ticulares permitiram que os salários locais subissem consi­
deravelmente, ou se fixassem a níveis similares aos dos países

85
cêntricos. Foi esta il situação dos grandes espaços vazios das
zonas remperadas, que se povoaram princ:pahnente com imi­
gração de origem européia em fins do século passado. A
produção agropecuária para a exportação deséttvolveu�se,
nessas regiões, em concorrência con1 produção similar de
países cênrrkos, então empenhados no processo de industria­
lização. A abundância e 2: qualidade dos recursos naturais
permitiram que se criasse um substancial excedente por
pessoa empregada 1 mesmo que a ta:xa de salário tivesse que
ser suficientemente elevada para atraü imigrantes das regiões
menos prósperas da Europa. A forma de apropriação interna
desse excedente e o r::úmero relativo da minoria privilegíadá
variaram conforme as condições histórkas prevalecentes em
cada área. Conrndo 1 na medida em que esse excedente fol
utilizado para financiar a adoção de formas de consumo
engendradas pela industrialização no exterior, ocorreu um
processo de modernização similar ao que antes descrevemos,
A situ2ção de dependêm:Jn existe, nestes casos, na ausência
das formas so<:iaís que estamos habituados á ligar ao subde­
senvolvimento, Ela radica fundamentalmente na persistente
disparidade entre o nível do cons::mo (indusive, eventual­
mente > parte do consumo da classe trabalhadora) e a acumu�
lação de capital no aparelho produtivo _, porquanto a eleva­
ção de produtividade, que dá origem ao excedente, resulta
da utilização e>.:.:ensiva de rec::rsos naturais no quadro de
vantagens comparativas intern<,cionais, A abundância de re­
cursos minerais e de fontes de energia 1 entre outros fatores,
permitiu que econon:iias desse tipo tivessem uma precoce
industrialização, ainda que essenciálmente sob o controle de
firmas estrangeiras, É este o caso do Canadá, cuja economia
integta o centro do sistema capítaHsta, não obstante a exrre­
ma debilidade dos centros internos de decisão. Na Argentina,
condições hístóricas distintas fizeram gue o processo de in­
dustrialização se atrasasse e assumisse a forma de "substi"
tuição\ isto é, de resposta à críse do setor exportador. Em
razão do declfo.io da produtividade, causado pela crise do
setor exportador ) o esforço de capitalização requerido pela

86
industrialização teve que ser considerável. A experiência tem
demonstrado que as economias que se encontram nessa si­
tuaç.ão tendem a :alternar sérias crises de balança de paga­
mentos com períodos de relativa. estagnação. Como a pressàQ\
no sentido de acompanhar a r�ção dns�es._d;;
�mo no cenfüI s1:t:,uanI@�"�1.trge�n.dência à �n-
centração da reQ,Q!_s_gJn-.1:efle�'"-gas -C:S.trlE!-1�-�_s,cjg�_as ,1
quais tendem a assemelhar-se à5 dosJ?-�js_�s tipicamente sub-
disenvoI�. . onto põe,.em
·e�idêiidâ-élue o fenômeno j,f:-
que: chamamos dependência é rn:;us gera o q�� e- ;
sênvofvimento. Toda PÇQ□omia subdesen_volvida é necessaria� 1
ffi�ç!�penÇ,ente_,.JJ�}����n\;o1vimento é �o
da situacao··ae deµe�d�nçia. lvlas nem sempre a dependência L
criou as formações sÜêiais sem as quais é difkrí caracterizar,
���.
subdes�Qfil!LSL de_�Qb:,ÜJJ�tt��nte '.
c�_b,:cl,"no._q.uadr0__d-ª-d��d_�. 1'-fas o mesmo não [
se pode dizer do processo inverso, se a IléCêSSidade de acom- ·
panbaf_.. os padrões de corisumo d-os paises cêntricos se ana­
aUüiãcreSceme alierrnção _4� _ pa_rt�-- _(19: exç�_de_nte_ etn ffiáOs
de -�r_upos _ext�'rfl�_-- �?�.t�rOI�d��e-� do __- a_Éa-relhO_ µrOd;::;:�_h;o,
O fenômeno da - dCpCriGfênêia "S�nlã"nltêStã: fDiciaiffiem�'
--•-<-

sob a forma de imposição exter::J.e de padrões de consumo


que somente podem ser mrmtidos mediante a geração de
um excedente criado no comércio exterior. Ê a 1·.ápída diver�
sifícação desse setor do consumo que transforma a depen�
dência em algo dificílrnenre reversiveL Quando a industria­
flização pretende substituir esses_ bens i�porta<l,_os, -0ayarelbO
j produtivo tende a d_ivíCfif:seem ·ao!s :... um __ segrn_en_to J:tga_ do

c_f �e:�:1!·r��r;;;ªt����r:s� i
�;b:���",'e �u::���;t���íd:u
/ irü:iu"Strias ·dé elevada densidflde de capital, produzindo paril
p�� .·

' a l_:l_i,�?-��a · _D:?24�-�-.�}?!?�ª:'" Os economistas que observaram as


economias subdesenvolvidas sob a forma de sistemas fecha­
dos viram nessa descontinuidade do aparelho produtivo a
manifestação de um « desequH.íbr!o ao nfvel dos fatores�) )
provocado pela existência de coeficientes fixos nas funções

87
de produção, ou seja, pelo fato de que a tecnologia que
estava sendo absorvida era "inadequada"_ Pretende-se, assim,
ignorar o fato de que os bens que estão sendo consumidos
não podem ser produzidos senão com essa tecnologia, e que
às classes dirigentes que assimilaram as formas de consumo
dos países cêntricos não se apresenta o problema de optar
entre essa constelação de bens e uma outra qualquer. Na
medida em que os padrões de consumo das classes que se
apropriam do excedente devam acompanhar a rápida evo­
lução nas formas de vida, que está ocorrendo no centro do
sistema, qualquer tentativa visando a "adaptar" a tecno­
logia será de escassa significação.
Em síntese; miniaturizar, em um país periférico, o sis­
/f-tema industrial dos países cêntrícos contemporâneos, onde
f a acumulação de capital alcançou níveis muito mais altos,
significa introduzir no aparelho produtivo uma profunda
descontinuidade causada pela coexistência de dois oívd s
---tecnológicos. Este problema não estava presente na fase ante­
rior à '' substítuição de importações", simplesmente porque
a diversificação do consumo da minoria modernizada podia
ser financiada com o excedente gerado pelas vantagens com­
parativas do comércio exterior. Na fase de industrialização
·tutiva, a extrema dis aridade entre os mve1s e o grau
�_:.-- sf_e__ ·versifica ão do consumo da minoria modernizada e da
massa da popnlaçã◊- deverá incor orar- a o apa­
·relho produtivo._ hamado "<lese uilíbrio ao
_nível das fatores" deve ser considerado como inerente à eco­
nomia subdesenvolvida que se industrializa. Ademais, se se
tem em conta que a situação de dependência está sendo per­
manentemente reforçada, mediante a introdução de novos-­
produtos (cuja produção requer o uso de técnicas cada vez
mais sofisticadas e dotações crescentes de capital), torna-se
evidente que o av recesso de industriali�
pende de aumento da taxa de ex oração, isto é, de uma
crescente concentração da renda. Em tais con 1çoes, o cres­
cimento econômi 1-
�dade das classes que se apropriam

88
í'
\ a ma10na da população a aceitar crescentes desigualdades
L.socia1s.
\...--- A industrialização, nas condições de dependência, de
uma economia periférica requer intensa absorção de pro­
gresso técnico sob a forma de novos produtos e das técnicas
requeridas para produzi-los. E na medida em que avança essa
industrialização, o progress"'o técnico deixa de ser o problema
de adquirir no estrangeiro este ou aquele equipamento e
passa a ser uma questão de ter ou não acesso ao fluxo de
@ovação que está brotando nas economias do centro. Quan­
to mais se avança nesse processo maiores são as facilidades
que encontram as grandes empresas dos países cêntricos para
substituir, na periferia, mediante a criação de subsidiárias,
as empresas locais que hajam iniciado o processo de indus­
trialização. Caberia mesmo indagar se a demanda altamente
diversificada dos..gtlJRQ§_ modernizados seria jamais sati_§_feita,
com produção local, caso o fluxo de inovações técnicas de­
·:vesse ser pago a preçósd:emercado. Esse fluxo é criad-; ou
:controlado por êmpresas ue consideram ser muitii��ffi� S,_
vantajoso expan ir-se em escala internacional do_gi,ealienar
"es5ê-êxlfifórâínano 111 s�-��-��:�t_():_-:_a_ejJo-cfet. Tratar-se-ia não
··somente de entregar O ·coni.roíe- das inovações .,de uso ime­
diato, mas também de assegurar uma opção sobre as futuras.
Ademais, o preço da tecnologia teria que ser elevado, para
a empresa local que se limitasse a adquiri-la no mercado, ao
passo que, para a grande empresa que a controla e vem
utilizando no centro, essa tecnologia está praticamente amor­
tizada. A este fato se deve que a grande empresa possa, mais
facilmente, contornar os obstáculos de pequenez de mercado,
· falta de economias externas e outros que caracterizam as
economias periféricas. Assim, a cooperação das grandes em­
presas de atuação internacional passou a ser solicitada pelos
países periféricos, como a forma mais fácil de contornar os
obstáculos que se apresentam a uma industrialização retar­
dada que pretende colocar-se em nível técnico similar ao que
prevalece atualmente nos países cêntricos.
O dito no parágrafo anterior evidencia que, à medida

