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6o Período de Administração Com o surgimento da globalização, as

TEXTO de DISCUSSÃO N° 1 economias passaram a ser mais interligadas,


diminuindo consideravelmente suas barreiras
alfandegárias, formando blocos econômicos e
Profª. Vânia Silva Villas Bôas Vieira Lopes
expondo-se mais aos agentes internacionais.
Somando-se a esse fenômeno, a fragilidade de
sistemas econômicos que não aplicam os
A anatomia das crises financeiras fundamentos macroeconômicos pode levar a
uma crise financeira. A economia tem pontos
fracos e estes sofrem alterações devido à
Atualmente o mundo vem sofrendo grandes globalização.
transformações num ritmo acelerado, nunca Uma crise financeira é uma forte e rápida
visto. O fenômeno da globalização tem exigido a perda de riqueza e substância social, política e
formação de blocos de cooperação entre países institucional em uma economia, manifestada
de uma mesma região com o objetivo de pelo colapso dos preços dos ativos, recessão e
fortalecerem-se perante o mercado desemprego, gerando ameaça à estabilidade da
internacional. Se para os países mais moeda e do sistema bancário.
desenvolvidos este cenário apresenta desafios Normalmente, uma crise financeira se
difíceis, para os países em desenvolvimento com caracteriza pela falta de liquidez momentânea de
Argentina, Brasil, México, Rússia e países um sistema. Ou seja, há um desequilíbrio no
asiáticos, a globalização pode levá-los a sistema financeiro devido à supervalorização da
problemas graves de desestruturação moeda, déficit público incompatível com a
sócioeconômica. arrecadação, grande dependência de capital
Desde 1993 já havia uma preocupação estrangeiro, um descrédito internacional que
com o potencial de formação de uma “bolha” dos gera medo nos investidores e especuladores
influxos de capital nos mercados emergentes. A quanto à capacidade de serem quitados os
polêmica estava centralizada no problema do compromissos, levando-os a retirar seus
crescimento destes países, acima da média, investimentos.
buscadas nos fluxos de capital resultantes da Uma crise financeira seria então uma
recessão nos países industrializados, dificuldade momentânea que um país encontra
acompanhada da queda gradativa da taxa de por não conseguir administrar suas finanças,
juros mundial. Em 1994 já se observava o início que afeta seu equilíbrio financeiro.
de uma moderação dos fluxos de capital de Comumente se confunde uma crise
portifólio, com declínio posterior em 1995. financeira com uma crise econômica. Para se
Neste ambiente, os países em evitar isso, cabe-nos ressaltar que: a crise
desenvolvimento têm se tornadas vítimas de financeira envolve basicamente aspectos de
mudanças repentinas das expectativas dos liquidez momentânea de um sistema e nunca a
investidores. Seus inevitáveis desequilíbrios incapacidade de um sistema em gerar riquezas;
econômicos, sociais e institucionais, e as a partir do momento em que um sistema não
políticas macro econômicas inconclusas para possui mais condições de gerar riquezas, aí sim,
contrabalança-los, são uma fonte permanente de temos uma crise econômica.
incerteza. Segundo Junge (1988), muitos países A questão mais complexa de uma crise
de mercados emergentes realizam apenas financeira é que essas perdas de riqueza são
reformas parciais. Eles, de modo geral, abriram distribuídas entre sete canais distintos, que
suas economias e freqüentemente buscam atingirão, de forma diferenciada, os seguintes
reduzir a inflação através de restrições atores e variáveis:
financeiras e, em alguns casos, de duras Taxa de juros (depositantes e devedores);
reformas monetárias. Mas os seus fundamentos Taxa de câmbio (detentores de ativos nominados
econômicos mostram que e eles não tiveram em dólares);
êxito na luta contra o déficit fiscal ou a formação Alíquotas tributárias (contribuintes);
de poupanças privadas. Agregando-se a esses Inflação (produtores e consumidores);
desequilíbrios fiscais, as reformas internas de Preços de ativos (proprietários de riqueza
difícil realização, entraves políticos e medidas econômica e financeira);
econômicas inconsistentes estão criando um Salários (trabalhadores);
entorno para o surgimento de novas crises Transferências intergerações (através da dívida
financeiras, com impactos desfavoráveis sobre pública).
as relações e os fluxos comerciais. Enquanto os bancos centrais tentam manter
estável o valor de suas moedas, os investidores
A anatomia das crises financeiras modernos possuem sofisticadas ferramentas
para proteger o valor de seus ativos, medindo o

