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“Os últimos 15 anos foram uma era dourada de inovação no domínio da Economia
Internacional. No entanto, devo concluir de forma algo pessimista que estas
inovações não constituem uma prioridade para os actuais estudantes de
licenciatura. Na última década do Século XX, o que continua a ser essencial ensinar
aos estudantes são os contributos de Hume e de Ricardo. Ou seja, devemos
ensinar-lhes que os défices comerciais são auto-correctivos e que os benefícios do
comércio não dependem da existência de uma vantagem absoluta por parte de um
país sobre os seus rivais. Se conseguirmos ensinar os nossos alunos a desconfiar
quando ouvirem alguém falar de ‘competitividade’, teremos prestado um grande
serviço à nossa nação”.
Se a passagem dos limites territoriais de uma região para outra não tem
geralmente qualquer impacto na vida económica, o mesmo não se pode dizer das
transacções que envolvem a transposição da fronteira de um Estado ou espaço de
integração económica.
Assim, supondo que existem apenas dois países, A e B, se o valor das importações
de um determinado país (A) exceder o das suas exportações num determinado ano,
a saída de activos monetários conduz a um fenómeno de deflação a nível interno
(os preços diminuem já que o seu valor deve ser denominado num stock monetário
mais reduzido). Esses activos entram no país B, que registou um excedente,
aumentando assim a moeda em circulação e gerando um fenómeno inverso ao de
A – a inflação dos preços. Ao fim de algum tempo, os preços terão subido de tal
forma em B (e descido em A) que os produtos do país excedentário se tornarão
pouco atraentes para os consumidores de A (e, inversamente, os produtos de A
terão preços tão baixos que atrairão a procura dos consumidores de B). Seguir-se-
á, então, um movimento reflexo pelo qual o aumento da procura dos produtos de
A levará este país a registar um excedente e B um défice na sua balança comercial,
com movimentos monetários inversos.
Retomando o exemplo, podemos postular uma razão de troca, situada num ponto
intermédio relativamente aos preços em cada espaço antes da abertura ao
comércio (na União Europeia: uma unidade de trigo é trocada por 3/4 de uma
unidade de têxteis; nos Estados Unidos: uma unidade de têxteis é trocada por duas
unidades de trigo); fixemos assim, ainda seguindo Samuelson e Nordhaus, que
duas unidades de trigo são trocadas por três unidades de têxteis e fixemos um
valor em euros: uma unidade de trigo vale 2€ e uma unidade de têxteis 3€.[2]
1.5. Para Krugman e Obstfeld (2003, 32) o modelo de Ricardo contém várias
insuficiências:
1.6 O principal modelo que nos oferece uma explicação alternativa à teoria
ricardiana resulta do contributo de dois economistas suecos (Eli Heckscher e Bertil
Ohlin), tendo sido aprofundado por Paul Samuelson. O chamado teorema
Heckscher-Ohlin assenta no pressuposto de que os países tendem a beneficiar de
uma vantagem comparada na produção de bens que utilizam os factores mais
abundantes de forma mais intensiva, postulando ainda a imobilidade dos factores
de produção. Assim, um país A com maior abundância do factor trabalho (e relativa
escassez do factor capital) tenderá a exportar bens que incorporem maior
intensidade de mão-de-obra (labour-intensive); já um país B com maior abundância
do factor capital exportará bens que empreguem com maior intensidade este factor
(capital-intensive) e a importar os que incorporam maior intensidade do factor
trabalho.
Para mais desenvolvimentos sobre as teorias tecnológicas ver PORTO (2001, 61-64).
O progresso tecnológico é hoje em dia encarado como um dos principais motores
do crescimento económico devido ao seu impacto na produtividade dos factores
de produção; ver MOURA E SILVA (2003a, 34-41).
