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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

RESENHA: O PAÍS DAS JABUTICABAS

Componente curricular: Economia

Professora: Jacqueline Maria Corá

Aluno: Renato Augusto Espíndola Susin

Turma: AA

Caxias do Sul, 21 de junho de 2020


Essa história começou em 301 d.c.. O decadente Império Romano iniciava um
processo de cunhagem de moeda para custear as despesas militares do governo. Na
época, as moedas passaram a ser cunhadas em metal de menor qualidade. Com a
oferta monetária aumentando sem consonância com o crescimento econômico, houve
um aumento na demanda agregada sem um devido aumento na oferta agregada,
deslocando os preços de equilíbrio para cima. O imperador Diociclécio atribuía aos
empresários gananciosos o fenômeno inflacionário, não a sua incompetência, em
resposta ao problema, atribuiu valores máximos aos quais os bens poderiam ser
negociados.

Muitos anos se passaram desde então. Muitos exemplos de pessoas que não
leram Edmund Burke para entender que “um povo que não conhece sua história está
condenado a repeti-la” foram vistos. O mais notável deles se dá na República de
Weimar, após ser completamente destruída na 1ª Guerra Mundial. Os constantes
financiamentos monetários dos gastos de guerra, durante o período, geraram uma
hiperinflação de nada menos que 20,9% ao dia, levando a uma famosa lenda urbana
durante o período no qual as pessoas saíam com um carrinho de mão cheio de
dinheiro para ir à padaria, no meio do caminho eram assaltadas e o ladrão deixava o
dinheiro e levava consigo o carrinho de mão, tamanha desvalorização da moeda.

No “país das jabuticabas”, o “dragão da inflação” iria atormentar e muito! Ele já


daria as caras no início da república com a fracassada política de encilhamento do
então ministro da fazenda Rui Barbosa, que só daria uma trégua com o brilhante
trabalho de Joaquim Murtinho, ministro da fazenda do presidente Campos Salles,
causando uma década de atrasos e aumento contínuo de preços.

Mas o apogeu do problema viria anos mais tarde. Quando Niemeyer e Costa
projetaram Brasília, mal sabiam que a brilhante arquitetura que encanta olhares, até
mesmo seis décadas mais tarde, iria trazer custos desastrosos ao país. A emissão de
moeda para financiar a construção de Brasília provocou uma inflação que se
perpetuaria na economia brasileira até 1994.

Após o “start” no governo JK, com uma breve pausa durante o final da década
de 60, o “dragão inflacionário” iria corroer o poder de compra do cidadão se
retroalimentando cada vez mais, com a mesma voracidade que um buraco negro
absorve a matéria.

Após o desenvolvimentismo exacerbado de Geisel e Figueiredo, os presidentes


que seriam eleitos democraticamente tinham apenas um plano em mente: acabar com
a inflação. José Sarney foi o primeiro incumbido da missão. A heterodoxia que
norteava suas diretrizes macroeconômicas não deram conta do recado. Com a falsa
ilusão que a inflação era apenas causada pela ganância de empresários, achou que o
plano cruzado iria garantir a estabilidade monetária. O congelamento de preços
imposto pelo pemedebista garantiu um fenômeno que viraria motivo de piada décadas
mais tarde: “Os fiscais do Sarney”, que se referiam às pessoas que iam aos mercados
fiscalizar e denunciar os preços caso os mesmos estivessem superiores. O plano
fracassou, pois não entendeu que apesar do estágio inercial da inflação, que exigiria
políticas mais firmes do que as usuais, a inflação era causada pela irresponsabilidade
dos gastos públicos. Como apontou Mário Henrique Simonsen: “Acabar com a inflação
congelando preços é igual tentar acabar com a febre destruindo termômetros.”

Em 1989, viria Fernando Collor de Mello – “o caçador de marajás”. O confisco


de poupanças que teve autoria de sua ministra e prima, Zélia Cardoso de Mello, iria
levar muitas pessoas ao suicídio, mantendo o status quo caótico da economia
nacional. Após esse fiasco, Collor adotaria políticas ortodoxas, envolvendo o
desaquecimento da economia e o aumento da taxa de juros, que não foi hábil o
suficiente para conter o monstro que já havia sido criado. Uma simples Fiat Elba foi o
estopim para acabar com mais esse tragicômico episódio da história brasileira.

Posteriormente à renúncia do alagoano, o mineiro Itamar Franco entrava em


campo para satisfazer os anseios da população que não aguentava mais as
trapalhadas de nossos políticos e economistas. Após passar por várias mãos, o
ministério da fazenda caía no colo do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que
chegava ao cargo com o anseio de todos pela tão sonhada estabilidade monetária.
FHC logo convocou um grupo de economistas vindos da PUC-RJ para colocar seu
plano em prática. O plano real consistia em converter o cruzeiro real em uma moeda
virtual (URV), até que quando essa fosse impressa passaria a se chamar de real.
Então, no dia 1/07/1994, o real chegava aos cofres dos cidadãos, com o valor de
2.750,00 CR$. Chegava ao fim os insanos tempos de inflação brasileira, com a
impressionante marca de 20.759.903.275.651% de corrosão do poder de compra
desde seu início, culminando em um enorme processo de concentração de riqueza e
aumento das disparidades.

Nesse contexto, FHC se aproveitaria de sua popularidade pra se eleger duas


vezes presidente da república. As políticas de austeridade fiscal teriam continuidade
com ele no planalto. Em 1999, formula-se o tripé macroeconômico, estabelecendo as
três metas que norteariam a economia brasileira: superávit primário; meta inflacionária
e câmbio flutuante.

O seu sucessor no planalto, o sindicalista Luís Inácio Lula da Silva, para a


surpresa de todos, manteve o rigor fiscal do tucano. Que só findaria com Dilma
Rousseff quando estabeleceu a Nova Matriz Macroeconômica.

Todo esse processo é detalhado no documentário “O país das jabuticabas” que


detalha todo o processo de inflação, burocracia e altos juros como genuinamente
tupiniquins, assim como a fruta. Algumas das críticas foram ouvidas pelo pessoal de
Brasília. O país campeão em juros reais no mundo iria ter uma taxa de juros
absurdamente baixa uma década mais tarde; entretanto, a burocracia e a
complexidade tributária ainda caracterizam o nosso cotidiano e garantem mais
algumas décadas presos ao atraso. Só podemos esperar “que Deus tenha
misericórdia dessa nação”!
REFERÊNCIA

A HISTÓRIA da inflação no Brasil. Direção: Roberto Stefanelli. Gravação de TV


Câmara. [S. l.: s. n.], 2009. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=8OnfgomHOBc&t=467s. Acesso em: 21 jun. 2020.

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