89
-
�JJ_q.ne avança �Q. nrocesso de industrialização na periferia,
� fo
mais estreito _ tende - a_ __�_e_r o- controle 9_() -- par,ef :, _ _pt(}êit1fivo,
-
ãf''t�_Ç�TI?iQ9;.'.jj_Qj�_ __"_"gr�p Qi_�_ êS_frài1g�·i_r·Õ_s: -E�- �Õ�seq-üêl1cia 2 1

�ên��-�ntes imit_a.Ç,_ã_Q __ 5}t.,..Pf!drQe_s____ex:ternos __ele,_ cqn_sq-


mo m_e?I�rtte _a__ _i_t1:portação de b _ ens, __ 3:gora se __e_nrafza_ np
sJSJeri}ª_ p_ip�-�ti_yq_ g:;_J1�_sµrne___à- f()rma 4_e J��o_grrup_t)Ç�p pelas
sllbs(c;iü!l:iª_::L.da_s..grn_r1d�?- __e_rp pres�_§ .. d9§. PR9J_Q5;_s•.de___consumo
á- -S�fem adqta{jos.__ Contudo, �e controle direto por �llJ??_s
-��trangeiros, do sistema. prodctiv.o dos países perif6:ic:os,
não .h.OJlS..t.11Q.!_ um resultado necessário na evolução da de��t:
�a. É perfeitamente possível que uma burguesia local
de relativa ímportãncia e/ ou uma burocracia estatal forte
partícipem do controle do aparelho produtivo e mesmo man­
tenham uma posição dominante nesse controle. Em alguns
casos essa predominânda de grupos locaJs pode ser essenciul
ã fim de assegurar o rígido controle social requerido para
fazer face a tensões originadas pela cresceu te desigualdade
· social. Ç�<!�tmkJ.292L ao nível da erod�ção 1 não
significa necessariamente menos dependência, ..se.. o.. ,,s.i.st�."
!)retende continuar a �!e_ro�yzír O:LR�drões. de _c�����o q��·­
w . estão sendo permanentemente criados no centro. Ora, a ex-
,r períência: teill demonstrado que os grupos JOCà-1s {pnvados­
oUpill)hcos J qm�part1c1pam aa-ãprõj'iirnçao ...do. exceâême; ..
n�.5.E::��:;:-9�_51.�P��<:!��c.ia, d��ic_ilin�nte_ ts� ,,aJ��-��- !11--.9�_-YiS.�_o
do deSellvolvimento cofr�O -···-·-----�----• ,erõCésSÕ- iTi- ITlético . �·e padrões
-···•--- · - ~-·
� �g - ···-··-
1Ç Tmport 2§�
Os processos históricos são; evidentemente, muito mais
complexos do gue podem sugerir os esquemas teóricos. Sem
lugar a: dúv'ida, as primeiras indústrias a. desenvolver�se nos
países subdesenvolvidos foram as que produzem artigos de
amplo consumo (alimentos, tecidos 1 confecções, objetos de
couro), tanto em razão de sua relativa simplicidade técnica
como pela pré-existência de um mercado relativamente am­
plo abasteddo parcialmente pelo artesanato. Ocorre, entre­
tanto 1 que, se a taxa de salário nermanece próxima às
�ondições de vida p::evalecentes na agricultura de subsist�E:
eia, a implantação desse tipo de indústrj!!___!:!�f\,,Cheg� ..�- 1119,cJi_-
---------··--·-,,·--···-·
90
; ficar de forma significativa a estrutura de uma economia
\�Senvolv1da. I�o:que competem com o artesanato e pa�
/g�10s naO mutrn .�.�P..::.E�?!:�2 ..à r�n4,�___ç:1_2,S,__.@:�tesaos ) essa-s
;
f it1dt:i?-!��iª.�- __p��f-2. __contribi.;elTl__ P?!_ã m::npl_i_�t~?-..!1��tCf!-dô - f- oter-,·

-��J�i�.?-�_-__
· no; _e__ _ porque __têm nou_cos __vú1cU_l_O;> com ()_u_rras_ .a.d�_i_;j:ides
{�d-��trlafs·: - �i�a;e:_;i��--cr)i�:;ç_�!}g"ffi\;_s __ f;:?S� si�ua-
ção particular se traduz na curva tfpic� de crescimento
t1p·o_ -d�_- íiiltfüfl�:::::JlR1d'o.. ..c.resCimelltõ--fr;icial - e .:téndêridi?. ·;.o
nivelamento.
É durante ���cão de jmportacões'; t_._<;1
q_u:al se iíga às tensões da balança de nagame:1.tos, que tem
início a formação de_ um sistema industriaL i\'fas, peJo fato
de oue o consumo dá miD-0�-i-ü-�iTIOdé'iiiíZO:d.a é altamente dl­
versÍfic2do, as :indústrias que formam esse sistema ::endem
a enfrentar problemas de deseconomias de escala, que ) se
8.0 nível da empresa podem encontrar soluçãqpar<::íat__na
ffeoteção e nos �t::bsidms_..ao--Di4çl_§.Q�Ü,Ü __*�-g:_ _ ªd.11.zt:m� e_p1
elevados custos, Já fizemos referênda ao fato de que essa
SíiiiãCãõWore·ce----ü---pe11étração das grandes e:r.1presas com
sede nos oaíSés ___Çêijfr1Cos. o que�voi:__5_1.;µlado _ c_or:;nibUTJ,)'ai�
�f�y�t p_s_"_cus.tos..de ..operação,.do___ sj_sJr;m_{l__ h1dust_rial _err. termos
Qg__.9,i ;; !,��--���-�_t_��[lg_ç_!I.@.?:
. .. Esse quadro, que em alguns países
latino�amerkanos se apresentou sob a forma de redução nas
taxas de cresdmento ) de forres crises de balança de paga­
mentos e/ou ;:-ápido endividamento externo , J�m ....
. sido des..
crito. particularmente em oublicacões das Nações Unidas_,
�Qmo o resultado ds ,; erGPJ&tao ' da processo de "substitui•
1

çªo de importações". Mas, por detrás desses sintom;as, não


é dífícil perceber uma causá mais profunda: ajncompatibiE­
da --
roieto de desenvolvimento dOs ruDOS"--airi-
ge�tes: ·\;JS2Jido a --·re· ·tôdú±íf- .. �
ç_,q'p_�11mfLdgs países cél)Jriç:95 acumulacãq de__
-:_e_p•�at__a.I_cancadQ____ p_�lo pafs'._ Contornar esse obstáculo tem
sido a grande preoc:.ipação, no correr do último decênio 1 dcs
países subdesenvolvidos em mais avançado estágio de indus­
tria1ização. Posto que a pequenez relativa dos mercados
locais surgia como o fator negativo mais visíveC concebe-

91
ram-se esquemas de integração sub-regional sob a forma de
zonas de livre comércio, uniões aduaneiras, etc. Tais esque­
mas permitiram, em alguns casos, dar maior alcance ao
processo de "substituição de importações", mas em nada
modificaram os dados fundamentais do problema, que têm
as suas raízes na situação de dependência anteriormente
descrita. 1
O crescente controle externo dos sistemas de produção
dos países periféricos abre para estes últimos nova fase
evolutiva. Assim, o aumento dos custo_� _eIU __divísas__estran­
geiras da produção ngaa·a··-ao ·ptôptló·--�erc- ado inte;��---Ctia
_· fe·i"=i Sõ"es idicionais nas balanças de pagamentos dos respectivos
,Pàíses, as quais levam, em alguns casos, ao bloqueio_ do pro­
cêsso 'de industrialização, ou criam condições que favorecem
a busca de soluções alternativas através de "correções" com­
pensatórias. À extraordinária flexibilidade das grandes em­
presas de atuação internacional deve-se que tais problemas
venham encontrando solução com um mínimo de modifica:
ções nas estruturas sociais tradicionais. Com efeito: graças
às transações internas que realizam as grandes empresas no
plano internacional, os países periféricos se vão capacitando
para pagar com mão-de-obra barata os seus crescentes custos

