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Apresentação
Olá, seja muito bem-vindo(a)!
Além disso, vamos discutir as várias crises que assolaram a Baixa Idade Média, como a
peste negra, a Guerra dos Cem Anos, entre outras. Outro importante fato, e determinante,
para o fim desse período foi a invasão e destruição do Império Bizantino, pelos Turcos.
Esta Unidade está organizada em quatro seções que abordam, na sequência, os seguintes
conteúdos:
Bons estudos!
Objetivos
Desafio
Leia o artigo - “O Renascimento do Direito Romano e a Gênese do Estudo Científico do
Direito no Ocidente Medieval”, de Letícia P. Pimenta, publicado pela revista AEDOS. Com
base na leitura, relate o que tornou possível o surgimento do Direito Medieval e cite qual
foi a sua importância para a herança jurídica do Ocidente. Escreva no máximo 20 linhas e
poste no AVA.
Conteúdo
Junto com as cidades e o processo urbano advêm as novas atividades essenciais para a
vida nas cidades, fazendo deste sistema um dos impactos que contribuiu para suplantar o
sistema socioeconômico baseado na agricultura.
Assim, essa é uma seção que tenderá a debater o renascimento das cidades, a expansão
urbana, suas características culturais e econômicas e, principalmente, a relação das
cidades com o Feudalismo.
Nos séculos XII e XIII, o sistema econômico é essencialmente agrícola. Segundo Le Goff
(1992), o setor de produção inscreve-se naquilo que os marxistas denominariam de modo
de produção feudal e outros, como Georges Duby, nomeariam como senhorial.
De todo modo, com o dinheiro obtido dos camponeses, e também da comercialização dos
produtos da terra, os senhores passam a adquirir os bens necessários, bens estes, cuja
necessidade somente aumenta com o custo do equipamento militar em períodos bélicos
e com os gastos necessários para manter uma vida de nobreza.
O mercado, portanto, é uma necessidade para comprar e para vender produtos que se
deseja. Em contrapartida, de acordo com Le Goff (1992) - “o senhor, e o mínimo de bens
de que precisa, e que ele não produz, compra e vende, também ele, no mercado” (LE GOFF,
1992, p. 55).
Ainda de acordo com Le Goff (1992), os burgueses, habitantes da cidade, têm três
preocupações: o direito de enriquecer; o direito de administrar e o direito de dispor de mão
de obra. Os burgueses, portanto, são citadinos, que assumem ao lado do senhor ou dos
senhores, um lugar de privilégio nesta sociedade.
Os habitantes da cidade devem se sentir “livres”, ao passo que os burgueses devem ser,
igualmente, livres para administrar seus negócios, reunir-se com outros burgueses e
controlar a vida econômica e administrativa da cidade. Também aos habitantes é
permitido que obtenha mão de obra sem nenhuma coação senhorial. Com este sistema
bem organizado, os burgueses não temem o modo de produção senhorial, uma vez que
compram matéria-prima a preço baixo e têm poucos custos no comércio e artesanato.
Segundo Le Goff (1992):
Neste contexto, as grandes cidades, que possuem uma grande população, se destinavam
ao cultivo de grãos para a alimentação. A economia Medieval, por seu turno, dedicava-se
tanto a produção de tecido como objeto para ser utilizado na grande indústria, como
também no comércio. De tal maneira, dada a expansão econômica, o comércio destas
cidades europeias não se contentava em atingir somente as regiões circunvizinhas, como
os países bálticos, a Itália ou a Inglaterra. Ao final do século XII, atingiriam o Oriente.
É preciso lembrar, ademais, que o século XIII na Europa foi marcado pela expansão das
cidades e, também, no contexto urbano, das escolas e das universidades. Com o ensino
primário e secundário, a Europa já possuía uma base essencial para o ensino e, as
chamadas escolas superiores, marcam o que seria a criação de uma base espetacular e
também de uma tradição.
