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Tópicos

● Da gênese das ideias de Economia e Riqueza.


● Crise da ordem feudal e transição para a modernidade.
● Mudanças econômicas, culturais e institucionais.
● Estado nacional moderno e emancipação do econômico e do político das regras
morais: as principais ideias do mercantilismo.

ERIC ROLL: HISTÓRIA DAS DOUTRINAS ECONÔMICAS

Capítulo Segundo: O Capitalismo Comercial e sua Teoria

1. A Decadência do Escolasticismo

A economia política pré-clássica pode dividir-se em duas partes: uma que


representa o reflexo ideológico do nascimento do capitalismo comercial, e geralmente
conhecida pelo nome de "mercantilismo"; e outra que acompanha a expansão do capital
industrial nos fins do século XVII e princípios do século XVIII, em que estão os verdadeiros
fundadores da ciência da economia política,
Contribuíram para a queda do feudalismo: crescimento dos estados nacionais, o
progresso do conceito de direito natural na jurisprudência, o enfraquecimento da igreja, a
invenção da imprensa, a revolução nos métodos agrícolas, a superpopulação rural e a
expansão marítima.

Gostaria de levantar um ponto sobre o seguinte pensamento presente no texto: Dentre os


fatores que contribuíram para a queda do feudalismo, está “O progresso que o conceito
de direito natural fez, na jurisprudência e nas ideias políticas”, o qual preparou o “terreno
para um contato racional e científico com os problemas sociais”.

Gostaria de iniciar uma discussão em cima disso de forma a refletir e ter mais insights
sobre o assunto.

Hobbes, Locke e Rousseau comentam e são grandes nomes quando se trata de


direito natural.
De acordo com Hobbes, o direito natural (jus naturale) é "a liberdade que cada
homem tem de utilizar seu poder como bem lhe prouver, para preservar a sua
própria natureza, isto é, sua vida; consequentemente, é a liberdade de fazer tudo aquilo
que, segundo seu julgamento e razão, é adequado para atingir esse fim".
Então, para que o ser humano tenha liberdade não deve haver empecilhos externos
que tirem seu poder de agir como quiser.
Neste sentido surge a lei natural (lex naturalis), que é a regra geral estabelecida pela
razão e proíbe o homem de agir de uma forma que destrua sua própria vida.
Mas, na visão de Hobbes, o estado natural do homem é de guerra e de destruição.
Sendo assim, se todos mantiverem esse direito sobre tudo, ninguém estará seguro e,
portanto, surge o contrato social e a lei fundamental da natureza. Ambos se baseiam no
fato do homem renunciar seu direito por todas as coisas "na medida que considerar tal
decisão necessária à manutenção da paz e de sua própria defesa".

Dessa forma, tive o entendimento de que Roll está apontando para o fato que o conceito
de direito natural possibilitou avanços nas leis, em função desta noção da necessidade do
Estado como mediador. Porém, não entendi bem a relação com o preparo para um
contato científico com os problemas sociais. Alguém conseguiu ter algum entendimento
disso para compartilhar?

Estas transformações estão intimamente ligadas. É possível observar que na


Inglaterra houve desenvolvimento do capitalismo e o crescimento do comércio, que destruiu
a agricultura de consumo, obrigando-a a depender cada vez mais do mercado
A revolução comercial foi acompanhada por mudanças na organização da produção.
Chegou-se a fase especial em que o capitalismo mercador dominava o processo produtivo,
executado por pequenos artesãos: no século XVII houve o conflito entre capitalismo
mercantil e o novo capitalismo industrial.
Os recém formados estados nacionais utilizavam do monopólio para arrecadar altos
tributos e aumentar o comércio, de forma que para o comerciante era o melhor caminho
para desenvolver seu setor. Os princípios do capitalismo industrial levaram a campanhas
contra o monopólio, mas os argumentos empregados se dirigiam a determinado
proprietário, cujos privilégios se deseja suplantar. O primitivo capitalismo industrial não se
opunha ao monopólio, exceto aquele que favorecia os capitalistas mercadores.
O domínio do monopólio no comércio exterior manteve-se sem oposição durante
longo período de tempo. Cenário em que as grandes Companhias comerciais privilegiadas
que monopolizam o comércio com diversas regiões são as primeiras a constituir-se em
sociedades, por ações, organização tipicamente capitalista.
Com a colonização e o monopólio colonial cada vez mais se estreitaram os laços de
interesse entre o comércio e o Estado, de maneira que a atenÇão da política estatal cada
vez mais se concentrou em problemas comerciais.
Em 1569, Jean Bodin publicou uma explicação sobre a revolução sofrida pelos
preços no século XVI. Sua declaração que "a razão principal que faz subir o preço de tudo,
não importa o país de que se trate é a abundância daquilo que regula a avaliação e o preço
de todas as coisas" é a primeira enunciação precisa de uma teoria quantitativa da moeda.

Gostaria de expor um entendimento meu e avaliar se mais alguém entendeu da


mesma forma ou se teve compreensão diferente.

Em 1569, Jean Bodin publicou uma explicação sobre a revolução sofrida pelos
preços no século XVI. Sua declaração que "a razão principal que faz subir o preço de
tudo, não importa o país de que se trate é a abundância daquilo que regula a avaliação e
o preço de todas as coisas" é a primeira enunciação precisa de uma teoria quantitativa da
moeda. Ele cita que a principal causa é a abundância de ouro e prata.

Aqui, Bodin basicamente está tratando da expansão monetária que tem como
consequência a inflação (justamente por inflar a quantidade de dinheiro em circulação).
Correto?