r- 1 O problema de como industrialízar, beneficiando-se da técnica mo­


derna, um país em que a acumulação de capital se encontra em nível
relativamente baixo pode ter várias soluções, todas elas ligadas a um
certo sistema de valores. U.é.s_s,oluções principais (pw;ad têm sido
tentadas no correr dos últimos anos. A....12..V.meira consiste em aumentar
a taxa de explorqç_q__g____(j_!!Jpedir_q_ue a mq5.s_q_§qlarial_ cresça paral�la_mente
Cf.9-['Wduto líquido) de forma coniugada..._co11i-Uüiã1iil___e.JJ-.S.rfiê_qção do
consumo que se financia wm parte do excedente; a tJQtühilidade de
maioret economirzs d.fJ-..escaia...Cpax_t_i_e,u].azm.eJU.!;._.JJjij'7iidústrias produ_(oras
de bens duráveis de consumo) el}_Kt;_t!_tf,_ya UJ(la maior taxa !f-_1Ll.. !1P:o, o
' que por seu lado estimula a entrada de recursos _externos. A segunda
solução consiste em orientar o sistema industrial ara os meiêãâ!:_r:ex�
1!!.ULQL, no quadro de novo sistema de divisão internacionqL..PJt:abalho
s2_b a l7âii-(fãS7,ãiiâes empresas transnacionais. A terceira consiste
em recondicionar progressivamente os pa rões e consumo de forma..a
torná-l�_patt1!___�Ü.. _co__m__O, __esf�rÇode acu_�1!.!_asP;g__4_Cf_s,eJi�tinieí­
wJ.óx_mula corresponde 'ao chdmado módelo brasileiro, a segunda ao
chama do mqff-._�_g__Jjg
_ �o1!g__ 1;_ a_je_rc:_ _ e.z,l'.á__ao.. i15.am.aâ.o. nJ._Ol_(Jl_à: ·chznes.

92
de produção em moeda estrangeira._ As,..IJQ:s@.s formas de
. �conomia subdesenvolvida, que crescem à base de ex orta­
ções de··-tra ·n a redutos industriais
manufaturados por empresas f'Sttangeiras e destinados a mer­
cados externos apenas começam a definir o seu perfil. Mas,
1 se se tem em conta ue a propor ão do excedente_ ·
\ -· o extei-10r e considerável nodo indica aue a taxa de explo­
jração tenda a d€:CHilaú)�:ffi ô{iúas·· p·alàvras: se as condições
geriis Jigádí35-- à- situação- de dependência persIStem nada su­
gere que a industrialização orientada para o exterior contri­
bua para reduzir a taxa de exploracão, tanto mais que.., a
própria razão de ser desse tipo de industrialização na peri­
feriãe a existência de trabalho barato.
Podemos agora tentar destacar o que dá permanência
ao subdesenvolvimento, ou seja, como a estrutura que per­
mite identificá-lo reproduziu-se no tempo. A d1v1sao mter­
nacion_a,1 __i:Í.Q _tr_fibalho, imposta pelos países que lideraram·· a
·ReVOI1ção Industrial, deu origem a um excedente, o qual
permitiu às classes dirigentes de outros países (periféricos
ao sistema) - nos quais não havia industrialização - ter
..?cesso a padrões diversificados de consumo engendrados pelo
intenso progresso técnico e acumulação de capital ço_ncen­
;rados no centro do sistema. Em conseqüência, os países
--· periféricos puderam elevar a taxa de exploração sem que
houvesse redução na taxa de salário real e independentemente
da assimilação de novas técnicas produtivas. Desta forma,
surgiu nos países periféricos um..2..e_rfil de demanda caracte­
rizado por marcada descontinuidade�-·pãr-rfr·- -do--··momento
êin ·qüe··o setór exportador entrou na fase de rendimentos
decrescentes, a industrialização orientou-se para a (( substi­
tuição de impoÍ-tação". Devendo miniaturizar sistemas indus�
triais em um processo muito mais avançado de acumulação
e devendo acompanhar a rápida diversificação da panópfia
de bens de consumo dos países de mais alto nível de renda,
o.s países periféricos foram levados a ter que aumentar a
taxa de exploração, ou seía, a concentrar cada vez mais a
renda. Por outro lado, o custo crescente da tecnologia, con-

93
juntamente: com a 2.celeração do progresso técnico 1 facilitou
ã- pel1etração das grandes- empresas de ação internacionàl---o
que intensificou ainda mais a difusão dos novos padrões-de
consumo surgidos no centro do sistema e levou a DJ(tfo_r
estreitamento dos vínculos de dependência.
Os pontos essenciais do processo são os seguintes: a
matriz institudonal pr<::existeme, orienrn.da p.;ira a concen�
tração da riq11.eza e da renda; as co:1.dições históricas ligaàas
à emergência do sistema de divisão internacional do trabalho,
as quais estimularam o comércio cm função dos .interesses
das economias que lideravam a Revolução Industrial; o au�
mento da taxa de exploração nos países periféricos e o �so
do excedente íldícionai pelos gt'1pos dirigentes locais, do que
resultou a ruptt:ra t1s1ltural que se manifesta .através do pro­
cesso de modernização; _§., ..orientaç;tlo do proc:esso de ind:q_;;­
trialização em funcão dos interesses da minoria modernizada,
que criou condições para que a taxà de salário real per_lüa­
necesse pr��.ubsistêng�; o custo crescente da
tecnologia requerida para acompanhar, mediante produção
local, os padrões de consumo dos países céntri:::tJS; o que por
seu lado facilitou a penetração das g:andes empresas de ação
internacional; a necessidade de fazer face aos custos cres­
centes em moeda estrangeira da produção destinada ao mer­
cado interno > abrindo o caminho a exportação de mão-de-obra
barata sob o disfarce de produtos manufaturados,
O subdese:1Volvimento tem suas raízes numa conexão
recÍ�·a sur ida--;;m certas condições histórícas > entre�
cesso interno de exploração e o processo externo de epen­
dência. Quanto mais intenso o influxo de novos padrões de
con;mmo mais concentraàa terá que ser a renda. Portanto )
,se aumenta a dependência externa:, também terá que auü-i:'en­
tar a taxa interna de exploração. rvíais ainda: a elevaçao êta
taxa de crescimento tende a acarretar agravaç.ão tanto da
dependência externa como da exploração interna, Assim 1
tro:as mais altas de crescimento, Ionae de reduzir o subde­
senvolvimento. tendem a .agravá:.10 1 no semido de que ten­
dem a aumentar as desigua_ldades soc1a1s.

94
Em conclusão: o subàesenvolvimento deve ser enten­
_dído como um professo, vale dizet, COnlO mrr-ronftiõto"·-de:
fõtÇ�se·m--l�jef-iÇãcr-f-·drp:;rzesdê reproduzir-se no tempÔ. i
Pót-·Seu intetrr:.édlo, o capitalismo rem conseguido difun­
air:se·em amplas áreas do mur1do sem"'compromet_er ··ru;-ê�S-��-lJ·

'I
TÜfas sociais preexistentes nÚsas área$-. O se-u p2pel -na
construção do t.�resen·te s1sterr:i·~cap1talíh:T::i· üfüüúiâl -_!ein -Sido

ª-��
fifru:rameJ;:tn.L.e_�s�.. d.m?inTsmO- "c"õritTDüa- conSide�:ivel: novas
f◊�-�;; de _eco_�_()toi_as__ s��ªe;en�:?1�1&1·s_· p1enamen_te_ ·irQ:-1stria-
1IZadas �;ou:· Orfe�tâ_d8:S__ "P�ra - à_ e�P.9t�?:).�Q___ !?-�_11:_ufa_t1:1ras
�St_ã�___apenaS :emergiti?o.J�j(lesn{o possível que ele s·êjf1 ine�
re"n"te :ao·· SiStEinã "cãpi'ta1ísta; isto ê/ que nao possa haver
-� c;_pitahsmo sem as relações ass1métricas entre subsístemâs
,,_
economKos e as formas de exploração social que estão na
! bãse do subdesenvolvtmento. Mas não temos a pretensin]:e
pÕcterckmonstrar esta última hipótese.
1-.. --.�,-----·-·~-,-

95
CAPfTULO III

O modelo brasileiro de subdesenvolvimento

Desenvolvimento e modernização

A economia brasileira constitui exemplo interessante


de quanto um país pode avançar no processo de industria­
lização sem abandonar suas principais características de sub­
desenvolvimento: grand_ e �}.spariÇ_aª _ �---ng__p_r_qQµt_iyi_Qa(le _ e_ptre
as áreas _ rurais e urbanas, um�--grande maioria da populaç_ão
�iveriª?__e_m um níveJ"de···s"ubsístêncía fÍsio1ógica,_ __r_nassas cres-
�en_t_es_ _4e ---p�s_scias_ ____sub<=:mR.n�gad_a_s,____ri_á:S�-�-:;a;.Qp._?S--_�r_ banas, etc.
, Foi assim refutada a tese implícita nos modelos de cresci­
mento do gênero introduzido por Lewis � de que canaliza­
ção do excedente de uma economia subdesenvolvida para
o setor industrial (as atividades que absorvem progresso
técnico) criaria finalmente um sistema econômico de homo­
geneidade crescente (onde o nível salarial tende a crescer em
todas as atividades econômicas pari passu com a produtivi­
dade média do sistema).
Os objetivos deste ensaio são: a) investigar por que a
difusão mundial do progresso técnico e os decorrentes incre­
mentas da produtividade não tenderam a liquidar o subde­
senvolvimento; e b) demonstrar que uma política de "desen­
volvimento )) orientada para satisfazer os altos níveis de
consumo de uma pequena minoria da população, tal como a
executada no Brasil, tende a agravar as desigualdades sociais
e a elevar o custo social de um sistema econômico.
Partimos da hipótese de que o subdesenvolvimento é
um aspecto do modo pelo qual o capitalismo industrial vem

