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Comércio internacional – políticas

aduaneiras e fiscalidade

UFCD_11010

25 horas
Comércio internacional – políticas aduaneiras e fiscalidade UFCD 11010

Índice

Objetivos e conteúdos .................................................................................................................................................................. 3

Comércio intracomunitário e extracomunitário de mercadorias .............................................................................. 4

Acordos de integração .................................................................................................................................................................. 4

Mercado único .............................................................................................................................................................................. 18

União aduaneira ........................................................................................................................................................................... 21

Política aduaneira e comercial comum .............................................................................................................................. 23

Origem das mercadorias .......................................................................................................................................................... 25

Certificação da origem, verificação e prova...................................................................................................................... 25

Classificação pautal das mercadorias ................................................................................................................................. 32

Regimes aduaneiros ................................................................................................................................................................... 37

Procedimentos, formalidades e práticas vigentes ......................................................................................................... 37

Fiscalidade – regimes com benefícios ficais, tributação das mercadorias, divida aduaneira e fiscal....... 42

Garantias e contencioso fiscal ................................................................................................................................................ 42

Bibliografia e netgrafia.............................................................................................................................................................. 44

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Objetivos e conteúdos
Objetivos:

Identificar as políticas aduaneiras e os regimes mais favoráveis.

Identificar as regras internacionais do âmbito das operações aduaneiras.

Identificar os regimes fiscais, otimizando as prorrogativas mais favoráveis.

Conteúdos:

Comércio intracomunitário e extracomunitário de mercadorias


➢ Acordos de integração
➢ Mercado único
➢ União aduaneira
➢ Política aduaneira e comercial comum

Origem das mercadorias


➢ Certificação da origem, verificação e prova

Classificação pautal das mercadorias


Regimes aduaneiros
➢ Procedimentos, formalidades e práticas vigentes
Fiscalidade – regimes com benefícios ficais, tributação das mercadorias, divida
aduaneira e fiscal
➢ Garantias e contencioso fiscal

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Comércio intracomunitário e extracomunitário de


mercadoriasTeorias das troas internacionais

Acordos de integração

A liberalização do comércio é reconhecida como fundamental para gerar mais crescimento


económico e mais e melhores empregos. Por essa razão, a UE tem vindo a negociar acordos
de comércio livre (ACL), que se traduzem em vantagens competitivas para as empresas
europeias, eliminando as barreiras existentes à entrada nos mercados dos países parceiros.

Nos últimos anos, esses ACL têm ido além do acesso ao mercado de mercadorias,
estabelecendo compromissos numa variedade de outros temas. São denominados ACL de
“nova geração” e incluem, por exemplo: barreiras não-pautais, regras de origem, serviços e
estabelecimento, contratos públicos, medidas sanitárias e fitossanitárias, direitos de
propriedade intelectual (incluindo indicações geográficas), cooperação regulamentar,
desenvolvimento sustentável, energia e matérias-primas, alfândegas e facilitação do comércio,
PME, proteção de investimento, concorrência, ou resolução de litígios.

Acordo de Comércio Livre UE-República da Coreia:

Desde 2011, o acordo comercial UE-Coreia do Sul eliminou os direitos aduaneiros sobre quase
todos os produtos (98,7 %), incluindo os produtos da pesca e os produtos agrícolas. Suprimiu
igualmente as barreiras não pautais às exportações de produtos essenciais da UE para a
Coreia do Sul, como os automóveis, os produtos farmacêuticos, a eletrónica e os produtos
químicos. Não menos importante, os mercados de serviços tanto na UE como na Coreia do Sul
abriram-se em grande medida às empresas e aos investidores uns dos outros.

O acordo

➢ elimina os direitos aduaneiros e outros obstáculos ao comércio e facilita às empresas


de ambas as partes a exportação e a importação;

➢ simplifica a burocracia e simplifica a regulamentação técnica, os procedimentos


aduaneiros, as regras de origem e os requisitos de ensaio dos produtos;

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➢ impulsiona os serviços comerciais em setores-chave como as telecomunicações, os


serviços ambientais, o transporte marítimo e os serviços financeiros e jurídicos;

➢ melhora a proteção dos direitos de propriedade intelectual na Coreia do Sul e


reconhece uma grande variedade de indicações geográficas para produtos alimentares
europeus de elevada qualidade no mercado coreano;

➢ permite à sua empresa concorrer a concursos públicos na Coreia do Sul

➢ oferece uma melhor proteção aos seus investimentos bilaterais

Factos rápidos sobre o comércio entre a UE e a Coreia do Sul

A Coreia do Sul é o oitavo maior destino de exportação de mercadorias da UE e a UE é o


terceiro maior mercado de exportação da Coreia do Sul

as exportações mais significativas de produtos da UE para a Coreia do Sul são


máquinas e aparelhos, equipamento de transporte e produtos químicos

a UE tem um comércio significativo de serviços com a Coreia do Sul

a UE é o maior investidor direto estrangeiro da Coreia do Sul

Quem pode exportar da UE ao abrigo do acordo de comércio livre UE-Coreia do Sul?

Se a empresa estiver registada num Estado-Membro da UE e tiver adquirido uma declaração


aduaneira válida — e, se necessário, uma licença de exportação — pode exportar ao abrigo do
presente acordo.

Tarifas:

O acordo de comércio livre entre a UE e a Coreia do Sul elimina 98,7 % dos direitos
aduaneiros sobre o comércio de mercadorias.

Eis algumas das vantagens para os exportadores da UE

➢ as máquinas e aparelhos beneficiam da maior poupança de impostos, com ganhos


próximos de 450 milhões de EUR

➢ o setor químico é o segundo maior beneficiário, com uma poupança de direitos de 175
milhões de EUR

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➢ quase todas as exportações agrícolas da UE, como a carne de porco, o vinho e o


whiskey, beneficiam de acesso isento de direitos ao mercado sul-coreano e existem
importantes contingentes com isenção de direitos para produtos como o queijo.

Acordo Económico e Comercial Global entre a UE e o Canadá (CETA):

O pilar comercial do Acordo de Associação UE-América Central tem sido aplicado a título
provisório desde 1 de agosto de 2013 com as Honduras, a Nicarágua e o Panamá, desde 1 de
outubro de 2013 com a Costa Rica e Salvador e desde 1 de dezembro de 2013 com a
Guatemala. Reduz os direitos aduaneiros e aumenta a eficiência dos procedimentos
aduaneiros.

O acordo em síntese

Os seis países da América Central que são Partes no presente Acordo são:

➢ Costa Rica

➢ Salvador

➢ Guatemala

➢ Honduras

➢ Nicarágua

➢ Panamá

Quais são os benefícios para as empresas?

Acordo de Associação UE-América Central:

➢ torna mais fácil e mais barato para os operadores da UE importar e exportar para a
América Central

➢ elimina a maior parte dos direitos de importação e melhora o acesso aos mercados de
contratos públicos e de investimento.

➢ cria um ambiente mais previsível para o comércio na América Central, com um


mecanismo de mediação para barreiras não pautais e um mecanismo bilateral de
resolução de litígios

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Relações comerciais entre a UE e a América Central

A UE e a América Central mantêm relações estreitas e abrangentes há muito tempo.


Enquanto exportador ou importador da UE, pode tirar partido da relação entre as duas
regiões para beneficiar a sua empresa.

As importações mais significativas da América Central são géneros alimentícios como a fruta
(por exemplo, bananas, ananases), açúcar, gorduras e óleos animais ou vegetais
(principalmente óleo de palma), bebidas à base de café e instrumentos médicos.

Em termos de exportações da UE para a América Central, grupos significativos de


produtos incluem produtos farmacêuticos, máquinas e aparelhos, bem como equipamento
de transporte.

