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Este ensaio foi publicado originalmente sob o

título "Money and the Business Cycle" em Gold


and Monetary Stabilization (composto de
palestras na Harris Foundation), editado por
Quincy Wright. Esta versão foi traduzida do
livro The Austrian Theory of Trade Cycle and
Other Essays, editado por Richard M. Ebeling.
***

Se eu falar do ciclo econômico durante esta


palestra, eu não penso somente ou
primariamente nos terremotos financeiros pelos
quais passamos nos últimos anos ao redor do
mundo. Provavelmente seria mais interessante
falar sobre esses eventos dramáticos — sobre
especulação, empréstimos intermediários, o
colapso do mercado de ações, falências em larga
escala, pânicos, agudas crises crises financeiras de
tipo externo ou interno, drenagens de ouro e
sobre as repercussões políticas e econômicas de
tudo isso. Eu resistirei, contudo, à tentação de
fazer isso e tentarei, pelo contrário, abordar os
movimentos econômicos mais fundamentais que
subjazem àqueles fenômenos conspícuos que eu
indiquei.

Para um completo entendimento dos ciclos


econômicos é absolutamente indispensável
distinguir entre um movimento primário e
fundamental e um movimento secundário e
acidental. A aparência fundamental do ciclo
econômico é um movimento ondulado da
atividade empresarial — se me é permitido usar
por ora essa vaga expressão. O desenvolvimento
de nossa moderna vida econômica não é um
crescimento uniforme e contínuo; é
interrompido, não apenas por perturbações
externas como guerras e catástrofes similares,
mas demonstra uma descontinuidade inerente;
períodos de rápido progresso são seguidos por
períodos de estagnação.

A atenção dos economistas foi primeiro


capturada por esses fenômenos secundários e
acidentais — intensos colapsos e pânicos
financeiros. Eles tentaram explicá-los em termos
de acidentes individuais, erros, e especulações
mal calculadas dos donos dos bancos e de
empresas que estavam principalmente
envolvidos. Mas a recorrência regular desses
acidentes durante o século XIX deixaram claro
para os economistas que eles não haviam sido
acidentes isolados, mas sintomas de uma doença
severa que afeta todo o corpo econômico.

Durante a segunda metade do século XIX houve


uma evidente tendência de essas perturbações
ficarem mais brandas. Especialmente aqueles
eventos conspícuos, colapsos, falências e pânicos,
se tornaram menos numerosos e houve até
mesmo ciclos econômicos dos quais eles estavam
completamente ausentes. Antes da guerra, era a
crença geral dos economistas de que essa
tendência persistiria e que esses colapsos
dramáticos e pânicos que o século XIX havia
testemunhado pertenciam definitivamente ao
passado.

Agora, a presente depressão mostra que nós nos


regozijamos muito cedo, que nós ainda não nos
livramos dessa praga do sistema capitalista.
Mas, no entanto, muito pode e deve ser
aprendido com experiência passada: se nós
queremos um entendimento mais profundo do
mecanismo interno do nosso sistema capitalista
que ocasiona esses movimentos cíclicos, nós
precisamos tentar explicar o fenômeno
fundamental, abstraído desses eventos acidentais,
os quais podem estar ausentes ou presentes.

Se nós desconsiderarmos esses fenômenos


secundários, o ciclo econômico se apresenta
como um periódico crescimento e declínio da
atividade empresarial, ou, para colocar em
termos mais precisos, do volume de produção. O
crescimento secular da produção não demonstra
uma tendência contínua sem interrupções para
cima, mas um movimento ondulado em torno de
seu crescimento anual médio. Não faz tanta
diferença se os movimentos dessas ondas
empresariais são caracterizados por uma queda
absoluta do volume de produção ou apenas por
uma diminuição da taxa de crescimento.

Nesta palestra, eu não estou preocupado com os


instrumentos ingênuos inventados pelos
estatísticos para isolar os movimentos cíclicos de
outros movimentos periódicos ou erráticos que
os sobrepõem ou são sobrepostos por eles. Eu
assumo, primeiramente, que nós temos algo
como um ciclo econômico, o qual não é idêntico
aos movimentos sazonais dentro de um ano ou às
perturbações erráticas irregulares causadas por
guerras, períodos de inflação governamental e
coisas do tipo; é necessário colocar dessa forma,
porque mesmo a existência do fenômeno em
questão tem sido duvidada. Em segundo lugar, eu
assumo que nós fomos capazes de isolar esse
movimento estatisticamente.

