Você está na página 1de 12

A transformação da paisagem: um estudo de caso da Praça

da Liberdade, Belo Horizonte/MG

SALGADO, Marina1; FARIA, Juliana Prestes Ribeiro2; CAPUTE, Bernardo3


(1) Arquiteta e urbanista – Gerência de Projetos e Obras, Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA); Mestre em Ambiente Construído e
Patrimônio Sustentável, Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG –
ms.marinasalgado@gmail.com

(2) Engenheira Civil – Gerência de Projetos e Obras, Instituto Estadual do Patrimônio


Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA); Mestranda em Ambiente Construído e
Patrimônio Sustentável, Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG –
juliana.faria@iepha.mg.gov.br

(3) Arquiteto e urbanista – Mestrando em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável,


Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG – bcapute@gmail.com

Eixo temático: Percursos Históricos – Preservação de Patrimônio Paisagístico


(comunicação oral)

As transformações das paisagens nas cidades são fruto da ação do homem situada no tempo e
no espaço, determinada por regulamentações urbanísticas distintas aplicadas em cada período
de desenvolvimento da cidade. A partir destas ações, a forma urbana é modificada
constantemente, o que possibilita a análise de sua evolução, desde sua origem até os dias
atuais. Esta análise será realizada na Praça da Liberdade, o primeiro centro cívico da capital
mineira, Belo Horizonte. Este espaço público tem sofrido transformações em sua paisagem
como um todo, desde modificações de estilo do seu traçado; da volumetria de seu entorno e da
própria praça, até alterações de uso e significado do espaço. Assim, o desenvolvimento deste
artigo se fundamenta na análise crítica da evolução da paisagem da Praça da Liberdade e seu
entorno imediato, focando também as transformações ocorridas a partir da implantação do
Projeto Estruturador Circuito Cultural. Este projeto apresenta como proposta principal a
substituição dos usos dos prédios que compõem o conjunto tombado da Praça, estes abrigavam
antes as Secretarias Estaduais e passarão a contemplar uma série de equipamentos culturais. A
partir da exposição das tranformações ocorridas na paisagem da Praça, espera-se contribuir
para as discussões à respeito das intervenções no patrimônio paisagístico.

Palavras-chave: Paisagem; Evolução Urbana; Praça da Liberdade.

1. INTRODUÇÃO

A nova capital mineira foi planejada segundo valores modernos, para ser o símbolo da nova era
que se anunciava para o Estado. Dentro deste espírito todas as características do projeto
contribuíram para agregar o valor de “progresso” à cidade: a implantação, o traçado, e
principalmente, a escolha do espaço onde seria instalada a sede do poder.

A análise da arquitetura da cidade de Belo Horizonte remete ao processo de


formação de uma cidade moderna, em que o centro administrativo ocupa lugar

1
proeminente na paisagem instituída: o Palácio Presidencial e as Secretarias de
Estado vão dispor-se na cena aberta de uma colina nivelada. Em Belo
Horizonte, o novo urbanismo parte deste centro, inscrevendo-se na
monumentalidade provinciana de uma praça ‘donde se irradia o sol da
Liberdade, da Civilização e do Progresso’ [...]1

O objeto de estudo deste artigo esta centralizado na análise historica da formação da cidade de
Belo Horizonte, e consequentemente da Praça da Liberdade. Esta será analisada tendo como
base as transformações de seu traçado ao longo do tempo, assim como de seu entorno, que
será delimitado por um recorte na planta da cidade de Belo Horizonte, sendo este composto
pelas seguintes vias: Rua Bernardo Guimarães, Rua Sergipe, Rua Professor Francisco Brant e
Rua da Bahia. A partir deste recorte serão estudadas as Leis nº. 2662/76, nº. 4034/85 e nº.
7166/96 de uso e ocupação do solo que balizarão a proposta de trabalho. Esta analisará as
transformações na paisagem da Praça da Liberdade e seu entorno – definido pelo recorte
abaixo – tendo como diretrizes as mudanças ocorridas nestas leis. Além disso, será enfocado,
principalmente, a mudança que está ocorrendo na Praça devido a tranformação de seu caráter
cívico do poder Estadual para cultural. Esta última será balizada tanto pela percepção da
transferência de significado e valor que a Praça e seu conjunto representam para a população,
assim como pela análise da transformação física dos edifícios para implementação dos novos
usos e seu impacto na paisagem urbana do conjunto.