As escolas superiores são as ditas universidades. Ao final do século XII, tais escolas
receberam o nome de studium generale, ou seja, escola geral, sinalizando, através do
nome, uma espécie de status superior no nível de ensino. Sempre situadas em ambientes
de organização dos ofícios nas cidades, eram corporações como os outros ofícios. O
termo universidade somente foi cunhado em 1221, em Paris, para nomear uma
comunidade que reunia mestres e estudantes parisienses.
Nos dias atuais, vigora o modelo parisiense. Ainda segundo os registros históricos, a
figura do mestre universitário era - na Europa do século XIII, em si, comparável ao
mercador, uma vez que o mercador vendia seu tempo (que não pertencia a outro senão a
Deus), também o mestre universitário vendia um bem que pertence a Deus, isto é - a
ciência, algo justificável também aos alunos, que podiam lhe pagar pelas lições. Ou seja,
ao lado do desenvolvimento mercantil, considerado pré-capitalista, desenvolvia-se
também a Europa do trabalho intelectual, ladeada pela Europa do trabalho comercial.
Também a organização das universidades remete ao seu vínculo, à época, com a igreja.
De que maneira? Ora, segundo Le Goff (2007):
universitários eram regidos por reitores eleitos pelos mestres e supervisionados pelo
chanceler, em geral nomeado pelo bispo do lugar, e cuja importância se apagou, adquirindo
os universitários, pouco a pouco, uma autonomia quase completa (LE GOFF, 2007, p. 174).
Vê-se que autonomia constituía um termo importante para as universidades nessa época
e eles não deixavam de escapar, portanto, à ingerência e da dominação das cidades ou
das monarquias. Por serem instituições da igreja, as universidades não se livraram da
influência das intervenções pontifícias, ainda que estas fossem leves. Registra-se,
entretanto, alguma censura por parte dos bispos, constituindo-se como um fato notável, a
condenação pelo bispo de Paris - Estevão Tempier, de aspectos extraídos do ensino de
certos mestres parisienses, inclusive, Tomás de Aquino, no ano de 1270 e, posteriormente,
em 1277.
Aristóteles, segundo Le Goff (2007), foi muito estudado no século XIII nessas
universidades, principalmente nas parisienses. Somente nesse século se descobriu, nas
traduções latinas recém-concluídas, sua metafísica, ética e política. Graças a isso,
pode-se falar de um aristotelismo latino medieval que, por volta de 1260, tornou-se uma
moda no ensino universitário.
Outro mestre - Tomás de Aquino, fora um de seus introdutores nas universidades. Foi
Estêvão Tempier, o bispo referido acima, que condenou o aristotelismo, por volta de 1270,
ao defender uma perspectiva do pensamento filosófico mais mística e menos racionalista.
Em Bolonha, por exemplo, a primeira foi uma universidade de Direito, em Paris - uma
universidade de teologia. Com tal diversidade, era difícil não pensar em uma hierarquia
sutil pelo lugar no currriculum e pela dignidade entre, segundo Le Goff (2007), “uma
faculdade de base propedêutica, a faculdade das artes em que se ensinavam as artes do
trivium (gramática, retórica e, sobretudo, dialética), e as artes do quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia e música” (LE GOFF, 2007, p. 176).
Do ponto de vista social, havia uma diversidade de estudantes jovens e poucos ricos, uma
vez que poucos deles seguiam para uma faculdade superior. Nesta época, acima das
faculdades das artes, havia as de maior proeminência, enquanto estudos superiores: a
faculdade de Direito, a faculdade de Medicina e, acima de todas, impunha-se - a de
Teologia.
Em termos históricos, a primeira universidade que se registra é a de Bolonha, mesmo
tendo recebido seu status do papa em 1252, porém, desde 1154, o Imperador - Frederico
Barba Ruiva, já havia concedido tal mérito a mestres e estudantes. Da mesma maneira,
mestres e estudantes receberam mérito semelhante em 1174 pelas mãos do Papa
Celestino III e do rei da França - Filipe Augusto, em 1200, dentre outras.