Nossa preocupação principal será com a


explicação desse movimento e especialmente
com o papel da moeda, no sentido mais amplo do
termo, incluindo moeda de crédito e bancária.
II

Não há quase nenhuma explicação do ciclo


econômico — eu hesito um pouco em falar
"teoria do ciclo econômico", porque muitas
pessoas desenvolveram um certo preconceito
contra esse termo — na qual o fator monetário
não tenha um papel decisivo. A seguinte
consideração deve mostrar porque isso deve ser
necessariamente dessa forma: ainda abstraindo-
se os supracitados fenômenos secundários, um
dos sintomas externos mais evidentes do ciclo
econômico é o aumento dos preços durante a
prosperidade e a queda deles durante a
depressão. Por outro lado, há um aumento no
volume de produção durante o movimento de
crescimento e uma diminuição durante o
declínio. Mas não apenas mais mercadorias são
produzidas, mas também em outros ramos da
economia há um aumento das transações — e.g.,
no mercado de ações. Portanto, nós podemos
dizer com segurança que há um considerável
aumento do volume de pagamentos durante o
movimento crescente do ciclo e uma distinta
diminuição de seu volume durante a depressão.

Agora, está claro que, para suportar esse maior


volume de pagamentos, um aumento dos meios
de pagamento é necessário — meios de
pagamento no sentido mais amplo do termo.
Uma das seguintes coisas precisa acontecer:
(a) Um aumento do ouro e da moeda legal para
pagamentos;
(b) Um aumento das notas bancárias;
(c) Um aumento dos depósitos bancários e dos
créditos bancários;
(d) Um aumento da circulação de cheques, notas
e de outros meios de pagamento que são regular
ou ocasionalmente substituídos por dinheiro
normal;
(e) Um aumento da velocidade de circulação de
um ou todos esses meios de pagamento;

Eu não digo que essa enumeração seja exaustiva


ou sistemática. Ela é em grande parte uma
questão de conveniência terminológica, de como
se prefere se expressar. Um autor prefere chamar
depósitos bancários, dos quais cheques retirados,
moeda, moeda bancária, moeda de crédito.
Outros autores preferem restringir o termo
"moeda" ao dinheiro legalmente obrigatório e
falar então de depósitos bancários como meios de
poupar dinheiro ou de fazê-lo mais eficiente em
fazer pagamentos ao aumentar sua velocidade de
circulação. Outros ainda têm uma aversão ao
termo "velocidade de circulação" e preferem falar
de mudanças nos requerimentos de dinheiro e
meios de pagamento.

Sem entrar muito nesses detalhes técnicos, está


claro, eu espero, que precisa ocorrer de uma
forma ou de outra durante o movimento
crescente do ciclo uma expansão dos meios de
pagamento e durante o movimento declinante
uma contração correspondente.

Nenhuma teoria séria, nenhuma explicação do


ciclo, pode negligenciar, desconsiderar ou negar
esse fato. Diferenças podem surgir apenas (a)
com respeito à forma particular pela qual a
expansão acontece — se ela é primariamente um
aumento da quantidade de moeda creditícia, ou
de moeda legal, ou de ouro, ou apenas da
velocidade de circulação de um desses — e (b)
quanto à seqüência causal.

Quanto à relação causal, falando de forma ampla,


duas possibilidades parecem estar abertas:

1. Pode-se assumir que o impulso surge pelo lado


da moeda, que a circulação é expandida por uma
ação deliberada dos bancos ou de outras
autoridades monetárias e que isso faz com que a
cadeia de eventos ocorra; ou 2. Pode-se ter a
opinião de que as autoridades monetárias têm
um papel passivo; que a iniciativa vem do lado
das mercadorias, que as mudanças na demanda
por certas mercadorias, mudanças na estrutura
de produção, invenções e melhorias, grandes
colheitas ou forças psicológicas, uma onda de
otimismo e pessimismo — que um desses
fenômenos e suas repercussões são culpados por
um aumento ou diminuição do volume de
produção e que isso, por seu lado, leva à
circulação de uma maior quantidade de meios de
pagamento. Um maior fluxo de bens induz a um
maior fluxo de moeda.

As teorias do primeiro grupo, que mantêm que a


causa ativa do ciclo está no lado da moeda,
podem ser chamadas de "teorias monetárias" do
ciclo econômico. Num sentido mais amplo,
contudo, nós podemos incluir no grupo de
teóricos monetários também todos aqueles que
admitem que o impulso pode também vir do lado
das mercadorias, mas que sustentam que uma
política apropriada das autoridades monetárias,
uma efetiva e elástica regulação do volume de
meios circulantes, pode antecipar todas as
perturbações sérias.

Como todos vocês sabem, o critério mais


freqüentemente recomendado para essa política é
o da "estabilização do nível de preços" em um
outro sentido dos muitos significados desse
termo ambíguo. Vocês concordarão que é
impossível discutir esse problema exaustivamente
em uma hora. Então eu vou me restringir a
apontar as insuficiência desse tipo de teoria
monetária e de suas recomendações para a
remediação do ciclo econômico, a qual se centra
nas mudanças no nível de preços. Eu vou tentar,
então, indicar uma teoria monetária mais
refinada do ciclo, a qual foi desenvolvida nos
últimos anos, embora ela não seja tão bem
conhecida neste país quanto deveria. Esta
refinada teoria parece explicar algumas
características do ciclo, especialmente do último,
que não são completamente compatíveis com a
forma mais crua da abordagem monetária, que
identifica as influências monetárias com as
mudanças no nível geral de preços.
III

A teoria monetária tradicional, que é


representada por autores conhecidos como o
sueco Professor Cassel e pelo sr. Hawtrey do
tesouro britânico, considera o movimento
crescente e decrescente do ciclo econômico como
uma réplica de uma simples inflação ou deflação
governamental. Para ser preciso, eles são — em
regra — uma forma mais branda de inflação ou
deflação, mas no fundo são exatamente iguais. O
sr. Hawtrey afirma isso sem reservas em seu
famoso dito: "O ciclo econômico é um fenômeno
puramente monetário" e é, em princípio, igual à
inflação durante a guerra ou à deflação, isto é, a
redução da quantidade de meios circulantes, os
quais foram deliberadamente empreendidos por
certos governos para aproximar ou para restaurar
a paridade pós-guerra de suas moedas.