Com Krugman e Obstfeld (2003, cap. 6), que iremos seguir neste ponto, podemos
classificar as economias de escala como externas (o custo depende da dimensão do
sector mas não necessariamente da dimensão das empresas – raciocínio que está
na base dos “clusters” ou aglomerados de empresas) ou internas (o custo por
unidade depende da dimensão da empresa em particular mas não necessariamente
da dimensão da indústria)
[1] Os efeitos redistributivos podem ser sentidos: (i) por quem detém factores
específicos a uma determinada produção (e.g. uma fábrica de produtos químicos
que não pode ser reconvertida caso a abertura das trocas a exponha à concorrência
de produtores estrangeiros com uma vantagem comparada), aspecto tratado no
chamado modelo dos factores específicos (KRUGMAN e OBSTFELD 2003, cap. 3); e
(ii) ao nível de grandes agregados (e.g. trabalho e capital) (problema descrito pelo
Teorema Stolper-Samuelson).
[3] Sobre o conceito de path dependence e os efeitos de rede que a ele estão
associados ver MOURA E SILVA (2003, 87-103).
[4] Na “nova economia” (designação dada aos sectores com maior intensidade
tecnológica) também os factores ligados à procura podem estimular o
desenvolvimento de estruturas de concorrência imperfeita através dos chamados
efeitos de rede. Um caso típico deste efeito é o domínio da Microsoft no mercado
dos sistemas operativos e a sua posição dominante em algumas aplicações
informáticas. Como sabemos, este tipo de falhas de mercado é tratado pelo direito
da concorrência; ver MOURA E SILVA (2003).
Assim sendo, quem ganha e quem perde? Como Krugman et al. referem (p. 91), “o
comércio beneficia o fator específico ao setor exportador de cada país, mas
prejudica o fator específico aos setores que concorrem com as importações, com
efeitos ambíguos para fatores móveis”.
Se temos quem ganhe e quem perca e se o país no seu todo fica melhor com a
abertura ao comércio internacional, não seria possível que os ganhadores
compensem quem perde, de modo a que ninguém fique pior que antes da
abertura ao comércio internacional? Como referem Krugman et al. (p. 92), com a
abertura ao comércio internacional existe uma expansão das escolhas da economia
nacional - ou seja, o comércio permite que se consuma mais de ambos os bens,
pelo que é possível dar mais de cada bem a cada indivíduo, desde que exista um
mecanismo de redistribuição dos ganhos do comércio.
Como referem (Krugman et al., 149), estes modelos partilham um conjunto de características:
relativa mundial, ficando esta última entre as curvas de oferta relativa nacionais.
O modelo-padrão do comércio internacional trata estes diferentes modelos como casos especiais
e permite avaliar os efeitos de alterações da oferta mundial resultantes do crescimento
económico bem como o impacto na procura e na oferta de medidas de política comercial, como
os direitos aduaneiros e os subsídios à exportação.
(Krugman et al., 150) identificam quatro relações fundamentais em que se baseia o modelo-
padrão:
relativa mundial;
Os termos de troca são o resultado da divisão do preço das exportações de um país pelo preço
das respetivas exportações.
No modelo-padrão temos dois países que produzem dois bens - comida (F) e têxteis (C). A
fronteira de possibilidades de produção de cada país é expressa na curva TT na figura 6-1.
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O que acontece se o preço de C subir?
Figura 6-1
O ponto em que um país produz uma certa quantidade de F e de C (um ponto ao longo da curva
TT) é determinado preço preço relativo de C face ao preço de F. O valor de mercado da
produção é indicado por uma linha de isovalores. Quanto mais acima e à direita a linha, maior o
valor da produção.
Agora C vale mais relativamente a F, pelo que a linha de isovalores torna-se mais inclinada. Na
figura 6-2, a linha de isovalores mais alta que podia ser atingida antes do aumento do preço de C
era VV1, após a subida do preço de C passa a ser a linha VV2, passando a produção de Q1 para
Q2
Figura 6-2
O valor do consumo da economia de um país é igual ao valor da sua produção, pelo que
produção e consumo devem situar-se na mesma linha de isovalores. O ponto exato depende das
preferências dos consumidores, as quais se podem representar por curvas de indiferença - que
representam diferentes combinações de quantidades de consumo de C e F que têm a mesma
utilidade para um consumidor hipotético (daí a indiferença relativamente a qualquer uma destas
combinações - o bem-estar desse consumidor é sempre igual ao longo da linha de isovalores).