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risco inerente aos seus portifólios. Assim, no empresa, a “Compagnie d”Occidente”, que
nível agregado, ocorrem grandes mudanças emitia ações em troca de obrigações do estado e
nesses portifólios, que criam volatilidade nos de moedas. Essas conversões tornaram Jonh
fluxos de capitais, como se tem verificado na Law o maior credor do governo francês. Depois
última década. Neste contexto, a informação fundou o “Banque Generale”, que mais tarde
incompleta causa volatilidade nos valores dos tornou-se o “Banque Royale”, e várias outras
ativos e o temor de quebras nos contratos empresas ligadas ao comércio, através dos
aumenta ainda mais os riscos inerentes a esses direitos de monopólio obtidos do regente como
portifólios. recompensa por serviços prestados. As emissões
Algumas vezes, os especuladores de ações da companhia de Law eram muito
pressionam os mercados e os Bancos Centrais atrativas para o público e a demanda crescente
vêem suas reservas caírem perigosamente, não por esses títulos fez com que eles alcançassem
tendo outra alternativa a não ser desvalorizar a preços elevados a partir de meados de 1719.
moeda local. Depois da desvalorização, os Como a “Compagnie d’Occidente” não estava
especuladores realizam seus lucros, através de tendo um bom desempenho, a desconfiança se
negócios fechados quando o câmbio era outro, generalizou e o público começou a trocar ações e
demonstrando a fragilidade no controle da notas bancárias por moedas. Em 1720, a então
economia de alguns países. A seguir, traçamos euforia do mercado se transformou em pânico e
os perfis de várias crises financeiras de origem as ações perderam seu valor. Para proteger sua
macroeconômica e microeconômica, com a que vida, John Law, ao final de 1720, teve de fugir
chamamos de “Tulipamania”. da França.

“Tulipamania” A Bolha do Mar do Sul


( A Crise de Superprodução) (“The South Sea Bubble”)

Período: século XVII (1634 a 1637) Período: século XVIII (1717 a 1720)
Local: Holanda Local: Grã-Bretanha
Durante o século XVII, as tulipas eram
símbolo de status na sociedade holandesa. A Companhia “SOUTH Sea” emitiu ações
Existiam dois tipos de tulipas: as raras, que lastreadas em obrigações do governo, que
tinham padrões de cores especiais e as comuns, tiveram uma evolução semelhante às da
que tinham formas e cores normais. “Compagnie d’Occidente”, de John Law.
Originalmente, as tulipas eram comercializadas
apenas nos mercados livres nos meses de verão, A Grande Queda da Bolsa de 1929
mas a demanda por essas espécies fora da ( A Crise de Superprodução e “Bolha”
estação gerou a negociação em mercados Financeira Conjugadas)
futuros. O aumento dos preços das tulipas raras
estava de acordo com os fundamentos Período: outubro de 1929
econômicos, mas a especulação fez com que as Local: Estados Unidos
tulipas tornassem objetos de um aumento
inexplicado. A crise surgiu em janeiro de 1637, O dia 29 de outubro de 1929 se tornou
quando a demanda excessiva causou um rápido conhecido como a “Terça Feira Negra”. O índice
aumento nos preços das tulipas e culminou em Dow-Jones, que mede a variação das principais
fevereiro, quando houve um surto de pânico, ações negociadas na New York Stock Exchange (
provocando um colapso dos preços resultantes Bolsa de Nova York), caiu 12,82%. Esta queda
da produção e venda em massa. Foi uma crise gerou o crack da bolsa e provocou uma grande
de desequilíbrio microeconômico. recessão em todo o mundo. A crise aprofundou-
se quando houve a “Bankaruptiey”, ou seja, a
A “Bolha” do Mississipi degradação bancária. Este período passou a ser
(A Crise da “Bolha” Financeira) conhecido como “A Grande Depressão” e durou
até 1933.
Período: Século XVIII (1716 a 1720) As economias do mundo capitalista
Local: França tinham os Estados Unidos como seu principal
mercado produtor e consumidor e, para se
Com a finalidade de resolver os defender desta crise, os países tiveram de
problemas econômicos da França, após a morte adotar medidas protecionistas, inclusive
do Rei Luís John Law, um economista escocês, suspendendo o pagamento de suas dívidas
difundiu uma teoria que pretendia garantir o externas.
financiamento das atividades do lado real da
economia. Inicialmente, ele fundou uma A Crise de 1987

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(A Crise de Euforia Irracional) Local: Japão