RUA DA BAHIA
RUA PROFESSOR FRANCISCO BRANT

RUA BERNARDO GUIMARÃES

RUA SERGIPE

FIGURA 1 - Planta do recorte da Praça da Liberdade, foco de estudo.


Fonte: Arquivo IEPHA/MG

2. A NOVA CAPITAL E A PRAÇA DA LIBERDADE

A colônia transforma-se em império da Coroa Portuguesa com a vinda da família real para o
Brasil no século XIX, assim a discussão sobre a transferência da capital de Minas “(...) para um
lugar mais central do Estado (...)” (CASTRIOTA, 1998, p. 41), tornou-se mais enfática. A nova
capital vai surgir em um contexto marcado pela proclamação da República em 1889, superando
assim o período monárquico que era visto como um obstáculo à modernização.

Após intensos debates elegeu-se o local para a construção da capital mineira, que seria

1
SALGUEIRO, Eliana Angotti. O Ecletismo

2
conduzida pela Comissão Construtora da Nova Capital chefiada pelo engenheiro sanitarista
Aarão Reis. Em 23 de março de 1895 a planta geral estava concluída e foi aprovada através do
Decreto nº 817, de 15 de abril de 1895, pelo governador Crispim Jacques Bias Fortes. No local
existia um pequeno arraial denominado Curral Del-Rei que foi completamente destruído e sua
população foi assentada em povoados próximos. A nova Capital deveria ser o símbolo do poder
do Estado representando o progresso e a modernidade dos ideais republicanos.

O projeto de Aarão Reis foi concebido com base em um traçado ortogonal que seria implantado
no relevo acidentado existente no local, sobrepondo-o as montanhas mineiras. Este traçado teve
influência francesa no que tange a ênfase a monumentalidade e a simetria das avenidas que
ligavam os pontos de interesse da cidade. O plano original dividiu a cidade em três zonas:
urbana, suburbana e rural. A área urbana estaria localizada dentro de um anel denominado
Avenida do Contorno que possui uma malha como um tabuleiro de xadrez e tem como eixo
monumental a Avenida Afonso Pena. Circundando a zona urbana está a suburbana
caracterizada por possuir um traçado mais adaptado à topografia acidentada. Já a zona rural,
que se encontrava ao redor da suburbana comportava os sítios de pequena lavoura.

FIGURA 2 - Planta geral da cidade de Minas Gerais


Fonte: Fundação João Pinheiro, 1997, p. 31.

A partir de cortes e aterros no antigo “Alto da Boa Vista”, foi consolidada a esplanada na cota
mais alta onde seria implantada a Praça da Liberdade. Esta seria criada para abrigar a sede do
poder republicano em Minas Gerais, tornando-se palco dos principais eventos políticos, cívicos e
socioculturais.

Criada como centro cívico do poder estadual, a Praça consolida a luta libertária
do povo mineiro, materializa os ideais do poder civil e cria uma importante
relação entre população e governo, pois as secretarias circundam um grande
espaço de fruição urbana: o povo habita o espaço do poder. Não há melhor
metáfora para a democracia do que aquela materializada pela relação dos
edifícios públicos e espaço urbano ali presentes [...] (INSTITUTO ESTADUAL
DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE MINAS GERAIS, 2003)

3
FIGURA 3 - Dia da inauguração da Nova Capital, FIGURA 4 - Dia da inauguração da Nova Capital, 12
12 de dezembro de 1897. de dezembro de 1897.
Fonte: RODRIGUES,1981, p.48. Fonte: Disponível em www.circuitocultural.com.br,
acessado em 18/06/08.

Até 1904 a Praça da Liberdade era apenas um grande largo de terra batida sem ajardinamento e
arborização, sendo pouco freqüentada pela população. Este quadro foi alterado com a posterior
implantação do jardim que fez da Praça um local de convívio e recreio. Assim, seguindo a
concepção dos jardins Ingleses, a Praça da liberdade recebe o seu primeiro tratamento
urbanístico marcado pela divisão em duas grandes alas contendo lagos e jardins “naturais” além
de pontes rústicas de cimento imitando troncos de madeira.

