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O axioma da ação humana basicamente diz que os seres humanos agem. Isso
pode soar banal à primeira vista. Entretanto, uma observação mais detida irá
deixar óbvio que o axioma misesiano da ação humana e suas implicações estão
longe de ser banais:
O axioma da ação humana não pode ser negado sem que o indivíduo caia em
uma insolúvel contradição. Afinal, para negar o axioma da ação humana, o
individuo está incorrendo em uma ação humana — trata-se do ato humano de
negar. Argumentar que humanos não podem agir é, portanto, uma contradição
em si mesmo, uma absurdidade.
Dito isso, o axioma da ação humana satisfaz ambos os requisitos de Kant para ser
qualificado como uma proposição sintética a priori: é uma verdade autoevidente
e é derivada da reflexão. Dito isso, deduções lógicas extraídas do axioma da
ação humana também devem ser absolutamente e irrefutavelmente verdadeiras.
Para que qualquer mensuração fosse possível, teria de haver uma unidade
objetivamente determinada e eternamente fixa, com a qual outras unidades
pudessem ser comparadas. Mas não existe tal unidade objetiva no âmbito das
valorações humanas. O indivíduo, por si próprio, deve determinar
subjetivamente se ele está em melhor ou pior situação em decorrência de alguma
mudança sofrida.[2]
Utilidade marginal significa a utilidade trazida por aumentos na quantidade de
bens; significa a utilidade trazida pelo usufruto de um bem adicional. Utilidade
marginal não significa incrementos na utilidade — o que implicaria que a
utilidade poderia ser mensurada.[3] Portanto, o que a lei da utilidade marginal
decrescente diz?
Para mostrar isso, devemos nos lembrar tanto das implicações óbvias quanto das
implicações menos obvias do axioma da ação humana.
O axioma da ação humana implica que os humanos agem, e que a ação humana
é intencional, propositada, objetivando determinados fins. A ação humana é
distinguível daqueles tipos de comportamento humano que são despropositados
ou puramente involuntários. Supor o contrário resultaria em uma contradição
intelectual insolúvel.[4]
O axioma da ação humana implica substituir uma situação menos satisfatória por
uma situação mais satisfatória. Caso houvesse um perfeito contentamento com
tudo (e, logo, plena satisfação), não haveria nenhuma ação humana — algo que,
como notado anteriormente, é impensável.
Dado que os meios são escassos — em relação aos fins a que eles podem servir
—, eles devem, portanto, ser economizados. Como resultado da escassez, o
agente tem de saber como alocar esses meios escassos para que eles sirvam aos
seus mais desejados fins. Sendo assim, certos fins inevitavelmente permanecerão
não satisfeitos. Disso, conclui-se que, quanto maior a oferta de meios
disponíveis, mais fins podem ser satisfeitos.
Como os meios são escassos, a ação humana implica que o indivíduo deve
classificar em ordem de preferência seus diferentes fins. A ação humana,
portanto, é um indicativo do julgamento e da valoração do indivíduo — ou, como
disse Rothbard, trata-se de preferências demonstradas: os fins classificados no
topo das preferências são aqueles que o indivíduos valora mais favoravelmente.
Ao tratar da utilidade marginal, não estamos lidando nem com prazer sensorial
nem com saturação ou saciedade. Não transpomos a esfera do raciocínio
praxeológico ao estabelecermos a seguinte definição: a utilização que um
indivíduo faz de uma unidade de um conjunto homogêneo de bens, se ele dispõe
de n unidades, e que não faria se só dispusesse de n-1 unidades, mantidas
iguais as demais circunstâncias, constitui a utilização menos urgente, ou seja, a
sua utilização marginal. Por isso, consideramos a utilidade derivada da unidade
em questão como utilidade marginal. Para chegar a esta conclusão, não
precisamos de nenhuma experiência fisiológica ou psicológica, de nenhum
conhecimento ou raciocínio. Decorre necessariamente de nossa premissa o fato
de que o homem age (escolhe) e de que, no primeiro caso, tinha n unidades de
um conjunto homogêneo de bens e, no segundo caso, n-1 unidades. Nestas
condições, não se pode conceber outro resultado. Nossa afirmativa é formal e
apriorística, e não depende de nenhuma experiência.
Três aplicações da Lei da Utilidade Marginal Decrescente
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Notas