97
crescendo e se dffur.:díndo desde o seu surgimento. Assim
sendo, é totalmente enganoso construir um modelo de uma
economia subdesenvolvida como um sistema fechado, Isolar
uma economia subdesenvolvida do contexto geral do sistema
capitalista em expansão é pôt de lado, desde o início, o pro­
blema fundamental da ni1tureza das relações externas ·de tal
economia.
Vamos definir o progresso técnico como a introdução
de novos processos produtivos capazes de aumentar a efí­
dência na utilização de recursos escassos e./ou a introdução
de novos produtos capazes de ser incorporados à cesta de
bens e serviços de consumo. E vamos supor que desenvolvi­
mento econômico implica na dífusão do uso de produtos já
conhecidos eíou na introdução de novos produtos 8 cesta
dos bens de consumo.
Pelo fato o acesso a novos produtos ser ) com raras
exceções, Íírnitado, pelo menos durante uma fase inicial, a
urna mlnoria formada por pessoas de -altas tendas 1 o desen�
volvimento baseado prindpalmente na introdução de novos
produtos corresponde a um processo de concentração de ren­
da. E pelo fato de a difusão significar acesso de um maior
número de pessoas ao uso de produtos conbecidos, o desen,
voivhnento baseado principalmente na difusão corresponde
a um padrão de distríbuição mais lguafüária da renda.
Além disso� uma condição necessária em qualquer pro­
cesso de desenvolvimento econômico é a acumulação de ca.
pital, tão importante para a difusão de produtos -conhecidos
quanto para a introdução de outros novos. Nlàs há razões
para se acreditar que a introdução de novos produtos, no
conjunto de bens de consumo, requer uma acumufação rela­
tivamente maior de capital do guc a difusão de produtos
conhecidos. Por exemplo: a introdução de um novo modelo
de automóvel de uma certa categoria requer maís investi•
mentes (inclusive pesquisa e desenvolvimento) por unidade
do que o aumento da produção do modelo correspondente
que já vinha sendo produzido. Há um outro modo de enfocar

98
este problema; quanto mais diversificada a cesta de bens de
consumo, maior terá de ser a renda das pessoas que conso..
mem esses bens e maior a soma de capital exigída par.a satis�
fazer as necessidades dessa pessoa. O cidadão amerküno
médio recebia, em 1970, urna renda de aproximadamente
4 000 dólares por ano, e a esse nível de renda correspondia
determinada cesta de bens de consumo. Esse conjunto de
bens tornou�se possível graças a um processo de acumulação
de capital que se elevava a cerca de 12 000 dólares por habi­
tante do pais. O cidadão brasileiro recebia em média urna
renda de aproximadamente 400 dólares por ano e o capital
acumulado no Brasil atingia a soma de cerca de 1 000 dólares
por habitante. Desse modo, o conjunto de bens de consumo
ao qual o brasíleho médio tem acesso tinha que ser muito
menos divetsificàdo do que o que prevalecia nos Estados
Unidos.
O aumento da renda de uma comunidade pode resultar
de pelo menos três processos diferentes: a) o desenvolvi­
mento econômico: isto é 1 acumulação do capital e adoção de
processos produtivos mais eficientes; b) a exploração de re­
cursos naturais não-renováveis; e -e) a realocação de recursos
visando a uma especialização num sistema de divisão ínter­
nacional do trabalho. O aumente da renda implíca em diver­
síficação do consumo, introdução de novos produtos, etc
Assim, esse aumento pode ocorrer numa comunidade sem
desenvolvimento econômico, isto é, sem acumulação de ca­
pítal e introdução de processos produtivos mais eficientes.
Ele pode representar simplesmente um incremento devido
aos itens b e/ou e, acima mencionado·s. Chamemos moder­
nização a este processo de adoção de novos padrões de con­
sumo_" correspondente a níveis mais elevados de renda, na
ausência de desenvolvimento econômico.
Os países hoje conhecidos como subdesenvolvidos são
aqueles onde ocorreu um processo de modetniz2ção: novos
padrões de consumo (introdução de novos produtos) foram
adotados como resuitado de uma elevação da renda gerada
l,pelo tipo de mudanças mencionadas nos itens b e e acima,
l,
99
No Brasil, durante um longo período, os aumentos da renda
(produtividade econômica) foram basicamente o resultado
de uma simples realocação de recursos visando à maximiza�
ção de vantagens comparativas estáticas no comércio exterior.
A passagem da agrkultura de subsistência para a agricultura
comercial não pressupõe necessariamente uma mudança da
agricultura tradicional para a moderna. Quando gerada pelo
comércio exterio!, porém tal passagem acarreta um cresci�
1

mento significativo da produtividade econômica, e pcJe ini�


dar um processo de modernização. A importância deste
processo dependerá da matriz institucional preexistente. No
Brasil, devido à concentração da propriedade territorial e à
abundância da força de trabalho na agricultura de subsistên­
cia, os aumentos da produtividade beneficiaram principalmen­
te uma pequena minoria. E!i.tretanto, em razão do tamanho
da população, essa minorfa modernizada foi sufidentemente
grande pata permitir um amplo desenvolvimento urbano e
um começo de industrialização.
, , Nos países onde a modernização ocorreu sem o desen­
volvimento econômico, o processo de industrialização apre�
senta car:acterlsticas muito particulares. Assim, o mercado
para produtos manufaturados é formado por dois grupos
completamente diferentes: o primeiro ;, consumidores de ren­
da muito baixa (a maioria da população), e o segundo, uma
minoria de renda elevada. A cesta de bens de consumo
correspondente ao primeiro grupo é bem pouco diversificada
e tende a permanecer sem modificações, já que a taxa de
salário real é bastante estável. As indústrfas que produzem
estes bens têm fracos efeitos de encadeamento (linkages):
elas usam matérias-primas da agricultura (indústrías têxteis
e alímentícias} e produzem diretamente para o consumidor
final. Além disto estas indústrias se beneficiam pouco das
economias de escala e e..xternas. A cesta de bens de consumo
correspondente ao segundo grupo, sendo totalmente diverH
sificada� requer um processo de industrialização complexo
para ser produzida no país. O príncipal obstáçulo a isso
origina�se da dimensão do mercado loeâl. Entretanto, este é

100
o setor do mercado que está realmente em expansão, e a
verdadeira industríalíz.ação somente se.rá possível se orien�
tada para ele. Dados os diferentes comportamentos das duas
cestas de bens de consumo, a primeira em expansão lenta e
sem a introdução de novos bens, e a segunda crescendo rapi­
damente principalmente através da inclusão de novos pro•
dutos, os dois setores industriais somente em grau muito
pequeno competem pelos mesmos mercados e podem manter
padrões diferentes de organização e mercadologia (ma1ke­
ting). Mas, uma vez que o setor que produz para a minoria
rica se adianta em relação ao outro 1 as necessidades em capiM
tal e tecnologia moderna tendem a crescer rapidamente. Em
conseqüência, a criação de novos empregos por unidade de
investímento declina. Ademais, as indústrias, cojo mercado
é a massa da população, estão destinadas a sofrer transfor­
mações importantes em decorrência do processo de indus­
trialização baseado no segundo tipo de bens de consumo (os
destinados à minoria privilegiada). Economias de escala e
externas podem também beneficiar a massa da população,
e produtos como plásticos e fibras podem ser incorporados
ao consumo popular. Em conseqüência da integração pto­
gressíva do sistema industrial, tende a aumentár a adoção
de processos de utilização intensiva do capital nas indústrias
que inicialmente se df'.senvolveram em competição com ati­
vidades artesanais locais. O progresso técnico deixa de ser
uma questão de compra de um certo tipo de equipamento,
e passa a depender do acesso às inovações que surgem em
grande quantidade nos países ricos. Nesta fase, as filiais de
corporações multinacionais facilmente superam as firmas lo­
cais, particularmente ruis indústrias voltadas para o mercado
diversificado. Mais precisamente, esta cesta diversificada de
bens de consumo nunca seria produzida localmente se o
fluxo de inovações técnicas tivesse que ser pago a preços
de mercado. Apesar do fato de, pa.ra uma grande empresa
de atuação internacional, operando num país subdesenvol­
vido, o custo de oportunidade de tal afluxo de inovações ser
praticamente zero, tal empresa nunca abriria mão delas em