Período: outubro de 1987 A trajetória de consistente crescimento


Local: Estados Unidos apresentada pelo Japão após a 2a Guerra
Mundial surpreendeu as maiores potências
Depois da recessão, causada pelo choque do econômicas capitalistas.
preço do petróleo, a economia norte-americana No período entre 1953 e 1973, esse
passou por um período de rápido crescimento. crescimento atingiu a taxa média de 10% e em
No entanto, os déficits orçamentários dos EUA e vinte anos uma economia considerada destruída
seus déficits em conta corrente saltaram para tornou-se a maior potência mundial.
níveis elevados entre 1982 e 1987, refletindo A crise do Japão teve início com a
desequilíbrios fundamentais nos gastos do desvalorização da moeda japonesa, o iene e,
governo. consequentemente, a queda de preço dos
Durante esse período houve uma produtos nipônicos no mercado. A adoção desta
tendência altista no mercado acionário, que política aumentou a vantagem dos artigos
levou os preços das ações a níveis japoneses, mas obrigou os outros países a
superavaliados. Também nesta época, desvalorizarem também suas moedas. O iene
intensificaram-se as utilizações dos chegou à cotação de Y 117,20 por dólar,
“derivativos”, uma vez que eles possibilitam gerando quedas nas principais bolsas de valores
assumir maiores riscos com um baixo custo de do mundo.
transação. Diante de uma possível catástrofe
A especulação ganhou força em 1986, internacional, os Estados Unidos trocaram US$ 2
levando a uma euforia do mercado, mas surgiu o bilhões por ienes, evitando o perigo de uma crise
pânico, quando as ordens de vendas antecipadas pior do que o crash dos “Tigres” “Asiáticos”.
de 16 de outubro de 1987 causaram um atraso A situação difícil em que se encontrava o
na abertura da Bolsa de Valores de Nova York. Japão pode ser explicada pelo excessivo
Como resultado, o índice Dow-Jones caiu 23% crescimento da sua economia. Este fenômeno
em um só dia. provocou uma valorização sem precedentes nos
ativos (principalmente aços e imóveis),
A Crise do México desencadeando um processo especulativo.
(Crise Cambial e Financeira) No período inicial havia muito dinheiro,
isto é, liquidez em excesso. Como conseqüência,
Período: 1989 e 1991 houve uma explosão artificial dos preços.
Local: México Imóveis comprados a um preço muito elevado
serviam de garantia para aquisição de novos
O México foi o primeiro país emergente a imóveis (para se ter idéia, o valor dos terrenos
passar por uma profunda crise financeira. Em do Japão saltou de US$ 4,2 trilhões para US$
1989, o país sofreu o primeiro ataque 18,1 trilhões neste período). O consumismo era
especulativo, que resultou na desvalorização de tamanho que os eletrodomésticos eram trocados
sua moeda e gerou uma fuga de capitais. O país a cada dois anos.
não conseguiu honrar seus compromissos, A euforia sem fim em 1992, quando as
entrando numa recessão. ações japonesas que estavam supervalorizadas
Em 1994, a economia mexicana se viu foram ofertadas no mercado. A baixa procura
novamente dentro de uma crise. Com um déficit dos compradores gerou a queda do preço destas
de US$ 8,4 bilhões na balança comercial e ações, ocasionando o início da crise.
inflação alcançando os três dígitos, o novo
presidente assume e tenta fazer uma
desvalorização controlada de 15%, mas, sem Crise Asiática
credibilidade internacional, a desvalorização
perde o controle e chega a 80%. Quebrado, o A crise Asiática foi disparada por um processo de
México recebe uma ajuda de US$ 65 bilhões dos fuga de capital e deflação de financeiros em
Estados Unidos e de organismos internacionais certo conjunto de economias daquela região.
como o FMI e consegue se recuperar. Iniciando-se pelos “tigrinhos” (Tailândia,
Malásia, Indonésia e Filipinas), suas
repercussões adquiriram amplitude global
quando aquele processo incorporou os “tigres”
A Crise Japonesa Coréia do Sul, Hong Kong, ameaçando também
(Crise Financeira e de Subconsumo) colocar em insolvência seus credores japoneses.
As moedas nacionais daqueles países
Período: junho de 1998

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mergulharam em queda livre em relação ao especialmente sua indústria automobilística e
dólar. aeronáutica.

Desde o início da década, o Japão vive uma


Crise asiática, recuperação e estagnação econômica e uma crise financeira
intermitente, como foi visto. Os organismos
construção da multipolaridade internacionais recomendam reformas
O contínuo desenvolvimento econômico asiático estruturais, que os sucessivos gabinetes não
sofreu em 1997 o forte impacto da crise implementam e caem. Contudo, não se trata de
financeira, que atingiu vários países e repercutiu incapacidade, mas de uma sutil resistência
na região como um todo. A chamada crise frente às pressões externas para abrir sua
asiática teve antecedentes no Japão, que desde economia. Em resumo, é um discreto jogo de
o final dos anos 80 conhecia dificuldades braço com os "aliados" americanos.
econômicas, e buscava cooperar com o
continente para compensar seus crescentes Os países mais afetados pela crise foram,
problemas com os EUA. Em 1991 estourou a contudo, os mais subemetidos aos EUA, seja por
"bolha imobiliária", que produziu igualmente a razões militares e estratégicas (Coréia do Sul),
explosão da "bolha financeira", devido à super- seja os de economia liberal, mais débeis e não
valorização de imóveis e terrenos que serviam dotados de projetos de desenvolvimento, como
de garantia aos empréstimos bancários. Para Tailândia e Filipinas. Dois países que tentaram
evitar a inflação, o governo bloqueou a oferta de resistir às investidas, primeiramente, políticas,
dinheiro, condenando o país à estagnação. Ao depois, econômico-financeiras, das potências
mesmo tempo, vários bancos faliam, sem que o ocidentais capitaneadas por Washington foram a
Estado pudesse socorrer a todos. A extensão dos Indonésia e a Malásia. O primeiro não resistiu
empréstimos japoneses à Ásia oriental e (vivendo um retrocesso social e caos político
sudeste, por sua vez, de certa forma regionalizou terríveis), mas o segundo regulamentou a saída
a crise japonesa. A crise se aprofunda, na de capitais e manteve-se. Outros dois países que
medida em que o modelo somente funcionava o Ocidente não logrou subjugar politicamente
na base de um acentuado crescimento para a agenda global foram o Camboja e o
econômico. Myanmar.

