Você está na página 1de 5

Mercantilistas

4) Mercantilismo foi um conjunto de práticas econômicas praticada por países europeus a


partir do final do século 16, até a publicação de "A Riquezas das Nações" por Adam Smith
em 1776 na Inglaterra. A principal ideia do Mercantilismo se baseia na acumulação de
metais preciosos, já que, segundo eles, metais preciosos são a única fonte de riqueza, dessa
forma a riqueza de uma nação se mede através da quantidade de metais preciosos a mesma
possuí. Assim todas as políticas que se seguem tem como fim o acumulo de metais,
Bulionismo.
Para a acumulação de metais, fora o meio óbvio que seria a extração direta, seja por
colônias (algo muito feito durante o mercantilismo) ou no próprio território, muitos países
se voltavam ao comércio para isso já que os pagamentos eram feitos em ouro, prata, etc.
Contudo, caso se importe mais do que se exporte, uma balança comercial negativa, o fluxo
de metais preciosos sempre estará em queda então é preciso manter uma balança
comercial positiva. Essa política pode ser demonstrada numa frase de Montaigne, ensaísta
francês da época, "O lucro de um homem é o prejuízo de outro [...] Nenhum lucro pode ser
feito se não do ônus de um outro", mostrando assim, essa política de como só há um
vencedor dentro do comércio, aquele que vende as mercadorias, assim como ilustrar a
noção de competitividade dentro do mercantilismo.
Como o lucro de uma nação é o prejuízo de outra, não há um passo lógico mais
evidente se não acreditar que a nossa nação tem que sobrepor as outras e se mostrar mais
forte. Daí que nasce o nacionalismo. Aumento do exército, centralização do poder
governamental, estabelecimento de monopólios, entre outras práticas são todos
desenvolvimentos comuns dentro do mercantilismo. O mais famoso caso de
estabelecimento de monopólio é a fundação das "Companhia das Índias Orientais",
estabelecida pelo governo Holandês em 1602 como um meio de fazer comércio como o
Oriente.
Outros dois aspectos importantes de se ressaltar são as concepções de comércio
interno e uso da população. Mercantilistas acreditavam que tarifas internas para
movimentação de bens deveriam ser mantidas a um mínimo, não porque isso seria um
incentivo a indústria, mas sim porque o preço de suas exportações poderia aumentar caso
os custos de produção aumentassem assim diminuindo suas o fluxo de ouro para o país.
Porém, importante ressaltar, isso não é o laissez-faire da escola clássica, mas sim um
privilégio aplicado aos monopólios que ganham as graças do governo. Na mesma linha de
pensamento temos a existência de uma grande população economicamente ativa, por dois
motivos: uma grande população significa um grande número de soldados prontos a servir ao
governo em qualquer empreitada que ele inicia, o militarismo; assim como que com uma
grande base de trabalhadores, os salários descem assim como o preço das mercadorias,
assim aumentando as exportações.
5) Mercantilismo nasce numa era onde as ciências sociais eram vistas como um sistema de
"causa e efeito", a ausência do que hoje conhecemos como leis econômicas tornam o
estudo do que seria "a visão mercantilista" difícil. Na realidade mercantilistas não
estudavam o meio em que estavam com a visão de entendê-lo e criar uma teoria unificada
sobre seu funcionamento. Como disse antes, "países acumulam metais, logo eles
enriquecem" era o tipo de pensamento de causa e efeito que se mostra o problema quando
se tenta classificar mercantilistas como "economistas". A formalização do estudo da
economia como uma ciência completa a abrangente só viria a acontecer com Smith e "A
Riquezas das Nações".
Peguemos uma ideia base mercantilista, o bulionismo. Ela nasce no continente dada
a escassez de ouro e prata que a Europa passava no final do período medieval, assim a
crença de mercantilistas como Colbert e Davenant no bulionismo vem como resposta ao
fenômeno e assim quando Colbert proíbe a exportação de ouro no país seguindo a Espanha;
e quando Davenant escreve sobre o comércio de lã e sua manufatura; ambos estavam
reagindo ao mundo e criando políticas econômicas e não teorias em si. Some isso as ideias
de outra mercantilista inglês, Munn, que coloca o foco somente na exportação, como ele
aponta em seu England’s Treasure by Forraign Trade, e não no bulionismo em si.
