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Rodada #1

Comércio Internacional
Professor Rodrigo Luz

Assuntos da Rodada

COMÉRCIO INTERNACIONAL: 1. Políticas comerciais. Protecionismo e livre

cambismo. Políticas comerciais estratégicas. 1.1. Comércio internacional e

desenvolvimento econômico. 1.2. Barreiras tarifárias. 1.2.1 Modalidades de

Tarifas. 1.3. Formas de protecionismo não tarifário. 2. A Organização Mundial do

Comércio (OMC): textos legais, estrutura, funcionamento. 2.1. O Acordo Geral Sobre

Tarifas e Comércio (GATT-1994); princípios básicos e objetivos. 2.2. O Acordo Geral

sobre o Comércio de Serviços (GATS). Princípios básicos, objetivos e alcance. 3.

Sistemas preferenciais. 3.1. O Sistema Geral de Preferências (SGP). 3.2. O Sistema

Global de Preferências Comerciais (SGPC) 4. Integração comercial: zona de

preferências tarifárias; área de livre comércio; união aduaneira. 4.1 Acordos regionais

de comércio e a Organização Mundial de Comércio (OMC): o Artigo 24º do GATT; a

Cláusula de Habilitação. 4.2. Integração comercial nas Américas: ALALC, ALADI,

MERCOSUL, Comunidade Andina de Nações; o Acordo de Livre Comércio da América

do Norte; CARICOM. 5. MERCOSUL. Objetivos e estágio atual de integração. 5.1.

Estrutura institucional e sistema decisório. 5.2. Tarifa externa comum: aplicação;

principais exceções. 5.3. Regras de origem. 6. Práticas desleais de comércio. 6.1.

Defesa comercial. Medidas Antidumping, medidas compensatórias e salvaguardas


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comerciais. 7. Sistema administrativo e instituições intervenientes no comércio exterior

no Brasil. 7.1. A Câmara de Comércio Exterior (CAMEX). 7.2. Receita Federal do Brasil.

7.3 Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). 7.4. O Sistema Integrado de Comércio

Exterior (SISCOMEX). 7.5. Banco Central do Brasil (BACEN). 7.6. Ministério das Relações

Exteriores (MRE). 8. Classificação aduaneira. 8.1. Sistema Harmonizado de Designação

e de Codificação de Mercadorias (SH). 8.2. Nomenclatura Comum do MERCOSUL

(NCM). 9. Contratos de Comércio Internacional. 9.1. A Convenção das Nações Unidas

sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias. 10. Exportações.

10.1 Incentivos fiscais às exportações. 11. Importações. 11.1. Contribuição de

Intervenção no Domínio Econômico. Combustíveis: fato gerador, incidência e base de

cálculo. 12. Termos Internacionais de Comércio (INCOTERMS 2010). 13. Regimes

aduaneiros.

Recados importantes!

a. Você poderá fazer mais questões destes assuntos no teste semanal, liberado ao

final da rodada.

b. Tente cumprir as metas na ordem que determinamos. É fundamental para o

perfeito aproveitamento do treinamento.

c. Qualquer problema com a meta, envie uma mensagem para o WhatsApp oficial da

Turma Elite (35) 9106 5456.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

a. Teoria em Tópicos

1. A expressão Comércio Internacional engloba o conjunto de transações

envolvendo mercadorias e serviços entre os países, não importando a natureza

dessas operações, que podem ser a título oneroso ou não.

2. A política comercial de um país é o conjunto de normas e decisões

governamentais relativas ao comércio exterior (importações e exportações).

3. As políticas comerciais dos países podem ser baseadas no protecionismo, que

consiste na imposição de barreiras ao comércio, e no livre-cambismo, que prega

a não intervenção estatal.

4. O estudo das políticas comerciais passa pela análise dos momentos históricos.

Como vemos a seguir, a Idade Média foi caracterizada pelo feudalismo; a Idade

Moderna, pelo mercantilismo; e a Idade Contemporânea, pelo liberalismo.

5. Na Idade Média, caracterizada pelo feudalismo e pela inexistência dos Estados, a

produção de bens ocorria dentro dos feudos, sendo estes autossuficientes. Logo,

não faz muito sentido falar em políticas comerciais, seja porque os Estados ainda

não tinham surgido, seja porque o comércio entre os feudos era inexpressivo.

6. No século XV, houve a passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Surgiram

os Estados modernos e o feudalismo deu lugar ao mercantilismo. A teoria

econômica mercantilista pregava a acumulação de ouro e prata pelo Estado, pois

a mínima perda de riquezas levaria, num ciclo vicioso, à perda total, como

pregado por John Locke (1632-1704):

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

[A falta de moeda] acarretará, não obstante, as seguintes desditosas

consequências: primeira, preços muito baixos para nossos próprios produtos;

segunda, preços muito altos para todos os produtos estrangeiros, e ambas as

coisas nos trarão a pobreza já que o comerciante quer obter por suas

mercadorias o mesmo aqui que em qualquer outra parte, o mesmo número

de onças de prata e isto nos obriga a pagar o dobro do valor dos demais

países, os quais dispõem de maior abundância de dinheiro.

Um país que não seja presenteado com minas de metais preciosos somente

pode tê-las através da força, do empréstimo ou do comércio. (John Locke, in

Reinaldo Gonçalves, “A Nova Economia Internacional”, 1998. p. 8)

7. É fácil perceber o que Locke falava: quando estamos em crise econômica, os

nossos preços caem, porque, se não caírem, ninguém compra. Em épocas de

recessão, as vantagens que as lojas nos dão são inúmeras: juro zero, bons

descontos e longos financiamentos. Em compensação, quando o mercado está

aquecido, os preços sobem. Quando um país obtinha novos estoques de ouro e

prata, seus produtos se tornavam mais caros, e os importados, mais baratos. Essa

afirmação resulta da constatação de que a moeda e o estoque de metais eram

diretamente proporcionais.

8. Locke afirmava que o país deveria acumular ouro e prata, pois venderia seus bens

por preços mais altos (a quantidade de ouro aumentou, os preços aumentariam)

e gastaria menos nas importações (porque o resto do mundo se empobreceu e,

portanto, os preços dos importados cairiam) e isto tenderia a gerar mais ouro e

prata para o país num ciclo virtuoso. Se um país obtivesse um aumento, ainda

que ínfimo, de ouro e prata, isso o levaria a ter mais e mais ouro e prata.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

9. Por outro lado, perder um grama de ouro e prata era inaceitável. Afinal, os preços

internos cairiam e os dos importados subiriam. O país ganharia menos recursos e

gastaria mais, levando à perda de vários outros gramas de ouro num ciclo vicioso

até as reservas se exaurirem. Por isso, as importações deveriam ser fortemente

restringidas. Quem importasse mercadorias estaria colaborando para gerar a

quebra do país, ainda que gastasse um único grama de ouro.

10. Locke dizia que o ouro poderia ser obtido por meio de minas próprias, por meio

do comércio ou pelo saque das minas de outros países. Daí surgem os elementos

caracterizadores do Mercantilismo: o forte protecionismo e a colonização (pacto

colonial).

11. O Brasil e a América Espanhola foram os fornecedores de ouro para Portugal e

Espanha. Em compensação, como a Inglaterra não possuía colônias fornecedoras

de ouro e prata, usaram de outro estratagema para obter o metal: Portugal e

Espanha pagavam caro pelos produtos ingleses. Assim, o ouro brasileiro foi parar

na Coroa Britânica.

LIBERALISMO

12. A teoria mercantilista em favor da acumulação de ouro e prata sofre a primeira

forte oposição por volta de 1760, com os escritos de David Hume. Ele dizia que a

teoria mercantilista de acumulação cíclica de ouro e prata não se sustentava, pois,

se nossos produtos ficam cada vez mais caros com a acumulação de ouro e prata,

nós não conseguiremos vender a mesma quantidade de mercadorias que

vendíamos antes do aumento dos preços. E, para reforçar isso, dizia que o outro

país, cujos preços ficavam cada vez mais baixos, teria cada vez menos dinheiro

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para comprar nossos produtos. Em suma, ele provava que ter mais ouro e prata

não levaria a uma acumulação cíclica, e a perda não provocaria o exaurimento das

reservas. Portanto, importar não era tão ruim assim. David Hume provava que, se

houvesse déficit, a perda de ouro seria corrigida automaticamente, e as reservas

se recuperariam. Afinal, com a perda de ouro, os preços domésticos se

reduziriam, gerando um aumento no volume de exportações. E os preços mais

altos dos importados gerariam uma diminuição de importações. Em

consequência, haveria um aumento de reservas de metal precioso, desfazendo-se

o déficit inicial.

13. O segundo teórico a fulminar o protecionismo comercial foi Adam Smith. Ele

mostrou que o país obteria mais benefícios caso importasse as mercadorias

produzidas de forma ineficiente, concentrando energias naquilo que produzia

com maior eficiência. É clássica sua frase: “o indivíduo, ao procurar o seu próprio

interesse [lucro], também estaria promovendo o interesse e o bem-estar da

sociedade”. Assim, o governo deveria estimular a atividade privada e intervir o

mínimo possível.

14. No livro “A Riqueza das Nações”, Adam Smith apresentou a Teoria das Vantagens

Absolutas. Por essa teoria, ele pregava que os países deveriam se especializar na

produção dos bens em que fossem mais eficientes, deixando de produzir aquilo

em que fossem ineficientes. Um exemplo numérico pode ajudar.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

15. Para produzir um sapato, o Brasil gasta, por hipótese, uma hora de trabalho (ht) e

os EUA, duas horas. Para produzir uma camisa, os EUA gastam uma hora de

trabalho, e o Brasil, duas, conforme tabela.

País / Produto Sapato Camisa

Brasil 1 ht 2 ht

EUA 2 ht 1 ht

16. Se cada país fosse fazer uma unidade de cada bem, sem comprar do outro,

ambos gastariam três horas de trabalho. No entanto, se cada um fizer a

mercadoria na qual é mais eficiente, perdem apenas duas horas de trabalho para

fazerem duas unidades e podem trocar uma camisa por um sapato. O Brasil

produz dois sapatos, e os EUA, duas camisas. Em uma troca um por um, cada país

fica com um sapato e uma camisa. Trabalharam apenas duas horas e têm

mercadorias que lhes teriam custado três horas de trabalho. Com o comércio

livre, sem barreiras, economizam tempo que pode ser aplicado em maior

produção, gerando vários benefícios, incluindo a queda do preço, maior

competitividade e maior variedade de bens.

17. A conclusão de Adam Smith é de que o Estado provoca ineficiência ao intervir na

economia, impondo barreiras às importações. As barreiras fazem com que o país

tenha que produzir todos os tipos de bens necessários à população, ainda que

vários deles gerem grande perda de tempo e de dinheiro. Se não houvesse

intervenção estatal, a livre concorrência entre os produtos nacionais e os

estrangeiros provocaria uma divisão internacional do trabalho, com cada país se

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

especializando apenas nos bens em cuja produção fosse mais eficiente. O livre

comércio pode, portanto, ser sintetizado numa frase: “Concentre-se naquilo em

que você é bom e adquira o resto”. Assim fazemos no nosso dia a dia, e isso Adam

Smith pregava para as nações.

18. As teorias liberais relacionadas ao comércio, iniciando-se com as de David Hume e

Adam Smith, acabaram sepultando o mercantilismo. Junto com o liberalismo

comercial, surgiram teorias de liberalismo político e religioso, que acabaram

desembocando na Revolução Francesa (1789), que marca o fim do mercantilismo

e o início do período liberal, ou seja, é o ponto de transição entre a Idade

Moderna e a Idade Contemporânea.

19. Tendo se iniciado o período liberal, novas teorias de livre comércio foram

surgindo. Como vimos, a Teoria das Vantagens Absolutas é aplicável no caso de

um país ser mais eficiente na produção de um bem, e o outro país, na produção

do outro bem (Brasil -> sapato; EUA -> camisa). Porém, ela não se aplica se um

país for mais eficiente que o outro na produção dos dois bens. Por essa teoria, o

país mais eficiente nos dois produtos não teria vantagem em adquirir nada do

outro país e deveria continuar a produzir os dois bens, não se especializando em

um nem no outro. Em suma, pela teoria de Adam Smith, não haveria comércio se

um país fosse mais eficiente que o outro nas duas produções.

20. Complementando a teoria de Adam Smith, surgiu em 1817 a Teoria das

Vantagens Relativas (ou Comparativas), de David Ricardo. Ele mostrou que,

mesmo que um país seja mais eficiente que o outro na produção de todos os

bens, pode ser vantajoso para os dois países que cada um se especialize em uma

produção. Vejamos um exemplo numérico em que os EUA são mais eficientes que

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o México nos dois produtos e, mesmo assim, ambos ganham se fizerem comércio

entre si.

País/Produto Sapato Camisa

EUA 5 ht 9 ht

México 15 ht 10 ht

21. Nos EUA, o custo de produção do sapato em relação à camisa é de 0,55 (5/9), ou

seja, para produzir o sapato, os EUA gastam cerca de 55% do tempo de produção

da camisa. O custo do sapato é cerca de metade do custo da camisa. Já o México

gasta 15 horas para fabricar um sapato e 10 horas para produzir uma camisa, ou

seja, o custo do sapato é o equivalente ao de uma camisa e meia (15/10=1,5).

22. Como o custo relativo do sapato no México é mais alto do que nos EUA (1,5 vs.

0,55), então é vantajoso para o México comprar o sapato dos EUA, desde que

pague menos que 1,5 do preço da camisa. Por exemplo, se a base de troca for de

1 para 1, em vez de fabricar um sapato por 15 horas, o México poderia fabricar

uma camisa em 10 horas e trocá-la com os EUA por um sapato, economizando

assim 5 horas de trabalho. Neste caso, os EUA também sairiam ganhando, pois

deixariam de gastar 9 horas para produzir uma unidade de camisa, utilizando

apenas 5 horas para produzir sapato e trocando-a por uma camisa, poupando 4

horas de trabalho.

23. Então, mesmo os EUA sendo melhores nos dois produtos, é vantajoso que eles se

especializem na produção de sapato, deixando de fabricar camisas, adquirindo-as

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dos mexicanos. Essa constatação se dá com a análise dos custos relativos, não

absolutos, ensinada na Teoria das Vantagens Relativas.

24. Depois dessas teorias iniciais, outras vieram no sentido de mostrar que o

liberalismo traz mais vantagens aos países do que o protecionismo. As teorias

modernas e as novas teorias não são analisadas nesse curso por não constarem

no edital de 2014, tendo sido cobradas apenas até o concurso de 2005. O que

devemos saber para as provas é que essas teorias colocaram uma pá de cal no

protecionismo como política comercial dominante.

GANHOS PROPORCIONADOS PELO COMÉRCIO

25. Pelas Teorias de Comércio Internacional, criadas a partir de David Hume e Adam

Smith, vemos que o comércio internacional traz um ganho de disponibilidade de

produtos ou, em outras palavras, traz um aumento de oferta dos produtos nos

países comerciantes. De acordo com o clima ou os recursos naturais, os países

não têm muitas vezes o necessário para seu consumo ou os têm a um alto custo.

Por exemplo, países com clima equatorial não produzem frutas subtropicais como

a uva ou produzem com alto custo em investimento. Por isso, precisam importar.

26. Como consequência do aumento da oferta, podemos citar também como ganho

proporcionado pelo comércio o aumento da satisfação pessoal do consumidor,

tendo em vista que agora ele pode escolher entre os vários produtos disponíveis.

O aumento de oferta e a maior liberdade de escolha traz a reboque outra

vantagem: o barateamento dos produtos tendo em vista a concorrência criada

pelos produtos importados. E também traz o incremento tecnológico, pois a

empresa nacional que não produzir um bem de qualidade equivalente ao produto

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

importado vai perder mercado, já que muitas vezes o consumidor prefere até

mesmo pagar mais caro por um produto que ele considera de melhor qualidade.

E este incremento tecnológico pode inclusive servir para a empresa ampliar

mercados buscando também “entrar” no comércio internacional através das

exportações, que geram divisas para o País e aumento na oferta de emprego,

direto e indireto. O aumento nas vendas externas gera maiores ganhos de escala

(ou economia de escala), ou seja, a produtividade aumenta por causa de uma

maior especialização, o que leva a um custo unitário de produção mais baixo.

27. O comércio internacional também proporciona ganhos quando o custo de

transformação de um produto no país é caro e fica mais barato exportar para

consertar ou industrializar um produto no exterior, seja porque a mão de

obra no exterior é mais barata; a tecnologia, mais avançada; não há

disponibilidade no país de materiais de reposição; ou não há no país mão de obra

especializada ou suficiente para se produzir ou consertar o produto.

PROTECIONISMO

28. As teorias de comércio internacional (que não são mais pedidas desde o edital de

2005) mostram que o livre comércio (livre cambismo) proporciona um aumento

na produção, gerando bem-estar mundial.

29. Ainda assim, existem justificativas para a utilização de políticas protecionistas. E

os maiores pregadores hoje do livre cambismo foram, no passado, protecionistas,

e seus desenvolvimentos se devem em grande parte a essa política.

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30. As permissões para o uso de medidas protecionistas estão previstas no GATT

(Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio). Vejamos uma a uma:

i. Melhoria no Balanço de Pagamentos (art. XII)

ii. Proteção à indústria nascente (art. XVIII)

iii. Defesa Comercial (arts. VI e XIX)

iv. Promoção da segurança nacional (art. XXI)

v. Existência de desequilíbrio doméstico (art. XI, § 2º)

vi. Exceções Gerais (art. XX)

31. Melhoria no Balanço de Pagamentos. Barreiras comerciais podem ser criadas

quando houver déficit e as reservas cambiais estiverem muito baixas ou na

iminência de se as tornarem (artigo XII do GATT). Neste caso, o país tem o direito

de cobrar tributos ou taxas para encarecer o bem. Se isso não se mostrar eficaz,

quotas podem ser usadas.

32. Proteção à indústria nascente (artigo XVIII). O conceito de indústria nascente foi

criado na Alemanha na década de 1820 pelo economista e político alemão

Friedrich List, no contexto de uma Inglaterra industrializada e uma Alemanha nem

unificada ainda (a unificação alemã só ocorreria em 1871). List, alemão, defendia a

ideia de que os países, enquanto não tivessem atingido um nível razoável de

desenvolvimento, poderiam impor barreiras para proteger a indústria que

começava a surgir, a “indústria nascente”. List pregava que, caso não houvesse a

proteção, a indústria alemã não conseguiria vingar, ou seja, nasceria, mas não

conseguiria suportar a concorrência de produtos importados da Inglaterra, que já

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

possuía um desenvolvimento muito maior em função da Revolução Industrial.