Figura 6-3
Assim, o bem-estar social será maximizado quando o consumo se situa no ponto mais alto
possível da linha de isovalores, tangencial à mais alta curva de indiferença que possa ser
alcançada (o ponto D). Neste ponto, para maximizar o consumo de T e F, o país exporta C e
importa F.
Figura 6-4
Naturalmente, se C aumenta o seu valor, tal leva a um aumento da oferta relativa de C - o país
produz mais C e menos F, pelo que a quantidade produzida passa de Q1 para Q2. Mudamo
então
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para outra linha de isovalores (mais inclinada) VV2, onde se determina a quantidade consumida
que passa de D1 para D2.
1. i) Ao mudar para uma curva de indiferença mais alta, o bem-estar social aumenta. Tal
ocorre
porque, como o país produz C, o aumento de preço deste permite importar mais F - o
aumento do preço relativo do bem exportado representa um ganho para o bem-estar
deste país.
2. ii) A variação dos preços relativos leva a uma deslocação ao longo da curva de
indiferença para um aumento do consumo de F e uma diminuição do consumo de C (por
este ser agora relativamente mais caro).
3) Determinação do preço mundial de equilíbrio pela oferta relativa mundial e pela procura
relativa mundial
Figura 6-5a
Figura 6-5b
O preço de equilíbrio mundial é-nos dado pelo ponto onde as curvas da procura relativa e da
oferta relativa mundiais se intersetam (ponto 1 na figura 6-5a).
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Quando o preço de C aumenta relativamente ao preço de F, o país que exporta C fica melhor
que antes (o preço dos bens exportados aumenta relativamente ao preço dos bens importados).
Inversamente, se o preço de C baixar, o país exportador de C fica pior (o preço dos bens
exportados diminui relativamente ao preço dos bens importados).
Assim, como referem (Krugman et al. 155), um aumento dos termos de troca aumenta o bem-
estar de um país, enquanto uma diminuição dos termos de troca reduz o seu bem-estar (mas
nunca abaixo do nível de bem-estar na ausência de comércio).
Aplicações do modelo-padrão
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Figura 6-6
Figura 6-7
Assim, como sintetizado por (Krugman et al., 159), O crescimento enviesado a favor das
exportações tende a piorar os termos de troca desse país em benefício do resto do mundo; o
crescimento enviesado a favor dos produtos importados tende a melhorar os termos de troca
em detrimento do resto do mundo.
A aplicação de direitos aduaneiros sobre um bem importado faz com que este se torne mais caro
no mercado interno. Já um subsídio à exportação aumenta o lucro dos exportadores, fazendo
com que seja mais lucrativo exportar que vender no mercado interno. Em consequência disto, o
preço dos produtos exportados sobe no mercado interno. Quando um país representa uma parte
importante do mercado mundial, os direitos aduaneiros e os subsídios à exportação alteram a
oferta e procura relativas nos mercados mundiais, levando a alterações dos termos de troca.
Contudo, os efeitos da imposição de direitos aduaneiros por um país de grande dimensão são
ambíguos: por um lado, a melhoria dos termos de troca beneficiam esse país, em detrimento do
resto do mundo; no entanto, o direito aduaneiro tem custos sobre a forma da distorção dos
incentivos à produção e consumo internos. Se o direito aduaneiro for muito elevado, o efeito de
distorção pode superar os ganhos em termos de troca.
Quanto aos subsídios à exportação, o seu impacto no bem-estar do país que os concede é sempre
negativo. O resto do mundo ganha, ao ter acesso aos produtos exportados a preços mais baixos.
Por outro lado, o país exportador perde com a deterioração dos termos de troca bem como
devido à distorção de eficiência no mercado interno.
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1.5. Economias de escala, concorrência imperfeita e (des)localização da produção
As economias externas são um fenómeno já identificado por Alfred Marshall nos seus
Principles of Economics, de 1890. Podemos ilustrar o fenómeno com alguns exemplos atuais:
Silicon Valley para a indústria das tecnologias da informação; Hollywood, para o cinema; ou as
muitas cidades chinesas especializadas na produção de botões e fechos de correr (a cidade de
Quiaotou produz cerca de 60%), isqueiros ou roupa interior. Em Portugal, podemos pensar nos
fornecedores de peças automóveis situados em torno da fábrica da Autoeuropa, ou na produção
de vidro e moldes na Marinha Grande.
