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CAPitULO 10
AS TRANSFORMAÇÕES DA ECONOMIA
CAPITALISTA NO PÓS-GUERRA E A ORIGEM
DOS DESEQUILíBRIOS GLOBAISl
I
j
No livro Trade, Development and Fore{gn Debt, o economista americano
Michael Hudson faz uma avaliação histórica e crítica das.teorias do comér.
cio e das finanças internacionais, desde os mercantilistas até os dias .de
hoje, com parada obrigatória em A.dam Smith e David .Ricardo. Ele divide
as teorias em dois grandes grupos: 1) aquelas que definem o sistema eco
nômico internacional a partir de relações hierárquicas entre os Estados
nacionais, suas moedas, seus sistemas financeiros e suas empresas; e 2) as
que advogam a existência .de um espaço homogêneo e "competitivo",.um
campo aberto para o desenvolvimento dos negócios e das trocas...
Para Hudson,as expressões "protecionista" e "livreambista" sãO etique
tas ideológicas que ocultam as razões de fundo das divergências. O capita
lismo realmente existente conta uma história mais ambígua do que aquela
narrada pelos fundamentalistas - de um lado e de outro - a respeito do
desenvolvimento das relações econômicas internacionais. Protecionismo
e livre-cambismo convivem como cães e gatos. Brigam o tempo todo, mas
são inseparáveis.
No final do século XIX, no apogeu da ordem liberal burguesa, a expan
são do comércio e das finanças internacionais estava fundada nas relações
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simbi6ticas entre 0 liberalismo da Inglaterf"J. hegemonica e as pollticas pro era forte a resistencia poHtica dos americanos a aboli<;ao do ouro como
tecionistas de industrializac;ao dos retardatarios europeus e dos Estados fl1ndamento da nova ordem monctaria internacional.
Unidos. Depois da Segunda Guerra Mllndial, os americanos abriram sell o Plano Keynes visava sobretudo climinar 0 papel perturbador exercido
mercado PUf"J as exportac;6es da Europa c do ]apao em rcconstruc;ao, ao pelo ouro como tdtimo ativo de rcserva do sistema, instrumento univer
mesmo tempo em que suas empresas migravam em massa para as regi6es sal da preferencia pela liquidez. Buscava, portanto, uma distribi.Iic;ao mais
de crescimento mai s r.lpido. equitativa do ajustamento dos desequilibrios de balanc;o de pagamento
No imediato p6s-guerra,0 projeto americano de construc;ao da ordem eco cntre deficitarios e sllperavitarios. Dcntro das condicionalidades cstabele
nomica internacional foi concebido com 0 prop6sito promover a expansao cidas, isto significava, na verdade, facilitar 0 credito aos paises dcficitarios
do comercio entre as nac;6es e colocar seu desenvolvimento a salvo de tur e penalizar os paises supcravit:irios. 0 prop6sito de Keynes era evitar os
bulencias financeiras.A ideia forc;a dos reformadores de Bretton Woods subli ajustamentos deflacionarios c manter as economias na trajet6ria do pleno
nhava a necessidade de criac;ao de regras monet.'irias capazes de garantir 0 emprego. Ele imaginava que 0 controlc de capitais deveria ser "uma carac
ajustamento dos balanc;os de pag:unentos, ou seja, 0 adequado abastecimen teristica permanente <.la nova ordem cconomica mundial", como repetiu
to de liquidez para a cobertura de deficits, de forma a evitar a propagac;ao das segllidamente nos trabalhos preparat6rios da Conferencia de Bretton Woa
forc;as deflacionarias.Tratava-sc, tambcm <.le erigir lIm ambiente ccon6mk:'o ds. () plano (lima lIlopi&l 1l10nc..:l:lria) nao se> era c..:xcessivamentc avam;&ldo
internacion:l1 <.Iestinado :l propiciar amplo raio dc manobra para as polilicas para 0 conscrva<.lorismo <.los banquciros privados, mas tambem inconve
nacionais de desenvolvimcnto, industrializac;ao c progrcsso social. nicnlc para a p()sift() amplamentc credora dos Estados Unidos, pais anula
]a observamos2 que Keynes,o delegado da Inglaterra, propos a Clearing ria 0 poder de seignforage <.lo d61ar como moeda reserva.A faculdade de
Union, uma especic de Banco Central dos Bancos Centrais. A Clearing l1sar sua moeda como mcio de pagamento universal conferiu c ainda vem
Union emitiria uma moeda band.ria, 0 bancor, destinada exclusivJ.mente a confcrindo <lOS Estados Unidos grande f1exibi1idade na gestao da politica
liquidar posic;6es entre os Bancos Centrais. 05 neg6cios privados seriam rea monet{lria c na administrac;ao do balanc;o de pagamentos.
lizados nas moedas nacionais que, por sua vez, estariam referidas ao banc01' A soluc;ao finalmente adotada na reunHio de 1944 ficou mais pr6xima
mediante um sistem:l de taxas de cflmbio fixas, mas ajustaveis. Os deficits c dos interesses dos crcdores do ml1ndo.Assim, a Clearlng Union perdell a
supecivits dos paises corresponderiam a reduc;6es ou aumentos das contas disputa para 0 Fundo Monetario Internacional (FMI), cuja capacidadc de
dos Bancos Centrais nacionais (em bancor) junto a Clearlng Union. provimento de liquidez, em caso de desajllstes temporarios de balan<;o de
A despeito de sua rejeic;ao a reliquia barbarJ., Keynes aceitou a manu pagamentos, estava limitada pe10 valor das quotas dos paises membros, cal
tenc;ao do ouro como "ancora" nominal do seu sistema monetario, mime culado pe1a participac;ao de cada um no comercio internacional 0 bancor
tizando a relac;ao que a moeda band.ria mantinha com as reservas metali foi derrotado pel0 d61ar, que assumiu 0 papel de moeda reserva, ancorado
cas nopadcio-ouro cliissico. Mas 0 metal seria uma especie de "rainha da na conversibilidade com 0 ouro a razao de US$ 35 por onc;a !-ray.
Inglaterra" do sistema monetario, ja que nenhum papel efetivo lhe seria A proposta keynesiana de controle de capitais e do cambio foi incorporada
concedido na liquidac;ao das transac;6es e dos contratos - func;ao aser ao artigo VI dos estatutos do Fundo como faculdade concedida aos paises
exercida exclusivamente pela moeda bandria internacional, administra que estivessem atravessando problemas agudos de balanc;o de pagamentos.
da pelas regrJ.s da Clearfng Union. E provavel que Keynes nao estivesse Os controles cambiais estavam vedados para as transac;6es correntes, salvo se
disposto a colocar em risco a confiabilidade do novo padclo monetario e o Fundo declarasse uma" moeda escassa", conforme 0 artigo VII, 0 que permi
muito menos pretendesse "desvalorizar" as reservas ouro aCllmuladas pelos tiria aos demais membros impor controles as transac;6es com essa divisa.
