Você está na página 1de 14

Universidade Federal de Minas Gerais

História do Pensamento Econômico

Arthur Bernardo C. R. Monteiro e Silva


Arthur Felipe Schuliz Silva
Ana Cecília Goldman
Nathalia Magalhães de Matos

BELO HORIZONTE
2021
QUESTÕES CAPÍTULO 3

7- Por que as monarquias absolutas preocupavam-se em acabar com a


mendicância e que medidas foram tomadas nesse sentido?
A principal preocupação econômica do mercantilismo era a busca do pleno emprego.
A nação deveria utilizar de todo o território para a geração de atividades produtivas na
agricultura, mineração e na manufatura. Dessa forma, o desemprego era visto como resultado
da indolência do trabalhador e era tratado como um problema social. No entanto, após isso, a
Europa ocidental se percebe diante de inúmeras e intensas transformações econômicas que
acabaram não favorecendo a geração de emprego. Isso acabou gerando uma enorme ênfase na
mendicância nos Estados europeus, o que gera também diversos aborrecimentos na sociedade
durante uma parcela de tempo.
Essa realidade leva, em 1531 e 1536, o Estado inglês a promulgar leis para acabar
com a mendicância que havia adquirido proporções alarmantes. As leis discriminam os
pobres com direito a mendigar, deficientes físicos e inválidos em geral, e autorizam as
paróquias a angariar donativos espontâneos a fim de amparar os pobres de sua jurisdição.
Tendo fracassado em diminuir o número de mendigos, o estado inglês decreta a Lei do
Pobres, em 1601, que prevê a arrecadação de um imposto específico para acabar com a
indigência e especifica quem deve receber assistência e de que forma. Ela ainda promete
prisão para os vagabundos incorrigíveis

8- O que é o bulionismo e como seus adeptos viam o comércio internacional?


O bulionismo é uma teoria econômica que fazia uma associação simplista entre
moeda e riqueza, acreditando-se que a primeira levaria automaticamente a um aumento da
oferta de bens reais na economia. Dessa forma, o bulionismo , ou metalismo, confundia
moeda com riqueza. A consequência dessa interpretação era a defesa de toda medida que
contribuísse para o acúmulo de ouro e prata dentro das fronteiras do país.
Assim, o comércio internacional era visto como meio de aquisição de metais
preciosos e todas as medidas restritivas que resultasse em aumento das entradas de metais
seriam desejáveis. Eles, seus adeptos, viam o comércio internacional como um “jogo de soma
zero”, isto é, o que um ganha o outro perde, e não como um processo criador de riquezas para
ambas as partes
9- Que políticas eram defendidas pelos mercantilistas no sentido de garantir uma
balança comercial favorável?
A interpretação mais em voga defende a balança comercial favorável como um meio
de manter a economia a pleno emprego. Para tanto, uma série de medidas são necessárias.
Todas as importações devem ser desencorajadas, principalmente a de bens que já são
oferecidos pela produção doméstica. Uma exceção contempla as importações de
matérias-primas indispensáveis, não encontradas no reino; mas, nesse caso, deve-se preferir a
troca por mercadorias. Por outro lado, é importante estimular as exportações por todos os
meios. Incluindo-se aí subsídios, restituição de impostos, monopólio comerciais nas colônias,
entre outros. A exportação de matérias-primas é desestimulada, pois todas devem ser usadas
na manufatura doméstica, já que os bens finais valem mais do que os bens intermediários.
Assim, a balança comercial favorável assegura o fluxo positivo de ouro e prata sem a
necessidade de restringir diretamente a saída de metais. Os mercantilistas sabiam que o
importante era o fluxo resultante no longo prazo e que uma eventual saída de ouro hoje
poderia, na verdade, estar assegurando um entrada líquida, se levado em conta o tipo de
compra feita, por exemplo, a aquisição de matéria-prima para a manufatura de um bem
exportável.