101
favor das firmas locais independentes, a não ser por um
preço muito elevado.
A industrialização das economias onde se inicia um
processo de modernização tende a enfrentar uma dupla difi�
culdade: se as indústrias locais continuam produzindo a
primeira cesta de bens (indústrias com efeitos fracos de enca­
deamento) e a segunda tem que ser importada, o país nunca
alcançará o ponto necessário para formar um sistema indus­
trial; e se as indústrias locais voltam-se para a produção da
segunda cesta de bens, podem ocorrer rendimentos decres­
centes, em razão do tamanho reduzido do mercado local.
Alguns países com grandes dimensões demográficas e um se­
tor exportador altamente rentável conseguiram superar estes
obstáculos: este foi o caso do Brasil. Isto não significa que
o capitalismo industrial pode operar no Brasil segundo as
regras que prevalecem numa economia desenvolvida. Nesta,
a expansão da produção significa aumento paralelo do custo
da força de trabalho, isto é, do valor acrescentado pelo tra­
balho no processo de produção. E porquanto a procura é
gerada principalmente por pagamentos ao trabalho, a expan­
são da procura tende a seguir o crescimento da produção.
Nas economias subdesenvolvidas, o valor acrescenrndo pelo
trabalho tende a declinar em termos relativos, durante as
fases de expansão. Os aumentos da produtividade criados
por economias internas ou externas tendem a beneficiar ex­
clusivamente os proprietários de capital e, dada a estrutura
dos mercados, nada os pressionará a transferir os frutos do
aumento da produtividade aos consumidores, a minoria mo­
dernizada. Por outro lado aumentar a taxa salarial levaria
a um crescimento dos custos sem alargar o mercado, uma
vez que os trabalhadores estão vinculados a uma cesta de
bens diferente. O fato é que o sistema opera espontanea­
mente, beneficiando uma minoria pequena demais, os pro­
prietários de capital. Como deveria o processo de concentra­
ção de renda, inerente ao sistema, ser dirigido a fim de criar
um elo entre o incremento da produtividade nas indústrias
produtoras dos bens do segundo grupo (diversificado) e os

102
consumidores que têm acesso a esses bens? Na terceira parte
deste ensaio examinaremos o tipo particular de solução ado~
tado pelo Brasil.

O desempenho dü economia hrasileirti

Nos últimos 25 anos :.1 economia brasileira vem cres­


cendo a uma taxa relativamente alta. Dados níveis "normais"
de produção agrícola, dos termos do intercâmbio externo e
dos gastos públicos, poder-se-ia espera...- uma taxa de cresci­
mento de cerca de 6 por cento ao ano. A abundância de
recursos naturais, o tamanho da população e o nível médio
de renda obtido no passado através da maximização das van­
tagens comparativas estáticas no comércio exterior convergem
para produzir esse potencial de crescimento. Além disso, as
flutuações na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) tiveram efeitos pouco significativos no processo de for­
mação de capital. As taxas de poupança e investimento têm
sido bastante estáveis. As mudanças na taxa de crescimento
do PIB refletem basicamente modificações no grau de utiliza­
ção da capacidade produtiva já instalada. Na linguagem ele­
mentar de modelos de crescimento, diríamos que as mudanças
nessa taxa são principalmente causadas por modificações no
parâmetro que representa a relação entre a produção e o
estoque de capital reprodutível 1 e que o outro parâmetro,
que representa a relação entre investimento e renda, tende
a ser estável.
De fato, o primeiro parâmetro (relação produto-capi­
tal) dobrou entre 1964/67 e 1968/69, enquanto o segundo
(taxa de investimento) cresceu apenas ligeiramente. Assim, o
processo de acumulação tem sido muito mais regular que o
desempenho da economia em geral. Quando esse desempenho
é fraco, a margem de capacidade produtiva ociosa aumenta,
mas apesar disso a capacidade global de produção cresce nor­
malmente. Pode-se inferir daí que a taxa de lucro tende a
ser bastante elevada mesmo quando a economia subutiliza

103
sua capacidade produtiva; por outro lado, há razões par:a
acreditar que a economia tem sido íncapaz de gerar o tipo
de procura requerido para obter a utílízação adequada da
capacidade produtiva.
Não me referi ao nível da demanda efetiva, mas ao tipo
de demanda. Na realidade, estamos muito longe da hipótese
keynesiana de insuficiência dg de-manda efetiva. Durante o
período considerado 1 a economía brasileira operou sob forte
pressão do excesso de demanda monetária, com uma alta
taxa de inflação� tanto em períodos de rápiào crescimento
. corno nos de relativa estagnação.
f "'·
11inha hipótese básica é que o sistema não tem sído
capaz de produzir espontaneamente o perHI de demanda
capaz de assegurar uma taxa estável de crescimento, e que o
crescimento a longo prazo depende de ações exógenas do
governo. Deve-se levar em conta também o fato de que
durante o período em discussão as indústrias que produzem
para a minoria modernizada tornaram-se cada vez mais con­
troladas por empresas dirigidas do centro do sistema capi�
talista.
'�, .,Um ráoido crescimento industrial, nas condições par­
/1:fculares ho[e vigentes no BrasíC implica numa intensa absor­
ção de progresso técnico sob a forma de novos produtos e
de novos processos requeridos para produzi-los. O custo de
oportunidade de tal progresso técnico está num nível mínimo
quando podem reproduzir o que elas criam e amortizam nos
países responsáveis pelo financiamento de pesquísas e desen­
volvimento, � está num nível máximo quando elas têm que
lntroduzir nova pesquisa e desenvolvimento. Conseqüente­
mente, a expansão industrial se desenvolve através de um
entrosamento das indústrias locais com os sistemas indus­
triais dominantes, dos quais emerge o fluxo de nova tecno­
logia. Por um lado, as referidas grandes empresas apegam�se
aos seus projetos já comprovados nas matrizes, como o me­
lhor caminho para maximizar crescimento e lucros; por outro

i
lado, minorias modernizadas procuram manter-se atualizadas
em relação à última palavra em padrões de consumo, ao

104
dernier cri lançado na metrópole, Contudo, se bem que esses
dois grupos têm interesses convergentes; o sistemá não está
estruturalmente capacitado para gerar o tipo de demanda
requerido para assegurar sua expansão,
As ondas sucessivas de expansão industrial no Brasil
durante o período de após�guerra não podem ser explicadas
se não se tem em mente o papel autônomo dest!J.-npenhado
pelo governo, tanto subsidiando investimento como amplian­
do a demanda, O quadro geral foi o processo de substituição
de importações. Criando novos empregos, este processo am­
pliou o mercado para bens de consumo popular, mas, dadas
as pequenas proporções do mercado para bens de consumo
durável, a produção local destes foi acompanhada de ten­
dência ao aumento de seus preços relativos, com efeitos ne•
gativos sobre a procura. Este efeito negativo foi combatido
até meados dos anos 50 por ações do governo visando a
reduzír os preços dos equipamentos importados, por meio
de rnxas diferenciais de câmbio, e objetivando também subsi­
diar investimentos industríais (partkularmente em indústrias
que produziam sucedâneos de bens importados), principal­
mente através de empréstimos com taxas de juros negativas,
Parte dos recursos utilizados para executar esrn política ori­
ginavfVie de uma melhoria nos termos do intercâmbio que
ocorreu nesse período. A redução pela metade do custo real
do capi.tal fixo ajudou as indústrias produtoras de bens de
consumo durável a conseguir lucros, mesmo tendo de operar
com urna larga margem de capacidade ociosa. Na segunda
metade dos anos 50, quando os termos do intercimbio se
deterioraram, o governo se lançou numa política de endivi•
damento externo que tornou possível o prosseguimento dos
subsídios. Ao mesmo tempo, o governo engajou�se numa po�
lírica de grandes obras públicas: a construção de Brasília e
de urna rede nacional de rodovias, inclusive estradas pionei­
ras, como a Belém-Brasília_ Mais recentemente, como vere�
mos� tomanun-se medidas com efeitos diretos sobre a dlstri­
buíção da renda, a fim de produzir a qualidade ou perfil de
demanda que melhor se ajusta ans planos de expansão das

105
grandes empresas de atuação internacional e às expectativas
da minoria modernizada.

A nova estratégia

A alta taxa de crescimento da produção industrial bra­


sileira, alcançada a partir de 1968, depois de um período de
seis anos de relativa estagnação (1961-67), foi obtida através
de urna política governamental muito bem-sucedida que visa
a atrair as grandes empresas transnacionais e fomentar a
expansão das subsidiárias destas já instaladas no país. Por
vários meios o governo tem orientado o processo de distri­
buição de renda para produzir o perfil de demanda mais
atraente para as referidas empresas. Conseqüentemente, a
cesta de bens de consumo que tenta reproduzir os padrões
de consumo dos países cêntricos expandiu-se rapidamente
tanto em termos absolutos como relativos.
O Estado também vem desempenhando importantes
papéis complementares, investindo na infra-estrutura física,
em capital humano (numa tentativa de ampliar a oferta de
quadros e pessoal profissional) e nas indústrias com uma
baixa rotação de capital. As indústrias produtoras de bens
homogêneos, tais como aço, metais não-ferrosos e outros
insumos de utilização generalizada pelo sistema industrial,
não se baseiam na inovação de produtos para competir ou
criar poder de mercado. Elas se baseiam na inovação dos pro­
cessos produtivos e, sendo baixo o nível de rotação do capital
fixo, o fluxo de inovação tende a ser muito mais lento. Além
disso, uma política de preços baixos, executada por essas
indústrias, através de subsídios dissimulados, pode ser defen­
dida como essencial para fomentar o processo de industria­
lização. Desse modo, o controle total ou parcial do Estado
sobre esse bloco de indústrias pode ser o melhor caminho
para que as grandes empresas controladas do centro obte­
nham uma rápida rotação de seus investimentos, podendo
assim maximizar lucros e expansão.

