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As Teorias do Comércio Internacional - Introdução geral

AS TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL - INTRODUÇÃO GERAL

Miguel Moura e Silva (2003)

“Os últimos 15 anos foram uma era dourada de inovação no domínio da Economia
Internacional. No entanto, devo concluir de forma algo pessimista que estas
inovações não constituem uma prioridade para os actuais estudantes de
licenciatura. Na última década do Século XX, o que continua a ser essencial ensinar
aos estudantes são os contributos de Hume e de Ricardo. Ou seja, devemos
ensinar-lhes que os défices comerciais são auto-correctivos e que os benefícios do
comércio não dependem da existência de uma vantagem absoluta por parte de um
país sobre os seus rivais. Se conseguirmos ensinar os nossos alunos a desconfiar
quando ouvirem alguém falar de ‘competitividade’, teremos prestado um grande
serviço à nossa nação”.

Paul KRUGMAN, “What Do Undergrads Need to Know about Trade?”, in Paul


KRUGMAN, Pop Internationalism, Cambridge, Massachusetts : The MIT Press, 117,
124-25.

1.1 É usual começar o estudo das Relações Económicas Internacionais pela


apresentação das teorias justificativas do comércio internacional. Esta opção
esconde um postulado de base: o de que, ao contrário do seu congénere limitado
ao interior de um espaço económico unificado, o comércio internacional carece de
justificação.

Se a passagem dos limites territoriais de uma região para outra não tem
geralmente qualquer impacto na vida económica, o mesmo não se pode dizer das
transacções que envolvem a transposição da fronteira de um Estado ou espaço de
integração económica.

Esta diferenciação tem, naturalmente, fundamentos jurídicos – o direito de cada


Estado tem um âmbito essencialmente delimitado pelo respectivo território; as
transacções internacionais podem ter implicações políticas (e.g. transacções com
nações inimigas) ou político-económicas (e.g. influência dos movimentos de
capitais no equilíbrio da balança de pagamentos e nas cotações da moeda
nacional); last, but not least, as transacções internacionais envolvem uma transacção
acessória: a que ocorre nos mercados cambiais onde se oferece a moeda do país
importador e adquire a do país exportador – assim, para poder importar bens um
Estado tem de dispor de meios que lhe permitam adquirir esses produtos na
moeda do país exportador ou numa moeda internacionalmente aceite.

Além destes factores, a existência de fronteiras políticas tem também


consequências ao nível do ajustamento da economia: no interior de um Estado as
barreiras à mobilidade de recursos são menos significativas do que no plano
internacional, pelo que a gestão macroeconómica era vista como uma preocupação
predominantemente interna, sendo a sua ligação ao sistema comercial e monetário
mundial feita ao nível das políticas cambial e comercial.

Esta especificidade das Relações Económicas Internacionais traduz-se na existência


de um interesse regulatório do Estado sobre as transacções internacionais; o
funcionamento da economia internacional depende da existência de regras que
coordenem a actuação dos Estados na regulação das trocas internacionais e que
impeçam (ou atenuem) os efeitos de certas falhas de mercado (e.g. externalidades
negativas, como a poluição, a redução da biodiversidade pelo comércio de espécies
em vias de extinção, a difusão de riscos para a saúde humana e animal) bem como
as falhas de governo (e.g. protecção de grupos de interesse poderosos contra a
concorrência estrangeira, escalada de medidas proteccionistas, adopção de
medidas unilaterais para salvaguarda de interesses nacionais; políticas oportunistas
de beggar-thy-neighbour). Esse é o papel fundamental do Direito Internacional
Económico.

Mas antes de analisar as instituições e as normas que regulam as trocas


internacionais, importa relembrarmos os seus fundamentos económicos.

1.2 Como refere o economista norte-americano Paul Krugman, os fundamentos


económicos que nos ajudam a compreender o funcionamento da moderna
economia internacional derivam do pensamento de autores clássicos como David
Hume e David Ricardo. A eles se deve a primeira refutação sólida dos argumentos
proteccionistas que inspiraram a doutrina do mercantilismo.

Na perspectiva dominante nos séculos XVI a XVIII, o comércio internacional era


visto como um instrumento destinado a assegurar pela prosperidade económica a
grandeza da nação, subordinado aos fins político-económicos do Estado-nação
então emergente (BARATA 1986). Sendo os pagamentos internacionais efectuados
através de metais preciosos, caso o valor das importações fosse superior ao das
exportações tal resultaria na saída de ouro ou de prata, diminuindo assim as
reservas nacionais desses metais. Ora, sendo a riqueza da nação a sua principal
fonte de poder, a política ideal consistiria em exportar o máximo e importar o
mínimo possível.

No seu ensaio dedicado à balança comercial, David Hume demonstra, apoiando-se


na sua teoria quantitativa da moeda, que os movimentos de activos monetários em
resposta a um défice/excedente têm um reflexo nos preços internos que conduz, a
prazo, a movimentos de correcção da balança comercial (HUME 1772).

Assim, supondo que existem apenas dois países, A e B, se o valor das importações
de um determinado país (A) exceder o das suas exportações num determinado ano,
a saída de activos monetários conduz a um fenómeno de deflação a nível interno
(os preços diminuem já que o seu valor deve ser denominado num stock monetário
mais reduzido). Esses activos entram no país B, que registou um excedente,
aumentando assim a moeda em circulação e gerando um fenómeno inverso ao de
A – a inflação dos preços. Ao fim de algum tempo, os preços terão subido de tal
forma em B (e descido em A) que os produtos do país excedentário se tornarão
pouco atraentes para os consumidores de A (e, inversamente, os produtos de A
terão preços tão baixos que atrairão a procura dos consumidores de B). Seguir-se-
á, então, um movimento reflexo pelo qual o aumento da procura dos produtos de
A levará este país a registar um excedente e B um défice na sua balança comercial,
com movimentos monetários inversos.

1.3 As teorias clássicas que procuram justificar o comércio internacional


assentam num conjunto de premissas cujo conhecimento é indispensável para
sabermos quais as forças e os limites dos modelos que iremos considerar:

 O valor de um bem é determinado pelo factor trabalho;


 O factor trabalho é homogéneo (não há economias de aprendizagem nem
diferenciação em função de apetências ou talentos naturais);
 No plano internacional os factores de produção são imóveis (no sentido de
que não podem ser transferidos de um país para outro);
 Os países dispõem de diferentes dotações de factores de produção
(trabalho, capital, terra).

1.4 O contributo essencial para o entendimento dos benefícios do comércio


internacional viria de David Ricardo e da sua teoria da vantagem comparada. Se
Adam Smith demonstrara na sua obra A Riqueza das Nações (1776) que, a exemplo
da especialização no trabalho, existia um ganho no comércio internacional entre
dois países desde que cada um fosse mais eficiente na produção do bem por ele
exportado (i.e., que tivesse uma vantagem absoluta em termos do custo de
produção), é a David Ricardo (Principles of Political Economy, 1817) que se deve a
demonstração dos ganhos do comércio mesmo quando um dos países em causa
não dispõe de qualquer vantagem absoluta mas, tão-só, de uma vantagem relativa.

No modelo da vantagem absoluta podemos postular dois países, Reino Unido e


Portugal, que produzem têxteis e vinho. O Reino Unido produz uma unidade de
têxteis ao custo de 90 e Portugal com um custo de 100; já uma unidade de vinho
tem um custo de produção de 120 no Reino Unido e de 80 em Portugal.

Reino Unido Portugal


Têxteis 90 100
Vinho 120 80
Naturalmente, se for necessária uma unidade de cada produto, o Reino Unido
consegue esse produto ao custo de 90+120=210 e Portugal ao de 100+80=180.
Existindo comércio entre estes dois países, as mesmas unidades podem ser obtidas
a custo inferior caso cada país se especialize na produção do bem em que tem uma
vantagem absoluta (Reino Unido nos têxteis e Portugal no vinho). Assim o Reino
Unido produz uma unidade de têxteis para consumo interno e troca a outra por
uma unidade de vinho português (supondo que não existem custos de transporte):
90+90=180 (ganho de 30 relativamente à situação de auto-suficiência); e Portugal
produz duas unidades de vinho, trocando uma delas por uma unidade de têxteis:
80+80=160 (ganho de 20).

Neste caso é fácil compreender os benefícios em termos de bem-estar decorrentes


do comércio internacional; mas será este princípio válido quando um país não
dispõe de uma vantagem absoluta? A resposta a esta questão é-nos dada pelo
modelo da vantagem comparada de David Ricardo, aperfeiçoado e criticado ao
longo de quase dois séculos mas ainda presente de forma clara como princípio
económico em que se funda a actual economia internacional.

Utilizando um exemplo retirado de um dos mais conhecidos manuais de economia


e que seguiremos neste ponto (SAMUELSON e NORDHAUS 1992) iremos procurar
demonstrar o funcionamento do princípio da vantagem comparada. Supondo
agora que lidamos apenas com os Estados Unidos e a União Europeia e com dois
produtos, trigo e têxteis, vamos atribuir à produção de uma unidade de cada um
destes bens um custo expresso em horas de trabalho e postular que num momento
inicial não é possível existir comércio internacional. Teremos assim que:

Estados Unidos União Europeia


1 unidade de trigo 1 3
1 unidade de têxteis 2 4

Não existindo trocas internacionais, cada espaço tem de ser auto-suficiente. Um


cabaz de compras composto por uma unidade de cada bem tem o custo de 3 horas
de trabalho nos Estados Unidos e de 7 horas na União Europeia. Em termos de
produtividade, uma hora de trabalho nos Estados Unidos produz 1 unidade de trigo
ou 1/2 unidade de têxteis; na União Europeia uma hora corresponde a 1/3 unidade
de trigo ou 1/4 unidade de têxteis. Na óptica dos preços, os têxteis são duas vezes
mais caros do que o trigo nos Estados Unidos e 4/3 mais caros na União Europeia.

Caso seja permitida a realização de trocas internacionais o que sucederá? A análise


dos diferenciais de custos de produção permite concluir que os Estados Unidos são
três vezes mais eficientes do que a União Europeia na produção de trigo mas
apenas duas vezes mais eficientes no fabrico de têxteis. Ora o princípio da
vantagem comparada diz-nos que cada país tende a especializar-se na produção e
exportação dos bens que produz a um custo relativamente reduzido (i.e. no qual é
relativamente mais eficiente face a outros países) e a importar os bens que produz
a um custo relativamente superior.

Como referem Samuelson e Nordhaus, o resultado da liberalização das trocas


internacionais (postulando a inexistência de custos de transporte) será a exportação
dos bens em que a União Europeia é relativamente menos eficiente e daqueles em
que os Estados Unidos são mais eficientes: ou seja, teremos exportações de trigo
dos Estados Unidos para a Europa e de têxteis em sentido inverso.

