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03023
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As cidades antigas e os burgos desempenharam, pois, na história das
cidades, um papel essencial. Foram, por assim dizer, pedras de espera.
Será à volta das suas muralhas que se formarão as novas cidades, logo
que se manifeste o renascimento econômico de que surpreendemos os
primeiros sintomas no decurso do século X (PIRENNE, 1964, p. 70).
A partir da citação podemos observar o início da construção das novas cidades que
estavam por ser formadas no Ocidente europeu, as quais seriam as responsáveis pelas
transformações econômicas, sociais, educacionais do século XII.
Verifica-se assim, que as cidades foram uma das principais manifestações e um dos
motores essenciais da culminação medieval, que atinge a atividade econômica. Uma nova
civilização, marcada pelo cunho urbano e também rural, pois o que se produzia no campo
vinha a ser comercializado na cidade.
Segundo Le Goff (1992), o surgimento das cidades principiou o aumento das
tensões, precipitam as trocas, urdem incessantemente a vida dos homens, além de
afirmarem sua personalidade. Essas cidades conheceram, ao longo de um século e meio,
um intenso crescimento, com fases de aceleração e de desaceleração. Ocasionando a
construção de novas muralhas, que foram o elemento mais importante da realidade física e
simbólica das cidades medievais.
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O comércio, tanto a praticada no local, como a vindo do exterior, uniram-se para
que esta atividade econômica não deixasse de se desenvolver. Com isso, no século XII os
progressos já eram surpreendentes, “[...] progredindo gradualmente, transforma, em
definitivo, a Europa Ocidental. Libertou-a do tradicional imobilismo a que a condenava
uma organização social que unicamente dependia das ligações do homem com a terra”
(PIRENNE, 1964, p. 87).
As necessidades primordiais da vida comercial, a facilidade de comunicações e a
necessidade de segurança, permitiram a população imigrada do comércio, começar a
absorver os antigos habitantes, ocasionando a vinda da população rural para a cidade.
Essas cidades ofereciam aos habitantes do campo um meio de adquirir os produtos de todas
as espécies, causando a divisão do trabalho entre o campo e a cidade.
Entretanto, para diversos camponeses vinculados a um senhor, era mais difícil
conseguir sua liberdade e dessa maneira imigrar para a cidade. Com isso, muitos
trabalhadores resistiam às exigências senhoriais. E os próprios senhores não permitiam que
os camponeses deixassem suas terras, por ser à base da exploração. Assim, eles fizeram
com que os lavradores começassem a produzir além de suas necessidades para vender seu
trabalho, “[...] libertando assim parte da mão-de-obra rural para outras tarefas; começavam
a preferir pagamentos em dinheiro em vez de serviço” (DUBY, 1980, p.110).
Essas mudanças também possibilitaram modificações significativas na agricultura,
com a substituição dos animais para puxar o arado, que antes era feita com os bois e passou
a ser realizado pelos cavalos e a utilização do metal que se tornou mais comum,
introduzindo na sociedade rural trabalhadores especialistas. Com isso, o aperfeiçoamento
do arado e da junta, foi fundamental para o progresso econômico e o crescimento
demográfico em geral.
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senhoriais e pela ocupação da população, que a conquista agrária não podia reabsorver
completamente.
Outro ponto importante de destacar, em relação às transformações no Ocidente, é
referente à educação. Antes ela era destinada aos religiosos, nobres e aos cavalheiros. Com
o desenvolvimento do comércio houve a necessidade de ampliar as escolas e serem
destinadas aos filhos dos mercadores, artesãos, entre outros. Para que pudessem aprimorar
o conhecimento em relação ao comércio.
Segundo Pirenne (1968), o renascimento comercial foi responsável pela criação das
primeiras escolas para os filhos dos burgueses. Em primeiro momento esses frequentavam
as escolas monásticas com a finalidade de aprenderem os rudimentos de latim, pois eram
necessários para a correspondência comercial. Mas aos poucos perceberam que era
necessário um conhecimento mais amplo com atenção aos conhecimentos práticos exigidos
pela vida comercial. “[...] as cidades, abriram, na segunda metade do século XII, pequenas
escolas que se podem considerar como o ponto de partido do ensino leigo na Idade Média”
(p. 129).
Dessa forma, a partir do século XII, foram criadas escolas, ao lado das monásticas,
muitas laicas, nas principais cidades da região que estavam se desenhando como Europa,
em toda a cidade, além das que já existia.