Estados Unidos nos anos 20,30 e 40 (em 1948, os EUA detinham cerca de Tambem ja observamos3 que 0 sistema de Bretton Woods nasceu de um
72% das reservas ouro mundiais). Debates travados no Senado revelam que compromisso implicito: 0 benefido <.la seigniorage concedido ao pais
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emissor <1a moeda reserva, os Estados Uni<1os, foi compensado peJa liberc.la 70, dccorria do forte movimento de capitais c, em especial, da expansào
c.le, atribuic.la aos c.lemais paises-membros, de ac.lotar politicas "keynesianas" das dcspcsas mi1itares.A balanc;a comercial e de servios nfLo fatores pcr
internas e estmtêgias ncomerclntilistas de comêrdo exterior. manCCClJ (dccresccntcrnente) superavit{lria atc 1971.A partir dc entao, os
No imediato p6s-g11erm, a prerrogativa c.le emissor da mocua-reserva per Estados Unidos passamm a apresentar resultados ligeirarnente positivos na
mitiu aos Estados Unidos a consecw;ao de três objetivos. conta de capita1, com reduc;ao de sua posic;ao ativa favorave1 em re1ac;ào ao
a) Objetivoestrategico: suportar a maior parte dos CllstOS da alianc;a militar resto do mundo. Nos anos 80, como veremos, isto se agravou com a politica
formalizada no Acordo do Atlântico Norte. econömica do governo Reagan.
b) Objetivo econömico: a seigniorage perrnitiu a expansào da indlistria A "crise" de Brctton Woods se anuncia ja na segunda metade da dêcada
americana e de seu estilo tecnol6gico (0 fordisrno),sobretlldo por rneio do de 50. Culmina na desvinculac;ao do d61ar ao ouro em 1971, no primeiro
investimento direto levado a cabo pela grande ernpresa transnacional. choque do petr61eo e na introduc;ào do regime de taxas de câmbio flutu.
c) Objetivo financeiro: a posiC;ào de "banqueiro internacionar dos Estados antes em 1973.
Unidos concedeu enorme espac;o para a expansào internaciona1 do siste 05 defensores das taxas flutuantes proclamavam perseguir um duplo
rna financeiro americano e maior raio de manobra pam a politica moneta objetivo: permitir os realinhamentos cambiais e dar maior liberdade às po
ria do Federal Reserve. liticas monctarias domesticas. Mas os anos 70 foram vividos em meio à
Ao buscar estes objetivos, a economia americana, entre 1945 e 1971, fun instabilidade cambial e as tensöes decorrentes da subida das taxas de infla
cionou - Minsky assinalou com correc;ào - como "reguladora" do sistema C;ào por toda parte.A "desordem" foi enfrent.'lda com 0 "choque de juros"
capitalista.Isto significa que os Estados Unid05 curnpriarn 0 papel de fonte dcflagrado pe10 Fcderal Reserve de Paul Vo1ker em outubro de 1979. .
autònoma de demanda efetiva e de provedor de liqllidez para a economia Na estcira da decisào do Federal Rescrve, eclodiu a crise da divida exter
global. para os paises membros <10 sistema hegemönico, sobretudo os euro na da periferia. A America Latina foi atingida c:om especia1 virulência;Ao
peus, esta func;ao reguladora era uma garantia ex ante de politicas nacionais mcsmo tempo, engordadas pelas taxas dc juros e1evadas, cxpandiram-se
expansionistas continuadas e estratêgias de crescimento ncomercantilistas. as dividas publicas dos Estados Unidos e da Europa. Com 0 d6lar superva
A cipi<1a recupcrac;ao. das economias europeias e 0 espetacular cresci lorizado,os Estados Unidos inverterarn sua situaào externa: passararn da
mento do ]apào, como jâ ficou dito;' foram causas importantes do progres posiC;ào credora para a devedora. Os bancos internacionais puderarn sc
sivo desgastc das regras monctarias ecambiais concertldas em Brctton beneficiar da formid:lvel expansào da divida publica americana. Os papêis
Woods. A concorrência comercia1 das renovadas economias. industrializ.l- do governo americano e as taxas de juros elevadas vieram em socorro da
qualidade dos ativos e da rentabilidade dos bancos credores, num momen
. .
no Ollro abrigado nos cofres <1e Fort Knox. Desdc rncados dos anos 60, co cupac;öcs na amplia<;ào dos dêtkits êmcos - flscClI c cm conta-corrcnte.
mcc;amm a aparcccr os primciros sintomas dc fi1(.Iia do arranjo Illonctilrio o cconomista Stcphcn Marris, <.10 Instituto de Economia lntcrnacional, pu
concebido em llretton Woods. 0 dêficit arnericano, atê 0 inido dos anos blicol1, cntào, 0 livro Deflcits and tbe Dollar: The World Economy at Risk
(1987), sobre 05 dcficits gêmcos e 0 inevit{lvcI colapso do d6lar, 0 bard
4. Vcr CapillJlo 4. p. 102. landing, tesc que angariou grandc popularidade 00 mundo acadêmico.
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Mas os acordos do Plaza em 1985 e do Louvre em 1987 (o primeiro za, engendrou a expansăo do gasto privado em consuma c investimento.
articulou a desvalorizac;ao ordenada da moeda americana e o segundo 1'1'0 No referido artigo,6 observamos que a recuperac;ao americana, depois de
curou conter os "excessos" dos vendidos em dolar e estabilizar as taxas de 1993, foi outra vez liderada por rapida e1evac;ao do prec;o dos ativos, par
câmbio) mostraram que o raio de manobra da potencia dominante esua ticularmente das ac;6es, acompanhada por forte crescimento dos prec;os
capacidade de "coordenar os mercados" e submeter os aliados do G7 eram das commodities, o que suscitou clevac;6cs sucessivas, pela Fed, das taxas
bem maiores do que poderia suspeitar nossa va economia. curtas nos Estad05 Unidos.
