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BASUALDO, Eduardo M.

“Evolución de la economía argentina en el marco de las


transformaciones de la economía internacional de las últimas décadas”. In: BASUALDO,
Eduardo M. & ARCEO, Enrique (orgs.). Los condicionantes de la crisis en América Latina.
Inserción internacional y modalidades de acumulación. Buenos Aires: Clacso, 2009.

A evolução da Economia Argentina nas últimas décadas

Eduardo Basualdo
Compilador do livro junto com Enrique Arceo
Economista e artista argentino

Los condicionantes de la crisis en América Latina


Inserción internacional y modalidades de acumulación
2009

A crise e sua projeção na periferia


O livro aborda as implicações da crise mundial na América Latina e destaca a
importância de entender as características da expansão do capital na fase atual, as
formas de integração dos setores dominantes latino-americanos na economia global,
os processos de acumulação de capital em países-chave da região, seus limites e
contradições. A crise em questão não é vista apenas como um episódio financeiro, mas
como resultado das contradições do modo de acumulação global nas últimas décadas.
O crescimento da economia global tem sido liderado pela expansão do investimento
estrangeiro direto e pelo aumento do comércio internacional, refletindo uma nova
divisão internacional do trabalho baseada na indústria manufatureira e na
internacionalização dos processos produtivos. Isso tem impactado os salários, o
emprego e os preços dos produtos industriais, reforçando a tendência à desigualdade
de renda.
Os Estados Unidos desempenham um papel importante nesse cenário, com um
crescimento impulsionado por bolhas econômicas, como a bolha das empresas de
tecnologia e a bolha imobiliária. O consumo foi estimulado pelo crédito e pelo "efeito
riqueza", mas o aumento da taxa de lucro sobre o capital privado ficou estagnado a partir
de 1998.
O ciclo econômico subsequente à bolha da "ponto com". A rentabilidade do capital não
conseguiu se recuperar e, no seu ponto mais alto em 2004, estava 5% menor do que em
1997. A política monetária, particularmente as taxas de juros, desempenhou um papel
central na velocidade da recuperação econômica.

A Reserva Federal dos Estados Unidos reduziu sua taxa de desconto de 6% em 2002
para cerca de 1% em 2003 e 2004, o que resultou em taxas de juros negativas em 2003,
2004 e 2005, quando comparadas aos preços dos produtos. Isso incentivou a demanda
por créditos hipotecários e levou a um aumento contínuo nos preços das residências.
A crescente demanda por créditos hipotecários foi acompanhada pelo aumento da oferta
de fundos financeiros e por condições mais favoráveis para a obtenção de crédito, o que
alimentou ainda mais a bolha imobiliária. Os bancos comerciais consolidaram
empréstimos hipotecários e os transferiram ao mercado, muitas vezes criando riscos de
inadimplência. Isso permitiu que eles continuassem emprestando.
O crédito ao consumo, incluindo cartões de crédito, empréstimos estudantis e
financiamento de veículos, também cresceu e foi titularizado por instituições
financeiras. O aumento nos preços das residências levou os consumidores a obter
segundas e terceiras hipotecas, expandindo ainda mais o endividamento.
No entanto, esse ciclo econômico apresentou diferenças significativas em relação ao ciclo
anterior. Enquanto a bolha imobiliária impulsionou o consumo, ela não teve um
impacto substancial no investimento produtivo e no emprego. O crescimento entre
2000 e 2007 foi mais lento do que nos ciclos anteriores, e a participação dos salários
na renda diminuiu. A crise imobiliária eventualmente afetou o crescimento econômico,
uma vez que o consumo baseado em endividamento foi impactado.
Além disso, o setor financeiro também expandiu sua dívida e as operações com
derivativos, criando um ambiente de risco financeiro. A queda nos preços das ações
após 2001 foi seguida por uma recuperação, mas havia uma fragilidade subjacente na
economia que leva ao desenvolvimento da subsequente crise financeira, destacada por
dois pontos principais:
1. O primeiro ponto observa que as hipotecas representavam uma parte relativamente
pequena dos ativos financeiros dos EUA, sendo que as hipotecas subprime, em
particular, representavam uma porção ainda menor. No entanto, à medida que o boom
imobiliário avançava, as hipotecas passaram a representar uma parte substancial dos
ativos financeiros dos bancos comerciais, chegando a 40% em 2007.
2. O segundo ponto trata da emissão de títulos lastreados por hipotecas e destaca que
essa emissão seguia características comuns a todas as Collateralized Debt Obligations
(CDOs). Os bancos reuniam um conjunto de títulos hipotecários (ou outros ativos, como
bônus corporativos, empréstimos para automóveis, empréstimos estudantis, cartões de
crédito, etc.) e transferiam esses conjuntos para entidades conhecidas como SIVs
(Special Investment Vehicles) ou Conduits. Essas entidades financiavam a compra desses
ativos que por meio de crédito de curto prazo, permitindo que os bancos removessem os
ativos de seus balanços para recuperar o capital e reiniciar a operação. Esses títulos
lastreados por hipotecas eram vendidos a investidores em diferentes tranches (faixas)
de risco, sendo que as tranches mais arriscadas absorveriam as primeiras perdas em
caso de inadimplência, e as tranches mais seguras eram frequentemente classificadas
como AAA, embora o pacote como um todo fosse composto em grande parte por
hipotecas subprime. O trecho também descreve como o aumento de inadimplências
levou a perdas em várias tranches, prejudicando a avaliação do valor dos títulos. Isso se
agravou à medida que as agências de classificação de risco rebaixavam as
classificações desses títulos, gerando uma desconfiança generalizada na solvência de
seus detentores. Isso levou a problemas de financiamento para veículos de investimento
e conduits no mercado de curto prazo, forçando-os a vender títulos a preços mais
baixos.
A partir desse ponto, o texto descreve uma sequência de eventos na crise financeira,
incluindo o colapso do banco de investimento Lehman Brothers, intervenções
governamentais em empresas como Fannie Mae e Freddie Mac, aquisições e falências
de várias instituições financeiras e uma ampla desaceleração econômica.
O texto sugere que a crise financeira resultou de uma combinação de fatores, incluindo
um alto grau de alavancagem das instituições financeiras, avaliações inadequadas de
risco, falta de preocupação com a capacidade de pagamento dos devedores e políticas
da Reserva Federal que estimularam o consumo das famílias e o endividamento. A
bolha imobiliária desempenhou um papel fundamental nessa dinâmica.