FIGURA 5 - Praça da Liberdade década de 20. FIGURA 6 - Praça da Liberdade década de 30.
Fonte: Disponível em www.circuitocultural.com.br, Fonte: BELO HORIZONTE,1994, p.21.
acessado em 18/06/08.

Esta concepção de jardim será modificada em 1920 com a vinda dos reis belgas a Belo
Horizonte. Assim o antigo estilo seria substituído pela linha francesa – geométrica e com os
contornos bem marcados - que se manteve até os dias atuais. Nova reforma foi realizada no
governo de Israel Pinheiro (1966-71) onde foi suprimido o tráfego de veículos na alameda
principal da Praça e as vias laterais foram alargadas para implantação de mão dupla. Em 1971,
foi criado o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG),
cujos primeiros tombamentos foram o Palácio da Liberdade, em 1975, e o conjunto da Praça da
Liberdade em 1977. Na década de 80, a Praça sofreu várias intervenções que a
descaracterizaram. Somente no início da década de 90 a Prefeitura de Belo Horizonte com
apoio da Minerações Brasileiras Reunidas – MBR, realizou a restauração completa da Praça
resgatando seu traçado original dos anos 20, baseada em um estudo histórico das

4
transformações deste espaço.

2.1.1 A PRAÇA, SEUS EDIFÍCIOS E TRANSFORMAÇÕES

A função simbólica de poder da Praça da Liberdade foi reforçada pela implantação dos prédios
das Secretarias de Estado, que enfatizam ainda o valor artístico e cultural do conjunto urbano.
Este é marcado desde sua formação por um caráter dinâmico que resultou na concepção de
edifícios públicos em épocas diferentes, criando assim, um conjunto heterogêneo, formado pelo
Palácio da Liberdade, Edificio Niemeyer, Secretarias de Estado da Fazenda, Educação, Defesa
Social, Sobrado Narbona, Palacete Dantas, Palácio Cristo Rei, IPSEMG e o edificio do Museu
da Mineralogia.

O Palácio da Liberdade foi inaugurado em 1898 tendo sido projetado pelo arquiteto José de
Magalhães, membro da Comissão Construtora da Nova Capital, refletindo a influência francesa
na nossa arquitetura. Este recebeu local de destaque em sua implantação no plato mais alto em
relação a malha urbana ortogonal através do eixo da Avenida João Pinheiro. O prédio da
Secretaria de Estado da Fazenda, e a Secretaria de Estado da Educação, ambos foram
construídos na última década do século XIX.

No ano de 1910, iniciou-se as obras de construção do Palacete Dolabela para ser a residência
do Conde Dolabela Portela. Este edifício cedeu lugar ao edifício Niemeyer de características
modernistas no ano de 1955. Da primeira década do século XX data a construção do prédio da
Filial do Instituto Oswaldo Cruz, demolido, provavelmente, em 1955, sendo em seu lugar
construída a Biblioteca Pública. Construção do ano de 1954, este edifício apresenta formas de
“(...) curvas de um pergaminho desenrolado (...)”(CASTRIOTA, 1998, p. 212).

FIGURA 7 - Praça da Liberdade, indicando o Palacete Dolabela.


Fonte: Arquivo do IEPHA/MG.

O Solar Narbona foi construído em 1911 pelo espanhol Francisco Narbona para sua residência.
Já em 1915, o Palacete Dantas foi constuído pelo Engenheiro José Dantas e projetado por Luís
Olivieri em estilo neoclássico. Um exemplar representativo da segunda metade da década de
1920, é o prédio da Secretaria de Defesa Social de autoria do arquiteto Luiz Signorelli
juntamente com ao arquitetos Luís Olivieri e Rafaello Berti. Este edifício é uma construção com
características ecléticas.

O Palácio Cristo Rei – sede da Arquidiocese de Belo Horizonte – foi inaugurado em 1937,

5
representando um novo estilo - Art Déco – sendo projetado pelo arquiteto Raffaello Berti,
embora tenha sido assinado por seu sócio Luiz Signorelli. O antigo anexo da Secretaria de
Estado da Educação é ocupado atualmente pela Universidade do Estado de Minas Gerais –
UEMG. Este foi construído a partir de projeto do arquiteto Galileu Reis em 1961.