10- Descreva o Balanço de Pagamentos de Misselden. Para ele, é possível


compensar um déficit na balança comercial sem a fuga de metais preciosos?
Temos que a preocupação com o saldo externo positivo entre exportações e
importações levou à formulação, pela primeira vez, de noções contábeis sobre o que
chamamos hoje de “balança de pagamentos”. Essa noção é encontrada nos trabalhos de
Edward Misselden, em que se identifica a mecânica do balanço global de transações do país
com o exterior. Misselden assinala como as transações do comércio internacional afetam a
política monetária. Aqui, em um balanço de pagamentos, Misselden não apenas identifica o
número de cada uma das contas, mas também calcula as relações entre elas. Dessa forma, o
processo econômico entre países poderia ser mais bem compreendido e os fins da política
mercantilista seriam perseguidos com maior clareza analítica. Ele assinala corretamente que o
Balanço de Pagamentos está sempre em equilíbrio, de modo que as contas assinaladas com
asterisco, fluxos de metais preciosos e capitais de curto prazo representam movimentos
compensatórios. Enquanto as outras contas são determinadas de modo autônomo, pois
dependem das forças de mercado, as contas compensatórias devem ser manipuladas pelos
instrumentos de política econômica de modo a estabelecer o equilíbrio do balanço global.
Além disso, Misselden compreendia certos mecanismos da política monetária, e
apontava corretamente que a taxa de juros internos acima das taxas internacionais atrairia
capital de curto prazo. Se a balança comercial apresenta um déficit não compensado pelo
superávit nas contas de capital de longo prazo e transferências unilaterais, tal déficit seria
financiado pelos movimentos de capital de curto prazo ou por movimentos adversos de
metais preciosos. A balança comercial incluía também itens invisíveis, como pagamento de
transporte e fretes, o que reforçava a crença na importância do Ato de Navegação que havia
criado o monopólio nacional desses serviços e, dessa forma, propiciado ganhos na conta
invisível.

11-No que consiste a lei econômica de T. Gresham?


Na Lei de Gresham (1519-1579), as moedas de maior teor de metais preciosos são
expulsas do mercado e substituídas pela moeda má. Isso porque as teses monetárias do
mercantilismo foram-se desenvolvendo à medida que surgem os problemas inflacionários
trazidos pelo grande fluxo de ouro e prata que inundou a Europa vindo das colônias
americanas. De início, os mercantilistas achavam que a causa da inflação era a adulteração
das moedas pelo poder público que sistematicamente reduzia a quantidade de metal contida
nelas.

12-Como Jean Bodin relaciona o acúmulo de metais preciosos com a inflação?


Você considera a explicação dele completa?
Em 1568, Jean Bodin combate a ideia proposta por Thomas Gresham, reconhecendo
que é, de fato, o afluxo de metais que explica a alta dos preços. Bodin formula a lei de que o
poder de compra das moedas de ouro e prata é inversamente proporcional à quantidade de
ouro e prata existente no país, mas não identifica claramente um mecanismo de conexão entre
moeda e preços.
Embora a tese de Bodin tenha sido admitida por muitos, sobretudo, no século XVIII, é
possível encontrar algumas questões nessa formulação, já que isso não impede que se
mantenha a ideia de mercantilismo segundo o qual a riqueza de uma nação está ligada à
abundância interna de moedas.
13-Como a oferta de moeda poderia estimular o crescimento da riqueza na
interpretação mercantilista?
A interpretação de como o lado monetário da economia poderia afetar a produção real
era um tanto paradigmática entre os mercantilistas, e isso favorecia a ilusão monetária de se
associar riqueza ao dinheiro em circulação. A despeito dos avanços fornecidos pelos estudos
de Bodin, ainda faltava, entre eles, uma teoria monetária. Porém, somente no século XVII
surge uma compreensão teórica clara de que não seria possível atrair indefinidamente meios
monetários para o reino, uma vez que o influxo constante de moeda iria inflacionar os preços
domésticos e com isso reduzir a competitividade internacional do país. A identificação de um
mecanismo interligando moeda e preço deve-se a David Hume e, antes dele, a John Locke em
pleno século XVII. Tais autores podem ser pensados como os primeiros precursores do que
hoje se conhece como a “teoria quantitativa da moeda”. Segundo essa teoria, a moeda afeta
diretamente os preços, mas tal efeito é atenuado se houver variações na demanda monetária,
de modo que as pessoas retenham moeda por menos tempo. Outro mecanismo para refrear a
relação direta entre oferta monetária e inflação é o crescimento econômico. Isso porque ele
permite acomodar expansões monetárias sem pressão nos preços. Ora, as políticas
mercantilistas perseguiam simultaneamente os dois objetos. O aumento de circulação de
moeda era estimulado a se proibir retenções do metal e o crescimento econômico era o seu
alvo maior. A moeda, por si só, não ocasiona o crescimento econômico. Nas condições da
época, ela seria no máximo uma condição necessária, mas não suficiente. De fato, o
crescimento econômico no período é explicado pelas transformações tecnológicas e na
organização da produção, bem como pelo impulso ao comércio mundial.