O crash da Bolsa de Nova York, em outubro de 1987, e a pronta recu A subida da Federal Funds rate nos primeiros nove meses de 1994 foi
perac;ăo dos mercados, amparada na răpida reac;âo da politica monetaria inicialmente bem acolhida pelos mercados financeiros, que a entenderam
do Federal Reserve, ao mesmo tempo em que chamavam a atenc;ăo para coma tempestiva e adequada, provocando, paradoxalmente, firme valoriza
os riscos implicitos na globalizac;ăo, sob o comando do dolar e da financ;a ăo no mercado de bonus e queda das taxas de longo prazo. Subitamente,
"desregulamentada", tambem sublinharam o aprofundamento da assime. porem, as expectativas se alteîJrarn, desencadeando-se crise no mercado
tria de poder entre as economias centr.lis. americana de bonus, forte subida nas taxas longa5 e saida de capitais dos
'TaI disparidade de forc;as ficou ainda mais clara no final dos anos 80 e mercados emergentes mais fragilizados pelos desequilibrios de balanc;o de
no comeC;o dos anos 90: os Estados Unidos experimentaram uma recessao pagamentos, e precipitando-se, no final daque1e mesmo ano, o (segundo)
branda, entre 1990 e 1992, enquanto a Europa assistia ao colapso do Sis colapso mexicano.
tema Monetario Europeu e o Japao mergulhava numa crise que iria durar As politicas monetarias nos paises centîJis movem-se, portanto, num cor
uma decada.Adiante, este panta seră mais bem tratado. redor estreito entre a obrigac;ao de prevenir as deflac;6es agudas, por meio
No artigo "O dinheiro e as transjigut"aţoes da riqlleza". procurci de de repctidas intcrvcnc;6es de ultima instfmcia (scmprc acompanhadas de
monstrar que a rccessâo americana do inicio dos :1110S 90 foi dcterminada risco moral) e a ncccssidade de regular a estabilidade da economia, evitando
por rapida contrac;âo dos gastos privados, caracteristica das reversoes cicli especialmente a formac;ao de bolhas especulativas que, nas condic;oes atuais,
ca's que soem ocorrer depois de um periodo de endividamcnto das cmpl'e acarretam, quase sempre, situac.;6es de fragilidade e de miopia financeira.
sas e, particularmente, das familias. Sobretudo nos ciclos comandados pela Depois dos episodios refcridos, saa compreensiveis as hesitac;6es do
dinâmica dos mercados financeiros, as empresas contraem o invetimcnto Federal Reserve em elevar as taxas de curto Pî.lZO. Mesmo diante da fir
e cortam a folha de salarios, com o proposito de atender :1 sllbita cleva me cvoluc;ăo entăo em cursa do nivd de atividadcs e dos sinais emitidos
c;ao da carga de juros sobre a receita operacional. As familias, premidas pela mercado de trabalho - interpretados corn o evidencias de aqueci
pela desvalorizac;ao de seu portfolio financeiro e imobili{lrio e pclo temor mento "exc.."cssivo" -, o Comite de OfJen Market procrastinou a decisao
da inadimplencia, restringem o consumo e elevam a poupanc;a, tcntando :l11tecipada pdos mercados. Entre o tinal de 1996 e os primciros meses
restabelecer a relac;ăo desejada entre riqueza e renda. O deficit fis cal am de 1997, por exemplo, as taxas 10ngas vinham ensaiando uma subida mais
pliou-se, funcionando como "estabilizador automatico", o que nao impediu acentuada, antevendo o ajuste das taxas curtas pelas autoridades mone.
expressiva reduc;ao do deficit externa em conta-eorrentc. tarias. Estas (apesar de algumas deelarac;6es "alarmistas" do chairman do
Depois do socorro prestado ao Mexico na crise de 1994-1995, o dolar Federal Reserve,Alan Grcenspan) preferimm apostar numa "autocorrec;ăo"
sofreu forte desvalorizac;ăo, sobrctudo frente ao iene, logo revertida me endogena e moderada do cielo financeiro, temendo que nova elevac;ăo das
diante ac;âo coordenada dos Bancos Centrais. Na scgunda metade dos anos taxas, ain da que moderada, pudesse determinar alterac;ăes mais dristicas
90, a moeda americana voltou a ganhar forc;a, o que pcrmitiu a lassidao da nas expectativ;ls, capazes de produzir nao sa urna "correăo de prec;os"
politica monct:iria de Alan Grcenspan, fonte da interac;flo virtuosa cntrc a dos ativos mais forte do que a desejada, mas tam bem desastres de grandes
cxpansao do credita e a valorizac;ao de ativos, que, mediante o efeito rique- proporc;ăes nos mercados emergentes. Nestas condic;6es, a acelerac;ăo do
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crescimento Coi acompanhada pe1a geraao de um supecivit fiscal (auxilia
mes defieits oramentarios e nas contas de comcrcio - foi fonte dc dina
da pe1a reforma tributaria de Clinton) e de uma ampIiaao rapida do deficit
em conta-corrente.
mismo pam os paises da Asia, em particular pam ]apao, Coreia e Taiwan:
foi 0 periodo dos grandes superavits comerciais japoneses, taiwaneses e
Tambem a curta e moderd.da recessao de 200 1 foi eficazmcntc Contornada coreanos. Quando, porem, em meados dos anos 80, os EUA resolvemm
pela imcdiata rcsposta da poHtica monetaria e por impressionante reversao
reverter a bruta1 valorizac;ao do d61ar, que ja havia causado danos quase
do baIanr;o fiscaI, quc transitou de um uperiivit de 1,1 % pam um deficit de
irreparaveis a sua industria, foi dado claro sinal de que pelo menos esta
4,5% doPIB. Destavez, no tanto, 0 deficit em trat?sa5es correntes sofreu
parte da festa estava prestes a aeabar. Yoichi Funabashi, em seu livro Ma
apcnas Iigeira queda entre 2000 e 2001 (de 4,5% pam 3.5% do PIB),para de
naging tIJe Dollar: From tIJe Plaza to tIJe Lotlvre, afirma que 0 Acordo
pois rctomar a escalada ascendente em direao a marca dos 7% em 2005.
do Plaza foi uma resposta as press6es protecionistas ja disseminadas no
Diantc da persistente e1evaao do de.ficit externo, retornaram as vozes
Congresso americano. Os japoneses foram obrigados a engo1ir a valoriza
que prodamam a necessidadc de ajllste dos dcficits gemeos, evocando 0
c;ao do icne, 0 que, por um )ado, afetol1 suas exportaoes pam a area de
cJima dos anos 80, contaminado pe10 receio do bard landing do d6lar. Os
prcdominfmeia da moe<1a americana e, por outro, causou scrios prejuizos
defcnsores do ajustamento dos dois deficits acenamm outrJ. vez com 05
para os bancos, as corretoras e as segumdoras que carrcgavam em suas
riscos de um colapso da mocda amcricana, com cfcitos <1esastrosos sobrc.:
carteiras ativos em <.I6lar.
a taxa de juros, os merca<1os <1c ativos - em particlllar, ncstc momento
A famosa endaka dar:l impulso ao movimento c1e "desloca1izac;ao" c1a
(2005-6),0 superaquecido mercado imobiliario - C 0 crescimc.:nto da eco
indlJstria japonesa pam 05 paises da regiao, apoiado na capacidade de fi
nomia g1obaLMas, na atl1al conjuntllra, diferentemente <10 que ocorrCl1 no
nanciamcnto dc sells bancos, quc tentavam compensar as perdas em que
inicio dos anos 80, quando havia qllase unanimidade em torno <1as conse
ineorrcram os ativos denominados em d61ar.
