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Contextualização
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Introdução
Saiba Mais
Os estilos arquitetônicos revivalistas e ou historicistas são expressos por meio da
arquitetura: Neogótica, Neomanuelina, Neo-renascentista, Neo-românica,
Neo-islâmica (neomourisco, neo-árabe), Neobizantina, Neobarroca, Neocolonial.
Sobre esse assunto, acesse:
http://arq-blogger.blogspot.com.br/2010/10/arquitetura-historicista.html.
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Os espaços de moradia, como os bairros, os espaços de lazer, como as confeitarias,
os parques, os teatros, entre outros, demarcaram os territórios de requinte, de refinamento,
de beleza e salubridade, ocupados e frequentados pela elite, em oposição àqueles considerados
deteriorados, feios e insalubres, como as moradias dos bairros operários, os cortiços,
os botequins e os portos, entre outros:
1 BARROS, Frankimar de Souza; ALBUQUERQUE, Carlos Sandro Carvalho de. A eficácia dos programas “Manaus Belle époque e Monumenta”
para a preservação do patrimônio histórico edificado na cidade de Manaus, In: Revista Eletrônica Aboré - Publicação da Escola Superior de Artes e Turismo
Manaus - Edição 4 Dez/2010 ISSN 1980-6930. p.2 Disponível em: http://www.revistas.uea.edu.br/old/abore/artigos/artigos_4/01.pdf.
2 A borracha, catalogada como hervea brasilienis, extraída dos seringais amazônicos, foi primeiramente utilizada pela população nativa na produção de
utensílios domésticos, de uso pessoal e no revestimento de tecidos. Graças à sua impermeabilidade e elasticidade, após submeter-se a processos químicos, foi incorporada
à indústria com diversidade de aplicabilidade. Cf: MACHADO, Selma Suely Lopes. A Belle Époque Amazônica. Norte Ciência, vol. 2, n. 1, p.117. 2011.
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A cidade de Manaus foi marcada por intensiva modernização e, juntamente com Belém
do Pará, foram na época consideradas as cidades brasileiras mais desenvolvidas e das mais
prósperas do mundo.
Manaus ja possuía luz elétrica, bondes, sistema de água encanada e esgotos durante
o seu apogeu, entre os anos de 1890 a 1911, gozando de tecnologias que, no início, outras
cidades do sul e sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétricos, avenidas
construídas sobre pântanos aterrados, além de edifícios imponentes e luxuosos, como
o requintado Teatro Amazonas, inaugurado em 1896, o Palácio Rio Negro, construído em
1903, o Palacete Provincial, inaugurado em 1875 e o Mercado Adolpho Lisboa, cujo edifício
principal foi inaugurado em 1883 e as construções finais ocorreram somente em 1908.
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Mercado Adolpho Lisboa, em Manaus
O mercado Adolpho Lisboa foi inspirado no mercado parisiense Les Halles. Ambas as
construções utilizaram as modernas técnicas arquitetônicas do século XIX e foi comum o uso
do ferro revestido de vidro. O mercado brasileiro possui a estética eclética com o frontão
neogótico na edificação. Também podem ser encontrados elementos da Art Noveau.
A cidade do Rio de Janeiro também teve destaque nas reformas urbanísticas do final do
século XIX e início do XX. Na época, era capital do Brasil. Com a Proclamação da República,
em 1889, os militares trouxeram a ideologia da ordem e do progresso mediante o atraso
decadente do Império, que já não conseguia manter a economia em alta e a sociedade dentro
das normatizações.
Foi bastante considerável a falta de infraestrutura sanitária que fez com que o Rio de Janeiro
se tornasse o foco de uma série de doenças, como a febre amarela, a varíola, o sarampo,
a disenteria, a difteria, a tuberculose, a morfeia e a peste bubônica, entre outras.
Isso se agravou com a imigração europeia e a migração de escravos recém-libertos.
A população crescia significativamente. De 1872 a 1890, a taxa de crescimento era de 95,8%;
entre 1890 e 1906, a população aumentou 56,3%.4 O fluxo de pessoas que circulavam na
cidade favorecia a disseminação de doenças, tornando a cidade insalubre.