Tarifas

➢ Produtos industriais e pescas

Sabia que o Acordo de Associação elimina, em grande medida, quase todos os direitos
aduaneiros sobre produtos manufaturados e pescas?

➢ aquando da entrada em vigor do acordo, a UE suprimiu 99 % das suas posições pautais


relacionadas com produtos industriais e pescas.

➢ A América Central acordou em conceder acesso isento de direitos a todos os produtos


industriais e pescas até 2025

Produtos agrícolas

O ACL UE-América Central eliminou a maior parte dos direitos aduaneiros sobre os produtos
agrícolas, deixando apenas os direitos aduaneiros sobre as «zonas sensíveis». Por isso

➢ a UE acordou em suprimir os direitos aduaneiros aplicáveis a 73 % das suas posições


pautais agrícolas, que correspondem a cerca de 64 % das importações agrícolas provenientes
da América Central. Entre as mercadorias que podem entrar na UE com isenção de direitos
contam-se o café, o camarão, o ananás e os melões. Produtos essenciais como o açúcar e o rum
também podem entrar na UE no âmbito de contingentes isentos de direitos.

➢ A América Central suprimiu os direitos aduaneiros sobre 67 % das suas posições


pautais agrícolas, abrangendo cerca de 62 % das importações agrícolas provenientes da UE.

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Por exemplo, as importações de uísques europeus para países da América Central que são
partes no acordo foram completamente liberalizadas.

O meu produto é «originário» na aceção do Acordo de Associação UE-América Central?

➢ Para que o seu produto possa beneficiar do direito preferencial inferior ou nulo ao
abrigo do Acordo de Associação UE-América Central, deve ser originário da UE ou da América
Central.

Acordo de Parceria Económica UE-Japão:

O Acordo de Parceria Económica UE-Japão entrou em vigor em 1 de fevereiro de 2019. As


empresas da UE já exportam anualmente mais de 58 mil milhões de EUR em bens e 28 mil
milhões de EUR em serviços para o Japão. O Acordo de Parceria Económica UE-Japão reduz
os obstáculos ao comércio que as empresas europeias enfrentam quando exportam para o
Japão e ajuda-as a competir melhor neste mercado.

O acordo em síntese

O Acordo de Parceria Económica UE-Japão entrou em vigor em 1 de fevereiro de 2019.

Quais são os benefícios para a sua empresa?

Acordo comercial com o Japão

➢ elimina os direitos aduaneiros e outros obstáculos ao comércio e facilita às empresas


de ambas as partes a importação e a exportação

➢ assegura a abertura dos mercados de serviços, em especial dos serviços financeiros,


das telecomunicações e dos transportes

➢ garante um tratamento não discriminatório das empresas da UE que operam nos


mercados de contratos públicos

➢ melhora a proteção dos direitos de propriedade intelectual no Japão, bem como a


proteção dos produtos agrícolas europeus de elevada qualidade, as chamadas indicações
geográficas (IG)

➢ poupar às empresas de ambas as partes montantes substanciais de dinheiro e tempo


na comercialização bilateral de bens

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prevê um maior apoio às empresas de menor dimensão que são desproporcionadamente


afetadas por obstáculos ao comércio

Tarifas

O acordo elimina a grande maioria dos direitos pagos pelas empresas europeias e
japonesas.

Com a sua entrada em vigor, o acordo eliminou 99 % das posições pautais da UE e 97 % das
posições pautais do Japão. Em relação aos direitos aduaneiros ainda não eliminados, foram
acordados contingentes pautais ou reduções pautais.

Para verificar os direitos aduaneiros aplicáveis ao seu produto, deve conhecer o código do
produto, que se baseia no código HS2017 do Sistema Harmonizado (SH), tanto para os
códigos europeus como japoneses.

O acordo abre o mercado japonês às exportações agrícolas da UE, por exemplo

➢ os direitos sobre muitos queijos, como o Gouda e o Cheddar, serão eliminados ao longo
do tempo.

➢ é estabelecido um contingente com isenção de direitos para os queijos frescos (como


Mozzarella e Feta)

➢ os direitos aduaneiros sobre as exportações de vinho desapareceram com a entrada em


vigor

➢ no que diz respeito à carne de bovino, os exportadores da UE beneficiarão de direitos


aduaneiros reduzidos

➢ no que diz respeito à carne de suíno, os direitos sobre as exportações de carne fresca
para o Japão continuam a ser baixos e o acordo eliminou totalmente os direitos sobre a carne
transformada.

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Acordos de comércio e de investimento UE-Singapura

O acordo elimina os direitos aduaneiros e a burocracia que as empresas europeias enfrentam


quando exportam para Singapura. Além disso, elimina outros obstáculos ao comércio e
melhora o comércio de bens essenciais, como a eletrónica, os produtos alimentares e os
produtos farmacêuticos. O acordo abre igualmente o mercado de Singapura às exportações de
serviços da UE, por exemplo, no setor dos transportes e das telecomunicações.

O acordo em síntese

O Acordo de Comércio Livre UE-Singapura (EUSFTA) entrou em vigor em 21 de novembro


de 2019.

A UE e Singapura assinaram igualmente um Acordo de Proteção dos Investimentos (EUSIPA).


Entrará em vigor após a sua ratificação por todos os Estados-Membros da UE, de acordo
com os seus próprios procedimentos nacionais.

O EUSFTA traz benefícios significativos para as empresas, nomeadamente

➢ maior acesso ao mercado para as empresas da UE em Singapura e vice-versa

➢ regras técnicas menos onerosas

➢ eliminação da duplicação de ensaios para determinados produtos

➢ procedimentos aduaneiros e regras de origem que facilitam o comércio

➢ proteção dos direitos de propriedade intelectual, incluindo as indicações geográficas


(IG) — produtos alimentares e bebidas regionais especiais, como o presunto de Parma
e o whiskey irlandês

➢ novas oportunidades nos serviços ambientais e nos concursos públicos ecológicos

➢ eliminação dos obstáculos ao comércio e ao investimento em tecnologias verdes

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De que forma irá o acordo comercial beneficiar as comunidades agrícolas da UE?

Antes do acordo comercial, Singapura tinha direitos nulos sobre as importações de todos
os produtos agroalimentares, com exceção da cerveja. Aquando da entrada em vigor do
acordo, Singapura eliminou igualmente todos os seus direitos aduaneiros remanescentes
sobre a cerveja, a saída e o samsu.

O acordo reconhece e protege as indicações geográficas de vinhos, bebidas espirituosas,


produtos agrícolas e géneros alimentícios originários dos territórios da UE ou de Singapura.

Além disso, as medidas previstas no âmbito da parte sanitária e fitossanitária do acordo visam
proteger a vida e a saúde das pessoas, dos animais e das plantas. Essas medidas referem-se
ao reconhecimento de zonas com pragas ou doenças baixas/indemnes e asseguram a
transparência e o intercâmbio de informações, bem como a prevenção de obstáculos ao
comércio.

Singapura tem muito poucos terrenos agrícolas, pelo que satisfaz as suas necessidades
alimentares com importações.

A sua produção agrícola é de pequena escala e está limitada a

• flores

• alguns frutos (principalmente durianos e rambutanos)

• ovos

• produtos hortícolas

• aves de capoeira

• carne de suíno

Em 2019, a UE-27 exportou 1,9 mil milhões de EUR de produtos agroalimentares para
Singapura, mais do dobro 10 anos antes. Atualmente, Singapura é o 5.º maior mercado de
exportação agroalimentar da UE na Ásia e o seu 18.º a nível mundial.