ql1encias dos de.ficits gemeos, surgem opinioes ql1e discrepam dos "catas
trofistas" do ajustamento. A mc.:t{lstase do sistcma industrial do ]apao suscitou, imediatamcnte, tma
onda dc investimcntos deTaiwan c da Coreia,principalmcnte para a China,
mas tambcm para a Tailiindia, a Mal{15ia e Indonesia. As prac;as financeiras
"intt:macionalizadas" de Hong Kong e Cingapura integraram-se rapida
A NOVA DlVlSAo lNTEHNACIONAI. DO TRABAI.HO E AS CONTJV\DI()ES rncnte ao complexo "asi{ltico" em formac;ao, por meio dos bancos locais c
DA HEGEMONJA AMERICANA
estrangciros ai sedia<1os. Estes fll1xOS cmzados de investimento direto, de
expansao <.10 crcdito c, mais tarde, de aplicaocs de portf6lio estimularam
Nas llltimas tres dccadas do scclllo XX e no comer;o do sccul0 XXI, tres
o crescimento muito rapido do comercio entre os paises da regiao, sobre
movimentos centrais e interdependentes promoveram profundas tmnsfor
tudo mediante as transaoes intrafirmas ...
maoes na economia g10bal - a libc.rdlizaao financeira e cambial; a mu
A China e seu ja desvalorizado iuane iriam completar a primeira dceada
dana nos padroes de concorrencia e a alteraao das regras institucionais
de crescimento acelcrado. Este novo e gigantesco protagonista do "milagre
do comercio e do investimento -, todos conducentes ao reforo do pode
rio econ6mico americano. asiatico" vinha cxecutando seus programas de reforma eeri6mica com
grande efidicia. Estas reformas buseavam a combinac;ao de agressiva estra
Do ponto de vista espacial, a Asia conveneu-se num dos principais [oel
tegia exportadora, atmao dc investimentos diretos estrangeiros nas zonas
do investimento direto e da difusao ace1erada do progresso tecnico levados
liberadas e fortc intervenc;ao do Estado. A aao estatal eoneentrou-se em
a cabo pe10 deslocamento da empresa transnacional desde os anos 1980.
estimul0 a agric111tura familiar, macios investimentos em infraestmrnra
Ja assinaIamos em outros artigos' que, no inicio da decada de 80, a poH
e utilizaao das empresas publicas como "ancom" para a constittlic;ao de
tica ccon6mica dc Reagan - com sel1 <161ar sllpervalorizado c seus enor-
grJ.ndes eonglomerados industriais. Thdo isso foi acompanhado de cuida
dosa transic;ao do sistema de prec;os da amiga eeonomia de comando pam
7.Vcr Capitulo 5,p. 117.120, e CapituJo 8,p. 195.8.
a "nova" economia de mercado.
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Entre 1988 е 1993, о comercio епсге 05 paises da Asia iria st:: t::xpandir а as traпsforma6es financeiras, tecno16gicas, patrimoniais е espaciais que
taxas impressionantemente altas, sl1peranc!o as rela6t::s СОШt::гciаis сот а dесопсm da interac;ao dc dois movimentos: 1) о processo de concorri:n
Europa е а America do Norte. cia movido pela grande empresa, sob а tutela das instituir;6es nucleares de
О exuberante ciclo de expansao americano dos anos 90 - O\.ltra vez "governanr;a" do sistema (а finana е о Estado hеgеmбпicо); е 2) as estrate
escoltado рог gigantescos deficits ет transa6es corrcntes - vai reforar gias пасiопаis de "inserr;ao" das regi6cs perifcricas.As transformar;6es que
пао s6 о рареl de gr.шdе investidor, mas tambem de dешапdапtе е deve lюjс observanlOs sao impulsionadas pelo jogo estratcgico entre о "polo
dor de ultima iпst:шсiа dos Estados Uпidоs.А СЫпа, cuja "сошреtitividаdс" dоmiпапtе" - по caso а economia americana, sua capacidade tecno16gica,
е crescente,. tanto ПО5 mercados mel10S quali1icados, сошо, ет ritnlO асс а liquidcz с proftl11didade de seu mercado financeiro, о poder de seignio
lerado, nos de tecnologia mais sofisticada, torna-se о maior receptor (inclu rage de sua moeda - е а capacidade de "resposta" dos paises еm de5envol
ida а iпtегшеdiаао das praas de Hong Kong е Cingapura) do investimen. vimento as alterar;6cs по ambiente internacional.
to direto americano е, ао mesmo ternpo, ganha participaao crescente по Е desnecessario dizer que as economias perifcricas disрбеm de estru
шегсаdо dos Estados Unidos. Sobretudo depois da desvalorizaao de 1994, tU1ilS е tr.1jet6rias sociais, есопбmiсаs е politicas muito des5eme1l1antes, о
о .drive exportador chines vai deslocando а particip:t<;ao de SelJS parceiros Чl1С difictllta рага tlmas с facilita рага OtItrJS а сlшmа<.1а "intcgrd\ao сот
asiaticos еm terceiros mercados, ао rnesmo ternpo еш Ч\.Jе еstil1шlа as il11 pctitiva" паs <.1iversas etapas de evoluao do capitalismo.Assim, por ехеm
portac;6es de pe\as е сошропепtеs dos paises da геgШо. Siпшltапсаmепtе, plo, о StlCCSSO do Brasil, асе о inicio dos апоs 80, desencacleou а crise que
os cl1ineses S\.Jstеlltаш а сопtiПl1аdа elev;H;ao da саха <.1<: аСl1П1lI1:t<;ао <.k iria ргоуосаг о sctJ rcitcrol(,!O "fracasso" па tentativa <.le sc ajtJstar as nov.ls
capital е а rapida incorpo1iJ\ao dc novas tecnologias Iш:di:.шtе о est11111110 сопdi<;беs iпtсгпасiопаis. No polo oposto, () fracasso chines ate 05 anos 80
ajo{nt ventиres сот empresas coreanas, japonesas t:: dcTaiwan. propiciotl сопdi<;беs iniciais mais favoraveis para () sш:еS50 das reformas
О relat6rio Тrщ/е {1т/ DelJe!ojJl1letzt ИеjJоrt (2003), (,Ia Ul1ct;t<.I, traz () ClПprl'Cl1di<.las а partir <.Ic cl1tao"
st1btit\.Jlo АситullЦUО ,/е caplt"l, cresciтento е l1J,lUluпru estпtluml. 11 Л "IО!);Jlizщ:аu americanu", ао арегаг 11:15 orblta5 fil1anccird, раtгiпюпiаl
l1ша av.J1iaao proft111da е certeira dos restlltados das politicas dc dcscnvol е proc!tJtiva, епgепdГОll dois tipos de геgiбеs: aqt1elas cllja inscr<;ao interna
vi111el1to pratica(,las па Asia е па ЛI11гicа I.,atilla l1as <.Iltas lilti111as llca(,las. ciol1al sc t"az pclu СОП1I"Сiо с реl;1 atr;t\ao <.10 illve5timento direto destil1:l
Tl1lta-se de um estudo l1ist6rico-comparativo sobre о desempenho, ао lon do aos setorcs produtivos afetados pclo comercio internacional; е aquelas,
go do nlOvimento de transformaao da econol11ia global nas decadas de 80 сото ВГ.1sil е Агgспtiпа, que buscaram sua integrnao mediante а abertura
е 90, dos paises ет desenvolvimento: 1) os de industrializarilo тadиra, da conta de capitais.
