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Crise de

1929 e a
Grande
Depressão
HISTÓRIA ECONÔMICA GERAL
PROF. SERGIO LUIZ DE
CERQUEIRA SILVA
Uma crise ainda em estudo
Passados 90 anos, ainda não há um
consenso sobre as causas da Crise de 1929
e nem sequer sobre a sua relação com a
Grande Depressão.
O interesse pela Crise de 1929 e a Grande
Depressão foi renovado na Crise do
Subprime em 2008/2009.
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A relação entre 1929 e a Grande
Depressão
Os autores que recorrem às estatísticas do período costumam afirmar que a economia americana
já vivia uma recessão antes do Crash e, por isso, descartam o senso comum de que foi este que
determinou a Grande Depressão.

HELLER (2010) distingue recessão e depressão


◦ Recessão: queda do PIB por 6 meses ou mais;
◦ Depressão: queda do PIB superior à 10% ao ano.
A Grande
Depressão –
PIB per
capita
Nos EUA a queda da bolsa contribuiu para
transformar a recessão numa depressão.
Os eventos nos EUA foram transmitidos aos resto
do mundo em razão do padrão ouro.
Duas visões:
◦ Charles Kindleberger :o colapso do mercado
de títulos em 1929 foi posterior à recessão
O consenso que já havia começado;
◦ John Kenneth Galbraith: a quebra da bolsa foi
o resultado de uma longa e generalizada orgia
especulativa no mercado de títulos, que
associada à inação de governos, tesouros e
bancos centrais levou à duradoura e profunda
depressão.
O ponto de
vista de
Galbraith
Má distribuição da renda: exigia gastos
em bens de luxo e bens de capital que
são muito sensíveis às notícias do
mercado de ações;

Falhas regulatórias;

Estrutura bancária fraca e sujeita a crises


sistêmicas;

Superávit comercial associado ao


financiamento do resto do mundo.

Arcabouço teórico inadequado para


compreender a natureza da crise.

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O ponto de vista de
Friedman e Schwartz
Erros na política monetária: as alterações no estoque de
moeda ou na política monetária ocorreram por razões
não relacionadas com o comportamento da produção e
dos preços, isto é, em que as mudanças monetárias
foram "exógenas", de modo que as respostas da
economia “real” teriam sido apenas um reflexo ou uma
reação a estes choques.

O Fed continuamente contraiu a oferta monetária com o


objetivo de conter a especulação em razão das
expectativas de abandono do padrão ouro.

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A recessão fora dos EUA também precedeu o
Crash de 1929
Frieden aponta como causa a redução dos
fluxos de empréstimos dos EUA para o resto
A recessão do mundo em razão da alta especulativa dos
títulos no mercado norte-americano. O Dow
no mundo Jones sobe de 191 para 381 pontos entre o
final de 1928 e outubro de 1929 (o crash foi
em 24/10/1929).
A Depressão se instala no resto do mundo
antes dos EUA.
Qual a
conexão Hyman Minsky: um período de forte crescimento da economia
gera expectativas que podem ser excessivamente otimistas, tanto

entre a do ponto de vista dos ganhos financeiros quanto da economia


real. A passagem de uma posição financeira a outra é
crise determinada pelo estado das expectativas, as quais, quando
excessivamente otimistas, podem ser frustradas, levando à
financeira disrupção financeira e da produção e emprego.

ea A grande contração de 1929 a 1933 foi o primeiro estágio da


Grande Depressão que continuou até o final da década de 1930
“economia
real”?
Queda no valor dos ativos leva à liquidação
(venda) de posições e à contração do crédito.
Isto leva à fuga de investimentos financeiros
para ativos líquidos (preferência pela
liquidez).
Estouro da Em busca de recursos, dada a escassez de
crédito, as empresas passam a liquidar
bolha estoques com o objetivo de liquidar dívidas,
levando à deflação e ao aumento real das
dívidas, piorando a posição financeira das
empresas.
Isto agrava o nível de inadimplência, criando
uma “bola de neve” deflacionária.
Postura do FED
Segundo Friedman & Schwartz o FED errou não apenas ao não frear a onda especulativa, mas
principalmente ao reduzir a liquidez do sistema ao invés de elevá-la.