Tratava-se, no fundo, de um efeito da O pivô é, evidentemente, a República Popular da


internacionalização da economia japonesa. China. O país não apenas continua afirmando
Segundo Castells, "o MITI (o super-Ministério sua inserção mundial soberana (com seu próprio
japonês da Indústria e Comércio Internacional) projeto nacional), o caráter inegociável de suas
não exercia mais influência direta sobre as instituições político-sociais internas, como
empresas japonesas, e elas, por sua vez, ao mantendo sua moeda, o Yuan, frente ao dólar.
tomarem decisões estratégicas não priorizavam Trata-se de um instrumento indispensável para a
a estrutura dos interesses econômicos de seu criação de uma moeda conversível. Mais
país. O rompimento da interação sistêmica entre importante, entretanto, é que a economia do
o Estado desenvolvimentista e as redes país conseguiu crescer 8% em 1998 e em 1999,
multinacionais japonesas introduz uma nova em plena crise asiática. Neste contexto, percebe-
dinâmica no Japão e no mundo em geral". se que a estratégia da China é ganhar tempo,
fortalecendo sua economia, tecnologia e forças
No momento que a China começou a concretizar armadas.Mais uma ou duas décadas seriam
seu processo de reunificação (iniciado com a necessárias para o país consolidar-se
devolução de Hong Kong em 1997) e os Tigres internacionalmente de forma irreversível,
tentavam consolidar seu desenvolvimento em afirmando paralelamente a criação de um
moldes autônomos, prossegue a crise japonesa mundo multipolar.
e, em seguida, ocorre o terremoto financeiro nos
países mais vinculados e dependentes dos Muitas explicações técnicas, restritas
Estados Unidos (Tailândia, Indonésia e Coréia do exclusivamente ao âmbito financeiro, têm sido
Sul). Até o presente esta crise, apesar de haver dadas à crise asiática. Mas são geralmente
reduzido inicialmente a produção, tem afetado insuficientes. Um relatório do Banco Mundial de
especialmente o âmbito financeiro, com a março de 1997 destacava a solidez e o
desvalorização das moedas locais, o que permite dinamismo das economias asiáticas. O de
ao capital estrangeiro adquirir empresas outubro, da mesma organização, sinalizava suas
nacionais a um preço extremamente baixo. Além "debilidades e distorções estruturais".
disso, intensificaram-se as pressões pela Economistas como Krugman e o funcionário do
fragmentação da China (revivendo a questão do FMI, Fischer, destacam a debilidade destas
Tibet e de Taiwan) e contra a Indonésia, que economias, enquanto outros, como Sachs e
acabaram derrubando o regime autoritário de Stiglitz enfatizam sua solidez. Evidente que o
Suharto. Neste último caso, o alvo visado era padrão financeiro semelhante ao japonês tem
sua parcela de responsabilidade pela crise.

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Mas o paradigma japonês está presente novas ZEEs no interior do país. Este fenômeno
igualmente de outra maneira: o capitalismo resulta, entre outras coisas, numa progressiva
globalizado havia penetrado profundamente as redução da capacidade de controle da região
economias locais, que ao se internacionalizarem, pelos Estados Unidos, pois o sistema
perdiam capacidade de agir autonomamente, internacional anglo-saxão esteve historicamente
com o Estado desenvolvimentista se assentado numa hegemonia exercida a partir
enfraquecendo. Conforme Castells, "o sistema dos mares.
institucional que era fonte do milagre asiático, o
Estado desenvolvimentista, tornou-se o Tal fenômeno estrutural torna-se ainda mais
obstáculo para o novo estágio de integração intenso pela constituição, na área, de uma
global e de desenvolvimento capitalista na espécie de simbiose entre formações estatais
economia asiática" (p.257). Ainda segundo este neocomunistas, ex-comunistas e anticomunistas,
autor, a crise seria superada e a região voltaria a onde, apesar das complexidades regionais e
cresce (como está ocorrendo), só que sob a especificidades nacionais, existe implicitamente
forma "capitalista". um projeto estratégico que poderia vir a ser
vitorioso no próximo século. Este projeto, como
Ora, embora não seja sua intenção, a tese do foi visto, é portador de respostas próprias para
autor acaba reforçando a percepção de que a os desafios do desenvolvimento material, da
crise constitui uma estratégia de contenção do governabilidade, da estabilidade social e de
desenvolvimento asiático, ao menos em sua novas formas de regulação para a Terceira
atual forma nacionalmente centrada. Abstraindo Revolução Industrial ou Científico-Tecnológica.
as explicações puramente técnicas, é
interessante observar que a questão central é a Isto não significa ignorar o potencial de
contenção do desenvolvimento asiático, de instabilidade inerente ao chamado modelo
forma a impedir a afirmação de um pólo asiático, nem desconsiderar que alguns de seus
competidor, a Ásia, e de uma virtual nova aspectos seriam inviáveis no longo prazo, como
superpotência, a China. O fenômeno da fuga de a universalização da sociedade de consumo de
capitais pode ser induzidos de distintas massa. A inserção do conjunto da população em
maneiras, e não ocorre sem que haja uma linha uma economia moderna, entretanto, ajudaria a
estratégica definida. Os próprios asiáticos têm resolver o problema de demanda que se agudiza
demonstrado a percepção de que o alvo da crise com o incremento da produtividade pela RCT, e
é o seu desenvolvimento industrial e tecnológico que não pode ser solucionado no longo prazo
autônomo. pelos mecanismos de regulação neoliberais,
devido ao elevado índice de exclusão social que
Além dos artigos jornalísticos do Professor produz.
Krugman, capazes de contribuir para a eclosão
de crises, empresas privadas de avaliação de É preciso também refletir sobre a região sem
risco, como a Moody's ou a Standard & Poor, "olhos norte-americanos", que caracterizam a
deram o grito alarme que contribuiu para uma maioria das obras que circulam entre nós, mas a
maciça fuga de capitais, fazendo desabar as partir das percepções que a região possui de si
bolsas de valores locais e gerando um contexto mesma e de suas relações com o resto do
propício para a intervenção do FMI. Os mundo. Assim, enquanto o ex-assessor e diretor
programas propostos por este organismo, que da CIA no governo Clinton, Anthony Lake,
acompanhavam os empréstimos emergenciais, apregoa a necessidade de os EUA passarem do
configuram exatamente a estratégia referida por Containment da época da Guerra Fria ao
Castells para "reorientar" as economias asiáticas Enlargement, os asiáticos estruturam conceitos
à globalização subordinada. Contudo, as como o de Comprehensive Security, defendendo
diferenças de sistemas político-econômicos o respeito aos projetos nacionais e a
permitem que alguns países resistam ao assalto, necessidade de estabilidade como forma de
enquanto outros sucumbem. garantir o bem-estar de toda a sociedade.