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Tarifas

Para as exportações para Singapura

Antes do acordo, quase todas as mercadorias originárias da UE já podiam entrar em Singapura


com isenção de direitos aduaneiros. Desde a entrada em vigor do acordo, Singapura é
obrigado a aplicar o acesso com isenção de direitos a todas as mercadorias originárias da UE,
incluindo as que anteriormente estavam sujeitas a direitos aduaneiros (como a cerveja e a
venda).

Para as importações para a UE

A partir de 21 de novembro de 2019, cerca de 84 % das importações de Singapura para a UE


entram com isenção de direitos.

Exemplos de setores que beneficiam da eliminação imediata dos direitos aduaneiros:

• produtos eletrónicos

• produtos farmacêuticos

• a maioria dos produtos petroquímicos (certos direitos aduaneiros sobre os produtos


petroquímicos só serão gradualmente eliminados após 3 anos)

• produtos agrícolas transformados (exceto frutose quimicamente pura e milho doce)

Quase todos os restantes direitos aduaneiros aplicáveis às mercadorias singapurenses que


entram na UE serão progressivamente eliminados antes de novembro de 2024.

A UE continuará a aplicar direitos aduaneiros a alguns produtos mesmo após o termo do


período de eliminação progressiva, nomeadamente a alguns produtos da pesca (Tilapia,
gaiado) e à agricultura transformada, bem como à frutose quimicamente pura e ao milho doce.

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Acordos de comércio e de investimento UE-Vietname

O Acordo de Comércio Livre UE-Vietname entrou em vigor em 1 de agosto de 2020.

O acordo comercial

➢ elimina os direitos aduaneiros, a burocracia e outros obstáculos que as empresas


europeias enfrentam quando exportam para o Vietname

➢ facilita o comércio de bens essenciais, como a eletrónica, os produtos alimentares e os


produtos farmacêuticos

➢ abre o mercado do Vietname às exportações de serviços da UE, por exemplo nos


setores dos transportes e das telecomunicações.

Uma vez em vigor, o acordo de investimento

➢ continuar a melhorar o clima de investimento

➢ oferecer mais segurança aos investidores europeus e vietnamitas.

O acordo comercial beneficia as empresas:

➢ eliminar 99 % de todos os direitos aduaneiros e eliminar parcialmente os restantes


1 % através de contingentes limitados com direitos nulos;

➢ reduzir os obstáculos regulamentares e sobrecarregar a burocracia

➢ proteção dos direitos de propriedade intelectual, incluindo indicações geográficas


concedidas a produtos alimentares e bebidas regionais especiais, como o Cognac, os
vinhos Rioja ou o queijo Feta

➢ abertura dos mercados de serviços e de contratos públicos

➢ assegurar a aplicação das regras acordadas.

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No dia em que o acordo entrou em vigor, o Vietname suprimiu 65 % dos seus direitos
sobre as mercadorias da UE. Eliminará gradualmente os restantes até 2030.

A UE suprimirá progressivamente os seus direitos sobre as importações provenientes do


Vietname até 2027.

Esta abordagem assimétrica tem em conta o facto de o Vietname ser um país em


desenvolvimento.

O acordo comercial elimina os direitos aduaneiros sobre uma série de produtos de


exportação fundamentais da UE

➢ a maioria das máquinas e aparelhos já não tem de pagar direitos de importação


vietnamitas até 35 % — o restante deixará de o fazer até agosto de 2025

➢ os motociclos com motores de cilindrada superior a 150 cc terão direitos de


importação vietnamitas de 75 % gradualmente eliminados até agosto de 2027.

➢ a maioria dos automóveis registará a supressão gradual dos direitos de importação


vietnamitas de 78 % até agosto de 2030.

➢ as peças automóveis implicarão a supressão gradual dos direitos de importação


vietnamitas até 32 % até agosto de 2027.

➢ cerca de metade dos produtos farmacêuticos da UE já não tem de pagar direitos de


importação vietnamitas até 8 % — o restante deixará de o fazer até agosto de 2027, as
exportações de têxteis da UE já não têm de pagar direitos de importação vietnamitas
de 12 %.

➢ quase 70 % das exportações de produtos químicos da UE já não têm de pagar direitos


de importação vietnamitas até 5 % — o restante poderá ficar isento de direitos
aduaneiros até 25 % após três, cinco ou sete anos.

Para além da eliminação dos direitos aduaneiros, o Vietname concordou igualmente em:

➢ eliminar os direitos de exportação em vigor sobre as suas exportações para a UE

➢ não aumentar os poucos direitos que permanecerão.

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Tarifas

Para exportações para o Vietname

Antes do acordo comercial, o Vietname aplicou direitos de importação até 50 % sobre as


exportações da UE de produtos agroalimentares e até 78 % sobre produtos industriais,
como automóveis e maquinaria. Nos termos do acordo comercial, o Vietname está
juridicamente obrigado a reduzir progressivamente os seus direitos aduaneiros no prazo de
três e 10 anos após agosto de 2020.

Considera-se que um produto é originário da UE ou do Vietname se

➢ inteiramente obtidos na UE ou no Vietname

➢ produzidos exclusivamente a partir de matérias originárias da UE ou do Vietname, ou

➢ produzidas na UE ou no Vietname utilizando matérias não originárias, desde que essas


matérias tenham sido submetidas a operações de complemento de fabrico ou de
transformação suficientes, cumprindo as regras específicas do produto estabelecidas no
anexo II. Ver anexo I «Notas introdutórias» às regras de origem específicas por produto. O
produto tem igualmente de cumprir todos os outros requisitos aplicáveis especificados no
capítulo, por exemplo, operações de complemento de fabrico ou de transformação
insuficientes ou a regra de não alteração. Existem também algumas flexibilidades adicionais
que ajudam a cumprir as regras específicas dos produtos, por exemplo, tolerâncias ou
acumulação.

O produto tem igualmente de cumprir todos os outros requisitos aplicáveis


especificados no capítulo (por exemplo, operações de complemento de fabrico ou de
transformação insuficientes, regra de não alteração). Flexibilidades adicionais ajudam a
cumprir as regras específicas do produto (por exemplo, tolerâncias ou acumulação).

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Acordo de Comércio e Cooperação UE-Reino Unido

A UE e o Reino Unido chegaram a acordo sobre o Acordo de Comércio e Cooperação UE-


Reino Unido, que é aplicável a título provisório a partir de 1 de janeiro de 2021 e entrou em
vigor em 1 de maio de 2021.

O Acordo de Comércio e Cooperação abrange não só o comércio de bens, serviços,


investimento, contratos públicos e DPI, mas também uma vasta gama de outros domínios
fundamentais de interesse da UE, como os transportes aéreos e rodoviários, a energia e a
sustentabilidade, as pescas e a coordenação da segurança social. As regras em matéria de
comércio e investimento assentam em compromissos abrangentes em matéria de condições
de concorrência equitativas e desenvolvimento sustentável.

O acordo prevê direitos aduaneiros nulos e contingentes pautais com isenção de direitos
para todas as mercadorias que cumpram as regras de origem adequadas.

➢ Permite que os investidores da UE estabeleçam as suas empresas no território do


Reino Unido e as explorem livremente na maioria dos setores.

➢ Proporciona acesso ao mercado para além do acordado com o Japão, por exemplo, e
inclui disposições regulamentares para muitos dos principais setores de serviços.

➢ Garante que as empresas da UE já estabelecidas no Reino Unido não serão


discriminadas nos procedimentos de contratação pública.

➢ Garante direitos de sequência aos artistas da UE, que não são abrangidos pelas
convenções internacionais em matéria de DPI.

➢ Assegura o comércio e a concorrência sem distorções para as empresas da UE nos


setores da energia e das matérias-primas e para a indústria em geral.

