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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Direito e Ciências do Estado

Tópicos em Estudos Estratégicos:

Estado, Política e Desenvolvimento na China Moderna

Grupo 2 - Jian Zemin, Hu Jintao e Xi Jinping: Reunificação, Ascensão e Consolidação

Discentes:
Beatriz Rodrigues Rossi
Lana Gonçalves Rodrigues
Luis Henrique Duval
Maria Eduarda Mendes
Sophia Gandini

Belo Horizonte - MG
Novembro de 2023
JIANG ZEMIN

Jiang Zemin chega ao poder para solucionar o problema de liderança interna e a imagem
internacional da China. Ele havia sido prefeito de Xangai, um dos maiores polos econômicos
dentro da China, o que lhe deu experiência e capacidade para assumir como líder da grande
China. Ele é apontado por Deng Xiaoping para assumir o cargo de secretário-geral do partido,
que é um cargo com um peso maior do que o próprio o cargo de presidente. O governo de
Jiang Zemin continuou sob grande influência de Deng Xiaoping através de sua vasta conexão
dentro do partido chinês.

O carisma de Jiang Zemin foi muito importante para a retomada das relações da China
com o ocidente após o incidente da praça da paz celestial. A perspectiva após o incidente era
de um isolamento da China por parte da sociedade ocidental e apesar de a China ter sofrido
algumas sanções, ela retomou as relações tanto econômicas quanto diplomáticas em um ritmo
acima do esperado. Jiang Zemin tinha um grande apreço pela cultura do ocidente, e
combinado com seu carisma ele controlou a situação diplomática com maestria.

DESTAQUES DO GOVERNO DE JIANG ZEMIN

Ele também concluiu a retrocessão de Hong Kong (1997) e Macal (1999), retirando as
potências colonizadoras e não permitindo que os povos remanescentes entrassem em processo
de independência, o que anexou essas cidades à soberania chinesa. Apesar de a China ter
melhores relações com Portugal do que com a Inglaterra, o processo de retrocessão se deu
início antes em Hong Kong do que em Macal e após a negociação com o Reino Unido, a
China decidiu usar os mesmos moldes do retrocessão de Hong Kong com os demais
colonizadores, mantendo por 50 anos essas localidades como zonas administrativas especiais.
Essas zonas administrativas especiais funcionam como um experimento do desenvolvimento e
de entrada de capital, sendo assim, não integram o sistema socialista chinês. Essa foi a forma
que Jiang Zemin encontrou para transpor essas cidades de maneira pacífica.

Apesar de Macal ser considerada uma colônia portuguesa, na prática não foi bem assim.
As relações entre China e Portugal sempre foram acordadas e amistosas, a administração de
Macal era feita por uma jurisdição mista. Já em Hong Kong, a colonização foi feita através da
imposição de força pelo Reino Unido, e a requisição da população pelo restabelecimento da
soberania chinesa era maior, por isso foi dada prioridade no retrocesso de Hong Kong.

Jiang Zemin estabiliza a relação da China com os EUA, o que foi primordial para se
relacionar com os demais países ocidentais e em 2001 ele insere a China na organização
mundial do comércio. Após a efetiva estabilização diplomática com os EUA, em 1997, o
próprio Bill Clinton discursou a favor da China, com seu memorável discurso dos três nãos
que basicamente dizia não ao processo de independência de Taiwan, não apoio a duas Chinas
e não apoio a participação de Taiwan a organizações que tinham como requisito a organização
do estado. Dessa forma se efetivou para o cenário mundial que Taiwan era um processo
interno da China e que a discussão em si não se trata de Taiwan se tornar independente mas
sim de quem é o representante da China.

Jiang Zemin também instaurou políticas públicas importantes para o desenvolvimento


da China, como a reforma das empresas públicas e a internacionalização das empresas
chinesas, abrindo caminho para a China retomar o seu lugar de potência global nos anos 2000
e 2010. Ele promoveu a teoria da tríplice representatividade que deixou como consequência
na China a busca da integração de membros qualificados de várias camadas sociais, inclusive
a burguesia, pois se viu necessária a cooptação dessa burguesia para que os debates das
grandes empresas acontecem dentro do partido chinês e também para que o governo efetuasse
um melhor monitoramento sobre essa burguesia.​

GOVERNO DE HU JINTAO

Ao fim de 2002, Jiang Zemin começa a transição política para Hu Jin Tao, que é
considerado na história da China como um líder de menor importância. Jiang Zemin continua
tendo influência sobre o governo de Hu Jintao durante todo seu governo, o que é um dos
fatores que ofusca o Hu Jin Tao. Embora seja parcialmente verdade que o poder político de
Hu Jintao foi mais contido que os demais, a China se desenvolveu muito durante seu governo
no quesito doméstico e internacional e seu comando foi uma etapa importante para o
desenvolvimento da China.