A crise ocorreu num contexto em que o Já a atual corrida armamentista (particularmente


desenvolvimento da Ásia-Pacífico tem se naval) na Ásia Oriental tem sido percebida de
encaminhado para uma interiorização rumo ao formas diferentes. Enquanto para o Ocidente
continente e a seu centro, o que é esta corrida evidencia a ascensão da rivalidade e
particularmente visível não apenas pela da desconfiança entre os Estados asiáticos, para
intensificação das relações econômicas entre os muitos destes representa implicitamente a
próprios países asiáticos (e menos com as capacitação e modernização militar, como forma
demais regiões do planeta), como pela redução de dissuadir coletivamente possíveis ingerências
das prerrogativas das Zonas Econômicas extra-regionais contra sua soberania (conceito
Especiais litorâneas da China (que, segundo o hoje desprezado no Ocidente, mas
governo, já não necessitariam mais de profundamente arraigado na Ásia).
incentivos especiais) e também pela abertura de

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Pode-se observar que a República Popular da juntamente com o Japão e a China, tentando
China constitui o pivô de todas estas tendências. impedir uma ação americana.
Desde a repressão da Praça da Paz Celestial, o
Novo Segundo Mundo tem se consolidado de A China, por sua vez, teve uma atuação discreta
forma relativamente autônoma, e Pequim tem quanto à guerra contra o Iraque, evitando
ampliado sua projeção sobre a antiga área de polemizar demasiadamente com os EUA. O
influência sínica. Neste processo, vem sendo intercâmbio econômico com Washington é
importante a retomada dos princípios vantajoso e Beijing necessita manter seu
confucianos como instrumento de gestão política crescimento econômico ao menos por mais uma
e social, tanto na China como nos países década. Ao mesmo tempo o Dragão chinês
integrantes de seu universo cultural. busca cada vez mais associar os vizinhos ao seu
processo de desenvolvimento econômico, o que
Fenômenos como o rearmamento do Japão ou a vem fazendo com sucesso, enquanto participa
concretização da Zona de Livre Comércio da nas iniciativas regionais de cooperação, sejam
Ásia-Pacífico (que incluiria os EUA), anunciada econômicas, políticas ou de segurança, como no
para o início do próximo século, dependem do caso da ANSEA. Assim, a China vai se tornando o
tratamento dado à projeção internacional da centro de gravidade da Ásia e, discretamente,
China. O problema é que Washington hoje participando de forma prudente mas segura na
considera o desenvolvimento econômico de grande diplomacia mundial. Ela seguramente
países de dimensões continentais como uma conformará um pólo de poder com alguns países
ameaça ao exercício de sua liderança. Isto é vizinhos, num sistema internacional multipolar,
ainda mais grave em relação à China, país que regido por uma ONU redimensionada pelo novo
exibe uma postura diplomático-militar equilíbrio de forças que se viria formar.
autônoma, afirmando com novos meios sua
postura como Estado Westfaliano. O Japão com os Tigres asiáticos, a Índia com a
SAARC (South Asia Area of Regional Cooperation,
A Guerra ao Terrorismo, que os Estados Unidos além da Rússia com a CEI (Comunidade de
desencadearam após os atentados de 11 de Estados Independentes) seriam os outros pólos
setembro de 2001, iniciou uma ampla asiáticos. Dependendo da profundidade que a
intervenção na Ásia central e ocidental. A integração da ASEAN venha a alcançar, ela
implantação americana no Afeganistão e no poderia desempenhar certo papel neste sentido.
Iraque, bem como a presença militar parcial no Fora da região, a União Européia, os EUA com o
Cáucaso e países das ex-repúblicas soviéticas da NAFTA, a África do Sul com a SADC (Southern
Ásia central, bem como a exploração da crise Africa Development Coordination) e o Brasil com
coreana e da luta contra ao terrorismo na linha o Mercosul (talvez associado à Comunidade
que vai do sul das Filipinas até o Paquistão, Andina numa área sul-americana de livre
evidencia o perfil da política externa do governo comércio) constituiriam os demais pólos. Apenas
Bush para a Ásia. Parece clara a intenção de a situação do Oriente Médio continua fluída e
cravar uma cunha no coração geopolítico da incerta. Como se pode perceber, a Ásia
Eurásia, dificultando a integração física da concentraria a metade dos pólos de poder de um
Rússia com a China. Esta denuncia sistema de poder multipolar, evidenciando que a
discretamente o cerco estratégico que ascensão da região não seria apenas econômica,
Washington deseja estabelecer, além da ameaça mas igualmente político-estratégica.
que paira quanto ao acesso ao petróleo da Ásia
central por parte da China.
Crise asiática, recuperação e
Através de "guerras teatrais" contra os construção da multipolaridade
debilitados países do chamado Eixo do Mal, O contínuo desenvolvimento econômico asiático
conforme Emmanuel Todd, o que a sofreu em 1997 o forte impacto da crise
administração Republicana busca é conter a financeira, que atingiu vários países e repercutiu
formação de uma constelação de pólos de poder na região como um todo. A chamada crise
na Eurásia, capazes de contribuir para a asiática teve antecedentes no Japão, que desde
formação de um sistema internacional o final dos anos 80 conhecia dificuldades
multipolar. O desenvolvimento e a autonomia da econômicas, e buscava cooperar com o
Eurásia deixaria a América "marginalizada", uma continente para compensar seus crescentes
vez que perderia sua posição de liderança junto problemas com os EUA. Em 1991 estourou a
à economia e ao sistema de segurança mundial. "bolha imobiliária", que produziu igualmente a
Daí manter-se uma situação de instabilidade explosão da "bolha financeira", devido à super-
permanente na região. Como os pólos de poder valorização de imóveis e terrenos que serviam
asiático estão reagindo? Com muita cautela. A de garantia aos empréstimos bancários. Para
Coréia do Sul tenta evitar uma escalada, evitar a inflação, o governo bloqueou a oferta de
mantendo negociações com o norte e, dinheiro, condenando o país à estagnação. Ao
mesmo tempo, vários bancos faliam, sem que o