➢ Contém um capítulo sobre as PME destinado a promover a participação das PME no


acordo.

➢ Ambas as partes se comprometeram a assegurar condições de concorrência equitativas


sólidas, mantendo elevados níveis de proteção em domínios como:

o proteção do ambiente;

o a luta contra as alterações climáticas e a fixação do preço do carbono;

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o direitos sociais e laborais;

o transparência fiscal e auxílios estatais;

o com uma aplicação efetiva a nível nacional, um mecanismo vinculativo de


resolução de litígios e a possibilidade de ambas as partes tomarem medidas
corretivas.

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Mercado único

O que significa mercado único?

A UE tem por objetivo garantir que os seus cidadãos podem estudar, viver, fazer compras,
trabalhar ou reformar-se em qualquer Estado-Membro, bem como beneficiar de produtos de
toda a Europa. Para tal, assegura a livre circulação de bens, serviços, capitais e pessoas no
mercado único europeu. Ao suprimir entraves técnicos, jurídicos e burocráticos, a UE
permite ainda aos cidadãos desenvolver atividades comerciais e empresarias livremente.

Um dos objetivos do Mercado único consistiu em fomentar a concorrência dentro da União,


tomando simultaneamente em consideração os interesses públicos e os interesses dos
consumidores.
Para os mais altos responsáveis das instituições europeias, a União Económica e Monetária
(UEM) e a criação da moeda única surgem como o seguimento natural da criação do Mercado
Único, na medida em que lhe deverão permitir funcionar com a máxima eficácia.

O que consiste o mercado Unico Europeu?

Criado em 1993, o mercado único da UE é uma das maiores conquistas da União Europeia:
garante que mercadorias, serviços, capitais e pessoas possam circular livremente pelo
território da UE, ou seja, as "quatro liberdades fundamentais".

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O que significa um mercado comum?

Mercado Comum é um acordo formal entre países, pelo qual forma-se um grupo em que
todos os membros adotam uma mesma tarifa, aplicável ao comércio exterior entre eles. Em
um mercado comum, incentiva-se o livre comércio de bens e serviços, além da livre
circulação de pessoas e capital entre as fronteiras.

Benefícios

As empresas da UE beneficiam de

➢ um «mercado doméstico» de mais de 450 milhões de consumidores para os seus


produtos

➢ acesso mais fácil a uma vasta gama de fornecedores

➢ custos unitários mais baixos

➢ maiores oportunidades comerciais

Os cidadãos da UE beneficiam de

➢ preços mais baixos

➢ mais inovação e desenvolvimento tecnológico mais rápido

➢ normas mais elevadas de segurança e proteção do ambiente

Legislação

A legislação relativa ao mercado único de bens visa garantir que os produtos colocados no
mercado da UE cumprem elevados requisitos em matéria de saúde, segurança e ambiente e
que os produtos autorizados a ser vendidos na UE podem circular sem entraves ao
comércio, reduzindo ao mínimo os encargos administrativos.

Livre circulação

Muitos produtos no mercado da UE estão sujeitos a regras harmonizadas que protegem os


consumidores, a saúde pública e o ambiente. As regras harmonizadas impedem a adoção de
regras nacionais eventualmente divergentes e asseguram a livre circulação de produtos na
UE. No entanto, alguns setores continuam a ser regidos por disposições nacionais. O princípio

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da livre circulação de mercadorias garante que estas disposições não criam obstáculos
injustificados ao comércio.

União aduaneira

As uniões aduaneiras são grupos de países que aplicam um sistema comum de


procedimentos, regras e direitos aduaneiros para a totalidade ou a quase totalidade das suas
importações, exportações e mercadorias em trânsito. Normalmente, os países que participam
nas uniões aduaneiras partilham políticas comuns de comércio e concorrência.

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A união aduaneira é um acordo internacional entre países com o objetivo de contribuir com
o crescimento económico através do estímulo às trocas de produtos entre os países membros.

Os direitos sobre as mercadorias provenientes de fora da união aduaneira são pagos uma
vez aquando da primeira entrada das mercadorias. Em seguida, nada mais há a pagar e as
mercadorias circulam livremente no interior da união aduaneira.

Numa união aduaneira

Existe uma pauta externa única para todas as mercadorias e serviços importados de
fora da união aduaneira para qualquer dos seus países membros.

As mercadorias circulam livremente entre duas partes da união aduaneira


(inteiramente produzidas na União ou colocadas em livre prática após terem sido importadas
de países terceiros) sem direitos aduaneiros nas fronteiras internas.

A política comercial e a legislação aduaneira estão alinhadas e os países partilham


normas comuns em vários domínios, como a propriedade intelectual, a concorrência, a
fiscalidade, etc.

Quais são as uniões aduaneiras no mundo?

• Comunidade Andina (CAN)

• Comunidade das Caraíbas (CARICOM)

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• Mercado Comum Centro-Americano (CACM)

• Comunidade da África Oriental (EAC)

• Comunidade Económica e Monetária da África Central (CEMAC)

• União Aduaneira Eurasiática (EACU)

• União Aduaneira da União Europeia (EUCU)

• União Aduaneira UE-Andorra

• União Aduaneira UE-São Marinho

• União Aduaneira UE-Türkiye

• Conselho de Cooperação do Golfo (CCG)

• Autoridade israelo-palestiniana

• Mercado Comum Meridional (MERCOSUL)

• União Aduaneira da África Austral (SACU)

• Suíça e Listenstaine (CH-FL)

• União Económica e Monetária da África Ocidental (UEMAO/WAEMU)

A vantagem da união aduaneira é que os países adotam a Tarifa Externa Comum (TEC) e a
livre circulação de mercadorias. Sendo assim, a comercialização entre os países membros é
incentivada.

Por outro lado, a desvantagem é que as regras da união aduaneira podem ser limitantes,
caso um dos países membros deseje estabelecer novas alianças comerciais com países que
não fazem parte da união aduaneira.

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Política aduaneira e comercial comum

O comércio de bens e serviços contribui significativamente para potenciar o crescimento


sustentável e criar empregos. Mais de 30 milhões de empregos na UE dependem das
exportações para fora da União. Prevê-se que 90 % do crescimento mundial futuro se
verifique fora das fronteiras da Europa. Consequentemente, o comércio é um vetor de
crescimento e uma prioridade fundamental para a UE.

O Conselho está empenhado num sistema de comércio multilateral forte e assente em


regras. Uma política comercial responsável a nível da UE comporta um elevado nível de

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transparência e uma comunicação eficaz com os cidadãos sobre as vantagens e os


desafios do comércio e dos mercados abertos.

A política comercial é uma competência exclusiva da UE, o que significa que é a UE, e não
os Estados-Membros, que legisla em matéria comercial e que celebra acordos comerciais
internacionais. Se o acordo abranger temas de responsabilidade mista, o Conselho só o pode
celebrar depois de ratificado por todos os Estados-Membros.

Agindo em conjunto, a uma só voz na cena mundial, em vez de seguir múltiplas estratégias
comerciais isoladas, a UE assume uma posição de força no comércio mundial.

A UE gere as relações comerciais com os países terceiros através de acordos comerciais,


que são concebidos para criar melhores oportunidades de comércio e superar as barreiras
comerciais.

A UE quer garantir que os produtos importados sejam vendidos a preços justos e


equitativos na UE – independentemente da sua proveniência. A regulamentação comercial,
sob a forma de instrumentos de defesa comercial, serve para proteger os produtores da UE
contra prejuízos e combater a concorrência desleal praticada por empresas estrangeiras,
nomeadamente o dumping e as subvenções.