O prédio do IPSEMG foi construído a partir do projeto do arquiteto Raphael Hardy Filho e
inaugurado em agosto de 1965, no governo Magalhães Pinto. Apresenta forte integração entre
a edificação e seu entorno com o pilotis todo envidraçado e os jardins projetados como se não
houvesse definição entre o interior da edificação e seu exterior. O edifício do Museu de
Mineralogia Professor Djalma Guimarães, popularmente conhecido como “Rainha da Sucata”, foi
construído no final dos anos 80, a partir de projeto pós-moderno dos arquitetos Éolo Maia e
Sylvio Podestá.

FIGURA 8 - Praça da Liberdade.


Fonte: Disponível em www.circuitocultural.com.br, acessado em 18/06/08.

3. AS LEGISLAÇÕES

3.1 LEI 2662/76

A lei nº 2662 foi a primeira Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte, tendo sido

6
aprovada em 29 de novembro de 1976 e elaborada pelo PLAMBEL. A área central ainda
possuía grandes porções vazias, sendo a proposta desta lei um ordenamento espacial que
permitia que determinadas áreas tivessem coeficientes de aproveitamento e taxas de ocupação
mais permissivas do que outras. Segundo Ferreira (1997), a aprovação da Lei 2662/76, é a
primeira tentativa de ordenação da produção do espaço urbano na cidade e anuncia o fim de um
longo ciclo de expansão urbana sem efetiva presença de um processo de planejamento urbano.

O zoneamento proposto por essa lei se baseava no conceito de zonings, implementado na


Alemanha no começo do século XX e que dividia a cidade em zonas que determinavam os tipos
de uso e os parâmetros de ocupação dos lotes permitidos. Em Belo Horizonte, o zoneamento
proposto pela Lei 2662/76 se baseava nas categorias de uso, nos modelos de assentamento e
nos modelos de parcelamento. As categorias de uso se dividiam em residencial, comercial,
industrial e institucional. Os modelos de assentamento seguiam os parâmetros de taxa de
ocupação e coeficiente de aproveitamento, e os modelos de parcelamento tinham como principal
elemento o tamanho mínimo dos lotes.

O município foi então dividido em zonas: Zonas Residenciais (ZR) classificadas de 1 a 6 (ZR-1 a
ZR-6); Zonas Comerciais (ZC) classificadas de 1 a 6 (ZC-1 a ZC-6); Zona Industrial (ZI); Zonas
de Expansão Urbana (ZEU) classificadas de 1 a 4 (ZEU-1 a ZEU-4); Zona de Uso Especial
(ZUE) e Setores Especiais (SE) classificados de 1 a 3 (SE-1 a SE-3). A flexibilidade das formas
de ocupação foi assegurada pelos modelos de assentamento que variavam de 1 a 19 (MA-1 a
MA-19). A área em estudo está dentro de 5 (cinco) zonas distintas: SE-2, ZC-5, ZR-5 e ZR-6.

3.2 LEI 4034/85

A lei nº 4034 foi aprovada em 25 de março de 1985 e pode ser considerada uma revisão da lei
2662/76, pois manteve o mesmo caráter funcionalista da antiga lei. As alterações pretendiam
ajustar os mecanismos, mantendo o conteúdo básico, seus princípios e a metodologia.
Os parâmetros de adequação das atividades parecem ter sido ampliados quando são
percebidas algumas mudanças ocorridas nesta lei com relação ao uso. Com as mudanças
ocorridas também nos parâmetros de ocupação, esta lei se tornou mais permissiva do que a
anterior. Os parâmetros de edificação (afastamentos, coeficientes de aproveitamento, taxa de
ocupação) foram fixados, fazendo com que não variassem as opções de ocupação, apenas os
tipos de uso. As alterações ocorridas favoreceram o adensamento de um modo geral.

3.3 LEI 7166/96

A Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo de Belo Horizonte, foi aprovada em 1996 com
o objetivo de alcançar a função social da propriedade e da cidade. Esta lei teve seu foco na
ocupação, no adensamento, na criação de centralidades e na flexibilização de usos para
controlar as densidades e descentralizar os usos. As zonas foram determinadas de acordo com
os seus potenciais de adensamento, sendo elas: Zonas de Adensamento Preferencial (ZAP),
Zonas de Adensamento Restrito (ZAR), Zonas Adensadas (ZA), Zonas de Proteção (ZP), Zonas
de Preservação Ambiental (ZPAM), a Zona Central (ZC) e as Zonas Especiais de Interesse
Social (ZEIS).