Esta justificativa subsiste até hoje e foi incorporada ao GATT no artigo XVIII.

Portanto, a “proteção à indústria nascente” é permitida, mas apenas para países

cuja economia “esteja nas primeiras fases de seu desenvolvimento”, ou seja,

apenas países em desenvolvimento podem invocar este artigo. E esta proteção

às indústrias nascentes deve ser temporária. Somente poderá ser usada

enquanto a indústria for “nascente”. Guarde isso: o que pode ser protegido é a

indústria, não a firma individualmente. A indústria é o setor econômico tomado

como um todo. O governo pode proteger a indústria têxtil, não especificamente a

empresa A ou B, mas todas elas. O governo pode proteger a indústria de papel e

celulose, mas sem favorecer esta ou aquela firma.

33. Para a aplicação de medidas de defesa comercial, por meio de medida

antidumping e medida compensatória ou cláusula de salvaguarda (artigos VI e

XIX). Na aula específica sobre defesa comercial, as três medidas (antidumping,

compensatórias e cláusulas de salvaguarda) serão analisadas em detalhes. Por

ora, basta saber que as práticas desleais de dumping e subsídio podem ser objeto

de defesa pelos países importadores, por meio, respectivamente, de medidas

antidumping e medidas compensatórias, caso suas indústrias estejam sofrendo

dano. No caso das salvaguardas, a imposição temporária da barreira serve para

resguardar a indústria doméstica que sofre ou ameaça sofrer um prejuízo grave

com o aumento das importações, não provocado por deslealdade dos

exportadores estrangeiros.

34. Promoção da segurança nacional (artigo XXI). O GATT dispõe que podem ser

criadas medidas protecionistas por questão de segurança nacional. Por este

artigo, fica permitida a imposição de barreiras sobre a importação de materiais

fissionáveis, armas, munições e material de guerra e outras aplicadas em tempos

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de guerra ou em caso de grave tensão internacional. Porém, a questão da

segurança nacional não se restringe à segurança em sentido estrito. Existem bens

tão importantes que devem (ou deveriam) ser produzidos por todos os países e

neles disponibilizados. Por exemplo, nenhum país deveria ser meramente

importador de alimentos, energia ou material militar, pois o corte no

fornecimento externo dessas espécies de bens certamente geraria graves crises

internas. Como muitos países são ineficientes na produção de tais bens, as

barreiras aos importados são permitidas para se viabilizar a produção interna.

Como exemplo real, podemos encontrar no preâmbulo do Acordo sobre

Agricultura uma menção expressa à segurança alimentar, o que direciona o

acordo a permitir maiores níveis de proteção para bens agrícolas em comparação

com os dos demais tipos de bens. Em um segundo exemplo de segurança

nacional, todo país tem o direito de proibir ou limitar operações que causem um

desabastecimento interno grave ou que necessitem de aplicação de controles. O

art. XI, §§ 2o, do GATT dispõe sobre isso:

§ 2º. As disposições do parágrafo primeiro do presente artigo não se

estenderão aos casos seguintes [Em outras palavras, poderão ser criadas]:

(a) proibições ou restrições aplicadas temporariamente à exportação para

prevenir ou remediar uma situação crítica, devido a uma penúria de

produtos alimentares ou de outros produtos essenciais para a Parte

Contratante exportadora;

(b) Proibições ou restrições à importação ou exportação necessárias para a

aplicação de normas ou regulamentos sobre a classificação, o controle de

qualidade ou a comercialização de produtos destinados ao comércio

internacional;

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

35. Também são permitidas barreiras comerciais para as situações listadas no

parágrafo 2o do artigo XI, evitando-se desequilíbrio doméstico:

“Parágrafo 2º – As disposições do parágrafo 1º deste artigo não se aplicarão

aos seguintes casos:

(c) Restrições à importação de qualquer produto agrícola ou pesqueiro (...)

quando sejam necessárias para a execução de medidas governamentais

que tenham por efeito:

i. Restringir a quantidade do produto nacional similar que possa ser

comercializada ou produzida (...);

ii. Eliminar um excedente de produção nacional ... colocando tal

excedente à disposição de certos grupos de consumidores no país,

gratuitamente ou a preços inferiores aos correntes neste mercado; ou

iii. Restringir a quantidade que possa ser produzida de qualquer

produto de origem animal cuja produção dependa diretamente do

produto importado, quando a produção nacional de bens similares a

este for insignificante.

Toda parte contratante que imponha restrições à importação de um produto

em virtude das disposições da alínea (c) deste parágrafo publicará o total do

volume ou do valor do produto cuja importação ficará autorizada durante

um período especificado...”

36. Exceções gerais. Podem ser impostas restrições e proibições a produtos em

situações específicas. Pelo art. XX do GATT, todo governo pode impor medidas:

i. Necessárias para proteger a moral pública;

ii. Necessárias para proteger a saúde e a vida das pessoas, animais e vegetais;

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

iii. Relativas à importação ou exportação de ouro ou prata;

iv. Necessárias para a observância de leis que não sejam incompatíveis com o

GATT (ex: direitos de autor e de reprodução, patentes, ...);

v. Relativas a produtos fabricados em prisões;

vi. Impostas para proteger o tesouro nacional artístico, histórico ou

arqueológico;

vii. Relativas à conservação dos recursos naturais esgotáveis;

viii. Adotadas em virtude de acordo internacional;

ix. Para evitar a exportação de matérias-primas nacionais essenciais garantindo

tais insumos em quantidade adequada às indústrias transformadoras nacionais;

x. Necessárias para enfrentar situações de penúria geral ou local.

37. O GATT possui a lista de situações em que o protecionismo é permitido. Apesar

disso, os governos costumam invocar outras justificativas, ilegítimas, para a

imposição de barreiras comerciais. Alegam, por exemplo, a necessidade de:

a) Redução do desemprego

b) Redução do Diferencial de Salários

c) Estímulo à substituição de importações

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

38. Redução do desemprego. Políticas macroeconômicas (fiscal, monetária ou

cambial) são opções naturais para combater a recessão. O emprego da política

comercial com essa finalidade apresenta a desvantagem de induzir distorções nos

preços relativos e consequente ineficiência na alocação de recursos. Além disso,

embora possa reduzir o problema doméstico, tal medida pode causar “exportação

de desemprego” e gerar retaliações. Se outros países também adotarem a mesma

estratégia, a consequência pode ser uma guerra comercial, com aumento

generalizado do desemprego, como ocorreu entre as duas grandes guerras.

39. Redução do Diferencial de Salários. A imposição de barreiras protecionistas

pode ser invocada para estimular o êxodo rural e a urbanização. Com a

diminuição de disponibilidade de mão de obra rural, sua remuneração aumenta.

40. Estímulo à Substituição de Importações. A teoria da política de substituição de

importações foi criada pela CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina)

da ONU na década de 1950. E usada no Brasil por Getúlio e JK. Surgiu com a

publicação de um artigo de Raúl Prebisch onde procurava explicar as causas do

atraso econômico da América Latina. A ideia era atacar a Teoria das Vantagens

Comparativas que induzia os países de produção primária a se manterem na

mesma situação, sem se industrializarem. O ponto de partida do argumento foi a

constatação de que os países menos desenvolvidos, tradicionais exportadores de

produtos primários e importadores de industrializados, tendiam a ser

permanentemente prejudicados no comércio internacional porque as relações

(ou termos) de troca lhes eram desfavoráveis.

41. A explicação de Prebisch para isso se baseou nos ciclos econômicos. Nos países

desenvolvidos, em tempos de alta, os preços subiam e, em tempos de baixa, os

salários em particular caíam menos que a renda global devido ao poder de

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

pressão dos sindicatos. Já nos países em desenvolvimento, como é o caso da

América Latina, não há tanta resistência à queda dos salários devido ao excedente

de mão de obra. E gera, portanto, uma queda maior dos preços das mercadorias

por eles produzidas. Após vários ciclos, os preços dos produtos estrangeiros caem

pouco em comparação com a queda dos produtos nacionais, resultando na

deterioração dos termos de troca (Teoria da Deterioração dos Termos de

Troca). Ficava cada vez mais oneroso para os países em desenvolvimento o

comércio com os países desenvolvidos. Traduzindo em números, Prebisch

calculou que de 1876 a 1947, os termos de troca dos países em desenvolvimento

declinaram relativamente de 100 para 68,7. Isso significa que os países

subdesenvolvidos precisariam aumentar em 1947 suas exportações em 45,6%

(68,7 + 45,6% = 100) para terem acesso à mesma quantidade física de

mercadorias importadas em 1876. Prebisch então prega que os países em

desenvolvimento se industrializem a qualquer custo para fugir deste

estrangulamento.

42. O desenvolvimento era visto como impraticável sem um sistema de proteção que

transferisse renda para a indústria e a preservasse da concorrência internacional.

Assim, o argumento da substituição de importações foi a base dos programas de

industrialização da América Latina após a Segunda Guerra Mundial. Esta proposta

foi bem acolhida pelos governantes da América Latina, que tudo fizeram para

impulsionar a indústria local. No Brasil, a produção industrial já vinha crescendo

há anos em decorrência do estrangulamento externo da economia. A partir dos

anos 50, essa passou a ser a estratégia deliberada do governo e foi denominada

modelo de substituição de importações.

43. O problema maior deste modelo é o alto custo para um país subdesenvolvido agir

sozinho. Por este motivo, Prebisch propunha a integração latino-americana como

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

forma de minimizar os altos custos da política de substituição de importações.

Principais justificativas para a integração:

a) maior aproveitamento das vantagens comparativas regionais: a especialização

dentro da região permite a cada membro proteger sua produção industrial com

um custo menor que se o fizesse isoladamente; a integração possibilita também

a complementaridade industrial, com ganhos para o conjunto.

b) Maiores economias de escala: aumentando-se o tamanho do mercado

consumidor, o custo unitário de produção tende a cair.

c) Maior variedade de produtos: quando o mercado é pequeno, talvez a

produção de um bem seja insatisfatória. Mas com um mercado maior e,

também em função dos ganhos de escala, pode haver maior variedade de

produtos.

d) Maior concorrência intrarregional: quanto maior a concorrência, maior o

bem-estar da população com os preços mais baixos.

44. Efetivando a integração, surgiu em 1960 o bloco comercial da ALALC (Associação

Latino-Americana de Livre Comércio), que foi a precursora da ALADI (Associação

Latino-Americana de Integração). Ambos os blocos serão analisados em aula

futura. Além de ter sido determinante na criação da ALALC, Raúl Prebisch também

o foi para o surgimento da UNCTAD – Conferência das Nações Unidas para o

Comércio e Desenvolvimento, criadora do Sistema Geral de Preferências (tópico 3

do edital).

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

Políticas Comerciais Estratégicas

45. Segundo Gonçalves et al1, “a política comercial estratégica pressupõe a aceitação

da ideia de que há falhas de mercado que podem ser corrigidas pela

intervenção governamental. Mas implica, ainda, a possibilidade de haver

objetivos econômicos e não econômicos a serem perseguidos por instrumentos

de políticas públicas. Ou seja, a escolha dos instrumentos de política econômica

dependem dos objetivos que se pretende atingir com esses instrumentos.”

46. Portanto, a política comercial estratégica consiste numa ação de intervenção

estatal não apenas no sentido de proteger a economia, mas incentivar algum

setor em virtude da existência de falhas de mercado.

Observação: de uma forma muuuuito simplificada, podemos ver as falhas de

mercado como as situações em que a demanda e a oferta não se ajustam

automaticamente. Por exemplo, quando o preço de um bem sobe, o consumo

cai e a produção tende a aumentar. Afinal, consumidores não querem pagar o

preço mais alto e os produtores querem aproveitar tal preço. Com isso, em

virtude da diminuição de demanda e do aumento da oferta, o mercado se

autoajusta, voltando o preço ao normal. Quando tal ajuste não ocorre

naturalmente, diz-se que há falhas de mercado.

47. A política considerada estratégica para um país pode não o ser para outro. Se a

estratégia de um país é se tornar uma potência militar, ele vai incentivar a

1 GONÇALVES, Reinaldo; BAUMANN, Renato; PRADO, Luiz Carlos Delorme; CANUTO,

Otaviano. A Nova Economia Internacional: Uma Perspectiva Brasileira. Ri ode Janeiro:

Campus, 1988.

20
COMÉRCIO INTERNACIONAL

pesquisa e desenvolvimento neste setor. Por outro lado, se o país quer se tornar

uma potência na produção e exportação de computadores, a política comercial

será outra. O que une as políticas ditas estratégicas é o incentivo governamental

em prol de um objetivo fixado pelo governo, o qual não seria alcançável pelas

empresas isoladamente, tendo em vista as falhas de mercado.

48. Algumas características das políticas comerciais estratégicas:

- o incentivo é ao setor industrial, pois, como já ensinava Prebisch, a

especialização em bens primários tende a gerar empobrecimento para o país.

Isto porque, com o passar do tempo, eles perdem preço em relação aos bens

industrializados;

- o Estado investe em pesquisa e inovação;

- podem ser concedidos subsídios às empresas, principalmente em mercados de

oligopólio, empresas que, de outra forma, talvez nem viessem a se estabelecer.

Afinal, nesse tipo de estrutura de mercado, a existência ou o surgimento de

outras empresas no mesmo ramo tende a reduzir preços de forma generalizada,

gerando, às vezes, custos superiores aos preços de venda, o que talvez só seja

suportado se houver apoio estatal; e

- podem ser incentivadas as exportações de bens de alto valor agregado, pois

isso possui alto grau de irradiação econômica. Afinal, ao se incentivar, por

exemplo, a produção e exportação de aeronaves, incentivam-se vários setores

da economia vinculados às partes e peças das aeronaves, que passarão a ser

demandadas pela indústria de aviões. Quanto maior o valor agregado, maior

tende a ser a irradiação para os demais setores da economia, “contaminando”

21
COMÉRCIO INTERNACIONAL

positivamente outros setores (ou, no jargão economês, “gerando externalidades

positivas”).

COMÉRCIO INTERNACIONAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

49. Sob esse título, comparamos a relação entre o comércio exterior de um país e seu

desenvolvimento. Se a opção do país for se desenvolver fechando-se ao comércio,

ele terá que se industrializar para atender o mercado interno, adotando uma

política protecionista. Se a opção for a de aproveitar as vantagens do comércio

exterior, ele se industrializará visando exportar, adotando uma política comercial

liberal.

50. O primeiro caso trata da “industrialização voltada para dentro”, também chamada

de política de “estímulo à substituição de importações”. O segundo caso é

chamado de “industrialização voltada para fora”, visando ao incremento das

exportações.

51. Cada modelo de industrialização possui vantagens e desvantagens. O estudo

comparativo pode ser feito analisando-se o modelo adotado na América Latina

(voltada para dentro) e o modelo adotado pelos Tigres Asiáticos (voltada para

fora).

52. As vantagens do modelo voltado para fora são:

a) o mercado consumidor possui tamanho significativamente maior, não se

restringindo ao mercado interno, o que propicia maiores ganhos de escala;

22
COMÉRCIO INTERNACIONAL

b) este modelo é menos vulnerável a choques externos, visto que a receita de

vendas ocorre em moeda estrangeira, o que fortalece as reservas cambiais, tão

necessárias em épocas de crise;

c) este modelo é menos suscetível à corrupção e ao suborno, tendo em vista

que o governo não assume medida protecionista como no outro modelo.

Quanto menor a intervenção estatal, menor a chance de tomada de decisões

governamentais de forma escusa. No modelo de substituição de importações, o

governo, muitas vezes, precisa decidir que setores serão protegidos e quais

firmas serão autorizadas a operar, isso no caso de o tamanho do mercado não

permitir de forma economicamente viável a instalação de inúmeras firmas;

d) neste modelo, existem maiores gastos com a realização de pesquisas, viáveis

economicamente por causa do maior tamanho do mercado consumidor; e

e) há exposição à concorrência, que incentiva a constante atualização do

produto, sob pena de perda do mercado. No modelo de substituição de

importações adotado no Brasil, a obsolescência dos bens, infelizmente, era a

regra.

53. No modelo de incentivo às exportações, o governo não atua de forma

protecionista, mas isso não significa que ele deixe tudo nas mãos do mercado.

Afinal, as políticas governamentais são essenciais para o desenvolvimento da

educação e da infraestrutura (transportes, energia, comunicações, etc), além de

serem determinantes para a concessão de incentivos fiscais e financeiros. Com a

ação governamental, as empresas obtêm condições propícias para exportarem.

54. As desvantagens do modelo voltado para fora em relação ao modelo de

substituição de importações são a não existência de um mercado consumidor

23
COMÉRCIO INTERNACIONAL

cativo e a dificuldade na conquista do mercado internacional. Essa conquista é

árdua inclusive porque, em regra, os países desenvolvidos não transferem

tecnologia para os seus futuros concorrentes.

BARREIRAS COMERCIAIS

55. As barreiras comerciais criadas pelos países podem assumir diferentes formas,

tais como os impostos de importação ou de exportação, quotas, proibições,

racionamento de divisas e subsídios. Os impostos aduaneiros são chamados de

barreiras tarifárias, tarifas ou direitos aduaneiros. As demais barreiras

comerciais são classificadas como não tarifárias.

56. Quando se impõe uma alíquota de imposto de importação sobre uma

mercadoria, está se impondo uma barreira tarifária. As tarifas podem ser ad

valorem, específicas e mistas. A alíquota ad valorem é a alíquota percentual

(exemplo: 30% sobre o valor da importação); a alíquota específica é aquela

definida em montante fixo de dinheiro por unidade (US$ 2,00 por kg; R$ 5,00 por

caixa); e a alíquota mista se baseia na cobrança combinada dos dois tipos de

alíquotas.