O texto enfoca a necessidade de compreender o caráter da crise para entender suas


consequências, com foco nos Estados Unidos e seu impacto global. Alguns pontos
importantes são destacados:
O crescimento da economia dos Estados Unidos desempenhou um papel crucial no
crescimento da economia mundial desde os anos 1990. No entanto, o texto observa que,
mesmo que os esforços do governo dos EUA para reestruturar o sistema financeiro sejam
bem-sucedidos a curto prazo, isso não garantirá uma recuperação do nível de atividade
econômica e ritmo de expansão anteriores.
O texto aponta que o crescimento do investimento nos EUA foi prejudicado, em 1998,
devido a vários fatores, incluindo uma queda na utilização da capacidade industrial e que
essa situação piorou antes da crise. O governo dos EUA propõe o estímulo de novas
atividades, como economia de energia e pesquisa e desenvolvimento, como uma saída.
No entanto, a abertura de novas áreas de investimento requer tempo, e um aumento no
investimento teria que ser excepcional para compensar o menor crescimento do
consumo.
As famílias, que não receberam assistência significativa, enfrentam uma redução em seu
patrimônio, devido ao colapso dos preços de ativos, e ao mesmo tempo, têm dívidas
muito maiores do que em anos anteriores. Além disso, o desemprego está aumentando, o
que prejudica o mercado de trabalho. Portanto, as famílias estão economizando mais, o
que resulta em uma recuperação lenta dos gastos.
O texto menciona que uma melhoria no saldo comercial dos EUA, se baseada na expansão
das exportações, poderia melhorar a situação econômica. No entanto, uma forte
desvalorização do dólar seria necessária para tornar isso provável. Tal desvalorização, no
entanto, geraria desconfiança em relação ao dólar e tornaria mais caro o financiamento
do governo devido ao grande desequilíbrio fiscal.

A desaceleração da economia dos EUA e a redução de seu déficit comercial implicam o fim
da expansão impulsionada pelas exportações que a economia mundial experimentou nos
últimos anos. Isso afetaria os países periféricos, forçando-os a se concentrar mais em seu
mercado interno.
Para enfrentar essa mudança, o texto sugere a renegociação de tratados da Organização
Mundial do Comércio (OMC), a criação de acordos regionais de financiamento e acordos
monetários, o controle de movimentos especulativos de capital e a modificação dos
sistemas financeiros nacionais para atender aos objetivos nacionais, especialmente das
camadas populares.
Em resumo, o texto aborda a natureza da crise nos Estados Unidos, suas implicações
econômicas globais e a necessidade de uma estratégia alternativa que priorize o
desenvolvimento econômico e social das camadas populares, diante das pressões do
capital transnacional e dos setores dominantes locais.

O livro oferece uma série de reflexões sobre os desafios enfrentados na construção de


uma estratégia econômica. O conteúdo do livro é dividido em várias partes:
A primeira parte contém dois artigos. O primeiro de Adolfo Gilly e Rhina Roux analisa as
mudanças na relação global de capital ao longo das últimas décadas, destacando o
surgimento de uma nova configuração global, marcada pela destruição dos antigos
mundos e as promessas de novos, embora esses sejam percebidos mais como horizontes
distantes do que realidades. O segundo artigo de Francisco de Oliveira examina as
transformações nas formas de hegemonia em países onde os setores populares exercem
o poder político, com base na análise das últimas eleições presidenciais no Brasil.
A segunda parte concentra-se nos setores dominantes na América Latina e sua
integração na economia global. Vários autores analisam a transnacionalização dos
processos produtivos e do capital, seu impacto diferencial na periferia latino-americana e
os limites estruturais do crescimento das exportações na região. Também é apresentado
um índice de vulnerabilidade externa estrutural da América Latina, que revela o aumento
geral da vulnerabilidade na região.
A terceira parte concentra-se nas ações dos setores dominantes em diferentes cenários
nacionais. Os autores analisam o bloco de poder dominante no Brasil, suas contradições e
influências na vulnerabilidade externa do país. Também são examinadas as razões e o
impacto da crise atual nos países latino-americanos, como México, Brasil e Argentina.
Além disso, é realizada uma análise do processo de redefinição do estado mexicano, a
luta por autonomia em Guayaquil e Santa Cruz e as transformações econômicas e sociais
na Argentina desde 1976.
Em resumo, o livro fornece análises aprofundadas sobre as mudanças na economia global
e suas implicações nas economias latino-americanas, bem como as estratégias adotadas
pelos setores dominantes da região. Ele aborda questões relacionadas à vulnerabilidade
externa, poder financeiro, hegemonia política, regionalismo e transformações econômicas
na América Latina.

Evolución de la economía argentina en el marco de las transformaciones de


la economía internacional de las últimas décadas
Este ensaio confronta as profundas mudanças ocorridas na economia argentina com as
igualmente significativas alterações na economia global desde meados da década de
1970. O autor analisa as sincronias e discordâncias entre essas mudanças, considerando
duas hipóteses de trabalho que orientam a pesquisa e delimitam o campo de análise:
A primeira hipótese assume que as transformações na economia mundial têm um
impacto notório tanto no comportamento econômico e social quanto nas condições
estruturais de países dependentes, como a Argentina.
A segunda hipótese sugere que os países dependentes processam essas
transformações de maneira peculiar, de acordo com suas condições estruturais
preexistentes e a situação da luta social entre o capital e o trabalho.
Ambas as hipóteses não são mutuamente excludentes, exceto nos casos extremos, em
que a influência da economia internacional é unívoca ou as condições internas são tão
poderosas que excluem qualquer influência externa. O autor explora uma ampla gama de
situações intermediárias que indicam o grau de autonomia relativa de cada economia
dependente, definindo as peculiaridades de cada caso.

O ensaio se divide em duas partes:


Na primeira parte, o autor realiza uma análise geral da correspondência entre as
mudanças na economia argentina e as que ocorreram na economia internacional. Isso é
feito com base no predomínio do financiamento sustentado pelo neoliberalismo em nível
mundial. O objetivo é identificar semelhanças e diferenças, com foco nas últimas, que
indicam o grau de autonomia dos blocos dominantes de uma economia dependente,
como a argentina.
Na segunda parte, o ensaio investiga a evolução recente da economia argentina após o
colapso econômico de 2001 e 2002. O autor explora a situação nacional após o fim do
padrão de acumulação de capital baseado na valorização financeira e o início de um ciclo
de crescimento econômico baseado na economia real. A análise se concentra em
processos cruciais, como a expansão industrial, a distribuição de renda e as estratégias da
concentração e centralização do capital.
No geral, o ensaio busca entender como as mudanças na economia global afetaram a
economia argentina e como o país respondeu a essas mudanças, examinando questões
de autonomia, transformações econômicas e acumulação de capital.

Las transformaciones de la economía internacional y de la economía


argentina durante las últimas décadas
Do ponto de vista da economia nacional, foram implementados programas e processos
econômicos e sociais qualitativamente diferentes ao longo das últimas décadas. A
primeira fase, que abrange o período de 1976 a 2001, consistiu no desenvolvimento do
padrão de acumulação de capital iniciado em 1976 com a ditadura militar e apoiado na
valorização financeira do capital. A outra fase constitui um típico período de transição
que se estende de 2002 até o presente e é caracterizada pela convergência de
fenômenos econômicos e sociais novos, que em muitos aspectos contrastam com
aqueles da etapa anterior, juntamente com outros que se mantêm ou até se aprofundam.
Eles se concentram em variáveis-chave do processo econômico e social, como a
distribuição de renda e a centralização de capital.