A área em estudo está na ZC – precisamente na ZCBH (Zona Central de Belo Horizonte) – , que
de acordo com o artigo 11 da Lei 7166/96 “são as regiões nas quais é permitido mais

7
adensamento demográfico e mais verticalização das edificações em razão da infra-estrutura e
topografia favoráveis e da configuração de centro.” Um aspecto desta lei merece destaque, a
adoção da taxa de permeabilização (geralmente 20% da área do terreno), com o objetivo de
reservar área verde, que não pode ser coberta ou pavimentada, e também para limitar
adensamentos excessivos.

4. O CIRCUITO CULTURAL E A PRAÇA

O Circuito Cultural Praça da Liberdade é um projeto do Governo do Estado de Minas Gerais que
contempla um conjunto de espaços de cultura, que funcionarão em edifícios públicos do entorno
da Praça da Liberdade. O complexo abrigará espaços culturais, salas de apresentações de
música e dança, além de teatros, bibliotecas, videotecas, museus, livrarias, restaurantes, cafés e
lojas.

O conjunto integrado destes espaços culturais foi estabelecido através de parcerias público-
privadas, que com a transferência da administração pública do Estado de Minas Gerais para o
Centro Administrativo, promoveu o esvaziamento das edificações da Praça da Liberdade. Os
empreendimentos culturais, que substituirão as antigas secretarias estaduais são:

 Museu das Minas e do Metal – EBX, na antiga Secretaria de Educação;


 Espaço Tim do Conhecimento, na antiga reitoria da UEMG;
 Memorial Minas Gerais - Vale do Rio Doce, na antiga Secretaria da Fazenda;
 Centro de Arte Popular - Cemig, no antigo Hospital São Tarcísio;
 Centro Cultural Banco do Brasil, na antiga Secretaria de Defesa Social;
 Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves, na antiga Rainha da Sucata;
 Museu do Homem Brasileiro – Fundação Roberto Marinho, na antiga Secretaria de
Estado de Viação e Obras;
 Centro de Referência em Restauração Artística e sede do IEPHA, na antiga Secretaria
de Cultura, localizada no Palacete Dantas e Solar Narbona;
 Museu do Automóvel - Fiat, nas garagens do Palácio da Liberdade;
 Hotel Butique, no antigo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas
Gerais (IPSEMG);
 Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa;
 Museu Mineiro;
 Arquivo Público Mineiro;
 Palácio da Liberdade.

A principal justificativa de implantação do circuito cultural Praça da Liberdade é o da


universalização do acesso aos antigos prédios das secretarias do estado, que não vinham
sendo visitados pelo público. Os projetos de intervenção apresentados para estes edifícios
históricos que compõem o conjunto da Praça, visam transformar secretarias em espaços
culturais de visitação pública, sem a previa avaliação da relação entre os usos compatíveis com
essas tipologias arquitetônicas.

Os programas que estão sendo implantados nestas edificações tombadas em nível estadual e
municipal, exigem adaptações relativas à sua estrutura, instalações elétricas e hidráulicas e
principalmente a alteração de sua arquitetura, que desobedecem aos princípios modernos da
preservação de bens culturais. As cartas patrimoniais atentam para “que se mantenha uma
utilização dos monumentos, que assegure a continuidade de sua vida, destinando-os sempre a
finalidades que respeitem o seu caráter histórico e artístico” ou ainda que “a conservação dos
monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal

8
destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar a disposição ou decoração
dos edifícios”.

A proposta de reunir na Praça da Liberdade, um dos símbolos da capital mineira e conjunto


arquitetônico de grande valor histórico e cultural, para Minas Gerais, equipamentos culturais que
geram uma excessiva carga de usos e atividades, é totalmente inapropriada, já que promove a
atração de um grande número de visitantes, e uma considerável alteração no fluxo de trânsito da
região, que se localiza na interseção de importantes avenidas de Belo Horizonte.