Além disso, o arcabouço teórico do período defendia que o Governo não deveria salvar
“instituições fracas”, o que contribuiu para que a crise se ampliasse.

Barry Eichengreen assinala ainda que os bancos comerciais tinham baixa aversão ao risco e
assumiram posições especulativas com fundos de depositantes, o que levou à falência de
centenas de bancos e às corridas bancárias, agravadas pela postura não-intervencionista do FED.
As visões
keynesianas

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O velho John Maynard Keynes
O papel da demanda efetiva
◦ Para J. M. Keynes, as crises capitalistas decorrem da insuficiência de demanda provocada pela quebra de
expectativas dos rendimentos futuros dos investimentos correntes, a qual Keynes chama de “eficiência
marginal do capital”.
◦ Keynes dá um papel subordinado ao consumo: C = f (Y) → uma queda no nível de renda irá provocar uma
queda no consumo. O consumo não é um gasto autônomo
◦ Gasto privado autônomo é o investimento: I = f (i, r*) onde i é a taxa de juros e r* a eficiência marginal do
capital ou taxa de retorno esperado. Quando r < r* → cai o investimento.
◦ Para Keynes foi justamente isto que ocorreu ao final da década de 1920 nos EUA.
◦ Para compensar a redução de r (lucros privados), o FED deveria ter diminuído a taxa de juros, mas ele fez
o contrário.
Como sair do atoleiro para Keynes
A “armadilha da liquidez” é quando a redução da taxa de juros não é suficiente para induzir os
detentores de riqueza a investirem (comprarem novos bens de capital).

Então, na ausência de um gastador autônomo privado, deve entrar um gastador autônomo


público: o Governo.

Keynes era particularmente cético quanto à capacidade da política monetária reverter uma crise.
Para Keynes as crises deveriam ser enfrentadas com gastos públicos.
Duas outras teses
keynesianas
A tese da
responsabilidade:
Charles
Kindleberger
A tese da responsabilidade
Para Kindleberger no seu livro “Manias, Panics, and Crashes” de 1978 a Grande Depressão foi resultado da
incapacidade da Grã Bretanha de sustentar o sistema (como fazia até a Primeira Guerra Mundial) e a
relutância dos Estados Unidos em fazê-lo (antes de 1936).

A Inglaterra não cumpria mais o seu papel de liderança e os EUA não ocupou seu lugar: (a) manter uma
ampla pauta de importações e exportações; (b) ser capaz de fornecer empréstimos de longo prazo de forma
estável; (c) manter um sistema relativamente estável de taxas de câmbio; (d) coordenar políticas
macroeconômicas; (e) atuar como emprestador de última instância, isto é, atuar como fornecedor de liquidez
nas crises financeiras.
Em resumo, estabilidade do padrão-ouro do período anterior à I Guerra Mundial foi resultante da capacidade de
liderança da Grã-Bretanha e do Banco da Inglaterra. Uma vez que esta capacidade de liderança foi abalada, o
padrão-ouro deixou de funcionar como mecanismo de estabilização da economia internacional, facilitando os
mecanismos de transmissão dos problemas econômicos, monetários, financeiros ou reais de um país para outro.
A tese da
credibilidade e
cooperação: Barry
Eichengreen

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A tese da credibilidade e
cooperação
O padrão ouro ofereceu estabilidade não porque havia uma liderança internacional que lhe desse
sustentação, mas porque era resultado de um sistema de cooperação internacional que lhe dava
credibilidade.

O sistema era baseado na crença de que eventuais problemas domésticos que não pudessem ser
resolvidos em âmbito nacional seriam solucionados por meio da cooperação internacional entre
governos e bancos centrais.

Depois da I Guerra, este esquema de cooperação internacional se desmonta, seja por causa das
“feridas” da guerra, seja em razão das mudanças nas políticas domésticas, que reduzem o
espaço para a cooperação internacional.
Bibliografia
Heller, Claudia Convergências nas interpretações da Grande Depressão ;

Heller, Claudia Notas Sobre as Relações entre a Quebra da Bolsa em 1929 e a Grande Depressão
Versão concluída em março de 2010, preparada para o XV Encontro Nacional de Economia
Política- Área 2.2 História Econômica Geral, Sessões Ordinárias

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