Antes de prosseguir, é útil salientar que as forças desencadeadas pelas trocas


internacionais têm consequências no tecido produtivo de cada um dos espaços: o
aumento da concorrência dos têxteis europeus faz cair os preços e leva ao
encerramento de fábricas nos Estados Unidos e as exportações de trigo para a
Europa produz aí efeitos idênticos. Este aspecto é muito importante uma vez que
os ganhos do comércio internacional não são sentidos de maneira uniforme no
interior de um Estado e alguns sectores tenderão mesmo a perder com a abertura
de fronteiras; ou seja, a abertura do comércio internacional garante uma melhor
afectação global de recursos e, consequentemente mais bem-estar geral, mas
produz efeitos de redistribuição de rendimento que só podem ser corrigidos por
políticas económicas nacionais (e.g. ajudas à reconversão de empresas; formação
profissional para os trabalhadores dos sectores em declínio, etc.).[1]

Retomando o exemplo, podemos postular uma razão de troca, situada num ponto
intermédio relativamente aos preços em cada espaço antes da abertura ao
comércio (na União Europeia: uma unidade de trigo é trocada por 3/4 de uma
unidade de têxteis; nos Estados Unidos: uma unidade de têxteis é trocada por duas
unidades de trigo); fixemos assim, ainda seguindo Samuelson e Nordhaus, que
duas unidades de trigo são trocadas por três unidades de têxteis e fixemos um
valor em euros: uma unidade de trigo vale 2€ e uma unidade de têxteis 3€.[2]

Este exercício permite apreciar o efeito da abertura do comércio ao nível do


rendimento. Assim, se cada trabalhador consumir uma unidade de cada bem, antes
da liberalização um trabalhador americano precisava de três horas para obter esses
bens; o trabalhador europeu necessitava de sete horas para satisfazer as suas
necessidades. Com a especialização internacional, o trabalhador americano passa a
necessitar de apenas duas horas e meia para adquirir uma unidade de cada bem
(uma hora para uma unidade de trigo e mais uma hora e meia para produzir trigo
que possa ser trocado por uma unidade de têxteis) e o europeu de seis horas e
quarenta minutos (quatro horas para produzir uma unidade de têxteis para si e
duas horas e quarenta minutos para produzir têxteis no valor de uma unidade de
trigo).

Nota-se aqui a disparidade de ganhos do comércio: ambos os espaços ganham


mas um deles (os Estados Unidos) ganha mais. Se a desigualdade do efeito da
liberalização pode ser corrigido no interior de um Estado através de políticas
económicas redistributivas, o mesmo não se passa a nível internacional: serão as
políticas de ajuda ao desenvolvimento uma forma de redistribuição internacional
de riqueza? É possível introduzir mecanismos de compensação nas negociações
tendentes à abertura ao comércio internacional?

Para mais desenvolvimentos sobre o modelo de David Ricardo e as críticas e


aperfeiçoamentos que suscitou ver (KENNEN 2000; PORTO 2001; KRUGMAN e
OBSTFELD 2003).

1.5. Para Krugman e Obstfeld (2003, 32) o modelo de Ricardo contém várias
insuficiências:

 Prevê uma especialização extrema que não acontece no mundo real


(consegue explicar porquê?);
 Não tem em conta os efeitos de redistribuição do rendimento no interior
dos países;
 Não prevê as diferenças em termos de dotação de recursos como causa das
trocas internacionais (mas apenas as diferenças de produtividade);
 Omite as economias de escala como justificação para as trocas entre
economias semelhantes (em especial o comércio intra-sectorial: os Estados
Unidos exportam automóveis para a União Europeia e esta também exporta
esses produtos com destino aos Estados Unidos).

Apesar destas críticas, aqueles autores consideram existir forte comprovação


empírica do modelo da vantagem comparada, em particular ao nível de estudos de
produtividade comparada entre os Estados Unidos e o Reino Unido (num período
em que a produtividade do Reino Unido era significativamente inferior em todos os
níveis). A ausência de provas tão fortes em estudos mais recentes é atribuída por
Krugman e Obstfeld precisamente ao sucesso do modelo de Ricardo: o aumento do
comércio internacional produziu uma maior especialização pelo que não é fácil
observar o que um país faz com maior custo.

Em suma, o modelo de David Ricardo continua a dar provas de validade na


justificação do comércio internacional, ainda que não ofereça uma explicação
completa. Daí que o estudo desta matéria exija o conhecimento de outros modelos
complementares.

1.6 O principal modelo que nos oferece uma explicação alternativa à teoria
ricardiana resulta do contributo de dois economistas suecos (Eli Heckscher e Bertil
Ohlin), tendo sido aprofundado por Paul Samuelson. O chamado teorema
Heckscher-Ohlin assenta no pressuposto de que os países tendem a beneficiar de
uma vantagem comparada na produção de bens que utilizam os factores mais
abundantes de forma mais intensiva, postulando ainda a imobilidade dos factores
de produção. Assim, um país A com maior abundância do factor trabalho (e relativa
escassez do factor capital) tenderá a exportar bens que incorporem maior
intensidade de mão-de-obra (labour-intensive); já um país B com maior abundância
do factor capital exportará bens que empreguem com maior intensidade este factor
(capital-intensive) e a importar os que incorporam maior intensidade do factor
trabalho.

Um dos aspectos mais interessantes do teorema foi já aflorado: o comércio de bens


que reflectem diferentes dotações de factores torna-se um sucedâneo da
mobilidade de factores e conduz a uma convergência do preço dos factores de
produção (no país A o aumento da produção para exportação leva ao aumento da
procura do factor trabalho – diminuição da procura do factor capital, reflectindo-se
no preço relativo dos mesmos).

Mas terá o modelo Heckscher-Ohlin comprovação empírica? Um dos principais


estudos que veio demonstrar a incapacidade daquele modelo para explicar de
forma global os padrões de trocas deve-se a Wassily Leontief. Este autor analisou
os dados do comércio externo dos Estados Unidos e concluiu em 1953 que este
país exportava mais bens “trabalho-intensivos” e importava mais bens “capital-
intensivos”. Estudos posteriores confirmam os resultados então alcançados
(KRUGMAN e OBSTFELD 2003, 82). O teorema Heckscher-Ohlin previa o resultado
inverso; como explicar este paradoxo?

Reconhecendo não existir ainda uma resposta concludente, Krugman e Obstfeld


sugerem a seguinte explicação: os Estados Unidos dispõem de uma vantagem
comparada na produção de novos bens que são produzidos ou incorporam alta
tecnologia (aviões, semicondutores e medicamentos de vanguarda). Os factores
incorporados podem apresentar uma maior intensidade do factor trabalho, apesar
de a sua produção exigir também elevados capitais; mas trata-se de mão-de-obra
qualificada, altamente especializada (cientistas, projectistas, etc.). Assim a
intensidade de capital destes bens poderá ser inferior à de outros produtos com
tecnologias maduras e onde a mão-de-obra necessária pode ter qualificações
muito inferiores. Vê-se aqui o irrealismo de um dos pressupostos do teorema
Heckscher-Ohlin: o da homogeneidade dos factores de produção. Outras
explicações possíveis são avançadas por Manuel Lopes Porto (2001, 56-60).

Se o modelo ricardiano não fornece uma explicação completa das trocas


internacionais, a alternativa de Heckscher e de Ohlin não parece ir além da
explicação do chamado comércio Norte-Sul (correspondendo o Norte aos países
mais ricos e o Sul aos países em desenvolvimento) de produtos industriais. Mas,
como salientam Krugman e Obstfeld, essas trocas correspondem a cerca de 10% do
comércio mundial (2003, 84).

Para mais desenvolvimentos sobre o modelo Heckscher-Ohlin ver PORTO (2001, 49


e ss.); KRUGMAN e OBSTFELD (2003, cap. 4).

1.7 A importância da tecnologia como indutor de um aumento da


produtividade dos factores de produção tradicionais (capital, trabalho e mesmo
terra – pense-se no caso das novas culturas resistentes a doenças) conduz-nos a
um outro conjunto de explicações, onde se destacam a teoria do intervalo
tecnológico de Michael Posner (o comércio pode ser induzido pela introdução de
novos produtos, subsistindo enquanto persistir um intervalo tecnológico entre o
país exportador e o importador, i.e. variando em função do tempo necessário para
o país importador imitar a inovação e passar a produzi-la internamente ) e a teoria
do ciclo do produto de Raymond Vernon (a inovação surge nos países com maior
dotação de capital e cada produto segue um ciclo que corresponde às fases de
expansão, maturidade e declínio; as vantagens comparadas modificam-se ao longo
do ciclo: os Estados Unidos e a União Europeia produzem medicamentos de
vanguarda mas em sectores mais maduros em que a tecnologia se disseminou,
alguns países já dispõem de vantagens comparadas – e.g. os construtores sul-
coreanos de automóveis).

Para mais desenvolvimentos sobre as teorias tecnológicas ver PORTO (2001, 61-64).
O progresso tecnológico é hoje em dia encarado como um dos principais motores
do crescimento económico devido ao seu impacto na produtividade dos factores
de produção; ver MOURA E SILVA (2003a, 34-41).

1.8 As explicações mais recentes procuram encontrar fundamentos para o


comércio internacional ao nível microeconómico, sendo de destacar a teoria das
vantagens competitivas de Michael Porter (PORTER 1990). As novas teorias
procuram também construir modelos mais realistas dos mercados internacionais
substituindo o postulado clássico e neo-clássico da concorrência perfeita pela
concorrência imperfeita. Basta pensarmos na existência de economias de escala
para compreender que dois países com dotações de factores e taxas de
produtividade idênticas se poderão especializar em produções distintas, bastando
que um deles disponha de uma “first-mover advantage”, i.e. de ter iniciado a
produção de um determinado bem caracterizado pela existência de economias de
escala. Ao lado da explicação baseada na vantagem comparada encontramos deste
modo a teoria das economias de escala.

Com Krugman e Obstfeld (2003, cap. 6), que iremos seguir neste ponto, podemos
classificar as economias de escala como externas (o custo depende da dimensão do
sector mas não necessariamente da dimensão das empresas – raciocínio que está
na base dos “clusters” ou aglomerados de empresas) ou internas (o custo por
unidade depende da dimensão da empresa em particular mas não necessariamente
da dimensão da indústria)

As economias externas podem resultar de vantagens de localização (já observadas


por Alfred Marshall em 1890), do acesso a mão-de-obra qualificada; ou
disseminação de inovações através de comunidades epistemológicas ou “spill-
overs” tecnológicos (e.g. o famoso “Silicon Valley” agrupa algumas das mais
inovadoras empresas da indústria informática). As vantagens decorrentes da
existência de economias externas podem traduzir-se nos padrões de especialização
de um país, sendo difícil a sua imitação pela força centrípeta dos “clusters”: os
melhores informáticos preferem trabalhar em Silicon Valley por aí estarem em
contacto com as mais recentes inovações e terem maior probabilidade de obter
empregos mais bem pagos.

Em contrapartida a especialização pode fixar-se num padrão que reflecte a


dependência de escolhas passadas (path dependence); ou seja, não temos a
garantia de que outro país não seria capaz de produzir de forma mais eficiente se
as economias externas não tivessem privilegiado outro Estado.[3] A dimensão do
mercado é outro aspecto que potencia vantagens concorrenciais derivadas do
fenómeno das economias de escala.[4]

Quando as economias de escala são internas o postulado da concorrência perfeita


tem de ser abandonado uma vez que deixa de se verificar a igualdade de custos de
produção: as empresas estão conscientes da sua influência sobre o preço e que só
podem aumentar as vendas reduzindo os preços. São três os principais modelos de
concorrência imperfeita:

 Modelos de oligopólio restrito (Bertrand; Cournot): caracterizam-se pela


elevada complexidade e supõem estruturas de mercado muito
concentradas;
 Modelos de concorrência monopolística: pressupõem estruturas
oligopolistas mas atenuam a importância da interdependência dos
produtores e sublinham a criação de nichos de mercado (diferenciação de
produtos);
 Modelos de monopólio puro: como o nome indica, pressupõem a existência
de um único produtor a nível internacional.

Embora os modelos de monopólio puro e de oligopólio restrito possam


caracterizar alguns mercados (e.g., o mercado de sistemas operativos para PCs,
dominado pela Microsoft; o mercado de aviões de passageiros a jacto, partilhado
pela Boeing e pela Airbus), o modelo de concorrência monopolística permite uma
mais clara percepção da importância das economias de escala no comércio
internacional (KRUGMAN e OBSTFELD 2003, 131).