As razões para a formação destes “clusters” especializados são complexas, podendo ser
agrupadas em três categorias: 1) a aglomeração de fornecedores especializados; 2) a agregação
de trabalhadores especializados; 3) os efeitos externos da difusão do conhecimento.
Pensando no caso dos botões, a existência de economias externas faz com que o custo dos
botões diminua à medida que aumenta a produção e o consumo (como sucedâneos do número
de empresas) (v. Figura 7-1).
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Figura 7-1
Caso seja possível o comércio entre os Estados Unidos e a China, o facto de a produção de
botões nesta última descer mais à medida que aumenta a produção fará com que esta acabe por
conseguir ficar com toda a produção de botões (o preço dos botões nos Estados Unidos será
mais baixo ao abrir o mercado às importações chinesas do que na ausência de comércio, em que
a procura tem de ser satisfeita com a produção nacional). Por outro lado, ao aumentar a
produção, a China consegue reduzir ainda mais os seus custos de produção (porque passa a
produzir quantidades para satisfazer quer a procura interna, quer a procura dos Estados Unidos).
Podemos aqui pensar no caso das máscaras de proteção individual que, no início da pandemia
COVID-19, eram produzidas sobretudo na China, criando problemas de abastecimento até que
foi desenvolvida capacidade de produção adicional.
Olhando agora para o mundo atual, verificamos que alguns dos pressupostos históricos que
levaram à formação destes “clusters” há muito deixaram de ser relevantes; todavia, alguns
destes mantiveram a sua posição incontestada. Hollywood foi o grande centro de produção de
filmes porque estes eram filmados no exterior e a Califórnia oferecia o maior número de horas
de sol. Hoje que os filmes são sobretudo gravados em estúdio, outros elementos (concentração
de profissionais; “spillovers” de conhecimento; fixação de fornecedores) continuam a preservar
essa posição histórica. Por outras palavras, por vezes o facto de uma localização ser pioneira na
atração de um determinado sector pode fazer com que essa vantagem perdure no tempo, mesmo
que outra localização estivesse atualmente em condições de oferecer um preço de equilíbrio
mais baixo.
Uma ilustração destas vantagens é-nos dada pela chamada “curva de aprendizagem” - os custos
dependem da experiência, aferida em volume de produção (quanto mais se produz, mais baixo o
custo de produção) (ver Figura 7-2). Neste caso falamos de retornos crescentes dinâmicos
(“dynamic increasing returns”). Teremos ocasião de ver que este fenómeno pode constituir um
argumento a favor de medidas protecionistas
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Figura 7-2
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Apesar destes ganhos de escala, uma parte significativa das empresas não exporta os seus bens e
serviços. Em Portugal, no ano de 2021 o número de empresas exportadoras era de 5,63% do
total. Ou seja, 94,7% das empresas não participam no comércio internacional (incluindo o
comércio intra-UE!) (fonte: Banco de Portugal: https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/
publicacoes/1522). Contudo, no elenco das empresas exportadoras encontramos uma grande
percentagem do volume de negócios das empresas nacionais (35,19%), sendo também estas
empresas responsáveis por quase um quarto do emprego (24,7%). Esse efeito de escala que se
traduz em vantagens comparadas que induzem o comércio internacional é evidente se olharmos
para a composição do sector exportador (as 5,63% do total de empresas). De entre estas, as
grandes empresas (2,1% do total de empresas exportadoras) representam 56,54% do volume de
negócios do sector exportador e empregam 41,29% dos trabalhadores neste sector.As médias
empresas (10,1% do sector exportador) agregam 25,95 do volume de negócios do sector e
empregam 34,55% dos trabalhadores).