57. As barreiras não-tarifárias são restrições às importações, não na forma de

impostos, mas por outros meios, dentre os quais:

i. Proibição

ii. Quotas

24
COMÉRCIO INTERNACIONAL

iii. Controles Cambiais – Principais formas: racionamento, depósito prévio à

importação e taxas múltiplas de câmbio.

iv. Monopólio estatal

v. Leis de Compras de Produtos Nacionais

vi. Barreiras não-tarifárias (BNT) – Principais formas: medidas sanitárias,

fitossanitárias e técnicas.

vii. Alíquotas antidumping e medidas compensatórias

viii. Cláusulas de Salvaguarda - podem assumir a forma tarifária ou não-tarifária

ix. Acordos Voluntários de Restrição às Exportações (AVRE)

x. Subsídios para substituição de importações

58. Dentre as barreiras não tarifárias, a proibição é, sem dúvida, a mais rigorosa. A

proibição pode se dar em função do país, do produto ou uma combinação dos

dois.

59. A quota pode ser tarifária ou não-tarifária. No caso da quota tarifária, uma vez

atingido o limite de importações, a tarifa aumenta. Por exemplo, pode-se definir

que, na importação das primeiras mil toneladas de um produto, incide a alíquota

de 10% de imposto, e, nas importações seguintes, aplica-se a alíquota de 50%. Já a

quota não-tarifária representa uma proibição parcial, sendo permitidas as

importações somente até determinado volume. Por exemplo, a legislação pode

dispor que anualmente fica permitida a entrada de somente 10.000 automóveis,

25
COMÉRCIO INTERNACIONAL

sujeitos a determinada alíquota de imposto de importação. Acima disso, fica

proibida a importação.

60. Restrições cambiais (ou controles cambiais) – Os controles cambiais são todas

as medidas tomadas pela autoridade monetária, usando a política cambial, para

dificultar ou proibir uma importação. Podem ser citadas, por exemplo, as taxas

múltiplas de câmbio, o racionamento e o depósito prévio à importação. Pelo uso

de taxas múltiplas de câmbio, o governo define que, para alguns produtos, a

taxa de câmbio é diferente da taxa dos demais produtos. O Brasil já adotou este

sistema prevendo cinco categorias de bens. Dificultava a importação ao fixar taxas

de câmbio mais altas para produtos não essenciais. Se um importador quisesse

importar um bem considerado essencial, ele conseguia contratar o câmbio com

uma taxa mais baixa que a usada se ele quisesse importar um produto supérfluo.

O grande problema deste sistema é a decisão do governo sobre em qual categoria

alocar um determinado produto. É um mecanismo não transparente e sujeito a

corrupção e suborno. O racionamento consiste em o país só permitir uma

quantidade fixa diária ou semanal para a compra de moeda estrangeira. Se a

firma quiser comprar uma mercadoria cujo valor exceda a quota, será necessário

comprar a moeda parceladamente até se atingir o valor integral do bem, quando

então será autorizada a importação. O racionamento já foi usado no Brasil. Já

tivemos também a experiência do depósito prévio à importação. No nosso caso,

a legislação cambial combinava o racionamento com o depósito prévio, ou seja, a

firma comprava a “ração” semanal e, depois disso, o valor ficava congelado por

mais um período de tempo, numa espécie de quarentena. Só depois deste prazo,

a importação podia ser efetivada.

26
COMÉRCIO INTERNACIONAL

61. Monopólio estatal – O governo impõe que determinados produtos só podem ser

importados por um órgão público. Foi o que aconteceu por muito tempo com o

petróleo.

62. Restrições de importações de mercadorias que tenham similares nacionais

(ou Lei de Compra de Produtos Nacionais) – Neste caso, o governo restringe a

importação caso haja similares produzidos nacionalmente.

63. Medidas Antidumping, medidas compensatórias e cláusulas de salvaguarda –

As três barreiras são medidas de defesa comercial, estudadas em aula específica.

As duas primeiras assumem a forma de barreiras não tarifárias e a última pode

assumir a forma tarifária ou não tarifária.

64. Acordos voluntários de restrição às exportações (AVRE) – Estes acordos, na

verdade, não são voluntários no sentido estrito da palavra. Eles surgem de

ameaças feitas pelo país importador ao país exportador. Aquele alega que suas

indústrias estão sendo prejudicadas pelas importações e, como alternativa para

não adotar medidas unilaterais, ameaça o país exportador a diminuir suas

vendas.

65. O AVRE tem o nome de voluntário porque o país exportador pode aceitar as

ameaças ou não. Se as aceitar, terá sido firmado o “acordo voluntário”,

restringindo-se as exportações. Se não as aceitar, o país importador poderá impor

cláusulas de salvaguarda, permitidas especificamente para esse fim. Isso se não

criar medidas de retaliação ilegítimas e disfarçadas. É importante saber que o uso

dos AVRE é condenado pelo Acordo sobre Salvaguardas, como veremos. Pelo

acordo, a defesa contra aumento de importações que cause dano à indústria

27
COMÉRCIO INTERNACIONAL

doméstica deve ser na forma de cláusula de salvaguarda, devendo ser criadas, em

paralelo, compensações aos países prejudicados com a medida de defesa.

66. Barreiras não tarifárias (BNT) – Todas as barreiras vistas anteriormente são

barreiras não tarifárias, mas se costuma utilizar este termo BNT no sentido estrito

quando se quer fazer referência às barreiras sanitárias, fitossanitárias e técnicas.

São normas sanitárias aquelas que visam à proteção da vida e saúde humana e

animal, como as normas relativas à importação de alimentos. São normas

fitossanitárias as que visam à proteção da vida e saúde vegetal, como as que

tentam evitar a entrada de pragas para as lavouras. São normas técnicas as que

definem, por exemplo, exigências de padronização, certificação, vistorias técnicas,

rotulagem e segurança, como aquelas relativas à importação de brinquedos,

automóveis ou lâmpadas.

MODALIDADES DE TARIFAS

67. O edital para AFRFB/2014 pede expressamente as “modalidades de tarifas”. Além

da classificação ad valorem vs. específicas, podemos analisar as tarifas sob a

classificação nominal vs. efetiva.

68. Imaginemos que uma televisão seja vendida no Brasil por R$ 1.000,00. Os

insumos importados utilizados para a produção da TV remontam a R$ 600,00.

Considerando que não haja outros custos ou despesas, qual é o lucro da empresa

brasileira? R$ 400,00.

69. Digamos que o governo crie uma alíquota de 20% na importação de TV. Por

quanto a TV nacional será vendida no Brasil? R$ 1.200,00. Afinal, o similar

28
COMÉRCIO INTERNACIONAL

estrangeiro vai ser vendido neste preço e, para uma nação pequena, o preço do

nacional segue o preço do estrangeiro.

Observação 1: o Brasil pode ser considerado pequeno em relação a quase

todos os produtos, pois sua produção é ínfima em comparação com a do mundo

todo. No entanto, há alguns produtos para os quais tal análise não funciona

como, por exemplo, o café, cuja produção brasileira é significativa em relação à

do resto do mundo.

Observação 2: o preço do nacional segue o do estrangeiro. Não será maior que

este, pois senão ficará tudo encalhado já que há oferta “infinita” de similares

importados. Também não será menor, pois, pela análise microeconômica, as

empresas trabalham pela maximização do lucro.

70. Como o preço dos computadores nacionais e estrangeiros no mercado interno

aumentou, mas não os custos da empresa brasileira, seu lucro passa de R$ 400,00

para R$ 600,00 (=R$1.200,00-R$600,00), um aumento de 50%! Esta é a taxa efetiva

de proteção.

71. Para o consumidor, o aumento do preço do bem foi de 20% (taxa nominal). Para o

produtor, o aumento do valor agregado (que consideramos inteiramente como

lucro) foi de 50% (taxa efetiva de proteção ou, simplesmente, taxa efetiva).

Segundo exemplo

72. No primeiro exemplo, não consideramos aumento dos preços dos insumos

estrangeiros. No entanto, é fácil concluir que, se o insumo estrangeiro também

passar a ser tarifado, a taxa efetiva de proteção da TV cai. Vejamos.

29
COMÉRCIO INTERNACIONAL

73. A TV passa a ser tarifada em 20%, passando de R$ 1.000,00 para R$ 1.200,00. Já os

insumos estrangeiros passam a ser tributados em 10%, passando de R$ 600,00

para R$ 660,00. Neste caso, o lucro do fabricante de TV passa de R$ 400,00 para

R$ 540,00 (=R$ 1.200,00-R$ 660,00).

Observação: apesar do aumento de custos, o preço final da TV não se altera em

relação ao primeiro exemplo, pois o produto estrangeiro custa R$ 1.200,00.

Lembre que, em país pequeno, o preço do nacional segue o preço do

estrangeiro...

74. Em tal situação, a tarifa nominal da TV continua sendo de 20%, mas a tarifa efetiva

é menor do que no primeiro exemplo, quando não havia tributação sobre os

insumos. A tarifa efetiva é de 35%, pois o valor agregado (considerado

inteiramente como lucro) vai de R$ 400,00 para R$ 540,00.

Terceiro exemplo

75. No primeiro exemplo, consideramos insumos não tributados. No segundo,

consideramos os insumos tributados com uma alíquota nominal menor que a do

produto (10% contra 20%). Neste terceiro exemplo, consideremos que os insumos

passem a ser tributados com alíquota superior à da TV (40% contra 20%). Sendo

assim, o preço da TV passa de R$ 1.000,00 para R$ 1.200,00, e o preço dos

insumos importados, de R$ 600,00 para R$ 840,00.

76. O lucro da empresa passa de R$ 400,00 para R$ 360,00, pois os preços dos

insumos tiveram, em termos absolutos, um aumento maior do que o do produto

final. O lucro caiu! A tarifa efetiva é negativa.

30
COMÉRCIO INTERNACIONAL

77. Qual é a conclusão? O grau de proteção dado pelas tarifas de importação não

pode ser medido apenas em termos nominais. Deve ser feita a análise das tarifas

efetivas, levando-se em conta também as tarifas sobre os insumos. Não é a tarifa

nominal, mas a tarifa efetiva, que leva as empresas à tomada de decisões acerca

da produção dos bens protegidos.

78. Para fins de prova, basta que você saiba que a tarifa efetiva representa o ganho

que a tarifa gera sobre o valor agregado da indústria, levando-se em conta as

tarifas sobre os insumos. Contudo, já caiu em prova a fórmula usada para o

cálculo da tarifa efetiva e, por isso, vamos desenvolvê-la.

(VA2 – VA1)
TE = ------------------
VA1

Onde TE é a tarifa efetiva, VA1 é o valor agregado antes da imposição das tarifas

e VA2 é o valor agregado após a imposição.

Muitas vezes, encontramos o cálculo da tarifa efetiva como:

VA2
TE = ----------
VA1

79. Enquanto a primeira forma de cálculo retornará o percentual agregado, o

segundo retornará o índice multiplicador. Por exemplo, se o lucro antes era de R$

100,00, e, depois da imposição das tarifas, passou para R$ 200,00, a TE calculada

do primeiro jeito vai dar 1, ou seja, 100% (de aumento do lucro). Já na segunda

fórmula, o resultado será 2, mostrando o índice multiplicador: o lucro foi

multiplicado por 2. Tanto faz usar a primeira fórmula quanto a segunda

31
COMÉRCIO INTERNACIONAL

(encontramos ambas nos livros de Economia). Só tem que tomar cuidado para se

interpretar o resultado corretamente.

80. Vamos desenvolver a segunda fórmula, pois é a mais usual:

VA1 = Preço do bem (PB) (-) Preços dos insumos (Pi), tudo sem tarifas, em livre

comércio

VA1 = PB – somatório dos Pi

VA2 = Preço do bem com tarifa (Tarifa TB) (-) Preços dos insumos tarifados

(Tarifa Ti)

VA2 = PB * TB – somatório dos (Pi * Ti)

PB = Preço do bem importado; TB = Tarifa nominal sobre o bem importado;

PB * TB = Preço do bem com a tarifa criada;

Pi = Preço do insumo; Ti = Tarifa nominal sobre o insumo importado;

Pi * Ti = Preço do insumo com a tarifa criada para o insumo

Daí se pode dizer que:

PB * TB – somatório (Pi * Ti)


TE = ---------------------------------------
PB – somatório (Pi)

Se considerarmos que o preço de cada insumo i é um percentual Xi do preço

final do bem, podemos substituir Pi por (PB * Xi).

32
COMÉRCIO INTERNACIONAL

PB * TB – somatório (PB * Xi * Ti)


TE = ------------------------------------------------
PB – somatório (PB * Xi)

Corta aqui, corta ali, o PB “dança”.

TB – somatório (Xi * Ti)


TE = --------------------------------
1 – somatório (Xi)

Eis a fórmula da tarifa efetiva.

Grande abraço,

Rodrigo Luz

33
COMÉRCIO INTERNACIONAL

b. Revisão 1 (questões)

01 – (AFTN/1996) O livre cambismo é uma doutrina de comércio que parte do

pressuposto de que a natureza desigual dos países e regiões torna a

especialização uma necessidade, sendo o comércio o meio pelo qual todos os

participantes obtêm vantagens dessa especialização. Cada país deveria

especializar-se na produção de bens onde consegue maior eficiência, trocando o

excedente por outros bens que outros países produzem com mais eficiência. O

principal argumento contra o livre cambismo, desde o século XIX (A. Hamilton e

F. List), se concentra na ideia de que:

a) o livre cambismo é incapaz de promover a justiça social;

b) no livre cambismo, somente se beneficiam do comércio os países que apresentam

uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

Quando isso não ocorre, a concorrência é predatória;

c) o livre cambismo é bom para os países de economia madura, mas os países com

indústrias nascentes necessitam de alguma forma de proteção;

d) o livre cambismo atende apenas aos interesses dos grandes exportadores, que

usam a liberdade econômica para estabelecer monopólios e cartéis;

e) na verdade não existe livre cambismo na prática. Todos os países são protecionistas

em razão da intervenção do Estado.

34
COMÉRCIO INTERNACIONAL

02 – (AFRF/2000) Durante crise de encomendas à produção interna de

determinado produto do país A, ameaçada pelo aumento desproporcional das

importações similares dos países B e C, que subsidiam fortemente a produção e a

exportação desse produto, as autoridades econômicas do país A, a fim de

obterem uma redução imediata da quantidade do produto importado – bem

conhecendo a preferência de seus consumidores pela oferta estrangeira e a

inferior qualidade da mercadoria doméstica – deverão adotar como medida mais

eficaz a seus propósitos:

a) o contingenciamento dos produtos importados, fixando quotas ao produto para os

países exportadores;

b) a criação de subsídios à produção e à comercialização do produto manufaturado no

país;

c) o aumento da tarifa aduaneira nas posições referentes a esse produto, a fim de

encarecer os importados, para benefício da indústria nacional;

d) o aumento dos impostos de exportação, a fim de desestimular as exportações do

produto doméstico para mercados tradicionais;

e) o estímulo à preferência pelo produto nacional, mediante a promoção de sorteios

de prêmios para seus consumidores.

03 – (AFRF/1998) Indique a opção que não está relacionada com a prática do

mercantilismo:

a) O princípio segundo o qual o Estado deve incrementar o bem-estar nacional.

35
COMÉRCIO INTERNACIONAL

b) O conjunto de concepções que incluía o protecionismo, a atuação ativa do Estado e

a busca de acumulação de metais preciosos, que foram aplicadas em toda a Europa

homogeneamente no século XVII.

c) O comércio exterior deve ser estimulado, pois um saldo positivo na balança fornece

um estoque de metais preciosos.

d) A riqueza da economia depende do aumento da população e do volume de metais

preciosos do país.

e) Uma forte autoridade central é essencial para a expansão dos mercados e a

proteção dos interesses comerciais.

04 – (AFRFB/2009) A participação no comércio internacional é importante

dimensão das estratégias de desenvolvimento econômico dos países, sendo

perseguida a partir de ênfases diferenciadas quanto ao grau de exposição dos

mercados domésticos à competição internacional. Com base nessa assertiva e

considerando as diferentes orientações que podem assumir as políticas

comerciais, assinale a opção correta.

a) As políticas comerciais inspiradas pelo neomercantilismo privilegiam a obtenção de

superávits comerciais notadamente pela via da diversificação dos mercados de

exportação para produtos de maior valor agregado.

b) Países que adotam políticas comerciais de orientação liberal são contrários aos

esquemas preferenciais, como o Sistema Geral de Preferências, e aos acordos

regionais e sub-regionais de integração comercial celebrados no marco da

Organização Mundial do Comércio por conterem, tais esquemas e acordos,

componentes protecionistas.

36
COMÉRCIO INTERNACIONAL

c) A política de substituição de importações valeu-se preponderantemente de

instrumentos de incentivos à produção e às exportações, tendo o protecionismo

tarifário importância secundária em sua implementação.

d) A ênfase ao estímulo à produção e à competitividade de bens de alto valor agregado

e de maior potencial de irradiação econômica e tecnológica a serem destinados

fundamentalmente para os mercados de exportação caracteriza as políticas comerciais

estratégicas.

e) As economias orientadas para as exportações, como as dos países do Sudeste

Asiático, praticam políticas comerciais liberais em que são combatidos os incentivos e

quaisquer formas de proteção setorial, privilegiando antes a criação de um ambiente

econômico favorável à plena competição comercial.

05 – (AFRF/1998) Entre as opções abaixo, indique aquela que não constitui

argumento utilizado pelo protecionismo:

a) O comércio e a indústria são mais importantes para um país do que a agricultura e,

portanto, devem ser submetidos a tarifas para evitar a concorrência com produtos

estrangeiros.

b) As indústrias-chave da defesa nacional devem ser protegidas para evitar a ação de

fornecedores estrangeiros.

c) A adoção de tarifas favorece a criação de empresas nacionais.

d) Quando há capacidade ociosa, as tarifas contribuem para aumentar o nível de

atividade e de emprego, e, portanto, de renda de um dado país.

e) É preciso manter as indústrias de um país em um nível tal que possam atender à

demanda em caso de um corte de fornecimento externo devido a uma guerra.