Hawtrey reconhece e enfatiza, é claro, a diferença


em grau entre os dois tipos de inflação e deflação,
a saber, que a expansão e a contração no decurso
do ciclo econômico é produzida principalmente
por um mal-ajuste da taxa de desconto, a qual
não é a forma pela qual uma inflação
governamental é criada. É hoje em dia uma
doutrina quase geralmente aceita a de que a taxa
de desconto do sistema bancário, especialmente
dos bancos centrais, induz as pessoas a pegar
mais emprestado, fazendo com que a quantidade
de meios circulantes aumente e os preços
aumentem. Um aumento da taxa de desconto
tem o efeito oposto — ela tende a deprimir os
preços ou, se eles estavam aumentando, a frear o
movimento de aumento. Eu sei, é claro, que essa
afirmação precisa de algumas qualificações. Eu
acredito, contudo, que na frente de uma
audiência tão competente, vai ser suficiente dizer
que ela é literalmente verdade somente se a
influência da mudança da taxa de desconto não
for compensada por nenhuma outra força que
mude a disposição dos empresários a contrair
débitos. Mas, dadas todas essas circunstâncias,
isto é, ceteris paribus, uma mudança na taxa de
desconto terá o mesmo efeito indicado nos
preços. Em qualquer dada situação há uma taxa
que mantém o nível de preços constante. Se a
taxa for forçada para baixo de seu ponto de
equilíbrio, os preços terão uma tendência a subir;
se a taxa for elevada acima do ponto de
equilíbrio, os preços tenderão a cair.

Agora, de acordo com o sr. Hawtrey, há uma


tendência no nosso sistema bancário a manter a
taxa de juros muito baixa durante o movimento
crescente do ciclo; então os preços sobem, nós
temos uma inflação de crédito e cedo ou tarde os
bancos são forçados a tomar medidas para
proteger suas reservas — eles aumentam a taxa e
criam a crise e a depressão.

Não há tempo aqui para entrar em detalhes, para


discutir a engenhosa explicação que o sr. Hawtrey
oferece para o fato de que os bancos sempre vão
longe demais, que eles se movimentam como um
pêndulo de um extremo a outro e não param no
ponto de equilíbrio. O motivo que o sr. Hawtrey
aponta para isso é diferente do motivo que o
Professor Irving Fisher e outros autores deste
grupo apontam. O que eles têm em comum é que
apontam que os fatores de perturbação agem
através de mudanças do nível de preços. É é
através de mudanças do nível de preços que a
expansão e a contração do crédito e da moeda
agem sobre o sistema econômico, e todos
concordam que a estabilidade do nível de preços
é um critério suficiente de uma regulação
racional do crédito. Se fosse possível manter o
nível de preços estável, a prosperidade nunca
seria seguida por uma depressão. Se o nível de
preços puder se elevar e a ocorrer a inevitável
reação, seria possível parar a depressão e
restaurar o equilíbrio, se for possível parar a
queda dos preços.

Deixe-me agora indicar brevemente por que essa


explicação me parece insuficiente. Ou, em outras
palavras, eu tentarei mostrar que (a) o nível de
preços é freqüentemente um guia enganador para
a política monetária e que sua estabilidade não é
uma garantia suficiente contra crises e
depressões, porque (b) uma expansão do crédito
tem uma influência muito mais profunda e
fundamental em toda a economia, especialmente
na estrutura de produção, que aquela expressada
por uma mera mudança do nível de preços.
O principal defeito dessas teorias é que elas não
distinguem entre uma queda de preços que
aconteça devido a uma real contração dos meios
circulantes e uma queda de preços que seja
causada pelo corte de custos como conseqüência
de invenções e avanços tecnológicos. (Eu devo,
contudo, mencionar que essa crítica particular
não se aplica ao sr. Hawtrey, que, por uma
peculiar interpretação do termo "nível de preços",
reconhece essa distinção, embora ele não pareça
extrair as conclusões necessárias.)

É verdade que, se houver uma baixa absoluta da


quantidade de moeda, a demanda vai cair, os
preços terão que cair e uma séria depressão
ocorrerá. Condições normais só retornarão
quando todos os preços houverem abaixado,
incluindo os preços dos fatores de produção,
especialmente salários. Esse pode ser um
processo longo e doloroso, porque alguns preços,
e.g., salários, são rígidos e alguns preços e débitos
são definitivamente fixados por um longo tempo
e não podem ser alterados de forma alguma.