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No mesmo ano de 2021, em termos geográficos - lembremos o tema das economias externas - o
maior número de empresas está localizado no norte do país (41,89%) e na área metropolitana de
Lisboa (29,15%), com 19,24% no centro e uma composição muito mais baixa no Alentejo,
Algarve, RA Madeira e RA Açores (Ver Banco de Portugal, número de empresas do sector
exportador por região). Quando olhamos para a importância do volume de negócios, contudo, o
norte do país é ultrapassado pela área metropolitana de Lisboa, que concentra 42,68% do
volume de negócios, com o norte a representar 31,29% e o centro 17,19% (o que mostra que o
maior número de empresas exportadoras no norte inclui um peso substancial de pequenas
empresas e microempresas) (Ver Banco de Portugal, volume de negócios do sector exportador
por região). Já no emprego, o norte do país retoma o primeiro lugar, com 43,31% dos
trabalhadores, seguido da área metropolitana de Lisboa, com 29, 21% (Ver Banco de Portugal,
número de pessoas ao serviço do sector exportador por região). Mais dados sobre o sector
exportador disponíveis em https://bpstat.bportugal.pt/conteudos/publicacoes/1522.
Segundo a Agencia para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), com base em
dados do INE, em 2022 Portugal teve mais 6 mil empresas exportadoras (https://
www.portugalexporta.pt/noticias/6-mil-novas-empresas-exportadoras-2022) (na realidade um
aumento líquido de 963 empresas face a 2021, o saldo entre novos exportadores e exportadores
perdidos).
Como seria previsível, no top das empresas exportadoras encontramos empresas de grande
dimensão em sectores onde as economias de escala são essenciais: Petrogal, Volkswagen
Autoeuropa, Navigator, a Continental Mabor ou a Bosch Car Multimedia Portugal. Note-se que
metade dos 10 maiores exportadores são também os maiores importadores.
O peso do mercado espanhol nas nossas exportações ronda os 62%, o que se compreende bem
face ao modelo gravitacional do comércio.
Mas porque é que a maioria das empresas portuguesas não participa nas exportações? Tal deve-
se ao facto de o comércio internacional envolver custos mais elevados do que vender para o
mercado nacional. Aliás, as estatísticas comerciais mostram que existe um certo nível de
especialização em certos mercados. Por exemplo, Espanha foi o único mercado de exportação
para 938 empresas em 2021 (12,8% do total de empresas exportadoras para Espanha) e para
1969 empresas, Angola foi o único mercado de exportação (quase metade do total de empresa
exportadoras para Angola) (fonte: AICEP com dados do INE:
https://www.portugalglobal.pt/PT/ PortugalNews/Paginas/NewDetail.aspx?newId={28B8F263-
3E01-433D-9D62-30B5C7299051}.
O Investimento Direto Estrangeiro (IDE, ou, em inglês, Foreign Direct Investment - FDI)
corresponde à aquisição pela empresa de um país de ativos noutro país. Para efeitos estatísticos,
existe IDE quando uma empresa de um país adquire mais de 10% do capital ou direitos de voto
numa empresa residente noutro país (o chamado brownfield FDI) ou quando uma empresa de
um país investe na criação de uma fábrica, por exemplo, noutro país (geralmente designado
como greenfield FDI, porque se trata de um investimento de raiz). (Ver o texto da AICEP
“Investimento direto português no estrangeiro: o que é e enquadramento”).
Exemplo 2: A Fosun International Limited, uma empresa chinesa, adquiriu cerca de 85% do
capital social da seguradora portuguesa Fidelidade, na sequência da privatização desta, tendo
por isso o controlo desta empresa nacional. (Ver Informação institucional Fidelidade). Este é um
caso de brownfield FDI.
Pode encontrar dados sobre o IDE a nível mundial, com a possibilidade de individualização por
país, em https://unctad.org/publication/world-investment-report-2023.
Neste gráfico podemos ver os fluxos de atração de investimento estrangeiro (inward investment)
Note-se que só muito recentemente é que os países em desenvolvimento ultrapassaram os países
desenvolvidos como receptores de investimento estrangeiro. O gráfico permite acompanhar
claramente as várias crises económicas ao longo deste período: a crise da Argentina (1998-
2002), o rebentar da bolha das empresas tecnológicas no início do século XXI (dot-com bubble),
a crise financeira de 2008, a pandemia COVID-19 em 2020.