37
COMÉRCIO INTERNACIONAL

06 – (AFRF/2000) Para explicar a relação entre comércio de produtos primários e

industrializados, a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) apresentou

uma série de estudos e propostas. Acerca da CEPAL pode-se fazer as seguintes

afirmativas abaixo, exceto:

a) a CEPAL teve um papel decisivo na criação da ALALC;

b) o comércio internacional tendia a gerar uma desigualdade básica nas relações de

troca (uma deterioração nas relações de troca) pois os preços das matérias-primas

(dos países em desenvolvimento) tendia a declinar a longo prazo, enquanto o preço

dos produtos manufaturados (fabricados em geral em países desenvolvidos) tendia a

subir;

c) os países produtores de bens primários deveriam diversificar sua produção,

deixando de ser produtores de monoculturas;

d) os países em desenvolvimento deveriam procurar exportar produtos

manufaturados;

e) os países em desenvolvimento deveriam abrir suas economias para torná-las mais

competitivas e assim conquistarem espaço no comércio internacional.

07 – (BNDES/2002) A tarifa de proteção efetiva de uma mercadoria M (TPEm) que

utiliza apenas um insumo importado (I) é assim definida:

TPEm = (TNm - Wi * TNi) / (1 - Wi)

Considerando-se que TNm e TNi são tarifas nominais de M e I, respectivamente,

em percentagem e Wi é a participação percentual do insumo importado I no

custo de produção de M, supostamente maior que zero, pode-se afirmar que

a) quanto maior for TNi, tudo o mais constante, maior será TPEm.
38
COMÉRCIO INTERNACIONAL

b) caso TNm > TNi e ambas positivas, quanto maior wi, tudo o mais constante, menor

será TPEm.

c) é desejável que TNi seja maior que TNm para que a tarifa de proteção efetiva seja

maior do que a tarifa nominal.

d) a política protecionista mais adequada, caso se queira proteger tanto o insumo I

quanto a mercadoria M, é fixar a tarifa do primeiro em valor menor que a da segunda.

e) quanto maior for a diferença positiva entre TNm e TNi, menor será TPEm.

39
COMÉRCIO INTERNACIONAL

c. Revisão 2 (questões)

08 – (ACE/2002) O argumento em favor da proteção às indústrias nascentes

ganhou força com a publicação do “Report on Manufactures”, de Alexander

Hamilton, que defendeu o desenvolvimento nos Estados Unidos da América e o

uso de tarifas para promovê-lo. A respeito dos instrumentos de proteção a

indústrias nascentes é correto afirmar que:

a) o argumento que analisa as economias de escala produzidas pela proteção a

indústrias nascentes defende como instrumento principal as firmas, em vez de

indústrias, uma vez que, ao concentrar os benefícios nas mãos de poucos agentes

privados, preferencialmente um monopólio, criam-se condições para que a indústria

local se desenvolva mais rapidamente.

b) desde que ocorra, a proteção a indústrias nascentes atinge os resultados

pretendidos a custos semelhantes, não importando muito se utiliza instrumentos tais

como cotas, subsídios ou tarifas.

c) o argumento que analisa a aquisição de experiência pela economia nacional,

baseado no princípio de se “aprender fazendo”, o que permite justificar a proteção a

tais indústrias por tempo indeterminado, preferencialmente longo, já que a inovação é

condição necessária à manutenção da competitividade industrial.

d) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias

nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo

da dificuldade de se escolher corretamente as indústrias que devem receber proteção,

a relutância das indústrias a dispensar a proteção recebida e seus efeitos deletérios

sobre outras indústrias.

40
COMÉRCIO INTERNACIONAL

e) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias

nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo

da dificuldade de se combinar as indústrias que devem receber proteção com o

modelo de substituição de importações, a concordância das indústrias em dispensar a

proteção recebida e seus efeitos deletérios sobre outras indústrias.

09 – (Inédita) Não são consideradas barreiras não tarifárias:

a) quotas tarifárias

b) subsídios às exportações

c) medidas antidumping

d) Acordo Voluntário de Restrição às Exportações

e) proibições de importação

10 – (AFRF/2000) Julgue as opções abaixo e assinale a correta:

a) O livre-cambismo é uma doutrina de comércio estabelecida através de tarifas

protecionistas, a subvenção de créditos, a adoção de câmbios diferenciados.

b) O livre-cambismo rege que a livre troca de produtos no campo internacional, os

quais seriam vendidos a preços mínimos, num regime de mercado, se aproximaria ao

da livre concorrência perfeita.

c) O livre-cambismo é uma doutrina pela qual o governo não provê a remoção dos

obstáculos legais em relação ao comércio e aos preços.

41
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d) O livre-cambismo só beneficia os países em desenvolvimento, que apresentam uma

pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

e) O livre-cambismo defende a adoção de tarifas em situação de defesa nacional.

11 – (ACE/2002) A respeito dos processos de industrialização por substituição de

importações é correto afirmar o seguinte:

a) historicamente, tais processos favoreceram o desenvolvimento tecnológico em

escala global, já que as economias mais atrasadas alcançam condições para

desenvolver indústrias que passarão a competir com as das economias desenvolvidas.

b) no que concerne às políticas públicas implementadas pelos governos, assemelham-

se aos processos de industrialização baseados em atividades orientadas para

exportações. Diferenciam-se apenas pela ênfase na diversificação da pauta de

importações.

c) mostraram-se eficientes ao longo do século XX, como ilustra o desempenho dos

chamados “Tigres Asiáticos”.

d) aceitando-se que podem ser bem sucedidos, implicam a necessidade da opção, pela

sociedade que os implementam, de financiar um setor econômico específico, uma vez

que requerem a imposição de políticas que distorcem, a um tempo, os fluxos

comerciais e a alocação eficiente dos fatores de produção internos.

e) para que sejam implementados inteiramente, requerem a efetiva realização de uma

reforma agrária.

42
COMÉRCIO INTERNACIONAL

12 – (ACE/2012) Considerando-se a ação governamental no modelo de

industrialização orientada para as exportações, é correto afirmar que

a) é limitada em razão do protagonismo central dos agentes econômicos privados

nacionais e estrangeiros atuantes na atividade exportadora na realização de

investimentos produtivos e em relação aos fatores que garantem competitividade nos

mercados internacionais.

b) é semelhante à desenvolvida no modelo de substituição de importações na medida

em que está centrada na aplicação de instrumentos tarifários e incentivos à produção.

c) é de caráter subsidiário e envolve fundamentalmente a promoção de marcos

políticos, jurídicos e institucionais favoráveis aos investimentos e à atividade

econômica.

d) prescinde de formas de intervenção econômica e concentra-se na proteção da livre

iniciativa, da competição e dos fluxos de comércio e de investimento.

e) é de grande alcance, envolvendo o apoio ao desenvolvimento da infraestrutura, a

concessão de incentivos fiscais e creditícios, o financiamento da produção e das

exportações e investimentos em educação e qualificação profissional.

13 – (Inédita) É legítima a imposição de medidas protecionistas nos casos abaixo,

exceto:

a) como defesa a subsídios que causam dano à indústria doméstica.

b) como forma de promoção da segurança nacional.

c) para garantir a integridade da vida e saúde humanas.

d) como garantia dos empregos do setor industrial.

43
COMÉRCIO INTERNACIONAL

e) para conservação dos recursos naturais esgotáveis.

14 – (AFRF/2000) Entre as razões abaixo, indique aquela que não leva à adoção de

tarifas alfandegárias.

a) Aumento de arrecadação governamental.

b) Equilíbrio do Balanço de Pagamentos.

c) Proteção à indústria nascente.

d) Segurança nacional (defesa).

e) Estímulo à competitividade de uma empresa.

44
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d. Revisão 3 (questões)

15 – (ACE/1997) Alguns países alegam que seu comércio externo é afetado pela

ação de governos de outros países, como os Acordos Voluntários de Exportações

(VERs). Esses acordos têm como objetivo principal:

a) estimular as exportações;

b) canalizar as exportações para um determinado produto;

c) aumentar a qualidade das importações, com a imposição de normas de segurança e

de higiene (aspectos fitossanitários);

d) levar o país a equilibrar suas exportações, como em um sistema de compensações;

e) limitar as importações de um dado produto.

16 – (AFRF/1998) Não é verdadeiro, em relação ao Livre-Cambismo, que:

a) o governo deve se limitar à manutenção da lei e da ordem;

b) o governo deve remover todos os obstáculos legais para o funcionamento de um

comércio livre;

c) existe uma divisão internacional do trabalho;

d) existe uma especialização de funções, motivada pela distribuição desigual de

recursos naturais ou por outros motivos;

e) todas as moedas devem ser conversíveis em ouro.

45
COMÉRCIO INTERNACIONAL

17 – (AFRF/2000) As Barreiras Não-Tarifárias (BNT) são frequentemente

apontadas como grandes obstáculos ao comércio internacional. Podem vir a se

constituir Barreiras Não-Tarifárias (BNT) todas as modalidades abaixo, exceto:

a) medidas fitossanitárias;

b) normas de segurança;

c) direitos aduaneiros;

d) sistemas de licença de importação;

e) quotas.

18 – (AFRF/2000) Não constitui prática restritiva adotada pelos governos:

a) formação e operação de cartéis de crise, cujo objetivo é a recuperação de indústrias

em dificuldade;

b) manutenção de barreiras à entrada no mercado de produto estrangeiro para

proteger o produtor doméstico;

c) acordos de preços predatórios para os produtos exportados e para os produtos de

venda doméstica;

d) negociação de acordos voluntários de exportação;

e) estabelecimento de relações privilegiadas fornecedor-cliente, impedindo acesso ao

mercado de fornecedores externos.

46
COMÉRCIO INTERNACIONAL

19 – (Inmetro/2010) As restrições ao fluxo de comércio relacionadas às

características dos produtos a serem importados ou ao seu método e processo de

produção são denominadas.

a) cotas de importação.

b) requisitos de transparência.

c) regras de origem.

d) barreiras técnicas ao comércio.

e) barreiras tarifárias.

20 – (AFRF/2002-2) O regime de licença prévia na importação, configurando uma

restrição quantitativa, pode ser instituído pelos países, sendo tolerado pela

Organização Mundial de Comércio (OMC) principalmente

a) visando selecionar aquelas mercadorias cuja produção interna seja incipiente e de

qualidade inferior e, neste sentido, restringindo a importação que seria danosa pela

concorrência, promove o desenvolvimento industrial.

b) visando selecionar aquelas mercadorias tributadas com alíquotas mais elevadas e,

assim, incrementando a arrecadação tributária, evita a emissão de moeda e

consequentemente a inflação, promovendo o desenvolvimento do país.

c) como medida de proteção à industria doméstica, e, assim, promovendo o seu

desenvolvimento, impedindo ou restringindo a entrada do concorrente estrangeiro.

d) visando evitar a formação de estoques especulativos de produtos aguardando a

cotação no mercado nacional em alta, bem como impedir a importação de

mercadorias originárias de países que discriminem as importações de outro país.

47
COMÉRCIO INTERNACIONAL

e) como mecanismo de controle cambial exclusivamente para os países com

dificuldades em seu balanço de pagamentos, além da necessidade de controlar a

entrada de produtos afetos à autorização de órgãos governamentais específicos.

21 – (AFRF/2000) Os fundadores da teoria do desenvolvimento, que provinham

principalmente da economia dos anos cinquenta, como Nurkse, Myrdall,

Rosenstein-Rodan, Singer, Hirschmann, Lewis e, certamente, Prebisch, não só

centraram sua análise nas diferenças estruturais existentes entre os países

desenvolvidos e os países em desenvolvimento, mas também postularam, a

partir de ângulos distintos, que a forma de funcionar dos países desenvolvidos

constitui a causa principal do subdesenvolvimento destes últimos.

As estratégias de desenvolvimento recomendadas e seguidas nos países

subdesenvolvidos – e especialmente na América Latina – tenderam a ser

diametralmente opostas às políticas dos países industriais. Com efeito, devido à

tendência secular de deterioração dos termos de intercâmbio dos produtos

industriais que os países desenvolvidos exportavam e os bens primários que

exportavam os países atrasados, a única solução a médio e longo prazos para

estes últimos seria modificar sua inserção na economia mundial, produzindo

localmente aqueles bens industriais que antes importavam, através de políticas

que procurassem substituir essas importações, criando uma indústria nacional

protegida pelo Estado.

a) Por essa razão, países como o Brasil, procuraram dedicar-se somente à produção de

um único artigo (soja, por exemplo). Dessa forma, ele poderá utilizar parte dos fatores

na produção da soja, mas o restante poderá aplicar na produção de outros artigos,

mesmo sofisticados, como automóveis, computadores e aviões.

48
COMÉRCIO INTERNACIONAL

b) Por essa razão, a transferência de população do setor primário para o setor

industrial contribui, em muitos casos, para a degeneração do nível de vida dessa

população.

c) Por essa razão, os governantes dos países subdesenvolvidos procedem unicamente

do ponto de vista político, evitando introduzir indústrias em seu país, pois

politicamente, não aumentarão seu prestígio junto à população.

d) Por essa razão, os países subdesenvolvidos, pesadamente dependentes da

produção e exportação de produtos primários, acabam rejeitando a teoria das

vantagens comparativas e procuram industrializar-se a qualquer custo.

e) Por essa razão, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento procuram

manter a capacidade de produzir um único artigo, considerado estratégico, tal como

combustível, café, armamento bélico etc., mesmo que tal atitude seja desinteressante

em termos puramente econômicos.

49
COMÉRCIO INTERNACIONAL

e. Mapa Mental

50
COMÉRCIO INTERNACIONAL

f. Normas (apenas o que mais cai)

GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio)

Artigo VI – Direitos antidumping e de compensação

1. As Partes Contratantes reconhecem que o "dumping" que introduz produtos de um

país no comércio de outro país por valor abaixo do normal, é condenado se causa ou

ameaça causar prejuízo material a uma indústria estabelecida no território de uma

Parte Contratante ou retarda, sensivelmente o estabelecimento de uma indústria

nacional.

2. Com o fim de neutralizar ou impedir "dumping" a Parte Contratante poderá cobrar

sobre o produto, objeto de um "dumping" um direito "antidumping" que não exceda a

margem de "dumping" relativa a esse produto. Para os efeitos deste Artigo, a margem

de "dumping" é a diferença de preço determinada de acordo com os dispositivos do

parágrafo 1.

3. Nenhum direito de compensação será cobrado de qualquer produto proveniente do

território de uma Parte Contratante importado por outra Parte Contratante, que

exceda a importância estimada do prêmio ou subsídio que, segundo se sabe foi

concedido direta ou indiretamente à manufatura, produção ou exportação desse

produto no país de origem ou de exportação, inclusive qualquer subsídio especial para

o transporte de um produto determinado. A expressão "direito de compensação"

significa um direito especial cobrado com o fim de neutralizar qualquer prêmio ou

subvenção concedidos, direta ou indiretamente à manufatura, produção ou

exportação de qualquer mercadoria.

51
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Artigo XI – Eliminação geral das restrições quantitativas

1. Nenhuma parte contratante imporá nem manterá – além dos direitos aduaneiros,

impostos e outras taxas – proibições nem restrições à importação de um produto do

território de outra parte contratante ou à exportação ou à venda para exportação de

um produto destinado ao território de outra parte contratante que sejam aplicadas

mediante contingentes, licenças de importação ou de exportação ou por meio de

outras medidas.

2. As disposições do parágrafo primeiro do presente artigo não se estenderão aos

casos seguintes:

(a) proibições ou restrições aplicadas temporariamente à exportação para

prevenir ou remediar uma situação crítica, devido a uma penúria de produtos

alimentares ou de outros produtos essenciais para a Parte Contratante

exportadora;

(b) proibições ou restrições à importação e à exportação necessárias à aplicação

de normas ou regulamentações referentes à classificação, controle da qualidade

ou venda de produtos destinados ao comércio internacional;

(c) restrições à importação de qualquer produto agrícola ou de pescaria, seja

qual for a forma de importação desses produtos, quando forem necessárias à

aplicação de medidas governamentais que tenham por efeito:

(i) restringir a quantidade do produto nacional similar a ser posta à venda ou

produzida, ou na falta de produção nacional importante do produto similar, a

quantidade de um produto nacional que o produto importado possa substituir

diretamente;

(ii) reabsorver um excedente temporário do produto nacional similar ou, na falta

de produção nacional importante do produto similar, de um produto nacional

52
COMÉRCIO INTERNACIONAL

que o produto importado possa substituir diretamente colocando esse

excedente à disposição de certos grupos de consumidores do país

gratuitamente ou a preços inferiores aos correntes no mercado; ou

(iii) restringir a quantidade a ser produzida de qualquer produto de origem

animal cuja produção depende diretamente, na totalidade ou na maior parte, do

produto importado, se a produção nacional deste último for relativamente

desprezível.

Artigo XII – Restrições para proteger o Balanço de Pagamentos

1. Não obstante as disposições do parágrafo 1o do artigo XI, toda parte contratante,

com o fim de resguardar sua posição financeira exterior e o equilíbrio do seu Balanço

de Pagamentos, poderá restringir o volume ou o valor das mercadorias permitidas

para importar, observados os parágrafos seguintes.

2. a) as restrições à importação estabelecidas, mantidas ou reforçadas por qualquer

parte contratante em virtude do presente artigo não excederão o necessário para:

i) afastar a ameaça iminente de diminuição relevante de suas reservas

monetárias ou deter tal diminuição; ou

ii) aumentar suas reservas monetárias, considerando uma taxa razoável de

crescimento, no caso de serem muito exíguas.

b) as partes contratantes, que apliquem restrições em virtude da alínea (a), devem

atenuá-las progressivamente à medida que melhore a situação das reservas; ...”

Artigo XVIII – Ajuda do Estado para favorecer o desenvolvimento econômico

1. As partes contratantes reconhecem que o atingimento dos objetivos do presente

Acordo será facilitado pelo desenvolvimento progressivo de suas respectivas

economias, especialmente no caso das partes contratantes cuja economia ofereça à

53
COMÉRCIO INTERNACIONAL

população um baixo nível de vida e que esteja nas primeiras fases de seu

desenvolvimento.

2. As partes contratantes também reconhecem que pode ser necessário para as partes

contratantes a que se refere o parágrafo 1o, com o objetivo de executar seus

programas e de aplicar suas políticas de desenvolvimento econômico tendentes ao

aumento do nível de vida geral de sua população, adotar medidas de proteção ou de

outra forma que influam nas importações e que tais medidas são justificadas na

medida em que com elas se facilita o atingimento dos objetivos do presente Acordo.