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Estado pudesse socorrer a todos. A extensão dos (vivendo um retrocesso social e caos político
empréstimos japoneses à Ásia oriental e terríveis), mas o segundo regulamentou a saída
sudeste, por sua vez, de certa forma regionalizou de capitais e manteve-se. Outros dois países que
a crise japonesa. A crise se aprofunda, na o Ocidente não logrou subjugar politicamente
medida em que o modelo somente funcionava para a agenda global foram o Camboja e o
na base de um acentuado crescimento Myanmar.
econômico.
O pivô é, evidentemente, a República Popular da
Tratava-se, no fundo, de um efeito da China. O país não apenas continua afirmando
internacionalização da economia japonesa. sua inserção mundial soberana (com seu próprio
Segundo Castells, "o MITI (o super-Ministério projeto nacional), o caráter inegociável de suas
japonês da Indústria e Comércio Internacional) instituições político-sociais internas, como
não exercia mais influência direta sobre as mantendo sua moeda, o Yuan, frente ao dólar.
empresas japonesas, e elas, por sua vez, ao Trata-se de um instrumento indispensável para a
tomarem decisões estratégicas não priorizavam criação de uma moeda conversível. Mais
a estrutura dos interesses econômicos de seu importante, entretanto, é que a economia do
país. O rompimento da interação sistêmica entre país conseguiu crescer 8% em 1998 e em 1999,
o Estado desenvolvimentista e as redes em plena crise asiática. Neste contexto, percebe-
multinacionais japonesas introduz uma nova se que a estratégia da China é ganhar tempo,
dinâmica no Japão e no mundo em geral". fortalecendo sua economia, tecnologia e forças
armadas.Mais uma ou duas décadas seriam
No momento que a China começou a concretizar necessárias para o país consolidar-se
seu processo de reunificação (iniciado com a internacionalmente de forma irreversível,
devolução de Hong Kong em 1997) e os Tigres afirmando paralelamente a criação de um
tentavam consolidar seu desenvolvimento em mundo multipolar.
moldes autônomos, prossegue a crise japonesa
e, em seguida, ocorre o terremoto financeiro nos Muitas explicações técnicas, restritas
países mais vinculados e dependentes dos exclusivamente ao âmbito financeiro, têm sido
Estados Unidos (Tailândia, Indonésia e Coréia do dadas à crise asiática. Mas são geralmente
Sul). Até o presente esta crise, apesar de haver insuficientes. Um relatório do Banco Mundial de
reduzido inicialmente a produção, tem afetado março de 1997 destacava a solidez e o
especialmente o âmbito financeiro, com a dinamismo das economias asiáticas. O de
desvalorização das moedas locais, o que permite outubro, da mesma organização, sinalizava suas
ao capital estrangeiro adquirir empresas "debilidades e distorções estruturais".
nacionais a um preço extremamente baixo. Além Economistas como Krugman e o funcionário do
disso, intensificaram-se as pressões pela FMI, Fischer, destacam a debilidade destas
fragmentação da China (revivendo a questão do economias, enquanto outros, como Sachs e
Tibet e de Taiwan) e contra a Indonésia, que Stiglitz enfatizam sua solidez. Evidente que o
acabaram derrubando o regime autoritário de padrão financeiro semelhante ao japonês tem
Suharto. Neste último caso, o alvo visado era sua parcela de responsabilidade pela crise.
especialmente sua indústria automobilística e
aeronáutica. Mas o paradigma japonês está presente
igualmente de outra maneira: o capitalismo
Desde o início da década, o Japão vive uma globalizado havia penetrado profundamente as
estagnação econômica e uma crise financeira economias locais, que ao se internacionalizarem,
intermitente, como foi visto. Os organismos perdiam capacidade de agir autonomamente,
internacionais recomendam reformas com o Estado desenvolvimentista se
estruturais, que os sucessivos gabinetes não enfraquecendo. Conforme Castells, "o sistema
implementam e caem. Contudo, não se trata de institucional que era fonte do milagre asiático, o
incapacidade, mas de uma sutil resistência Estado desenvolvimentista, tornou-se o
frente às pressões externas para abrir sua obstáculo para o novo estágio de integração
economia. Em resumo, é um discreto jogo de global e de desenvolvimento capitalista na
braço com os "aliados" americanos. economia asiática" (p.257). Ainda segundo este
autor, a crise seria superada e a região voltaria a
Os países mais afetados pela crise foram, cresce (como está ocorrendo), só que sob a
contudo, os mais subemetidos aos EUA, seja por forma "capitalista".
razões militares e estratégicas (Coréia do Sul),
seja os de economia liberal, mais débeis e não Ora, embora não seja sua intenção, a tese do
dotados de projetos de desenvolvimento, como autor acaba reforçando a percepção de que a
Tailândia e Filipinas. Dois países que tentaram crise constitui uma estratégia de contenção do
resistir às investidas, primeiramente, políticas, desenvolvimento asiático, ao menos em sua
depois, econômico-financeiras, das potências atual forma nacionalmente centrada. Abstraindo
ocidentais capitaneadas por Washington foram a as explicações puramente técnicas, é
Indonésia e a Malásia. O primeiro não resistiu interessante observar que a questão central é a