Dessa forma vemos que embora as ideias mercantilistas convergem para certos
pontos em comum, os autores entre si se distanciam, e não só isso, não dão uma teoria
sólida e completa sobre a economia como ciência.
6) Desde 1492 com a descoberta da América, e conforme a Espanha continuava seu
processo colonizatório na América Espanhola, o influxo de ouro que saia das Américas e ia
para a Europa aumentava a cada ano. Dessa forma a oferta de ouro no país aumentava,
ouro que o país usava para comprar de outros países tudo que ele faltava, de forma
resumida, qualquer produto manufaturado.
Contudo, como se pode imaginar, quando a oferta de algo sobe, seu preço baixa, e
foi exatamente o que aconteceu ao longo dos anos como havia previsto Martín de
Azpilcueta da Escola de Salamanca. Azpilcueta já em 1556 disse que "na Espanha, em
tempos em que o dinheiro era escasso, bens vendíveis e trabalho eram dados por muito
menos do que é após a descoberta das Índias, que inundou o país em ouro e prata", através
de seus estudos ele desenvolveu uma teoria sobre o como o preço de metais preciosos em
países que a oferta era menor seus preços eram muito mais altos, esse pensamento foi um
precursor para o que hoje conhecemos como "teoria quantitativa do dinheiro". Tal teoria foi
expandida por outro membro da escola, Juan de Molina com a seguinte citação: "em
circunstâncias iguais, o quão mais abundante é o dinheiro em um lugar, de forma
proporcional, é o seu poder para comprar bens".
Como apontaram os dois, o país estava no caminho para a inflação. Embora somente
o ouro e prata Americano não seja o suficiente para explicar a inflação (existia um
movimento de aumento de preços na Europa que vinha desde 1470), a sua chegada em
massa a partir da metade do século 16 foi um massivo golpe para a economia Espanhola
(embora as primeiras peças de ouro chegaram em 1503). Se estima que a inflação média
anual nesse século tenha sido de 1,5% ao ano, nos padrões de hoje parece pouco, mas
deve-se considerar que estamos lidando com moedas feitas de ouro e prata.
A aristocracia Espanhola, os hidalgos, que pagavam quase nenhum imposto dado o
sistema regressivo espanhol, usou de tal influxo de dinheiro para importar todo tipo de
produto que achava necessário. Houve um aumento massivo de investimentos na região de
Sevilha, no Sul, que era por onde a maioria dos metais entravam no país, e por outro lado o
Norte foi deixado de lado, com os únicos investimentos lá sendo os de criação de monopólio
dentro do setor de pecuária, ovelhas. Diversas leis que estagnavam o desenvolvimento da
indústria no país também surgiam desde a chegada do ouro e prata em 1503, mais de 100
leis controlando a produção de tecidos surgiram no século 16, assim como proibições de
exportações da seda produzida em Granada, de certa forma elas seriam só mais um
exemplo do monopólio dentro do mercantilismo sendo aplicado na Espanha, contudo houve
outros movimentos dentro da estrutura de produção do país.
O setor de pecuária que havia sido privilegiado por várias décadas, uma guilda
chamada de Mesta, havia estagnado completamente sua produção antes de 1560. Mesmo
que desde 1490 os cercamentos que antes eram destinados a produtores de grãos foram
redirecionados para a Mesta, assim matando a produção interna de grãos Espanhola. Some
isso ao ouro e prata e não é difícil imaginar de onde veio a inflação no país.
Como havia dito antes, embora para o camponês tudo que ele via era um aumento
dos preços dos grãos. Os hidalgos continuavam a importar cada vez mais do exterior, dado
que seu país não conseguia produzir o suficiente, porém tais transações precisavam ser
feitas em ouro e prata; estamos na era mercantil afinal, riqueza é somente ouro e prata; e o
estado Espanhol ergueu restrições e punições para aqueles que exportarem metais
preciosos, entretanto tais medidas não foram muito eficientes dado que havia um mercado
muito lucrativo para ser feito nesse meio. Assim, o ouro Espanhol começou a fluir por toda a
Europa aumentando ainda mais a inflação que crescia pelo continente. E conforme o
sistema ia se refinando ia se tornando cada vez mais barato para realizar esse contrabando,
como o Conde Campomanes (1723-1802) relata, era mais barato importar os produtos do
que navegar pelo sistema espanhol e produzir internamente, assim estagnando toda a
produção interna. Não só isso, mas as importações eram em maior quantidade do que havia
de ouro e prata no país, então as frotas reais trazendo o ouro eram hipotecadas a
banqueiros estrangeiros, antes mesmo de chegarem nos portos de Sevilha, à juros
exorbitantes. Até 1543 a maior parte da renda espanhola ia para o pagamento da dívida
pública.