4 AZEVEDO, André Nunes de. A reforma Pereira Passos: Uma tentativa de integração urbana. Revista Rio de Janeiro. Dossiês
nº. 10, Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro, 2003, p. 39-79.
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5 PINHEIRO, Carlos Manuel; FIALHO JÚNIOR, Renato. Pereira Passos: Vida e obra. Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro.
Secretaria Municipal de Urbanismo. Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. Disponível em: www.armazemdedados.rio.rj.gov.br.
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Obras na cidade do Rio de Janeiro durante a gestão de Francisco Pereira Passos
Fonte: pre.univesp.br
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Enquanto isso, a cidade remodelada impunha os limites entre o belo e feio, o limpo
e o sujo, o salubre e o insalubre, entre outras adjetivações discriminatórias. A arquitetura dos
teatros, dos cafés e das confeitarias era imponente, como a construção do Teatro Municipal do
Rio de Janeiro, que foi inspirado no teatro francês Palais Garnier, também conhecido como
ópera de Paris.
É interessante notar que a presença de instituições culturais no final da Avenida
Central, como o Teatro Lírico, o Teatro Municipal, a Escola de Belas-Artes e o Palácio
Monroe, destinado a exposições, fez com que aquele espaço adquirisse uma forte
significação cultural. Este fato, possivelmente, influenciou o Governo Federal em
sua decisão de construir o novo prédio da Biblioteca Nacional no local poucos anos
depois, reforçando definitivamente uma tendência que a Prefeitura do Rio de Janeiro
estimulou com a decisão de construir o novo Teatro Municipal junto ao Teatro Lírico
e a Escola de Belas-Artes. Com efeito, o centro da cidade, sobretudo no trecho final
da Avenida Central, caracterizava-se como o centro “civilizador” do Rio de Janeiro.6
A cidade de São Paulo também foi inserida no contexto da Belle Époque e já havia passado
por mudanças econômicas e sociais desde o final do século XIX, devido à expansão da lavoura
cafeeira em várias regiões paulistas.
O capital da exportação do café foi investido na construção da estrada de ferro
Santos-Jundiaí, conhecida como São Paulo Railway Company, inaugurada em 1867, como
também os investidores aplicaram o capital na industrialização.
O trabalho nas fábricas, bem como nas lavouras, foi feito pelos imigrantes europeus
que, após o fim do tráfico negreiro, em 1840/1850 e da abolição nacional da escravidão,
em 1888, chegaram em massa ao Brasil.
6 AZEVEDO, André Nunes de. A Reforma Pereira Passos: Uma tentativa de integração urbana. Op. cit., p.60.
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Esse fator, aliado ao êxodo rural, fez com que a população de São Paulo passasse de
130 mil habitantes, em 1895, para 240 mil, em 1900.7 A área urbana cresceu, rompendo
os limites do perímetro urbano conhecido como triângulo, formado pelas ruas Direita,
XV de Novembro e São Bento.
O parque industrial paulistano começou a se formar, transformando, por exemplo, o Brás e
a Lapa em bairros operários. As indústrias estavam localizadas próximas aos trilhos da estrada
de ferro inglesa. As várzeas alagadiças dos rios Tamanduateí e Tietê, entre outras regiões,
foram ocupadas por imigrantes. Entre eles estiveram os italianos, ao lado dos alemães e
portugueses, entre outras nacionalidades.
Devida à autorização do presidente da República Campos Salles, a Light, uma empresa
canadense, já atuava no Brasil desde 1889. Inclusive no estado de São Paulo, por
meio da construção da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa, em Santana de Parnaíba,
concluída em 1901.
No ano de 1905, são instaladas as primeiras lâmpadas elétricas da cidade de São Paulo,
na Rua Barão de Itapetininga. A empresa foi contratada como a The São Paulo Tramway,
Light and Power Company Ltda. Dois anos depois, foram iluminadas as ruas do triângulo,
com 50 lâmpadas de arco fechado. Também a partir de 1900 as primeiras linhas de bondes
elétricos começaram a circular.