No modelo de concorrência monopolística a estrutura da oferta caracteriza-se por


um oligopólio. No entanto, ao contrário dos modelos de oligopólio restrito, onde
as empresas se comportam tendo em conta a interdependência das suas decisões,
aqui existe uma margem de manobra concorrencial através da diferenciação de
produtos (os modelos de oligopólio pressupõem, em regra, a homogeneidade de
produtos, ainda que possam ser estendidos a contextos com diferenciação dos
mesmos); essa estratégia é acompanhada da indiferença relativamente aos preços
dos concorrentes.

A existência de comércio internacional com concorrência monopolística leva a uma


expansão do mercado pelo aumento da variedade de produtos e pelo
aproveitamento de economias de escala (com a consequente redução do custo de
produção). Ao eliminar os obstáculos ao comércio, uma empresa situada num país
pequeno pode realizar economias de escala, vendendo para um mercado mais
vasto (pense-se no sucesso dos fabricantes escandinavos de telemóveis).

Como veremos mais adiante, estes modelos de concorrência imperfeita


fundamentam algumas tendências neo-proteccionistas. Por agora importa reter
que estes modelos fornecem explicações mais rigorosas para a estrutura do
comércio internacional que se caracteriza por um forte peso do comércio intra-
sectorial (um quarto do comércio internacional, segundo Krugman e Obstfeld) (e.g.
os Estados Unidos exportam automóveis para a União Europa e importam desta os
mesmos produtos: consegue explicar porquê? Serão os produtos importados e
exportados “os mesmos”?).

Cruzando agora os diferentes modelos estudados podemos concluir que:

 o comércio inter-sectorial tende a ser explicado pelo princípio da vantagem


comparada;
 as trocas inter-sectoriais reflectem a existência de economias de escala
(internas e externas) e a diferenciação de produtos;
 o padrão de trocas Norte-Sul pode ser explicado pela diferente dotação de
factores, como previsto pelo teorema de Heckscher-Ohlin;
 quanto mais semelhantes forem os rácios capital/trabalho, menor será o
volume de comércio inter-sectorial e maior o intra-sectorial;
 o comércio entre países desenvolvidos tem um forte peso de trocas intra-
sectoriais;
 o comércio intra-sectorial tende a produzir menores efeitos redistributivos
(consegue explicar porquê?)
 os padrões de comércio intra-sectorial dependem de um conjunto complexo
de factores (vantagens históricas, sorte, investimentos em determinados
sectores, subsidiação de certas actividades, preferências dos consumidores,
exercício de poder de mercado, etc.).

Sobre o comércio intra-sectorial ver PORTO (2001, 72-84) e KRUGMAN e OBSTFELD


(2003, 139-142).

[1] Os efeitos redistributivos podem ser sentidos: (i) por quem detém factores
específicos a uma determinada produção (e.g. uma fábrica de produtos químicos
que não pode ser reconvertida caso a abertura das trocas a exponha à concorrência
de produtores estrangeiros com uma vantagem comparada), aspecto tratado no
chamado modelo dos factores específicos (KRUGMAN e OBSTFELD 2003, cap. 3); e
(ii) ao nível de grandes agregados (e.g. trabalho e capital) (problema descrito pelo
Teorema Stolper-Samuelson).

[2] Encontramos aqui o fundamento do conceito de razões de troca (terms of trade)


que designa a relação dos valores de troca entre dois países; registe-se aqui o
contributo de John Stuart Mill ao procurar uma explicação do comércio
internacional que incorporasse a procura e não apenas a oferta, como sucedia no
modelo de Ricardo. Sobre as teorias que procuram explicar o comércio com base
na procura (em particular as teorias de Linder e de Lancaster, ver PORTO 2001, 67-
71.

[3] Sobre o conceito de path dependence e os efeitos de rede que a ele estão
associados ver MOURA E SILVA (2003, 87-103).

[4] Na “nova economia” (designação dada aos sectores com maior intensidade
tecnológica) também os factores ligados à procura podem estimular o
desenvolvimento de estruturas de concorrência imperfeita através dos chamados
efeitos de rede. Um caso típico deste efeito é o domínio da Microsoft no mercado
dos sistemas operativos e a sua posição dominante em algumas aplicações
informáticas. Como sabemos, este tipo de falhas de mercado é tratado pelo direito
da concorrência; ver MOURA E SILVA (2003).

1.1. vídeos e ppt

1.2. O modelo de fatores específicos


Sumário

De acordo com o modelo da vantagem comparada de David Ricardo, todos os


países ganham com o comércio livre, mesmo que não tenham uma vantagem
absoluta na produção de qualquer bem. O modelo indica também que os
indivíduos ganham, porque não são considerados efeitos na distribuição de
rendimento. Todavia, no mundo real, o comércio livre a nível internacional tem um
impacto substancial na distribuição de rendimentos. Esse impacto deve-se a que,
em primeiro lugar, os recursos não são perfeitamente móveis. Isto é, os recursos
afetos à produção do bem A não podem ser usados para a produção do bem B de
forma fácil e instantânea, ou a sua utilização implica custos (e, caso tais recursos
não sejam suscetíveis de ser usados na produção de B, o custo não amortizado
desses recursos é um custo irreversível - não recuperável). Em segundo lugar,
diferentes produções exigem recursos produtivos distintos: daí que o comércio livre
conduza a um aumento da procura dos recursos empregues na produção de bens a
exportar e reduza a procura daqueles que estavam afetos à produção de bens que
sofrem agora a concorrência de produtos estrangeiros importados (porque os
produtores estrangeiros são relativamente mais eficientes que os nacionais,
substituindo-os).
Por outras palavras, se o comércio livre beneficia os países no seu todo, alguns
grupos no interior de cada país tendem a perder a curto e médio prazo.

O Modelo de Fatores Específicos foi desenvolvido por Paul Samuelson (Paul


Samuelson, “Ohlin Was Right”, Swedish Journal of Economics, 73 (1971), 365-384) e
Ronald Jones (Ronald W. Jones, “A Three-Factor Model in Theory, Trade and
History”, in Jagdish Bhagwati et al., (eis.), Trade, Balance of Payments, and Growth,
North Holland, Amesterdão, 1971, pp. 3-21). Neste modelo existem outros fatores
de produção além do fator trabalho e estes novos fatores são específicos a uma
determinada produção, não podendo ser reafetados a outra produção [Ver caixa
“What is a Specific Factor?”, em Krugman et al., p. 79].

Assim sendo, quem ganha e quem perde? Como Krugman et al. referem (p. 91), “o
comércio beneficia o fator específico ao setor exportador de cada país, mas
prejudica o fator específico aos setores que concorrem com as importações, com
efeitos ambíguos para fatores móveis”.

Se temos quem ganhe e quem perca e se o país no seu todo fica melhor com a
abertura ao comércio internacional, não seria possível que os ganhadores
compensem quem perde, de modo a que ninguém fique pior que antes da
abertura ao comércio internacional? Como referem Krugman et al. (p. 92), com a
abertura ao comércio internacional existe uma expansão das escolhas da economia
nacional - ou seja, o comércio permite que se consuma mais de ambos os bens,
pelo que é possível dar mais de cada bem a cada indivíduo, desde que exista um
mecanismo de redistribuição dos ganhos do comércio.

Deparamo-nos aqui com um problema que iremos analisar na segunda parte do


programa: a pressão para a proteção contra a concorrência internacional. Tal
pressão é frequentemente mais bem sucedida do que a pressão para permitir as
importações e aumentar o consumo, em grande parte, devido a um problema de
ação coletiva. [Sobre a ação coletiva e a teoria dos grupos, ver Mancur Olson, The
Logic of Collective Action, Harvard Univ. Press, Cambridge - MA, 1971].

Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.


Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022, capítulo
4. Apresentação ppt

1.3. ppt e vídeos


1.4. O modelo-padrão do comércio internacional
Cada um dos modelos que vimos anteriormente correspondem a intuições fundamentais - mas
parcelares - do funcionamento do comércio internacional. Assim, o Modelo da Vantagem
Comparada opera apenas com um fator de produção, pelo que não permite avaliar os efeitos do
comércio na distribuição de rendimento. Já o Modelo dos Fatores Específicos inclui diversos
fatores de produção, alguns dos quais são específicos a um determinado sector produtivo. Este
modelo permite aferir os efeitos a curto-prazo sobre a distribuição de rendimento. Por fim, o
Modelo Hecksher-Ohlin pressupõe mobilidade de fatores entre diferentes sectores produtivos,
com as diferenças na dotação relativa de fatores de produção a ditar os padrões de comércio
internacional. Neste modelo podemos ainda identificar as alterações a longo-prazo que o
comércio produz na distribuição de rendimento.

Como referem (Krugman et al., 149), estes modelos partilham um conjunto de características:

1. A capacidade produtiva de um país pode ser representada pela fronteira de


possibilidades de

produção, e é a diferença entre essas fronteiras que origina os ganhos do comércio.

2. As possibilidades de produção de um país determinam a respetiva curva de oferta


relativa.
3. O equilíbrio mundial é determinado pela procura relativa mundial e pela curva de oferta

relativa mundial, ficando esta última entre as curvas de oferta relativa nacionais.

O modelo-padrão do comércio internacional trata estes diferentes modelos como casos especiais
e permite avaliar os efeitos de alterações da oferta mundial resultantes do crescimento
económico bem como o impacto na procura e na oferta de medidas de política comercial, como
os direitos aduaneiros e os subsídios à exportação.

(Krugman et al., 150) identificam quatro relações fundamentais em que se baseia o modelo-
padrão:

1. 1) A relação entre a fronteira de possibilidades de produção e a curva da oferta relativa;


2. 2) A relação entre preços relativos e procura relativa;
3. 3) A determinação do preço mundial de equilíbrio pela oferta relativa mundial e pela
procura

relativa mundial;

4. 4) O efeito nos termos de troca (“terms of trade”) no bem-estar geral de um país.

Os termos de troca são o resultado da divisão do preço das exportações de um país pelo preço
das respetivas exportações.

Vejamos então cada uma dessas relações.

1) A relação entre a fronteira de possibilidades de produção e a curva da oferta relativa

No modelo-padrão temos dois países que produzem dois bens - comida (F) e têxteis (C). A
fronteira de possibilidades de produção de cada país é expressa na curva TT na figura 6-1.

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O que acontece se o preço de C subir?

Figura 6-1

O ponto em que um país produz uma certa quantidade de F e de C (um ponto ao longo da curva
TT) é determinado preço preço relativo de C face ao preço de F. O valor de mercado da
produção é indicado por uma linha de isovalores. Quanto mais acima e à direita a linha, maior o
valor da produção.

Agora C vale mais relativamente a F, pelo que a linha de isovalores torna-se mais inclinada. Na
figura 6-2, a linha de isovalores mais alta que podia ser atingida antes do aumento do preço de C
era VV1, após a subida do preço de C passa a ser a linha VV2, passando a produção de Q1 para
Q2

Figura 6-2

Com o aumento do preço de C, a quantidade produzida deste bem aumenta, diminuindo a


produção de F. Quando o preço relativo de C aumenta, a oferta relativa de C também sobe (6-
2b).
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2) A relação entre preços relativos e procura relativa

O valor do consumo da economia de um país é igual ao valor da sua produção, pelo que
produção e consumo devem situar-se na mesma linha de isovalores. O ponto exato depende das
preferências dos consumidores, as quais se podem representar por curvas de indiferença - que
representam diferentes combinações de quantidades de consumo de C e F que têm a mesma
utilidade para um consumidor hipotético (daí a indiferença relativamente a qualquer uma destas
combinações - o bem-estar desse consumidor é sempre igual ao longo da linha de isovalores).