O vínculo das universidades com a Igreja era tal que o salário dos professores provinha do
terço dos dízimos da Diocese, por exemplo - de Salamanca, cuja universidade foi fundada
como estabelecimento real em 1218-1219.
Mas, o ensino de Teologia não parece ter vingado, tendo a universidade, na segunda
metade do século XIII, que se desenvolveu, particularmente, no domínio do direito. Entre
alguns recursos das universidades novas, legadas do século XIII à Europa, está o recurso
à greve, registrando-se que uma das mais famosas foi a de mestres e estudantes
parisienses. Esta greve durou de 1229 até 1231, devido à hostilidade do bispo e da rainha
Branca de Castela e outro legado seriam as férias no verão, inseridas no calendário dos
cursos - adentrando o calendário da Europa como uma tradição quase litúrgica.
É importante deixar claro que essa foi uma das novas bases da futura Europa, como deixa
registrado Le Goff (2007). Obtinha-se uma série de diplomas se o estudante tinha
recursos e capacidades, um dos mais prestigiados - o mestrado em Teologia, obtido ao
fim de anos de estudos.
Alguns historiadores se referem a este período como “Outono da Idade Média”/ “Crise do
sistema feudal” e tais expressões parecem apropriadas se pensarmos que em 1347 a
peste negra foi responsável pela morte de, pelo menos, um terço da população da Europa
Ocidental, de outro lado a Guerra dos Cem Anos, entre 1337 e 1453, que também marcou o
suposto Outono ou Crise do Sistema Feudal.
Diante de tanta atribulação, vamos nos adentrar ainda nos principais fatores que
marcaram esta época e, iniciemos esta caminhada, por discutir o que seria a conjuntura
de 1300. Segundo Marcelo Cândido da Silva (2019), nem sempre se entendeu de maneira
aprofundada o período em que se responsabilizou a peste negra pela estagnação da
economia senhorial, tendo sido pelas mãos de historiadores como Georges Duby e
Michael Postan, que este período passaria a ser revisto - por volta de 1950.
Até aqui, a peste negra, de 1347, teria atingido populações combalidas pela crise
alimentar e a estagnação em termos econômicos. Muitas teorias advieram a essa
conclusão. Uma delas, com o fim de explicar a escassez de alimentos para uma
população em franco crescimento, se vale de analisar a estagnação dos meios técnicos
para suprir esta demanda cada dia mais crescente, outra perspectiva se centraliza na
situação do campesinato, dependente da aristocracia senhorial. Logicamente, a primeira
explicação tem origem nas teorias de Thomas Malthus (1766-1834), que previra a
inevitabilidade da crise alimentar, uma vez que a população cresceria em proporção
geométrica e os alimentos em uma proporção aritmética.
Vejamos que tal tese é assumida por Michael Postan, dentre os dois historiadores citados,
enfatizando a indisponibilidade dos meios técnicos para atender à subsistência da
população. A segunda, por sua vez, tem por inspiração as teorias de Karl Marx, sobre
como o campesinato dependente ficou refém da dominação da aristocracia senhorial,
tomando, por exemplo, o que ocorreu na Inglaterra e na França, com a responsabilidade da
crise, recaindo sobre o bloqueio econômico o resultado de ausência de meios técnicos
para a produção, ausência de terras e taxas, cobradas aos camponeses, no primeiro caso,
e o empobrecimento da aristocracia senhorial, no segundo caso.
As teses de Malthus, para analisar o período, caem por terra quando se percebe que,
mesmo com a diminuição da população, a carestia e a epidemia continuavam levando a
população à miséria.
Por obra de tudo que esteve acontecendo, podemos imaginar que essa crise seria uma
crise sistêmica do Feudalismo. Porém, segundo historiadores ingleses, a Europa Ocidental
conseguiu se recuperar desse clima de desgraça, graças ao protagonismo dos
camponeses, como agentes do desenvolvimento econômico. Segundo Silva (2019), a
revisão deste período, de 1300, pôde ser feita a partir do processo de observação das
dinâmicas da economia camponesa, principalmente, na comercialização de produtos
têxteis, artesanais e agrícolas.