сото а Coreia е Taiwan, чие j{latingiram elevado grau de il1dllstrializa No Brnsil е па Агgепtiпа, as sociedades, submetidas 1 stlcessao de "cho
ao, produtividade с renda per сариа, mas apresentarn саха declinante de ques 11cterodoxos", estavam exatJstas diante da resistencia prolongada иа
crescimento industrial; 2) os de iпdustrializafao rapida, сото а СЫпа crise inflасiОШlгiа dos anos 80. Ji\ afirmamos, по artigo Estabilizafuo е
е talvez а fndia, que, mediante politicas que [ауогесет elevadas taxas de jillaпfas globalizadas (1996), чис,
investimento domestico е graduar;ao tecno16gica, apresentam crescente
participar;ao das manufaturas по produto, по emprego е nas exportac;6es; iпdepel1deпteтeпte da si/lЮfёiо тacroecoп6тica dos pafses
3) 05 de industriаlizщ:iiо de el1clave, сото о Mexico, que, а despeito de receptores, о inicio dos aпos 90 joi caracterizado pela restau
aumentar sua participac;ao па exportac;ao de manufaturndos, tem desem rafilo dosjluxos de capitClis privados рат os paises da Атеп
penho pobre ет termos de investimento, valor agregado manufatureiro е са Latiпa, depois (10 loпgo perfodo de estiageт que se seguill а
produtividade totais; е, finalmentc, 4), os paises ет vias de desiпdustriali crise da divida dos anos 80. Apesar da ret6rica rejorтista qиe
zafao, о que inclui а maioria dos paiscs daAmerica Latina. escoltou е aiпda асотрапЬа о retorпo dos capitais privados ils
А tipologia desenhada pela Unctad е о ponto de chegada do jogo сот. prafas ialiпo-aтericanas, а verdade е que se tratoи apeпas,
plexo. Ет todas as etapas de expansao do capitalismo, este jogo envolve pelo тenos по priтeiro тoтe11to, do tтc/icioпal е coпhecido
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money <.:hasing yield, como bem o prc!/essor Nvmal/ Millsky
e no emprego, ml1ito mais intensa do que seria justificado pelos ganhos dc
caracterizou eSle./ell0meno.
prmlutividadc. Em scgul1do lugar, tī.lbalhos reccntes," quc buscam estimar
a participac;fLO dc insumos e componentes importados no total de inputs
o fator decisivo para a transformac;āo <.Ios paises latino-amcricanos de
consumido anualmente pela il1dustria manufatureira dos Estados Unidos,
doadores de"poupanc;a"cm receptores de recursos financeiros foi,sem dll
mostram que, entre 1987 e 2002, esta participa<;āo subiu de 12,4% pai.l
vida, a dcfla<;ao da riqueza mobiliaria e imobiliaria observada ja no finaI de
22,1%. Os rarnoS mais afetados _. aeima da mcdia da industria - sāo os
1989. nos mercados globa1izados. Como ja foi dito, esta profunda rcccssāo
de produtos eletr6nicos e de informatiea, vestuario e artigos de couro, vei
jinancial.led exigiu grande lassidāo das pol1ticas ri-tonecirias, no sentido de culos motorizados, trailers e partes, equipamento elttrico e componentes.
tomar possivel a digestāo dos desequilibrios correntes e no balan<;o patri
Sāo os mesmos setores em que foi maior a destrui<;āo de postos de traba
monial de empresas, bancos e familias, envolvidos no exuberante surto de
lho.A isto se junta o rapido crescimento das importa<;ōes de bens finais de
valoriza«;āo de ativos que se seguiu a interven<;āo salvadora de 1987.
consumo e de capital, nāo 56 da Asia, como tambcm da Europa, igualmente
Ao estado quase depressivo dos mercados de qualidade e a situa<;āo de
superavitaria em suas rela<;ōes comerciais com os Estados Ul1idos. Em 2005,
sobreliquidcz, causada por prolongado penodo de taxas de juros muito
o deficit comercial dos Estados Unidos ehegou a US$ 726 bilhōes, ou .seja,
baixas,juntou-se umquadro,nos "mercados emergentes", de estoqucs de
5,8% do PIB. Deste total, 83% correspondem ao dcficit "manufatureiro".
a<;ōes depreciados e governos fortemente endividados e proprietarios dc
Apenas 17% do crescente dcficit comercial dizem respeito as importa<;ōes
empresas publicas privatizaveis distribuidas por varios setores da eco. liquidas dc pctr6leo e prodl1tos primarios.
nomia, alem das perspectivas de valorizac;āo das raxas de dimbio e da
Finalmentc, como j{t foi visto,9 a cipida industrializa<;āo da China C. dos
manutcn«;āo taxas de juros reaiselevadas, em moeda forte, mesmo depois
paises do Sudeste Asiatico csta desloeando importantc frac;āo da clcmanda
da estabiliza«;āo.
global para os produtores dc matcrias-primas e alimcntos. Como e de eo.
Os paises da periferia,. ate entāo submetidos as condi<;6es dc ajusra
nhccimento geral, a China 5U5tenta um saldo positivo muito elevado (US$
mento impostas peIa crise da divida, fomm literalmente capturados pele
204 bilhōcs cm 2005) eom 05 Estad05 Unidos. Mas seu deficit creseente
processo de globalizac;āo, execl1tando scus progmmas de cstabiliza<;āo <.le
com ° rcsto da Asia e C0111 os demais parceiros eomerciais. O bloco in
acordo com as norma5 dos mercados financciros liberalizados. E prcciso dustrializado da Asia, sobretudo a China, funciona eomoengrcnagem de
entender que a regra basica das estabilizac;ōcs com abertum finan<.:cira e a
tranSmiss;lO entre a dcmanda gerada nos Estados Unidos e)l oferta .das
da criac;1io de oferta de ativos atracntes ql1e possam ser enc.lmpauos pelo c<.:onomias "cxportadoras dc rccursos naturais".
movimento geral da globalizac;āo. Neste rol estāo inclui<.los: titulosda divi
As rclac;ōes <le interdependencia entre as economias asiaticas e dcstas
da publica, em geral curtos e de clevada liquidcz; ac;6es dc empresas em
com 05 Estados Unidos 511scitam questōes que tornam. muito arriscadas
processo de privatizac;āo; b6nus e papcis comerciais de emprcsas e bancos
respostas simples. 05 paise5 cuja estratcgia e governada pelo saldo da ba
de boa reputa<;āo; e, posteriormente, ac;6es depreciadas de empresas priva lanc;a comercial e pela acumula<;āo de reservas "fecham o circuito" gasto
das, especia1mente daquelas mais afetadas pela abertura econ6mica e pcla
renda-poupanc;a do "sistema americano", ao utilizar as poupanc;as em dolar
valorizac;āo cambial.