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As empresas multinacionais - IDE e outsourcing
mãe (replicando as atividades desta, por exemplo, uma fábrica de semi-condutores); - IDE
vertical: a subsidiária opera ao nível de um dos patamares da cadeia de valor (por exemplo, uma
empresa de semi-condutores, como a Intel, concentra as atividades de
concepção e desenho dos “chips” de silício nos Estados Unidos, onde têm acesso a
trabalhadores altamente especializados e cria uma subsidiária na China, onde são produzidos os
semi-condutores, atividade que incorpora mão-de-obra intensiva menos especializada).
A dimensão das empresas multinacionais é desde há muito vista como um problema económico
e político, sobretudo pelos países de acolhimento. A sua dimensão pode ser comparada à de
estados. Segundo Krugman et al., 226, considerando o ano de 2015, o volume de vendas das
100 maiores multinacionais correspondia a 10,7% do PIB mundial. Contudo, como aqueles
autores salientam, estes dados sobrestimam grandemente o peso das multinacionais: por um
lado, o PIB nacional é calculado com base em valor acrescentado - os produtos intermédios não
são contabilizados; por outro, as vendas das multinacionais são contabilizadas duas vezes, uma
como produtores de bens intermédios e outra como as vendas dos produtos finais que
incorporam esses bens intermédios. Uma comparação baseada no valor acrescentado resulta
num valor mais módico, ainda assim, elevado, de 2% do PIB mundial.
O IDE vertical é característico das atuais cadeias de valor, onde os diferentes níveis são
divididos por várias empresas em diferentes pontos do globo, de modo a combinar as diferentes
vantagens
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comparadas dos países envolvidos. Para um exemplo, veja a complexa cadeia de produção do
iPhone: https://www.cnbc.com/video/2018/12/14/apple-iphone--what-is-inside.html
Neste vídeo são referidas as chamadas “terras raras”, minérios muito raros e que apenas podem
ser obtidos em minas localizadas num número limitado de países. Como se refere neste vídeo, a
China é o maior fornecedor mundial de terras raras. Há alguns anos, a limitação de exportações
de alguns desses metais pela China levou à apresentação de queixas junto do mecanismo de
resolução de litígios da OMC, tendo este concluído que tais restrições violavam as regras do
sistema GATT/OMC.
As cadeias globais de abastecimento estão sob pressão crescente nos últimos anos, primeiro
devido ao COVID-19 e, mais recentemente, devido à invasão da Ucrânia pela Rússia e às
crescentes tensões geopolíticas entre o bloco ocidental, por um lado, e a China, por outro. Face
à política dos Estados Unidos e da União Europeia de restrição de exportações de semi-
condutores avançados para a China, por razões estratégicas (segurança nacional), a China impôs
no verão de 2023 restrições à exportações de dois metais raros: o gálio e o germânio, invocando
igualmente questões de segurança nacional. Ver o vídeo da CNN: https://edition.cnn.com/
2023/07/03/business/germanium-gallium-china-export-restrictions/index.html.
O que leva uma empresa de um país a decidir investir noutro país? A resposta é diferente para o
caso do IDE horizontal ou do IDE vertical. O IDE horizontal é sobretudo motivado pela redução
dos custos do comércio internacional e pelo aproveitamento de vantagens de proximidade aos
clientes. Já o IDE vertical está ligado à crescente globalização económica e ao aproveitamento
da vantagem comparada para reduzir os custos de produção nos vários níveis da cadeia de valor.
Como vimos no caso português, as maiores empresas exportadoras são também metade das
maiores importadoras. Tal deve-se ao facto de o abastecimento de bens intermédios através da
importação ser sobretudo feito por empresas de maior dimensão, além de a experiência de
operar em diferentes mercados favorecer uma cultura interna adaptada ao abastecimento de
produtos intermédios em diferentes países. Geralmente, o custo de coordenação com um
fornecedor estrangeiro e as economias de escala que ditam este tipo de estrutura de cadeia de
valor fazem com que sejam as empresas mais produtivas a recorrer a este tipo de contratação. E
aqui as empresas multinacionais são geralmente mais produtivas (ver a notícia do Expresso -
Multinacionais representaram mais de 80% do valor acrescentado bruto em 2021: https://
expresso.pt/economia/empresas/2023-04-18-Multinacionais-representaram-mais-de-80-do-
valor-acrescentado-bruto-em-2021-5f172d71).