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contenção do desenvolvimento asiático, de asiático, nem desconsiderar que alguns de seus
forma a impedir a afirmação de um pólo aspectos seriam inviáveis no longo prazo, como
competidor, a Ásia, e de uma virtual nova a universalização da sociedade de consumo de
superpotência, a China. O fenômeno da fuga de massa. A inserção do conjunto da população em
capitais pode ser induzidos de distintas uma economia moderna, entretanto, ajudaria a
maneiras, e não ocorre sem que haja uma linha resolver o problema de demanda que se agudiza
estratégica definida. Os próprios asiáticos têm com o incremento da produtividade pela RCT, e
demonstrado a percepção de que o alvo da crise que não pode ser solucionado no longo prazo
é o seu desenvolvimento industrial e tecnológico pelos mecanismos de regulação neoliberais,
autônomo. devido ao elevado índice de exclusão social que
produz.
Além dos artigos jornalísticos do Professor
Krugman, capazes de contribuir para a eclosão É preciso também refletir sobre a região sem
de crises, empresas privadas de avaliação de "olhos norte-americanos", que caracterizam a
risco, como a Moody's ou a Standard & Poor, maioria das obras que circulam entre nós, mas a
deram o grito alarme que contribuiu para uma partir das percepções que a região possui de si
maciça fuga de capitais, fazendo desabar as mesma e de suas relações com o resto do
bolsas de valores locais e gerando um contexto mundo. Assim, enquanto o ex-assessor e diretor
propício para a intervenção do FMI. Os da CIA no governo Clinton, Anthony Lake,
programas propostos por este organismo, que apregoa a necessidade de os EUA passarem do
acompanhavam os empréstimos emergenciais, Containment da época da Guerra Fria ao
configuram exatamente a estratégia referida por Enlargement, os asiáticos estruturam conceitos
Castells para "reorientar" as economias asiáticas como o de Comprehensive Security, defendendo
à globalização subordinada. Contudo, as o respeito aos projetos nacionais e a
diferenças de sistemas político-econômicos necessidade de estabilidade como forma de
permitem que alguns países resistam ao assalto, garantir o bem-estar de toda a sociedade.
enquanto outros sucumbem.
Já a atual corrida armamentista (particularmente
A crise ocorreu num contexto em que o naval) na Ásia Oriental tem sido percebida de
desenvolvimento da Ásia-Pacífico tem se formas diferentes. Enquanto para o Ocidente
encaminhado para uma interiorização rumo ao esta corrida evidencia a ascensão da rivalidade e
continente e a seu centro, o que é da desconfiança entre os Estados asiáticos, para
particularmente visível não apenas pela muitos destes representa implicitamente a
intensificação das relações econômicas entre os capacitação e modernização militar, como forma
próprios países asiáticos (e menos com as de dissuadir coletivamente possíveis ingerências
demais regiões do planeta), como pela redução extra-regionais contra sua soberania (conceito
das prerrogativas das Zonas Econômicas hoje desprezado no Ocidente, mas
Especiais litorâneas da China (que, segundo o profundamente arraigado na Ásia).
governo, já não necessitariam mais de
incentivos especiais) e também pela abertura de Pode-se observar que a República Popular da
novas ZEEs no interior do país. Este fenômeno China constitui o pivô de todas estas tendências.
resulta, entre outras coisas, numa progressiva Desde a repressão da Praça da Paz Celestial, o
redução da capacidade de controle da região Novo Segundo Mundo tem se consolidado de
pelos Estados Unidos, pois o sistema forma relativamente autônoma, e Pequim tem
internacional anglo-saxão esteve historicamente ampliado sua projeção sobre a antiga área de
assentado numa hegemonia exercida a partir influência sínica. Neste processo, vem sendo
dos mares. importante a retomada dos princípios
confucianos como instrumento de gestão política
Tal fenômeno estrutural torna-se ainda mais e social, tanto na China como nos países
intenso pela constituição, na área, de uma integrantes de seu universo cultural.
espécie de simbiose entre formações estatais
neocomunistas, ex-comunistas e anticomunistas, Fenômenos como o rearmamento do Japão ou a
onde, apesar das complexidades regionais e concretização da Zona de Livre Comércio da
especificidades nacionais, existe implicitamente Ásia-Pacífico (que incluiria os EUA), anunciada
um projeto estratégico que poderia vir a ser para o início do próximo século, dependem do
vitorioso no próximo século. Este projeto, como tratamento dado à projeção internacional da
foi visto, é portador de respostas próprias para China. O problema é que Washington hoje
os desafios do desenvolvimento material, da considera o desenvolvimento econômico de
governabilidade, da estabilidade social e de países de dimensões continentais como uma
novas formas de regulação para a Terceira ameaça ao exercício de sua liderança. Isto é
Revolução Industrial ou Científico-Tecnológica. ainda mais grave em relação à China, país que
exibe uma postura diplomático-militar
Isto não significa ignorar o potencial de autônoma, afirmando com novos meios sua
instabilidade inerente ao chamado modelo postura como Estado Westfaliano.