Figura 6-3

Assim, o bem-estar social será maximizado quando o consumo se situa no ponto mais alto
possível da linha de isovalores, tangencial à mais alta curva de indiferença que possa ser
alcançada (o ponto D). Neste ponto, para maximizar o consumo de T e F, o país exporta C e
importa F.

E o que acontece agora se o preço de C subir?

Figura 6-4

Naturalmente, se C aumenta o seu valor, tal leva a um aumento da oferta relativa de C - o país
produz mais C e menos F, pelo que a quantidade produzida passa de Q1 para Q2. Mudamo
então
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para outra linha de isovalores (mais inclinada) VV2, onde se determina a quantidade consumida
que passa de D1 para D2.

Desta alteração resultam dois efeitos:

1. i) Ao mudar para uma curva de indiferença mais alta, o bem-estar social aumenta. Tal
ocorre

porque, como o país produz C, o aumento de preço deste permite importar mais F - o
aumento do preço relativo do bem exportado representa um ganho para o bem-estar
deste país.

2. ii) A variação dos preços relativos leva a uma deslocação ao longo da curva de
indiferença para um aumento do consumo de F e uma diminuição do consumo de C (por
este ser agora relativamente mais caro).

O aumento do bem-estar é um efeito de rendimento - mais rendimento permite maior consumo


de ambos os bens. A deslocação do consumo de C para F é um efeito de substituição -
aumentando o preço de C, a procura deste cai e aumenta a procura de F. Na ausência de
comércio internacional, o consumo teria de ficar pelo ponto D3.

3) Determinação do preço mundial de equilíbrio pela oferta relativa mundial e pela procura
relativa mundial

Para exemplificar o mecanismo de determinação do preço mundial de equilíbrio, consideremos


dois países Home (H) e Foreign (F). Como as possibilidades de produção destes países são
diferentes (curvas da oferta relativa), pressupondo que ambos têm as mesmas preferências
(curvas de procura relativa idênticas), o comércio levará a uma curva mundial da oferta relativa
que se situará entre as curvas da oferta relativa daqueles países (figura 6-5).

Figura 6-5a

Figura 6-5b

O preço de equilíbrio mundial é-nos dado pelo ponto onde as curvas da procura relativa e da
oferta relativa mundiais se intersetam (ponto 1 na figura 6-5a).

4) O efeito nos termos de troca (“terms of trade”) no bem-estar geral de um país

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Quando o preço de C aumenta relativamente ao preço de F, o país que exporta C fica melhor
que antes (o preço dos bens exportados aumenta relativamente ao preço dos bens importados).
Inversamente, se o preço de C baixar, o país exportador de C fica pior (o preço dos bens
exportados diminui relativamente ao preço dos bens importados).

Assim, como referem (Krugman et al. 155), um aumento dos termos de troca aumenta o bem-
estar de um país, enquanto uma diminuição dos termos de troca reduz o seu bem-estar (mas
nunca abaixo do nível de bem-estar na ausência de comércio).

Aplicações do modelo-padrão

1) Quais são os efeitos do crescimento económico no comércio internacional? Se um outro país


cresce mais, será isso bom ou mau para o nosso país?

A análise económica mostra que o efeito do crescimento económico é ambíguo. Se o país F


cresce, isso implica um mercado maior para as nossas exportações e preços mais baixos para as
nossas importações. Todavia, isso pode igualmente representar maior concorrência para os
nossos exportadores e para os produtores que fornecem o mercado nacional. Se o nosso país (H)
crescer, podemos aumentar as nossas exportações. Contudo, os nacionais de F podem ficar com
parte substancial dos ganhos devido à diminuição dos preços das nossas exportações.

Impacto do crescimento económico na fronteira de possibilidades de produção

O crescimento económico leva a uma alteração da fronteira de possibilidades de produção. Mas


esta alteração pode ser enviesada a favor dos produtos importados ou dos produtos exportados
(figura 6-6).

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Figura 6-6

Na figura 6-6a ilustra-se o caso de um crescimento enviesado a favor de C (exportações). Na


figura 6-6b, o caso de um crescimento enviesado em benefício de F. A oferta relativa
(quantidade produzida de C e de F) dependerá de qual destes efeitos venha a ocorrer (figura 6-
6c).

Qual é o impacto destas alterações nos termos de troca?

Figura 6-7

Se o crescimento económico de H for enviesado em favor de C, a produção de C aumenta e a


produção de F diminui. A curva da oferta relativa mundial passa de RS1 para RS2 e a
quantidade procurada a nível mundial passa do ponto 1 para o ponto 2. Isto significa que o
preço relativo de
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C diminui, agravando os termos de troca de H e favorecendo os termos de troca de F. Um ponto


importante a ter em conta é que este resultado é indiferente a qual o país que cresce (H ou F).

Assim, como sintetizado por (Krugman et al., 159), O crescimento enviesado a favor das
exportações tende a piorar os termos de troca desse país em benefício do resto do mundo; o
crescimento enviesado a favor dos produtos importados tende a melhorar os termos de troca
em detrimento do resto do mundo.

2) Impacto das tarifas e subsídios à exportação na oferta e procura relativas

O modelo-padrão permite ainda identificar o impacto de medidas de politica comercial, como os


direitos aduaneiros ou os subsídios à exportação, no comércio internacional.
Estas medidas criam um diferencial entre o preço a que os bens são comercializados no
comércio internacional e o preço a que são vendidos no mercado interno.

A aplicação de direitos aduaneiros sobre um bem importado faz com que este se torne mais caro
no mercado interno. Já um subsídio à exportação aumenta o lucro dos exportadores, fazendo
com que seja mais lucrativo exportar que vender no mercado interno. Em consequência disto, o
preço dos produtos exportados sobe no mercado interno. Quando um país representa uma parte
importante do mercado mundial, os direitos aduaneiros e os subsídios à exportação alteram a
oferta e procura relativas nos mercados mundiais, levando a alterações dos termos de troca.

Contudo, os efeitos da imposição de direitos aduaneiros por um país de grande dimensão são
ambíguos: por um lado, a melhoria dos termos de troca beneficiam esse país, em detrimento do
resto do mundo; no entanto, o direito aduaneiro tem custos sobre a forma da distorção dos
incentivos à produção e consumo internos. Se o direito aduaneiro for muito elevado, o efeito de
distorção pode superar os ganhos em termos de troca.

Quanto aos subsídios à exportação, o seu impacto no bem-estar do país que os concede é sempre
negativo. O resto do mundo ganha, ao ter acesso aos produtos exportados a preços mais baixos.
Por outro lado, o país exportador perde com a deterioração dos termos de troca bem como
devido à distorção de eficiência no mercado interno.

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1.5. Economias de escala, concorrência imperfeita e (des)localização da produção

Um dos fatores que conduz à especialização internacional da produção corresponde às


economias de escala (rendimentos crescentes à escala). Contudo, essas economias de escala
levam a que a estrutura da oferta propenda para a concentração ou mesmo para o monopólio,
levando a que se abandone o modelo de concorrência perfeita implícito aos modelos analisados
anteriormente. Iremos, por isso, analisar como modelos de concorrência imperfeita podem
ajudar a explicar algumas dinâmicas do comércio internacional.

Ao alargar o mercado (a procura deixa de estar limitada ao mercado nacional e estende-se,


potencialmente, ao resto do mundo), as economias de escala permitem que, através da
especialização, cada país possa produzir com menor custo os bens que exporta.

As economias de escala podem assumir a forma de economias externas - as quais se estendem a


todo um sector produtivo (o custo por unidade depende da dimensão do sector produtivo, mas
não necessariamente da dimensão das empresas que o compõem); e economias internas - que
existem apenas ao nível de cada empresa (o custo por unidade depende da dimensão da empresa
mas não necessariamente da dimensão do sector produtivo). Iremos aqui considerar as
primeiras.

Como as economias externas são comuns a todas as empresas do sector, a tendência de um


sector com este tipo de economias é para a fragmentação, aproximando-se do modelo de
concorrência perfeita.

As economias externas são um fenómeno já identificado por Alfred Marshall nos seus
Principles of Economics, de 1890. Podemos ilustrar o fenómeno com alguns exemplos atuais:
Silicon Valley para a indústria das tecnologias da informação; Hollywood, para o cinema; ou as
muitas cidades chinesas especializadas na produção de botões e fechos de correr (a cidade de
Quiaotou produz cerca de 60%), isqueiros ou roupa interior. Em Portugal, podemos pensar nos
fornecedores de peças automóveis situados em torno da fábrica da Autoeuropa, ou na produção
de vidro e moldes na Marinha Grande.

As razões para a formação destes “clusters” especializados são complexas, podendo ser
agrupadas em três categorias: 1) a aglomeração de fornecedores especializados; 2) a agregação
de trabalhadores especializados; 3) os efeitos externos da difusão do conhecimento.

A existência de um centro de produção pode levar a que produtores de bens intermédios ou


serviços especializados se fixem nesse local, criando uma rede próxima que reduz os custos de
comunicação entre as diferentes empresas ao longo da cadeia de produção.

A existência de uma “pool” de mão-de-obra especializada resulta de um circulo virtuoso, em


que a fixação de uma empresa atrai esses trabalhadores e as empresas que se fixam à sua volta
beneficiam do acesso a esses trabalhadores com potencial de recrutamento. O caso de Silicon
Valley é um bom exemplo disso. Note-se ainda que este fenómeno permite aos trabalhadores
encontrar outro emprego rapidamente, sem perder o investimento nos conhecimentos
especializados anteriormente realizado (ou pelo menos minimizando essas perdas).

Os “spillovers” de conhecimento representam um fenómeno mais abstrato, ainda que facilmente


constatável, por exemplo, nos mercados financeiros, em especial as grandes praças financeiras
mundiais, como Nova Iorque, Londres ou Hong-Kong.
Qual é então a importância das economias externas para o comércio internacional? Na presença
destas economias, quanto mais empresas do mesmo sector se fixarem numa determinada região,
mais baixo será o seu custo médio de produção e, havendo concorrência entre produtores, mais
baixo será o preço.

Pensando no caso dos botões, a existência de economias externas faz com que o custo dos
botões diminua à medida que aumenta a produção e o consumo (como sucedâneos do número
de empresas) (v. Figura 7-1).

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Figura 7-1

Caso seja possível o comércio entre os Estados Unidos e a China, o facto de a produção de
botões nesta última descer mais à medida que aumenta a produção fará com que esta acabe por
conseguir ficar com toda a produção de botões (o preço dos botões nos Estados Unidos será
mais baixo ao abrir o mercado às importações chinesas do que na ausência de comércio, em que
a procura tem de ser satisfeita com a produção nacional). Por outro lado, ao aumentar a
produção, a China consegue reduzir ainda mais os seus custos de produção (porque passa a
produzir quantidades para satisfazer quer a procura interna, quer a procura dos Estados Unidos).

Podemos aqui pensar no caso das máscaras de proteção individual que, no início da pandemia
COVID-19, eram produzidas sobretudo na China, criando problemas de abastecimento até que
foi desenvolvida capacidade de produção adicional.