14- Você concorda com a ideia de que todos os mercantilistas eram fortemente
intervencionistas?
Sim. É possível dizer que todos os mercantilistas eram fortemente intervencionistas,
pois essa é uma característica basilar dessa corrente teórica, permeando vários de seus
pressupostos teóricos. Para exemplificar, analisaremos como isso se manifesta no metalismo,
na busca por uma balança comercial favorável e na regulamentação salarial.
Em primeiro plano, o metalismo pode ser entendido como uma das principais
estratégias, de acordo com a corrente mercantilista, para garantir o sucesso econômico de
uma nação, associando-o ao acúmulo de ouro e prata. Para esse fim, caberia ao Estado
instaurar medidas restritivas que aumentassem a entrada de metais preciosos, ou seja, o
sucesso econômico estaria intimamente atrelado a uma intervenção estatal.
Um outro ponto primordial para o sucesso do Estado seria garantir uma balança
comercial favorável. Esse fator também dependeria da intervenção política para o
desencorajamento da importação de produtos que já eram produzidos domesticamente e para
estimular a exportação de suas mercadorias industrializadas por meio de políticas de subsídio
e restituição de impostos.
Por fim, é possível perceber que a intervenção do Estado, no mercantilismo, é
desejável mesmo para regularizar a relação salarial entre os contratantes e os contratados. O
estado é responsável por estabelecer um teto salarial para os diferentes cargos para assim
assegurar que os trabalhadores se manterão produtivos.

15- Comente a teste da utilidade da pobreza.


A tese da utilidade da pobreza tem como intuito principal manter os trabalhadores
empregados e produtivos, a fim de que esse cenário promova um melhor dinamismo
econômico para o país como um todo, garantindo o sucesso do Estado. Segundo essa tese, a
pobreza seria condição indispensável para preservar a condição moral da classe trabalhadora.
Isso provém da ideia de que os salários reduzidos submeteriam os trabalhadores a um grande
grau de frustração, uma vez que não lhes permitiria realizar suas necessidades e vontades de
consumo. Nesse sentido, para aproximar-se da saciedade de suas expectativas de consumo, o
proletariado seria impulsionado a trabalhar cada vez mais, o que seria positivo para a
economia do país.

16- Por que a curva de oferta de trabalho torna-se negativamente inclinada a


partir de certo ponto, para os mercantilistas e na teoria atual?
Para os mercantilistas, a curva de oferta de trabalho se torna negativamente inclinada
a partir do ponto em que o salário pago aos trabalhadores lhes proporciona mínimo conforto.
Segundo esses teóricos, os empregados são naturalmente avessos ao trabalho de modo que,
quando atingem esse conforto, preferem utilizar seu tempo com atividades de lazer em
detrimento das atividades laborais. Por outro lado, para a teoria microeconômica atual, a
predileção por investir mais tempo com atividades de lazer não ocorre a partir de um pequeno
aumento salarial, assim como supunham os mercantilistas. Para os pensadores
contemporâneos, o aumento de renda, na realidade, induziria os trabalhadores a optar por
mais horas de trabalho, diminuindo seu tempo de lazer. Nessa lógica, a curva de oferta de
trabalho apenas se tornaria negativa quando o aumento de renda fosse tão expressivo que não
compensasse mais o sacrifício do lazer.

17- O que William Petty tem a oferecer em teoria de preços?