Por conseguinte, estão de acordo em que devem ser previstos, em favor destas partes

contratantes, facilidades adicionais que lhes permitam:

a) manter na estrutura de suas tarifas aduaneiras uma flexibilidade suficiente

para que possam conceder a proteção aduaneira que requeira a criação de um

determinado ramo de indústria; e

b) estabelecer restrições quantitativas por motivos de balanço de pagamentos

de maneira que se tenha plenamente em conta o nível elevado e estável da

demanda de importações que pode originar a execução de seus programas de

desenvolvimento econômico.

Artigo XIX – Salvaguardas

Se, como conseqüência da evolução imprevista das circunstâncias e por efeito das

obrigações, incluídas as concessões tarifárias, contraídas por uma parte contratante

em virtude do presente Acordo, as importações de um produto no território desta

parte contratante tenham aumentado em tal quantidade que causam ou ameaçam

causar um dano grave aos produtores nacionais de produtos similares ou diretamente

concorrentes no território, a parte contratante poderá, na medida e no tempo

necessários para prevenir ou reparar esse dano, suspender total ou parcialmente a

obrigação contraída com respeito a tal produto, ou retirar ou modificar a concessão.

54
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Artigo XX – Exceções Gerais

O artigo XX do GATT traz uma lista de situações em que os países podem adotar

medidas protecionistas. São medidas:

a) Necessárias para proteger a moral pública;

b) Necessárias para proteger a saúde e a vida das pessoas, animais e vegetais;

c) Relativas à importação ou exportação de ouro ou prata;

d) Necessárias para a observância de leis que não sejam incompatíveis com o

GATT (ex: direitos de autor e de reprodução, patentes ...);

e) Relativas a produtos fabricados em prisões;

f) Impostas para proteger o tesouro nacional artístico, histórico ou arqueológico;

g) Relativas à conservação dos recursos naturais esgotáveis;

h) Adotadas em virtude de acordo internacional; e

i) Para evitar a exportação de matérias-primas nacionais essenciais garantindo

tais insumos em quantidade adequada às indústrias transformadoras nacionais.

Artigo XXI – Exceções relativas à segurança

Nenhuma disposição do presente Acordo será interpretada:

(a) como impondo a uma Parte Contratante a obrigação de fornecer informações cuja

divulgação seja, a seu critério, contrária aos interesses essenciais de sua segurança;

(b) ou como impedindo uma Parte Contratante de tomar todas as medidas que achar

necessárias à proteção dos interesses essenciais de sua segurança:

55
COMÉRCIO INTERNACIONAL

(i) relacionando-se às matérias desintegráveis ou às matérias primas que servem

à sua fabricação;

(ii) relacionando-se ao tráfico de armas, munições e material de guerra e a todo

o comércio de outros artigos e materiais destinados direta ou indiretamente a

assegurar o aprovisionamento das forças armadas;

(iii) aplicadas em tempo de guerra ou em caso de grave tensão internacional;

(c) ou como impedindo uma Parte Contratante de tomar medidas destinadas ao

cumprimento de suas obrigações em virtude da Carta das Nações Unidas, a fim de

manter a paz e a segurança internacionais.

56
COMÉRCIO INTERNACIONAL

g. Gabarito

1 2 3 4 5

C A B D A

6 7 8 9 10

E D D B B

11 12 13 14 15

D E D E E

16 17 18 19 20

E C C D E

21

57
COMÉRCIO INTERNACIONAL

h. Breves comentários às questões:

01 – (AFTN/1996) O livre cambismo é uma doutrina de comércio que parte do

pressuposto de que a natureza desigual dos países e regiões torna a

especialização uma necessidade, sendo o comércio o meio pelo qual todos os

participantes obtêm vantagens dessa especialização. Cada país deveria

especializar-se na produção de bens onde consegue maior eficiência, trocando o

excedente por outros bens que outros países produzem com mais eficiência. O

principal argumento contra o livre cambismo, desde o século XIX (A. Hamilton e

F. List), se concentra na ideia de que:

a) o livre cambismo é incapaz de promover a justiça social;

b) no livre cambismo, somente se beneficiam do comércio os países que apresentam

uma pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

Quando isso não ocorre, a concorrência é predatória;

c) o livre cambismo é bom para os países de economia madura, mas os países com

indústrias nascentes necessitam de alguma forma de proteção;

d) o livre cambismo atende apenas aos interesses dos grandes exportadores, que

usam a liberdade econômica para estabelecer monopólios e cartéis;

e) na verdade não existe livre cambismo na prática. Todos os países são protecionistas

em razão da intervenção do Estado.

Comentários

O livre cambismo, ou liberalismo comercial, prega que as barreiras comerciais sejam

retiradas para se aproveitarem as vantagens comparativas que cada país possui na

produção de distintos bens. A pregação do livre cambismo ganhou força com David Hume e

58
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Adam Smith, que criaram teorias indicando-lhes as vantagens. Posteriormente, surgiram

outras teorias a favor do livre-comércio e começaram também a surgir teorias a favor do

protecionismo.

A mais antiga das teorias protecionistas foi a de Friedrich List, citado no enunciado. Este

político e economista alemão criou a teoria da “Proteção às Indústrias Nascentes”.

Por meio desta teoria, List pregava que os países menos desenvolvidos deveriam ter o

direito de proteger o setor industrial que está em processo de implantação no país.

Justificava dizendo que, se não houvesse proteção, a indústria não conseguiria se implantar

devido à concorrência dos bens produzidos de forma mais eficiente nos países mais

desenvolvidos.

O gabarito é a alternativa C.

A resposta é direta, pois está sendo questionado o que List pregou. E ele não pregou outra

coisa diferente do que foi indicado na alternativa C, ainda que ouçamos e, talvez, até

concordemos com algumas das afirmações inseridas nas outras alternativas da questão,

como, por exemplo:

– “o livre-cambismo é incapaz de promover a justiça social” (alternativa A): com certeza já

ouvimos muitas vezes essa frase, talvez mudada só um pouquinho (“o neoliberalismo só

gera mais pobreza e marginalização para os países em desenvolvimento” – frase típica de

líderes da esquerda), mas a pregação do List não se concentrou nisso;

– “o livre-cambismo atende apenas aos interesses dos grandes exportadores” (alternativa

D). Com certeza, já ouvimos muitos, principalmente da esquerda política, dizendo “o

liberalismo só é bom para os ricos”, mas a pregação do List não se concentrou nisso; e

– “na verdade, não existe livre-cambismo na prática” (alternativa E). Isso é verdade e não

apenas pregação de um ou outro grupo, mas a pregação do List não se concentrou nisso.

59
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Quanto à alternativa B, não podemos nem concordar com ela. Está escrito que os países

que mais se beneficiam são aqueles que exportam bens de demanda inelástica. Isto é falso.

Para analisar esta opção, você deve conhecer os conceitos de elasticidade estudados em

Economia. Façamos a seguinte pergunta: quem, na prática, se beneficia mais do livre-

comércio? Os países desenvolvidos (que produzem carros e computadores, caracterizados

por demanda elástica) ou os países em desenvolvimento (que produzem bens agrícolas,

caracterizados por demanda inelástica)?

Ora, as teorias de Raúl Prebisch dão a resposta. Ele já havia indicado, por volta de 1950,

que os países em desenvolvimento produzem bens de demanda inelástica e que esta é uma

das causas para estes países serem permanentemente prejudicados no comércio exterior.

Gabarito: letra C.

02 – (AFRF/2000) Durante crise de encomendas à produção interna de

determinado produto do país A, ameaçada pelo aumento desproporcional das

importações similares dos países B e C, que subsidiam fortemente a produção e a

exportação desse produto, as autoridades econômicas do país A, a fim de

obterem uma redução imediata da quantidade do produto importado – bem

conhecendo a preferência de seus consumidores pela oferta estrangeira e a

inferior qualidade da mercadoria doméstica – deverão adotar como medida mais

eficaz a seus propósitos:

a) o contingenciamento dos produtos importados, fixando quotas ao produto para os

países exportadores;

b) a criação de subsídios à produção e à comercialização do produto manufaturado no

país;

60
COMÉRCIO INTERNACIONAL

c) o aumento da tarifa aduaneira nas posições referentes a esse produto, a fim de

encarecer os importados, para benefício da indústria nacional;

d) o aumento dos impostos de exportação, a fim de desestimular as exportações do

produto doméstico para mercados tradicionais;

e) o estímulo à preferência pelo produto nacional, mediante a promoção de sorteios

de prêmios para seus consumidores.

Comentários

Esta questão é capciosa, pois parece que está sendo questionado o nome da medida a ser

usada como defesa contra subsídios, quando, na verdade, a pergunta é sobre outra coisa.

Para entendermos essa afirmação, vamos interpretar o enunciado por partes:

1) “Durante crise de encomendas à produção interna de determinado produto do país A,

ameaçada pelo aumento desproporcional das importações similares dos países B e C...”: os

bens produzidos nos países B e C estão sendo importados pelo país A e estão inundando o

mercado deste. Por isso, não há mais encomendas às fábricas de A;

2) “... países B e C, que subsidiam fortemente a produção e a exportação desse produto...”:

os produtos de B e C são subsidiados. Aqui, o apressado come cru. Ele diz “Ahá! Se as firmas

do país A estão sofrendo danos por causa de um subsídio praticado no país de exportação,

o remédio será a aplicação de medidas compensatórias”, vai direto ler as opções e ... não

encontra as medidas compensatórias em nenhuma assertiva. Aí, o sujeito percebe que foi

“com muita sede ao pote” e volta a ler o enunciado;

3) “... as autoridades econômicas do país A, a fim de obterem uma redução imediata da

quantidade do produto importado [...] deverão adotar como medida mais eficaz a seus

propósitos”: Este trecho pode ser assim reescrito: “qual a medida mais eficaz para que o

governo do país A consiga reduzir imediatamente as importações?”.

61
COMÉRCIO INTERNACIONAL

O examinador não está querendo saber qual a medida legal, prevista nos acordos

internacionais, mas qual a medida MAIS eficaz, não interessando se é legal ou ilegal. Se ele

estivesse querendo saber a medida legal, ele não escreveria “a medida MAIS eficaz”,

indicando a existência de vários tipos de medidas. Ora, a medida legal é uma só: não existe

a mais eficaz, a menos eficaz, a mais ou menos eficaz, a “um pouco” eficaz, existe sim a

medida compensatória e ponto;

4) “... bem conhecendo a preferência de seus consumidores pela oferta estrangeira e a

inferior qualidade da mercadoria doméstica...”: o governo do país A vai tomar uma medida

para defender a indústria doméstica, mas sabe que os consumidores preferem o

importado, até porque ele é de melhor qualidade que o produto nacional.

Diante disso tudo, pode-se reescrever o enunciado assim: “Os países B e C subsidiam suas

produções e isto está gerando danos às indústrias do país A. Apesar de saber que os

produtos dos países B e C são melhores, o governo quer proteger as fábricas domésticas.

Qual medida governamental é a mais eficaz para que as importações sejam reduzidas?”

A medida mais radical de todas é a proibição total de importações. Se o governo proíbe as

importações, seus problemas acabaram.

Como não há a proibição nas opções, a segunda mais radical seria proibir parcialmente, ou

seja, impor quotas, limites de importação. Esta é a resposta indicada na alternativa A, o

gabarito da questão.

Vejamos as demais opções.

Alternativa B: se o governo quer uma redução imediata das importações, como vai

conseguir isto subsidiando a produção interna e a comercialização? Pode-se dizer que a

concessão de subsídios é uma medida eficaz diante das circunstâncias?

62
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Não. O governo pode dar os subsídios que quiser, barateando o produto ao máximo, mas

se a qualidade do produto brasileiro não melhora, o subsídio não terá adiantado nada. Eu,

pelo menos, prefiro pagar caro por uma coisa boa a pagar baratinho por uma porcaria.

E, em segundo lugar, o subsídio à produção não gera efeito imediato na redução de

importações, pois, antes que isto aconteça, a indústria doméstica tem que usar o subsídio

para aumentar a produção...

Alternativa C: se o governo aumenta a alíquota do imposto de importação, talvez ele não

consiga nada além do encarecimento do produto importado. Esta alternativa C e a

alternativa B estão focando a mesma coisa: o preço da mercadoria. Em ambas as opções, o

governo pode fazer com que o produto brasileiro fique mais barato que o importado. Mas,

quando o consumidor vai às compras, preço não é tudo. Nada garante que ele vai deixar de

importar.

Alternativa D: esta opção é absurda. O governo aumenta o imposto de exportação para

dificultar a saída, inundando assim o mercado interno. Ora, as premissas da questão

foram:

– “há uma crise de encomendas” e não um excesso de encomendas. Se houvesse excesso,

gerando desabastecimento interno, a restrição de saída até poderia ser eficaz...; e

– o produto brasileiro é de qualidade inferior. Se nem o consumidor brasileiro o está

demandando, que se dirá sobre os consumidores estrangeiros? O Brasil não consegue

vender a porcaria nem aqui dentro, quanto mais lá fora.

Se o governo aumentar o imposto de exportação, aí mesmo é que as fábricas brasileiras

quebram...

Alternativa E: incorreta. Porcaria eu não quero nem de graça...

Gabarito: letra A.

63
COMÉRCIO INTERNACIONAL

03 – (AFRF/1998) Indique a opção que não está relacionada com a prática do

mercantilismo:

a) O princípio segundo o qual o Estado deve incrementar o bem-estar nacional.

b) O conjunto de concepções que incluía o protecionismo, a atuação ativa do Estado e

a busca de acumulação de metais preciosos, que foram aplicadas em toda a Europa

homogeneamente no século XVII.

c) O comércio exterior deve ser estimulado, pois um saldo positivo na balança fornece

um estoque de metais preciosos.

d) A riqueza da economia depende do aumento da população e do volume de metais

preciosos do país.

e) Uma forte autoridade central é essencial para a expansão dos mercados e a

proteção dos interesses comerciais.

Comentários

O mercantilismo foi o sistema econômico vigente durante a Idade Moderna, que se baseava

no protecionismo, na intervenção estatal e na acumulação primitiva de capital,

influenciados pela teoria econômica da época.

A teoria então vigente definia que o Estado não podia perder metais preciosos de suas

reservas (via importações ou por outra forma), pois isto ocasionaria o empobrecimento do

país. E, por causa deste esfriamento da economia, haveria a redução dos preços

domésticos. Com a redução de preços, o Estado entraria num círculo vicioso, recebendo

cada vez menos por produto vendido.

A perda de metais preciosos geraria também o aumento dos preços dos bens produzidos

nos demais países, porque estes se enriqueceriam com os metais perdidos por nós. Isso

64
COMÉRCIO INTERNACIONAL

alimentaria o círculo vicioso: preços mais altos dos importados implicariam gastos cada vez

maiores com as importações.

Ora, receber cada vez menos e gastar cada vez mais vai provocar mais perda de metais

preciosos das reservas. Era uma perda autoalimentada. Não podia ocorrer.

Para evitar a perda total de reservas dos países, estes deveriam evitar, a todo custo, a saída

de reservas. Todos os países começaram a tentar acumular ouro e prata para não entrar

na espiral negativa. E a acumulação de ouro e prata se daria principalmente com medidas

comerciais protecionistas e com a colonização. Essa era a teoria de John Locke.

Vejamos as assertivas.

Alternativa A: correta. Toda política protecionista (característica do mercantilismo) é do tipo

paternalista, por se caracterizar por uma eliminação da concorrência, com a restrição à

entrada de bens estrangeiros. Desta forma, defende-se a produção interna, dando a falsa

impressão de bem-estar social (falsa, porque a ineficiência econômica gerada pelo

protecionismo impõe custos diluídos e, por isso, despercebidos para muitos).

Alternativa B: incorreta. No mercantilismo, Espanha e Portugal primordialmente buscaram

aumentar reservas roubando ouro e prata de suas colônias (acumulação primitiva de

capital). Enquanto a Inglaterra, por exemplo, que não possuía colônias fornecedoras de

ouro e prata, concentrou-se em aumentar suas reservas vendendo caro para Portugal e

Espanha e restringindo importações (protecionismo). Apesar de a acumulação de metais

preciosos, o protecionismo e a atuação ativa do Estado serem características do

mercantilismo, eles não foram aplicados homogeneamente na Europa. Alguns países

usaram mais a acumulação primitiva de capital do que o protecionismo (Portugal e

Espanha, por exemplo). Outros usaram mais o protecionismo do que a acumulação

primitiva (Inglaterra, por exemplo).

65
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Alternativa C: correta, apesar de o início ser um pouco dúbio. Na verdade, o que era

estimulado no mercantilismo eram as exportações, não o comércio exterior como um todo

(exportações e importações). No entanto, percebe-se que a parte final da alternativa C

arremata corretamente, podendo-se entender que “o comércio exterior deve ser estimulado

para gerar superávits na balança”.

Alternativa D: correta. Segundo a teoria mercantilista, a riqueza da economia dependia da

quantidade de metais preciosos do país. Em relação à população, é bastante óbvio que país

sem população não tem tantas possibilidades como um país populoso. Perceba que está

escrito que a riqueza da economia depende do tamanho da população. Um país será tanto

mais rico quanto mais mão de obra e consumidores possuir. Porém, analisando-se sob a

ótica das pessoas, é razoável aceitar que, no caso de oferta limitada de recursos, as pessoas

serão tanto mais pobres quanto mais pessoas houver para com quem dividir os recursos

limitados.

Alternativa E: correta. Política mercantilista (protecionista) é política governamental que

exige “mão forte” para evitar a entrada de importados, evitando a liberdade de comércio. E

também para incentivar a acumulação primitiva de capital. Somente os Estados,

endinheirados, podiam suportar os altos custos das expedições em busca de novas terras,

novas colônias.

Gabarito: letra B.

04 – (AFRFB/2009) A participação no comércio internacional é importante

dimensão das estratégias de desenvolvimento econômico dos países, sendo

perseguida a partir de ênfases diferenciadas quanto ao grau de exposição dos

mercados domésticos à competição internacional. Com base nessa assertiva e

considerando as diferentes orientações que podem assumir as políticas

comerciais, assinale a opção correta.