106
As firmas controladas por capitalistas locais também
têm um papel nesse sistema. As indústrias que produzem
para a massa da população enfrentam o problema do cresci­
mento lento da procura, porque a taxa de salário real do
trabalhador não-qualificado está em declínio ou estagnada.
Entretanto, os mercados para estas indústrias se ampliam ho­
rizontalmente, graças ao crescimento demográfico e à trans­
ferência de pessoas anteriormente ocupadas em atividades
ligadas à subsistência para o setor que paga o salário mínimo,
garantido pela legislação social. Como esta cesta de bens de
consumo não inclui a introdução de novos produtos, o con­
trole do progresso técnico não é importante como fonte de
poder de mercado. Em conseqüência, neste setor as grandes
empresas não têm as mesmas vantagens ao competir com
os capitalistas locais.
Considerando o sistema industrial como um todo, per­
cebemos que as grandes empresas controlam as atividades
que se baseiam principalmente no progresso técnico (as ativi­
dades nas quais o fluxo de novos produtos é mais intenso),
a saber, a produção de bens de consumo duráveis e equipa­
mentos em geral. O Estado tem uma importa,nte participação
nas indústrias produtoras de bens intermediários, e os capi­
talistas locais controlam uma boa parte das indústrias pro­
dutoras de bens de consumo não-duráveis. Outrossim, as
firmas locais operam, sob contratos, como linha auxiliar de
produção para as grandes empresas de atuação internacional
e para as empresas estatais 1 acrescentando flexibilidade ao
sistema. Certo 1 as referidas grandes empresas estão passando
por um processo de integração vertical, em certos setores,
absorvendo firmas nacionais, e também estão se expandindo
em importantes setores de bens de consumo não-duráveis.
A indústria de gêneros alimentícios sob o controle dessas
grandes empresas está produzindo para os grupos de renda
superior, introduzindo a miríade de produtos que lotam os
supermercados dos países ricos. Todavia, as linhas básicas
do sistema são aquelas apresentadas acima, e podemos dizer
que os três subsetores desempenham papéis até certo ponto

107
complementares. Entretanto, é importante enfatizar que o
dinamismo do sistema repousa sobre a intensidade de trans­
missão do progresso técnico, na forma em que este é visua­
lizado pelas grandes empresas controladas do centro. Em
outras palavras, quando o custo de oportunidade do pro­
gresso técnico é praticamente zero para as subsidiárias dessas
empresas a taxa de crescimento do sistema industrial tende
ao máximo.
Dadas as características da economia brasileira, forma­
da por um mercado altamente diversificado mas de propor­
ções reduzidas, e outro mercado relativamente grande mas
com baixo grau de diversificação, as indústrias de bens de
consumo duráveis se beneficiam muito mais das economias
de escala do que as indústrias de bens de consumo anterior­
mente existentes. Conseqüentemente, quanto mais concen­
trada é a distribuição da renda, maior é o efeito positivo para
a taxa de crescimento do PIB. Desse modo, a mesma quan­
tidade de dinheiro, quando consumida por pessoas ricas,
contribui mais para uma aceleração da taxa de crescimento
do PIB do que quando consumida por pessoas pobres. Su­
ponhamos que os bens de consumo cuía demanda está em
rápida expansão sejam os automóveis; é bem provável que
a construção da infra-estrutura não acompanhe o crescimento
da frota de automóveis e a eficiência no uso dos veículos
tenda a declinar. Isto significa mais consumo de combustí­
vel e maior número de reparos por quilômetro, como uma
conseqüência dos engarrafamentos de tráfego, etc. Tudo isso
também contribuirá para um aumento da taxa de expansão
do PIB. Podemos levar este raciocínio mais longe. A concen­
tração de renda cria a possibilidade de maior discriminação
de preços. De fato, alguns detalhes acrescentados a certos
carros (novos modelos) permitem a ocorrência do sobrepreço
e a quase-renda assim criada para o produtor também con­
tribuirá para o incremento do PIB. Em resumo: o desper­
dício de recursos, mediante o consumo supérfluo de uma
minoria rica, contribui para a inflação da taxa de crescimento

108
do PIB - e também pode "inflar" o prestígio dos gover­
nantes.
Outro fator que precisa ser levado em consideração é
a taxa de afluxo de capital estrangeiro. Se o perfíl da de­
manda se ajusta às necessidades das grandes empresas 1 as
possibilidades de mobilizar recursos financeiros no exterior
serão obviamente maiores. Na realidade, as coisas não são
tão simples, porque as perspectivas da balança de pagamen­
tos dependem de outros fatores ligados à capacidade de
exportação prevista. Entretanto 1 não se alterando os demais
fatores, se a taxa prevista de lucro das grandes empresas é
mais alta ) a entrada de capital estrangeiro será maior ) so­
mando-se às poupanças locais e dando flexibilidade à econo­
mia, ao menos a curto prazo.
Resumindo: determinado perfíl de demanda, que cor­
responde a uma crescente concentração na distribuição da
renda e a um crescente distanciamento entre os níveis de
consumo da maioria rica e da massa da população, gera uma
composição de investimentos que tende a maximizar a trans­
ferência de progresso técnico através das grandes empresas,
e a fazer crescer o afluxo de recursos estrangeiros. Assim,
a política que visa produzir aquele perfíl de.demanda ten­
derá também a maximizar a expansão do PIB.
Dentro deste quadro geral, o gov.gno_b.rasileiro tem
procurado atingi_r____quatro objetivos -básicos: a) fomentar e
dif1gir-'O processo de concentração de renda (processo este
irierente às economias capitalistas subdesenvolvidas em geral)
para beneficiar os consumidores de bens duráveis ) isto é, a
minoria da população com padrões de consumo semelhantes
aos dos países cêntricos; b) assegurar um certo nível de
transferência de pessoas do setor de subsistência para os se­
t9_res beneficiados pelo salário mínimo legalmente garantido;
c) cõrilrolar·· o --dífê·te/1�\�1 ·erifre ó _:s_�l_ári9- _mínimo garantido
por lei e o nível de renda no setor- de Subsistência; durante
seis anos cons�<:-�!.f�9_s,_ _ 9_ governo -logrou reduzir o nível do
salário rrifoímÕ real e compatibilizar a transferência de pes­
soas do setor de subsistência com um processo intenso de

109
(- concentração de renda; e d) subsidiar a exportação de bens
manufaturados a fim de reduzir a pressão sobre os setores
produtores de bens de consumo não-duráveis, cuja procura
cresce lentamente, em razão da concentração de renda, e
também para melhorar a posição da balança de pagamentos.
Os objetivos mencionados nos itens b e c são variá­
veis sociais instrumentais requeridas para manejar as tensões
sociais, originadas do processo de concentração de renda,
particularmente quando o salário real médio esteve decli­
nando. A criação de novos empregos é um meio de reduzir
a carga da população já ocupada; sendo grande o número
de dependentes por família o número de pessoas remune­
radas em cada família pode aumentar, o que torna a redução
da taxa salarial mais fácil de ser aceita. Ademais, esta polí­
tica permite reduzir o custo do trabalho para as grandes
empresas, sem diminuir seus mercados respectivos.
A parte mais complexa dessa política se refere ao pro­
cesso de estímulo e orientação da concentração de renda.
Para obter o resultado desejado, o governo brasileiro tem
usado vários instrumentos, especialmente as políticas credi­
tícia, fiscal e de renda.
O primeiro surto de procura de bens de consumo du­
ráveis originou-se de uma rápida expansão do crédito aos
consumidores, beneficiando a classe média alta. A inflação
resultante reduziu a renda real da massa da população, libe­
rando recursos para uma política de investimentos públicos
e, ao mesmo tempo, ajudando a reduzir os custos de produ­
ção das empresas privadas. O aumento da taxa de lucro das
empresas produtoras de bens de consumo duráveis foi muito
rápido, criando um impulso para a expansão dos investimen­
tos privados. Se considerarmos o fato de que as empresas
produtoras de bens de consumo duráveis vinham operando
com urna larga margem de capacidade produtiva ociosa, e
de que essas empresas obtêm substanciais economias de es­
cala durante a expansão, podemos facilmente entender o
surto de crescimento ocorrido.
O nível de lucro extremamente elevado e o boom dos