William Petty é um pensador da ciência econômica que desenvolveu suas ideias
durante o período de transição entre o mercantilismo e o liberalismo. É a partir dele que a
economia passa a ser estudada por meio da elaboração de um método científico. Sua
sistematização de uma "aritmética política” permite uma melhor abstração dos movimentos
econômicos e as taxas de juros do período. Um ponto muito relevante de sua produção é a
“teoria dos preços”. Tal elaboração permitiu a popularização da ideia de que o fundamento do
valor está nos custos de produção. Nessa lógica, Petty busca reduzir todos os custos em dois
fatores de última instância: a terra e o trabalho. Assim, acaba por antecipar os elementos de
análise econométrica e se empenha para afastar a ciência econômica da análise moral.

18- Qual a essência da teoria de juros de Petty?


William Petty analisa o processo de formação de poupanças e interliga-os à oferta de
fundos para empréstimos. Assim, o autor enxerga a taxa de juros como fenômeno de mercado
determinado pela confluência da oferta de fundos com a demanda de recursos. Além disso,
ele identifica as três funções da moeda. São elas ser meio de troca, ser medida de valor ou ser
ativo financeiro.

19- Quais as diferenças principais entre o cameralismo e o mercantilismo


ocidental?
O cameralismo constitui-se como um conjunto de ideias que surge voltado para
resolver as calamidades econômicas que assolavam a Europa no século XVIII, pautando-se
em uma melhor administração pública. Quando comparado ao mercantilismo ocidental, ele se
diferencia por ser menos interessado em relações internacionais, em comércio entre países e
no desempenho da balança comercial. Sua atenção recai, portanto, sobre as finanças públicas
e sobre como estimular a economia a partir do estímulo à indústria doméstica. Além disso,
outro aspecto que diferencia o cameralismo do mercantilismo reside no fato de o
cameralismo ter produzido obras extensas e bastante completas sobre a lógica da organização
do Estado e da economia nacional, enquantos os mercantilistas limitavam-se à panfletagem e
à apresentação de tratados não muito abrangentes.
20- Aponte uma diferença entre o cameralismo no século XVIII e no período
anterior.
No século XVI, os cameralistas buscavam oferecer aos burocratas do Estado meios
para remediar os males econômicos que afetavam a Alemanha. Para esse fim, alguns de seus
principais autores propuseram uma reforma tributária para aperfeiçoar o sistema de taxação.
Por sua vez, no século XVIII, o cameralismo ampliou seu escopo científico, depassando
estudos concernentes à administração pública e abrangendo o estudo de tudo que pertence à
propriedade e à renda das pessoas. Em suas análises financeiras, o cameralismo não acredita
que o Estado e os capitalistas tenham interesses convergentes, posicionando-se ao lado dos
interesses do Estado. Nesse sentido, no século XVIII, a corrente econômica enfatiza os
dispositivos da política fiscal, procurando combater a falência do tesouro público.

QUESTÕES CAPÍTULO 5

4- Quais os argumentos utilizados por Adam Smith para demonstrar que a


divisão do trabalho leva ao aumento da produtividade no trabalho?

Segundo Adam Smith, há três fatores que demonstram a efetividade da divisão do


trabalho em aumentar a produtividade, sendo eles: a maior destreza alcançada pelo
trabalhador especializado (aqueles que possuem maiores habilidades em certos setores da
linha de produção irão realizar seus serviços com maior maestria, assim proporcionando um
resultado final em maior qualidade e quantidade); a economia de tempo (ao dividir mais o
trabalho, a produção se torna mais ágil devido ao número de pessoas envolvidas); e a
invenção de máquinas novas para tornar mais eficiente o trabalho.

5- Em Smith, explique o mecanismo em que o crescimento econômico é


desencadeado pela divisão do trabalho. Por que a divisão do trabalho fica limitada pela
extensão do mercado?

Para Smith, a divisão do trabalho gera mais produtividade, pois fomenta a confecção
de mais mercadorias em um menor período de tempo. Entretanto, se existe um limite de
consumidores e o mercado não se expande, falar em produtividade já não faz sentido, uma
vez que o número de mercadorias a serem produzidas também se torna limitado. Como
consequência a divisão do trabalho fica estagnada, já que não há necessidade de aumentar a
produtividade.