Na economia internacional, embora a hegemonia de visões, políticas e a dinâmica


neoliberal que a caracteriza desde os anos setenta continue, duas alterações de natureza
diferente são registradas. O primeiro deles está relacionado com a sua consolidação após
a dissolução do bloco socialista, enquanto o outro está ligado ao crescente conflito dentro
do capital financeiro entre as frações que detêm capital de empréstimo e aqueles que
possuem ações, que têm relevância significativa hoje.
Consequentemente, dadas essas peculiaridades do caso argentino e da evolução do
neoliberalismo na economia internacional, é fundamental realizar uma comparação
dos dois processos. A partir dessa análise, será possível identificar elementos que
desempenham um papel decisivo na compreensão da vasta, prolongada e particular
reestruturação da economia argentina, na qual, por sua vez, estão inseridas as
reformulações das diferentes frações do capital ao longo do período analisado.
Antecedentes y objetivos de la reestructuración mundial y argentina
O trecho aborda as transformações na economia internacional e como elas influenciaram
a Argentina. A internacionalização financeira, uma base fundamental da globalização de
hoje, teve origem num mercado financeiro paralelo aos Estados-nação na década de
1960, centrado nos eurodólares e com Londres como seu principal centro.
Na década de 1970, a dissolução do acordo de Bretton Woods conduziu a taxas de
câmbio flexíveis e ao aumento da instabilidade monetária e da especulação financeira.
No final daquela década, as políticas nacionais nos países centrais e periféricos
moldaram estas mudanças.
A China começou a implementar a liberalização em 1978, o que levou ao seu subsequente
crescimento económico espectacular. Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, foram
implementadas políticas monetárias restritivas sob a liderança de Paul Volcker, marcando
uma mudança significativa em direcção à ortodoxia monetária e à desregulamentação.
Decada de 70 - Depois, em 1978 e 1979, líderes como M. Thatcher e R. Reagan no Reino
Unido e nos Estados Unidos, respectivamente, adoptaram políticas que enfraqueceram
os sindicatos e promoveram a desregulamentação, cortes de impostos e cortes nas
despesas sociais. Essas políticas moldaram o neoliberalismo.
Apesar das expectativas de crescimento económico, o neoliberalismo foi marcado por
uma estagnação económica prolongada e pelo aumento da concentração de renda,
indicando que o objectivo principal não era o crescimento económico, mas sim a
distribuição do excedente económico.

O caso argentino reflete tendências semelhantes a nível internacional, mas com a


peculiaridade de ser uma “vingança classista” contra os setores populares. A ditadura
militar, com o apoio de uma aliança entre a oligarquia diversificada e o capital financeiro
internacional, realizou estas reformas que interromperam a industrialização baseada na
substituição de importações e que constituíram a base da mobilização popular.
Este processo foi implementado por um novo “bloco de poder” liderado pela oligarquia
diversificada e pelo capital financeiro, que controlou o Estado e implementou estas
reformas. Esta diferença fundamental influenciou o processo de reestruturação neoliberal
nos países dependentes e reflecte-se em vários aspectos e níveis de tais reformas.
El monetarismo versus el keynesianismo
Explora a mudança nos enfoques econômicos e seu impacto nas economias nacionais e
internacionais, com ênfase na virada neoliberal iniciada por líderes como Thatcher e
Reagan. Essa mudança representou uma inversão de prioridades: antes, a política
monetária e fiscal respondiam às necessidades da economia real e ao emprego, de
acordo com concepções keynesianas. No entanto, sob o neoliberalismo, a economia
real e o emprego passaram a ser moldados pela política monetária e fiscal.
Com a livre movimentação de capitais, os estados nacionais perderam a capacidade de
controlar as taxas de juros internas e a política fiscal, que passaram a ser subordinadas
à necessidade de evitar a fuga massiva de capitais. Isso resultou na redução da
tributação sobre os lucros e patrimônio e no aumento da tributação sobre salários, com
o gasto público direcionado para beneficiar o capital, enfraquecendo os elementos
tradicionais do Estado de Bem-Estar.
Uma das premissas centrais do neoliberalismo é que as baixas taxas de juros resultam
em baixa poupança e alocação ineficaz de recursos, estimulando projetos improdutivos e
a manutenção de empresas pouco competitivas. A "repressão financeira" associada a
baixas taxas de juros levaria a uma economia com baixo crescimento e poupança. Por
outro lado, sob o neoliberalismo, com taxas de juros elevadas e desregulamentação,
haveria um aumento dos investimentos, eficiência na alocação de recursos e crescimento
econômico.
No caso argentino, a ditadura militar iniciada em 1976 implementou políticas
monetaristas que reestruturaram profundamente a economia e que continuam a
impactar o país. A Reforma Financeira de 1977 foi decisiva para uma redistribuição de
renda irreversível e uma mudança estrutural que minou a base da substituição de
importações. A subordinação do sistema financeiro à expansão da economia real foi
invertida, e o processo econômico passou a depender de equilíbrios monetários.
A abertura completa dos mercados de bens e capitais em 1979 marcou uma mudança
fundamental no enfoque da política econômica. A evolução da economia real passou a
depender de equilíbrios monetários. Isso resultou em um rápido endividamento externo,
que sustentou a valorização financeira. Embora haja semelhanças temporais e
instrumentais com a experiência internacional, existem diferenças fundamentais no caso
argentino. A expansão significativa da dívida externa privada na década de 1990 foi
possível porque o Estado assumiu a dívida externa privada da década anterior. Além
disso, a dívida externa privada resultou principalmente do comportamento da oligarquia
diversificada e das empresas transnacionais, que concentraram a maior parte dela entre
1976 e 2001.

Las modificaciones en el comportamiento de las grandes firmas y los nuevos


inversores institucionales
As mudanças no comportamento das grandes empresas em um contexto neoliberal
tem destaque em duas principais alterações:
1. aumento na centralização do controle e administração das grandes empresas. Isso
significa que o poder de decisão nas empresas concentrou-se cada vez mais em poucas
mãos ou órgãos de administração.
2. drástica modificação nos ativos das empresas. Os ativos financeiros passaram a
ganhar maior importância em relação aos ativos físicos ou produtivos. Em outras
palavras, as empresas passaram a dar mais ênfase a investimentos em ativos financeiros
do que em ativos tangíveis, como fábricas ou equipamentos.
Essas mudanças foram impulsionadas pela crescente mobilidade internacional de
capital, que foi influenciada tanto por estados nacionais quanto pelas grandes empresas
que buscavam recursos diretamente emitindo títulos e obrigações. A influência das
instituições financeiras tradicionais, como bancos, diminuiu à medida que as empresas
recorreram a títulos e ações para obter financiamento.
A presença de fundos de investimento e fundos de pensão como principais
investidores institucionais nas empresas também desempenhou um papel importante
nesse cenário. Eles influenciaram as decisões das empresas, levando-as a distribuir mais
lucros e juros e a cortar investimentos e custos, incluindo aqueles relacionados a
empregados.
Além disso, as empresas oligopolistas, especialmente em países periféricos como a
Argentina, tiveram uma transformação em seus ativos com a ascensão dos ativos
financeiros em detrimento dos ativos fixos ou produtivos. Essa mudança na composição
dos ativos foi um dos fatores que contribuíram para a redução na taxa de crescimento
do capitalismo nas últimas décadas.
O texto também menciona que houve uma disputa entre diferentes frações do capital
financeiro, algumas se especializando em capital de empréstimo (que promove o
aumento da taxa de juros) e outras em títulos de propriedade de empresas (que
favorecem taxas de juros mais baixas). Essa disputa influenciou a política econômica, com
algumas facções buscando aumentar a taxa de juros para obter lucros e outras
defendendo taxas mais baixas para estimular o consumo doméstico.
Finalmente, o texto destaca que essas mudanças na composição dos ativos e na
distribuição do excedente de renda tiveram implicações significativas para o
desenvolvimento econômico e social em países dependentes, como a Argentina, ao
longo do período neoliberal. Além disso, enfatiza que as fraturas dentro do capital não
estão apenas entre o capital industrial e financeiro, mas também dentro das próprias
frações do capital que buscam se apropriar do excedente de maneira específica.