Olhando agora para o mundo atual, verificamos que alguns dos pressupostos históricos que
levaram à formação destes “clusters” há muito deixaram de ser relevantes; todavia, alguns
destes mantiveram a sua posição incontestada. Hollywood foi o grande centro de produção de
filmes porque estes eram filmados no exterior e a Califórnia oferecia o maior número de horas
de sol. Hoje que os filmes são sobretudo gravados em estúdio, outros elementos (concentração
de profissionais; “spillovers” de conhecimento; fixação de fornecedores) continuam a preservar
essa posição histórica. Por outras palavras, por vezes o facto de uma localização ser pioneira na
atração de um determinado sector pode fazer com que essa vantagem perdure no tempo, mesmo
que outra localização estivesse atualmente em condições de oferecer um preço de equilíbrio
mais baixo.
Uma ilustração destas vantagens é-nos dada pela chamada “curva de aprendizagem” - os custos
dependem da experiência, aferida em volume de produção (quanto mais se produz, mais baixo o
custo de produção) (ver Figura 7-2). Neste caso falamos de retornos crescentes dinâmicos
(“dynamic increasing returns”). Teremos ocasião de ver que este fenómeno pode constituir um
argumento a favor de medidas protecionistas

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Figura 7-2

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1.6. As empresas na economia global: exportações, outsourcing e empresas multinacionais


O sector exportador

Até aqui temos considerado o efeito do comércio em mercados concorrenciais. No entanto,


muitos mercados são caracterizados por estruturas de oligopólio (número reduzido de
produtores) ou de quase-monopólio (basta pensar no mercado dos motores de pesquisa na
internet, dominado em mais de 90% pelo Google). Parte significativa dos atuais mercados
digitais é dominada por empresas gigantes norte-americanas (Amazon, Apple, Alphabet, Meta,
Microsoft) e chinesas (Alibaba, Tencent, Baidu).

As atuais estruturas oligopolistas de muitos mercados resultam de economias de escala ao nível


da empresa, de estratégias de diferenciação de produtos, de economias de rede e da própria
natureza dos mercados (muitos mercados digitais têm uma estrutura “winner takes all”).

Essas estruturas beneficiaram igualmente do efeito de alargamento do mercado promovido pela


globalização económica das últimas décadas, mais acentuado ainda nos espaços de integração
económica, como a União Europeia.

Um dos principais objetivos económicos do mercado comum (posteriormente atualizado para


mercado interno) protagonizado pela Comunidade Económica Europeia era precisamente criar
um mercado mais vasto onde as empresas europeias pudessem aproveitar as economias de
escala resultantes do acesso direto a um mercado de cada vez mais consumidores. Assim, se
uma empresa siderúrgica portuguesa produzia apenas para o mercado português, a abertura do
mercado interno permitia-lhe produzir em maior escala (assim reduzindo os custos médios de
produção e tornando-se mais competitiva).
Por outro lado, a abertura do mercado interno da União Europeia criava maior pressão
concorrencial sobre os produtores, obrigando-os a reduzir os custos de produção e levando à
substituição de empresas ineficientes por produtores mais eficientes (aumentando a eficiência
produtiva dentro da União Europeia).

Uma das consequências das economias de escala e da diferenciação de produtos é a criação de


ganhos de comércio entre países com economias semelhantes. Daí que exista comércio de
"smartphones” entre a China e os Estados Unidos ou de automóveis entre a União Europeia e a
Coreia do Sul. Este comércio intra-sectorial representa entre 25% a 50% do comércio mundial,
sendo ainda mais importante no comércio entre países mais industrializados.

Importa ter em conta que o alargamento do mercado e o mecanismo de eliminação de empresas


ineficientes inerente à concorrência levam a uma diminuição do número de empresas, passando
as empresas que sobrevivem a concentrar mais vendas - o aproveitamento das economias de
escala. Com a eliminação das empresas menos eficientes, a produtividade dentro do espaço
onde o comércio foi liberalizado aumenta.

Apesar destes ganhos de escala, uma parte significativa das empresas não exporta os seus bens e
serviços. Em Portugal, no ano de 2021 o número de empresas exportadoras era de 5,63% do
total. Ou seja, 94,7% das empresas não participam no comércio internacional (incluindo o
comércio intra-UE!) (fonte: Banco de Portugal: https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/
publicacoes/1522). Contudo, no elenco das empresas exportadoras encontramos uma grande
percentagem do volume de negócios das empresas nacionais (35,19%), sendo também estas
empresas responsáveis por quase um quarto do emprego (24,7%). Esse efeito de escala que se
traduz em vantagens comparadas que induzem o comércio internacional é evidente se olharmos
para a composição do sector exportador (as 5,63% do total de empresas). De entre estas, as
grandes empresas (2,1% do total de empresas exportadoras) representam 56,54% do volume de
negócios do sector exportador e empregam 41,29% dos trabalhadores neste sector.As médias
empresas (10,1% do sector exportador) agregam 25,95 do volume de negócios do sector e
empregam 34,55% dos trabalhadores).

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No mesmo ano de 2021, em termos geográficos - lembremos o tema das economias externas - o
maior número de empresas está localizado no norte do país (41,89%) e na área metropolitana de
Lisboa (29,15%), com 19,24% no centro e uma composição muito mais baixa no Alentejo,
Algarve, RA Madeira e RA Açores (Ver Banco de Portugal, número de empresas do sector
exportador por região). Quando olhamos para a importância do volume de negócios, contudo, o
norte do país é ultrapassado pela área metropolitana de Lisboa, que concentra 42,68% do
volume de negócios, com o norte a representar 31,29% e o centro 17,19% (o que mostra que o
maior número de empresas exportadoras no norte inclui um peso substancial de pequenas
empresas e microempresas) (Ver Banco de Portugal, volume de negócios do sector exportador
por região). Já no emprego, o norte do país retoma o primeiro lugar, com 43,31% dos
trabalhadores, seguido da área metropolitana de Lisboa, com 29, 21% (Ver Banco de Portugal,
número de pessoas ao serviço do sector exportador por região). Mais dados sobre o sector
exportador disponíveis em https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/publicacoes/1522.

Segundo a Agencia para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), com base em
dados do INE, em 2022 Portugal teve mais 6 mil empresas exportadoras (https://
www.portugalexporta.pt/noticias/6-mil-novas-empresas-exportadoras-2022) (na realidade um
aumento líquido de 963 empresas face a 2021, o saldo entre novos exportadores e exportadores
perdidos).
Como seria previsível, no top das empresas exportadoras encontramos empresas de grande
dimensão em sectores onde as economias de escala são essenciais: Petrogal, Volkswagen
Autoeuropa, Navigator, a Continental Mabor ou a Bosch Car Multimedia Portugal. Note-se que
metade dos 10 maiores exportadores são também os maiores importadores.

O peso do mercado espanhol nas nossas exportações ronda os 62%, o que se compreende bem
face ao modelo gravitacional do comércio.

Mas porque é que a maioria das empresas portuguesas não participa nas exportações? Tal deve-
se ao facto de o comércio internacional envolver custos mais elevados do que vender para o
mercado nacional. Aliás, as estatísticas comerciais mostram que existe um certo nível de
especialização em certos mercados. Por exemplo, Espanha foi o único mercado de exportação
para 938 empresas em 2021 (12,8% do total de empresas exportadoras para Espanha) e para
1969 empresas, Angola foi o único mercado de exportação (quase metade do total de empresa
exportadoras para Angola) (fonte: AICEP com dados do INE:
https://www.portugalglobal.pt/PT/ PortugalNews/Paginas/NewDetail.aspx?newId={28B8F263-
3E01-433D-9D62-30B5C7299051}.

O investimento direto estrangeiro

O Investimento Direto Estrangeiro (IDE, ou, em inglês, Foreign Direct Investment - FDI)
corresponde à aquisição pela empresa de um país de ativos noutro país. Para efeitos estatísticos,
existe IDE quando uma empresa de um país adquire mais de 10% do capital ou direitos de voto
numa empresa residente noutro país (o chamado brownfield FDI) ou quando uma empresa de
um país investe na criação de uma fábrica, por exemplo, noutro país (geralmente designado
como greenfield FDI, porque se trata de um investimento de raiz). (Ver o texto da AICEP
“Investimento direto português no estrangeiro: o que é e enquadramento”).

Exemplo 1: A atual Volkswagen Autoeuropa correspondeu inicialmente (1991) a um


investimento de cerca de 2 mil milhões de euros do grupo norte-americano Ford e do grupo
alemão Volkswagen em joint venture (em que o capital da nova empresa era detido em 50% por
cada uma das empresas-mãe). Em 1999, a Volkswagen adquiriu a participação da Ford na
Autoeuropa. A constituição da Autoeuropa em 1991 é um caso de greenfield FDI.

Exemplo 2: A Fosun International Limited, uma empresa chinesa, adquiriu cerca de 85% do
capital social da seguradora portuguesa Fidelidade, na sequência da privatização desta, tendo
por isso o controlo desta empresa nacional. (Ver Informação institucional Fidelidade). Este é um
caso de brownfield FDI.

As estatísticas do comércio externo abordam o IDE de duas formas: Página 2 de 5

A primeira refere-se aos fluxos de investimento e respetiva direção durante um determinado


período (geralmente um ano, coincidindo com as estatísticas da balança de pagamentos) - temos
então os fluxos de investimento de empresas residentes em direção ao estrangeiro (Investimento
Direito Português no Estrangeiro - IDPE) ou os fluxos de empresas estrangeiras em empresas
residentes em Portugal (Investimento do Exterior em Portugal.

A segunda refere-se ao stock (valor acumulado) de investimento - o valor dos investimentos


detidos por residentes em Portugal no exterior (ver Banco de Portugal - investimento direto de
Portugal no exterior, stocks em milhões de euros) e o valor dos investimentos detidos por
residentes no exterior em Portugal (Ver Banco de Portugal - IDE em Portugal - stocks em
milhões de euros), o qual varia todos os anos em função do saldo dos fluxos de investimento
com destino a Portugal ou deste com destino ao exterior. Ver ainda a análise do Gabinete de
Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e do Mar de agosto de 2023.

Padrões de IDE a nível mundial

Pode encontrar dados sobre o IDE a nível mundial, com a possibilidade de individualização por
país, em https://unctad.org/publication/world-investment-report-2023.

Neste gráfico podemos ver os fluxos de atração de investimento estrangeiro (inward investment)

Note-se que só muito recentemente é que os países em desenvolvimento ultrapassaram os países
desenvolvidos como receptores de investimento estrangeiro. O gráfico permite acompanhar
claramente as várias crises económicas ao longo deste período: a crise da Argentina (1998-
2002), o rebentar da bolha das empresas tecnológicas no início do século XXI (dot-com bubble),
a crise financeira de 2008, a pandemia COVID-19 em 2020.

Vejamos agora os fluxos de investimento no exterior (outward investment)

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As empresas multinacionais - IDE e outsourcing

As empresas multinacionais ou empresas transnacionais são empresas com filiais/subsidiárias


em mais que um Estado ou que operam em mais de um país. As Diretrizes da OCDE às
empresas multinacionais sobre conduta responsável das empresas definem estas empresas
como:

“empresas ou outras entidades estabelecidas em mais de um país e interligadas de tal modo


que podem coordenar as suas operações de diversas formas. Uma ou mais destas entidades
podem exercer uma influência decisiva sobre as atividades das outras entidades no interior do
grupo, embora o seu grau de autonomia possa variar muito de uma empresa multinacional
para outra. Os seus acionistas podem ser privados, públicos ou mistos.” (Parágrafo 4)

As empresas multinacionais resultam do IDE, podendo assumir duas modalidades:


- IDE horizontal: a subsidiária ou filial estrangeira exerce as mesmas atividades que a empresa-

mãe (replicando as atividades desta, por exemplo, uma fábrica de semi-condutores); - IDE
vertical: a subsidiária opera ao nível de um dos patamares da cadeia de valor (por exemplo, uma
empresa de semi-condutores, como a Intel, concentra as atividades de

concepção e desenho dos “chips” de silício nos Estados Unidos, onde têm acesso a
trabalhadores altamente especializados e cria uma subsidiária na China, onde são produzidos os
semi-condutores, atividade que incorpora mão-de-obra intensiva menos especializada).