7- É a diferença de talentos individuais em pessoas diferentes que origina a


divisão do trabalho ou é esta que dá origem àquela diferença? Explique a relação,
apontada por Smith, entre esses aspectos.

Segundo Adam Smith, os seres humanos não são naturalmente diferentes. O que
fomenta suas diferenças é a tendência à troca, ou seja, o homem se aprimora naquilo que ele
acredita ser mais vantajoso para possibilitar a troca de seu excedente de produção. Se seu
talento não rende o esperado, não há motivos para uma especialização no mesmo, o que
acarreta na busca de outras competências que se demonstrarão úteis e valiosas para a
sociedade. Logo, é correto afirmar que a divisão do trabalho, na visão de Adam Smith, é o
que origina a diferença de talentos e competências individuais.

8- Smith, discutindo os feitos da divisão do trabalho sobre a produtividade, viria


a afirmar que “As nações mais opulentas geralmente superam todos os seus vizinhos
tanto na agricultura como nas manufaturas; geralmente porém, distinguem-se mais
pela superioridade na manufatura do que pela superioridade na agricultura”. Explique
o porquê disso.

A afirmação de Smith consiste em uma comparação entre os países mais e menos


desenvolvidos industrialmente. A sentença se refere à diferença de produtividade entre
produções manufatureiras e produções agropecuárias. O trabalho agrário requer
uma divisão de trabalho mínima, pois os diferentes serviços estão associados às estações do
ano, impossibilitando a contratação de um homem para realizar tarefas periódicas. Sendo
assim, a pouca divisão do trabalho gera uma baixa produtividade quando comparada às
manufaturas. Tendo isso em vista, fica evidente que as nações mais ricas terão uma
manufatura mais destacada, pois esta é alavancada pelo seu crescimento econômico.

9. No capítulo 4 da Riqueza das Nações (Livro 1), Smith escreve: “O açougueiro


tem consigo mais carne do que a porção que precisa para seu consumo, e o cervejeiro e
o padeiro estariam dispostos a contar uma parte do produto. Entretanto, não têm nada
a oferecer em troca, a não ser os produtos diferentes de seu trabalho ou de suas
transações comerciais, e o açougueiro já tem o pão e a cerveja de que precisa para seu
consumo. Neste caso, não poderá haver nenhuma troca entre eles. No caso, o açougueiro
não pode ser comerciante para cervejeiro e o padeiro, nem estes podem ser clientes do
açougueiro; e portanto diminui nos três a possibilidade de se ajudarem entre si” (A
Riqueza das Nações). Essa dificuldade ao que se pode dar em várias situações na vida
em sociedade. Para Smith, de que forma os homens conseguem contornar esse problema
na prática?

Com base na citação , percebe-se que não é da benevolência que ocorrem as trocas, e
sim a partir do próprio interesse dos indivíduos. Sendo assim, há necessidade de se esclarecer
as vantagens que serão obtidas por meio desse intercâmbio, de modo que ele seja satisfatório
para ambas as partes. Nas trocas de mercado, como no exemplo supracitado, o ser humano
visa o interesse próprio nesse tipo de troca, porém, Smith constata que a presença do dito
mercado de trocas é um requisito para a divisão do trabalho, uma vez que os indivíduos se
especializam em uma função pensando em seus frutos no futuro, no qual poderão trocar o
excedente da produção. Segundo ele, a propensão para a troca é o fator responsável por
acentuar as diferentes competências destinadas ao trabalho. Para Smith, esse problema é
contornado ao afirmar que, em uma sociedade avançada, o mecanismo de troca nos mercados
propicia a abundância geral de bens, fazendo com que todos lucrem com ela, até o
proletariado.

10. Ao investigar o que na sociedade determina o valor de troca de uma


mercadoria, por que para Smith:

a. O valor de uso não serve como critério para determinação do valor de troca?

