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19/03/2024, 13:18 Rio Memórias

O PLANO AGACHE
O debate sobre a arquitetura moderna no Brasil foi decisivo para que a
consciência urbana no Rio de Janeiro amadurecesse e resultou no seu primeiro
plano diretor, o Plano Agache. A escolha de Alfred Agache para desenvolver a
remodelação da cidade envolveu muitas questões que foram da política à
estética. O contexto era o final da década de 1920, quando a tensão em torno da
possibilidade de uma guerra mundial e a participação americana nas diretrizes
gerais do desenvolvimento do capitalismo colaboraram para que o modernismo
assumisse uma posição relevante no urbanismo. A racionalidade passou a ser o
elemento determinante nas mudanças urbanas.

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Donald Alfred Agache. Foto do Consulado Geral do Brasil em Paris,1939 – Wikimedia Commons.
O Rio de Janeiro, como capital do país, recepcionou esses debates e dividiu
opiniões. Havia a possibilidade de escolher entre a ousadia e a radicalidade
modernista de Le Corbusier ou o modernismo bem-comportado de Agache, que
valorizava o espaço urbano como capital e mercadoria através do processo de
verticalização, utilizando a novidade do “arranha-céu”. Agache foi o escolhido.

O Plano Agache possuía diretrizes distintas daquelas que até então motivaram
as alterações espaciais, pois definiu a estratégia de entrada da cidade na
estética modernista, que tinha como perspectiva o estilo art déco. O novo plano
não era uma unanimidade, e havia as pressões do Clube de Engenharia, que
criticava a escolha de engenheiros estrangeiros.

O avanço do capital imobiliário resultou na ocupação da orla sul, dando início à


diferenciação entre a zona sul e a zona norte. Alguns bairros abandonaram as
características aristocráticas para receber novas instalações fabris, como a
Tijuca e Vila Isabel.

Na esteira desse desenvolvimento, houve um aumento da burocracia do Estado


e a expansão dos serviços na cidade capital, no seu processo de se apresentar
como espaço modernizado e cosmopolita.

A Revolução de 1930 abriu espaço para a hegemonia do capital financeiro


internacional, e a cidade, que já possuía, no início do século XX, mais de 800 mil
habitantes, demandou mudanças para se adequar a essa nova conjuntura.

A Reforma Passos havia rasgado a cidade e indicado as linhas de força de seu


desenvolvimento. A avenida Central, depois avenida Rio Branco, foi a primeira
diagonal que ligou duas radiais: a avenida Beira-Mar, na direção da zona sul, e a
avenida Rodrigues Alves, em direção à zona norte, reforçando o caráter
exportador do país, pois esse circuito de avenidas enfatizava o novo porto da
cidade.

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Vista aérea da av. Rodrigues Alves, região da Leopoldina -Centro, Rio


de Janeiro, RJ – Fotografia de Jorge Kfuri – Instituto Moreira Salles.
As mudanças mais importantes, no entanto, ocorreram na década de 1920,
quando da administração de Carlos Sampaio na prefeitura, que, voltado para o
crescimento imobiliário da cidade, participou da ação mais discutida e
necessária para o desenvolvimento do Plano Agache, alguns anos depois: a
demolição do morro do Castelo. A polêmica em torno da demolição colocou, de
um lado, aqueles que defendiam o arrasamento dos morros da cidade como
condição de melhora da sua salubridade, e de outro, os que defendiam as
tradições históricas da cidade e que viam no morro do Castelo o elemento de
memória da sua fundação.

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Demolição total do morro do Castelo. Entre os escombros, é possível ver as ruínas da Igreja de
São Sebastião. Augusto Malta, 14/10/1922. Rio de Janeiro, RJ – Instituto Moreira Salles.
A derrubada do morro do Castelo criou um espaço novo e necessário para a
realização do grande evento de comemoração do Centenário da Independência
do Brasil, em 1922, além de liberar uma grande área para a especulação
imobiliária. A terra do desmonte aterrou uma área de enormes proporções na
baía da Guanabara, entre a praia de Santa Luzia e a praia do Russel, onde foram
construídos os grandes pavilhões da Exposição Internacional do Centenário da
Independência.

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Vista parcial dos pavilhões da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil.


Fotografia de Augusto Malta, 1922. Esplanada do Castelo, Rio de Janeiro, RJ – Instituto Moreira Salles.
A presença de um homem da política paulista na prefeitura, que não conhecia a
história da cidade do Rio, ajuda a compreender a escolha de Alfred Agache, em
1926. Antônio Prado Júnior, cuja experiência em administração pública se
resumia à direção de um clube de futebol em SP (Atlético Clube Paulistano), era
um típico representante das oligarquias. Essa experiência paradoxal na
prefeitura decorreu da ausência de eleições para o cargo de prefeito, que era
indicação direta do presidente da República e, nessa altura, o objetivo da
remodelação da cidade do Rio de Janeiro era desenvolver a infraestrutura e o
embelezamento do Centro, para ampliar a recepção dos investimentos externos
na capital. Essa estratégia excluía do plano o protagonismo das camadas
populares, mas, ao mesmo tempo, visava a desenvolver perspectivas que
pudessem, a médio prazo, fazer com que os setores médios, incorporados à
remodelação, passassem a apoiar as políticas do Estado. Com esse apoio,
haveria o restabelecimento da ordem, isolando os interesses populares.