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A Guerra ao Terrorismo, que os Estados Unidos Estados Independentes) seriam os outros pólos
desencadearam após os atentados de 11 de asiáticos. Dependendo da profundidade que a
setembro de 2001, iniciou uma ampla integração da ASEAN venha a alcançar, ela
intervenção na Ásia central e ocidental. A poderia desempenhar certo papel neste sentido.
implantação americana no Afeganistão e no Fora da região, a União Européia, os EUA com o
Iraque, bem como a presença militar parcial no NAFTA, a África do Sul com a SADC (Southern
Cáucaso e países das ex-repúblicas soviéticas da Africa Development Coordination) e o Brasil com
Ásia central, bem como a exploração da crise o Mercosul (talvez associado à Comunidade
coreana e da luta contra ao terrorismo na linha Andina numa área sul-americana de livre
que vai do sul das Filipinas até o Paquistão, comércio) constituiriam os demais pólos. Apenas
evidencia o perfil da política externa do governo a situação do Oriente Médio continua fluída e
Bush para a Ásia. Parece clara a intenção de incerta. Como se pode perceber, a Ásia
cravar uma cunha no coração geopolítico da concentraria a metade dos pólos de poder de um
Eurásia, dificultando a integração física da sistema de poder multipolar, evidenciando que a
Rússia com a China. Esta denuncia ascensão da região não seria apenas econômica,
discretamente o cerco estratégico que mas igualmente político-estratégica.
Washington deseja estabelecer, além da ameaça
que paira quanto ao acesso ao petróleo da Ásia
PINHEIRO Juliano Lima. COMEXNews, n.6
central por parte da China.

Através de "guerras teatrais" contra os


debilitados países do chamado Eixo do Mal,
conforme Emmanuel Todd, o que a 11 de março de 2004
administração Republicana busca é conter a 11 de março de 2004
formação de uma constelação de pólos de poder
na Eurásia, capazes de contribuir para a
formação de um sistema internacional
multipolar. O desenvolvimento e a autonomia da
Eurásia deixaria a América "marginalizada", uma
vez que perderia sua posição de liderança junto
à economia e ao sistema de segurança mundial.
Daí manter-se uma situação de instabilidade
permanente na região. Como os pólos de poder
asiático estão reagindo? Com muita cautela. A
Coréia do Sul tenta evitar uma escalada,
mantendo negociações com o norte e,
juntamente com o Japão e a China, tentando
impedir uma ação americana.

A China, por sua vez, teve uma atuação discreta


quanto à guerra contra o Iraque, evitando
polemizar demasiadamente com os EUA. O
intercâmbio econômico com Washington é
vantajoso e Beijing necessita manter seu
crescimento econômico ao menos por mais uma
década. Ao mesmo tempo o Dragão chinês
busca cada vez mais associar os vizinhos ao seu
processo de desenvolvimento econômico, o que
vem fazendo com sucesso, enquanto participa
nas iniciativas regionais de cooperação, sejam
econômicas, políticas ou de segurança, como no
caso da ANSEA. Assim, a China vai se tornando o
centro de gravidade da Ásia e, discretamente,
participando de forma prudente mas segura na
grande diplomacia mundial. Ela seguramente
conformará um pólo de poder com alguns países
vizinhos, num sistema internacional multipolar,
regido por uma ONU redimensionada pelo novo
equilíbrio de forças que se viria formar.

O Japão com os Tigres asiáticos, a Índia com a


SAARC (South Asia Area of Regional Cooperation,
além da Rússia com a CEI (Comunidade de

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