Assim, a elite paulistana ganhava cada vez mais visibilidade social e investia da mesma
forma nas remodelações urbanísticas, como também em uma série de instituições educacionais
e culturais, como o Liceu de Artes e Ofícios, que já tinha sido fundado pela aristocracia
cafeeira, em 1873, e passou a fazer parte do conjunto arquitetônico da Pinacoteca, construção
oficialmente inaugurada em 1905.
Outro ícone da construção elitista foi o Teatro Municipal, inaugurado em 1911, em uma
estética derivada do neoclássico e do revivalismo europeu, que deram origem ao estilo eclético.
Naquele processo, o arquiteto Francisco Ramos de Azevedo e sua equipe tiveram uma
enorme visibilidade e construíram diversas obras espalhadas pela cidade. Mas também não
podemos esquecer o arquiteto Hipólito Gustavo Pujol Junior e sua equipe, que projetaram e
reformaram vários edifícios. Entre eles, o localizado na Rua Álvares Penteado, 112. Construído
em 1901, foi comprado pelo Banco do Brasil em 1923 e reformado pelo escritório do referido
arquiteto que, com muito capricho, aplicou a estética da arquitetura eclética e elementos da
Art Noveau e da Art Déco na decoração e no revestimento da obra, para ser uma agência
bancária a partir de 1927.
É importante salientar que adentrar nas ruas-salões e se embriagar com seu luxo e
aspecto impecável não era para todos (...) O acesso às passagens era rigidamente
monitorado por guardas para evitar a entrada dos pobres. Nessa fase média da história
das passagens, W. Benjamin destaca também autores para os quais nem tudo era
louvável no tocante a esses templos do comércio.8
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Unidade: Belle Époque e Cosmopolitismo: Cidades na Vitrine: Manaus, Rio De Janeiro e São Paulo nos Finais do Século XIX e na Primeira Metade do Século XX
Beleza e requinte eram sinônimos de saúde e bem estar para aqueles que podiam desfrutar
das benesses das cidades em exposição, nas quais as pessoas de posses financeiras saíam às
ruas de Manaus, do Rio de Janeiro e de São Paulo elegantemente vestidas para trocar olhares
entre si e olhar as vitrines, onde roupas, sapatos, chapéus, luvas, joias, tecidos, perfumes
e produtos de toillete eram expostos e desejados.
Nas vitrines também estavam os doces e os salgados dos cafés e das confeitarias. O café
com requinte era apreciado por aqueles que podiam pagar por ele, enquanto o café requentado
dos estabelecimentos mais humildes, como o das quitandeiras, foi fiscalizado e, por ordem do
serviço de sanitarização e higienização, muitos foram fechados:
Até metade do século XIX os cafés eram quase inexistentes. Entre 1850
e 1860 funcionou na Rua da Imperatriz, esquina com o Beco do Colégio, a
primeira cafeteria da cidade, instalada informalmente na casa de Dona Maria
Emilia Vieira, conhecida como Maria Punga. Usando toalha na cabeça, argola
de ouro e umas arrudas nas orelhas, ela atendia os estudantes, comerciantes e
negociantes. Além disso, ela mesma torrava e socava os grãos num pilão velho.9
Rua Santo Antônio, vista da Rua do Sal, em foto de Militão Augusto de Azevedo
Fonte: Imagem reproduzida no livro Santos e seus Arrabaldes - Álbum de Militão Augusto de Azevedo,
de Gino Caldatto Barbosa (org.), Magma Editora Cultural, São Paulo/SP, 2004
9 ALVES, Simone. Influência Francesa nas Cafeterias de Rua da São Paulo do Final do século XIX e Início do XX.
Centro Universitário Fundação Santo André. Relatório Final de Pesquisa para o Programa de Iniciação Científica da CUFSA, PIIC 2012.
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Curso de História. Santo André: 2012, p.12.
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Aconteceu que o café comandado por Maria Punga, uma mulata forra, não foi frequentado
pela elite paulistana. Afinal, os homens mais importantes da cidade não iriam a um lugar
deselegante, gerenciado por uma ex-escrava.
A paisagem do espaço urbano se tornava cada vez mais moderna e civilizada, porém
excludente e opressora, porque diante das aparências desveladas houve mazelas não reveladas.
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