La destrucción y relocalización del capital productivo dentro de las fronteras


nacionales
O texto aborda a implementação e a consolidação das políticas neoliberais nos Estados
Unidos, durante a presidência de Ronald Reagan em 1980, e no Reino Unido, durante o
governo de Margaret Thatcher em 1984. Nesse contexto, ocorreu a destruição
industrial do nordeste dos Estados Unidos, conhecido como o "rust belt", onde havia
uma grande produção metalmecânica e alta sindicalização da força de trabalho.
Paralelamente, houve uma expansão industrial no sul dos Estados Unidos, com
subsídios estatais e mão de obra pouco sindicalizada e migrante. No Reino Unido,
Thatcher derrotou a histórica greve dos mineiros em 1984 e posteriormente fechou a
produção local de carvão, além de enfraquecer a produção siderúrgica e outros setores.

Essa consolidação do neoliberalismo nos países centrais não ocorreu apenas pela
expansão da transnacionalização do capital, mas também devido à destruição e
realocação a nível nacional de empresas. Essa mudança também ocorreu intensamente
em países periféricos, sendo a Argentina um exemplo paradigmático de um processo
prolongado e intenso de destruição de capital, resultando na perda de posições na
região. A partir de meados da década de 1970, a Argentina experimentou um longo
período de desindustrialização, com uma redução significativa no número de instalações
industriais, ocupação no setor e contribuição da produção industrial para o PIB. Durante
esse processo, houve uma considerável relocalização geográfica da produção
manufatureira, principalmente impulsionada por subsídios estatais de promoção
industrial. Isso enfraqueceu os centros industriais tradicionais, que eram fortemente
sindicalizados, gerando novos parques industriais em províncias menos industrializadas.
Uma característica importante desse processo é que a maior parte dos subsídios fiscais
foi direcionada para a mesma fração do capital nacional que desempenhou um papel
central na valorização financeira, ou seja, grupos econômicos locais. Isso resultou em uma
repatriação de capital industrial estrangeiro e na transferência de empresas para o capital
nacional durante os anos 1980, afetando setores como a produção metalmecânica e
automotiva.
Além disso, o texto destaca a modificação do "núcleo técnico" das empresas e de seus
contextos operacionais, que levou a uma mudança na natureza das transferências de
capital, como fusões e aquisições. Essas transferências desempenharam um papel
significativo no processo de reestruturação, especialmente na onda de privatizações de
empresas estatais, tanto na Argentina como em outros países. O texto também
menciona que a Argentina enfrentou uma intensa privatização de empresas estatais no
início da década de 1990, seguida pelo fenômeno da "extranjerización", que envolveu a
transferência da propriedade de empresas de capital nacional para o capital estrangeiro.
Esse processo teve características peculiares, pois afetou principalmente empresas
líderes e altamente lucrativas, principalmente no setor de serviços públicos.
Essas transformações e mudanças no país se desdobraram de maneira desigual e foram
influenciadas pela forma como as alianças sociais e o poder de elite foram articulados.
Além disso, a implementação das políticas neoliberais na Argentina ocorreu sob a
ditadura militar, resultando em um padrão de acumulação de capital específico
baseado na valorização financeira. Esse processo incluiu a evolução espetacular da
dívida externa e a fuga de capitais. Também é importante notar que uma fração do
capital nacional (grupos econômicos locais) desempenhou um papel proeminente tanto
na valorização financeira quanto em sua dissolução e reativação posterior.

Las crisis endémicas y contagiosas de la internacionalización financiera y la


problemática de la autonomía relativa de las fracciones del capital dominantes
O trecho discute o processo de concentração de renda e riqueza, tanto em escala global
quanto na Argentina, à medida que ocorrem repetidas crises que diferem das observadas
desde a crise dos anos 30. Nesse contexto, a contradição entre capital e trabalho se
manifesta por meio de um processo em que os ativos financeiros crescem muito mais
rapidamente do que os ativos fixos, resultando em crises financeiras recorrentes que
destroem capital fictício, reduzindo o valor dos ativos financeiros.
Essa característica está intimamente ligada ao caráter "endêmico e contagioso" das
crises internacionais mencionadas por David Harvey. O texto destaca várias dessas
crises, começando com a crise que começou na Polônia em 1981 e se consolidou com a
moratória mexicana de 1982, afetando toda a América Latina na década de 1980 devido a
altas taxas de juros e desfinanciamento. A crise se concentrou nos países grandes da
região, como Argentina, Brasil e México, afetando a estabilidade dos grandes bancos
transnacionais norte-americanos.
As autoridades norte-americanas buscaram regulamentar os bancos comerciais para
enfrentar eventuais inadimplências dos países latino-americanos. Em seguida, o texto
menciona o Plano Baker e o Plano Brady, destinados a permitir que os bancos
recuperassem o capital devido pelos países latino-americanos, principalmente por meio
da privatização de empresas estatais. Durante o segundo quinquênio dos anos 1980, a
situação de insolvência dos países latino-americanos se agravou, levando à aplicação
lenta das reformas estruturais devido à resistência dos bancos transnacionais e dos
países devedores. A crise do Tequila começou no México em 1995, após a implementação
do Plano Brady na região. A seguir, a crise asiática, que se iniciou na Tailândia em 1997,
afetou a maioria dos países asiáticos e se estendeu a outros lugares, incluindo a América
Latina. No caso da Argentina, essa crise acelerou o colapso do regime de conversibilidade
do país e seu padrão de acumulação baseado na valorização financeira.
O texto ressalta que a desregulamentação dos movimentos de capital desempenhou um
papel central na propagação das crises durante o período neoliberal. As políticas dos
organismos internacionais de crédito e os interesses de fundos especulativos também
tiveram influência nas crises. No entanto, na Argentina, a característica distintiva é a
prioridade dada ao endividamento externo no comportamento das grandes empresas,
parte da expansão da dívida externa pública e da fuga de capitais.