2.1 Como afirma Paul Samuelson, o comércio livre promove uma afectação de
recursos mais eficiente a nível internacional, aumenta o produto potencial de todas
as nações e torna possíveis níveis de vida mais elevados em todo o mundo. Apesar
dos argumentos económicos a favor do comércio internacional, este continua a
suscitar viva contestação – agora bem patente em praticamente todas as reuniões
importantes das principais organizações economicas internacionais. Sendo muitas
as razões desta oposição a uma maior abertura do comércio, pelo menos parte dos
fundamentos prende-se com os efeitos redistributivos já referidos.
2.5 O grau de protecção conferido aos produtores nacionais pode ser medido
de forma simples atendendo ao critério da protecção nomimal. Tomando o preço
após a imposição da restrição, exprime-se então a protecção em termos de uma
percentagem do preço que seria praticado em comércio livre. Exemplificando, se
um determinado bem tem o preço de 100 e é onerado com um direito aduneiro de
20%, fazendo com que o preço se situe em 120, a protecção nominal corresponde à
taxa do direito ad valorem. No caso de um direito específico será necessário
proceder ao cálculo correspondente face ao preço líquido do bem; assim, se for
imposto um direito de 10 por tonelada e cada tonelada tiver o preço (em mercado
aberto) de 100, a protecção nominal é idêntica à concedida por um direito ad
valorem de 20%.
Vamos supor que A impõe agora uma restrição quantitativa: apenas é autorizada a
importação de bens na quantidade D2-S2. A escassez de bens importados leva a que
exista um excesso de procura, levando a que os consumidores licitem os bens em
causa e fazendo desta forma deslocar o preço de equilíbrio de P M para PM+t. Nesse
caso é possível distinguir os efeitos de um direito aduaneiro dos de uma restrição
quantitativa? Do ponto de vista da análise estática de bem-estar mantêm-se as
perdas representadas pelas áreas a, b e d. Mas existe uma diferença quanto à
área c; esta deixa de representar uma receita do Estado e passa a configurar lucros
supra-normais que irão reverter a favor dos produtores estrangeiros.
Para mais desenvolvimentos sobre as restrições ao comércio ver (PORTO 2001, 109
e ss.) e KRUGMAN and OBSTFELD (2003, cap. 8).
2.9. Mais frequentes na última década têm sido os argumentos sociais, focando
quer a expansão do emprego nacional pela protecção da produção interna quer a
protecção dos trabalhadores nacionais face à mão-de-obra barata dos países em
desenvolvimento.
Mas será a abertura do mercado à concorrência de países com níveis salariais muito
mais baixos uma verdadeira ameaça aos trabalhadores dos países desenvolvidos?
Os estudos económicos que demonstram a existência de um nexo entre salários e
produtividade (a salários mais baixos corresponde uma baixa produtividade) vêm
pôr em causa aquele receio. E os aumentos de produtividade nesses países não
poderão tornar mais real aquela ameaça? Uma vez mais é necessário considerar o
problema sob uma óptica económica: é que o aumento de produtividade leva ao
aumento da procura de trabalhadores, desde que os salários sejam inferiores ao
valor da produção de um trabalhador adicional; o ajustamento dar-se-á através de
um aumento dos salários motivado por esse aumento da procura, repercutindo os
ganhos de produtividade no custo da mão-de-obra. E se os aumentos de
produtividade forem absorvidos pelos produtores sob a forma de rendas devido a,
entre outros factores, por exemplo, políticas repressivas e que impeçam a liberdade
de associação sindical ou não reconheçam o direito à greve, privando os
trabalhadores dos meios de reivindicação de aumentos salariais correspondentes
aos ganhos de produtividade? Nesse caso a promoção de standards mínimos de
protecção dos direitos dos trabalhadores parece ser a melhor solução para permitir
o livre ajustamento dos mercados de trabalho desses países.