110
:· investimentos, particularmente no setor industrial, que pro­
duz para a minoria privilegiada, abriram as portas para uma
política de distribuição de renda favorecendo grupos supe­
riores da escala salarial, uma vez que a oferta de quadros
profissionais era relativamente inelástica. Esta situação, coin­
cidindo com um declínio do salário mínimo, engendrou uma
extrema concentração da renda não derivada da propriedade.
Uma tendência similar pode ser observada dentro do setor
público.
No entanto, foi através da política fiscal que o governo
perseguiu o objetivo mais ambicioso de tornar permanentes
as novas estruturas. Variados e generosos "incentivos fiscais"
foram concedidos visando à criação de um grupo considerável
de pessoas beneficiárias de rendas mobiliárias dentro da
classe média. Na realidade, cada contribuinte do imposto de
renda (aproximadamente 5 por cento das famílias) foi indu­
zido a formar uma carteira de investimentos, como alterna­
tiva ao pagamento de parte do imposto devido. Os pobres,
com uma pesada carga de impostos indiretos, estão excluídos
desses privilégios. O objetivo aparente do governo ao adotar
essas medidas é ligar o poder aquisitivo da alta classe média
ao fluxo mais dinâmico de renda: o fluxo de lucros. Sob
este ponto de vista particular màs importante pode-se dizer
que_ o Brasil está engendra 1_1cfo_y_II?-___ 17-<:)y9__JÍP-º.--c:I�___çª2Lt?E?'.!!1_0,
extremamente depe!1den-te da apropriação e utilização dos
lucros para gé:ar ··-cer·Eo--"i:íp·o··--cte··-ga.'StOS-_---_ae. consuriio. Isto
somente pode ser obtido através de uma ação decisiva por
parte do Estado para forçar as empresas a abrirem seu capi­
tal (o que é particularffiente difícil no caso das empresas
controladas no centro) e a adotarem uma política adequa­
da de distribuição de dividendos. Outra alternativa seria a
acumulação de uma dívida pública crescente nas mãos da
alta classe média, cujo fluxo de juros teria que ser alimentado
com recursos provenientes de um imposto sobre os lucros
daquelas empresas. Nunca uma economia capitalista foi tão
dependente do Estado para articular a demanda com a oferta.
A característica mais significativa do modelo brasileiro

111
é a sua tendência estrutural para excluir a massa da popu­
lação dos benefícios da acumulação e do progresso técnico.
Assim, a durabilidade do sistema baseia-se grandemente na
capacidade dos grupos dirigentes em suprimir todas as for­
mas de oposição que seu caráter anti-social tende a estimular.

112
CAPÍTULO IV

Objetividaúe e ilusionismo em economia

A c1encia econômica exerce indisfarçável sedução nos


espíritos graças à aparente exatidão dos métodos que utiliza.
O economista, via de regra, trata de fenômenos que têm uma
expressão quantitativa e que, pelo menos em aparência, po­
dem ser isolados de seu contexto, isto é, podem ser analisa­
dos. Ora, a análise, ao identificar relações estáveis entre fe­
nômenos, abre o caminho à verificação e à previsão, que são
as características fundamentais do conhecimento científico
em sua mais prestigiosa linhagem. Particularmente no mun­
do anglo-saxônico, entende-se como sendo ciência (science)
o uso do método científico, e este último é concebido no
sentido estrito da aplicação da análise matem_fitica e, mais
recentemente, da mecânica estatística. Compreende-se, por­
tanto, que homens de valor, como Hicks e Samuelson, se
hajam tanto empenhado em traduzir tudo que sabemos da
realidade econômica em linguagem de análise matemática.
Não tanto por pedantismo, como a alguns pode parecer, mas
porque estão convencidos, seguindo Stuart Mil!, da unidade
metodológica de todas as ciências; portanto o progresso da
economia se faz no sentido de uma aplicação crescente do
método científico, e este tem o seu paradigma na ciência
física.
Ocorre, entretanto, que o objeto de estudo da econo­
mia não é uma natureza que permanece idêntica a si mesma
e é totalmente exterior ao homem, como o são os objetos
estudados nas ciências naturais. Para que o preço do feijão
fosse algo rigorosamente objetivo deveria ser, como se ensi-

113
na nos livros de texto, a resultante da interação de duas for­
ças, a procura e a oferta, dotadas de existência objetiva,
Seria o caso, por exemplo, se a oferta de feijão dependesse
apenas da precipitação pluvíométrica e a sua procura das
_pecessidades fisiológicas de um grupo definido de pessoas.
Mas a verdade é que a oferta de feijão está condicionada
por uma série de fatores sociais com uma dimensão histórica,
os quais vão desde a manipulação do crédito para financiar
estoques até o uso de pressões para importar ou exportar o
� produto ) sem falar no controle dos meios de transporte 1 no
grau de monopólio dos mercados, etc. Da mesma maneira,
a demanda resulta da interac,.-io de uma séríe de forças sociais,
que vão da distribuição da renda até a possibilidade que
tenham as pessoas de sobreviver produzindo para a própria
subsistência. Quando apHca o método analítico a esse fenô�
meno (o preço do feijão), o economista diz: constantes todos
os demais fatores, se aumenta a oferta do feijão, o preço
deste tende a diminuir. Ora, o aumento da oferta também
modifica outros fatores, como o grau de endividamento para
estocagem, a pressão para exportar, etc. A ídéia de que tudo
o mais permanece constante, que -é essencial para o uso do
aparelho at1alítico maternático (graças a esse recurso meto�
dológico� múltiplas relações entre pares de variáveis podem
ser tratadas simultaneamente na forma de um sistema de
equações diferenciais parciais)., essa idéia leva a modificar
em sua própria natureza o fenômeno econômico. Se a oferta
começa a aumentar. os -compradores podem antecipar au�
mentos maiores, baixando os preços muito mais do que seria
de prever inicialmente. Assim, a própria estrutura do siste­
ma pode modificar�se, como decorrência da ação de um fator.
É que toda decisão <."Conômica é parte de um conjunto de
decisões com importantes projeções no tempo. Essas decisões
encontram sua coerência í1ltima num projeto que introduz
um sentido unificador na ação do agente. Isolar urna decisão
do conjunto dotado de sentido, que é o proieto do agente,
considetá-fa fora do tempo e em seguida adicioná-la :a deci­
sões pertencentes a outros projetos; como se se tratasse de

114
elementos homogêneos, é algo fundamentalmente distinto
do que em ciência natural se conside;:a como legítima apli­
cação do método analítico,
Quando se percebe essa diferença epistemológica 1 com­
preende-se sem dificuldade que em economia o conhecimen�
to dentifico; isto é 1 a possibfüds:de de verificar o que se
sabe e de utilizar o conhecimento para prever (e-, portanto,
para agir com maior eficácia), não pode ser alcançado dentro
do quadro metodológico em que vem atuando a chamada
"economia positiva )) .
Essa conclusão se impõe de forma ainda mais clarn com
respeito à análise macroeconômica, a qual pretende explic<eu
o comportamer..to de um sistema econômico nacional. Neste
caso, as definições dos conceitos e categorias básicas da fü.1.á­
Hse estão diretamente influenciadas pe1a visão inicial que
tem o economista do pro.feto implícito na vída social. Est2
, se apresenta como um processo, ou seja, como um conjunto
, de fenômenos em ínteração que ádqulrem sentido (são inte­
ligíveis globalmente) quando observados diariamente, Essa
percepção global do processo social é principalmente obtida
mediante observação dos agentes que controlam os principais
, centros de decísão, ou seja, gue exercem poder.- A existência
, de um Estado facilíta a identíficação das estruturas centrais
de poder. Da mesma forma .a concemr:aÇ"ilo do poder econô�
mico (grandes empresas) e da manipulação da informação
(grandes cadeias de jornais e estações de rádio) facilitam a
identificação de estruturas colaterais de poder. É em torno
, das decisões emanadas àos centros principais de poder que
se ordena o amplo processo da vida social. �em o mais
ingênuo jovem economista doutrinado em Chkago acredita
hoje em dia no mito da "sobcrnnia n do consumidor como
princípio ordenador da vída económica. Demais, admitída a
hipótese da "'soberania" do consumidor J em que basear a
introdução do postulado da homogeneidade, isto é 1 como
somar as preferências de um milionário com as de um pobre
que passa fome?
As hípóteses globais,, que emprestam um sentido à vida