Assim, supõe-se que a análise desses registros nos permite entender que a carestia teve
efeitos distintos em diferentes regiões: atingiu de forma mais intensa o Norte da Europa
do que o Sul da Europa. Ao contrário do Norte, no Sul da Europa as condições físicas e
climáticas foram globalmente favoráveis para as atividades agrícolas, e se havia algo que
limitava o acesso aos alimentos, este fator era, por exemplo, o preço dos cerais, o que nos
permitiu concluir que a fome se deveu bem mais aos aspectos “pré-capitalistas” da
comercialização do que à carestia. Assim, como demonstra o autor:
A Grande Fome, ao contrário do que se pensava, não foi o resultado das contradições ou dos
limites da economia senhorial, mas fruto de fenômenos climáticos drásticos (intempéries e
inundações), porém circunscritos. A maioria dos observadores contemporâneos notou a
devastação material causada pelas chuvas e pelas inundações que se seguiram, a destruição
de plantações e pastos, o apodrecimento de grãos, o rompimento de diques, etc. (SILVA,
2019, p.119).
As situações de fome foram diferentes, conforme a circunstância de cada lugar, porém,
outros efeitos advieram como causas para a impressão de miséria da população e de
escassez de recursos. Estes fatores, como dissemos, giram em torno da comercialização
e seus efeitos sobre as crises alimentares. Tais crises alimentares não seriam, portanto,
resultantes da superpopulação (na lógica neomalthusiana) ou de esgotamento dos solos,
mas, possivelmente, uma consequência do processo de restabelecimento mercantil.
A fome, desta maneira, resultou de fatores comerciais, baseados na proeminência de uma
economia continental do mercado de cereais, não necessariamente, do sintoma de uma
economia em crise.
Ora, algumas inovações técnicas marcam a assunção deste período. Por exemplo,
pode-se constatar, nos registros trazidos por Silva (2019), o desenvolvimento do aço
como resultado de novos tipos de fornos, além da relação imbricada entre inovações
técnicas e a transformação do mundo rural. Desenvolveu-se tanto a produção de metal
como a rede siderúrgica, da extração do mineral ao produto acabado. Tais inovações
refletem a mudança histórica instilada pelos fatores já abordados nesta seção.
A peste negra foi o resultado de uma infecção, cuja causa é o bacilo Yersinia pestis,
apresentando-se em três formas: a septicêmica, a bubônica e a pulmonar. A última forma
é a mais contagiosa, com taxa de mortalidade de até 100%. Cada um destes tipos é
transmitido por formas diferentes: a septicêmica - de um agravamento das outras duas, a
bubônica - através de picada de pulgas e a pulmonar - através da saliva e de gotículas
projetadas no ar por infectados.
Registros indicam que, entre 1348 e 1670, houve surtos da doença todos os anos, em
diversas regiões da Europa, agindo de forma diferente, cada região onde surgia. Com
esses dados, presume-se que a peste e suas complicações ao longo dos séculos XIV e XV
constituíram uma catástrofe demográfica na história europeia.
Frente a esses dois fatos também surgiu, no período demarcado, entre os séculos XIV e
XV, a emergência de um Estado moderno com a proeminência das monarquias,
principalmente na França, Inglaterra e península ibérica.
Pode-se pensar que, nesta época, a máquina administrativa do Estado abarcava uma boa
quantidade de funcionários, burocratas, soldados, oficiais, dentre outros, aumentando o
custo do sustento do próprio Estado.
Por esta emergência, da forte presença do Estado, também aumenta a percepção fiscal,
ou seja, um instrumento de racionalização administrativa e normativa para as cidades.
Porém, as consequências tanto da emergência do Estado moderno, como do
desenvolvimento do sistema fiscal, fizeram com que as próprias transações mercantis,
antes reguladas por cada cidade, adquirissem uma nova institucionalidade, permitindo
tanto o desenvolvimento mais eficaz de mercados e de feiras comerciais, como ainda
implementando uma nova maneira do poder central lidar com as cidades.
