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ECONOMIA A

Ensino Secundário Regular – 11º ano

Unidade letiva 10 – Relações económicas com o Resto do Mundo

A necessidade e a diversidade de relações económicas internacionais

Divisão internacional do trabalho (DIT)


A teoria económica, assente na racionalidade, defende a produção dos bens e serviços pelas economias que
apresentam uma dotação dos fatores produtivos específica para tal.
Assim, cada economia produzirá os bens ou serviços para os quais tem mais vantagens.

A divisão internacional do trabalho (DIT) diz respeito à especialização de cada país na produção de bens,
ou numa fase específica do processo produtivo dos bens, para a qual apresente mais vantagens, capacidades
ou aptidões superiores às dos demais países.
Fatores que conduzem à especialização dos países:
• fatores naturais (clima ou relevo);

• simpatia das populações - favorecem o turismo;

• qualificação do capital humano;

• disponibilidade de capital financeiro…

DIT como causa e consequência do comércio internacional (comércio realizado entre países diferentes)
A DIT é a causa do comércio externo, pois está na origem desse comércio.
Se um país se especializa na produção de um bem, não consegue produzir tudo o que necessita, pelo que
tem de importar bens ao resto do Mundo.
Por outro lado, se se especializa na produção de um ou mais bens, é porque tem mais vantagens em fazê-lo
pois pode produzi-los de forma mais eficiente do que os restantes países devendo, por isso, exportar esse
bem ou bens.
Sabendo que o comércio externo consiste no conjunto dos fluxos de exportações e importações entre países,
a DIT é a causa desse comércio.
A DIT é a consequência desse comércio externo uma vez que é o resultado da existência desse comércio.
Como há trocas comerciais entre países, importações e exportações, cada país tem vantagens em produzir
aquilo para que tem mais dotação, exportar esse bem ou bens e importar do Resto do Mundo os que não
conseguem produzir ou produzem a custos mais elevados.

O registo das relações económicas com o resto do mundo – A balança de pagamentos

A balança de pagamentos é um documento estatístico, de natureza contabilística, onde são registadas as


trocas, em termos monetários, entre um país e o Resto do Mundo.
O saldo da balança de pagamentos é sempre nulo, ou seja, igual a 0.

Balança de pagamentos = balança corrente + balança de capital + balança financeira + erros e


omissões
Por sua vez, a balança corrente é calculada da seguinte forma:

Balança Corrente = balança de bens + balança de serviços + balança de rendimentos/rendimentos


primários + balança de transferências correntes/rendimentos secundários

Dada a diversidade de relações comerciais que se estabelecem entre Portugal e o resto do mundo, cada
balança que integra a balança de pagamentos regista um tipo de trocas.
O saldo de cada uma das balanças componentes da Balança de Pagamentos e o saldo final resultam da
diferença entre os créditos (entradas de divisas) e os débitos (saídas de divisas).
Saldo = créditos - débitos

Assim, qualquer balança pode apresentar


Défice: se o valor dos créditos (exportações) for inferior ao valor dos débitos (importações), não permitindo o
pagamento da totalidade das importações. O país terá de utilizar as suas divisas ou contrair empréstimos
para pagar a totalidade das importações (exportações < importações; créditos < débitos) – balança deficitária.
Superavit: o valor dos débitos é inferior ao valor dos créditos, permitindo o pagamento da totalidade das
importações e ainda a obtenção de divisas (exportações > importações; créditos > débitos) – balança
superavitária.
Equilíbrio: o valor dos créditos é igual ao valor dos débitos, logo o país não obtém nem utiliza as suas divisas
(exportações = importações; créditos = débitos) – balança equilibrada.

Operações de câmbio

Divisas: moedas usadas como meio de pagamento no comércio internacional.


Como os países têm moedas diferentes, para efetuar o pagamento do comércio internacional deve proceder-
se ao câmbio das moedas.

Taxa de câmbio: quantidade de moeda nacional que é necessário dar por uma unidade de moeda
estrangeira. É definida no mercado cambial.
Mercado cambial: mercado no qual se transacionam divisas em função da taxa de câmbio de cada moeda.
Sistema de taxas de câmbio fixas: definidas pelas autoridades monetárias.
Sistema de taxas de câmbio flutuantes ou flexíveis: definidas através do livre funcionamento do mercado.

Desvalorização da moeda: quando a taxa de câmbio da moeda de um país diminui em valor relativamente
às de outros países. As mercadorias tornam-se mais atrativas para os restantes países, porque ficam mais
baratas, o que faz aumentar as exportações.
Valorização da moeda: quando a taxa de câmbio da moeda de um país aumenta de valor relativamente às
de outros países. As mercadorias tornam-se mais caras para as restantes moedas, e por isso menos atrativas,
o que fará diminuir as exportações.