Disso, entretanto, não se segue que o mesmo é


verdadeiro se os preços caem por causa de uma
baixa dos custos. É agora geralmente aceito que o
período anterior à presente depressão foi
caracterizado pelo fato de que muitos avanços
tecnológicos ocorreram em larga escala,
especialmente na produção de matérias-primas e
de produtos agrícolas, mas também no campo da
manufatura.

O natural nessa situação seria que os preços


caíssem gradualmente, e aparentemente essa
queda de preços não pode ter as mesmas
conseqüências ruins que uma queda de preços
causada por uma queda da quantidade de moeda.
Nós poderíamos falar, talvez, de uma "relativa
deflação" da quantidade de moeda, relativa ao
fluxo de bens, em contraposição a uma "deflação
absoluta".

Especialmente aqueles autores que enfatizam a


escassez de ouro como uma causa da presente
depressão são culpados por negligenciar a
diferença radical entre uma
deflação absoluta e relativa. Uma escassez de
ouro só poderia ocasionar uma deflação relativa,
que nunca poderia ter os efeitos desastrosos da
presente depressão. Da forma mais indireta pela
qual a "pequeneza" da produção anual de ouro
tem talvez a ver com — eu não me arrisco a dizer
"é a causa da" — agudeza da presente depressão e
com a força da queda dos preços, eu falarei mais
tarde.

Agora, como eu já disse, durante os anos de 1924


a 1927 e 1928 nós experimentamos um
crescimento sem precedentes do volume de
produção. Os preços das mercadorias, por outro
lado, medidos pelo índice geral de preços,
ficaram relativamente estáveis, como todos
sabem. Disso se segue que, e investigações
estatísticas diretas verificaram, que o volume de
meios circulantes foi aumentado. Nós
poderíamos dizer que houve uma "relativa
inflação", isto é, uma expansão dos meios de
pagamento que não resultou de um aumento dos
preços das mercadorias, porque ele foi grande o
suficiente para compensar o efeito de um
crescimento paralelo do volume de produção.

Agora parece haver uma óbvia presunção de que


foi precisamente essa inflação relativa que causou
todo o problema. Se isso fosse verdade — e a
mim parece bem provável — seria evidente que o
nível de preços é um guia enganador para a
política monetária e que há influências
monetárias trabalhando no sistema econômico
que não têm uma expressão adequada na
mudança do nível do índice de preços, pelo
menos como medido pelo índice geral de preços.
E, na verdade, existem essas amplas influências
de certas mudanças monetárias no sistema
econômico — elas podem se expressar a partir de
uma mudança no índice de preços ou não — as
quais foram totalmente negligenciadas pela
tradicional explicação monetária, embora os
sintomas externos dessa influência sejam bem
reconhecidos (mas diferentemente interpretados)
por algumas teorias não-monetárias e estudos
descritivos dos ciclos econômicos.
IV

Essas mudanças as quais eu tenho em mente e


devo agora tentar analisar são mudanças do que
eu chamarei de estrutura vertical de produção,
causada por mudanças na oferta de crédito para
produzir. Se nós tivermos que analisar um
sistema econômico, nós podemos fazer uma
seção vertical e outra horizontal através dele. A
seção horizontal exibiria diferentes ramos ou
linhas de indústrias diferenciadas pelos bens de
consumo, que são o resultado final desses
diferentes ramos: aqui nós temos a indústria de
comida, incluindo a agricultura, a indústria de
roupas, a indústria de exposições, etc. Indústrias
que produzem bens de produção — digamos, a
indústria de ferro e aço — pertencem
simultaneamente a diferentes ramos nesta linha
horizontal, porque o ferro e o aço são usados na
produção de muitos dos bens de consumo. A
velha afirmação de que uma
superprodução geral é impensável, que nós nunca
podemos ter demais de todos os bens, porque as
necessidades humanas são insaciáveis, mas que
sérias desproporções podem se desenvolver como
conseqüência de uma superprodução parcial, esta
afirmação se refere principalmente à estrutura de
produção horizontal. Desproporcionalidade neste
sentido significa que, por uma razão ou por
outra, a proporção apropriada de recursos
produtivos dedicados a diferentes ramos da
indústria foi perturbada — que, e.g., a indústria
automobilística está sobredesenvolvida, que mais
capital e trabalho foram investidos nessa
indústria do que é justificado pela demanda
comparativa pelo produto dessa indústria e por
outros produtos industriais. Eu espero que esteja
claro o que eu quero dizer quando falo da
estrutura horizontal e das desproporcionalidades
horizontais de produção.