O texto descreve três grandes crises financeiras que afetaram a América Latina,
especialmente a Argentina. A primeira crise começou na Polônia em 1981 e se
consolidou com a moratória mexicana de 1982, afetando toda a América Latina. A crise
do Tequila ocorreu no México em 1995, seguida pela crise asiática de 1997, que se
estendeu para países da Ásia, Europa Oriental e América Latina, incluindo a Argentina.
Essas crises foram exacerbadas pela desregulamentação dos movimentos de capital.
O texto destaca a contradição entre os devedores externos, como a classe dominante
argentina, e os credores externos, como o capital financeiro internacional. Durante as
crises, ocorria uma luta dentro do "bloco de poder" entre essas frações de capital, levando
a mudanças nas condições internacionais e nas relações entre capital e trabalho,
resultando em impactos negativos nos setores populares.
Após a crise de 2001 e 2002, a classe dominante argentina ganhou autonomia relativa,
beneficiada pelo crescimento econômico global, especialmente na China, e pelas disputas
internas no capital financeiro internacional. No entanto, apesar das mobilizações sociais,
a falta de um projeto alternativo para disputar o poder no país permitiu que essa fração
do capital mantivesse seu domínio. A situação se assemelha à década de 1930, mas com
um crescimento econômico significativo, destacando a complexidade das alianças
sociais em meio a uma transição. Essa fase de transição é marcada pelo rearranjo das
alianças sociais, com concessões políticas e econômicas aos setores populares,
enquanto a classe dominante mantém seu poder econômico e político.

Notas sobre la evolución reciente de la economía argentina

El contenido político y social de la postconvertibilidad


Esta parte discute o contexto da crise financeira na Argentina e as propostas
alternativas à política de "convertibilidade" que surgiram durante esse período. Duas
principais frações da classe dominante estavam por trás dessas alternativas: a oligarquia
diversificada, representada pela aliança de Duhalde e Alfonsín, que defendia a
depreciação da moeda como uma forma de escapar do regime de convertibilidade; e os
credores externos e o capital estrangeiro, representados pelo FMI e pelo Banco
Mundial, que postulavam a dolarização da economia argentina para proteger o valor de
seus ativos em dólares.
Essas duas abordagens tinham como objetivo principal proteger os interesses das
frações dominantes, em vez de beneficiar a sociedade como um todo. Enquanto a
depreciação visava a multiplicação dos capitais fugidos do país, a dolarização buscava
garantir o valor patrimonial dos ativos em dólares.
Além da questão da taxa de câmbio, as divergências entre essas frações da classe
dominante abrangiam tópicos como a integração aos mercados globais, a estrutura do
Estado e o sistema político. A depreciação estava centrada no Mercosul, enquanto a
dolarização buscava se alinhar com o NAFTA. A depreciação buscava manter o status
quo do Estado, enquanto a dolarização promovia a regionalização do país e a
privatização dos bancos estatais.
A depreciação prevaleceu, mas em meio a uma das crises mais profundas da história
argentina, com crescente agitação social. Mesmo sem uma proposta própria, os setores
populares exerceram pressão sobre a coalizão política liderada por Duhalde e Alfonsín,
impondo condições para a implementação do plano. O governo de Duhalde, em 2002,
buscou evitar a nacionalização da dívida externa privada e confrontar os credores
externos e organismos internacionais com argumentos nacionais. A nível social e
político, foram adotadas medidas como o Plano Jefes y Jefas de Hogar Desocupados, a
antecipação das eleições e a nomeação de Néstor Kirchner como candidato.

No entanto, embora a coalizão política e social liderada pela oligarquia diversificada tenha
conseguido implementar sua política econômica, não conseguiu fazer o mesmo em
relação ao sistema político devido à crise de representação e ao desafio à
"governabilidade". Desde a década de 1970, a implementação da valorização financeira
modificou o sistema político argentino, levando a um "transformismo". No entanto, com a
dissolução da valorização financeira, tornou-se necessário abandonar o transformismo e
retornar a uma dinâmica política mais ligada à ideia de hegemonia, que envolve
concessões às classes subalternas para garantir a governabilidade.

A gestão de Néstor Kirchner representou um processo de transição em que novas


alianças políticas e sociais começaram a se formar. A autonomia relativa das frações
do capital interno em relação ao poder financeiro global permitiu uma maior
rentabilidade nas atividades produtivas, e o sistema político também buscou uma
maior autonomia em relação às frações do capital interno. No entanto, a análise
observa que a dinâmica política do governo de Kirchner passou por mudanças
significativas a partir de 2005-2006, com pressões inflacionárias e desafios políticos.
A decisão de ocupar o espaço do Partido Justicialista resultou em uma derrota
significativa para o governo, visto que esse partido havia perdido a capacidade de
mobilizar os setores populares durante a era da valorização financeira. Durante o
governo de Kirchner, houve conflitos em torno das políticas de retenciones móviles, que
opuseram o Estado e uma coalizão de interesses que incluía o agronegócio, a mídia e a
oposição política. Durante esse período, o partido peronista mostrou-se ineficaz na
mobilização popular e na condução do processo.

Las características económicas de la crisis 2001-2002 y de la reactivación


posterior
A crise econômica na Argentina em 2001 foi a conclusão de uma profunda e prolongada
crise econômica e social, desencadeada em parte por colapsos recorrentes na
economia internacional, originados nos países do sudeste asiático. Essa crise resultou
na implosão do regime de "convertibilidade" (uma taxa de câmbio fixa e conversível) e
no esgotamento do padrão de acumulação de capital baseado na valorização
financeira, que havia sido implementado durante a ditadura militar entre 1976 e 1982
e continuado pelos governos constitucionais subsequentes, levando a um
endividamento externo insustentável.

O gráfico abaixo ilustra a evolução do Produto Interno Bruto (PIB), do investimento


