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Mercantilismo, o pai do

Capitalismo?
Por: Vinicius Cabral

A pergunta do título é proposital. É claro que o capitalismo, enquanto conjunto de


práticas econômicas, políticas e de relações de produção não deve ter apenas o
mercantilismo como sua única raiz. Mas esta prática econômica, iniciada no séc. XV pelas
nações absolutistas da Europa tem uma certa "culpa" no nascimento do capitalismo como
nós conhecemos hoje.

O mercantilismo foi um conjunto de medidas adotadas pelas nações absolutistas com


a intenção de angariar e reter riqueza. E esta riqueza, muitas vezes, era simplesmente
ouro e prata. Assim, a premissa básica do mercantilismo era de que a riqueza de uma
nação era determinada pela quantidade de ouro e prata que ela possuía. Simples assim,
com tudo controlado pela mão-de-ferro do Estado, que adotava uma postura
intervencionista sobre a economia do país.

Só que os governantes da época, monarcas soberanos que tomavam todas as decisões a


partir da vontade própria - por isso o Estado era considerado absolutista -, acreditavam
que esta riqueza existente no mundo nunca aumentaria. Ou seja: para um Estado
enriquecer, outro precisava empobrecer, perder suas riquezas para outro Estado. A partir
deste pensamento, alguns Estados procuraram meios para aumentar sua riqueza para
manter sempre a balança comercial favorável. As práticas mercantilistas eram as
seguintes:

Metalismo (ou bulionismo):

Era a forma de acúmulo de riqueza pensada da forma mais


simples: quanto maior a quantidade de metais preciosos, maior a riqueza. Foi a prática
adotada principalmente pela Espanha, que logo no início da colonização no "Novo Mundo"
encontrou ouro em seus domínios, e em parte por Portugal.

Só que o metalismo enganava e escondia as fraquezas da economia do Estado. A Espanha,


por exemplo, tinha muito ouro e prata em seus cofres e seus domínios ultramarinos, mas
sua agricultura e manufatura eram completamente atrasadas, quando não eram
inexistentes em alguns setores. Assim, a Espanha gastava muito para importar produtos
de outros países europeus, e como não produzia mais do que consumia, sua balança
comercial nunca estava favorável.

Colbertismo:

Prática econômica que ganhou este nome por


ter sido idealizada pelo francês Jean Baptiste Colbert, ministro das finanças do rei Luis
XIV.

Em sala de aula nós normalmente ouvimos que o Colbertismo foi a forma dos franceses
favorecerem sua balança comercial por meio da produção de bens de consumo refinados,
ou seja: buscaram a produção das melhores roupas, melhores perfumes, enfim, dos
melhores produtos. Mas na verdade o Colbertismo foi uma reunião de medidas que
propiciou a melhoria e o crescimento da produção francesa.

Em primeiro lugar, Colbert reformou o sistema econômico francês, equilibrando receitas


e despesas, e melhorando o sistema coletor de impostos. Isso posto, promoveu a indústria
francesa, mantendo taxas alfandegárias altas e estimulando a exportação. Permitiu a
implantação na França de novas indústrias e a vinda de técnicos especializados de outros
países. Enquanto isso a Coroa francesa permitia a abertura de novas estradas na França e
a melhoria de sua marinha mercante, com o objetivo de conquistar novos mercados
consumidores.

Outras medidas para manter a balança comercial favorável:

Na verdade o Colbertismo, quando estudado a fundo, é o conjunto total de medidas que


visavam o favorecimento da balança comercial. Mas este tópico foi aberto apenas para
identificar outras formas de acumulação de riquezas utilizadas por outras nações
européias. É bom citar que estas não eram as únicas medidas adotadas pelos países
citados abaixo, mas eram as mais importantes.

- Inglaterra: Mantinha altas taxas alfandegárias e uma frota naval bem equipada. Com o
tempo ampliou sua atuação comercial no continente americano mantendo acordos
comerciais com os portugueses e os espanhóis, além do comércio intenso com suas 13
colônias na América do Norte. Já nos séculos seguintes (XVIII e XIX) afirma-se como a
maior potência marítima do planeta, e consequentemente, a maior nação imperialista.

- Holanda: os holandeses especializaram-se no transporte dos produtos e matérias-primas


entre as colônias e as metrópoles. Cobravam por este serviço, e assim ampliaram portos,
aumentavam e melhoravam cada vez mais sua marinha mercante. A Bélgica manteve
política semelhante, mas sem atingir os resultados holandeses.

- Portugal: Os portugueses mantinham um intenso comércio de matérias-primas com as


colônias, retirando delas tudo que podia. Os portugueses foram os primeiros a manter
entrepostos comerciais em todos os continentes! No Brasil, com a quase extinção das
árvores de pau-brasil, a plantação de cana-de-açúcar em larga escala foi estimulada, e
mais tarde foi encontrado ouro em Minas Gerais. Com a utilização dos escravos
comprados principalmente dos traficantes de escravos ingleses, tinha mão-de-obra barata
e conseguia um lucro razoável.

Mas e o Capitalismo?
A resposta à pergunta do título talvez fique mais clara após uma reflexão sobre as
medidas econômicas mercantilistas. A base do capitalismo está aí: acúmulo de bens. No
caso do capitalismo, denominamos estes bens de propriedade privada, e até de forma
mais completa, segundo Marx, de propriedade privada dos meios de produção, enquanto
no mercantilismo chamamos de balança comercial favorável.

Claro que não podemos generalizar. O mercantilismo tinha como característica o forte
controle do Estado, já o capitalismo (liberal) é caracterizado também pela menor
influência possível do Estado na economia. Mas o capitalismo pode ser encarado como
uma evolução natural do mercantilismo, claro, guardadas as devidas proporções. A
prática econômica que nós conhecemos hoje em dia como capitalismo foi, sem sombra de
dúvida, uma evolução natural do mercantilismo.

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