Nós fazemos, por outro lado, uma seção vertical


através de um sistema econômico se seguirmos
cada bem finalizado, pronto para o consumo, até
as diferentes fases de produção e notarmos por
quantos estágios um bem particular tem que
passar antes que chegue ao consumidor final.
Tome-se, e.g., um par de sapatos e trace sua
árvore genealógica econômica. Nosso caminho
nos leva do varejista, através do atacadista, até a
fábrica de sapatos; e, seguindo um dos diferentes
filamentos que se encontram neste ponto,
digamos uma máquina de costura usada para a
fabricação de sapatos, nós somos levados para a
indústria de máquinas, para a usina de aço, e
eventualmente para a mina de carvão e de ferro.
Se nós seguirmos outro ramo, ele nos levará à
fazendo que criou o gado do qual o couro foi
tirado. E, além disso, há muitos estágios
intermediários entre essas fases maiores do
processo produtivo, a saber, os vários serviços de
transporte. Todo bem tem que passar por vários
estágios sucessivos de preparação antes que os
retoques finais sejam aplicados e que
eventualmente ele chegue ao consumidor final.
Leva um período de tempo considerável seguir
uma parte particular através de todo esse
processo, da fonte desse fluxo até a
desembocadura, onde acaba e desaparece no mar
sem fundo do consumo. Porém, quando o
processo inteiro é uma vez completado e cada um
dos estágios sucessos é apropriadamente
equipado com capitais fixos e circulantes, nós
podemos esperar um fluxo contínuo de bens de
consumo.

Agora, no equipamento desses estágios sucessivos


de produção, o estoque de capital de um país, o
qual foi acumulado durante os séculos, é
incorporado. A quantidade de capital acumulado
é a medida do período do curso. Num país rico
esse curso é muito grande e os bens têm que
passar por muitos estágios antes de chegar ao
consumidor. Num país pobre, esse curso é muito
menor e o volume de produção é
correspondentemente menor.

Se, durante um tempo de progresso econômico, o


capital é acumulado e investido, novos estágios
de produção são adicionados ou, em termos
técnicos econômicos, o processo de produção é
estendido, ele se torna mais roundabout.1 Se você
comparar a forma pela qual nós produzimos hoje
em dia com os métodos dos nossos pais, os
processos produtivos de um país rico com os de
um país pobre, inúmeros exemplos podem ser
encontrados.

Mas o que isso tem a ver com o ciclo econômico.


Agora, quando eu falei da estrutura de produção
vertical e das forças monetárias sobre ela, eu
pensei de uma extensão e de uma diminuição do
processo produtivo. Obviamente, assim como
deve haver uma certa proporção entre os
diferentes ramos horizontais da indústria, deve
também haver uma certa relação dos recursos
produtivos — trabalho e capital — que são
dedicados aos estágios mais altos ou mais baixos
de produção respectivamente, à produção de
bens de consumo por meio do existente aparato
produtivo e ao aumento desse aparato para futura
maior produção de bens de consumo.

Se, e.g., trabalho demais for usado para estender


o processo e muito pouco para o consumo
presente, nós teremos um mal-ajuste da estrutura
vertical de produção. Pode-se mostrar que certas
influências monetárias, concretamente uma
expansão do crédito pelos bancos que baixa a
taxa de juros além daquela taxa que prevaleceria
se apenas aquelas somas que são
deliberadamente poupadas pelo público de suas
rendas presentes fosse canalizada para o mercado
de capitais, pode-se mostrar que essa queda
artificial da taxa de juros vai induzir os
empresários a estender excessivamente o
processo de produção, em outras palavras, a fazer
sobreinvestimentos. Como a finalização do
processo produtivo leva um período considerável
de tempo, só aparece tarde demais que esses
novos processos iniciados são muito longos. A
reação que é inevitavelmente produzida — como,
nós já veremos — é o aumento da taxa de juros
para seu nível natural, ou ainda mais alto. Então
esses novos investimentos não são mais
lucrativos e se torna impossível finalizar as novas
formas estendidas de produção. Eles têm que ser
abandonados e os recursos produtivos têm que
ser realocados nos métodos antigos, mais curtos,
de produção. Esse processo de ajuste da estrutura
vertical de produção, que necessariamente
implica uma perda de grandes quantidades de
capital fixo que é investido nos processos mais
longos e que não pode ser realocada, ocorre
durante e constitui a essência do período de
depressão.

Infelizmente, é impossível discutir aqui todos os


passos desse processo e compará-los às fases
correspondentes do ciclo econômico os quais eles
descrevem e explicam. Eu espero que seja
possível fornecer a vocês uma idéia clara do que
acontece nas nossas sociedades capitalistas
durante o ciclo econômico por meio de uma
comparação com um evento correspondente
numa economia comunista.
O que os russos estão fazendo agora, ou tentando
fazer — o plano quinqüenal — não é nada além
de uma tentativa desesperado de aumentar o
período dos processos de produção e, por meio
disso, aumentar a futura produção de bens de
consumo. Em vez de produzir bens de consumo
com os métodos primitivos existentes, eles
restringiram a produção para propósitos
imediatos de consumo ao mínimo indispensável.
Em vez de sapatos e casas, eles produzem usinas
de força, fábricas de aço, tentam melhorar o
sistema de transporte, em suma, construir um
aparato produtivo que produzirá bens de
consumo somente depois de um período
considerável de tempo.