Outro dos mecanismos de consolidação do Estado moderno, adveio do seu conflito com o
Papado e suas próprias pretensões universalistas. Essa disputa desencadeou em um dos
mais longos e fatídicos conflitos do fim da Idade Média: a Guerra dos Cem Anos.
O nome pelo qual tal conflito ficou conhecido, nascido no século XIX, designa uma
sucessão de guerras entre a França e a Inglaterra no intervalo entre 1337 e 1453. Segundo
Silva (2019):
A raiz da disputa entre os dois reinos estava na lógica da dominação senhorial, que fazia do
rei inglês vassalo do rei francês em razão das terras que o primeiro possuía na Aquitânia.
Essa situação se agravou quando, após a morte do rei francês Carlos IV, em 1328, o rei
inglês Eduardo III reivindicou o trono da França, pois era descendente da irmã do rei
falecido. Como a França foi palco da maior parte das operações militares, seu território
concentrou boa parte dos danos. A monarquia francesa foi a maior beneficiária, pois a
expulsão dos ingleses permitiu a unificação do país. Ambas as identidades nacionais saíram
reforçadas dessa longa série de conflitos (SILVA, 2019, p. 129).
Em termos sociológicos, a relação dos homens com a morte ganhou novas conotações,
muitas vezes também constatada para externar o impacto da crise do século XIV, que ia
além de questões econômicas ou políticas.
É nesta época, por exemplo, que advieram as procissões de flagelantes, que utilizavam o
flagelo como forma de autoproibição de grupos, que consideravam a peste castigo divino
e, também, porque não a compreendiam, sobretudo, em sua difusão. Então, houve uma
grande quantidade de comportamentos em massa, devido a essa incompreensão da
peste como castigo divino, comportamentos que redundaram em linchamentos, fugas,
procissões de flagelantes, etc. Tanto é que se assistiu nos séculos XIV e XV a um
aumento da perseguição a judeus, leprosos e hereges, certos de que a peste seria um
castigo divino, para punir a humanidade pelos “desviantes”.
Neste período, surgiram ordens mendicantes nos meios urbanos, sobretudo a Ordem
Franciscana, uma ordem que santificava a pobreza e a privação nas ações de caridade.
Também seria esperado que os estados adotassem, para conter o comportamento em
massa, ações repressivas para controlar a população, que crescia em razão de
contingências sanitárias, econômicas e sociais.
Um aspecto interessante, todavia, adveio com a maior tomada de consciências dos
homens da própria modernidade. Por exemplo, entre 1360 e 1380, constatou-se um
aumento dos testamentos, que dispunham sobre o destino do corpo depois da morte, a
escolha da sepultura, o cortejo fúnebre, assim como o que fazer com a herança e os
proventos a serem dedicados às missas ao defunto.
Nesta seção final, compreenderemos o que foi a queda de Constantinopla, por muitos
nomeada - decadência do Império Bizantino.
Uma vez que os territórios bizantinos serviam de base naval para suas rivais marítimas
dos Otomanos - em Gênova e Veneza, podemos compreender que há muito os otomanos
ambicionavam a conquista da cidade de Constantinopla, dando-lhes talvez o pretexto
ideal para as Cruzadas - lideradas pelo rei da Hungria.
Mehmet II, ao assumir o trono, busca eliminar focos de resistência para o seu governo:
nomeia conselheiros próximos em cargos de alto prestígio da corte, simultaneamente, vai
solapando alguns adversários políticos, mesmo não conseguindo afastar autoridades que
ofertavam algum risco ao seu poder, como o vizir Çandarli Halil.