Le Goff (1992) destaca que as escolas religiosas, em contato com a cidade
transformam-se, profundamente, e uma das novidades que surgem neste período foi à
preocupação com a escolarização das crianças, pois com o crescimento das trocas, os
comerciantes perceberam a necessidade da leitura e escrita para realizar as atividades
econômicas.
Esta nova aquisição para os burgueses é uma imensa conquista, pois a escola passa
a, além de ensinar preceitos religiosos a ensinar, também saberes próprios para uma vida
nesta nova sociedade que adquiria contornos urbanos. Assim, o século XII inaugura essa
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necessidade com o desenvolvimento e crescimento econômico proporcionado pela
crescente vida urbana.
Evidencia-se assim, que a educação proporcionou novos caminhos aos habitantes
presente nessas cidades medievais, o qual conduzia o ensino à laicização. Assim, as
diversas transformações ocorridas no Ocidente, oportunizaram mudanças significativas no
modo de viver, agir e pensar.
Nesse sentido, as contribuições de Hugo de São Vitor foram fundamentais para
educação medieval. Ele apresenta a leitura como instrumento para formação da pessoa,
sendo necessário ter organização e método para realiza-lá.
De todas as obras de Hugo de São Vitor, o livro Didascálicon: Da arte de Ler,
escrita em 1127, é, segundo a historiografia, a mais significativa, por ser uma introdução
ao saber, no qual apresenta as disciplinas e auxilia o estudante deste período a organizar os
estudos, priorizando o que pretendia ensinar. A obra torna-se referência tanto aos
estudantes como aos professores das recentes escolas catedráticas. Ela fica conhecida como
o currículo de toda Europa Medieval.
Hugo de São Vitor, no século XII, destaca que ao percorremos o caminho da leitura
a primeira coisa a ser buscada é a Sapiência - para ele a Sapiência é Deus - por ela ser a
nossa origem, ou seja, conhecendo-a, conhecemos a nós mesmos. “De todas as coisas a
serem buscadas, a primeira é a Sapiência, na qual reside a forma do bem perfeito” (HUGO
DE SÃO VITOR, 2001. L. I c. 1 § 1). Assim, naquele período a leitura foi o caminho a ser
percorrido pelas pessoas que buscavam conhecimento, seja no mosteiro, seja nas recentes
cidades que emergiam, filhas das transformações sociais.
Segundo Hugo de São Vitor (2001), ao ser iluminada a mente do homem pela
Sapiência, ele volta ao seu princípio, ou seja, não é preciso procurar em outros lugares sua
origem, pois é suficiente aquilo que ele é. Assim, para chegar até Deus nesse período, o
homem precisa alcançar a sabedoria que era possível por meio da leitura. Ela ocasionará
mudanças em seu conhecimento, por sua mente ser capaz de absorver todas as coisas. Ou
seja, todos têm a capacidade de adquirir conhecimento, mas nem todos os desenvolvem da
mesma maneira.
Nesse período a procura da Sapiência também foi dada o nome de filosofia, por ser
considerada uma disciplina de doutrina daquelas coisas que fossem verdadeiras e
possuíssem uma substância imutável, assim como a alma do homem. Portanto, de acordo
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com Hugo de São Vitor (2001) a filosofia é “[...] o amor, a procura, e uma certa amizade
para com a Sapiência, mas não aquela sabedoria que se ocupa de tecnologias e de ciências
produtivas, e sim aquela Sapiência que, não carecendo de nada, é mente viva (HUGO DE
SÃO VITOR, 2001. L. I, c.2 §2).
Assim, ao conhecer a filosofia o homem assegura a verdade de seu pensamento e de
seus atos. Mas para ocorrer isso de forma adequada é preciso que o indivíduo nasça, cresça
e alimente-se para continuar vivendo. Nesse sentido, a Sapiência conduz a atos bons e
verdadeiros, definindo o caráter do homem, mas necessitam ser precedidos por uma
moderada Sapiência. Com isso, a filosofia também pode ser definida como uma disciplina
que investiga as razões de todas as coisas humanas e divinas.
Portanto, a leitura faz parte de todos os atos humanos. Sendo todas as ações e
esforços guiados pela Sapiência, para que possa restabelecer a integridade de nossa
natureza. Entretanto, de acordo com o Mestre Vitorino, existe no homem o bem e o mal.