Agora, suponham que se torne impossível


completar esse ambicioso plano. Assumam que o
governo chegue à conclusão de que a população
não pode agüentar o enorme esforço, ou que uma
revolução ameaça estourar, ou que por voto
popular se decida mudar a política. Em qualquer
caso, se eles forem forçados a desistir dos novos
processos estendidos de produção e a produzir
bens de consumo o mais rápido possível, eles
terão que parar de construir suas usinas de força,
fábricas de aço e fábricas de tratores e, em vez
disso, tentar produzir apressadamente simples
implementos e ferramentas para aumentar a
produção de comida, sapatos e casas. Isso
significaria uma enorme perda de capital,
afundada naqueles trabalhos agora abandonados.

O que numa sociedade comunista é feito através


da decisão de um conselho econômico supremo
é, em nossa sociedade individualista, causado
pela ação coletiva, mas independente, dos
indivíduos e efetivado pelo mecanismo de preços.
Se muitas pessoas, indivíduos ou corporações,
decidirem poupar, restringir por algum tempo,
seus consumos, a demanda por e a produção de
bens de consumo cai, os recursos produtivos são
desviados para os estágios mais altos de produção
e o processo de produção é estendido.

Se nós dependermos da poupança voluntária, nós


podemos assumir que durante todo ano,
aproximadamente a mesma proporção da riqueza
nacional vai ser poupada — embora nem sempre
pelos mesmos indivíduos. Então nós temos um
grande fluxo de poupança, e o ajuste da produção
não ocorre através de desvios reais de recursos
produtivos investidos, mas em termos de uma
duradoura deflexão do fluxo de recursos
produtivos para outros canais.

Não há motivo por que isso não deva acontecer


suave e continuamente. Flutuações violentas são
introduzidas pela influência dos bancos neste
processo. O efeito da decisão voluntária do
público de poupar, i.e., de desviar os recursos
produtivos da presente produção de bens de
consumo para a extensão do processo, pode ser
produzido também pelo sistema bancário. Se os
bancos criarem crédito e o colocarem a
disposição de certos empresários que desejam
usá-lo para produção, aquela parte da fluxo de
dinheiro que é direcionada para os estágios mais
altos de produção é aumentada. Mais recursos
produtivos serão desviados da produção presente
de bens de consumo para a extensão do processo
que corresponde à decisão voluntária dos
membros da comunidade econômica. Isso é o que
os economistas querem dizer com poupança
forçada. Primeiro tudo corre normalmente. Mas
logo os preços começam a aumentar, porque
aquelas firmas que conseguiram a nova moeda a
usam para pagar pelos fatores de produção —
trabalho e capital — que estavam produzindo
bens de consumo. Os salários e preços sobem e
uma restrição do consumo é imposta sobre
aqueles que não são capazes de aumentar suas
rendas em dinheiro. Se através do investimento
anterior de poupanças voluntárias já há uma
tendência de o nível de preços cair, o novo
crédito em vez de resultar uma absoluta elevação
dos preços pode simplesmente compensar a
queda de preços que de do contrário ocorreria.

Mas, por algum tempo, uma reação ocorre a qual


tende a restaurar o velho arranjo que foi
distorcido pela injeção de moeda. A nova moeda
se torna renda nas mãos dos fatores que foram
contratados e retirados dos estágios de produção
mais baixos, e os recipientes dessa renda
adicional provavelmente continuarão com suas
habituais proporções de poupança e consumo,
isto é, eles tentarão aumentar os próprios
consumos novamente.
Se eles fizerem isso, a proporção anterior de fluxo
de moeda direcionada à compra de bens de
consumo e de bens de produção será restaurada.
Por algum tempo pode ser possível superar essa
contratendência e continuar a política de
expansão fazendo novas injeções de crédito. Mas
essa tentativa levaria a um progressivo aumento
dos preços e precisa ser deixado de lado cedo ou
tarde. Então a velha proporção da demanda por
bens de consumo e bens de produção será
definitivamente restaurada. A conseqüência é que
aquelas firmas nos estágios mais baixos de
produção que foram forçadas a restringir de
alguma forma suas produções porque os fatores
de produção foram desviados, vão ser capazes de
tirar recursos produtivos dos estágios mais altos.
As novas formas estendidas de produção, que
foram assumidas através do estímulo artificial de
uma expansão de crédito, ou pelo menos uma
parte deles, se tornam não-lucrativos. Eles serão
descontinuados e a crise e a depressão
começarão. Poderia ter sido diferente se os novos
processos tivessem sido terminados quando a
moeda adicional havia se tornado renda e
entrado no mercado de bens de consumo. Neste
caso, a demanda adicional encontraria oferta
adicional; ao aumento do fluxo de moeda
corresponderia um aumento do fluxo de bens.
Isso, contudo, é quase impossível, porque, como
o sr. Robertson demonstrou, o período de
produção é muito mais longo que o período de
circulação da moeda. A nova moeda deve ir para
o mercado de bens de consumo muito antes que
os novos processos sejam completados e
produzam bens prontos para o consumo.
V