Um grande marco de seu governo foram as olimpíadas de 2008, que foram utilizadas
como holofotes para uma China mais aberta, desenvolvida, inovadora e capacitada,
estreitando laços de amizade com os demais países. Também houve mudanças significativas
na estrutura física do país, como a construção de arranha-céus, trens-bala, casas e entre outros,
o que melhorou o bem-estar da população porém aumentou a desigualdade social.

Hu Jintao traz o conceito de sociedade harmoniosa e mundo harmonioso, teorias que


sublinharam a necessidade de manter a harmonia social tanto doméstica quanto internacional
diante dos desafios perante a desigualdade social que a China enfrentava. Ele também destaca
a necessidade do aprimoramento do soft power cultural do país, que é a difusão dos valores de
um país para os demais.

Houve também uma crescente institucionalização do PCCh e respeito às regras, sendo


assim, após passar o governo a diante, Hu Jin Tao, diferente dos seus antecessores, não
buscou a permanência da influência no governo do Xi Jinping, dando uma maior liberdade
política para seu sucessor.
CHEGADA DO XI JINPING AO PODER

Em 2008 Xi Jinping tornou-se vice-presidente da China e Vice-líder da Comissão Militar


Central em 2010, tornou-se Secretário Geral do PCCh e Chefe da Comissão Central em 2012,
e por fim Presidente em 2013. Sua rápida ascensão de poder explica o porquê Xi Jinping é
considerado um homem forte na política chinesa, diferente de seu antecessor, Hu Jintao, que
entregou à ele o poder, sem intenção de manter sua influência na política, liberando espaço
para Xi ascender e comandar o Partido Comunista Chinês mais livremente.

No ano de 2016, recebeu do PCCh o título de “líder central”, algo apenas dado a Mao
Zedong, Deng Xiaoping e Jiang Zemin anteriormente, ou seja, os principais líderes da China.
No ano seguinte o “Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características
Chinesas na Nova Era” foi inscrito na Constituição do Partido e, em 2018, na Constituição do
país.

Em 2018, ainda que o período presidencial de Xi Jinping já tenha passado, o Congresso


Nacional do povo vota em favor de uma emenda constitucional que retira o limite de
mandatos existentes desde Deng Xiaoping e elege com unanimidade Xi Jinping para um
segundo mandato, derrubando a ideia de obrigatoriedade de transição do poder presidencial a
cada dois mandatos, tornando possível para Xi liderar o país em um terceiro mandato como
Presidente da China, o que se concretizou em 2023, com sua reeleição.

Este processo de modificação de uma emenda constitucional ocorre em contraposição á


outro movimento, o de respeito à lei, inclusive, em sua terceira posse como presidente, Xi
Jinping jura colocando a mão sobre a Constituição em um ato simbólico de respeito á
Constituição, sendo ele o primeiro presidente chinês a fazer tal juramento.

DESTAQUES DO GOVERNO DE XI JINPING

Desde o início de seu primeiro mandato, o combate à corrupção é uma das características
mais marcantes de seu governo, na tentativa de promover uma sociedade mais igualitária, uma
retomada de uma força estatal maior, em contraposição as políticas mais liberais dos dois
governos anteriores. É também uma forma de manutenção de poder, já que elimina seus
inimigos políticos, excluindo correntes fortalecidas de um movimento contra seu governo, e
sua visão de desenvolvimento econômico e social da China, assim mantendo sua estabilidade
política.

A sua altíssima popularidade foi mantida ao longo de seus mandatos, com um estudo
publicado em 2020 pela Universidade de Harvard, que aponta 95,5% de satisfação do povo
chinês para com seu governo central. Na China a perspectiva de Estado é bem diferente da
cidental, que tende a ver o poder estatal como um cerceador da liberdade, enquanto os
chineses colocam o coletivo como prioridade, vendo o Estado como um cuidador e protetor da
sociedade.
A erradicação da pobreza foi um acontecimento notável durante o governo de Jinping,
que desejava uma sociedade “moderadamente prospera”, além da clara melhora do meio
ambiente, com relevantes iniciativas sendo promovidas em direção ao desenvolvimento
sustentável e a um desenvolvimento mais qualitativo, em vez de quantitativo.

Políticas que visam a segurança e o bem-estar acima do rápido desenvolvimento, são


também parte importante de seu governo, com mudanças de paradigma e um maior controle
estatal sobre empresas e vida da população, com o fortalecimento Estado vem o
fortalecimento do PCCh. O planejamento á longo prazo, com objetivos até 2035 e 2049, a fim
de consolidar a República Popular da China como potência global até o seu centenário, e mais
que isso, a unificação total da China.

EXPRESSÃO ‘CIVILIZAÇÃO ECOLÓGICA’

Principal programa de política externa do presidente Xi Jinping (Iniciativa Cinturão e


Rota) é uma iniciativa que promove o intercâmbio internacional, a cooperação e o diálogo,
como objetivo “compartilhar o conceito e a prática da civilização ecológica”, uma visão de
um futuro verde que permeia diversas áreas das políticas públicas chinesas.