A dimensão das empresas multinacionais é desde há muito vista como um problema económico
e político, sobretudo pelos países de acolhimento. A sua dimensão pode ser comparada à de
estados. Segundo Krugman et al., 226, considerando o ano de 2015, o volume de vendas das
100 maiores multinacionais correspondia a 10,7% do PIB mundial. Contudo, como aqueles
autores salientam, estes dados sobrestimam grandemente o peso das multinacionais: por um
lado, o PIB nacional é calculado com base em valor acrescentado - os produtos intermédios não
são contabilizados; por outro, as vendas das multinacionais são contabilizadas duas vezes, uma
como produtores de bens intermédios e outra como as vendas dos produtos finais que
incorporam esses bens intermédios. Uma comparação baseada no valor acrescentado resulta
num valor mais módico, ainda assim, elevado, de 2% do PIB mundial.

O IDE vertical é característico das atuais cadeias de valor, onde os diferentes níveis são
divididos por várias empresas em diferentes pontos do globo, de modo a combinar as diferentes
vantagens

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comparadas dos países envolvidos. Para um exemplo, veja a complexa cadeia de produção do
iPhone: https://www.cnbc.com/video/2018/12/14/apple-iphone--what-is-inside.html

Neste vídeo são referidas as chamadas “terras raras”, minérios muito raros e que apenas podem
ser obtidos em minas localizadas num número limitado de países. Como se refere neste vídeo, a
China é o maior fornecedor mundial de terras raras. Há alguns anos, a limitação de exportações
de alguns desses metais pela China levou à apresentação de queixas junto do mecanismo de
resolução de litígios da OMC, tendo este concluído que tais restrições violavam as regras do
sistema GATT/OMC.

As cadeias globais de abastecimento estão sob pressão crescente nos últimos anos, primeiro
devido ao COVID-19 e, mais recentemente, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia e às
crescentes tensões geopolíticas entre o bloco ocidental, por um lado, e a China, por outro. Face
à política dos Estados Unidos e da União Europeia de restrição de exportações de semi-
condutores avançados para a China, por razões estratégicas (segurança nacional), a China impôs
no verão de 2023 restrições à exportações de dois metais raros: o gálio e o germânio, invocando
igualmente questões de segurança nacional. Ver o vídeo da CNN: https://edition.cnn.com/
2023/07/03/business/germanium-gallium-china-export-restrictions/index.html.

O que leva uma empresa de um país a decidir investir noutro país? A resposta é diferente para o
caso do IDE horizontal ou do IDE vertical. O IDE horizontal é sobretudo motivado pela redução
dos custos do comércio internacional e pelo aproveitamento de vantagens de proximidade aos
clientes. Já o IDE vertical está ligado à crescente globalização económica e ao aproveitamento
da vantagem comparada para reduzir os custos de produção nos vários níveis da cadeia de valor.

Conjugando a vantagem na redução dos custos do comércio internacional com as economias de


escala, vemos que dificilmente o IDE horizontal poderia levar a uma duplicação de operações
produtivas em todos os países-alvo. Um exemplo que nos afeta muito diretamente é o da
concentração de atividades produtivas ou dos centros de decisão em Espanha, olhando para o
mercado português como parte do mercado ibérico. As diferenças culturais entre Portugal e
Espanha exercem aqui uma pressão no sentido contrário, já que a homogeneização leva a que
não sejam ultrapassados alguns custos de comércio em Portugal. Daí muitas multinacionais
terem operações próprias em Portugal, ainda que dependentes por vezes de Espanha, sobretudo
no que diz respeito à cadeia de distribuição a jusante da produção. Contudo, esta concentração
das empresas multinacionais faz com que, nos países onde estas operam, sejam geralmente
muito maiores que as empresas não multinacionais, sendo também mais eficientes que estas.
Um dos benefícios da nossa integração na atual UE é que uma multinacional que se fixe em
Portugal beneficia do acesso a todo o mercado interno, com custos de comércio mais baixos
devido às liberdades de circulação neste mercado. Do mesmo modo, esta é a razão para
fabricantes automóveis europeus construirem fábricas nos Estados Unidos, permitindo-lhes
evitar custos de comércio - sobretudo perante uma política comercial daquele país mais errática
nos últimos anos.

Como vimos no caso português, as maiores empresas exportadoras são também metade das
maiores importadoras. Tal deve-se ao facto de o abastecimento de bens intermédios através da
importação ser sobretudo feito por empresas de maior dimensão, além de a experiência de
operar em diferentes mercados favorecer uma cultura interna adaptada ao abastecimento de
produtos intermédios em diferentes países. Geralmente, o custo de coordenação com um
fornecedor estrangeiro e as economias de escala que ditam este tipo de estrutura de cadeia de
valor fazem com que sejam as empresas mais produtivas a recorrer a este tipo de contratação. E
aqui as empresas multinacionais são geralmente mais produtivas (ver a notícia do Expresso -
Multinacionais representaram mais de 80% do valor acrescentado bruto em 2021: https://
expresso.pt/economia/empresas/2023-04-18-Multinacionais-representaram-mais-de-80-do-
valor-acrescentado-bruto-em-2021-5f172d71).

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2.1. Os instrumentos da política comercial


Apresentação

Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.


Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022, capítulo
9.

A Política Comercial – Fundamentos Económicos e


Políticos da Protecção Comercial
2. A Política Comercial – Fundamentos Económicos e Políticos da Protecção
Comercial

Miguel Moura e Silva (2004)

2.1 Como afirma Paul Samuelson, o comércio livre promove uma afectação de
recursos mais eficiente a nível internacional, aumenta o produto potencial de todas
as nações e torna possíveis níveis de vida mais elevados em todo o mundo. Apesar
dos argumentos económicos a favor do comércio internacional, este continua a
suscitar viva contestação – agora bem patente em praticamente todas as reuniões
importantes das principais organizações economicas internacionais. Sendo muitas
as razões desta oposição a uma maior abertura do comércio, pelo menos parte dos
fundamentos prende-se com os efeitos redistributivos já referidos.

2.2. A demonstração da existência de ganhos do comércio não resolve, por si só,


a questão da redistribuição desses benefícios ou da compensação relativamente
àqueles que perdem com a abertura às trocas internacionais. Este aspecto da
redistribuição coloca-se sobretudo a nível nacional: com a liberalização perdem os
produtores de bens que enfrentam a concorrência das importações, deixando de
usufruir de rendas de situação ou sendo obrigados a pôr fim à sua actividade por
não serem tão eficientes quanto os produtores estrangeiros; mas há sectores que
ganham claramente: os produtores nacionais que utilizam bens intermédios ou
matérias-primas que agora podem ser obtidos a preços mais baixos, reforçando a
sua própria capacidade concorrencial; e os consumidores finais que beneficiam da
maior variedade de escolhas e da diminuição de preços provocada pelas
importações.

Sendo os benefícios superiores aos custos em termos de análise de bem-estar, será


possível prosseguir uma política redistributiva que permita transferir parte dos
ganhos dos grupos beneficiados para aqueles que perdem com a abertura do
comércio. A política fiscal, a política de emprego e formação profissional e outras
podem contribuir para melhorar a situação daqueles que perdem, sem com isso
dissipar os ganhos decorrentes da liberalização.

Apesar da existência destes instrumentos de primeiro óptimo para a prossecução


de políticas redistributivas, os Estados optam muitas vezes por recorrer a medidas
de política comercial de forma a controlar o impacto das trocas internacionais na
economia. Que medidas são estas e qual o seu impacto económico – estas são as
questões que trataremos adiante.

2.3 Existe uma grande variedade de medidas de política comercial. Começando


pelas restrições ao comércio, a principal classificação distingue entre os obstáculos
pautais e não pautais. Na primeira categoria encontramos os direitos aduaneiros.
[1] Estes são impostos cobrados geralmente à importação (e, por vezes, à
exportação) que constam de um diploma designado por pauta aduaneira (daí a
designação de obstáculos pautais); o seu efeito sobre as importações traduz-se
num aumento do preço dos bens importados. Na segunda categoria cabem as
quotas ou restrições quantitativas, as restrições aos pagamentos internacionais e os
obstáculos técnicos ao comércio; a limitação das importações verifica-se em função
das quantidades cuja importação é autorizada, criando uma escassez artificial de
bens importados. Uma vez que estas matérias terão tratamento mais aprofundado
ao estudarmos o regime do Acordo OMC (Organização Mundial do Comércio) e
respectivos anexos, iremos por agora considerar apenas o efeito económico dos
direitos aduaneiros e das restrições quantitativas.

2.4. Iremos agora examinar o efeito económico de um direito aduaneiro com o


auxílio de um gráfico (gráfico 1). Este ilustra a situação de um país, A, que
representa uma parte da procura demasiado reduzida para que as variações da
procura interna de importações tenham algum impacto nos preços internacionais.

Nesta hipótese, o preço mundial (PM) é um dado (à semelhança do preço de


mercado para uma empresa em concorrência perfeita). A esse preço a oferta
interna (representada pela curva S) produz a quantidade S 1; mas a quantidade
procurada é D1. Uma vez que a oferta nacional não é suficientemente eficiente para
satisfazer toda a procura interna ao preço mundial, esta dirige-se às importações
(sendo importada a quantidade D1-S1).

Se A introduzir um direito aduaneiro t, todos os produtos importados sofrem um


aumento de preço (mas os produtos nacionais não, consegue explicar porquê?). A
apreciação das importações leva a que já não seja possível manter-se internamente
o equilíbrio ao preço mundial; o novo preço de equilíbrio passa a ser P M+t. Tal
deve-se à redução das importações, agora oneradas pelo direito aduaneiro t. A
quantidade importada passa a ser D2-S2 devido à expansão da produção interna: é
que o aumento de preços torna rentável a produção interna da quantidade S 2-S1.

Considerando agora o gráfico 2, vejamos quais são os efeitos do direito aduaneiro


numa óptica de bem-estar?

 Verifica-se uma transferência de excedente do consumidor para os


produtores nacionais (correspondente ao que os consumidores ao preço
PM+t perdem devido ao impacto do direito aduaneiro), representada pelo
rectângulo a;
 Ocorrem duas distorções da eficiência na afectação de recursos: a primeira
(representada pelo triângulo b) resulta do desvio de recursos de outras
produções devido ao aumento da remuneração possibilitado pelo acréscimo
de preço provocado pelo direito aduaneiro; a segunda traduz-se numa
perda de bem-estar do consumidor (correspondente à área do triângulo d),
correspondendo à não satisfação de consumidores que estariam dispostos a
adquirir o bem em causa ao preço PM.
 O Estado arrecada receitas medidas por t x (D2-S2) e que são representadas
graficamente pelo quadrado c.
 Caso o país em questão constitua uma parte substancial da procura
mundial, o poder de compra pode ser agregado pelo Estado ao impor o
direito aduaneiro: nesse caso a tributação das importações diminui a
procura internacional do bem, levando a uma diminuição do respectivo
preço (de PM para P*T): os ganhos para o país importador ao nível das razões
de trocas são expressos pela área e.

Sem termos por agora em consideração o impacto ao nível da taxa de câmbio (a


diminuição das importações diminui a procura de divisas levando à apreciação da
moeda nacional), podemos verificar que existe um efeito negativo do ponto de
vista da eficiência na afectação de recursos uma vez que ocorrem perdas absolutas
de eficiência produtiva e de bem-estar do consumidor (triângulos b e d,
respectivamente). Internamente ocorre ainda uma redistribuição de recursos a favor
dos produtores, correspondente à área do rectângulo a.