[...] O bem, sendo que é a natureza originária, visto que ficou diminutivo,
deve ser restabelecido através do empenho pessoal. O mal, dado que é
depravação, dado que corrupção, sendo que não é natureza originária,
deve ser extirpado. E se não pode ser extirpado pela raiz, pelo menos
deve ser reprimido com a aplicação de um remédio. Isto é exatamente
aquilo que deve ser feito para que a natureza seja recuperada e o vício
eliminado (HUGO DE SÃO VITOR, 2001. L. I c. 5 § 2).
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O homem é semelhante a Deus quando é sábio e justo, mas para construir isso é
necessária a especulação da verdade, ou seja, procurar coisas boas e verdadeiras. Investigar
os fatos e o exercício da virtude, ser humilde para realizar suas ações, mas também, precisa
‘nutrir e conservar a vida’ e isso se dá mediante o trabalho. Por não separar o mundo
mental/religiosidade do mundo do trabalho o Mestre Vitorino destaca que os homens
devem usar a “inteligência”, por se ocupar das coisas superiores, e as “ciências”, por se
ocupar das coisas inferiores.
É possível perceber nesta citação como Hugo de São Vitor valoriza as duas ações
dos homens, tanto a teórica (inteligência), como a prática (bem comum). Mas para os
homens porem em prática suas ações, é necessário também o uso da lógica, que é uma
maneira de raciocinar com clareza. A lógica é fundamental, pois ninguém pode discutir
sobre as coisas, os acontecimentos, sem o seu conhecimento, ou seja, temos que saber
antes qual o raciocínio que assegura o caminho verdadeiro das discussões, e não apenas os
aspectos que têm aparência verdadeira.
Para o Mestre Vitorino, a lógica é ensinada pela natureza das palavras e conceitos,
sem os quais, nenhum tratado de filosofia pode ser explicado de maneira racional.
Portanto, as ciências que abrangem todas as outras são: a teórica, que trata das
investigações da verdade; a prática, que estuda a disciplina dos costumes; a mecânica, que
ordena as ações desta vida; e, enfim a lógica, que ensina a falar corretamente.
Vale salientar que as ciências eram compreendidas na filosofia da seguinte forma:
apresenta as artes que fazem parte do saber filosófico, que são: teologia, física,
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matemática, aritmética, música, geometria, astronomia, a especificidade de cada arte, a
divisão da mecânica em sete ciências: de lã, ciências da arma, navegação, agricultura, caça,
medicina, teatro. A gramática, e também a teoria da argumentação.
A ciência pode ser interpretada de duas formas, sendo como disciplina ou como um
conhecimento que faz parte da filosofia, como parte divisível ou integral. Dessa forma, a
filosofia se divide em teórica, prática, mecânica e lógica. Assim, ao estudar deve-se
investigar, comparar as coisas que entendeu menos, para depois estar seguro nas discussões
e não ter medo de errar. Com isso, Hugo de São Vitor (2001) destaca características
necessárias e essências aos estudantes.
Hugo de São Vitor destaca nessa citação que ao se dedicar ao saber teórico é
preciso dispor, ao mesmo tempo, de inteligência (que descobre) e de memória (que guarda
a sabedoria), pois se um faltar não é possível atingir a perfeição, porque estão interligados
um ao outro. Assim, o exercício da inteligência se dá mediante a duas atividades:
Outro aspecto exposto por Hugo de São Vitor (2001) é a ordem na leitura, que
devem ser observadas nas disciplinas (dependendo da natureza da disciplina) ou nos livros
(segundo o autor ou da matéria relacionada), ou na narração (de acordo com a disposição,
podendo ser natural ou artificial), ou na exposição de textos (obedecem ao nível de
informações).
O modo de ler consiste em dividir, pois ao aprendermos iniciamos pelas coisas mais
conhecidas, determinadas e abrangentes, mas aos poucos vamos conquistando o saber e
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aumentando o repertório de aprendizagem. Para depois, por fim, abrangermos as coisas
singulares, investigando a natureza das coisas ai contidas. Isto é, é preciso começar do que
conhecemos para tornar o conhecimento mais amplo, por meio da pesquisa, ou seja, da
leitura.