Origem das mercadorias

Certificação da origem, verificação e prova

Regras de origem — porquê?

As regras de origem são uma parte essencial dos acordos comerciais da UE. Uma vez que os
acordos aplicam frequentemente tarifas mais baixas a mercadorias provenientes de países
parceiros, é essencial conhecer a origem do produto.

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As regras de origem determinam em que país um produto foi adquirido ou fabricado — a sua
«nacionalidade económica» — e contribui para assegurar que as autoridades aduaneiras
apliquem corretamente os direitos mais baixos, de modo a que as empresas beneficiem delas.

Para poder beneficiar de uma tarifa inferior ao abrigo de um acordo comercial da UE, o seu
produto deve respeitar as regras de origem específicas do acordo.

As regras de origem do acordo comercial podem, à primeira vista, ter um olhar assustador,
mas, depois de compreender as noções de base, é fácil.

Três medidas para pagar direitos aduaneiros mais baixos:

Ver se o produto é elegível

Como saber se o produto é elegível para direitos aduaneiros mais baixos

Cada acordo comercial estabelece regras de origem específicas para cada produto.

Pode encontrar as regras em Os meus assistentes comerciais.

Rosa — as Normas R de O rigor S — Uma ferramenta de avaliação — irá ajudá-lo a descobrir


se o seu produto é elegível.

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O seu produto está em conformidade com as regras específicas aplicáveis aos


produtos?

Em primeiro lugar, determinar se o produto é inteiramente obtido no país em causa. Se


assim for, poderá beneficiar de direitos aduaneiros mais baixos. O facto de ser inteiramente
obtido é sobretudo relevante para os animais vivos e os produtos agrícolas.

Se o produto não for inteiramente obtido no país em causa, terá de cumprir outras regras
específicas por produto. Se existirem regras alternativas, o seu produto só precisa de cumprir
um deles.

Regra geral, estas regras

• Especificar os critérios para a produção ou transformação suficientes no caso de o


produto ser fabricado a partir de matérias não originárias

ou

• definir que produtos podem ser considerados elegíveis se fabricados exclusivamente a


partir de matérias originárias

Exemplos de regras específicas aplicáveis a produtos específicos

➢ regra do valor acrescentado — o valor de todas as matérias não originárias


utilizadas não pode exceder uma determinada percentagem do preço do produto à
saída da fábrica

➢ alteração da classificação pautal — o processo de produção resulta numa alteração


da classificação pautal entre as matérias não originárias e o produto final. Por exemplo,
produção de papel a partir de pasta não originária.

➢ operações específicas — é necessário um processo de produção específico. Por


exemplo, fibras de fiação para fibras em fios. Essas regras são, na sua maioria,
utilizadas nos setores têxtil e do vestuário e químico.

Dicas para o ajudar a cumprir as regras específicas dos produtos

Se o produto não cumprir diretamente as regras específicas aplicáveis aos produtos, um


conjunto adicional de regras pode ainda ajudar o produto a obter a qualidade de produto
originário.

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A flexibilidade adicional diz principalmente respeito à tolerância e à acumulação. O


acordo comercial pode igualmente conter determinadas derrogações.

Tolerância

• a regra de tolerância permite a utilização de matérias não originárias normalmente


proibidas pela regra dos produtos até uma determinada percentagem — geralmente
10 % ou 15 % — do preço à saída da fábrica do produto

• não é possível utilizar esta tolerância para exceder o limiar de valor do máximo das
matérias não originárias indicadas nas regras específicas dos produtos

Cumulação

• a acumulação permite considerar como sendo originário do seu país ou realizado no


seu país

• quaisquer matérias não originárias utilizadas

ou

• tratamento noutro país

Existem três tipos principais de acumulação

• Acumulação bilateral (dois parceiros) — as matérias originárias do país parceiro


podem ser utilizadas como matérias originárias do seu país (e vice-versa). Esta
acumulação aplica-se a todos os regimes preferenciais da UE

• Acumulação diagonal (mais de dois parceiros que aplicam regras de origem


idênticas) — matérias originárias de um país terceiro definido (mencionadas na
disposição relevante relativa à acumulação) podem ser utilizadas como matérias
originárias do seu país

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• a acumulação total — processos realizados em qualquer país da UE ou em qualquer


outro país definido (mencionado na disposição relevante relativa à acumulação) pode
ser considerada como efetuada no seu país

Derrogações

• podem também ser aplicadas derrogações especiais — verificar o acordo comercial

Se o produto cumprir todas as regras, terá de ponderar uma série de requisitos adicionais.

O produto cumpre igualmente todos os outros requisitos aplicáveis?

O produto tem de cumprir todos os outros requisitos aplicáveis, tais como operações mínimas
(operações de complemento de fabrico ou de transformação suficientes) e regras relativas ao
transporte direto.

Operações mínimas — operações de complemento de fabrico ou de transformação


suficientes

• deve verificar se as operações de complemento de fabrico ou de transformação


efetuadas no seu país vão além das operações mínimas exigidas

• as operações mínimas são enumeradas nas regras de origem do acordo comercial.


Podem incluir operações como:

o embalagem

o simples corte

o montagem simples

o mistura simples

o passagem a ferro ou prensagem de têxteis

o operações de pintura ou de polimento

• se a produção realizada no seu país for uma das enumeradas e nada tiver sido aí
estabelecida, ou seja, se a produção não tiver sido produzida ou transformada, o
produto não pode ser considerado originário, mesmo que as regras de origem
específicas por produto estivessem satisfeitas

Regra de transporte direto ou transporte através de um país terceiro


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• mesmo que o seu produto conta como «originário», terá ainda de assegurar que o
produto foi expedido do país de exportação e chegou ao país de destino sem ser
manipulado em qualquer outro país, com exceção das operações necessárias para
manter o produto em boas condições.

• cada acordo comercial estabelece as condições específicas

• normalmente, o transbordo ou o armazenamento temporário num país terceiro é


autorizado se os produtos permanecerem sob vigilância das autoridades aduaneiras e
não forem objeto de operações que não sejam

o descarga

o recarregamento

o qualquer operação destinada a assegurar a sua conservação no seu estado


inalterado

• queira notar que terá de provar às autoridades aduaneiras do país de importação que o
seu produto foi transportado diretamente

Se o seu produto é «originário»

Quando sabe que o seu produto é elegível para direitos aduaneiros mais baixos (o seu produto
é considerado «originário»), o próximo passo consiste em provar o caráter originário às
autoridades aduaneiras do país de destino. Só assim poderá pagar direitos aduaneiros
mais baixos.

Provar a origem do produto

Cada acordo comercial estabelece regras específicas em matéria de procedimentos de origem.


Pode consultar a secção dos mercados ou os resultados da pesquisa do meu assistente
comercial. As regras especificam como pode provar a origem do produto.

Prova de origem

Existem diferentes tipos de prova de origem em função do acordo comercial.Geralmente,


podem ser:

• Um certificado de origem oficial emitido pelas autoridades aduaneiras do país de


exportação (como o «certificado de circulação EUR.1»).

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• uma autodeclaração pelo exportador (frequentemente referida como uma


«declaração de origem» ou «declaração na fatura»)

Para os certificados de origem oficial, o acordo comercial

• inclui um exemplo

• dá instruções sobre a forma de o concluir

Para as autodeclarações, o acordo comercial

➢ indica o texto a incluir na fatura ou noutros documentos que identifiquem os produtos

➢ A prova de origem é válida para um número especificado de meses a contar da data de


emissão.
➢ Normalmente, não é exigida qualquer prova de origem para os produtos de baixo valor.
➢ Os exportadores que solicitem um certificado de origem devem estar preparados para
apresentar documentos comprovativos do caráter originário dos produtos em causa.
➢ Para poder autodeclarar a origem, o exportador deve normalmente ser previamente
autorizado pelas autoridades aduaneiras com o estatuto de «exportador autorizado».