Embora a maioria desses processos estejam acontecendo no século 16, tais eventos
seguiram acontecendo século 17 adentro, seguindo o padrão das "crises gerais", como
descreveu Hobsbawn. Foi nesse século que a maior parte dos textos do mercantilismo
espanhol foi escrito. Tais autores eram, em sua maioria sucessores da Escola de Salamanca e
foram chamados na época de Arbitristas (nome que se dava a uma ação afirmativa do rei, o
arbítrio), eram em sua maioria ridicularizados pelas elites intelectuais da época. O mais
famoso exemplo sendo a representação de Sancho Pança, o tosco escudeiro de Don
Quixote, Cervantes esse, que na verdade criou o termo, Arbitristas, usado nesse contexto
pela primeira vez com o livro "El coloquio dos perros", 1613.
Aquele que pode ser considerado como primeiro mercantilista espanhol é Luis Ortiz
que no final do século 16 começou a escrever sobre o equilíbrio da balança comercial,
aumento da manufatura dentro da Espanha, assim como reestabelecimento da agricultura e
fim das tarifas para transporte dentro dos reinos de Castilla.
Tais ideias seguem com a de dois outros escritores Sancho Moncada e Pedro
Fernández Navarrete. Ambos reforçaram muito mais a ideia de protecionismo do Reino de
Castilla, e o papel da balança comercial desequilibrada que o país mantinha, porém nenhum
deles defendia o bulionismo. Moncada em 1619 escreveu Restauración política de España,
que viria a ser considerado o mais completo manual do mercantilismo Espanhol. Nele,
Moncada defendia o protecionismo do país em relação as importações estrangeiras, assim
um alerta para a situação do país que se via mergulhado em dívida a banqueiros
estrangeiros. Também defendeu a industrialização do país, similar à o que Colbert iria
defender na França algumas décadas depois.
Embora essas medidas eram erguidas em uma forma ou outra pelo Reino de Castilla,
os principais trabalhos sobre o equilíbrio da balança comercial foram deixados de lado assim
como as políticas sobre controle monetário. Mudanças reais no sistema só vieram a chegar
no final do século 17 e ao longo do século 18 com as "reformas Bourbon", muitas delas
comandadas por Pedro Rodríguez, Conde de Campomanes. Muitas das reformas tinham
carácter de modernizar a economia estagnada, coisas como o "Tratado de livre comércio
com as Américas de 1778" que tirava o monopólio de comércio com as Índias da "Real Casa
de Contratações das Índias", sediada em Sevilha.
Dessa forma, com essas e outras medidas a Espanha entrou no processo de sair do
se quase um século de estagnação dado por ideias que eram atrasadas até para a época.
Como concepções mercantilistas do bulionismo que embora deveriam representar riqueza,
foram na verdade um prego no caixão do Reino de Castilla.

Adam Smith
11) Como descrito em "A Riqueza das Nações", Smith define o nascimento da riqueza em
um país começando com dois pilares: a divisão do trabalho e acumulação de capital.
Descrevendo a divisão do trabalho Smith diz o seguinte usando de exemplo uma fábrica de
pregos:
"Um trabalhador não educado no ofício, poderia, talvez, fazer um prego por dia [...]
Porém no jeito que os negócios são conduzidos hoje em dia [...] Um homem puxa o fio de
metal, outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto lhe faz a ponta, um quinto achata o
topo para lhe aplicar a cabeça do prego. [...] Mesmo pobres [tal fábrica], eles eram
acomodados com um certo equipamento, e conseguiriam fazer até 12 libras (~5.4kg) de
pregos em um dia."