A explicação da crise, da qual eu indiquei aqui


apenas os contornos, poderia, é claro, ser
elaborada, e foi elaborada. (Veja especialmente
Hayek, Prices and Production, Nova York:
Augustus M. Kelley, 1967). Se esta interpretação
da crise e do colapso de grande parte da estrutura
de produção está correta, parece
comparativamente fácil explicar os eventos
posteriores em termos mais familiares. Esse
colapso inicial deve ter sérias repercussões. Na
nossa economia de crédito altamente complexa
onde toda parte do sistema está conectada com
todas as outras, direta ou indiretamente, por
laços contratuais, toda perturbação em um ponto
se espalha para os outros. Se alguns bancos —
aqueles nervos centrais onde inúmeros canais de
relações de crédito se encontram — estão
envolvidos e vão à falência, uma onda de
pessimismo deve ocorrer: como um fenômeno
secundário, é provável que uma deflação de
crédito seja uma conseqüência da desconfiança e
nervosia gerais. Todas essas coisas, sobre as quais
a doutrina monetária tradicional constrói toda a
sua explicação, tornarão as coisas ainda piores do
que estão, e pode-se dizer que essa segunda onda
da depressão, que é induzida pelo mal-ajuste
mais fundamental, vai crescer a uma importância
esmagadora. Isso depende em grande parte, no
entanto, das circunstâncias concretas do caso em
questão, das características peculiares da
organização do crédito, de fatores psicológicos, e
não precisa ter uma proporção definida da
magnitude do deslocamento "real" da estrutura
de produção.

Este é local para se dizer algumas palavras sobre


uma conexão indireta entre a alegada insuficiente
oferta de ouro e a presente depressão. É sem
dúvida verdadeiro que desde antes da guerra a
quantidade de ouro não cresceu tanto quanto o
volume de pagamentos. Manter um nível de
preços, mais ou menos 50 por cento mais alto que
antes da guerra, foi possível apenas construindo-
se uma estrutura de crédito muito maior sobre o
estoque existente de ouro. Depois que o processo
de inflação foi completado, isso não deveria
causar problemas em tempos normais. Em
momentos de crises financeiras agudas, quando a
confiança se esvai e quando as corridas e pânicos
aparecem, esse sistema se torna, contudo,
extremamente perigoso. Se os meios de
pagamento consistem principalmente de ouro e
de notas cobertas por ouro e certificados, não há
perigo que repentinamente uma grande parte dos
meios circulantes suma. Um sistema mundial de
pagamentos, contudo, que dependa em grande
proporção de moeda de crédito, é sujeito a uma
rápida deflação se essa delicada estrutura de
crédito é balançada e destruída.

Por exemplo, a adoção de um padrão-ouro de


troca por vários países equivale a levantar uma
ousada superestrutura de crédito sobre o estoque
existente de ouro do mundo; essa estrutura pode
facilmente cair se esses países abandonarem o
padrão-ouro de troca e readotarem o antigo
padrão-ouro.

Seria, no entanto, completamente errado concluir


a partir disso que nós temos que culpar a avareza
da natureza, que a situação seria necessariamente
bem diferente se a produção de ouro tivesse sido
muito mais durante os últimos vinte anos. Outros
fatores são responsáveis, principalmente a
inflação durante e depois da guerra. Por meio
dessa política monetária é sempre possível retirar
do país qualquer estoque de ouro, tão grande
quanto for. O natural é, então, substituir um
padrão-ouro de troca pelo padrão-ouro
abandonado, que significa, como eu já disse, a
ereção de uma estrutura de crédito sobre o
existente estoque de ouro.

Portanto, se a produção anual de ouro fosse


maior do que realmente foi, a diferença teria sido
apenas esta: a estrutura de crédito também teria
se tornado maior e nós teríamos começado o
último boom a partir de um nível de preços mais
alto. Se essa é uma aposta correta do que teria
acontecido — e me parece muito provável — as
conseqüências econômicas do último período de
expansão de crédito, 1927-29, e a presente
deflação teriam sido exatamente iguais.

É de vital importância distinguir entre essas


perturbações acidentais e os mal-ajustes
primários "reais" do processo de produção. Se
fosse apenas uma onda de pessimismo e uma
absoluta deflação que causaram o problema,
deveria ser possível se livrar do problema muito
rapidamente. Afinal, uma deflação, forte como
seja e por quaisquer circunstâncias ela tenha sido
tornada possível e agravada, pode ser parada por
métodos inflacionários drásticos dentro de um
período comparativamente pequeno de tempo.

Se nós, porém, percebermos que no fundo desses


fenômenos superficiais está um amplo
deslocamento dos recursos produtivos, nós
devemos perder a confiança em todos os
charlatães econômicos e monetários que andam
por aí por esses dias pregando medidas
inflacionárias que trariam alívio quase
instantâneo.