Impacto no saldo da
Exportações Importações
balança comercial
Desvalorização da moeda AUMENTO DIMINUIÇÃO POSITIVO
Valorização da moeda DIMINUIÇÃO AUMENTO NEGATIVO
A BALANÇA CORRENTE

Balança Corrente = Balança de Bens + Balança de Serviços + Balança de Rendimentos/Rendimentos


primários + Balança de Transferências Correntes/Rendimentos secundários

Balança de bens / mercadorias

Nesta balança registam-se os fluxos monetários correspondentes às exportações e importações de bens


materiais.
Exportações: representam as vendas ao resto do mundo e o consequente recebimento de divisas como
pagamento. São registadas como crédito.
Importações: representam as compras ao resto de mundo e a consequente saída de divisas como
pagamento. São registadas como débito.
Saldo da balança de bens = Exportações – Importações

A partir dos elementos que constam da Balança de Bens é possível determinar alguns indicadores
económicos importantes para a caracterização do comércio externo de cada país

Taxa de cobertura
A taxa de cobertura é um indicador de comércio externo que representa, em percentagem, o valor das
importações que podemos considerar como pago com o valor das exportações efetuadas para outros países.

Taxa de cobertura = valor das exportações X 100


valor das importações

Valores inferiores a 100%: o valor das exportações não é suficiente para cobrir o que se gastou com as
importações, sendo necessário utilizar divisas ou contrair empréstimos para cobrir o défice da balança de
bens.
Valores superiores a 100%: o valor das exportações excede e cobre o montante gasto com as importações e
o país ainda acumula divisas resultantes do superavit da balança de bens.
Valor igual a 100%: o valor das exportações é igual ao valor das importações; o país não utiliza nem obtém
divisas.
GAE (grau de abertura ao exterior)
O GAE mede a importância global da importação e da exportação de mercadorias na economia global de um
país, calculando-se através da ponderação do peso das importações e das exportações para o PIB de um
país.
GAE = exportações de bens + importações de bens X100
PIB

Quanto maior for o GAE de um país (expresso em percentagem do seu PIB) maior é a abertura da sua
economia ao exterior, isto é, maior é a sua interdependência com outras economias e maior é a quantidade
e a fluidez das suas trocas comerciais internacionais.

Estrutura setorial das importações e exportações


Indicador económico que mede o peso das exportações ou das importações de mercadorias de um concreto
setor de atividade, um ramo de atividade, ou mesmo de um só bem ou produto no total das trocas comerciais
de todos os setores.
Estrutura setorial das exportações = exportações de um setor X 100
exportações totais

Estrutura setorial das importações = importações de um setor X 100


importações totais

Estrutura geográfica das importações e exportações


Indicador económico que mede o peso de um país, conjunto de países ou organização internacional no total
das trocas comerciais de mercadorias de outro país – ou seja, o peso de um país nas importações ou nas
exportações de outro país.

Estrutura geográfica das exportações = exportações para um país ou região ou organização X 100
exportações totais

Estrutura geográfica das importações = importações de um país ou região ou organização X 100


importações totais

Balança de serviços

Regista as trocas de serviços (bens imateriais) com não residentes.

Balança de rendimentos primários

Regista os fluxos de rendimentos primários (salários, lucros, rendas e juros) com o resto do mundo.

Balança de rendimentos secundários

Regista fluxos monetários de entrada e saída, sem contrapartida, e que se repetem frequentemente. Inclui
transferências publicas (incluem o Estado português) e privadas.
A BALANÇA DE CAPITAL

Regista as operações entre agentes residentes e não residentes num país, relativas a fluxos de capital
unilaterais (extraordinários), que não exigem um pagamento futuro como contrapartida e fluxos de capital
relativos a aquisições e cedências de ativos não produzidos, não financeiros.

SALDO CONJUNTO DA BALANÇA CORRENTE E DA BALANÇA DE CAPITAL – permite avaliar a


capacidade ou a necessidade de financiamento de uma economia.

Saldo conjunto superavitário Capacidade de financiamento Empréstimo ao Resto do Mundo

Balança Financeira deficitária

Saldo conjunto deficitário Necessidade de financiamento Empréstimo do Resto do Mundo

Balança Financeira superavitária

Sinal positivo da balança financeira = necessidade de financiamento


Sinal negativo da balança financeira = capacidade de financiamento

A BALANÇA FINANCEIRA

Regista as transações com não residentes relativas à mudança de propriedade de ativos e passivos
financeiros do exterior. Para além do investimento direto estrangeiro, do investimento de carteira, dos
derivados financeiros e dos ativos de reserva, esta balança regista também “outros investimentos”. Nesta
parcela incluem-se depósitos, empréstimos e aplicações em off-shore, não residentes.
A balança financeira representa a forma como as económicas se situam face ao exterior, como devedoras ou
credoras em relação às outras.