Apresente os produtos e documentos para o desalfandegamento

Depois de possuir todos os documentos necessários para o desalfandegamento, incluindo a


prova de origem correta do produto, está pronto a apresentar o seu pedido de pagamento de
direitos aduaneiros mais baixos às autoridades aduaneiras do país de destino.

As regras de origem de cada acordo comercial descrevem a forma como as autoridades


aduaneiras podem verificar a origem do produto.

Verificação da origem

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As autoridades aduaneiras podem verificar se um produto importado é efetivamente


originário ou se cumpre outros requisitos de origem. A verificação baseia-se geralmente nos
seguintes elementos:

• cooperação administrativa entre as autoridades aduaneiras do país de importação e o


país de exportação

• controlos efetuados pelas autoridades aduaneiras locais

O que acontece se o seu produto não cumprir os requisitos?

Se o produto não cumprir as regras de origem do acordo comercial, serão aplicáveis os


direitos aduaneiros normais.

• para os países membros da Organização Mundial do Comércio, serão aplicáveis os


direitos de nação mais favorecida (taxas do direito NMF).

• para os outros países, será aplicável a taxa geral (taxas do direito nacional).

• Rosa ajuda-o a encontrar as regras de origem para o seu produto

Classificação pautal das mercadorias


A classificação pautal de mercadorias é um dos três pilares aduaneiros que deve ser tido
em consideração por quem lida com mercadorias e com os seus fluxos dentro do espaço
internacional, quer ao nível da importação, quer ao nível da exportação.

Conhecer como funciona a classificação pautal de mercadorias, é falar da sua génese e de


como tudo nasceu. Assim, de forma abreviada, temos o papel da Organização Mundial das
Alfândegas.

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Organização Mundial das Alfândegas

A história da Organização Mundial das Alfândegas (OMA) começou em 1947, quando treze
governos europeus representados no Comité para a Cooperação Económica Europeia
concordaram em criar um Grupo de Estudo. Este Grupo examinou a possibilidade de
estabelecer uma ou mais Uniões Aduaneiras Intereuropeias com base nos princípios do
Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio (GATT) – também baptizada de Acordo
Geral sobre Tarifas e Comércio.

Em 1948, o Grupo de Estudo criou dois comités - um Comité Económico e um Comité


Aduaneiro. O Comité Económico foi o antecessor da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE), o Comité Aduaneiro tornou-se o Conselho de
Cooperação Aduaneira (CCA).

Em 1952, a Convenção estabelecendo formalmente o CCA entrou em vigor. O Conselho é o


órgão de direcção do CCA e a sessão inaugural realizou-se em Bruxelas, a 26 de Janeiro de
1953.

Representantes de dezassete países europeus participaram da primeira sessão do Conselho


do CCA.

Após anos de aumento dos seus membros, em 1994, o Conselho adoptou o nome de trabalho
de Organização Mundial das Alfândegas, para reflectir claramente a sua transição para uma
instituição intergovernamental verdadeiramente global.

É agora a voz de 180 administrações aduaneiras que operam em todos os continentes e


representam todas as etapas do desenvolvimento económico. Actualmente, os membros da
OMA são responsáveis pelo processamento de mais de 98% de todo o comércio internacional.

O Sistema Harmonizado

O Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias geralmente


chamado de "Sistema Harmonizado" ou simplesmente "SH" é uma nomenclatura de produtos
internacional multiuso desenvolvida pela Organização Mundial das Alfândegas (OMA).

Compreende cerca de 5.000 grupos de mercadorias. Cada um identificado por um código


de seis dígitos, organizado numa estrutura legal e lógica e é apoiado por regras bem
definidas para obter uma classificação uniforme.

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O sistema é utilizado por mais de 200 países e economias como base para suas taxas
aduaneiras e para a recolha de estatísticas do comércio internacional. Mais de 98% das
mercadorias no comércio internacional são classificadas em termos do SH.

O SH contribui para a harmonização dos procedimentos aduaneiros e comerciais e o


intercâmbio de dados comerciais não documentários em conexão com tais procedimentos,
reduzindo assim os custos relacionados no comércio internacional.

É também amplamente utilizado por governos, organizações internacionais e o sector privado


para muitos outros fins, como impostos internos, políticas comerciais, monitorização de
produtos controlados, regras de origem, taxas de transporte, estatísticas de transporte,
acompanhamento de preços, controle de cotas, compilação de dados nacionais e análise
económica. O SH é, portanto, uma linguagem económica universal, um código para
mercadorias e uma ferramenta indispensável para o comércio internacional.

O Sistema Harmonizado é regido pela "Convenção Internacional sobre o Sistema


Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias". A interpretação oficial do SH
é dada nas Notas Explicativas (5 volumes em inglês e francês) publicadas pela OMA. As Notas
Explicativas encontram-se igualmente disponíveis online e em CD-ROM, como parte de uma
base de dados que agrupa todas as ferramentas do SH disponíveis, acrescentando à
informação sobre a Nomenclatura, o Compêndio dos Pareceres de Classificação e as Notas
Explicativas, relativas ao índice alfabético e Decisões de Classificação tomadas pelo Comité do
Sistema Harmonizado.

A gestão do SH é uma prioridade da OMA. Esta actividade inclui medidas para assegurar
uma interpretação uniforme do SH e a sua actualização periódica à luz da evolução da
tecnologia e das mudanças nos padrões de comércio. A OMA gere este processo através do
Comité do Sistema Harmonizado (representando as Partes Contratantes na Convenção sobre
o SH), que examina questões de política, toma decisões sobre questões de classificação,
resolve litígios e prepara alterações às notas explicativas. O Comité do HS também prepara
alterações actualizando o SH a cada 5 anos.

As decisões relativas à interpretação e aplicação do Sistema Harmonizado, tais como


decisões de classificação e alterações às Notas Explicativas ou ao Compêndio de Pareceres
de Classificação, entram em vigor dois meses após a aprovação pelo Comité do SH. Estes são
reflectidos nos suplementos de alteração das publicações relevantes da OMA.

A Nomenclatura Combinada
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A Nomenclatura Combinada (NC) é um instrumento de classificação de mercadorias, criado


para satisfazer os requisitos da pauta aduaneira comum e das estatísticas do comércio
externo da União Europeia (UE). A NC é também utilizada nas estatísticas do comércio intra-
UE.

Trata-se de um desenvolvimento adicional (com subdivisões específicas da UE) da


nomenclatura do Sistema Harmonizado da Organização Mundial das Alfândegas. Esta é uma
lista sistemática de mercadorias aplicada pela maioria das nações na sua actividade comercial
- e também usada para negociações comerciais internacionais.

➢ Como funciona? É usada para classificar a maioria das mercadorias quando são
declaradas à alfândega na UE. A suposição da NC, constante nas declarações de importação e
exportação, determina:

➢ Qual a taxa de direitos aduaneiros aplicável

➢ Como as mercadorias são tratadas para fins estatísticos ou para outras políticas da
União Europeia

Todos os anos, o anexo I do regulamento NC de base (Regulamento (CEE) n.º 2658/87 do


Conselho relativo à nomenclatura pautal e estatística e à Pauta Aduaneira Comum) é
actualizado e publicado como um regulamento autónomo no Jornal Oficial da União Europeia.
Tais actualizações levam em consideração quaisquer mudanças que tenham sido acordadas a
nível internacional, seja na Organização Mundial das Alfândegas, no que diz respeito à
nomenclatura do Sistema Harmonizado ou no âmbito da Organização Mundial do Comércio
(OMC), no que diz respeito às taxas de direitos aduaneiros convencionais. Outras mudanças
podem ser necessárias para reflectir a evolução, por exemplo, da política comercial, dos
requisitos tecnológicos ou estatísticos.