115
social, são o ponto de partida de todo economista que define
categoria de análise macroeconômica. E essas hipóteses glo­
bais são formuladas a partir da observação do comportamen­
to dos agentes que controlam os centros principais do poder:
não interessa saber se aqueles que o exercem derivam sua
autoridade do consenso das maiorias ou da simples repres­
são; se o consenso <las maiorias resulta da manipulação da
informação ou da interação de forças sociais que se contro­
lam mutuamente. No caso_,, apenas interessa assin��q:µ_e___o.s
que mandam falam em nome da coletividade.Quaisquer que
sE:jarrr-·áçífiõtíVãÇões-·--dó·- qu-e-·IegisJa····sobre-itnpostos, do que
decide onde localizar uma estrada e do que arbitra entre a
construção de um hóspital e a de um quartel, as decisões
tomadas sobre esses assuntos condicionam a vida coletiva.
(b certo que o estudioso da vida social poderá considerar
1
muitas dessas decisões equivocadas, isto é, incapazes de pro­
duzir os resultados esperados pelos agentes que as tomaram;
ou inadequadas, vale dizer, em desacordo com os autênticos
interesses sociais. Em um e outro caso, o estudioso estará
comparando meios com fins, o que põe a claro o fato de que
ele é consciente da existência de um conjunto coerente de
valores, sem o que não lhe seria possível entender (empres­
tar sentido) à vida social. Que o estudioso prefira os seus
próprios valores aos dos agentes que controlam o poder, não
altera o fundo da questão: é observando o comportamento
dos agentes que controlam os centros de decisão e dos que
estão em condições de contrapor-se e modificar os resulta­
dos buscados por aqueles que ele parte para captar o sentido
do conjunto do processo social.
Coloquemos esse problema num plano mais concreto.
Os economistas falam correntemente de inversão ou investi­
mentos como de algo que não comporta maiores ambigüi­
dades. «Em toda política de desenvolvimento, qualquer que
seja o sistema, um alto nível de investimento sempre será
essencial." É essa uma afirmação totalmente equivocada.
Investimento é o processo pelo qual se aumenta a capacidade
produtiva mediante certo custo social. Suponhamos que o

116
objetivo seja produzir mais bem-estar social e que na defi­
nição de bem-estar se concorde em dar a mais alta prioridaàe
à melhoria da dieta infantil, a fim de obter melhores con­
dições eugênicas para o conjunto da população. Esse objetivo
pode ser muito mais rapidamente alcançado reduzindo o con­
sumo supérfluo das minorias privilegiadas (modificando a
distribuição do bem-estar) do que aumentando o investimeu­
f1o. � _o economista, existe algo comum__��rnQ.Q._atn_de..
/ ínvestimen__c, t : a_ sub_!�ão-(Ie· recursos ao _consumo, ou <1
/ ttaÜSfetência·-c1o·ato de consumo de hoje para o futuro. "So­
-
. bre este ponto estamos t()�()S ª-� --:·ãcora?·_·'.'::_- �4Ifi"2"""0""PfO"fes·s?.r
-
��:_·_ economia ... _Q�a,____essa afirm�5�_0 se ___ baSeia num_a_ falácia
g.titante: a idéia. _ _ de que o consumo e uma massa homogé-
·nea. QliaI1Cfo __ ffie f)úVo de uma segunda garrafa de vinho,
SU5fraio 50 cruzeiros ao consumo, os quais podem ser utili­
zados para investimento; quando um trabalhador manual é
obrigado a reduzir a sua ração de pão, pode estar compri­
mindo o nível de calorias que absorve abaixo do que ne­
cessita para cobrir o desgaste do dia de trabalho, o que a
longo prazo pode reduzir o número total de dias que tra­
balhará em sua vida. O economista mede o valor do pão
economizado, digamos 2,5 cruzeiros, e dirá: a ·,poupança ex­
rt aída de vinte trabalhadores equivale à segunda garrafa de
vinho de que se privou o Sr. Furtado. Se o consumo não é
uma massa homogênea, tampouco poderá sê-lo a poupanç;:1,
que se define como "recursos subtraídos ao consumo pre­
sente". E se a poupança não é homogênea, como poderá sê-1o
a inversão? Como medir_ COJ11 _,l __ rp_��!11_;:l__ régua a inversão
financiada com a redução do r>ão dos trn.bªlhad-9.:r_es e a outra
-
__,_fi�an_c_i ª-c]�__çgrp_
_ ·-ª· ,.m _inhª___ptiv.?_Ç..ãQ__.d_e____u.rna_ga rrafa--d; vin FC ?
Passemos à outra vaca sagrada dos eco�;-;mista-;--õ7_J·ro­
duto Interno Bruto (PIB). Esse concei t o ambíguo, amál­
gama considerável de definições mais ou menos arbirrárias 1
transformou-se em algo tão real para o homem da rua como
o foi o mistério da Santíssima Trindade para os camponeses
da Idade Média na Europa. Mais ambíguo ainda é o conceito
de taxa de crescimento do PIB.

117
Por que ignorar, na medíção do PIB, o custo para a
coletividade da destruição dos recursos naturais não-renová­
veis, e o dos solos e florestas (dificilmente renováveis)? Por
que ignorar a poluição das águas e e destruição total dos
peixes nos rios em que as usinas despejam os seus resíduos?
Se o aumento da taxa de crescimento do PIB é acompanhado
de b$iixa do salário real e esse salário está nu nível de sub­
sistência fisiológica, é de admitir que estará havendo um
desgaste humano. As estatísticas de mortaiídade infantil e
expectativa de vida podem ou não traduzir o fenômeno; pois
sendo médias nacionais e sociais anulam os sofrímem:os de
uns com os privilégios de outros.
Em tiro país como o Brasil, basta concentrar a renda
( aumentar o consumo supérfluo em termos relativos) para
elevar a taxa de crescimento do PIB. Isto porque, dado o
baixo nível médio de renda, somente uma minoria tem
acesso aos bens d..:::ráveis de consumo e são as indüstrias de
bens duráveis as que mais se beneficiam de economias de
escala. Assim 1 dada uma certa taxa de investimento ) se a
procura de automóveis cresce mais que a de tecidos (supon­
do�se que os gastos inidais nos dais tipos de bens sejam
idênticos); a taxa de crescimento será maior. Em síntese:
quanto mais se concentra a renda, mais privilégios se criam,
maior é o consumo supérfluo } maior será á taxa de cresci­
mento do PIB. Desta forma a contabilidade nadonal pode
transformarhse num labirinto de espelhos ) no quai um hábil
r,)lusíonista pode obter os efeitos mais deslumbrantes.
j, Não se trat:1� evidentemente, de negar todo valor a
esses conceitos ) nem de abandoná�los se não podemos subs�
tituí-los por outros melhores. Trata"se de conhecer-lhes a
exara significação. A objetividade em ciências sociais vai
f{_ sendo obtida na medida em que se explicitam os fins e se
identificam nos meios (nos métodos e instrumento tde traba�
lho) o que nestes é decorrência necessária dos referidos fins,
Como esse esforço no sentido de explicação de fins e
de identificação do condicionamento dos métodos de traba­
lho pelos valores implícitos na escolha dos problemas é res-

118
ponsabílídade direta do dentista social I pode-se a.firmar que
o avanço das cíências sociaís também depende do papel que
na sociedade se atribuem e exercem os que estudam os pro-
.:+ blemas sociais. O progresso dessas ciências não é indepen­
dente do avanço do homem em sua capacidade de autocrítica
e auto-afirmação. Não é de surpreender portanto que essas
dêncías se degradem quando declinam o exercício da auto­
crítica e a ,::onsciênda de responsa:Jilidade social.

119
O AUTOR E SUA OBRA

Nos idos do movimento de 1964 muitos tiveram seus


direitos políticos suspensos. Celso Monteiro Furtado, titu­
lar da pasta do Planeiamento no governo Goulart, autor de
livros de capital importância para a compreensão do proces­
so de formação político-econômica brasileira e considerado já
na época um dos mais lúcidos economistas do país, pagou o
preço de uma posição ideológica bem definida, sendo banido
do Brasil pelo regime militar.
Paraibano de Pombal, Celso Furtado nasceu em 1920.
Após sólida formação académica na área de economia, desta­
cou-se por significativas contribuições dentro do panorama
desenvolvimentista brasileiro. Idealizador e primeiro supe­
rintendente da SUDENE, foi um dos diretores da CEPAL
(1949) e do BNDE (1953). No exílio, lecionou nas mais
conceituadas instituições da Europa, como a Sorbonne e
Cambridge (onde escreveu "O mito do desenvolvimento eco­
nómico"), e dos Estados Unidos, como as universidades de
Washington, Yale e Harvard. Também desempenhou as fun­
ções de consultor económico a convite do governo da Vene­
zuela. Em 1974, de volta ao Brasil, passou a lecionar econo­
mia do desenvolvimento na Pontifícia Universidade Católi­
ca de São Paulo.
Dando ênfase aos problemas específicos do desenvolvi­
mento econômico do Brasil, escreveu: ((A economia brasi­
leira" (1954), "Formação econômica do Brasil" (1959) e
"A pré-revolução brasileira" (1962). Posteriormente, pro­
curando abarcar em suas análises também os fatores políti­
co-sociais, publicou as seguintes obras: usubdesenvolvimen-

121
to e estagnação n a América Latí-na (1966), "Teoria,,,e polítiça
, ,}},, do desenvolvimento econômico" (1967), "Um projeto,para
o Brasil" (1968), "O mito dt desenvolvimento econômico"
(1974) e "Prefácio à nova economia política" (1976).
Com esses trabalhos, Celso Furtado consolidou-se de­
finitivamente como pensador econômico e cientista social,
captando os valores da realidade brasileira e procurando es­
tabelecer os po.râmetros que dimensionam a participação do
Estado como elemento regulador da vida econômica.

122

Você também pode gostar