bruto fixo total e do investimento em maquinaria e equipamentos. Os dados indicam
que a crise começou em 1998, atingiu o epicentro em 2002 e resultou em uma redução
de 20% do PIB ao longo desse período. Durante esses anos críticos, houve uma
paralisação na formação de capital devido a uma acentuada diminuição no investimento
bruto fixo, que diminuiu mais de 55% entre 1998 e 2002, e uma queda de mais de 60% no
investimento em maquinaria e equipamentos. Isso levou a uma paralisação na formação
de capital na economia nacional, já que a taxa de investimento mal chegou a 10-12% do
PIB em 2002.
A partir de 2002, a economia argentina experimentou um notável crescimento do PIB,
variando entre 8% e 10% ao ano. Esse crescimento foi impulsionado por uma mudança
nas condições econômicas, incluindo uma depreciação significativa da taxa de câmbio
real, uma queda nos salários reais, um aumento na rentabilidade da produção de bens
comercializáveis e uma redução na taxa de juros. A produção de bens tornou-se o
principal motor da recuperação econômica, com o investimento em maquinaria e
equipamentos desempenhando um papel crucial nesse processo.
Essa transformação na economia após 2002 representou uma mudança radical em
relação ao período anterior, marcado pelo regime de "convertibilidade" (1990-2001) e
pela valorização financeira, que resultou em um declínio relativo da economia real e
desindustrialização. Setores com vantagens comparativas a nível internacional e aqueles
beneficiados por regimes específicos de promoção e proteção, juntamente com serviços
públicos privatizados, foram os principais impulsionadores do crescimento.
Portanto, o texto destaca a diferença entre o período de crise e a fase de recuperação
econômica na Argentina, com uma mudança fundamental na orientação da economia,
passando da valorização financeira para uma ênfase na produção de bens.
O próximo gráfico mostra a modificação do comportamento da economia nacional, as
três grandes atividades que compõem a produção de bens são: agricultura, construção
e indústria. Isto segue significa que entre 1995-2001, a diminuição na produção de bens
em relação ao conjunto da economia (-59,0%) é inferior ao recorde. trazida pela indústria
(135,8%), devido ao efeito positivo exercido pela construção e produção agrícola,
neutralizando parcialmente te a profunda contracção relativa da indústria
transformadora. É Não há dúvida de que a influência da produção agrícola foi central, já
que durante esses anos o crescimento meteórico do produção de soja na agricultura.

Por outro lado, na fase 2002-2007, o crescimento relativo do produção de bens em


relação à economia como um todo é mais mais do que o registrado pela indústria, devido
à influência tanto da construção e da produção agrícola. Também o A mudança inversa
que ocorre na taxa de crescimento dos serviços em relação à da economia como um todo
está principalmente relacionada com especialmente, com a trajetória dos serviços
públicos privatizados e o impacto sobre eles da mudança nos preços relativos, apesar
de que na maioria dos casos reconstituíram os seus rendimentos estabilidade
operacional, pois a crise já havia ficado para trás.
É oportuno ressaltar que a evolução do setor externo foi o motor inicial que lançou a
reactivação económica do pós-conversibilidade, devido a duas modificações
substanciais. Primeiro, a renegociação de uma parte da dívida externa pública e,
especialmente, o aumento substancial do saldo actividade comercial apoiada na venda
de produtos primários com vantagens comparativas naturais (energia, mineração e
produtos
agrícola).

Quadro para mostrar as taxas de crescimento das diferentes indústrias antes (1995-
2001) e após a dissolução do regime de "convertibilidade" (2002-2006), distinguindo
entre indústrias que abastecem principalmente o mercado interno, aquelas que têm
mercado interno e exportações e aquelas que vendem seus produtos principalmente no
exterior.

Fica evidente que a reversão na depressão industrial ocorreu amplamente após o fim do
regime de "convertibilidade", abrangendo todas as áreas industriais, sejam voltadas
para o mercado interno ou exportadoras. As indústrias cuja demanda é composta
principalmente pelo mercado interno foram as que mais se expandiram entre 2002 e
2006, enquanto aquelas voltadas para exportação também cresceram, mas em menor
intensidade. As atividades exportadoras foram as que menos caíram nos últimos anos do
regime de "convertibilidade", mas a expansão das indústrias voltadas para o mercado
interno é um traço importante para entender a natureza do crescimento econômico dos
anos recentes.
É notável que, durante esse tipo de expansão industrial, a participação dos assalariados
na renda não apenas é uma das mais baixas das últimas décadas, mas também está
abaixo do que foi alcançado em 2001. Isso sugere que o núcleo da demanda interna é
composto por não assalariados ou, talvez mais precisamente, pelos setores de maior
renda onde os não assalariados se encontram com os assalariados de maiores salários.

O texto destaca que a demanda externa e a demanda proveniente dos setores de maior
renda constituem a principal base do atual crescimento industrial, enquanto a
demanda gerada pela maioria dos assalariados atua apenas como um fator secundário.
Isso tem implicações históricas e econômicas, pois, embora o processo atual compartilhe
com a segunda etapa da substituição de importações (1958-1975) o protagonismo
industrial, ele difere em termos da composição da demanda. Durante a substituição de
importações, o consumo dos assalariados desempenhava um papel fundamental, o que
não ocorre atualmente. A menor influência dos assalariados significa que os atributos que
caracterizam o salário em termos macroeconômicos (como componente da demanda e
fator de custo) estão desequilibrados, já que sua importância no consumo tende a
diminuir, enquanto aumenta como um fator de custo a ser minimizado.

La evolución de la distribución del ingreso


Destacando o impacto no mercado de trabalho e na distribuição de renda, o colapso
econômico de 2001 resultou em uma redução da ocupação, com 800.000 pessoas
perdendo seus empregos, e a taxa de desemprego atingindo mais de 20% da população
economicamente ativa, chegando a mais de 30% quando se inclui a subocupação. Além
disso, houve uma queda dramática no salário real, que caiu cerca de 30% em 2002.
Após o início do crescimento econômico a partir de 2003, houve uma recuperação do
salário real e da ocupação. A reativação da produção industrial e da construção contribuiu
para a redução do desemprego, que caiu para cerca de 8% da população
economicamente ativa até o final de 2007. Também houve uma recomposição salarial,
com aumentos de salário real tanto para trabalhadores registrados quanto para
trabalhadores não registrados. Em 2007, a ocupação era 16% maior do que em 2001, e o
salário real estava praticamente no mesmo nível de 2001.

No entanto, mesmo com a recuperação do mercado de trabalho e dos salários, a


participação dos assalariados na renda diminuiu. Em 2007, a participação dos
assalariados na renda era de 28%, significativamente inferior aos 31% em 2001, antes
da crise econômica.

A aparente contradição entre a recuperação do salário real e a participação dos


assalariados na renda pode ser explicada pelo fato de que o crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) superou o aumento da massa salarial. Enquanto o PIB cresceu 31%
entre 2001 e 2007, a massa salarial (que é o salário real multiplicado pela ocupação)
cresceu apenas 16%. Isso indica que, embora as condições de vida da classe
trabalhadora tenham melhorado em termos absolutos em relação à crise, a
participação dessa classe na distribuição de renda diminuiu devido ao maior
crescimento do PIB em relação à massa salarial.

Além disso, o texto destaca que o aumento da participação dos salários não resultou de
forças de mercado, mas sim das políticas adotadas pelo governo para promover a
recuperação econômica e a reindustrialização. O governo implementou várias medidas,
como o aumento do salário mínimo, a incorporação de aumentos salariais de soma fixa
aos salários básicos e o estímulo às negociações coletivas de trabalho.

O texto também menciona as mudanças nos preços relativos e a relação entre salário real
e preços de atacado, indicando que as políticas estatais desempenharam um papel
importante na moderação dos preços e na manutenção do salário real. No entanto, o
aumento das pressões inflacionárias sugere uma tentativa de diluir os ganhos dos
trabalhadores e manter a distribuição de renda desigual.
Além disso, o texto observa que a classe trabalhadora enfrentou várias alterações
estruturais nas décadas anteriores, incluindo a desocupação, a terceirização, a
desregulamentação do mercado de trabalho e a expansão do trabalho não registrado.
Essas mudanças resultaram em uma classe trabalhadora heterogênea, com baixa taxa
de sindicalização e a dissolução das comissões internas que costumavam ser centrais na
organização dos trabalhadores.