A ascensão de Mehmet II ao trono, porém, foi considerada benéfica para o império e os
estadistas bizantinos. Constantino XI exigiu-lhe que cedesse territórios que, outrora
pertenciam a Bizâncio, observando, que por ser jovem e considerado inexperiente, o sultão
detinha certa fragilidade política. Sob a ameaça de apoiar, numa futura guerra civil
otomana, o príncipe Orhan, Mehmet II possuía uma fortaleza política a seu favor, mesmo
com suas competências militares e diplomáticas. Assim, ele resolve o problema ao
estabilizar a região sudeste da Anatólia e retornar à Europa com o desígnio de conquistar
Constantinopla.
Vários sinais viriam a ser dados de que Mehmet II ousava conquistar Constantinopla, seja
em edificações (como a Fortaleza) ou em atitudes, que desafiavam a corte bizantina
como verdadeiras declarações de guerra.
Para efetivar seu plano - Mehmet II, utilizou-se de alguns expedientes, dentre eles: o
reposicionamento seguro dos territórios otomanos na Ásia Menor e Turquia, além do
isolamento de Constantinopla, que teve seu abastecimento marítimo e terrestre
prejudicado. Para além deste fato, Mehmet II também controlaria o acesso marítimo do
estreito, com uma alfândega a embarcações cristãs que objetivassem atravessar o mar
Egeu e o mar Negro.
Liderados por Mehmet II, o exército e os soldados avançaram nas linhas de cerco, mesmo
com uma parte do exército mantida na reserva. É interessante abordar a crônica
contemporânea sobre o exército otomano nesta guerra, uma vez que algumas fontes
apontavam para 200.000 homens, sendo que outras afirmavam não possuir mais do que
80.000, sendo a maioria entre cavaleiros que combatiam pelas vias terrestres.
A extensão do conflito e suas vicissitudes são narradas, dentre muitos fatos, da seguinte
forma:
O bombardeamento das muralhas terrestres manteve-se durante estas operações anfíbias,
intensificando-se a partir do dia 2 de maio, com a reutilização do famoso basilicão de
Urbano. A abertura de novas brechas na muralha da cidade, nos dias subsequentes,
possibilitou um assalto noturno, realizado no dia 7 de maio e que quase culminaria na
debandada generalizada das tropas bizantinas (caso Giovanni e o imperador Constantino,
entre outros notáveis da cadeia de comando, não tivessem acorrido ao local). Uma nova
brecha na muralha, adjacente ao portão de Kaligaria (fora aberta no dia 8 de maio e
alargada nos dias seguintes), possibilitou um novo assalto (a 12 de maio), com invasão do
palácio imperial antes de ser repelido. Simultaneamente, os sapadores sérvios enviados pelo
respetivo déspota que tinham integrado a hoste otomana, liderados por Zaganos Pasha,
procuravam abrir uma brecha na muralha de Blachernes; este objetivo foi contrariado por
uma contramina bizantina, escavada sob a direção de João Grant. Outra tentativa
malograda seguir-se-ia no dia 21 de maio, com a maior parte das minas a acabarem por ser
inundadas e extintas (...) (MONTEIRO, 2017, p.401).
Mesmo com a resistência do exército local, a moral bizantina ia, aos poucos, cedendo,
provocando a potencialização das tensões com as populações residentes no território
bizantino, entre pedidos do sultão para que o imperador se retirasse e entregasse a
cidade, porém Constantino ainda tinha esperança de receber ajuda externa dos Húngaros
e dos Venezianos, o que o levou a recusar a proposta e declarar que preferiria morrer na
cidade.