Como consequência dessa conjuntura, Antônio Prado Júnior optou por contratar
um urbanista francês de renome internacional, que reunia as qualidades
suficientes para unir o modelo de cidade europeia com a renovação política que
estava sendo encaminhada, abrindo espaço para a burguesia urbana, ainda
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fascinada pela estética francesa. Alfred Agache se encarregou, então, do


primeiro plano diretor da cidade, entre 1926 e 1930, que enfatizava a
remodelação pensada enquanto adequação racional e funcional aos interesses
do capital financeiro e o embelezamento como mecanismo de revitalização da
força da nação e do desenvolvimento do sentimento nacional.

A base do Plano Agache era a renovação da dimensão físico-territorial, e não a


preparação da cidade para o desenvolvimento. Era uma intervenção pontual, que
deveria se limitar ao Centro, lugar por excelência das negociações financeiras.
Para tanto, seria preciso realocar valores, melhorando as edificações, a
ordenação dos arruamentos e a circulação, acelerando o movimento sem
congestionamentos. O aspecto visual era relevante para Agache, o que denuncia
sua formação na École des Beaux-Arts de Paris, representada pela ênfase na
combinação entre monumentalidade e academicismo. Entretanto, no plano do
Rio, o que fica mais patente é a adequação do academicismo à funcionalidade e
à objetividade modernistas. Essa faceta revela uma aproximação de Agache
com o urbanismo americano da Escola de Chicago, que incentivou a construção
dos arranha-céus, aproximando-o do City Beautiful Moviment, movimento
arquitetônico e urbanístico, que floresceu final do século XIX nos Estados
Unidos, com o intuito de embelezar as cidades através dos grandes
monumentos.

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“Perspectiva aérea do centro monumental e dos bairros de intercâmbio e dos
negócios” (p.149). Imagem do livro Cidade do Rio de Janeiro: extensão-remodelação-
embellezamento. Prefeitura do Rio de Janeiro, 1930. Biblioteca Nacional.
Entretanto, por mais abertura que Agache tivesse para as novidades
modernistas, sua concepção de cidade ainda se configurava em concebê-la
como um organismo vivo, que seria a metáfora da própria vida humana, em que
o funcionamento da cidade seria representado pelo metabolismo corporal.
Assim, as praças, as avenidas e os jardins seriam os pulmões da cidade, o seu
sistema aeróbico. As ruas seriam como as veias do corpo humano e fariam
parte do sistema circulatório, tendo como função levar a vida até o coração da
cidade: o Centro. Por fim, o aparelho digestivo seriam os esgotos. Esse
mecanismo estrutural-funcionalista deveria ser baseado no bom funcionamento
de cada parte que compõe o sistema geral, realizando o objetivo da harmonia
entre as partes e o todo. A anomia ou disfuncionalidade do sistema geraria
“doenças” na cidade.

No que diz respeito às favelas, Agache as considerou cidades-satélites de


formação espontânea, compostas por uma população variável e avessa à
higiene, que deveria ser civilizada, habitando casas populares a serem
construídas. O ordenamento do Rio teria como pressuposto a combinação entre
legislação urbana e zoneamento, ou seja, a atribuição de funções a cada espaço,
com o objetivo de alterar a cultura urbana através de mudanças nas relações
sociais e fazendo da cidade um agente de transformações de hábitos e de
costumes, o que resultaria em uma cidade moderna. Com essa naturalização, o
Rio e sua vida girariam em torno da sua função político-administrativa como
capital e da função econômica como porto e mercado.

Com a construção da Esplanada do Castelo, as novas ruas que cortaram a Rio


Branco acabaram por renovar a obra de Pereira Passos. A remodelação de
Agache, concentrada no Centro e aberta para a zona sul, confirmou o que já
funcionava como vivência das diferenças no cotidiano carioca. A avenida 13 de
Maio, o Tabuleiro da Baiana e o Largo da Carioca articulavam o sistema de
circulação para a zona sul, enquanto a praça Tiradentes e o largo de São
Francisco faziam o mesmo para a zona norte. Antes ainda da avenida Presidente
Vargas, a Rio Branco já estava dividida entre sul e norte. A dimensão popular das
diversões da praça Tiradentes contrastava com o refinamento dos cinemas da

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Cinelândia. Alfred Agache, projetou a cidade burguesa, dando a ela um centro


diferenciado: a Cinelândia, a Broadway brasileira.

Desenho do projeto que Alfred Agache para a praça do Castelo. – Imagem do livro Cidade do Rio de
Janeiro: extensão-remodelação-embellezamento. Prefeitura do Rio de Janeiro, 1930. Biblioteca Nacional.

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