As políticas comerciais e a organização do comércio mundial


As políticas comerciais
Existem duas correntes relativas ao comércio internacional: o protecionismo e o livre cambismo.

Livre-cambismo: doutrina que defende que as trocas efetuadas entre os países não devem estar sujeitas à
aplicação de qualquer barreira à circulação de bens, defendendo a completa liberalização do comércio
internacional.
Protecionismo: doutrina que defende o “isolamento”, em termos comerciais, de um país face ao exterior,
principalmente reduzindo as importações. O principal objetivo do protecionismo é a proteção das indústrias
nacionais e do emprego face à concorrência externa. Para tal, o Estado intervém no comércio internacional,
recorrendo a instrumentos de política comercial externa que visam dificultar as importações e/ ou incentivar
as exportações.
Instrumentos do protecionismo

Dificultam as importações Promovem as exportações

Barreiras alfandegárias Subsídios às exportações Desvalorização Dumping

Tarifárias Não tarifárias


Contingentação
Direitos aduaneiros Barreiras técnicas

Direitos aduaneiros: são barreiras tarifárias que se traduzem na aplicação de impostos ou taxas aos
produtos importados, tornando-os mais caros e desincentivando o seu consumo pelos consumidores
nacionais.
Contingentação: é uma barreira não tarifária que se traduz na determinação de um limite máximo, em
quantidades, ou em valor monetário, à importação de um bem ou serviço. Implica a imposição de quotas. A
contingentação levada ao extremo origina o embargo, ou seja, a proibição total de importações de bens.
Barreiras técnicas: são barreiras não tarifárias que se traduzem no estabelecimento de formalidades e
burocracias à importação de bens do resto do mundo.
Subsídios à exportação: traduzem-se na atribuição de subsídios às empresas exportadoras, permitindo a
redução dos custos de produção dos bens e serviços exportados, aumentando a sua competitividade nos
mercados externos.
Dumping: consiste em vender um produto no exterior a preços inferiores aos praticados no próprio país, ou
abaixo do custo de produção, como forma de conquistar o mercado externo, destruindo a concorrência.
Desvalorização: consiste na diminuição do valor de uma moeda face às restantes, tornando-a mais barata e
incentivando as exportações.

Vantagens e desvantagens do protecionismo


Vantagens Desvantagens
Proteção da indústria nacional Não estimula o desenvolvimento da indústria
Criação de postos de trabalho nacional, tornando-a menos competitiva

Teoria das vantagens absolutas e teoria das vantagens comparativas


Vantagens absolutas: um país tem vantagem absoluta na produção de um bem quando o produz mais barato
do que um outro país (Adam Smith).
Vantagens comparativas ou relativas: na troca entre países, um deles poderá ter vantagem absoluta na
produção de dois bens. Então, o país em desvantagem devera especializar-se na produção do bem em que
é menos ineficiente.

A organização mundial do comércio (OMC)


A OMC representa a necessidade de regulamentação do comércio internacional. É defensora do livre
cambismo.
Objetivo principal da OMC:
Criar a harmonia, a liberdade, a equidade e a previsibilidade das trocas entre os países membros e garantir
a liberdade do comércio.

Princípios orientadores da atuação da OMC:


Princípio da não discriminação: se um país conceder um benefício a outro, terá de o alargar a todos os
outros membros da OMC; também é impedido o desfavorecimento dos bens internacionais face aos
nacionais.
Princípio da previsibilidade: as regras e o acesso ao mercado internacional devem ser do conhecimento de
todos.
Princípio da concorrência leal: tem por finalidade afastar a concorrência desleal no comércio internacional,
através do combate aos subsídios à produção de bens para exportação ou de políticas antidumping.
Princípio da proibição de restrições quantitativas: impede que os países imponham cotas, por exemplo.
Os países protecionistas apenas poderão recorrer à direitos aduaneiros/ tarifários.
Princípio do tratamento especial ou diferenciado para países em desenvolvimento: a situação de
fragilidade destes países admite que estes gozem de benefícios no comércio com os países desenvolvidos,
como vantagens aduaneiras.

As relações económicas de Portugal com a União Europeia e com o Resto do Mundo

Criação de comércio: verifica-se quando o comércio vem substituir uma produção interna, havendo assim um
aumento do mesmo em resultado da abolição de tarifas aduaneiras (imposto sobre mercadorias importadas).
Desvio de comércio: verifica-se quando os fluxos de comércio se deslocam de determinados países para
outros em resultado da abolição de tarifas aduaneiras.

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