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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ÁREA DO CONHECIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

RENATO AUGUSTO ESPÍNDOLA SUSIN

TDE 2 - ANÁLISE DO DOCUMENTÁRIO “O JOGO DA DÍVIDA”

CAXIAS DO SUL
2023
A história do Brasil já começa endividada. A conturbada situação pós
independência apenas findaria com o pagamento de 3 milhões de libras esterlinas à
antiga metrópole lusitana para reconhecer a autonomia da colônia. Pelo fato de
todos os recursos presentes no país terem deixado o solo brasileiro ainda em 1821,
junto com a família real, a biografia da jovem nação teria em seu capítulo inicial uma
episódio que se repetiria diversas vezes, em algumas delas sob outra roupagem: A
independência foi apenas conseguida com empréstimo britânico. Portanto, embora
a autonomia política passasse a ser um fato consumado, a autonomia econômica
ainda haveria de ser uma meta a ser conquistada no decorrer da história do país.
Em 1944, em Washington, a conferência realizada no hotel de Bretton Woods
ditaria os rumos da economia novecentista. Foram fundadas duas instituições
importantes para a economia mundial: o Fundo Monetário Internacional e o Banco
Mundial. Ainda, a reunião mostraria quem teria sido o verdadeiro vencedor dos
conflitos bélicos e políticos que caracterizaram o princípio do século XX : os Estados
Unidos da América. A mesma conferência indicava a conversibilidade do dólar em
ouro, e as demais moedas do globo deveriam ser convertidas na moeda americana,
que passava a ter a soberania financeira mundial.
Após a guerra, o período caracterizado muito pelo nacionalismo, teria como
enfoque a soberania nacional, por isso, o processo de substituição de importações
que viria a ditar a economia que tinha como principal norte a ideia de que
industrializar era crescer, e com metas planejadas, cresceria-se “50 anos em 5”.
Na década de 60, no auge da Guerra Fria e acirramento das tensões
provocadas pelo mundo bipolar, uma série de governos democráticos caíam sob
anuência dos Estados Unidos, que visava não apenas a soberania econômica, mas
também a soberania política no mundo, papel esse que disputava com a União
Soviética. Nesse contexto, no dia 31 de março de 1964, os tanques invadiram a
esplanada dos ministérios e expulsaram o presidente João Goulart, apenas com o
intuito de um governo provisório para livrar o Brasil da ameaça comunista, era pra
ser apenas temporário, mas aquele dia durou 21 anos.
O governo militar, embora nada tenha sido democrático, não foi nem de longe
hegemônico, por isso, uma série de discordâncias foram geradas no Palácio do
Planalto. Os primeiros anos do novo regime foram caracterizados pela repressão e
pela bonança econômica. Os períodos de maior crescimento econômico da história
desse país foram conquistados durante o período governado pelos fardados, sendo
o governo Médici o governo no qual atingiu-se o “Milagre Econômico”.

Figura 1 - Crescimento do PIB em % entre 1964 e 1985

A ideia que permeou a época era a filosofia do homem tido como czar da
economia brasileira: Antonio Delfim Netto. Delfim defendia a ideia de que primeiro o
bolo deveria crescer, e depois ser repartido, visto que o crescimento inicial não
atingiu todas as camadas da população.
A economista Maria da Conceição Tavares criticou essa ideia de Delfim:
“Uma economia que diz que primeiro tem que estabilizar, depois crescer, para
depois distribuir é uma falácia. Nem estabiliza, cresce aos solavancos e não
distribui. E essa é a história da economia brasileira.” Para ela o governo militar, da
forma com que se orquestrava, era apenas uma máquina de fomento à
desigualdade brasileira.
Em 1973, no entanto, a OPEP decide aumentar o preço do petróleo, em um
período conhecido como o 1º choque do petróleo. Aumentando exponencialmente
os preços dos combustíveis. Os exorbitantes lucros advindos do petróleo foram
inseridos no sistema financeiro americano, injetando liquidez e, por conseguinte,
crédito barato. Eram os chamados petrodólares.
A situação financeira do Brasil ia de vento em popa, o governo, embriagado
pela maravilhosa pujança econômica que acometeu o país, endividou-se no
abundante capital externo a fim de desenvolver ainda mais o país. No entanto, havia
um problema que não foi observado: as taxas de juros eram pós fixadas.
O ciclo de juros baixos terminou, e a dívida externa explodiu. O período de
elevação da dívida externa e estagflação foi chamado de “década perdida”. A
década de 1980 é considerada um estudo de caso para a completa catástrofe
econômica.
Figura 2 - Evolução da dívida externa durante a década de 1970 (em bilhões de
dólares)

O documentário “O jogo da dívida: quem deve a quem" retrata essa situação,


evocando a função de poder que o dinheiro pode proporcionar. Fica nítida a crítica à
globalização financeira especialmente pela geração de dependência econômica que
ela provoca entre países subdesenvolvidos e seus pares desenvolvidos. Esse
fenômeno perpetuaria o subdesenvolvimento das nações periféricas, visto que não
é de interesse dos países do primeiro mundo perder a influência sobre seus pares.
Isso fica evidente nas falas da polêmica economista Maria da Conceição Tavares e
suas constantes críticas ao mundo globalizado.
A desconfiança na globalização é um fenômeno que passa por um período
de forte adesão ao redor do mundo. Da esquerda à direita, políticos como Pedro
Castillo à Marine Le Pen vociferam contra o que chamam de imperialismo
americano e sua relação de soberania financeira. Os órgãos de cooperação mútua
entre países como ONU, OMC e União Europeia vêm sendo comumente criticados
por esses grupos políticos, gerando a ascensão de políticas nacionalistas nos
quatro cantos do planeta.

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