66
COMÉRCIO INTERNACIONAL

a) As políticas comerciais inspiradas pelo neomercantilismo privilegiam a obtenção de

superávits comerciais notadamente pela via da diversificação dos mercados de

exportação para produtos de maior valor agregado.

b) Países que adotam políticas comerciais de orientação liberal são contrários aos

esquemas preferenciais, como o Sistema Geral de Preferências, e aos acordos

regionais e sub-regionais de integração comercial celebrados no marco da

Organização Mundial do Comércio por conterem, tais esquemas e acordos,

componentes protecionistas.

c) A política de substituição de importações valeu-se preponderantemente de

instrumentos de incentivos à produção e às exportações, tendo o protecionismo

tarifário importância secundária em sua implementação.

d) A ênfase ao estímulo à produção e à competitividade de bens de alto valor agregado

e de maior potencial de irradiação econômica e tecnológica a serem destinados

fundamentalmente para os mercados de exportação caracteriza as políticas comerciais

estratégicas.

e) As economias orientadas para as exportações, como as dos países do Sudeste

Asiático, praticam políticas comerciais liberais em que são combatidos os incentivos e

quaisquer formas de proteção setorial, privilegiando antes a criação de um ambiente

econômico favorável à plena competição comercial.

Comentários

Letra A: errada. Vamos por partes.

1ª parte) “As políticas comerciais inspiradas pelo neomercantilismo privilegiam a obtenção

de superávits comerciais?” SIM.

67
COMÉRCIO INTERNACIONAL

2ª parte) A busca pelo aumento de exportações é característica do protecionismo ou do

liberalismo? De ambos.

(Note que o aumento de exportações pode se dar em função de diversificação de mercados

ou pela exportação de bens de alto valor agregado.)

O que diferencia o mercantilismo (ou o neomercantilismo, que é o mercantilismo

contemporâneo) do liberalismo (ou do neoliberalismo) é basicamente o tratamento dado às

importações.

No neomercantilismo, as importações são restringidas, buscando-se assim o superávit

comercial. No liberalismo, as importações são liberadas.

Voltando à questão: a política protecionista, ou seja, a busca por superávit comercial é

“notadamente pela via da diversificação dos mercados de exportação para produtos de

maior valor agregado”?

Não, pois, se assim o fosse, teríamos que concluir que o liberalismo também privilegia a

obtenção de superávit comercial, já que também busca “diversificação dos mercados de

exportação para produtos de maior valor agregado”

O principal fator para o superávit comercial é a restrição às importações, não o

aumento de exportações. Isto porque o liberalismo também busca aumento de

exportações, mas sem buscar superávit comercial.

O sistema protecionista busca o superávit comercial, notadamente através da restrição às

importações; o liberalismo, não. Ele busca sim o aumento das exportações, porém libera as

importações, sem impor tarifas. O superávit pode ocorrer, mas não é o objetivo.

Letra B: errada. Mesmo os países ditos liberais reconhecem a importância dos acordos

regionais e dos sistemas preferenciais, pois a derrubada de barreiras entre alguns países

pode ser o primeiro passo para a derrubada de barreiras entre todos.

68
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Letra C: errada. A substituição de importações buscou, principalmente, reduzir importações,

não aumentar exportações. A industrialização era voltada para o mercado interno, não

para o mercado externo.

Letra D: correta. Uma política comercial inteligente (estratégica) é se fixar na exportação de

bens com alto valor agregado, como aviões ou computadores. A exportação preponderante

de bens primários é empobrecedora para o país.

Letra E: errada. As empresas dos países do Sudeste Asiático, ou melhor, do mundo inteiro,

recebem incentivos às exportações. Todos os países (uns mais, outros menos) incentivam os

exportadores e protegem os setores menos eficientes. Tal proteção é até legitimada nos

acordos internacionais como, por exemplo, nos casos de indústrias nascentes, promoção de

defesa comercial, segurança nacional e proteção sanitária.

Gabarito: letra D.

05 – (AFRF/1998) Entre as opções abaixo, indique aquela que não constitui

argumento utilizado pelo protecionismo:

a) O comércio e a indústria são mais importantes para um país do que a agricultura e,

portanto, devem ser submetidos a tarifas para evitar a concorrência com produtos

estrangeiros.

b) As indústrias-chave da defesa nacional devem ser protegidas para evitar a ação de

fornecedores estrangeiros.

c) A adoção de tarifas favorece a criação de empresas nacionais.

d) Quando há capacidade ociosa, as tarifas contribuem para aumentar o nível de

atividade e de emprego, e, portanto, de renda de um dado país.

69
COMÉRCIO INTERNACIONAL

e) É preciso manter as indústrias de um país em um nível tal que possam atender à

demanda em caso de um corte de fornecimento externo devido a uma guerra.

Comentários

Alternativa A: incorreta. Não se pode dizer que a agricultura é menos importante do que o

comércio e a indústria. Para ratificar, pode-se constatar que o Acordo sobre Agricultura e o

Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias até permitem práticas protecionistas

mais amplas para os produtos agrícolas do que para os produtos industriais. Praticamente

todos os acordos comerciais permitem maior liberdade de proteção para os produtos

agrícolas, por serem considerados estratégicos.

Alternativa B: correta. As áreas estratégicas podem e devem ser protegidas, como, por

exemplo, o setor agrícola, o setor energético e o setor bélico. É muito ruim quando um país

se torna refém de importações de bens estratégicos. Por exemplo, no caso de o país não

possuir produção própria e, portanto, importar todos os alimentos que consome, uma

quebra na produção mundial de alimentos pode “matar” o país importador.

Alternativa C: correta. Impor tarifas dificulta a importação de bens estrangeiros

concorrentes e assim favorece a produção interna.

Alternativa D: correta. Havendo desemprego no país, a instituição de tarifas sobre os

importados estimula a produção interna, por criar dificuldades à entrada de produtos

estrangeiros concorrentes.

Alternativa E: correta. Os setores estratégicos devem ser estimulados a produzir para que,

em épocas de crise externa, o país tenha os bens essenciais e se mantenha “de pé”.

Gabarito: letra A.

70
COMÉRCIO INTERNACIONAL

06 – (AFRF/2000) Para explicar a relação entre comércio de produtos primários e

industrializados, a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL) apresentou

uma série de estudos e propostas. Acerca da CEPAL pode-se fazer as seguintes

afirmativas abaixo, exceto:

a) a CEPAL teve um papel decisivo na criação da ALALC;

b) o comércio internacional tendia a gerar uma desigualdade básica nas relações de

troca (uma deterioração nas relações de troca) pois os preços das matérias-primas

(dos países em desenvolvimento) tendia a declinar a longo prazo, enquanto o preço

dos produtos manufaturados (fabricados em geral em países desenvolvidos) tendia a

subir;

c) os países produtores de bens primários deveriam diversificar sua produção,

deixando de ser produtores de monoculturas;

d) os países em desenvolvimento deveriam procurar exportar produtos

manufaturados;

e) os países em desenvolvimento deveriam abrir suas economias para torná-las mais

competitivas e assim conquistarem espaço no comércio internacional.

Comentários

Raúl Prebisch, Secretário geral da CEPAL, criou duas teorias.

1) Teoria da Deterioração dos Termos de Troca: por esta teoria, ele indicou que, com o

passar do tempo, os bens primários, produzidos pelos países em desenvolvimento, perdiam

valor comparativamente aos bens industrializados, produzidos pelos países desenvolvidos.

Isto decorria do movimento cíclico da economia mundial:

– em épocas de crise mundial, os bens industrializados não caem tanto de preço, porque os

sindicatos fortes dos países desenvolvidos não permitem tanta redução salarial. Portanto,

71
COMÉRCIO INTERNACIONAL

se os custos não caem muito, os preços também não. Já nos países em desenvolvimento, os

salários caem de forma mais acentuada, tendo em vista a mão de obra numerosa; e

– em épocas de fartura mundial, os preços dos bens industrializados sobem mais que os

preços dos bens primários, tendo em vista que aqueles possuem demanda elástica. Os

preços dos bens primários também vão subir, mas em montante menor por causa da

inelasticidade da demanda.

2) Estímulo à Substituição de Importações: esta teoria decorre da primeira, pois, se os

produtos primários vão ficando cada vez mais baratos em comparação com os bens

industrializados, então é imperioso que os países deixem de ser exclusivamente produtores

de bens primários. Pela pregação de Prebisch, a América Latina deveria se industrializar

para não ver sua produção perder valor continuamente. Os importados deveriam ser

substituídos por produção interna, local. Mas isto não quer dizer que os países em

desenvolvimento devem deixar de produzir bens primários, que são produtos estratégicos

para qualquer país.

Alternativa A: correta. A CEPAL, por meio de seu Secretário-Geral Raúl Prebisch, teve papel

decisivo na criação da ALALC – Associação Latino-Americana de Livre Comércio, cujo

objetivo era que os países latino-americanos juntassem suas forças e se ajudassem no

processo de industrialização que se iniciava. Por meio da ALALC, os países abririam seus

mercados uns aos outros, ajudando na consolidação das indústrias da região.

Alternativa B: correta, como explicado anteriormente.

Alternativa C: correta, apesar de poder levar a erro de interpretação. Os países em

desenvolvimento deveriam diversificar sua produção, produzindo, além dos bens primários,

também bens industrializados. Do jeito que está escrito, muitos talvez tenham interpretado

como “os países em desenvolvimento deveriam diversificar sua produção, deixando de ser

72
COMÉRCIO INTERNACIONAL

produtores de monoculturas, PARA SEREM PRODUTORES DE VÁRIAS CULTURAS.” Não é isso

que está escrito, mas, se fosse, a assertiva realmente estaria errada, pois a CEPAL não

pregava que o país deixasse de produzir exclusivamente feijão para que fosse produzir

também arroz, soja e milho.

Alternativa D: correta. Sim, os países em desenvolvimento deveriam oferecer ao mercado

seus bens que aumentam de preço com o passar do tempo, garantindo renda crescente

para o futuro.

Alternativa E: incorreta. Ora, Raúl Prebisch pregou que nos fechássemos ao comércio

externo com os países desenvolvidos, deixando de importar deles para importarmos

apenas de países do bloco latino-americano, para ajuda mútua.

Gabarito: letra E.

07 – (BNDES/2002) A tarifa de proteção efetiva de uma mercadoria M (TPEm) que

utiliza apenas um insumo importado (I) é assim definida:

TPEm = (TNm - Wi * TNi) / (1 - Wi)

Considerando-se que TNm e TNi são tarifas nominais de M e I, respectivamente,

em percentagem e Wi é a participação percentual do insumo importado I no

custo de produção de M, supostamente maior que zero, pode-se afirmar que

a) quanto maior for TNi, tudo o mais constante, maior será TPEm.

b) caso TNm > TNi e ambas positivas, quanto maior wi, tudo o mais constante, menor

será TPEm.

c) é desejável que TNi seja maior que TNm para que a tarifa de proteção efetiva seja

maior do que a tarifa nominal.

73
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d) a política protecionista mais adequada, caso se queira proteger tanto o insumo I

quanto a mercadoria M, é fixar a tarifa do primeiro em valor menor que a da segunda.

e) quanto maior for a diferença positiva entre TNm e TNi, menor será TPEm.

Comentários

Na questão, o bom é que a fórmula já foi dada. Veja apenas que foi usado um único

insumo. Por isso, não aparece o somatório na fórmula.

A questão pode ser integralmente resolvida sem precisar conhecer a teoria da tarifa efetiva.

Era só ficar substituindo números hipotéticos na fórmula e chegar facilmente ao gabarito.

Para analisar a letra A, por exemplo, chutemos alguns números:

TNm = 10% (ou 0,1); Wi = 40% (ou 0,4); TNi = 10% (ou 0,1)

Logo, TPEm = (0,1 – 0,4 * 0,1) / (1 – 0,4) = 0,06 / 0,6 = 0,1

Se aumentar TNi de 0,1 para 0,3 para verificar se a alternativa A está correta, teremos:

TPEm = (0,1 – 0,4 * 0,3) / (1 – 0,4) = -0,02 / 0,6 = -0,033

TPEm diminuiu, não aumentou. Letra A errada. Veja que nem precisamos saber o que são

as siglas. rs Se fizermos a substituição de números hipotéticos para cada uma das cinco

opções, chegaríamos facilmente à letra D como o gabarito.

No entanto, nós vamos interpretar o que diz cada assertiva.

Letra A: caso se aumente a tarifa nominal do insumo, diminui o lucro obtido pela empresa

produtora, ou seja, menor a tarifa efetiva. Opção incorreta.

Letra B: quando a participação percentual do insumo importado tende a zero, a tarifa

efetiva é praticamente igual à tarifa nominal, pois o custo é quase zero.

74
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Por outro lado, se a participação percentual do insumo importado no valor do bem final

tende a 100%, então o lucro é ínfimo. Numa situação dessa, a imposição de uma tarifa

sobre o bem, desde que maior do que a tarifa sobre o insumo, vai majorar o lucro. Saindo

de um lucro ínfimo, qualquer ganho é muito significativo percentualmente, ou seja, as

tarifas efetivas (os aumentos percentuais de lucros) serão muito grandes.

Pode-se afirmar que, quanto maior a participação do insumo no valor final do bem, mais

elevadas serão as tarifas efetivas no caso de as tarifas nominais sobre o bem serem

maiores do que as tarifas nominais dos insumos. Letra B errada.

Letra C: errada. A tarifa efetiva, calculada sobre o lucro da empresa, será maior quanto

menor o imposto sobre insumos (TNi) e maior o imposto sobre o produto similar importado

(TNm).

Letra D: correta. A política adequada para se restringir a importação de bens finais,

protegendo a mercadoria nacional, é tarifá-los em percentual menor do que o dos insumos.

Estimula-se a produção interna dos bens finais.

Em relação aos insumos, a proteção é dada aos produtores nacionais de insumos similares

a partir da instituição de impostos sobre a importação, ou seja, a partir da fixação de uma

tarifa, mas nada que seja maior do que a dos bens finais para não atrapalhar a produção

destes.

Letra E: errada. Quanto maior a diferença entre a tarifa dos bens finais e dos insumos,

maior tende a ser o lucro da empresa nacional.

Gabarito: letra D.

75
COMÉRCIO INTERNACIONAL

08 – (ACE/2002) O argumento em favor da proteção às indústrias nascentes

ganhou força com a publicação do “Report on Manufactures”, de Alexander

Hamilton, que defendeu o desenvolvimento nos Estados Unidos da América e o

uso de tarifas para promovê-lo. A respeito dos instrumentos de proteção a

indústrias nascentes é correto afirmar que:

a) o argumento que analisa as economias de escala produzidas pela proteção a

indústrias nascentes defende como instrumento principal as firmas, em vez de

indústrias, uma vez que, ao concentrar os benefícios nas mãos de poucos agentes

privados, preferencialmente um monopólio, criam-se condições para que a indústria

local se desenvolva mais rapidamente.

b) desde que ocorra, a proteção a indústrias nascentes atinge os resultados

pretendidos a custos semelhantes, não importando muito se utiliza instrumentos tais

como cotas, subsídios ou tarifas.

c) o argumento que analisa a aquisição de experiência pela economia nacional,

baseado no princípio de se “aprender fazendo”, o que permite justificar a proteção a

tais indústrias por tempo indeterminado, preferencialmente longo, já que a inovação é

condição necessária à manutenção da competitividade industrial.

d) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias

nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo

da dificuldade de se escolher corretamente as indústrias que devem receber proteção,

a relutância das indústrias a dispensar a proteção recebida e seus efeitos deletérios

sobre outras indústrias.

e) entre as principais críticas aos instrumentos utilizados para proteger indústrias

nascentes estão os argumentos que apontam algumas de suas implicações, a exemplo

da dificuldade de se combinar as indústrias que devem receber proteção com o

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

modelo de substituição de importações, a concordância das indústrias em dispensar a

proteção recebida e seus efeitos deletérios sobre outras indústrias.

Comentários

O instrumento de proteção às indústrias nascentes é previsto no artigo XVIII do GATT.

Características dessa medida protecionista, encontradas na leitura do artigo:

– a proteção tem que ser dada ao setor nascente, não a empresas nascentes. Isto porque,

em Economia, indústria é o setor econômico. Por exemplo, a proteção será à indústria

automobilística, ao setor automobilístico, não às firmas automobilísticas, individualmente

falando;

– só os países em desenvolvimento podem invocar a proteção;

– a proteção tem que ser temporária, devendo ser retirada assim que a indústria atingir

maturidade;

– a proteção tem que ser feita na forma de imposto de importação.

Diante dos itens listados, podemos eliminar as opções A, B e C.

A alternativa D é o gabarito. Os problemas levantados pelos críticos da “Teoria de Proteção

às Indústrias Nascentes” são:

– Se houver mais de uma indústria nascente (mais de um setor nascente) e não houver

condições de ajudar todas, como será a escolha?

– Criar a proteção é fácil, mas na hora de se retirá-la, a indústria reluta, pois não quer

“largar o osso”.

77
COMÉRCIO INTERNACIONAL

– Proteger uma indústria nascente tem custos financeiros e de eficiência, pois as demais

indústrias, eficientes, já funcionando, perderão seus fatores de produção para a nascente.

“Não existe almoço grátis”: quando o governo beneficia um setor, toda a sociedade está

pagando, inclusive financeiramente, pois será o dinheiro público ou o aumento do preço

dos importados concorrentes que irá financiar a proteção.

A alternativa E está errada, pois:

1) se compararmos a redação da alternativa D com esta, temos que concordar que há

“relutância” das indústrias nascentes em dispensar a proteção recebida. Não existe a

“concordância” indicada na alternativa E; e

2) por lógica, quem critica esta teoria só pode ser alguém com feição liberal, não

protecionista. Como então este crítico (de feição liberal) poderia reclamar da dificuldade de

combinar a “Proteção às Indústrias Nascentes” (teoria protecionista aceita até pelos

liberais) com o “Modelo de Substituição de Importações” (teoria protecionista criada por

Prebisch, mas rejeitada pelos liberais)? Ora, este crítico não quer o “Modelo de Substituição

de Importações”. Então, não vai ficar tentando combinar a aplicação das teorias

protecionistas. O máximo que ale aceitaria seria a “Proteção às indústrias nascentes”.

Gabarito: letra D.

09 – (Inédita) Não são consideradas barreiras não tarifárias:

a) quotas tarifárias

b) subsídios às exportações

c) medidas antidumping

78
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d) Acordo Voluntário de Restrição às Exportações

e) proibições de importação

Comentários

Letra A: as quotas (tarifárias e não tarifárias) são barreiras não tarifárias. A quota não se

confunde com a tarifa cobrada.