Este fato faz Mehmet II convocar o conselho de guerra, o que foi fundamental para a
organização de uma operação decisiva, um cerco definitivo que poria fim ao domínio de
Constantino. Após este conselho, o sultão inspecionou as tropas e havia decidido que o
assalto terrestre e marítimo final se daria no dia 29 de maio. A moral do otomano, vale
destacar, era elevada, de tal maneira que se organizaram eventos nos últimos dias do
cerco, em que os oficiais religiosos relembravam aos soldados a dimensão e o símbolo da
conquista da capital de Bizâncio e assim descreve-se o final do conflito:
A construção de uma nova capital já era objeto dos sonhos de Mehmet II, sobretudo
quando este mandou reparar muralhas, repovoar a cidade com gregos, turcos e demais
etnias, atraídos, por sua vez, por privilégios fiscais e outras vantagens. Iniciaram-se obras
públicas, a exemplo da construção de um novo palácio, abrigos, complexos cultuais,
hospitais, dentre outros. Mediante o sonho de transformar Constantinopla num lugar para
todas as religiões constantes do livro sagrado, criou-se, em outras palavras, um centro
para culturas da Europa e da Ásia se encontrarem.
É certo, todavia, que os historiadores percebem que havia um certo “caráter fechado” na
economia feudal, com o mínimo de trocas e de contratos financeiros, e que, segundo Vilar
(2003), mesmo nos séculos XVII e XVIII, essas trocas permaneceram, dado que a
sociedade rural, surgida do Feudalismo, viveu por muito tempo fechada em si mesma.
Ainda assim, a comercialização do produto agrícola na economia feudal, para estas
fontes, sempre foi muito “parcial”, já no Capitalismo, tudo vira mercadoria e, porventura,
lucro com valor agregado. Partindo deste princípio, portanto - podemos falar de
“Capitalismo” no século XV, ou, possivelmente, no século XVIII francês?
Sabe-se que nas cidades existia o mínimo de atividade urbana, que era constatada já
antes do século III, com as cidades romanas cercadas por muralhas. Podemos remeter o
período de surgimento do modo de produção feudal a um momento em que a marca
distintiva do estilo de vida rural, no cotidiano econômico e social, era uma marca
correspondente a um período que vai do século IV ao século X.
Somente algumas cidades na Itália praticavam o comércio com outras localidades desde
o século IX. Seja em um papel militar ou já comercial, algumas cidades já proviam um
papel considerável na vida comercial, com a redistribuição de produtos preciosos ou de
moedas adquiridas, nas chamadas razias, e na venda de escravos, principalmente cidades
entre a Espanha muçulmana e a cristã.
A generalização da atividade comercial somente pôde ser percebida a partir do século XI,
combinada com o crescimento da produção local, cujo fim era o próprio mercado, com a
substituição das oficinas e sua fabricação de produtos a serem utilizadas no uso corrente
pelas oficinas urbanas.
Em seu território, ou seja, no espaço dentro das muralhas, os cidadãos sentiam-se livres e
tinham algum tipo de participação coletiva, o que nos faz pensar que mesmo vinculadas
ao sistema feudal, as cidades possuíam maior soberania sobre seus senhorios. Tanto que
cartas do mesmo gênero das “cartas de franquia” tiveram de ser concedidas às “vilas
novas”, povoações originadas para vigiar as fronteiras, ocupar territórios e reforçar a
proteção às encruzilhadas.
O rápido surgimento de cidades livres teria um alcance limitado, segundo Vilar (2003),
uma vez que estas não alteram o modo e as relações de produção da população ainda
camponesa. Sua principal vantagem foi servir como exemplo e influência para muitas
comunas rurais se libertarem e fomentar, no asilo que ofereciam aos servos fugitivos,
uma fonte de pensar e materializar um ideal primeiro de liberdade.
A crise geral do Feudalismo, nos séculos XIV e XV, é acompanhada por algum crescimento
urbano e também por fortunas mercantis. Acompanhou essa época a prevalência
progressiva do luxo, das construções vistosas, dos mecenas no campo das artes, mas
ainda não significaria o apogeu no campo da produção.
Por seu turno, as pioneiras das repúblicas mercantis, cidades do mediterrâneo, com o
passar dos anos vão a uma decadência relativa, uma vez que os mares do Oriente foram
conquistados pelos turcos, com seu triunfo sobre as rotas comerciais do Atlântico. Com
esse fato consumado, o progresso para a transformação do Ocidente europeu recai sobre
os “ombros” da Região de Flandres, Inglaterra, Portugal e Espanha, que tinham seus
portos como os grandes responsáveis pela expansão comercial do ocidente.