Segundo a teoria do valor de Adam Smith (que busca entender os preços relativos e a
medida da riqueza que é produzida), este fundamento não advém do valor de uso, mas sim do
trabalho. Para Smith, o valor de troca nada tem a ver com o valor de uso, que se refere à
utilidade da mercadoria. Por exemplo, quando se compara o valor de troca da água com o
valor de troca do diamante, o valor de troca do diamante é muito superior ao da água, mesmo
essa sendo muito mais útil e necessária a subsistência do que o diamante, ou seja, um bem
não vale mais porque é mais necessário. Portanto, o valor de uso não pode servir como
critério para determinação do valor de troca.

b. O valor de troca real não se confunde com seu preço de mercado?

Segundo Adam Smith, o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de


trabalho que a permite comandar, ou seja, o trabalho é a medida real do valor de troca de
todas as mercadorias. O trabalho nunca varia o seu valor, formando um padrão passível de
comparação ao valor variável da mercadoria, portanto, o trabalho seria o preço real das
mercadorias, enquanto o dinheiro seria o preço de mercado, que pode ser variado em relação
a outra mercadoria, pela quantidade de oferta ou demanda.

11. Na questão do valor, a estratégia teórica de Smith consiste em encontrar um


elemento que se conserva nas trocas:

a. Qual é esse elemento?

Para Smith, o trabalho é o elemento cujo valor é fixo e, portanto, seria o elemento que
se conserva nas trocas.

b. Porque, para Smith, nas sociedades evoluídas o trabalho incorporado nas


mercadorias não funciona mais como medida do valor de troca?

Os preços naturais, advindos do trabalho, possuem características que oscilam de


acordo com o estágio da sociedade. Nos estágios mais avançados, os preços se dividem em
salários, lucros e renda da terra. As taxas naturais dos diferentes componentes do preço e o
valor de uma determinada mercadoria, possibilitam o conhecimento de quanto será o valor
dos preços.Tendo isso em vista, o trabalho incorporado nas mercadorias se torna ineficiente
como medida de valor, uma vez que o valor da mercadoria não é regulado apenas pela
quantidade de trabalho incorporado em sua produção.

12. Explique os conceitos smithianos de valor de troca, valor de uso, preço


natural e preço de mercado.
Segundo Adam Smith, o trabalho é a medida real do valor de troca de todas as
mercadorias. Não se confunde o valor de troca com o próprio valor do trabalho, mas o último
serve como medida para o primeiro. Já o valor de uso refere-se à utilidade da mercadoria. O
preço natural é o valor dos produtos, sendo a base o custo de sua produção, somando-se a
renda, o lucro e o trabalho presentes no processo produtivo. Por fim, o preço de mercado é
avaliado diante da comercialização do produto, sendo influenciado pela oferta e demanda do
mercado.

13- Se o preço natural das mercadorias é decomposto, no esquema de Smith, em


salários, lucros e renda fundiária, por que não se poderiam incluir outros componentes
como os juros e os custos das matérias-primas?

Pois os juros e os custos das matérias-primas já estão inclusos indiretamente nos


componentes do preço natural. Isto é, os lucros, por exemplo, já correspondem ao valor total
da arrecadação subtraído dos custos fixos de estrutura, dos impostos, dos custos das
matérias-primas, entre outros gastos fixos e flutuantes. E com o juros a mesma ideia se aplica,
uma vez que integram o capital fixo da contabilidade mensal/anual da mercadoria.

16- Para Smith, por que a acumulação de capital leva a uma queda na taxa
natural de lucros e de que modo isso compromete a continuidade do processo de
acumulação?

A acumulação de capital se relaciona diretamente ao pouco, ou nenhum, investimento


que determinado negócio passa a ter. Isso ocorre, pois, se um organismo passa a optar pelo
acúmulo de capital, ele deixa de aplicar uma parcela do lucro na eventual modernização
tecnológica e produtiva, ou nas bonificações dos funcionários. Dessa maneira, perde-se a
chance de manter empregos lucrativos, e consequentemente há uma considerável diminuição
na produtividade.

17- Explique a diferença entre lucros e juros. Por que os lucros globais não
podem ser menores que os juros?

Os lucros correspondem ao excedente total máximo da arrecadação de um negócio,


além de serem equivalentes aos ganhos líquidos. Já os juros se referem a um valor obtido por
meio de empréstimos. Por esse motivo os lucros não podem ser menores que os juros, pois
caso isso aconteça, o organismo que estiver realizando o empréstimo fica sem receber sua
parcela total do lucro, visto que o lucro global líquido não será o suficiente nem para alcançar
os valores das taxas de juros, quem dirá para que o negócio seja rentável.