Se nós aceitarmos a proposição de que o aparato


produtivo está fora de ordem, que grandes
deslocamentos de trabalho e capital são
necessários para restaurar o equilíbrio, então é
enfaticamente inverdadeiro que o ciclo
econômico é um fenômeno puramente
monetário, como diria o sr. Hawtrey; isso não é
verdade, embora as forças monetárias tenham
causado todos os problemas. Esse deslocamento
do capital físico real, distinto de mudanças
puramente monetárias, não pode em caso algum
ser curado num período muito curto.

Eu não nego que nós possamos e devamos


combater os fenômenos secundários — um
exagerado pessimismo e uma inflação
injustificada. Eu não posso entrar nessa questão
aqui, mas eu quero apenas dizer que nós não
devemos esperar muito de um tratamento mais
ou menos sintomático e, por outro lado, nós
precisamos ter cuidado para não produzir
novamente aquela desproporção artificial dos
fluxos monetários direcionados para os bens de
produção e consumo que levaram ao
sobreinvestimento e produziram todo o
problema. A pior coisa que poderíamos fazer é
um fortalecimento unilateral do poder de compra
do consumidor, porque foi precisamente esse
desproporcional aumento da demanda por bens
de consumo que precipitou a crise.

É uma grande vantagem dessa explicação


monetária mais refinada, sobre a tradicional,
esclarecer essas mudanças não-monetárias,
"reais", devidas à forças monetárias. Ao fazer isso,
ela ligou a explicação monetária e a não-
monetária; ela retirou os elementos verdadeiros
contidos em cada uma delas e as combinou num
único coerente sistema. Ela leva em conta o fato
de que cada período de boom é caracterizado por
uma extensão de investimentos de capital fixo. É
primariamente a construção do capital fixo e dos
principais materiais usados para isso — ferro e
aço — que as maiores mudanças ocorrem, a
maior expansão durante o boom e as mais
violentas contrações na depressão.
Esse fato, que foi enfatizado por todos os estudos
descritivos dos ciclos econômicos, não foi usado
pelas tradicionais explicações monetárias, as
quais se dão em termos de mudanças no nível de
preços e consideram os deslocamentos reais da
estrutura de produção, se a levam em
consideração, uma questão acidental
desimportante. A explicação que eu indiquei não
apenas descreve esse fato como faz a chamada
explicação não-monetária do ciclo, mas o explica.
Se a taxa de juros for baixada, todos os tipos de
investimentos ficam ao alcance da consideração
prática. Deixe-me citar um exemplo dado pelo sr.
Keynes numa palestra para o Harris Foundation
Institute no último ano: "Ninguém acredita que
vá compensar eletrificar o sistema de ferrovias da
Grã-Bretanha numa base de juros de 5 por cento.
(...) A 3 e meio por cento é impossível discutir
que valerá a pena. O mesmo deve ocorrer com
outros infindáveis projetos técnicos."2 Está claro
que especialmente aqueles ramos da indústria
que empregam uma grande quantidade de capital
fixo são favorecidos por uma redução da taxa de
juros, como por exemplo as ferrovias, usinas, etc.
Em seus cálculos de custos, os juros têm um
importante papel. Mas há uma tendência geral
indiscutível de substituição do trabalho por
máquinas, se o capital se torna barato. Isto
significa que mais trabalho e capital de trabalho é
usado para produzir máquinas, ferrovias, usinas;
comparativamente menos para a presente
produção de bens de consumo. Em termos
técnicos de economia: a extensão da produção é
aumentada. O ponto crucial e também o ponto
de desvio da análise do sr. Keynes é entender
bem que uma reação precisa inevitavelmente
ocorrer se essa expansão produtiva não for
financiada por poupança real, voluntária, dos
indivíduos ou corporações mas por crédito
criado ad hoc. E é praticamente muito importante
— o último boom devia ter deixado claro isso
para nós — que um nível de preços estável das
mercadorias não é uma salvaguarda suficiente
contra esse estímulo artificial da produção. Em
outras palavras, que uma inflação de crédito
relativa, nos significado definido acima do termo,
induzirá aos mesmos contra-movimentos que
uma inflação absoluta.

Eu espero que isso os tenha dado uma idéia


toleravelmente clara dessa melhorada explicação
monetária dos ciclos econômicos. Novamente eu
devo pedir a vocês para não tomarem como uma
exposição completa o que pode apenas ser uma
breve indicação. Uma discussão suficientemente
detalhada do caso poderia apenas ser feita num
grande volume. Portanto, eu peço que vocês
suspendam seus julgamentos finais até que o
argumento tenha sido completamente
apresentado a vocês. Apenas uma objeção eu
gostaria de antecipar. É verdade que essa teoria
sofre de uma séria desvantagem: ela é muito mais
complicada que a explicação monetária
tradicional. Mas eu me arrisco a dizer que isso
não é culpa da teoria, mas da malícia do objeto
dela. Infelizmente, os fatos não são sempre tão
simples como muitas pessoas gostariam que
fossem.

Notas:

1
O termo "roundaboutness", que dá origem ao
adjetivo "roundabout", se refere ao processo pelo
qual bens de capital são produzidos para só mais
tarde se produzirem bens de consumo. [N.T.]

2
Unemployment as a World Problem (Chicago,
1931), p.39.

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