Na atualidade, o governo chinês pretende transmitir esse conceito em nível global,


mostrando o compromisso da China com as questões ambientais como uma forma de
restaurar a cooperação e a estabilidade à ordem internacional. A transição verde como parte
de uma civilização ecológica mais global pode, portanto, ser entendida também como uma
alavanca implícita para o crescimento econômico chinês e a influência reguladora por meio da
padronização internacional, também para a criação de uma impressão positiva da implantação
internacional da tecnologia, padrões e governança ambiental chineses.

Fonte: Imagem retirada do site “Diálogo Chino”.

Sendo inspirada por princípios filosóficos chineses, a civilização ecológica é apresentada


como um paradigma de desenvolvimento nacional e que ganhou visibilidade sob a liderança
de Xi, tendo sido consagrada na constituição do Partido Comunista em 2012. Seus principais
elementos incluem justiça, eficiência, harmonia e desenvolvimento cultural, e a luta por altos
níveis de produção a partir de processos limpos, o uso sustentável dos recursos e uma boa
governança social. A eficiência, neste contexto, é entendida como a obtenção de um alto grau
de produção, mantendo um estado de harmonia ecológica e desenvolvimento cultural. Assim,
a ideia de civilização ecológica tem o potencial de promover um novo paradigma de
cooperação para a sustentabilidade.

AS ‘QUATRO DIRETRIZES ABRANGENTES’ DE XI JINPING

1. Construir um país socialista moderno;

Nessa jornada, Xi Jinping aborda que a China irá buscar um desenvolvimento de alta
qualidade, acelerar a criação de um novo paradigma de desenvolvimento e buscar promover
uma abertura de alta qualidade. Afirma o presidente em um de seus discursos: “Identificamos
a principal contradição que a sociedade chinesa enfrenta como o equilíbrio entre o
desenvolvimento adequado e a necessidade cada vez maior das pessoas por uma vida melhor,
e deixamos claro que fechar essa lacuna deve ser o foco de todas as nossas iniciativas".

Afirmando que o país vai continuar a construir uma sociedade socialista moderna, "um
grande, mas enorme empreendimento... A enormidade é o que torna a China infinitamente
gloriosa".

Como dito em seus discursos anteriores, “A nossa experiência ensinou-nos que, ao nível
fundamental, devemos o sucesso do nosso Partido e do socialismo com características
chinesas ao facto de o marxismo funcionar, sobretudo quando adaptado ao contexto chinês e
às necessidades do nosso tempo".

2. Aprofundar as reformas;

Assim, a China deixa claro que o objetivo não é construir um estado de bem-estar do estilo
europeu para operacionalizar a chamada “prosperidade comum”, mas sim aumentar o papel
do Estado para “regular” a acumulação de riqueza, redistribuindo a renda. Tal modo que, o
presidente chinês Xi Jinping visa um programa do governo que visa promover a igualdade
socioeconômica.

3. Governar a nação de acordo com a lei;

Um dos objetivos da China de Xi Jinping na política externa é entrar em espaços


tradicionalmente ocupados pelos Estados Unidos na diplomacia e na economia mundial. “A
China quer ser o motor de uma nova ordem internacional, menos ditada pelos EUA, menos
liberal e mais focada nos valores e interesses das potências revisionistas”.

Além do mais, outro objetivo de Xi Jinping na política externa é entrar em espaços


tradicionalmente ocupados pelos Estados Unidos na diplomacia e na economia mundial.

4. Governar estritamente o Partido.

Xi afirmou que o Partido "encontrou uma resposta para a questão de como escapar do ciclo
histórico de ascensão e queda". "A resposta é a auto-reforma. Garantimos que o Partido nunca
mudará sua natureza, sua convicção ou seu caráter", diz o presidente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

VILLA, C. D. O que significa a “civilização ecológica” da China para a América Latina.


Disponível em:

<https://dialogochino.net/pt-br/comercio-e-investimento-pt-br/57166-o-que-significa-a-civiliz
acao-ecologica-da-china-para-a-america-latina/>.

BASSI, F.; FERRAZ, M. Com poder quase imperial, Xi Jinping mantém soberania na
China. Disponível em:

<https://www.poder360.com.br/internacional/com-poder-quase-imperial-xi-jinping-mantem-s
oberania-na-china/>.

“O marxismo funciona”: Xi sinaliza estratégias para tornar a China um “país socialista


moderno”. Disponível em:

<https://www.brasildefato.com.br/2022/10/16/o-marxismo-funciona-xi-sinaliza-estrategias-pa
ra-tornar-a-china-um-pais-socialista-moderno>.

BULLA, O. China: 4 principais pontos do Congresso do Partido, até aqui. Disponível em:
<https://www.moneytimes.com.br/china-4-principais-pontos-do-congresso-do-partido-ate-aqu
i/>.

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