Bodin passa a descobrir o aumento do dinheiro, cuja causa atribui a expansão do


comércio, sobretudo com os países sul-americanos, nos quais o ouro abundava. Ele
também fala dos efeitos inflacionistas que o gasto produz em contraste com o
entesouramento, pois se o aumento de ouro tivesse sido poupado, a alta dos preços seria
muito menor.

2. As Características do Mercantilismo

É na fase mercantilista que se constroem os estados nacionais, considerando-se o


sistema monetário, o protecionismo e algumas outras medidas econômicas, simples meios
de alcançar essa expiração. A intervenção do Estado fazia parte integrante da doutrina
mercantilista.
Não é preciso desprezar a influência que o crescimento do Estado exerceu sobre o
progresso comercial e sobre a teoria da política econômica para reconhecer que a queda da
economia feudal e o surto do comércio foram a razão fundamental da derrocada da
estrutura política feudal e da aparição do estado-nação.
As transformações da política estatal durante o largo período em que o
mercantilismo teve influência não poderão ser compreendidas sem que levemos em conta o
quanto foi o Estado uma criaÇão dos interesses comerciais em luta, e nos lembremos que o
único objetivo comum a esses interesses era a existência de um Estado forte, sob a
condição de que pudesse ser manejado em seu exclusivo proveito.
O capitalismo mercantil precedeu e preparou o terreno para o capitalismo industrial
moderno. Este último, como veremos depois, viu no poder do Estado e na sua intervenção
em assuntos econômicos um sério empecilho ao seu próprio desenvolvimento e se opõe,
portanto, à estrutura política que seu antecessor tivera necessidade de criar.
Sabemos agora que os monopólios, a proteção e a regulamentação estatal não são
geralmente características essenciais do capitalismo em toda a sua plenitude. Chega a ser
irônico o espetáculo do capitalismo, que em sua etapa liberal ataca e destrói tudo quanto o
havia feito nascer.
O capitalismo comercial deu novo impulso a essa opinião. A circulação dos bens foi
a base da atividade econômica, enquanto o comércio era a força dominante do
desenvolvimento econômico. Seu fim, a acumulação de dinheiro, correspondia a ideias
tradicionais sobre a riqueza e o objetivo da política nacional. A primeira forma específica de
expansão comercial é a procura de ouro em terras longínquas, disse Colombo que “O ouro
é uma maravilha! Quem o possuir é dono de tudo o que desejar.”

3. Metalismo e Mercantilismo

Uma vez que se considerava os metais preciosos como a mais alta expressão da
riqueza, é claro que se tornou necessária uma política para impedir sua exportação e
estimular sua importação. As proibições para a exportação de ouro e prata datam dos
tempos medievais, e persistiram até a época da controvérsia mercantilista.
Dava-se o nome de metalistas aos que desejavam reviver as antigas proibições de
exportação, o restabelecimento da Bolsa Real de Valores e maior regulamentação das
transações cambiais. Geraldo MALYNES foi o principal representante desta escola.
Seu intervencionismo diz respeito principalmente às questões econômicas, das
quais, além da, usura, considerava como as mais importantes as relativas ao câmbio e ao
comércio internacional. Acreditava que a usura, apesar de só com ela,se preocuparem, era
unicamente sintoma de mais profundos males.
Gostaria de abordar uma parte que ficou confusa para mim:

Ao tratar dos metalistas, usa-se Geraldo Malynes como principal representante da escola.
Ao abordar o tema, na página 56, tem-se:

“O desenvolvimento do cambio ilegítimo destruirá a verdadeira paridade do câmbio


exterior, que era o que agora chamamos "paridade legal", isto é, a proporção dos valores
de duas moedas baseadas em seu conteúdo metálico”.

O que seria o câmbio ilegítimo? Atualmente, “São consideradas operações de câmbio


ilegítimas as realizadas entre bancos, pessoas naturais ou jurídicas, domiciliadas ou
estabelecidas no país, com quaisquer entidades do exterior, quando tais operações não
transitem pelos bancos habilitados a operar em cambio”. Porém não compreendi a que o
texto se refere.

O texto continua:
“Os câmbios que se faziam nessa ocasião eram os únicos que correspondiam ao par pro
pari, fundamento moral do câmbio. Se a proporção variasse, o câmbio redundava. em
injustiça para uma das partes. Mais ainda: não haveria movimentos de metais se os tipos
de câmbio fossem estáveis. Se estes se inclinassem a favor de um país, os metais
preciosos não seriam dele, mas se desvaneceriam quando a taxa de câmbio fosse inferior
ao par.”

Aqui está sendo tratada de uma situação hipotética em que seria usado um câmbio fixo?
Não sei se entendi bem.

Edward Misselden, Antônio Serra e Thomas Mun são os três escritores


mercantilistas que representam uma mudança de pensamento.

4. Thomas Mun

Mun, parece, pressentiu que os preços altos criados pela abundância de dinheiro,
podiam exercer efeito contrário na balança comercial. Querendo evidentemente defender
ainda o comércio com as Índias Orientais, dizia que o país sofreria se guardasse o dinheiro
em seu território, em vez de empregá-lo no comércio exterior.
"Pois todos são acordes em que a abundância de dinheiro num Reino encarece as
mercadorias internas, o que - se bem que em proveito das rendas de alguns particulares - é
diretamente contrário ao bem público na quantidade de comércio. Assim como a
abundância de dinheiro torna as mercadorias mais caras, também as mercadorias caras
fazem diminuir seu uso e consumo...e ainda que esta lição seja muito dura para que a
aprendam alguns grandes proprietários de terra, estou certo de que é lição verdadeira, que
todos devem observar, a de que, exceto quando tenhamos acumuIado dinheiro
comerciando, perde-lo-emos de novo comerciando com nosso dinheiro”

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