Os jardins da praça e suas fontes luminosas constituem um local de passeio, e um espaço de


convivência, que padecerá pela circulação de um público em escala incompatível com a
definição e o uso de um jardim histórico. Os condicionantes relativos à utilização inadequada
deste espaço, já haviam sido constatados com o processo de degradação deste monumento
causado pela Feira Semanal de Artes e Artesanato, que desde 1969 tinha o intuito de divulgar,
naquele espaço, a arte e cultura mineira. Entretanto, o único objetivo alcançado foi a da
permanente deterioração dos jardins, e suas gramas, árvores e mobiliário urbano, que só foram
recuperados após a transferência da feira, e posterior restauração da praça, que recuperou o
glamour e os traços originais datados da época da construção da cidade.

A elaboração de um estudo detalhado do impacto ambiental ocasionado pela implantação do


Circuito Cultural Praça da Liberdade, demonstraria as impossibilidades de dar uso a um espaço
que exibe certas restrições, pois “se todo jardim histórico é destinado a ser visto e percorrido,
conclui-se que o acesso a ele deve ser moderado, em função de sua extensão e fragilidade, de
maneira a preservar sua substância e sua mensagem cultural”

A Carta de Florença define que “por natureza e vocação, o jardim histórico é um lugar tranqüilo,
que favorece o contato, o silêncio e a escuta da natureza”, sendo essa uma das principais
características da Praça da Liberdade, que em pleno centro de Belo Horizonte, é considerada
por seus visitantes como uma “ilha de tranqüilidade”. Nesse espaço público a insegurança não
se instala, os freqüentadores diurnos fazem caminhadas e os noturnos sentam-se aos bancos
para namorar e conversar com os amigos. (BAHIA LOPES, 2006).

Ao longo da história, incide sobre a Praça da Liberdade uma gradual modificação do significado
atribuído a esta pelo público. De centro político, e espaço da luta pela democracia e pela
liberdade, essa se transfigura gradualmente em um espaço social, utilizado para o convívio e o
lazer da população local. Entretanto, o valor atribuído pela sociedade a esse espaço publico, e a
sua consolidação atual, estão prestes a sofrer nova alteração. A implantação do Circuito Cultural
irá promover a visitação aos edifícios históricos, e consequentemente determinar para a Praça
da Liberdade uma vocação turística, sendo essa uma atividade que nunca foi expressiva a esta,
apesar de sua representatividade histórica e cultural.

5. CONCLUSÃO

A nova Lei de Parcelamento Ocupação e Uso do Solo foi aprovada no final de 1996 e antes
desta a cidade presenciou uma corrida para a aprovação de projetos em terrenos que teriam os
parâmetros urbanísticos restringidos, especialmente na região centro-sul que corresponde à
região da cidade mais saturada e onde o adensamento deveria ser contido.

As duas leis anteriores e seus respectivos instrumentos de controle de uso e ocupação do solo
urbano, não influenciaram muito na tendência de ocupação e expansão do espaço da cidade,
uma vez que o mercado imobiliário era quem ditava as regras. Os bairros mais nobres tornaram-
se adensados e outros que, apesar de equipados de infra-estrutura e serviços urbanos,
permaneceram pouco adensados. Por isso, o zoneamento adotado pela Lei 7166/96 buscou

9
equilibrar socialmente o espaço urbano de uma forma mais justa se utilizando dos instrumentos
de política urbana encontrados na Constituição de 1988: transferência do direito de construir,
operação urbana, convênio urbanístico de interesse social, áreas de diretrizes especiais, IPTU
progressivo e gestão urbana.

A idéia de acrópole desenvolvida no projeto da cidade para a Praça da Liberdade foi realizada
instalando-a na porção mais alta e sendo marcada pelo eixo de perspectiva da Avenida João
Pinheiro. Porém este caráter monumental foi se perdendo devido aos efeitos provocados pelas
legislações estudadas, principalmente as duas primeiras que contribuíram para seu
adensamento e sua verticalização.

Dentro de uma análise criteriosa do plano de ação para a instituição destes empreendimentos,
foi observado que os problemas que seriam gerados estariam pautados em três pilares
conceituais. O primeiro se refere à alteração dos usos e conseqüente adaptação das
edificações, o segundo ao aumento do volume do trânsito de pessoas nos jardins da praça e nas
vias de acesso, e o terceiro e mais relevante se revela na mudança do significado simbólico da
praça.