Segundo Hugo de São Vitor (2001), o início da aprendizagem está na leitura e o fim
na meditação, que é pensar frequente com discernimento, investigando prudentemente a
causa e a origem, o gênero e a utilidade de cada coisa. Em relação à meditação, existem
três tipos diferentes:
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Na prática da leitura, os estudantes precisam ser humildes e não desprezarem
escrito algum. Assim, quando estiver livre leia algo, pois todo escrito propunha algo
desejável. Mas se você não pode ler todas as obras, lê as mais úteis. É preciso ouvir todos
com prazer, ler de tudo, não desprezar escrito algum, pessoa alguma e nem doutrina
alguma. Pois, todo conhecimento é importante por ser bom, com isso, é fundamental a
humildade, por parte dos estudantes.
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Ao se dedicar aos estudos é preciso não ir ao alcance das coisas supérfluas, sem
valor, mas procurar a virtude de seus atos, mesmo que isso signifique aprender devagar a
trocar primeiramente estas coisas visíveis e transitórias, para que depois consiga deixá-las.
Nesse sentido, Hugo de São Vitor, apresenta aos estudantes deste período, principalmente,
a leitura dos livros sagrados, destacando o número e ordem dos livros, seus autores e
tradutores, autores do novo testamento, significados dos nomes dos livros sagrados,
concílios, escritos autênticos ou apócrifos.
Portanto, deve-se saber que a Escritura Sagrada apresenta três maneiras de entendê-
las, que são: o modo histórico, o modo alegórico e por fim tropológico (moral). Mas nem
todos os discursos divinos devem ser forçados a terem essas interpretações. Assim, o
Mestre Vitorino apresenta aos estudantes algumas particularidades da Escritura e o modo
de lê-la.
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superfície da palavra, ignorando a força da verdade (HUGO DE SÃO
VITOR, 2001. L. V c. 3 § 2).
Dessa maneira, Hugo de São Vitor (2001) destaca três aspectos importantes que
costumam opor-se ao estudo: a negligência, que ocorre quando deixamos de lado o que
deve ser aprendido, devendo ser repreendido; a imprudência, que ocorre quando não
mantemos a ordem e o método apropriado no que aprendemos, devendo ser instruído; e,
por fim a má sorte, que se dá por algum evento de causa natural, devendo ser ajudado. Ao
adentrarmos nesse caminho, da leitura e do estudo, devemos ser provocados por elas, para
procurarmos não somente a beleza das palavras, mas sim a verdade e a virtude das
palavras.
Nada se deve querer sem motivo, nem provoca desejos aquilo que não
promete utilidade. O fruto da leitura sagrada é duplo, pois ou 1) instrui a
mente com o conhecimento ou 2) a adorna com os bons costumes. Ela
ensina aquilo que agrada saber e aquilo que vale a pena imitar. Dos dois,
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um, isto é, o conhecimento, está relacionado mais à história e à alegoria,
o outro, o ensino dos costumes, mais a tropologia. Toda a Sagrada
Escritura é direcionada para esta finalidade (HUGO DE SÃO VITOR,
2001. L. V c. 6 § 2).
Muitos procuram na leitura das Escrituras mais o saber que a virtude. No entanto,
podemos verificar com a citação acima que os dois são necessários e louváveis. Assim,
este conhecimento é oferecido de duas maneiras: pelo exemplo, quando lemos as ações dos
santos e pela doutrina, quando aprendemos os seus ensinamentos propícios para a vida
disciplinada.
Dessa forma, a leitura não deve ser motivo de aborrecimento, mas de
contentamento, buscando a verdade dos fatos e não somente a pompa das palavras. Hugo
de São Vitor (2001) deixa claro que é possível, aos leitores serem dignos de louvor, ao
aprenderem com prazer. Contudo a leitura também pode ser causa de aborrecimento,
dependendo da qualidade e do seu conteúdo.
[...] Se, todavia, você deseja ser doutor, escute o que fazer: a humildade
do seu hábito e a simplicidade do rosto, a inocência da vida e a santidade
do seu falar devem ensinar os homens. [...] A leitura pode ser para você
um exercício, mas não um propósito. A instrução é boa, mas é dos
principiantes. Você, ao contrario, havia prometido de tornar-se perfeito, e
por isso não lhe basta igualar-se aos principiantes. É necessário que você
faça mais. Considere, portanto, onde está, e saberá facilmente aquilo que
deve fazer (HUGO DE SÃO VITOR, 2001. L. V c. 8 § 3).
Se, portanto, você lê e tem o entendimento e já sabe o que deve ser feito,
isto é o começo do bem, mas ainda não lhe basta, ainda não é perfeito. (L.
V c. 9 § 4).