No caso das quotas não tarifárias, há um único percentual de tarifa. Exemplo: é permitida a

importação de 1.500 toneladas de trigo por mês, com alíquota de 10% (ou mesmo 0%)

sobre o valor. É proibida a importação acima das 1.500 toneladas por mês.

No caso das quotas tarifárias, há dois ou mais limites de tarifas, mas a quota em si é uma

barreira não tarifária. Exemplo: até 1.000 carros/mês – alíquota de 15% (ou mesmo 0%);

acima de 1.000 carros/mês – alíquota de 50%. A quota é o limite de 1.000 carros/mês.

Acima do limite, a alíquota pode ser maior ou menor do que a alíquota aplicada abaixo

dele.

Letra B: os incentivos à exportação não são considerados barreiras. Considere que o país A

subsidie as exportações para o país B. O país A não está impondo barreira nenhuma. O

país B é que poderá impor uma barreira contra os produtos subsidiados de A, caso causem

dano à sua indústria doméstica.

Letra C: as medidas antidumping são barreiras não tarifárias, usadas quando o dumping

praticado pelo exportador causa dano à indústria doméstica do país importador.

Letra D: os Acordos Voluntários de Restrição às Exportações (AVRE) são barreiras não

tarifárias, como vimos na aula.

Letra E: as proibições de importação são as barreiras não tarifárias mais rigorosas.

Gabarito: letra B.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

10 – (AFRF/2000) Julgue as opções abaixo e assinale a correta:

a) O livre-cambismo é uma doutrina de comércio estabelecida através de tarifas

protecionistas, a subvenção de créditos, a adoção de câmbios diferenciados.

b) O livre-cambismo rege que a livre troca de produtos no campo internacional, os

quais seriam vendidos a preços mínimos, num regime de mercado, se aproximaria ao

da livre concorrência perfeita.

c) O livre-cambismo é uma doutrina pela qual o governo não provê a remoção dos

obstáculos legais em relação ao comércio e aos preços.

d) O livre-cambismo só beneficia os países em desenvolvimento, que apresentam uma

pauta de exportações onde a maioria dos produtos possui demanda inelástica.

e) O livre-cambismo defende a adoção de tarifas em situação de defesa nacional.

Comentários

Alternativa A: incorreta. Livre-cambismo equivale a livre comércio, indo na contramão das

tarifas protecionistas, dos subsídios e das taxas múltiplas de câmbio.

Alternativa B: correta. Se houvesse livre troca de produtos internacionalmente, haveria

milhões (ou bilhões) de consumidores demandando bens dos milhões de fornecedores,

como ocorre em um mercado estruturado em concorrência perfeita. O conceito desta é

estudado em Economia: inúmeros compradores e inúmeros vendedores de bens

homogêneos, sem que cada um tenha condições de afetar unilateralmente o preço de

equilíbrio do produto. No livre-cambismo, os preços tenderiam a ser os mínimos, pois não

haveria barreira às importações.

Alternativa C: incorreta. Pelo livre-cambismo, o governo retira os obstáculos em relação ao

comércio e aos preços, tornando livre o comércio.

80
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Alternativa D: incorreta. De fato, os países em desenvolvimento produzem e exportam,

principalmente, bens primários, cuja demanda é inelástica. Mas justamente a inelasticidade

foi uma das justificativas para que Raúl Prebisch condenasse o livre-cambismo dos países

desenvolvidos com os países em desenvolvimento (comércio Norte-Sul), pois estava havendo

a deterioração dos termos de troca.

Alternativa E: incorreta. O livre-cambismo nunca vai defender o uso de tarifas. Quem

defende o uso de tarifas não é a doutrina liberal, mas os países, mesmo os ditos liberais,

que aceitam que o liberalismo tem limites. Por exemplo, nos casos de defesa nacional, de

proteção às indústrias nascentes e de defesa comercial, os países aceitam que o liberalismo

fique de fora e o protecionismo seja a política comercial praticada.

Gabarito: letra B.

11 – (ACE/2002) A respeito dos processos de industrialização por substituição de

importações é correto afirmar o seguinte:

a) historicamente, tais processos favoreceram o desenvolvimento tecnológico em

escala global, já que as economias mais atrasadas alcançam condições para

desenvolver indústrias que passarão a competir com as das economias desenvolvidas.

b) no que concerne às políticas públicas implementadas pelos governos, assemelham-

se aos processos de industrialização baseados em atividades orientadas para

exportações. Diferenciam-se apenas pela ênfase na diversificação da pauta de

importações.

c) mostraram-se eficientes ao longo do século XX, como ilustra o desempenho dos

chamados “Tigres Asiáticos”.

81
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d) aceitando-se que podem ser bem sucedidos, implicam a necessidade da opção, pela

sociedade que os implementam, de financiar um setor econômico específico, uma vez

que requerem a imposição de políticas que distorcem, a um tempo, os fluxos

comerciais e a alocação eficiente dos fatores de produção internos.

e) para que sejam implementados inteiramente, requerem a efetiva realização de uma

reforma agrária.

Comentários

Alternativa A: incorreta. A política de substituição às importações não favorece o

desenvolvimento tecnológico, pois, sem competição, a tecnologia fica defasada. Isto

acontece, porque, na visão das indústrias protegidas, não é necessário investir em

tecnologia, já que não há concorrência externa. Além disso, os países desenvolvidos, se não

vendem seus produtos, também não têm interesse em transferir tecnologia.

Alternativa B: incorreta. O modelo de industrialização buscando aumentar exportações, em

comparação com o modelo que visa à redução de importações, tem características muito

distintas. Por exemplo, na industrialização voltada para exportações:

– não ocorre nem pode ocorrer obsolescência, senão não serão vendidos os bens para o

resto do mundo. Disto decorrem altos investimentos em educação, pesquisa e

desenvolvimento;

– o tamanho do mercado consumidor é muito maior, o que favorece ganhos de escala mais

significativos; e

– a receita de vendas é em moeda forte, aumentando-se as reservas, essenciais para os

momentos de crise mundial.

82
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Alternativa C: incorreta. Os Tigres Asiáticos são exemplos de aplicação da industrialização

voltada às exportações. A América Latina é exemplo de aplicação da substituição de

importações.

Alternativa D: correta. A substituição de importações implica a criação da indústria

doméstica, ineficiente, em detrimento da satisfação pessoal do consumidor, que, talvez,

preferisse o produto importado. O consumidor terá que adquirir o produto doméstico,

mesmo que seja ruim e caro. Isto por causa da reserva de mercado que foi criada. A

alocação ineficiente decorre das características naturais do país: se o governo está

precisando “forçar a barra” para criar a indústria é porque esta não se adaptou

naturalmente à combinação dos fatores de produção do país. Em suma, se está sendo

forçado a ajudar, é porque a indústria é ineficiente. O governo vai promover, para a nova

indústria que está sendo criada, a migração dos fatores de produção que estavam antes

alocados de forma ótima.

Alternativa E: incorreta. Não há correlação entre o modelo de substituição de importações e

a reforma agrária.

Gabarito: letra D.

12 – (ACE/2012) Considerando-se a ação governamental no modelo de

industrialização orientada para as exportações, é correto afirmar que

a) é limitada em razão do protagonismo central dos agentes econômicos privados

nacionais e estrangeiros atuantes na atividade exportadora na realização de

investimentos produtivos e em relação aos fatores que garantem competitividade nos

mercados internacionais.

b) é semelhante à desenvolvida no modelo de substituição de importações na medida

em que está centrada na aplicação de instrumentos tarifários e incentivos à produção.

83
COMÉRCIO INTERNACIONAL

c) é de caráter subsidiário e envolve fundamentalmente a promoção de marcos

políticos, jurídicos e institucionais favoráveis aos investimentos e à atividade

econômica.

d) prescinde de formas de intervenção econômica e concentra-se na proteção da livre

iniciativa, da competição e dos fluxos de comércio e de investimento.

e) é de grande alcance, envolvendo o apoio ao desenvolvimento da infraestrutura, a

concessão de incentivos fiscais e creditícios, o financiamento da produção e das

exportações e investimentos em educação e qualificação profissional.

Comentários

Letra A: errada. No modelo em que o Estado orienta a industrialização para exportações,

ele tem um forte papel indutor destas, não tem uma ação “limitada”. Afinal, ele age no

desenvolvimento da infraestrutura do país, cria instrumentos de financiamento da

exportação, concede benefícios fiscais, estimula a qualificação das pessoas, enfim age de

forma importante.

Letra B: errada. No modelo exportador, o governo age para aumentar exportações,

inclusive financiando estudos e pesquisas, sem ficar impondo barreiras às importações. Já

na substituição de importações, o governo é sim um protetor da indústria nacional.

Letra C: errada. O governo intervém com recursos significativos para incentivar e estimular

as exportações. Não é apenas um criador de normas, mas um importante provedor de

recursos para infraestrutura, educação, incentivos fiscais e financeiros, etc.

Letra D: errada. Há intervenção econômica e financeira para incentivar as exportações.

Letra E: correta.

Gabarito: letra E.

84
COMÉRCIO INTERNACIONAL

13 – (Inédita) É legítima a imposição de medidas protecionistas nos casos abaixo,

exceto:

a) como defesa a subsídios que causam dano à indústria doméstica.

b) como forma de promoção da segurança nacional.

c) para garantir a integridade da vida e saúde humanas.

d) como garantia dos empregos do setor industrial.

e) para conservação dos recursos naturais esgotáveis.

Comentários

As opções A, B, C e E trazem situações de protecionismo tolerado, como vimos na aula.

A letra D menciona proteção ao emprego. Isso não é justificativa aceita para a imposição de

medidas protecionistas. Afinal, o liberalismo defende a desalocação dos fatores de

produção das atividades ineficientes para que sejam alocados nos setores eficientes da

economia do país. Logo, o desemprego em um setor ineficiente é algo natural, seguido do

reaproveitamento dos fatores no outro setor, mais eficiente.

Gabarito: letra D.

14 – (AFRF/2000) Entre as razões abaixo, indique aquela que não leva à adoção de

tarifas alfandegárias.

a) Aumento de arrecadação governamental.

b) Equilíbrio do Balanço de Pagamentos.

c) Proteção à indústria nascente.

85
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d) Segurança nacional (defesa).

e) Estímulo à competitividade de uma empresa.

Comentários

A resposta é a alternativa E, pois, se o governo brasileiro quer estimular a competitividade

das empresas brasileiras, estas devem ser expostas à competição com os produtos

importados. Proteger, por exemplo, via adoção de tarifas alfandegárias, vai no sentido

inverso da busca de competitividade. Podemos dizer que: “o estímulo à competitividade de

uma empresa leva à retirada das barreiras, não à adoção de barreiras”.

Alternativa A: o aumento de arrecadação governamental pode ser razão que leva à adoção

de tarifas alfandegárias?

Pode. Se o governo quer aumentar a arrecadação, ele pode fazê-lo com a instituição ou a

majoração de impostos aduaneiros. Por exemplo, se o governo passa a cobrar imposto na

importação de bens que antes possuíam alíquota ZERO, isto não vai aumentar a

arrecadação?

Provavelmente sim, bastando, para isso, a importação de uma única unidade. É verdade

que os tributos aduaneiros não têm função arrecadatória, e sim extrafiscal, contudo eles

podem ser usados sim para o aumento de arrecadação.

Alternativa B: para equilibrar um Balanço de Pagamentos deficitário, o governo pode, por

exemplo, promover restrição às importações (via imposição de barreiras, como, por

exemplo, as tarifas alfandegárias), estimular as exportações, aumentar taxa de juros

(estimulando a entrada de capitais especulativos) ou mesmo desonerar o investimento

estrangeiro. Portanto, a busca pelo equilíbrio do BP pode levar à adoção de tarifas.

Alternativa C: correta. Para proteger as indústrias nascentes do país, o governo pode adotar

tarifas alfandegárias dificultando a entrada de bens concorrentes. Essa proteção é,

86
COMÉRCIO INTERNACIONAL

inclusive, autorizada nos acordos internacionais de comércio, notadamente no artigo XVIII

do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), de 1994.

Alternativa D: correta. Com o intuito de promover a segurança nacional, os países podem e

devem estimular a produção própria de material necessário às forças armadas. É salutar

que todos os países produzam estes bens considerados estratégicos, para não ficarem

reféns das importações. Esta permissão é, inclusive, autorizada no artigo XXI do Acordo

Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), de 1994. Quando as firmas do país forem

ineficientes na referida produção, o Governo pode ajudar, seja restringindo a importação

de bens concorrentes (com a imposição de tarifas, por exemplo), seja estimulando a

produção interna. Portanto, a busca pela segurança nacional é um dos motivos para se

adotarem tarifas.

Gabarito: letra E.

15 – (ACE/1997) Alguns países alegam que seu comércio externo é afetado pela

ação de governos de outros países, como os Acordos Voluntários de Exportações

(VERs). Esses acordos têm como objetivo principal:

a) estimular as exportações;

b) canalizar as exportações para um determinado produto;

c) aumentar a qualidade das importações, com a imposição de normas de segurança e

de higiene (aspectos fitossanitários);

d) levar o país a equilibrar suas exportações, como em um sistema de compensações;

e) limitar as importações de um dado produto.

87
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Comentários

Os Acordos Voluntários de Restrição às Exportações (AVREs) ou Voluntary Export Restraints

(VERs) são acordos (VOLUNTÁRIOS, para ser redundante) fechados entre Estados por meio

dos quais um se compromete a RESTRINGIR as EXPORTAÇÕES ao outro.

Estes acordos são fechados para evitar que o país importador, que se sente prejudicado

pelas exportações do outro, tome alguma medida mais rigorosa, alegando danos às suas

indústrias.

A resposta é a alternativa E, mas, para ser rigoroso tecnicamente, a resposta perfeita seria

“limitar as exportações de um dado produto”. “Limitar as importações” induz à ideia

equivocada de que a restrição é imposta pelo país importador, quando, na verdade, houve

uma restrição voluntária das exportações.

Gabarito: letra E.

16 – (AFRF/1998) Não é verdadeiro, em relação ao Livre-Cambismo, que:

a) o governo deve se limitar à manutenção da lei e da ordem;

b) o governo deve remover todos os obstáculos legais para o funcionamento de um

comércio livre;

c) existe uma divisão internacional do trabalho;

d) existe uma especialização de funções, motivada pela distribuição desigual de

recursos naturais ou por outros motivos;

e) todas as moedas devem ser conversíveis em ouro.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

Comentários

O livre-cambismo tem por característica o Estado mínimo. Seus defensores pregam que os

Estados devem se restringir à manutenção da lei e da ordem, sem se preocuparem com a

produção econômica.

A interferência do Estado na economia seria prejudicial, pois induziria distorções nos preços

dos bens, afetando a detecção das vantagens comparativas dos diversos países. O

liberalismo prega que, assim como cada pessoa se especializa na produção de um

determinado bem ou serviço, ou seja, numa profissão, também os países deveriam se

especializar. Assim como as pessoas compram bens e serviços uns dos outros, também os

Estados o deveriam fazer. Ora, se as pessoas não produzem todos os bens e serviços que

consomem, por que os Estados, com suas mais diversas combinações de recursos de

produção (clima, solo, capital, mão de obra...), deveriam produzir tudo?

Há países que estão mais propensos a produzir computadores do que outros, assim como

há pessoas que estão mais inclinadas a prestar serviços médicos do que serviços de

engenharia. Há países que estão mais propensos a fornecer petróleo do que outros, assim

como há pessoas que sabem, melhor do que as outras, como vender automóveis. Há países

que têm maior competitividade na produção de bens agrícolas do que outros, assim como

há fazendeiros que têm mais condições de cuidar de gado do que de plantação.

As vantagens de cada país deveriam ser aproveitadas e o governo não deveria interferir

nessas questões naturais, para não induzir distorções, “forçando a barra” para proteger os

ineficientes (presume-se sempre que o setor protegido é ineficiente, senão ele não precisaria

de proteção, certo?). A proteção aos ineficientes gera economias ineficientes. E o custo da

ineficiência será repartido pelo mundo inteiro, com a diminuição da produção global de

bens.

Diante do exposto, a resposta é a alternativa E.

89
COMÉRCIO INTERNACIONAL

O liberalismo nada tem a ver com conversão de moeda em ouro, mas com liberdade de

comércio, fim das barreiras, não intervenção estatal, especialização dos países naquelas

produções em que fossem comparativamente mais eficientes que os demais e consequente

divisão internacional do trabalho.

Gabarito: letra E.

17 – (AFRF/2000) As Barreiras Não-Tarifárias (BNT) são frequentemente

apontadas como grandes obstáculos ao comércio internacional. Podem vir a se

constituir Barreiras Não-Tarifárias (BNT) todas as modalidades abaixo, exceto:

a) medidas fitossanitárias;

b) normas de segurança;

c) direitos aduaneiros;

d) sistemas de licença de importação;

e) quotas.

Comentários

As barreiras comerciais se dividem em barreiras tarifárias e barreiras não tarifárias.

As barreiras tarifárias são as tarifas, ou seja, os impostos aduaneiros, também chamados

direitos aduaneiros. As barreiras não tarifárias são as demais barreiras (quotas, proibições,

normas sanitárias, normas de segurança, alíquotas antidumping, medidas compensatórias,

entre outras) existentes no comércio exterior.

Gabarito: letra C.

90
COMÉRCIO INTERNACIONAL

18 – (AFRF/2000) Não constitui prática restritiva adotada pelos governos:

a) formação e operação de cartéis de crise, cujo objetivo é a recuperação de indústrias

em dificuldade;

b) manutenção de barreiras à entrada no mercado de produto estrangeiro para

proteger o produtor doméstico;

c) acordos de preços predatórios para os produtos exportados e para os produtos de

venda doméstica;

d) negociação de acordos voluntários de exportação;

e) estabelecimento de relações privilegiadas fornecedor-cliente, impedindo acesso ao

mercado de fornecedores externos.

Comentários

A questão pede que indiquemos qual das opções não é uma prática restritiva, ou seja,

protecionista, adotada pelos governos.

Alternativa A: É prática restritiva? Sim. Ainda que não saibamos o que é cartel de crise, a

opção pode ser eliminada, pois se o objetivo da “coisa” é a recuperação de indústrias em

dificuldade, isto será por meio de medidas de proteção, restringindo a entrada de bens

importados concorrentes.