Recordar-se-á que a análise económica aplicada ao direito da concorrência tende a


considerar esta transferência como uma perda de bem-estar na medida em que
cria incentivos para o desperdício de recursos no sentido de obter essa mesma
redistribuição (rent-seeking). Por outras palavras, são lucros supra-normais que os
produtores nacionais podem obter se conseguirem a desejada protecção sob a
forma de direitos aduaneiros. Daí o incentivo para as acções de lobbying que
ciclicamente são desencadeadas por produtores ameaçados pela concorrência
estrangeira. O excedente do consumidor constitui simultaneamente um incentivo
para conseguir protecção aduaneira e uma reserva de lucros supra-normais que
justifica a realização de despesas não produtivas associadas aos grupos de pressão
e sua actuação junto dos poderes políticos. Pelos motivos expostos, as perdas de
eficiência devem incluir também a área a do gráfico 2.

2.5 O grau de protecção conferido aos produtores nacionais pode ser medido
de forma simples atendendo ao critério da protecção nomimal. Tomando o preço
após a imposição da restrição, exprime-se então a protecção em termos de uma
percentagem do preço que seria praticado em comércio livre. Exemplificando, se
um determinado bem tem o preço de 100 e é onerado com um direito aduneiro de
20%, fazendo com que o preço se situe em 120, a protecção nominal corresponde à
taxa do direito ad valorem. No caso de um direito específico será necessário
proceder ao cálculo correspondente face ao preço líquido do bem; assim, se for
imposto um direito de 10 por tonelada e cada tonelada tiver o preço (em mercado
aberto) de 100, a protecção nominal é idêntica à concedida por um direito ad
valorem de 20%.

O reconhecimento da complexidade dos processos de produção e dos padrões de


trocas leva, contudo, a que se recorra a um critério mais elaborado para apurar o
impacto real da protecção, em especial no caso de bens intermédios. Recorrendo
uma vez mais a um exemplo de KRUGMAN e OBSTFELD, vamos supor que o preço
dos automóveis no mercado mundial é de € 8000 e que os respectivos
componentes são negociados internacionalmente ao preço de € 6000.
Consideremos a situação de dois países, A e B: A produz componentes e pretende
desenvolver uma indústria de montagem; B, dispondo já de unidades de
montagem eficientes (com um custo de € 2000 por veículo), quer promover a
produção de componentes. Se A impuser um direito de 25% sobre as importações
de automóveis, o preço destes sobe para € 10000; torna-se assim viável a
montagem em A, mesmo que o custo por veículo ascenda a € 4000. A
protecção efectivaconcedida à indústria de montagem corresponde então a 100%
(o preço era de € 2000 e sobe para € 4000).

Numa era em que os processos de produção estão segmentados


internacionalmente (tirando proveito das vantagens comparadas de cada país em
função do tipo de actividades produtivas em causa), o critério da protecção efectiva
pode assim revelar-se útil na identificação do impacto real de medidas de
protecção comercial.

2.6 Uma das características dos instrumentos de protecção é que eles


apresentam um elevado grau de fungibilidade entre si. Assim, recorrendo uma vez
mais ao gráfico 1 podemos verificar quais são os efeitos de uma quota ou restrição
quantitativa.

Vamos supor que A impõe agora uma restrição quantitativa: apenas é autorizada a
importação de bens na quantidade D2-S2. A escassez de bens importados leva a que
exista um excesso de procura, levando a que os consumidores licitem os bens em
causa e fazendo desta forma deslocar o preço de equilíbrio de P M para PM+t. Nesse
caso é possível distinguir os efeitos de um direito aduaneiro dos de uma restrição
quantitativa? Do ponto de vista da análise estática de bem-estar mantêm-se as
perdas representadas pelas áreas a, b e d. Mas existe uma diferença quanto à
área c; esta deixa de representar uma receita do Estado e passa a configurar lucros
supra-normais que irão reverter a favor dos produtores estrangeiros.

Este efeito de transferência de rendimento para o estrangeiro pode ser mitigado


através de um leilão de quotas, em que os produtores estrangeiros licitam pelo
direito a vender produtos no mercado de A (licitando pelos lucros supra-normais).
Supondo que existe concorrência efectiva no mercado mundial, é possível que
todos estes lucros supra-normais sejam absorvidos pelo Estado desta forma.

Às dificuldades resultantes da apropriação dos lucros supra-normais acrescem os


efeitos perniciosos das quotas na concorrência a nível nacional e na concretização
dos benefícios do princípio da vantagem comparada: as restrições quantitativas
limitam a quantidade de produtos importados, independentemente da eficiência
produtiva da indústria estrangeira; já os direitos aduaneiros, constituindo um
obstáculo, não impedem que os ganhos de eficiência dos produtores estrangeiros
(reflectidos numa redução do custo de produção e do preço do produto) se
venham a manifestar através de uma expansão das importações.

Como se verá mais adiante no curso, estes conceitos económicos encontram


tradução nas normas jurídicas do GATT, em particular no chamado princípio da
protecção aduaneira exclusiva (proibindo as restrições quantitativas, com algumas
excepções notórias, e autorizando os direitos aduaneiros, sujeitando-os a um
quadro negocial que visa a sua redução gradual).

Para mais desenvolvimentos sobre as restrições ao comércio ver (PORTO 2001, 109
e ss.) e KRUGMAN and OBSTFELD (2003, cap. 8).

2.7. A esta demonstração dos custos da protecção contrapõem-se as teses que


defendem a necessidade de medidas proteccionistas por razões de índole
económica, social e política, ainda que aceitando – em maior ou menor medida – a
existência de benefícios do comércio livre.
2.8. Começando pelos argumentos de ordem política, eles prendem-se
sobretudo com a questão da dependência do exterior relativamente a produções
sensíveis, particularmente em caso de conflito internacional, como os produtos
agrícolas, as fontes de energia (e.g. petróleo e gás natural), equipamento bélico e
tecnologias de utilização militar ou de duplo uso (civil e militar). Entendidas de
forma ampla, as necessidades em matéria de segurança nacional poderiam levar a
defender a protecção de indústrias como a dos têxteis e calçado (afinal as tropas
precisam de se vestir e calçar para poderem combater); mas, numa ordem jurídica
ainda caracterizada pela igualdade soberana dos Estados e com instituições
demasiado fracas para providenciarem as necessárias garantias de segurança, deve
reconhecer-se uma certa margem de actuação aos Estados na prossecução de
objectivos ligados à segurança nacional. As fontes convencionais de Direito
Internacional Económico reconhecem esta realidade, sendo disso exemplo o artigo
XXI do GATT.

De qualquer forma, a interdependência dos Estados tem levado a uma gradual


limitação deste tipo de fundamentos a áreas relativamente incontroversas como a
do material bélico, seja por via de restrições às importações seja através de limites
ao controlo da indústria de armamento por estrangeiros. As questões da segurança
no abastecimento de certos bens indispensáveis como o petróleo ou produtos
agrícolas podem ser atenuadas através do armazenamento (e.g. as reservas
estratégicas de petróleo, coordenadas internacionalmente pela Agência
Internacional da Energia).

2.9. Mais frequentes na última década têm sido os argumentos sociais, focando
quer a expansão do emprego nacional pela protecção da produção interna quer a
protecção dos trabalhadores nacionais face à mão-de-obra barata dos países em
desenvolvimento.

O aumento do emprego através do aumento da produção interna constituía um


dos objectivos das políticas prosseguidas por alguns países em resposta à crise de
1929. Nos Estados Unidos ficou famosa a Lei Smoot-Hawley, que aumentou os
níveis médios de protecção aduaneira para 59%. Esta política supunha a ausência
de reacção por parte dos restantes parceiros: o crescimento seria estimulado pela
procura interna (para a qual as importações se tinham tornado pouco atraentes), e
a procura internacional manter-se-ia. Daí a designação destas políticas como
“beggar-thy-neighbour”; elas pretendiam funcionar através da “exploração” dos
parceiros comerciais. Privados de um mercado para as respectivas exportações, os
parceiros dos Estados Unidos responderam à letra, aumentando os respectivos
direitos aduaneiros. O resultado desta medida foi claramente desastroso: não só o
aumento dos direitos aduaneiros trouxe perdas absolutas de bem-estar para a
economia americana (além da transferência de excedente do consumidor para os
produtores nacionais), a retaliação dos outros países limitou o estímulo da procura
ao mercado interno.
Esta experiência histórica, que marca indelevelmente a ordem económica
internacional que emergiu da Segunda Grande Guerra, alerta-nos para os riscos do
recurso a medidas de política comercial como instrumento de estímulo da criação
de emprego.

O segundo enfoque tem em vista um argumento muito comum, sobretudo no


discurso político: o impacto negativo que a abertura ao comércio traz ao expor os
trabalhadores nacionais a importações provenientes de países com custos laborais
muito inferiores. Na campanha presidencial de 1992, Ross Perot, um milionário que
concorria como candidato independente, atacou o acordo de comércio livre então
em negociação entre os Estados Unidos, o Canadá e o México (NAFTA) referindo-se
a um ensurdecedor “giant sucking sound” produzido pela alegada perda de postos
de trabalho a favor do parceiro latino-americano.

O argumento assume uma importante dimensão face ao receio de um


agravamento das desiguldades registadas na distribuição da riqueza a nível interno.
Com efeito, a concorrência internacional faz-se especialmente sentir nos sectores
dos países mais desenvolvidos onde há mão-de-obra menos qualificada,
normalmente situados em regiões relativamente desfavorecidas. A diminuição do
emprego e dos salários destes trabalhadores agravaria as desigualdades face aos
que têm emprego em indústrias mais competitivas internacionalmente e que têm
níveis de remuneração superiores.

Não se devendo deixar de reconhecer a importância destas considerações,


sobretudo do ponto de vista de uma distribuição equitativa, deve antes de mais
chamar-se a atenção para o carácter discutível do nexo estabelecido muitas vezes
entre o aumento das disparidades de rendimento interno e a abertura ao comércio
internacional. O comércio internacional não detém um peso suficientemente
significativo nos países mais desenvolvidos para que lhe possa ser atribuído este
efeito, pelo menos a título de causa principal. É mais provável que as razões do
fosso entre “ricos” e “pobres” se deva a razões tecnológicas e á rápida evolução das
economias desenvolvidas no sentido de uma “economia do conhecimento”, que
premeia a formação profissional elevada e a adaptação a novas formas de
organização do trabalho (situação retratada na obra de Robert REICH, O trabalho
das nações).

Mas será a abertura do mercado à concorrência de países com níveis salariais muito
mais baixos uma verdadeira ameaça aos trabalhadores dos países desenvolvidos?
Os estudos económicos que demonstram a existência de um nexo entre salários e
produtividade (a salários mais baixos corresponde uma baixa produtividade) vêm
pôr em causa aquele receio. E os aumentos de produtividade nesses países não
poderão tornar mais real aquela ameaça? Uma vez mais é necessário considerar o
problema sob uma óptica económica: é que o aumento de produtividade leva ao
aumento da procura de trabalhadores, desde que os salários sejam inferiores ao
valor da produção de um trabalhador adicional; o ajustamento dar-se-á através de
um aumento dos salários motivado por esse aumento da procura, repercutindo os
ganhos de produtividade no custo da mão-de-obra. E se os aumentos de
produtividade forem absorvidos pelos produtores sob a forma de rendas devido a,
entre outros factores, por exemplo, políticas repressivas e que impeçam a liberdade
de associação sindical ou não reconheçam o direito à greve, privando os
trabalhadores dos meios de reivindicação de aumentos salariais correspondentes
aos ganhos de produtividade? Nesse caso a promoção de standards mínimos de
protecção dos direitos dos trabalhadores parece ser a melhor solução para permitir
o livre ajustamento dos mercados de trabalho desses países.

Com excepção do último problema, muito evocado no sentido de um alargamento


das competências da Organização Mundial do Comércio ao domínio laboral,
através de uma “cláusula social” (esquecendo que existe já uma organização
internacional com amplas competências nesse domínio, a Organização
Internacional do Trabalho), os argumentos relativos à protecção dos trabalhadores
dos países mais desenvolvidos pecam por um conceito limitado de justiça, assente
na defesa dos direitos dos que vivem nos países mais ricos em detrimento das
condições de vida nos países em desenvolvimento (e dos consumidores dos países
ricos). Além disso, a existência de mão-de-obra barata não será apenas um
exemplo de uma vantagem comparada?