19- Smith diz que o verdadeiro benefício que o comércio internacional pode
trazer a um país não está na acumulação de ouro e prata. Assim, de que maneira o
comércio exterior pode contribuir para o enriquecimento do país?

Para Smith, o verdadeiro benefício do comércio internacional é o fato de que


determinado país pode vender seu excedente produtivo para outros países, na prática que é
conhecida como exportação. Através desse comércio, o país em questão, não só complementa
sua economia interna, como também movimenta as economias de todo o planeta. Além disso,
a produção que se volta para o mercado externo, contribui para instaurar na nação uma
cultura de aprimoramento e eficiência, elevando a capacidade técnica de seus cidadãos,
gerando mais empregos com mão de obra especializada e consequentemente modernizando
todos os setores do país, desde a indústria até a construção civil, por exemplo.

20- Qual a consequência da acumulação de metais preciosos para um país?

Para Smith a acumulação desses metais preciosos em grandes escalas é “totalmente


desnecessária e de completa incensatez”. Esse acúmulo, de acordo com ele, proporciona
apenas uma maior movimentação de capital, porém não refletem riqueza direta. Apesar que,
frente a algumas perspectivas, armazenar parte dos cofres nacionais na forma de metais
preciosos, evitaria a desvalorização do capital, produzindo uma menor variação e especulação
monetária, sem prejudicar a economia do país.

21- Para Smith, quais as consequências da restrição à importação e quais os


casos particulares em que Smith defende a regulamentação do comércio internacional
pelo governo; e com base em que argumentos?

Quando se limita a importação, se limita também o mercado interno, pois o blinda de


concorrências estrangeiras, gerando um monopólio em determinado setor. Essa falta de
concorrência é negativa para o consumidor, o qual muitas vezes, diante de uma insatisfação
com a empresa, não poderá recorrer a outra equivalente, pois aquela empresa, que provém,
por exemplo, o serviço de internet, detém esse monopólio, e o governo, restringindo a
importação sustenta essa prática e afasta investimentos externos. Entretanto, Smith irá
defender essa regulamentação em três casos, são eles: a lei sobre a navegação, que conferia
ao Império Britânico, através de sua marinha, o monopólio sobre seu próprio comércio, ou
seja, uma prática de defesa dos interesses nacionais; políticas de retaliação frente ao
protecionismo de outros países, fato que prejudica, de forma geral, a economia global; e a
imposição de taxas de importação, com o intuito de obter mais lucro frente às importações
domésticas, e dessa maneira garantir também certa fiscalização em tais práticas de comércio.

22- Qual a diferença entre trabalho produtivo e trabalho improdutivo? O que


acontece com o número de trabalhadores produtivos à medida que aumenta o capital
acumulado? Qual o efeito sobre o processo de acumulação de um aumento relativo no
trabalho improdutivo?
No trabalho produtivo existe uma variação de valores, uma vez que ele irá produzir
mais do que a recompensa, gerando um maior acúmulo de capital, dessa forma nesse tipo de
trabalho a produtividade e o desempenho do funcionário poderá implicar em um maior lucro.
No trabalho improdutivo existe uma manutenção da ordem social, ou seja, ele não gera
capital, e sua função é apenas de manter o bom funcionamento do sistema, esse tipo de
trabalho se refere aos setores públicos. O capital acumulado aumenta na medida em que os
trabalhadores produtivos também aumentam, pois quanto mais empregos produtivos maior
será o excedente e o lucro em cima do trabalho prestado, se tornando um ciclo, onde os
investimentos contribuem para perpetuar o aumento desse tipo de trabalho. Agora, quando se
aumenta o trabalho improdutivo, o processo de acumulação fica enfraquecido, uma vez que
se gasta mais com trabalhadores “de base”, aqueles que prestam serviços, mas não convertem
em lucro para o organismo estatal, prejudicando o crescimento e a arrecadação econômica.

Você também pode gostar