Suba, portanto, para a fortaleza do discernimento, e medite como
conseguir cumprir as obrigações que aprendeu. Muitos, com efeito, têm o
conhecimento, mas poucos sabem de que maneira é oportuno praticar o
conhecimento (HUGO DE SÃO VITOR, 2001. L. V c. 9 § 5).
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encontro aos que ascendem por estes degraus, de modo que quem ficou embaixo não pode
ser perfeito” (HUGO DE SÃO VITOR, 2001. L. V c. 9 § 9).
Portanto, Hugo de São Vitor (2001), mostra em sua obra Didascálicon, como as
Escrituras devem ser lidas por aqueles que ainda estão buscando somente o conhecimento.
Para alcançar o conhecimento e ter discernimento é necessário percorrer o caminho da
ordem e do método, pois quando é realizado com afinco, abrirá, facilmente, o caminho da
leitura.
Hugo de São Vitor (2001) diz que, para se tornar um sábio é necessário que não se
despreze nada. Como nas virtudes, também nas ciências existem degraus a serem vencidos:
é preciso analisar tudo o que aprendemos, pois tem coisas que estudamos e pensamos que
não tem utilidades, mas quando comparada a outras coisas as quais estão ligadas, verá que
são necessárias e procedentes. “Aprenda tudo, e verá depois que nada é supérfluo. O saber
limitado não é alegre” (L. VI c. 3 § 4).
É preciso analisar tudo o que aprendemos, pois tem coisas que estudamos e
pensamos que não tem utilidades, mas quando comparado a outras coisas as quais estão
ligadas, e começar examiná-las em conjunto, verá que são necessárias e naturais. Hugo de
São Vitor destaca os métodos de interpretação da leitura, no qual é preciso examiná-las
com grande discernimento, pois assim não tiram um sentido para a qual não foram escritas.
“É isto, estudante, aquilo que lhe propomos. Este campo do seu trabalho, bem sulcado com
o arado, lhe trará muitos frutos. Todas as coisas foram realizadas com ordem: proceda com
ordem” (L. VI c. 3 § 8).
Portanto, ao estudante é necessário instruir-se e informar-se. Dessa forma, a leitura
é fundamental para formação humana e ao realiza-lá é necessária que seja num ambiente
propício, permitindo compreender o que as palavras querem transmitir, ou seja, é preciso
que ela seja silenciosa e meditativa.
Por meio dos dados e informações apresentadas no decorrer deste texto, foi possível
evidenciarmos a importância da leitura na formação humana. Principalmente, porque ao
ser compreendida nos conduz para outros lugares e épocas distintas da nossa. Faz-nos
refletir, desenvolver o senso crítico, sempre valorizando a opinião de todos, além de
possibilitar conhecer a história de cada período, buscando entender nossa origem, nossa
história.
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Nesse sentido, a leitura é um caminho que deve ser percorrido por aqueles que
querem adquirir o saber, mas para torná-lo importante, é fundamental ter método e
organização para estudar. Portanto, o Didascálicon, proporcionou e proporciona as pessoas
adquirir conhecimento ao invés de apenas ler mecanicamente. Assim, o estudo diz respeito
ao conhecimento em si, no qual se relaciona com a importância da leitura como fonte de
sabedoria e o vincula-se a possibilidade de pensar, sempre, em mudanças educacionais,
distinta da nossa.
Hugo de São Vitor expõe que é preciso meditação, dedicação, disciplina e métodos
para realizar a leitura, para alcançarmos à sabedoria, que para o mestre é a Sapiência, pois
com ela conhecemos a nós mesmos, não sendo necessário procurar as coisas fora de si, ou
seja, a Sapiência ilumina o homem a percorrer um caminho certo para alcançarmos o saber
por meio da leitura. Com isso, o conhecimento deve ser do todo, de forma profunda, sendo
esta a condição para que possamos estar preparados para transmitir o que aprendemos.
A obra de Hugo de São Vitor foi importante para seu período e também é para
atualidade, por auxiliar a entender como a leitura é um modo de viver e este viver
possibilita alcançar o conhecimento e se ter uma visão diferente e consciente diante das
situações do nosso tempo presente. Assim, ao praticar a leitura é preciso saber, o que ler,
em que ordem ler e como se deve ler.
Dessa forma, para o Mestre Vitorino o ato de ler é um modo de viver um afeto de
amizade, um ato moral e social. Com isso, a obra “Didascálicon: Da arte de Ler” foi o
livro no século XII que representava a aurora de novos dias na Europa e na história.
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