para ftnanciar o deficit em conta-corrente dos Estados Unidos. Essa depen
O movimento de transnacionalizac;ao do espa<;o asiatico, particularmen
dencia reciproca impede ql1e os paises asiaticos orientem a aplicac;āodc
te da China, e [rulO do movimento do capital produtivo e ao mesmo tcmpo,
slIas reservas por eritcrios privados dc risco-rentabilida<.lc. Garantem assim
uma mudan<;a de escala no processo <.le desIocalizac;āo da estrutura manu
uma dcmanda peia moeda americana ql1e .lssegura certa estabilidade nas
fatureira da triade desenvolvida (Estados Unidos, Europa e )apāo) para o
taxas de dmbio dc SlIas moe<.\as cm re1:t<;āo ao <.I<'Jlar.
reslO <.lo mundo. No caso amcricano, estc fenomcno pode ser obscrvado H. Cf.llurkc.J., Epsldn, <i. & Choi, M., Rlslt1g Forelgll Olltsollrcblg and HlI/fJloymC!lIt Lo'sC!s
de v:irios angulos. O primciro, o mais singclo, revela uma acelem<;:lO <.Ia in f/S M,I/IfI!tlcturlllg, t1mberst: Uniwrsily of Massachusctls. 2000i (Pcri Working Papcrs).
queda da participac;āo da indllstria manufaturdra no PIB (12,7'X'1 em 2005) 9.Vcr C;lpitulo 9. p. 209. .
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Os otimistas. diz 13arry Eichcngrcen, sustentam quc a amplj;u;ào do de e a inl1:u;ào de ativos finam.:ciros e imobiliarios, fonte do "enriquccimento"
ficit americano em conta-corrente pode continuar l'or mai s uma decada, e do encolhimcnto da poupanc;a das familias.
escorada na disposiC;ao dos chineses de incorporar mais 200 milhòes de De ourra parte, as estI<ltcgias mercantilistas dos paises asiaticos, conce
trabalhadores nas indtlstrias voltadas para a exportac;ao. Ate complctar o bidas para a gerac;ao de supernvits comcrciais e acumulac;ào de reservas,
cido, os chineses estarao disposto s a defendcr o iuane clesvalorizado e, implicam necessariamente nao s6 a demanda de ativos denominados em
portanto, a acumular reservas e adquirir titulos do Tesouro americano. Ista d61ar, como o abastecimento de bens de consumo, intermedi:irios e de
significa evitar quaisquer alterac;àes nas taxas de cflmbio relativas nas re. capital a baixo custo.
lac;òes intra-asiaticas e particularmente mudanc;as no va10r do iuane em Isto significa que a hegemonia americana e seu enorme mercado nacional
relac;ao ao d61ar. ensejar.un a construào de um espac;o monetario EUA.A.sia.A relac;ào entre a
Os pessimistas advertem para a nao sllstentabilidade do aquecimento taxa flutuante da moeda soberana e as taxas fixas ou controladas das moedas
da economia chinesa, determinado pela excessiva expansao do credito ao subordinadas (asÌ<lticas) nao s6 permitiu a ampliac;ao dos deficits e supeci
setor privado. Impulsionado pela amp1iac;ao das reservas em moeda forte, vits entre os parceiros, como reforc;ou o poder de seigniorage do d61ar.
o crescimento dos emprestimos nao s6 vem rea1imentando a especulac;ào Mas isso nao afasta e provavelmente agrava as caracteristicas negativas do
llnobi1Hiria e os investimentos maI concebidos, como provoca o aumento crescimento "desequilibrado" dos Estados Unidos, antes e depois da recupe
dos creditos non pcrJorming na carteir.l dos bancos. Para os pessimistas, a rac;ao de 2002. Como mostra o mais recente boletim do Econonùc Pollcy Ins
recente e insignificante valorizaC;ao do iuane e apenas a primeira de uma titute, a economia americana, no primeiro trimestre de 2006, cresceu à taxa
serie que fatalmente Ievaci à flutuac;ào da moeda chinesa. anua1izada de 4,8%, impulsionada pela evoIllc;ào do consumo de duciveis e
As duas posic;òes sao problematicas. E possivel imaginar, tal como pre pclos gastos militarcs, com desempenho mediocre do investimento privado.
tendem os otimistas, um cenario de estabiIidade nas condic;òes de financia O erescimento do consumo contribuiu com 3,8 pontos percentuais para o
mento do deficit americano em conta-corrente, dada a natureza das inter crescimento do PIB, superando l'or !arga margem a contribuiao do investi
rcll(;òes comerciais e financeiras que "solidarizam" a economia americana mento (l ,2 pontos percentuais).A expansào da demanda agregada foi de 5,6%
com os parceiros asiaticos. e decorreu muito mais d:l ampliac;ào do endividamento das familias (4,6%
A consolidaC;ao do pape1 do d61ar como moeda de reserva e o fenomeno anuallzado), apoiado na valorizac;ao dos im6veis residenciais, do que da ex
crucial da segunda metadc do seculo XX. A soberania monetaria americana p:msao da remuner.lc;ao real dos assalariados, que apresentou queda (.(),9%).
gamntiu a expansao da grande empresa - com cfcitos sobre a distribui<;ao Nos ultimos tres anos c meio, contI<lriando a experiencia dos ciclos :mte
espacial da indùstria manufatl1reira e, mais recentemente, dos scrvi<;os - e riores, o crescimento do conSllmo esta desconectadò da evoluC;ao da renda,
permitiu a adoc;ào das politicas de crcdito e de gasto pùblico qlJe susten particlllarmente dos sal:'irios e do emprt:go, c cada vcz mais dependcnte do
tam taxas e1evadas de crescimento da demanda nominal e, a cada ciclo efeito riqueza. Os ultimos dados do Departamento do Comercio mostram
de cxpansao, provocam a e1evac;ao do deficit em conta-corrente, gerando forte dcsacclcra<;ào do investimento residcncial, cuja taxa de crescimento
demanda para o resto do mundo. caiu de cerca de 10% no ultimo trimestre de 2005 para 3,5% no primeiro
Os americanos passaram a manejar com grande agilidade sua politica trimcstre de 2006.
monetaria, convertendo-a numa maquina de succ;ao de liquidez, de capitais Ao mesmo tempo, a simbiose asiatico-americana alterou a estratcgia de
e da "produtividade" dos trabalhadores asiaticos (e tambem centro-ameri. acumulac;ao da gran<Je empresa nos Estados Unidos.A edic;ào de abril de
canos), para sustentar o crescimento acelerado de sua economia, sem ten 2006 do Wor/d h'collomic Outlook, em seu capitulo l cuida de investi.