La concentración económica y la centralización económica


No processo de concentração de capital, as vendas das grandes empresas eram
economicamente significativas, representando em média 34,2% do PIB entre 1995 e
2001, contribuindo com cerca de 14,3% do valor agregado. Além disso, observa-se um
aumento nas vendas das empresas muito acima do aumento do PIB durante esse
período. Posteriormente, após a crise financeira de 2001, houve um aumento acentuado
na concentração econômica, com as vendas dessas grandes empresas representando,
em média, 49,7% do PIB e contribuindo com cerca de 20,9% do valor agregado entre 2001
e 2005.

O autor destaca que a contradição central na valorização financeira não se baseou na luta
entre o capital financeiro e o industrial, mas, surpreendentemente, o capital industrial
oligopólico foi o núcleo central desse processo de valorização financeira. As mudanças
macroeconômicas recentes são acompanhadas pela manutenção de uma alta
concentração e centralização de capital, embora seja notável a expansão desse
processo.
Em resumo, o texto explora a concentração de capital na economia argentina, mostrando
como as vendas das grandes empresas desempenham um papel importante no PIB e no
valor agregado. Também ressalta que o capital industrial oligopólico foi o principal
beneficiário da mudança de política econômica após a crise de 2001.

Olhando para a rentabilidade (lucros/vendas), a taxa média de rentabilidade da fase


2003-2005 (8,93%) é 160% superior ao registrado entre 1995 e 2001

Focando no setor externo e na balança comercial, se olharmos para a importância das


200 maiores empresas da Argentina da época, vemos que o saldo positivo da balança
dessas era muito maior do que o saldo geral da economia. A participação dessas
grandes empresas nas exportações era majoritária, representando 54% no período de
1995 a 2001 e aumentando para 70,8% entre 2002 e 2005, em grande parte devido à
crescente participação do setor de petróleo.

Em relação às importações, a participação dessas grandes empresas era relativamente


baixa, 24,6% entre 1995 e 2001 e 32,4% entre 2002 e 2005, apesar do notável aumento
nas compras externas feitas pelas empresas automobilísticas.
Além disso, o autor aborda as transformações dentro da cúpula empresarial,
considerando as diferentes frações de capital que detêm a propriedade das corporações
de maior receita. O texto destaca a relevância histórica e atual do estudo das alternativas
seguidas pelo capital estrangeiro em comparação com a evolução do capital nacional,
uma vez que o domínio, as características e o grau de autonomia de cada um deles
resultam em distintas formas de produção e distribuição de renda.
No contexto da América Latina, o autor menciona experiências nacionalistas nas
décadas de 1940 e 1950, que buscaram regular o capital estrangeiro como parte
central de suas políticas. Essas experiências se aprofundaram nas décadas de 1960 e
1970, com regimes políticos que buscaram promover a industrialização, neutralizando
a influência do capital estrangeiro e impulsionando as empresas nacionais públicas e
privadas para alcançar crescimento econômico, desenvolvimento tecnológico e
distribuição justa de renda.
O texto destaca a reação comum desses regimes à concentração do poder econômico e à
distribuição regressiva de renda causada pelo domínio estrangeiro e pelas políticas de
estabilização econômica. No entanto, essas experiências variaram de mudanças
regulatórias em relação ao capital estrangeiro a mudanças radicais com objetivos
socialistas.
Finalmente, o autor ressalta a importância de entender as transformações atuais dentro
da cúpula empresarial em relação à propriedade de empresas, especialmente em setores
como os serviços públicos e a promoção industrial, destacando as mudanças na
composição da propriedade das empresas.
No Gráfico 6, as trajetórias do capital estrangeiro e nacional entre 1991 e 2005 são
apresentadas, juntamente com as descritas pelas associações. O gráfico destaca
mudanças drásticas na situação de cada um deles, com uma tendência de longo prazo
que mostra uma queda na participação das empresas nacionais e um aumento
igualmente acentuado na participação das empresas pertencentes a investidores
estrangeiros. As associações, após um crescimento inicial significativo, também
experimentam uma queda em sua influência nas vendas das 200 maiores empresas em
termos de faturamento.
Essas mudanças acentuadas na participação das diferentes frações de capital nas vendas
das grandes empresas refletem alterações na propriedade das mesmas. Inicialmente,
havia um claro domínio das empresas nacionais, marcando o fim de um período de
substituição de importações. No entanto, a partir da década de 1990, houve um
crescimento contínuo da participação do capital estrangeiro em detrimento do capital
nacional, bem como das associações. Esse processo culminou em uma situação quase
oposta à que estava em vigor no início da década de 1990.
Essas mudanças estão relacionadas a políticas econômicas, incluindo reformas
monetaristas e financeiras, que tiveram impactos significativos na estrutura industrial da
Argentina. Durante a década de 1980, as empresas de capital nacional se concentraram
na produção de bens intermediários e produtos com vantagens comparativas naturais,
enquanto as empresas de capital estrangeiro estavam mais expostas aos efeitos da
abertura econômica. Isso resultou em um aumento constante na participação das
empresas de capital nacional nas vendas das grandes empresas.
No entanto, a partir da década de 1990, a participação das empresas de capital
estrangeiro cresceu de forma consistente, superando as empresas de capital nacional e
as associações. Isso reflete as complexas mudanças na estrutura econômica da Argentina
ao longo desse período e os impactos das políticas econômicas adotadas.

No geral, a privatização das empresas estatais levou a um aumento notório de


associações empresariais nos primeiros anos da década de 1990.
A partir de 1995, houve um intenso processo de transferências de capital, com o capital
nacional vendendo e o estrangeiro comprando, incluindo a compra e venda de ações de
consórcios que haviam surgido anteriormente durante as privatizações.
Esse processo resultou em uma diminuição generalizada da participação das frações do
capital nacional nas vendas das grandes empresas.
As empresas estatais, que tinham uma grande participação nas vendas iniciais, sofreram
uma redução significativa. Grupos econômicos locais venderam parte de suas empresas e
ações em consórcios prestadores de serviços públicos.
A burguesia nacional independente, que historicamente havia sido uma parte
importante do peronismo, perdeu sua relevância industrial e se tornou principalmente
envolvida em atividades comerciais, subordinando-se à lógica de acumulação de
capital das frações dominantes. A reconstituição da burguesia nacional se tornou um
dos elementos-chave da política governamental desde 2003, assim como a oligarquia
diversificada, que sempre teve uma influência decisiva nas ações estatais.
Durante os anos recentes (2008), houve uma reconfiguração das frações do capital
nacional, com algumas empresas locais independentes incorporando grandes empresas
produtivas com foco em exportação, mudando sua posição no ranking das maiores
empresas.
As mudanças na propriedade de empresas privatizadas também incluíram aquisições
significativas por parte de grupos econômicos locais, indicando um reposicionamento
dessas frações do capital nacional.
A nova política de promoção industrial do governo concentra-se em grupos econômicos
locais, com 64% dos investimentos promovidos, 22% da ocupação e 80% do custo fiscal.
Essas políticas não buscam modificar a estrutura produtiva local, que permanece focada
em produtos com vantagens comparativas naturais.
Em resumo, o texto destaca as mudanças significativas nas estruturas de propriedade e
influência no setor empresarial argentino, resultantes das privatizações e transferências
de capital, com grupos econômicos locais desempenhando um papel central nesse
processo.