Com isso Smith defende que com a divisão do trabalho há um aumento de
produtividade já que, com ela os trabalhadores podem se dedicar mais a uma tarefa
específica ganhando mais destreza nela e aumentado a produtividade. Smith também
destaca como o tempo de produção pode diminuir caso os trabalhadores não precisem ficar
trocando de equipamento a cada processo. Assim como um aumento na acumulação de
capital, já que segundo houve aumento de produtividade.
Com o aumento de capital, não só os lucros aumentam, mas como o que Smith
chamava de "Fundo de Salários". Ele entendia que os salários seriam provenientes de um
fundo que seria proporcional a produção do ano/período anterior, assim com maior
produção o fundo aumenta, gerando ganhos salariais para os funcionários.
Tudo isso nos leva de volta ao fato de que há um aumento de produtividade não só
pela divisão, mas pelo aumento de salários já que agora os trabalhadores tem um incentivo
melhor para trabalhar de forma mais eficiente (algo que hoje em dia se chama de "teoria
dos salários eficientes"). Esses fatores nos levam a um aumento do produto nacional que
por si incentiva mais a divisão do trabalho e aumento de capital, ou seja, aumentam a
riqueza de uma nação.
12)
13) Smith era um homem iluminista, um dos principais pensadores dentro do iluminismo
escocês, com isso ele entrou em contato com as ideias do conterrâneo Isaac Newton, como
aponta Stanley Brue: "as revoluções científicas associadas com Newton estabelecendo que
ordem e harmonia caracterizam o mundo físico. Através de da razão, pessoas poderiam
descobrir não somente essas leis físicas, mas aquelas que regem a sociedade". Dessa forma,
seus trabalhos nas ciências sociais refletem esse pensamento da época.
Dessa forma, Smith desenvolve várias leis sobre o funcionamento da sociedade com
base nesse pensamento da busca pela ordem natural das coisas, o exemplo mais famoso é o
da "mão invisível do mercado". Outro seria aquele do preço natural, que é aquele preço que
cobre os custos dos salários, lucros e rendas da terra, de forma mais baixa possível a ponto
de ser rentável no longo prazo. Em contrapartida, o preço de mercado é aquele pelo qual a
mercadoria é vendida no mercado, nele é levado em conta coisas como disponibilidade de
oferta e o quanto pessoas estão dispostas a pagar. Seu preço flutua entre acima ou abaixo
do preço natural.
14) A principal teoria de comércio internacional de Smith é a "teoria das vantagens
absolutas", onde ele argumenta que, assim como na manufatura dentro da Inglaterra,
países devem se especializar em produções específicas e assim, nações devem realizar
comércio com outras que ambas enriqueceram. Indo contra o paradigma mercantilista da
época de que o comércio significa o ganho de um e a perda de outro.
Smith argumenta que com a divisão internacional do trabalho, o produto bruto
somado produzido pelos países, seria superior a situação em que eles produziriam tudo
sozinhos. Supomos que a Inglaterra demora 80 horas para produzir uma unidade de panos,
e 100 horas para produzir uma unidade de vinho. Em contraste Portugal demora 120 horas
para produzir uma unidade de panos e 90 horas para produzir uma unidade de vinhos.
Nesse cenário se diz que a Inglaterra tem uma vantagem absoluta na produção de panos e
Portugal uma vantagem absoluta na produção de vinhos.
Dessa forma, caso cada país se especializasse em produzir só um tipo de mercadoria,
a Inglaterra gastaria 180 horas produzindo panos o que daria um total de 2,25 unidades de
pano; e Portugal, caso gastasse as 210 horas produzindo só vinho, eles teriam um total de
~2,33 unidades de vinho. Valores esses que são superiores caso cada país produzisse tudo.
Sendo assim proveitoso não só para cada país se especializar, mas como fazer comércio com
outras nações.
A teoria foi questionada em um primeiro momento por não conseguir levar em conta
momentos onde um país tem a vantagem absoluta em todas as mercadorias. Tal problema
foi adereçado por David Ricardo em sua Teoria de Vantagens Relativas. Outro
questionamento válido é como que essa especialização pode fadar países mais periféricos a
se manterem assim já que eles seriam relegados a produzir mercadorias de menor valor
agregado e consequentemente menos elásticos, enquanto países desenvolvidos se
especializariam em manufaturas e mais tarde a industrialização, ambos criadores de
exportações muito mais elásticas e consequentemente muito mais lucrativas.

Você também pode gostar