Bom, mas o que é “cartel de crise”? É a criação de um cartel autorizado pelo governo, tendo

em vista uma grave crise no setor: como a coisa está crítica, são abrandadas

excepcionalmente as restrições quanto à existência do cartel. Note-se que, no Brasil,

conforme a Lei de Defesa da Concorrência (Lei no 8.884/1994) não é permitida a criação de

cartel, nem mesmo “cartel de crise”.

Alternativa B: manter barreiras aos produtos estrangeiros é prática restritiva? Sim.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

Alternativa D: negociar “Acordos Voluntários de Restrição às Exportações (AVRE)” é ameaçar

o país exportador para que ele diminua suas vendas para o meu território. É prática

restritiva? Sim.

Alternativa E: estabelecer relações discriminatórias, impedindo a entrada de fornecedores

estrangeiros, é prática restritiva? Sim.

A resposta foi a alternativa C, mas a questão foi mal formulada, como explico ao final.

Alternativa C: o que é um acordo de preço predatório? É um acordo em que o preço será

muito baixo, com o intuito de “quebrar” os concorrentes. Para continuar a análise desta

opção, vamos dividir a alternativa C nas suas duas partes.

c.1) É prática restritiva o governo celebrar um acordo de preço predatório para os produtos

exportados?

c.2) É prática restritiva o governo celebrar um acordo de preço predatório para os produtos

de venda doméstica?

Em relação a c.1, se o governo celebra um acordo de preço predatório para os produtos

exportados, o governo está restringindo o quê?

Nada. Pelo contrário, o governo está estimulando o comércio exterior. O preço do

exportado ficou tão baixo que mais exportações serão feitas, com a quebra dos

concorrentes, se possível. O estímulo às exportações foi desleal, é verdade, mas não foi uma

criação de barreira comercial. Se alguém for criar uma barreira, será o país importador,

por meio de medida compensatória. Concluindo, estimular exportações não é medida

restritiva.

Em relação a c.2, se o governo celebra um acordo de preço predatório para os produtos de

venda doméstica, o governo está restringindo o quê? Ora, provavelmente não mais haverá

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

importações, porque o produto nacional ficou baratíssimo. Neste caso, houve uma prática

comercial restritiva, por meio da eliminação das importações.

Em resumo, acordo de preço predatório para os produtos exportados não é prática

restritiva. Acordo de preço predatório para os produtos de venda doméstica é prática

restritiva.

A questão foi mal formulada. Vejamos por quê.

O enunciado pede que se indique qual não é prática restritiva adotada pelo governo.

O que está na alternativa A é prática restritiva? É.

O que está na alternativa B é prática restritiva? É.

O que está na alternativa C é prática restritiva? Uma parte é e a outra, não.

O que está na alternativa D é prática restritiva? É.

O que está na alternativa E é prática restritiva? É.

Portanto, olhando as cinco respostas, dá para entender por que o gabarito foi a alternativa

C. Mas, se olharmos o resultado final da questão, iremos lê-la assim:

“Não constitui prática restritiva adotada pelos governos: acordos de preços predatórios

para os produtos exportados e para os produtos de venda doméstica.”

Essa frase está correta? Absolutamente não, pois há algo ali dentro que é prática restritiva

sim (os acordos para os produtos de venda doméstica). E a frase está indicando que não

constituem prática restritiva os acordos predatórios NEM para os produtos exportados NEM

para os produtos de venda doméstica.

Vou exemplificar melhor.

Utilizando as técnicas para montagem de questões, montemos uma questão hipotética:

93
COMÉRCIO INTERNACIONAL

“Constituem práticas criminosas:

a) roubar e matar;

b) matar e furtar;

c) amar e matar;

d) sequestrar e roubar;

e) furtar e roubar”.

Como estou montando a questão, eu vejo que estão corretas as alternativas A, B, D e E

(espero que você concorde comigo). E incorreta a alternativa C.

“Puxa vida! Eu tenho quatro respostas, mas a questão só pode ter uma.

Ahá! Tive uma brilhante ideia: vou colocar um ‘NÃO’ no enunciado e as respostas ficam

invertidas. As alternativas A, B, D e E passam a ser incorretas. E a resposta correta será a

alternativa C.”

Então, a forma final da minha questão, com a minha brilhante(?!) ideia, ficou assim:

“NÃO constituem práticas criminosas:

a) roubar e matar;

b) matar e furtar;

c) amar e matar;

d) sequestrar e roubar;

e) furtar e roubar.”

Mando a questão para o coordenador e digo para ele: “Olha, o gabarito é a alternativa C.”

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

Se o meu coordenador confiar cegamente em mim e não conferir o resultado final, vai ser

uma questão digna de anulação. Se ele tivesse conferido, ele teria visto que a frase “Amar e

matar NÃO constituem práticas criminosas” não pode estar correta, senão se poderia amar

e matar à vontade...

É claro que a frase está errada. Nessa questão hipotética, elaborada por inversão, não

haveria nenhuma alternativa correta.

Provavelmente, o examinador da questão real, não da hipotética, utilizou esta técnica para

montagem da questão ora analisada. Provavelmente, ele fez assim:

“Constitui prática restritiva adotada pelos governos:

a) formação e operação de cartéis de crise, cujo objetivo é a recuperação de indústrias em

dificuldade; (Resposta: SIM.)

b) manutenção de barreiras à entrada no mercado de produto estrangeiro para proteger o

produtor doméstico; (Resposta: SIM.)

c) acordos de preços predatórios para os produtos exportados e para os produtos de venda

doméstica; (Resposta: NÃO.)

d) negociação de acordos voluntários de exportação; (Resposta: SIM.)

e) estabelecimento de relações privilegiadas fornecedor-cliente, impedindo acesso ao

mercado de fornecedores externos. (Resposta: SIM.)”

O provável primeiro esboço da questão estava perfeito. As alternativas A, B, D e E são

práticas restritivas. Quanto à alternativa C, não se pode dizer que os acordos de preços

para os exportados E para os domésticos são prática restritiva. Um deles até é prática

restritiva, mas, quanto a UM E OUTRO, isto é falso.

Até aí, a questão ia sendo muito bem montada, considerando-se errada a alternativa C.

Mas, como o examinador queria uma questão com apenas uma opção correta, ele deve ter
95
COMÉRCIO INTERNACIONAL

pensado: “Se eu colocar um não aqui na frente da questão, o que era SIM vira NÃO e o que

era NÃO vira SIM.” E assim ele fez. Colocou o NÃO no enunciado e achou que bastava

inverter as respostas esboçadas.

“NÃO constitui prática restritiva adotada pelos governos:

a) formação e operação de cartéis de crise, cujo objetivo é a recuperação de indústrias em

dificuldade; (Resposta: SIM NÃO)

b) manutenção de barreiras à entrada no mercado de produto estrangeiro para proteger o

produtor doméstico; (Resposta: SIM NÃO)

c) acordos de preços predatórios para os produtos exportados e para os produtos de venda

doméstica; (Resposta: NÃO SIM)

d) negociação de acordos voluntários de exportação; (Resposta: SIM NÃO)

e) estabelecimento de relações privilegiadas fornecedor-cliente, impedindo acesso ao

mercado de fornecedores externos. (Resposta: SIM NÃO)”

E então equivocadamente definiu o gabarito como alternativa C. Mas a questão tinha que

ser anulada, pela mesma explicação dada à minha questão hipotética. Dentro da

alternativa C, há uma prática restritiva e outra, não.

Gabarito: letra C.

19 – (Inmetro/2010) As restrições ao fluxo de comércio relacionadas às

características dos produtos a serem importados ou ao seu método e processo de

produção são denominadas.

a) cotas de importação.

b) requisitos de transparência.

96
COMÉRCIO INTERNACIONAL

c) regras de origem.

d) barreiras técnicas ao comércio.

e) barreiras tarifárias.

Comentários

A barreira que estabelece parâmetros relativos à qualidade, padronização e especificação

dos produtos transacionados é conhecida como barreira técnica. Tem a ver com

estabelecimento de certificações e padrões internacionais de produção e conformidade em

nível internacional. Quando utilizada de forma exagerada, pode estar encobrindo a

intenção do país em proteger suas indústrias ineficientes da concorrência estrangeira.

Gabarito: letra D.

20 – (AFRF/2002-2) O regime de licença prévia na importação, configurando uma

restrição quantitativa, pode ser instituído pelos países, sendo tolerado pela

Organização Mundial de Comércio (OMC) principalmente

a) visando selecionar aquelas mercadorias cuja produção interna seja incipiente e de

qualidade inferior e, neste sentido, restringindo a importação que seria danosa pela

concorrência, promove o desenvolvimento industrial.

b) visando selecionar aquelas mercadorias tributadas com alíquotas mais elevadas e,

assim, incrementando a arrecadação tributária, evita a emissão de moeda e

consequentemente a inflação, promovendo o desenvolvimento do país.

c) como medida de proteção à industria doméstica, e, assim, promovendo o seu

desenvolvimento, impedindo ou restringindo a entrada do concorrente estrangeiro.

97
COMÉRCIO INTERNACIONAL

d) visando evitar a formação de estoques especulativos de produtos aguardando a

cotação no mercado nacional em alta, bem como impedir a importação de

mercadorias originárias de países que discriminem as importações de outro país.

e) como mecanismo de controle cambial exclusivamente para os países com

dificuldades em seu balanço de pagamentos, além da necessidade de controlar a

entrada de produtos afetos à autorização de órgãos governamentais específicos.

Comentários

Pode haver o sistema de licenciamento como forma de controle cambial, ou seja, como

forma de controlar o nível das reservas cambiais para os países que estiverem com déficit

em Balanço de Pagamentos. Na resposta da letra E, que foi o gabarito, faltou só falar que é

quando as reservas estiverem exíguas ou ameaçadas de caírem demais.

Pode também haver o licenciamento para controlar a entrada de animais vivos ou de

brinquedos, por exemplo.

A letra A está errada, pois “selecionar” é “deixar entrar”, no sentido inclusive usado na letra

B. E deixar que entrem mercadorias cuja produção interna seja nascente é justamente o

contrário do pregado no artigo XVIII. Se a indústria é nascente, haverá a imposição de

barreiras, não a liberação das importações. Além disso, a proteção é à indústria nascente e

não para a indústria de qualidade inferior. A proteção NUNCA vai poder ocorrer por causa

da qualidade do produto brasileiro. Proteger porcaria não é admitido nunca.

A letra B é a maior viagem. Está escrito que o país só vai permitir a entrada de produtos

cujas alíquotas de imposto de importação sejam as mais altas e, assim, a arrecadação

governamental será aumentada. Ora, o controle aduaneiro não tem função arrecadatória,

mas extra-fiscal. Se quiser arrecadar mais, a política será via aumento de imposto de

caráter fiscal e não pelo imposto de importação. Além disso, a redução de concorrência

gera aumento de inflação, não o contrário.

98
COMÉRCIO INTERNACIONAL

A letra C está quase perfeita. Faltou falar que a indústria é “nascente”. Se a letra C estivesse

certa, o protecionismo generalizado estaria permitido no GATT.

A letra D diz que o governo vai restringir importações de produtos para evitar que um

brasileiro compre demais e depois fique esperando o produto subir de preço para então

vender no mercado interno. Isto não tem o mínimo sentido. E fala também que um país A

poderia retaliar impondo barreiras sobre as importações do país B, que discrimina o país C.

Isto também não existe. Se o país B discrimina o país C, o que o país A tem a ver com isso?

Se o país C se sente prejudicado por B, ele, país C, deve levar o caso ao sistema de solução

de controvérsias da OMC, a ser estudado na próxima aula.

Gabarito: letra E.

21 – (AFRF/2000) Os fundadores da teoria do desenvolvimento, que provinham

principalmente da economia dos anos cinquenta, como Nurkse, Myrdall,

Rosenstein-Rodan, Singer, Hirschmann, Lewis e, certamente, Prebisch, não só

centraram sua análise nas diferenças estruturais existentes entre os países

desenvolvidos e os países em desenvolvimento, mas também postularam, a

partir de ângulos distintos, que a forma de funcionar dos países desenvolvidos

constitui a causa principal do subdesenvolvimento destes últimos.

As estratégias de desenvolvimento recomendadas e seguidas nos países

subdesenvolvidos – e especialmente na América Latina – tenderam a ser

diametralmente opostas às políticas dos países industriais. Com efeito, devido à

tendência secular de deterioração dos termos de intercâmbio dos produtos

industriais que os países desenvolvidos exportavam e os bens primários que

exportavam os países atrasados, a única solução a médio e longo prazos para

estes últimos seria modificar sua inserção na economia mundial, produzindo

localmente aqueles bens industriais que antes importavam, através de políticas

99
COMÉRCIO INTERNACIONAL

que procurassem substituir essas importações, criando uma indústria nacional

protegida pelo Estado.

a) Por essa razão, países como o Brasil, procuraram dedicar-se somente à produção de

um único artigo (soja, por exemplo). Dessa forma, ele poderá utilizar parte dos fatores

na produção da soja, mas o restante poderá aplicar na produção de outros artigos,

mesmo sofisticados, como automóveis, computadores e aviões.

b) Por essa razão, a transferência de população do setor primário para o setor

industrial contribui, em muitos casos, para a degeneração do nível de vida dessa

população.

c) Por essa razão, os governantes dos países subdesenvolvidos procedem unicamente

do ponto de vista político, evitando introduzir indústrias em seu país, pois

politicamente, não aumentarão seu prestígio junto à população.

d) Por essa razão, os países subdesenvolvidos, pesadamente dependentes da

produção e exportação de produtos primários, acabam rejeitando a teoria das

vantagens comparativas e procuram industrializar-se a qualquer custo.

e) Por essa razão, os países subdesenvolvidos e em desenvolvimento procuram

manter a capacidade de produzir um único artigo, considerado estratégico, tal como

combustível, café, armamento bélico etc., mesmo que tal atitude seja desinteressante

em termos puramente econômicos.

Comentários

Raúl Prebisch criou duas teorias.

1) Teoria da Deterioração dos Termos de Troca: por esta teoria, ele indicou que, com o

passar do tempo, os bens primários, produzidos pelos países em desenvolvimento, perdiam

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

valor comparativamente aos bens industrializados, produzidos pelos países desenvolvidos.

Isto decorria do movimento cíclico da economia mundial:

– em épocas de crise mundial, os bens industrializados não caem tanto de preço, porque os

sindicatos fortes dos países desenvolvidos não permitem tanta redução salarial. Portanto,

se os custos não caem muito, os preços também não. Já nos países em desenvolvimento, os

salários caem de forma mais acentuada, tendo em vista a mão de obra numerosa; e

– em épocas de fartura mundial, os preços dos bens industrializados sobem mais que os

preços dos bens primários, tendo em vista que aqueles possuem demanda elástica. Os

preços dos bens primários também vão subir, mas em montante menor por causa da

inelasticidade da demanda.

2) Estímulo à Substituição de Importações: esta teoria decorre da primeira, pois, se os

produtos primários vão ficando cada vez mais baratos em comparação com os bens

industrializados, então é imperioso que os países deixem de ser exclusivamente produtores

de bens primários. Pela pregação de Prebisch, a América Latina deveria se industrializar

para não ver sua produção perder valor continuamente. Os importados deveriam ser

substituídos por produção interna, local. Mas isto não quer dizer que os países em

desenvolvimento devem deixar de produzir bens primários, que são produtos estratégicos

para qualquer país.

Vamos às assertivas.

Alternativa A: incorreta. Pior do que ser produtor exclusivo de bens primários é ser produtor

de um único bem primário, ainda que se produzam bens industrializados. Os bens

primários são estratégicos, sua produção não pode nem deve ser sacrificada em prol da

industrialização.

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COMÉRCIO INTERNACIONAL

Alternativa B: incorreta. Por causa da deterioração dos termos de troca, a recomendação

dada aos países em desenvolvimento foi que se industrializassem. Obviamente que isto

implicaria a transferência da população do meio rural para o meio urbano, trazendo os

problemas mais do que conhecidos das grandes cidades. Pode-se então dizer que a

transferência do setor primário para o setor industrial contribui para a degeneração do

nível de vida dessa população transferida?

Não. De fato, haverá degeneração do nível de vida nas cidades, mas não na vida dessas

pessoas que foram empregadas no setor industrial. A degeneração acontecerá porque,

além daqueles que vão para as cidades assumir o emprego no setor industrial, também

irão os antigos vizinhos, os parentes, enfim os conhecidos daquele que arrumou um

emprego urbano. Quem está empregado aumenta seu nível de vida, tendo em vista que os

salários urbanos tendem a ser maiores que os salários rurais. O problema é que ele

influencia a migração de outros tantos, que ficarão à margem do sistema, degenerando a

vida na cidade.

Há ainda uma segunda observação: o sujeito que larga o emprego rural e assume um

emprego urbano melhora seu nível de vida. E, por este motivo, aumenta também o custo de

vida, tendo em vista o aumento da demanda agregada e dos custos (este por causa da

alocação ineficiente dos recursos). Ora, se um país possui terra em abundância (como os da

América Latina), ele deveria se especializar na produção de bens primários. A

industrialização forçada pelo Estado induz à produção de bens industrializados, na qual o

país não é eficiente, reduzindo a produção de bens primários, na qual o país é eficiente. O

custo da ineficiência vai gerar produtos mais caros, já que a concorrência com os

importados foi eliminada pelo Governo. O custo de vida sobe generalizadamente, apesar de

o novo trabalhador urbano não estar muito preocupado com isso, já que ele garantiu o

salário maior na cidade.

102
COMÉRCIO INTERNACIONAL

Alternativa C: incorreta. Esta assertiva vai totalmente contra a pregação de Prebisch, que

encaminha para a industrialização.

Alternativa D: correta. Os países em desenvolvimento rejeitam a teoria das vantagens

comparativas (que os induzia a produzir somente bens primários, já que mais eficientes

nisso, enquanto os países desenvolvidos deveriam ficar com a produção dos bens

industrializados) e procuram se industrializar.

Alternativa E: incorreta. Pior do que ser produtor exclusivo de bens primários é ser produtor

de um único bem, ainda que ele seja estratégico. “Colocar todos os ovos numa só cesta” ou

“apostar todas as fichas no mesmo número” é uma péssima política. Em segundo lugar,

quem disse que café é estratégico? Um fumante?

Gabarito: letra D.

Um abraço,

Rodrigo Luz

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