O espaço símbolo da fundação da capital do Estado consiste em um lugar histórico do poder,


que com a retirada das secretarias do governo, e a implantação de equipamentos culturais, irão
modificar o significado deste espaço. Nesse sentido, a alteração do uso da Praça pode fazer
com que a dinâmica local sofra considerável modificação, perdendo o seu valor simbólico e
ambiental. A intervenção nos prédios das antigas secretarias fulminará na descaracterização de
todo o conjunto arquitetônico e paisagístico da Praça da Liberdade, contrariamente a suposta
intenção do Estado, de contribuir para a sua valorização.
Em uma analise critica da questão patrimonial urbana atual e da representação simbólica das
cidades, Henri-Pierre Jeudy relata:

O processo de reflexividade, que incita toda estratégia patrimonial, consiste em


promover a visibilidade publica dos objetos, dos locais, dos relatos fundadores
da estrutura simbólica de uma sociedade [...]. Produzimos, damos forma,
vendemos representações de ordem simbólica, uma vez que o valor simbólico e
o valor de mercado do objeto se confundem. Este é um dilema da gestão
contemporânea dos patrimônios: se o patrimônio não dispõe de um estatuto “à
parte”, se ele se torna uma mercadoria como as outras (os bens culturais),
perderá seu poder simbólico. (JEUDY, 2005, p. 19,20).

Assim, a espetacularização dos espaços urbanos históricos dentro da lógica da esfera publica e
da promoção do turismo, não contempla as relações físicas e simbólicas entre a população e o
meio urbano.

FIGURA 12: Praça da Liberdade, década de 30. FIGURA 13: Praça da Liberdade.
Fonte: Acervo do IEPHA/MG Fonte: Acervo particular dos autores.

FIGURA 14: Praça da Liberdade.


Fonte: Acervo particular dos autores.

5. BIBLIOGRAFIA

10
BAHIA LOPES, Myriam. Liberdade, testemunho e valor: a praça da liberdade em Belo Horizonte. Minha
Cidade, nº 76. São Paulo. 2006.

BELO HORIZONTE (MG). PREFEITURA. Cenas de um Belo Horizonte. Belo Horizonte: 1994. 117p

BELO HORIZONTE (MG). Prefeitura. Lei nº. 2662. 29 nov. 1976. Institui normas de uso e ocupação do
município de Belo Horizonte. Belo Horizonte: PMBH, 1976.

BELO HORIZONTE (MG). Prefeitura. Lei nº. 4034. 1985. Uso e ocupação do solo urbano de Belo
Horizonte. Belo Horizonte: PMBH, 1985.

BELO HORIZONTE (MG). Prefeitura. Lei nº. 7166. 27 ago. 1996. Estabelece normas e condições para
parcelamento, ocupação e uso do solo no município de Belo Horizonte. Belo Horizonte: PMBH, 1996.

CASTRITOTA, L. B. (org.) Arquitetura da Modernidade. Belo Horizonte. Editora UFMG, 1998. 309 p.

CURY, Isabelle (Org.) Cartas Patrimoniais. Edições do Patrimônio. Rio de Janeiro, 2004.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Panorama de Belo Horizonte: Atlas histórico. Belo Horizonte: FLP, 1997.

IEPHA-MG/Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais. Parecer Técnico sobre o
Projeto Executivo de Restauração do edifício da Secretaria de Estado da Fazenda/Praça da Liberdade,
Belo Horizonte, MG. 07 ago. 2006.

Idem. Parecer Técnico – Criação do novo Centro Administrativo Estadual de Belo Horizonte e alteração de
uso dos prédios públicos da Praça da Liberdade transformando-a em Centro Cultural. Instituto dos
Arquitetos do Brasil-Departamento de Minas Gerais- IAB-MG. Belo Horizonte/MG out. 2003.

Idem. Projeto Corredor Cultural Praça da Liberdade. Comissão Especial. Belo Horizonte/MG. Diretoria de
Conservação e Restauração, ago. 2003.

JEUDY, Henri Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005. 157p.

MOURÃO, Paulo Kruger Correa. Historia de Belo Horizonte de 1897 a 1930. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial, 1970. 519p

RODRIGUES, Carlos. Historia de Belo Horizonte: duas épocas. Belo Horizonte: 1981. 80p.

11
12

Você também pode gostar