s6es inflacionarias. O ultim o ciclo americano comprovou a cfidcia desta gar as razòes do expressivo crescimento da acumulaC;ao de recursos sob
forma de integrac;ào financeiI<1 e produtiva, na medida em que propiciotl a forma liqllida (cash) ou de participac;ào acionaria cm empreendimentos
espetacl1lar expansào do credito à produc;ào e ao conSl1mo e, melhor ainda, 10c:l1izados em mercados estrangeiros (equfties) no portf6lio das empresas
a "alavancagem" financeiI<l que fomenta o processo de fusòes e aqllisi<;òcs nào financCÌms:"Pam os Estados lJnidos, se o investimento direto Hquido
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Nos pai'ses desenvolvidos, as poli'ticas monetarias с tisclis antici'c1icls do а1 as origcns <Је processos altistas prolongados, assim сато da "ganancia
keynesianismo - mesmo bastardo - cumprir.lm о чие prometiam, он 5еја, infecciosa" qHe, пао rnro, fomenta а febre de fusбеs е аquisi<;бе5, sempre
sustar а rccorrencia de crises de deflac;iio de ativos е dc "desvalorizaao do s\.Jstentada, direta с in<.lirctamentc, реlо potente sistema de crcdito.
сарјсаl", fепбmепо чие assolou о capitalismo do ћпаl do sec\.110 XIX at€: ()s cpis6uios cle С1.lfoгја glo1>al е liqt!iclez cxcessiva terminariam ет rc
а Grnnde Dcprcssiio dos anos 30. А rcitcrac;ilo ис iпtсгvсщ;бсs ис tIltil11a vсгsбсs cspctaclllares, по fossem as iпtеrvеш;6еs <Је ultima iпstfшсiа <Јо
instancia dos Bancos Centrnis с а gcrac;ao de cl€:ficits liscais, ао a\.II11Cl1tar а Вапсо Сспtгаl шаis po(lcroso е ис SC\lS ac6litos по cC11tro do sistema то
divida риЫјса de "Ьоа qualidade", impediram а desvalorizaiio da гiчнеzа netario iпtС1'Пасiопаl.
ја exi5tente е amp1iar.lffi о ре50 dos ativos tinanceiros па riq\.leza total. Аssiш, о predominio da lбgicа [тanсеЈrn iшрбе ао Fedcral Reserve, ad
Mudanc;as subjetivas (рsiсоlбgiсаs, diria Keynes) foram provocadas ре
ministrador de ultima instfшсiа do sistema, ит тапејо delicado da poHtica
.lа5 iпtеrvеш;беs bem-sucedidas: constituiu-se поуа agenda de сопvещ:беs,
пюпсt:1гiа. Na conferencia <Је ]ackson НоIe,А1ап Greenspan deixotl claro,
antitetica ачиеlа чис iшрег.lГ.l cntre о ћllаl do seculo XIX е а Grnnclc Dc
ет Slla linguagem cnptica, чие по clinla de тoral hazard estrutt1ral пао
pressao. Criou-se, па verdade, нта situac;iio de тoral hazard permanente,
11:1 espac;o раса rndicalismos, isto е, рага movimentos bruscos das taxas de
. ои seja, ит vies altista па psicologia dos investidores. Seja qшl1 Eor а intensi
јшоs. Grcen5pan пшпifе5tоu, па reali<.ladc, ргеосврас;ао сот а "genera1iza
dacIe da fluшас;ао da economia, as perdas devem ser limitadas, dada о valor
с;ао" da inflac;ao de ativos, пит ambiente de Ьајха inflac;ao nos mercados de
da massa de ativos чие poderia ser atingida por ита crisc de liqHidez е, I)СI15 с servi<;os.A "ехиЬегјпсја irr.lcional" agor.l сопсатјпа quatro merca
. portanto, por иmа cIeflac;ao de prec;os generalizada nos шегсаdоs financei <.105: Ьбпus, imОЫЉlгiоs, coттodities е os de moedas de paises emergentes.
ros. Nao рог acaso, nos ultimosanos е depois das crises da decada de 90, Quапtо aos riscos <Јс јпПас;ао JlOS pre<;os <Је bens е servi<;os,ob5ervamos
intensificar.lm-se os debates sobre а necessidadc de uш emprestador de а prcsen!;a <.Iе foras чне se mоует e scntido contcirio: dc шn 101<.10, а
йltiша iпstfшсiа universal С as possibilidadcs (1<= о РМ! аSStlшiг <=ste papel. tсп<.lf:псiа def1aciOll<lria (Ios pre<;os (Ios prodlltos m:шнfat\.lГ.ldоs, por conta
Ironias engendradas по curso da Ыstбгiа: as ас;беs de estaW1izac;ao do do excesso de capacidade а e5cala global; de outro, а demanda chinesa е as
:Estado Keynesiano fаvогесеraш аУаПС;О do processo de "securitizac;ao" е taxas cIe juros, ainda bai.xa5, favorecendo а formac;ao de роsi<;беs e5pecula
de dсsгеgulашепtас;ао dos mercados. Gernram, desta forma, as сопdiс;беs
tivas altistas nos mcrcados de coттodities.As quatro bolhas, а amplia<;ao
.de obsolescencia da "repressao ћnaпсеЈга". Os criterios de ауаliас;ао dos
da Р05јс;ао devedora llquida americ:ma е о risco sempre presenteda acele
mercados secllndarios da riqueza voltaram а сошапdаг as decis6es de еш
гас;ао inflасiОШlгiа lev:mtarn desafios formidaveis aos B:mcos Centrais.
presas, сопsuшidогеs е governos.
Ate agora, as politica5 monet:iria5 е os arraпjos cambiais Сет conseguido
As tecnicas de securitizac;ao de creditos bancarios, о uso de derivativos pronlOver а "fuga рага frcntc" I по affi de шапtеr sob controlc 05 Метса
е а intensa informatizac;ao dos шегсаdоs регшitiraш arnpliar о volume de
dos da Riqucza е, ао mesmo tempo, 5ustentar as taxas de crcscimento da
traпsас;беs. Estas massas de capital financeiro estao concentradas sob а economia global. А efetividade das poHticas anticiclicas esta fundada, nos
comandode grandes investidores iпstitucionais. Sao fundos de pensao, fun
Estados Unidos, па articulafuo estrutural entre о sistema de credito, а
dos mutuos е о ultimo rebento da ћпапс;а moderna, 05 fundos de hedge, exubernnte expansao <Јо consumo privado, а diaspora da industriamanu
que, operando ет varias prac;as financeiras, U5аш intensamente о credito fatureira рага rcgi6es "mais competitivas", о епосте deficit comercial с а
рага "alavancar" Р05iс;беs ет ativos. gestao das financ;as do Estado, particularmente da divida риьиса.