2.10. Por fim encontramos os argumentos económicos, sendo aqui de destacar a


teoria das indústrias nascentes que defende o recurso à protecção comercial como
forma de estimular o desenvolvimento da indústria nacional. Em contraposição às
teorias clássicas, os seus defensores consideravam que o comércio exigia níveis
próximos de desenvolvimento, pelo que os países menos industrializados tinham
de desenvolver a produção interna antes de poderem obter os benefícios do
comércio livre. Esta tese, desenvolvida por Alexander Hamilton (Report on
Manufactures, 1791) e por Friedrich List (The National System of Political Economy,
1841), recebeu na década de 1980 um novo impulso com a chamada Teoria da
Política Comercial Estratégica.

A Teoria da Política Comercial Estratégica (Strategic Trade Policy) tem por base um
modelo de concorrência monopolística que destaca a importância das economias
de escala e o efeito das economias de aprendizagem ou learning-by doing. Perante
indústrias caracterizadas por um retorno crescente do investimento nas quais
apenas há lugar para um número reduzido de empresas que apropriarão os lucros
supranormais resultantes da estrutura monopolista ou oligopolista, a Teoria da
Política Comercial Estratégica sugere, em primeiro lugar, que o Estado procure
assegurar a presença de pelo menos uma das empresas nacionais nesse oligopólio.
Uma vez que parte desses lucros supranormais provém da exploração de
consumidores situados noutros países, o país ganha como um todo. O exemplo
clássico é o da construção aeronáutica e da rivalidade entre a Boeing e a Airbus.

A intervenção do Estado pode contribuir para modificar os incentivos a nível


microeconómico, alterando a estrutura oligopolística a favor das suas empresas.
Recorrendo ao exemplo já referido da concorrência na construção aeronáutica civil
e aplicando a metodologia da teoria dos jogos, podemos perceber melhor o efeito
prático destes instrumentos estratégicos.

Vamos supor que a Boeing e a Airbus pretendem desenvolver um novo tipo de


aeronave (e.g., um avião com capacidade para 500 passageiros e apto para vôos
transcontinentais). Caso ambas as empresas produzam esse novo avião, a estrutura
será mais concorrencial mas já não poderão recuperar integralmente os custos de
desenvolvimento, sofrendo um prejuízo de 5 (as unidades designam milhares de
milhões de euros). Se nenhuma produzir o avião o resultado será 0 (não há custos
mas também não há qualquer lucro). Já se uma delas produzir e a outra não, a
empresa que produz obtém lucros supranormais de 100. Aplicando estes dados a
uma matriz de incentivos temos que:

AIRBUS
Produzir Não produzir
BOEING Produzir (-5, -5) (100, 0)
Não produzir (0, 100) (0, 0)

Vamos supor que a Boeing dispõe de uma vantagem tecnológica que a habilita a
avançar primeiro. Nesse caso, tendo a Boeing optado pela estratégia “Produzir”, a
única estratégia racional para a Airbus será “Não Produzir”.

Mas se a União Europeia conceder à Airbus uma subvenção de 10, a estrutura de


incentivos é alterada, de tal forma que a estratégia dominante daquela empresa é
sempre produzir, independentemente da escolha da Boeing:

AIRBUS
Produzir Não produzir
BOEING Produzir (-5, 5) (100, 0)
Não produzir (0, 110) (0, 0)

Este modelo muito simples demonstra, assim, os efeitos da utilização de medidas


dirigidas a modificar os incentivos ao nível microeconómico em sectores
caracterizados por economias de escala. No entanto, a racionalidade dos outros
“jogadores” pode gerar uma corrida às subvenções que, a exemplo da espiral
proteccionista, acaba por gerar maiores custos para todos os países (qual seria a
resposta adequada do Governo norte-americano a subsídio de 10? E existe alguma
contra-resposta da União Europeia?).

Além deste fenómeno, a Teoria da Política Comercial Estratégica nota ainda que
certas actividades económicas geram efeitos externos de sinal positivo para a
sociedade através de um mecanismo de spillover ou de alastramento. Um dos
casos paradigmáticos deste tipo de indústrias é, precisamente, o caso das indústrias
com grande intensidade de investigação e desenvolvimento. Perante os problemas
de apropriabilidade dos benefícios resultantes dessa actividade, as empresas
podem produzir menos do que o volume óptimo de inovação. Ao contrário das
políticas dirigidas ao favorecimento de determinados sectores de forma a permitir-
lhes obter o domínio de um mercado internacional, a protecção de sectores que
geram efeitos externos positivos não leva necessariamente a uma situação
de beggar-thy-neighbour.

A Teoria da Política Comercial Estratégica constitui um contributo importante e


valioso para a compreensão das relações comerciais internacionais. Mas as suas
recomendações devem ser entendidas à luz de algumas insuficiências dessa teoria,
sem o que corremos o risco de ela se converter em mera fachada para um neo-
proteccionismo. Sem entrar numa crítica detalhada desta tese, examinemos um dos
principais problemas que ela suscita.

A questão que aqui queremos tratar respeita à identificação dos sectores que seriam
caracterizados por esses efeitos externos positivos e é frequentemente suscitado a
propósito da definição da política industrial. São bem conhecidas as dificuldades
que se levantam quanto às intervenções de carácter sectorial que tendem a fazer
substituir o mecanismo de decisão pelo mercado quanto à afectação óptima de
recursos por opções do Estado, que escolhe sectores ditos estratégicos, ou mesmo
empresas concretas (picking up winners), dessa forma canalizando para elas
recursos que o mercado teria afecto a outras actividades. Tais intervenções tendem
a distorcer o funcionamento dos mercados, alterando os sinais de estímulo dos
agentes económicos com reflexos internos e externos.

Ora, as novas concepções de política industrial tendem cada vez mais a abandonar
esse tipo de intervenções sectoriais e a preferir-lhes instrumentos horizontais de
intervenção, reservando para o Estado um papel de regulador através da política da
concorrência e da política industrial, tendo esta última por objectivo “promover a
concorrência e a eficiência da indústria”, correspondendo assim a uma estratégia de
desenvolvimento industrial.

A própria noção de sectores estratégicos indicia, desde logo, uma deriva


conceptual. Como vimos, a Teoria da Política Comercial Estratégica defende a
promoção e defesa de sectores caracterizados por efeitos externos positivos. Mas a
noção de sector estratégico tem implícita uma noção valorativa em que esses
efeitos externos tendem a ser mais de natureza política do que económica e os
seus beneficiários mais os sectores com maior capacidade de mobilização do que
os sectores verdadeiramente caracterizados por positive externalities. E a verdade é
que os recursos públicos ou privados que venham a ser canalizados para esse
sector serão necessariamente desviados de outras finalidades.
Para mais desenvolvimentos ver PORTO (2001, 162-194); MOURA E SILVA (2003a,
41-50); KRUGMAN e OBSTFELD (2003, cap. 9).

2.11. Os argumentos acima examinados mostram que existem fundamentos


válidos para a intervenção do Estado no sentido de regular ou corrigir eventuais
falhas de mercado; por outro lado, os instrumentos de política comercial podem,
em determinadas condições, contribuir para atingir esses fins. Mas o que é
determinante para podermos ajuizar da bondade destas medidas é a análise do seu
custo por comparação com os benefícios que delas decorrem.

É neste ponto que devemos chamar a atenção para a Teoria das Divergências
Domésticas. No dizer de PORTO, (2003, 148) “A grande inovação da teoria das
divergências domésticas consistiu em ter vindo distinguir dois planos, mostrando
que sempre que haja qualquer divergência ou distorção […] no mercado só é
eficiente (na lógica do princípio de Pareto, sendo atingido o objectivo desejado
sem que se originem novas distorções), uma solução directamente dirigida e
circunscrita à correcção da divergência ou distorção em causa”.

O recurso a medidas de protecção comercial raramente corresponderá àquele


critério de eficiência, existindo na generalidade dos casos pelo menos outro tipo de
medidas que permite corrigir a distorção sem agudizar as perdas de eficiência. O
caso paradigmático e a que voltaremos quando falarmos das medidas de
salvaguarda no âmbito do sistema GATT/OMC é o da protecção das indústrias
senescentes, i.e., dos sectores em declínio (seja por maior exposição a concorrentes
mais eficientes, seja por razões de mudança tecnológica ou alterações das
preferências dos consumidores). A manutenção artificial de empresas à custa das
distorções geradas pela protecção comercial raramente conseguirá alcançar os
resultados pretendidos (antes gerando uma cultura popularmente apelidada de
“subsídio-dependência”). Assim, se a preocupação social é a situação dos
trabalhadores, parece preferível optar por medidas de apoio directo, de preferência
dirigidas à sua reintegração no mercado de trabalho.

Para mais desenvolvimentos ver PORTO (2001, 147-162).

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

KRUGMAN, P. e M. OBSTFELD (2003). International Economics -- Theory and


Practice. Boston, Addison-Wesley.

MOURA E SILVA, M. (2003a). Inovação, Transferência de Tecnologia e Concorrência


- Estudo Comparado do Direito da Concorrência dos Estados Unidos e da União
Europeia. Coimbra, Almedina.

PORTO, M. C. L. (2001). Teoria da Integração e Políticas Comunitárias. Coimbra,


Almedina. pp. 147-194
[1] Os direitos aduaneiros assumem a forma de direitos ad valorem (em função do
valor do bem sobre o qual incidem, e.g. um direito de 10% sobre leitores de MP3),
direitos específicos (fixados em função das unidades do bem importado, e.g. 5€ por
barril de petróleo), ou mistos, combinando as duas primeiras formas. Por vezes os
direitos aduaneiros são aplicados com base em contingentes tarifários; estes não
são restrições quantitativas na medida em que não impõem limites ao volume de
importações, identificando apenas um tratamento mais favorável para as
importações até uma determinada quantidade e agravando a tributação acima
desse volume.

2.3. A política comercial comum da União Europeia


O que é a política comercial da UE – o meu trabalho

2.4. Desafios do comércio internacional (1):


Multilateralismo, unilateralismo e integração
económica
Nada

2.5. Desafios do comércio internacional (2): Comércio


e desenvolvimento sustentável
[Em construção]

Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.


Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022, capítulo
12 (pp. 342-346).

O caso Camarões/Tartarugas

 Sumário: One page summary


 Página do caso na
OMC: https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds58_e.htm

O caso Amianto

 Sumário: One page summary


 Página do caso na
OMC: https://www.wto.org/english/tratop_e/dispu_e/cases_e/ds135_e.htm

3.1. Balança de pagamentos: conceito e funções
 Apresentação
 Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.
Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022,
capítulo 13.

Banco de Portugal:

 O que são as balanças corrente e de capital?


 Estatísticas da Balança de pagamentos de Portugal

+vídeos
3.2. Taxas de câmbio e mercados cambiais
[Em construção]

Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.


Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022, capítulo
14.

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3.3. A relação entre política monetária, política
cambial e as relações económicas internacionais
[Em construção]

Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.


Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022, capítulo
18 (pp. 543 a 569).

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3.4. Sistemas monetários internacionais: Perspetiva
histórica
[Em construção]

Leitura recomendada: Paul R. Krugman, Maurice Obstfeld, Marc J.


Melitz, International Economics, 12.ª ed., Pearson Education, Boston, 2022, capítulo
18 (pp. 569-572) e capítulo 19.
Vídeos
4.1. O papel do Fundo Monetário Internacional no
financiamento da economia internacional

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