Interpretação da nomenclatura

Pode ser realizado com o auxílio das notas explicativas, que explicam o âmbito das várias
posições pautais. As notas explicativas foram estabelecidas pelo Regulamento (CEE) n.º
2658/87 do Conselho, relativo à nomenclatura pautal e estatística e à pauta aduaneira
comum. As notas explicativas da Nomenclatura Combinada não são juridicamente
vinculativas.

O que há na nomenclatura?

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A nomenclatura combinada contém:

➢ Disposições preliminares (regras gerais de classificação, regras relativas a direitos


aduaneiros ou nomenclaturas, etc.)

➢ Descrições das mercadorias

➢ Notas adicionais de Secção/Capítulo e Notas de rodapé relativas às subdivisões da NC

➢ Taxas de direitos aduaneiros convencionais - os compromissos pautais da UE na


Organização Mundial do Comércio e alguns direitos autónomos da EU

➢ Unidades suplementares

➢ Um conjunto de anexos relacionados com a Pauta Aduaneira (agricultura, química, etc.)


e um sistema especial de codificação (Capítulos 98 e 99).

Cada subdivisão da nomenclatura é conhecida como "código NC". Possui um código de 8


dígitos, seguido por uma descrição e uma taxa de imposto e, conforme o caso, uma unidade
suplementar.

O sistema de classificação global é denominado Sistema Harmonizado (SH). É um acordo


desenvolvido pela Organização Mundial das Alfândegas (OMA), constituído por cerca de
5,000 grupos de mercadorias. Está organizado numa estrutura hierárquica:

➢ secção

➢ capítulo (2 dígitos)

➢ posições (4 dígitos)

➢ subposições (6 dígitos)

É apoiada por regras de interpretação e notas explicativas.A Organização Mundial das


Alfândegas (OMA) fornece uma lista dos países que aplicam o Sistema Harmonizado.

A Nomenclatura Combinada da União Europeia (UE) é o sistema de codificação de oito


dígitos da UE, que inclui os códigos SH com outras subdivisões da UE e notas jurídicas
especificamente criadas para dar resposta às necessidades da UE.

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Regimes aduaneiros

Procedimentos, formalidades e práticas vigentes

Soluções aduaneiras

Em vez de se referir os destinos ou os regimes aduaneiros, conceitos da regulamentação


aduaneira comunitária, talvez o conceito mais adequado na perspectiva das empresas
seja o de soluções aduaneiras. Na verdade, a generalidade dos chamados regimes
aduaneiros correspondem a soluções que visam responder a necessidades típicas dos
negócios internacionais, viabilizando operações comerciais que estariam excluídas se os
únicos regimes existentes fossem a exportação e a importação definitiva.

Não admira que há muito que na legislação


comunitária alguns regimes aduaneiros recebem a designação de regimes económicos, no
sentido em que são autorizados desde que se verifiquem determinadas circunstâncias e visam
promover a atividade económica internacional. São os regimes de:

➢ entreposto aduaneiro,

➢ aperfeiçoamento ativo,

➢ transformação sob controlo aduaneiro,

➢ importação temporária

➢ aperfeiçoamento passivo.

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A estes regimes podemos acrescentar alguns instrumentos previstos na regulamentação


comunitária e que embora não recebam a designação de regimes económico aduaneiros ou
mesmo de regimes suspensivos, não deixam de merecer análise pelo impacto que podem ter
na atividade empresarial.

Aperfeiçoamento ativo:

Especialmente vocacionado para as empresas exportadoras que recorrem a matérias-


primas importadas, permitindo a estas empresas a redução de custos resultantes do
pagamento de direitos sobre esses produtos. O regime permite a suspensão do pagamento dos
direitos ou o seu reembolso no momento da exportação das mercadorias.

O regime do aperfeiçoamento ativo é flexibilizado com a possibilidade de se proceder a


substituições, permitindo a exportação antecipada e a substituição de matérias-primas.

Destinos especiais:

Numerosos setores industriais da União Europeia dependem do abastecimento externo em


muitas matérias-primas, daí que um importante instrumento utilizado nas trocas
internacionais é a adoção de contingentes pautais.

Em regra, são abertos com vista a cobrir o défice comunitário na produção de


determinadas matérias-primas. Mas poderão não só abranger matérias-primas como
também bens de consumo final, assim como, nalguns casos, esses contingentes podem
resultar de acordos comerciais. É o caso, a título de exemplo, do contingente de açúcar bruto
dos chamados países ACP.

Transformação sob controlo aduaneiro:

Aplica-se às mercadorias cuja transformação conduza à obtenção de produtos aos quais se


aplique um montante de direitos de importação inferior ao montante aplicável às mercadorias
de importação ou às mercadorias objecto de operações destinadas a garantir a sua
conformidade com as normas técnicas impostas para a sua introdução em livre prática.
Com o regime de transformação sob controlo aduaneiro viabilizam-se negócios que por
questões técnicas ou pautais deixariam de ser viáveis.

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Entrepostos aduaneiros:

Permitem que mercadorias que não estejam em livre prática possam se armazenadas, adiando
a sua colocação no mercado e o consequente pagamento dos direitos e demais imposições,
para o momento em que tal for necessário.

Este regime é especialmente vocacionado para as empresas que operam no mercado


internacional, havendo mesmo situações em que as empresas operam quase exclusivamente
com mercadorias armazenadas em entrepostos aduaneiros, como é o caso das empresas que
se dedicam ao abastecimento de aviões ou de navios que operam em linhas internacionais.

Destinos especiais:

Ao abrigo deste regime as mercadorias podem ser introduzidas em livre prática com
isenção de direitos ou redução da taxa do direito em função da sua utilização específica.
As mercadorias que podem beneficiar de uma isenção total ou parcial de direitos de
importação na condição de serem utilizados num determinado destino estão indicadas na
pauta aduaneira comunitária.

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É, por exemplo, o caso do açúcar em bruto destinada a refinação, cuja isenção de direitos é
concedida se o açúcar em bruto for refinado, obtendo-se açúcar branco.

Importação temporária:

Permite a utilização no território aduaneiro da Comunidade, com isenção total ou parcial


dos direitos de importação e sem que sejam submetidas a medidas de política comercial, de
mercadorias não comunitárias destinadas a serem reexportadas sem terem sofrido qualquer
alteração para além da depreciação normal resultante da utilização que lhes tenha sido
dada.São muitas as situações que justificam o recurso à importação temporária como é o
caso, por exemplo, da importação de equipamentos para determinadas obras.

Retorno de mercadorias:

Permite a reintrodução na União e a colocação em livre prática num prazo de três anos e sem
aplicação de direitos aduaneiros a mercadorias que tenham sido exportadas. Em numerosas
situações as mercadorias exportadas destinam-se a serem reimportadas para além de
poderem ocorrer numerosas circunstâncias em que o exportador seja obrigado a reimportar
as mercadorias que exportou.

Participação em feiras, avarias, falência do parceiro comercial, proibições, aluguer, são


muitas as circunstâncias ou modelos de negócio que podem resultar na reimportação das
mercadorias.

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Franquias aduaneiras:

Prevê a concessão de franquias de direitos aos quais as mercadorias importadas para a UE


ou exportadas da UE estariam normalmente sujeitas.