05 capitai5 movem-se entre as economias nacionais, па busca de oportu Esse formato exptessa а natureza ресuНаг do poder econ6mico america
nidades de arbitragem ои de ganllOs especu1ativos, sempre а envolver аРo5 по: 12 а fusao <Је fuпс;беs е de interesses explicita о caciter essencialmcnte
tas quanto aos movimentos de prec;os dos ativos dепошiпаdоs nas diversas "coletivista" Се шасгоесопбшicо) dos processos centrais de reproduc;ao е
moedas. О "тoral hazard estrutural", de certa forma, tornou os Bancos (Ic "mllndiali7.aao" <Јо capitalismo realmente existente.As геlа<;бсs entre
Centrnis refens <Ја garantia <Је liqllidez, по caso <Је оsсilас;беs bruscas nos
pre<;os е st1speita <Је risco sistemico. Nao seria forn de prop6sito bllscar 12.Vc:r C;lpilt110 Н, р. 199.
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Em meados do século XIX, as economias retardatárias desenvolveram-se
lidade em sua..'i cartciras. Este é 0 caso, por exemplo, dos títulos de dívida
sob 0 livre-comércio, patrocinado pela hegemonia .financeira inglesa. No
pública e privada dos emergentes. Estes países costumam oferecer aos in.
final do século, a Belle Époque iria desfi1ar seu aplomb e suas aparèncias vestidores internacionais rcnclimentos muito mais altos do que os apresen.
à beira do abismo cavado pelo protecionismo crescente e pe1as disputas
tados por papéis do mesmo pra.zo emitfdos por governos mais acreditados.
imperialistas por recursos naturais. Esta caminhada dos investidores em direc;ào à zona de riscos mais ele.
É demasiada pretensao do entendimento humano prognosticar par.l a vados está sempre amparada pela expansao do crédito bancário.Assim, os
nova etapa do liberalismo, 0 "nco" - ou seja, para anova era de desloca
apostadores podem assumir posic;6es que sào um múltiplo de seu aporte
mentos tect6nicos e "c1imáticos" engcndrados pelo rcvigoramento da con
próprio de capital, na csperanc;a de ulteriores elevac;òes dos prec;os que
correncia universal - 0 mesmo destino das aventuras do liberalismo c1ássi valorizarào seu estoquc riqueza.
co. Richard freeman, economista dc Harvard, afirma em artigo recente que
Neste quadro, uma súbita alterac;ào das expectativas pode acarretar uma
a velha conversa sobre os beneficios do comércio - os países avanc;ados
onda de vendas em massa - que, aliás, comec;am sempre pelos ativos mais
produzem bens de alta tecnologia com trabalho qualificado, enquanto os
arriscados. Muitos investidores adquirimm seus ativos a crédito, outros fo
menos desenvolvidos se dedicam aos setores de mào de obra naD qualifica mm mais ousados na alavancagern. 0 professor Charles Kindleberger afir.
da - "tornou.se obsoleta com a presenc;a da Clùna e da Índia". ma, com razào, que as crises financeiras só se tornam graves quando as
Editado pelo FMI, 0 Global Financial Stability Report de abri1 de 2006, flutuac;òes no valor da riqueza contaminam os bancos, Quando isso acon
ílpesar do tom geml mais otimista, nào esconde as preocupaòes com os tccc, a maquinaria cconòmica entm cm colapso. Na auséncia de uma inter
riscos implícitos na atual onda de sobreliquidez que inunda os mercados venc;ào tempestiva, de natureza pública, simplesmcnte nao há como fazer
mundiais. Num ambiente de t:Lxas de juros muito baixas, advcrtc 0 rclató a cngrcmlgcm capita1ista voltar l seu funcionament<> normal.
rio, 05 investidores inc1inam.se naturalmente para atitudes cxcessivamcntc Dcsde scmpre, os mcrcado 1in:mceiros, entregues :\ própria lógica, sao
otimistas na pondcrac;ào cntrc a evolUC;;IO esperad:l dos prcos dos ativos lssim mcsmo, sl1jeitos a surtos dc cuforia c pessimismo. 1st<> ocorre a des
e' os riscos envolvidos em sua possc. Em tais circunstancias, sào fortcs os pcito dos esforc;os dos economistas quc insistem em desenhar modelos de
incentivos plra "alavancar" posic;òes especulativas c avan<;ar na direc;ào das
mcrcados eficientes ou construir teoremas sobre a indifercnc;a das estnl
regiòcs mais perigosas do espectro dc risco. llll":IS dc linanciamcnto.A coisa lica ainda pior quando os surtos de cl1l()ri:l
o entusiasmo quase generalizado no início com a liberaliza<;ào c a des cnvolvem riscos de "dcscasamento" de moedas, 0 ql1e frequentemente tcm
regulamentac;ào dos mercados financeiros comec;a a se tr.msformar em
1evado a crises cambiais, financeiras e bancárias en1 países imprudentes.
cautela.Os sintomas clcsta mudanc;a devem ser buscados no tom mais pru
Criscs sistémicas sào inerentcs à dinamica financcir.l e uma ameac;a per.
dente das análises nascidas dos arraiais ortodoxos.A dúvida e 0 questiona
manente ao crescimento das economias. No plano internacional, as inevi.
mento tèm sido gemis e irrestritos.
t:'tvcis ondas de especu[aào causadora dc instabilidade envolvem, ademais,
Agora já sao muitos os que criticam as interprctac;òcs convencionais que
ativos de diversas qua1idades denominados em moedas distintas.As crises
costumam atribuir as crises financeiras c cambiais à má gesrao monetária
financeiras tf".lnsformam.se inevitavelmente em crises cambiais.
e .fiscal dos governos de países emergentes. Desde a sucessao dc crises dos
Dizem que, para 0 bom entendedor, meia palavra basta. Mas 0 menciona.
anos 90, que culminou com a derrocada da Argentina, os analistas mais
do relatório do fMI parecc nao acreditar na sabedoria das parèmias popu
responsáveis e menos comprometidos com a ideologia rasa dos intcresses
lares.Afirma dc boca cheia e de forma reiterada que uma cventual (e pro
procuram sublinhar 0 papel desempenhado pela "dinamica de mercado" vávcl) mudanc;a do ambieme financciro internacional será incvitavclmcnte
na precipitac;ao de episódios cambiais e financeiros ruinosos. acompanhada de uma elevac;ào dos rendimentos dos papéis do Tesouro
A história das crises financeiras é quase sempre a mesma: nas etapas de americano c dc uma ampliac;ao dos sjJrculds que incidem sobrc 05 bónus
euforia, a confirmac;ào das expectativas otimistas leva os possuidores dc ri. dos países emergcntes. A má notícia: os países com alto endividamento
queza a buscar apostas mais arriscadas, incorporando ativos de menor qua- público e passivos externos elcvados e mais voláteìs estar:io às voltas com
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