Assim, a primeira etapa de formação do Capitalismo, após passadas as crises do século
XIV e XV, observou-se um amplo avanço das forças produtivas ocorridas em meados do
século XV e XVI.
Este período, não por menos, foi marcado pelo modo como as forças produtivas, ou seja,
os próprios instrumentos de produção viriam a se modificar com os avanços da ciência e
da tecnologia e, claro, com a crise geral do Feudalismo. Conforme esperado, no século
XVII, o número de inventos foi maior do que no século XV. Por exemplo, o uso da artilharia
impulsionou a produção de metal para esta necessidade, ainda que o primeiro forno para
estes fins, dentre outros, datasse do século XV.
Ainda que este período estivesse açodado pelo desenvolvimento fabril e comunicacional,
a agricultura demonstrava ter sua força na Itália, com a horticultura e a viticultura. Mas, do
rendimento da agricultura não sentiria um progresso antes do século XVIII, e as colheitas
seriam irregulares dentre carestias periódicas. Não parecia mais ser o momento do cultivo
e do plantio, muito embora ainda se praticasse. Concomitantemente, observa-se um
crescimento comercial da indústria têxtil, o que eleva a Inglaterra e Castela a serem polos
produtores de carneiros, concorrendo com a agricultura em alguns setores e despovoando
os campos.
Assim, os operários trabalhavam mais, além de mulheres e crianças serem postas para
trabalhar, com o aumento do salário sendo até o mínimo para a subsistência. De outro
lado, a revolução agrícola e a liberdade do comércio de grãos possibilitam que sejam
alimentadas mais pessoas, muito embora se tirasse proveito das crises de alimentação. A
partir daí, vemos de que maneira o capital industrial pode se transformar em
simplesmente Capitalismo, substituindo modalidades primitivas da formação de capital,
encerrando assim o período de mil anos que diz respeito à Idade Média.
Finalizando a Unidade
Por sua vez, as universidades tiveram seu início nos colégios. Era a Europa que se
escolarizava. Por esta época, surgiram as grandes universidades, ainda fortemente
atreladas ao viés religioso. Embora o ensino fosse de acesso a todos, havia aqueles que
pagavam e só havia condições de prosseguir, verdadeiramente, nos estudos, aqueles que
pudessem ter condições de seguir pagando por eles.
Esta também foi a época das relações entre mestres e estudantes, que incluíam
peregrinações para universidades famosas e também as primeiras reivindicações por
liberdade nas universidades. Também uma época, como vimos, de disputas em torno do
legado aristotélico e da liberdade de pensamento.
Ne segunda seção, vimos como se deu o chamado “Outono da Idade Média” ou,
simplesmente, “Crise do sistema feudal”, com a carestia de alimentos, que atingiu uma
parte considerável da Europa; a peste negra que varreu pelo menos um terço da
configuração populacional da Europa e a Guerra dos Cem Anos entre a França e a
Inglaterra.
Em uma intrincada questão política e cultural do Oriente com o Ocidente, vimos que este
impacto afetou a cultura, a política, a economia e os mais diversos âmbitos do antigo
Império Bizantino.
Dica do Professor
Leia mais em:
Saiba Mais
Leia o artigo: “Do mosteiro à universidade: considerações sobre uma história social da
medicina na Idade Média”, de Cybele Crosseti de Almeida, publicado na revista AEDOS e
amplie seu conhecimento a respeito da importância das universidades para o
desenvolvimento da medicina.
Referências
● LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média, tempo, trabalho e
cultura no Ocidente. Tradução de Maria Helena da Costa Dias. Lisboa: Estampa,
1979.
● LE GOFF, Jacques. O Deus da Idade Média. Conversas com Jean-Luc Pouthier.
Tradução de Marcos de Castro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
● MONTEIRO, João Gouveia; Gonçalves, Gustavo; Nisa, João; Paiva, João; Gomes,
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