A regulamentação comunitária prevê a concessão de franquias aduaneiras a uma grande


diversidade de mercadorias como sejam os bens pessoais, as mercadorias de valor
insignificante, os produtos agrícolas, biológicos, químicos, farmacêuticos e médicos. As
franquias obedecem a regras respeitantes aos beneficiários, às mercadorias, às
circunstâncias ou ao valor.

A regulamentação comunitária prevê a concessão de franquias aduaneiras a uma grande


diversidade de mercadorias como sejam os bens pessoais, as mercadorias de valor
insignificante, os produtos agrícolas, biológicos, químicos, farmacêuticos e médicos. As
franquias obedecem a regras respeitantes aos beneficiários, às mercadorias, às circunstâncias
ou ao valor.

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Fiscalidade – regimes com benefícios ficais, tributação das


mercadorias, divida aduaneira e fiscal

Garantias e contencioso fiscal

O Direito aduaneiro tem por objeto a disciplina da circulação internacional de


mercadoria recorrendo, para o efeito, à previsão de um conjunto de normas e
procedimentos de natureza vária, aplicáveis à entrada e saída de mercadorias do território
aduaneiro de um determinado Estado, ou de um conjunto de Estados organizados numa união
aduaneira, de que a União Europeia é o exemplo mais acabado.

A vertente tributária do Direito aduaneiro – de cobrança de direitos – representa, no


moderno Direito aduaneiro europeu, uma parte relativamente circunscrita da respetiva
regulamentação. O protecionismo do pós-guerra que se traduzia, essencialmente, na
imposição de elevadas taxas de direitos aduaneiros vem sendo progressivamente substituído,
no plano europeu, por um sistema de gestão e controlo da fronteira externa, assente em
normas de garantia da segurança da cadeia logística internacional, da proteção da saúde
pública, da fauna, da flora e do meio ambiente. A progressiva diminuição das taxas
aduaneiras nos designados Estados desenvolvidos não constitui, contudo, um movimento
global. Em sentido oposto, os designados Estados em desenvolvimento continuam a praticar
taxas aduaneiras elevadas , que funcionam como uma das principais fontes de receita desses
Estados e uma contingência a ponderar na estratégia de internacionalização das empresas
que pretendem investir nesses mercados.

A relevância da legislação aduaneira não se esgota, todavia, no quadro da liquidação de


direitos, sendo igualmente relevante em sede de tributação indireta, mais propriamente do
imposto sobre o valor acrescentado (IVA) e dos impostos especiais sobre o consumo (IEC)
devidos pela importação7 . Na mecânica própria do IVA e dos IEC devidos pela importação
releva ainda a delimitação dos destinos aduaneiros e o respetivo apuramento. O
desconhecimento ou negligência na determinação e apuramento do destino aduaneiro mais
adequado a cada operação comercial importa encargos financeiros não despiciendos para os
operadores económicos que, em muitos casos, a torna economicamente menos atrativa, se
não inviável. Um dos destinos aduaneiros “preferenciais” das mercadorias 8 é a submissão a
um regime aduaneiro9 que permite a entrada, circulação e/ou permanência de mercadorias

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nãoUE10 no território aduaneiro da União (TAU) com suspensão dos direitos e outros
impostos indiretos - como sejam o IVA e os IEC11 -, até à respetiva introdução em livre
prática, quando adquirem o estatuto de mercadorias-UE e o inerente direito de livre
circulação em todo o espaço europeu (artigos 34.º e ss. do TFUE).

No contexto atual de um mercado liberalizado, global, sob impulso do princípio da nação


mais favorecida previsto no Acordo Geral sobre Pautas e Comércio (GATT 1947), o
conhecimento e a correta aplicação dos regimes aduaneiros revestem-se, assim, de capital
importância na delimitação da incidência ou exigibilidade dos direitos aduaneiros, do IVA e
dos IEC devidos pela importação, podendo condicionar a capacidade concorrencial e, in
extremis, a própria viabilidade económica do operador económico.

O elevado potencial de litigiosidade neste âmbito não é estranho às especificidades


próprias da necessidade de articulação de um regime aduaneiro substantivo, uniformizado a
nível europeu, e da remissão, ainda que condicionada, do respetivo regime adjetivo e
sancionatório para a legislação interna dos Estados Membros. A correta classificação pautal
das mercadorias, assim como a determinação do valor e origem aduaneira das
mercadorias16, com relevo na delimitação da incidência objetiva dos IEC e do valor tributável
em sede de IVA, são outros tradicionais focos de litigiosidade.

O contencioso aduaneiro nacional foi “mitigado” durante a vigência e aplicação do processo de


contestação técnica aduaneira, que corria termos no Conselho Técnico Aduaneiro (CTA).
Com a revogação do processo de contestação técnica antevê-se um potencial aumento do
contencioso em matéria aduaneira, para o qual os Tribunais Tributários nacionais devem
estar preparados.

Reembolso e dispensa de pagamento:

O prazo de 3 anos é igualmente aplicável ao pedido de reembolso ou dispensa de pagamento


de direitos (artigo 236.º do CAC e artigo 121.º do CAU). Estes pedidos previstos na
legislação aduaneira correspondem à figura da revisão do ato tributário previsto no artigo
78.º da LGT, atentos na respetiva natureza e pressupostos, o que nos coloca perante a questão
de saber se o regime previsto na LGT tem aplicabilidade em sede aduaneira. No processo n.º
86/06, de 26 de abril de 2006, o STA entendeu que o “direito de revisão e o direito de
reembolso têm a mesma natureza, pelo que nada obsta a que, nos termos do artigo 101º da
Reforma Aduaneira, ao direito de revisão do ato de liquidação a efetuar pelas autoridades
aduaneiras se aplique a regulamentação comunitária em vigor, a ele respeitante”; e que de

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“qualquer modo, o pedido de revisão, conducente à anulação do ato de liquidação não pode
deixar de implicar o reembolso das quantias em causa (art. 100º da LGT)”. Pelo que, em
termos de Direito europeu, o pedido de reembolso corresponde na sua finalidade, ao pedido
de revisão do direito nacional”. Já no acórdão do pleno proferido no processo n.º 01154/05,
de 08 de novembro de 2006, o STA foi absolutamente claro ao referir que o “prazo para
requerer a revisão oficiosa de ato de liquidação de imposto automóvel praticado no ano de
1997 é de 3 anos, por força das disposições conjugadas dos artigos 101º da Reforma
Aduaneira (…) e do artigo 236.º, n.º 2, do Código Aduaneiro Comunitário”73. Por último
cumpre referir que, de acordo com o entendimento fixado pelo STA no acórdão proferido no
âmbito do processo n.º 01091/05, de 24 de maio de 2006, quando as autoridades nacionais de
um Estado Membro decidem um pedido de reembolso ou dispensa de pagamento com base
numa decisão da Comissão, a decisão sindicável é a da Comissão e os Tribunais
competentes são os Tribunais da União.

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Comércio internacional – políticas aduaneiras e fiscalidade UFCD 11010

Bibliografia e netgrafia
✓ Gomes, Rita Pereira e Silva, Fernando Rodrigues, ECONOMIA – Ensino profissional –
Nível 3, Porto Editora, 2010

✓ António Brigas Afonso, “Contencioso aduaneiro”, Temas de Direito Aduaneiro,


Coordenação de Tânia Carvalhais Pereira, 2014 António Brigas Afonso e Manuel Teixeira
Fernandes, Código dos Impostos Especiais de Consumo Anotado e Atualizado, 3.ª Ed., 2011

✓ Frederico Velasco Amaral, “A articulação entre o Direito Aduaneiro Europeu e as


Normas da OMA e da OMC”, Temas de Direito Aduaneiro, Coordenação de Tânia Carvalhais
Pereira, 2014

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