Notas finales
Na trajetória da economia argentina nas últimas décadas, podemos observar a
influência da hegemonia neoliberal que prevaleceu na economia global. Isso trouxe
características marcantes para o processo econômico a partir da década de 1970. O
estagnação e as frequentes crises econômicas foram uma dessas características, bem
como a acentuada e duradoura concentração de renda que se estabeleceu nesse
período, por meio do "disciplinamento" das camadas populares.

No entanto, por trás dessas semelhanças, existem particularidades importantes a serem


consideradas para entender a identidade específica do caso argentino. A imposição de
abordagens monetárias e a reestruturação econômica com a supressão do movimento
popular foram aspectos cruciais, mas não exclusivos dessa reviravolta. De fato, essa
reviravolta foi uma expressão significativa, mas não exclusiva, da ampla "revanche de
classe" empreendida pelas elites dominantes naquela época, através da reversão do
modelo de industrialização baseado na substituição de importações. Esse modelo
anteriormente proporcionava a base estrutural para a mobilização e organização
populares vigorosas daquele período e, portanto, anular suas conquistas até então
obtidas pela classe trabalhadora.
Essa mudança não se limitou a uma mera adesão à ideologia dominante, mas sim uma
política de poder que não foi predominantemente orientada pelo capital estrangeiro. Em
vez disso, foi liderada por um novo bloco de poder formado pela aliança entre a fração da
oligarquia rural que se diversificou décadas antes em direção à indústria (oligarquia
diversificada) e o capital financeiro internacional. Embora ambos tenham se beneficiado
desse processo, a fração interna desempenhou um papel fundamental na implementação
das transformações econômicas e sociais, devido ao seu controle sobre o Estado e à
atuação de seus "intelectuais orgânicos".
Essa peculiaridade do caso argentino se manifesta nas características distintas dos
fenômenos macroeconômicos e microeconômicos, que têm como elemento central o
endividamento externo e a fuga de capitais para o exterior. A natureza específica do
caso argentino permitiu que esse bloco de poder quebrasse o modelo de substituição de
importações e inaugurasse um novo padrão de acumulação de capital baseado na
valorização financeira. Esse novo modelo perdurou até o ano de 2001 e afetou
severamente a base material da economia argentina.
O fim da valorização financeira como padrão específico de acumulação de capital
começou com a terceira grande crise do neoliberalismo a nível mundial, originada no
Sudeste Asiático, mas que teve um desenvolvimento e desfecho específicos localmente: o
esgotamento definitivo da valorização financeira. Isso se torna ainda mais evidente com a
crise nos Estados Unidos e nas demais economias centrais.
Essa crise foi singular devido à sua duração e profundidade, colocando em questão a
própria dominação social. A partir desse momento, iniciou-se uma complexa etapa de
transição, uma vez que não foi definido um padrão alternativo de acumulação de capital.
Essa fase persiste até hoje e se caracteriza por se desdobrar em meio a uma acentuada
expansão econômica.
A instabilidade e indefinição dessa etapa parecem estar relacionadas a dois fatores
complementares. O primeiro deles está diretamente ligado à duração e profundidade da
crise que marcou o fim da valorização financeira. Isso ocorreu devido ao confronto
exaustivo no bloco de poder entre as frações do capital que defendiam a dolarização ou a
depreciação. A vitória da proposta de depreciação, apoiada pela aliança política vinculada
à oligarquia diversificada, resultou em uma maior autonomia relativa em relação ao
capital financeiro internacional, mas ao mesmo tempo enfraqueceu o controle sobre o
Estado.
Assim, a partir de 2003, o governo de Néstor Kirchner implementou reformas que eram
impensáveis pouco tempo antes. Isso ampliou a autonomia do sistema político em
relação ao poder estabelecido. No entanto, essa autonomia foi posteriormente
comprometida, tanto devido a erros próprios quanto às restrições impostas pelos setores
dominantes.
O segundo processo que parece ter se desenvolvido a partir de 2002 está intimamente
relacionado às transformações que ocorreram na Argentina durante a fase de valorização
financeira. Essas mudanças foram significativas e alteraram profundamente a estrutura
e a dinâmica do capital e do trabalho, e agora seus efeitos estão sendo intensamente
sentidos nos âmbitos político e social, marcando o início de uma nova fase na qual uma
nova configuração de frentes sociais e políticas está se formando. As repetidas fraturas e
reagrupamentos não apenas nas organizações de protesto, como os piqueteiros, mas
também nas demais organizações sociais, incluindo os sindicatos e as entidades que
representavam pequenos e médios produtores rurais, são evidências claras de que um
novo mapa social e político está se delineando.
No entanto, é importante observar que essa reorganização das inserções estruturais e
alianças políticas e sociais também afeta as frações dominantes do capital. Isso se tornou
evidente durante o conflito entre o governo e a oligarquia diversificada em relação às
retenções móveis. Durante o segundo quinquênio dos anos 1990, uma das mudanças
mais significativas foi a internacionalização da indústria local, principalmente devido à
venda de uma parcela substancial de suas empresas industriais pela fração diversificada
da oligarquia, que posteriormente transferiu esses recursos para o exterior. Atualmente, a
fração diversificada da oligarquia, que é principalmente financeira (com investimentos no
exterior) e agropecuária, não apenas perde sua capacidade de interlocução e influência
sobre o Estado, especialmente em um momento crítico em que a expansão industrial é
crucial, mas também modificou sua estratégia de acumulação, que agora se concentra na
produção agropecuária, fortalecida pelo aumento significativo dos preços internacionais
desses produtos em 2008. Essa fração da oligarquia não buscou recuperar suas posições
na produção industrial disputando o domínio do capital estrangeiro nessa atividade, mas
pretende restringir o crescimento e determinar a composição da indústria por meio da
expansão da agricultura na região da Pampa.
Em resumo, a convergência e o reforço dos processos mencionados anteriormente
dificultam a definição de um novo padrão de acumulação de capital, uma vez que os
movimentos sociais portadores de propostas alternativas ainda estão em formação.
Tudo sugere que a lenta constituição desses movimentos tem sido fortemente
influenciada pelo notável crescimento econômico dos últimos anos. No entanto, esse
crescimento pode ser difícil de sustentar, dada a virulência da crise atual do capitalismo
financeiro, que, pela primeira vez, tem seu epicentro nos países centrais.

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