A Teoria da Política Comercial Estratégica (Strategic Trade Policy) tem por base um
modelo de concorrência monopolística que destaca a importância das economias
de escala e o efeito das economias de aprendizagem ou learning-by doing. Perante
indústrias caracterizadas por um retorno crescente do investimento nas quais
apenas há lugar para um número reduzido de empresas que apropriarão os lucros
supranormais resultantes da estrutura monopolista ou oligopolista, a Teoria da
Política Comercial Estratégica sugere, em primeiro lugar, que o Estado procure
assegurar a presença de pelo menos uma das empresas nacionais nesse oligopólio.
Uma vez que parte desses lucros supranormais provém da exploração de
consumidores situados noutros países, o país ganha como um todo. O exemplo
clássico é o da construção aeronáutica e da rivalidade entre a Boeing e a Airbus.
AIRBUS
Produzir Não produzir
BOEING Produzir (-5, -5) (100, 0)
Não produzir (0, 100) (0, 0)
Vamos supor que a Boeing dispõe de uma vantagem tecnológica que a habilita a
avançar primeiro. Nesse caso, tendo a Boeing optado pela estratégia “Produzir”, a
única estratégia racional para a Airbus será “Não Produzir”.
AIRBUS
Produzir Não produzir
BOEING Produzir (-5, 5) (100, 0)
Não produzir (0, 110) (0, 0)
Além deste fenómeno, a Teoria da Política Comercial Estratégica nota ainda que
certas actividades económicas geram efeitos externos de sinal positivo para a
sociedade através de um mecanismo de spillover ou de alastramento. Um dos
casos paradigmáticos deste tipo de indústrias é, precisamente, o caso das indústrias
com grande intensidade de investigação e desenvolvimento. Perante os problemas
de apropriabilidade dos benefícios resultantes dessa actividade, as empresas
podem produzir menos do que o volume óptimo de inovação. Ao contrário das
políticas dirigidas ao favorecimento de determinados sectores de forma a permitir-
lhes obter o domínio de um mercado internacional, a protecção de sectores que
geram efeitos externos positivos não leva necessariamente a uma situação
de beggar-thy-neighbour.
A questão que aqui queremos tratar respeita à identificação dos sectores que seriam
caracterizados por esses efeitos externos positivos e é frequentemente suscitado a
propósito da definição da política industrial. São bem conhecidas as dificuldades
que se levantam quanto às intervenções de carácter sectorial que tendem a fazer
substituir o mecanismo de decisão pelo mercado quanto à afectação óptima de
recursos por opções do Estado, que escolhe sectores ditos estratégicos, ou mesmo
empresas concretas (picking up winners), dessa forma canalizando para elas
recursos que o mercado teria afecto a outras actividades. Tais intervenções tendem
a distorcer o funcionamento dos mercados, alterando os sinais de estímulo dos
agentes económicos com reflexos internos e externos.
Ora, as novas concepções de política industrial tendem cada vez mais a abandonar
esse tipo de intervenções sectoriais e a preferir-lhes instrumentos horizontais de
intervenção, reservando para o Estado um papel de regulador através da política da
concorrência e da política industrial, tendo esta última por objectivo “promover a
concorrência e a eficiência da indústria”, correspondendo assim a uma estratégia de
desenvolvimento industrial.
É neste ponto que devemos chamar a atenção para a Teoria das Divergências
Domésticas. No dizer de PORTO, (2003, 148) “A grande inovação da teoria das
divergências domésticas consistiu em ter vindo distinguir dois planos, mostrando
que sempre que haja qualquer divergência ou distorção […] no mercado só é
eficiente (na lógica do princípio de Pareto, sendo atingido o objectivo desejado
sem que se originem novas distorções), uma solução directamente dirigida e
circunscrita à correcção da divergência ou distorção em causa”.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
O caso Camarões/Tartarugas
O caso Amianto
Banco de Portugal:
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3.2. Taxas de câmbio e mercados cambiais
[Em construção]
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3.3. A relação entre política monetária, política
cambial e as relações económicas internacionais
[Em construção]
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3.4. Sistemas monetários internacionais: Perspetiva
histórica
[Em construção]
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